As cidades no tempo | Margarida Maria CArvalho, Maria Aparecida de S. Lopes e Susani Silveira Lemos França

A história das cidades é vista, desde os tempos antigos, como uma analogia da vida humana. Já no final do período clássico grego, surgem biografias de Atenas, Esparta, Tebas etc. A homologia traçada entre as fases da vida humana – como nascimento, vida e morte – e o processo de formação, desenvolvimento e decadência da cidade é perceptível ainda nas biografias de Plutarco, escritas no primeiro século de nossa era. Não obstante, a teoria evolucionista de Charles Darwin reforça as concepções dos fisiocratas modernos, os quais despontam com a visão de ascensão e queda de um sistema citadino como algo natural, construindo-se, assim, uma espécie de símile entre a sobrevivência dos mais aptos na natureza e as cidades mais preparadas para dominar as demais.

A complexidade desses pensamentos revela a acepção de domínio natural de uma cidade sobre as outras, pautada, na maioria dos casos, em sua distinção econômica, política, religiosa ou literária. Nesse sentido, deparamo-nos com a noção de singularidade sustentando a criação de uma cidade-modelo e excluindo as diferenças sob o argumento da unidade administrativa. Ora, vemos através da história o quanto essa concepção de singularidade nos conduz à intolerância, refletida nas tentativas de eliminação da diversidade cultural. Leia Mais

Identidades, discurso e poder: estudos da arqueologia contemporânea | Pedro Paulo Abreu Funari, Charles E. Orser Júnior e Solange Nunes de Oliveira Shiavetto

Pensar as múltiplas identidades possíveis ao homem implica refletir sobre a interação conceitual entre identidade, discurso e poder no estudo da formação e da organização social. Nesse quadro de interdependência, verificam-se, ao longo da história, práticas políticas direcionadas à construção de discursos normativos e mantenedores do poder pela edificação de identidades, cujas definições interagem com a distribuição dos espaços sociais e geográficos. Tal diversidade espacial retrata a heterogeneidade da ocupação do solo, demonstrando que essa variável deve ser considerada no labor de arqueólogos e historiadores. Sob essa perspectiva, o livro Identidades, discurso e poder: estudos da arqueologia contemporânea, organizado por Pedro Paulo Abreu Funari, Charles E. Orsen Jr. e Solange Nunes de Oliveira Schiavetto, fomenta o debate a respeito dos usos das fontes materiais e literárias para o entendimento das ações humanas situadas no passado, revelando descompassos entre escritos e espaços, e estimula o repensar dos modelos teóricos acatados por arqueólogos e historiadores.

A primeira parte do livro, intitulada “Identidades e conflitos”, principia com o capítulo “A mulher aborígine nas Antilhas no início do século XVI”, de Lourdes S. Domingues. A autora tece reflexões sobre os anos de 1492 a 1542, período com escassa documentação primária e, por esse motivo, fonte de polêmica entre os estudiosos. O recorte da autora contempla a época em que a Coroa Espanhola promulgou as Leyes Nuevas, as quais, segundo Domingues, influenciaram sobremaneira o processo de construção das identidades das mulheres aborígines do Caribe. Leia Mais