Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas – COSTA (HCS-M)

COSTA, Felipe A.P.L. Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas.2.ed. Viçosa: Edição do autor. 2014. 137p. Resenha de: MAGALHÃES, Gildo. Defesa da ecologia, distância do ambientalismo. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22  supl. Dec. 2015.

A comunicação é uma atividade inerente ao próprio fazer científico, que se transformou ao longo dos séculos numa empreitada profissionalizada, envolvendo a publicação em veículos especializados de ideias, métodos e resultados relativos às ciências (Vickery, 2000). No entanto, cada vez mais essa comunicação tende a empregar uma linguagem por demais hermética, servindo primordialmente para uma troca entre os colegas pertencentes a campos específicos do conhecimento, fora do alcance de outros cientistas, para não dizer dos leigos, daqueles que têm, no mais das vezes e quando muito, um conhecimento de nível básico, proporcionado pelo ensino médio. Adicionalmente, verifica-se que muitos cientistas, até mesmo alguns de áreas voltadas para as humanidades, não escrevem bem. Para servir de ponte entre a comunicação científica e o grande público, surgiu o campo que é comumente denominado divulgação científica, também chamado na França de “vulgarização científica” (lá, sem nenhum sentido pejorativo que aqui possa eventualmente ter a palavra “vulgarização”).

Na divulgação científica encontramos amiúde escritores com formação em jornalismo e que enfrentam o desafio de transpor a ciência para uma linguagem mais abrangente (Sánchez, 2003Massarani, Turney, Moreira, 2005). Se esse esforço costuma vir envolto numa roupagem literariamente atraente, por outro lado o jornalismo científico corre o risco, como se verifica tão frequentemente, de perder o rigor das ideias originais, e até mesmo falsear a pretendida tradução do erudito para o popular (Tognolli, 2003). Alguns jornais diários brasileiros, por exemplo, mantêm uma seção de ciência, com resultados nem sempre à altura do propósito da divulgação. Temos ainda o hábito, infelizmente bastante difundido, de pautar o conteúdo dessas notícias na mídia pela publicação de artigos vindos do exterior, como os dos periódicosNature e Science, em vez de matérias a resultar de trabalhos próprios do jornalismo local (Barata, 2010). Naturalmente, há exceções de bons jornalistas dedicados à divulgação científica que desenvolveram uma tradição respeitável, e há mesmo o caso excepcional de bons cientistas que se tornaram profissionais do jornalismo de divulgação científica – e para citar um nome conhecido, tivemos entre nós nesse perfil a figura pioneira de José Reis.

Embora também raro, é possível que um cientista, mesmo sem ser jornalista, tenha a preocupação de bem escrever, para que um tema fascinante do ponto de vista científico não se torne árido e possa então atingir um público maior. Um subproduto interessante desse empreendimento da redação clara é quando um texto de divulgação impacta uma pessoa que futuramente se tornará um cientista importante – como aconteceu com James Watson, para quem a leitura de O que é vida?, do físico e pensador Erwin Schrödinger, foi fundamental em sua decisão de estudar a estrutura molecular dos genes.

Não se pode perder de vista tampouco que não é muito nítida a fronteira entre a comunicação, em senso estrito, e a divulgação científica, como pode ser avaliado examinando-se uma boa antologia como a de Edmund Bolles (1997). Nela estão recolhidos textos científicos de importância fundamental que são ao mesmo tempo literariamente exemplares, e que perpassam vários séculos, indo desde a Antiguidade de Heródoto e Lucrécio até a contemporaneidade.

As considerações anteriores vêm a propósito de Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas, de Felipe A.P.L. Costa. Este é um biólogo especializado em entomologia e ecologia, conhecido pelas suas colaborações regulares noObservatório da Imprensa, em que emprega o rigor acadêmico para definir de forma certeira conceitos biológicos que a grande imprensa difunde com imprecisão e o público em geral propala incorrendo em erros de significado ou até mesmo de tradução. Naquele veículo eletrônico, o autor também tem divulgado obras e a vida de cientistas menos conhecidos, além de tratar de diversos outros temas, tais como a duvidosa eficácia da política científica brasileira. Uma faceta mais desconhecida e invulgar sua é a campanha pacifista desenvolvida no sítio da internet Poesia contra a guerra, em que reúne contribuições dessa natureza de poetas, principalmente brasileiros, alguns famosos e muitos outros que se inserem na produção poética dita marginal.

Nos textos da obra aqui focalizada, Felipe Costa exercita divulgação científica dirigida primordialmente a um público não especializado. Segue, portanto, na senda ilustre de cientistas como o saudoso zoólogo Stephen Jay Gould, famoso por suas páginas na revistaNatural History, depois reunidas em diversos livros de sucesso, vários deles publicados no Brasil.

Nessa segunda edição de Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas, Felipe Costa acrescentou mais seis capítulos aos vinte da edição anterior, divididos em cinco partes. De forma saborosa, discorre sobre evolução biológica, reservas e parques, a relação entre clima e populações, e práticas destrutivas do meio ambiente. São textos curtos, uma boa parte dos quais foi publicada por veículos como Ciência Hoje e Tribuna de Minas. O conteúdo é diversificado, embora focalize sempre aspectos ecológicos e evolutivos. Uma amostra dessa diversidade é a denúncia do relativo descaso dos nossos cientistas com a paisagem nativa da caatinga, ou a pouca atratividade dos insetos (75% das espécies animais) nas campanhas ambientalistas (e o autor revela como a ingenuidade do movimento ambientalista frequentemente se sobrepõe à ciência), a sugestão de forração com serapilheira nas trilhas de parques naturais, a crítica à falta de atenção dos pesquisadores brasileiros para com a fenologia de árvores tropicais, ou ainda uma queixa quanto à introdução funesta em nosso meio de espécies exóticas (como o mosquitoAedes aegypti e o caracol-gigante-africano). Ao final da obra, há notas e um pequeno glossário. Trata-se de leitura fácil de assuntos que se revelam politicamente intrincados, de interesse para o público geral, mas que pode ter também e mais especificamente uma aplicação didática no ensino médio.

Pode-se sugerir que no futuro o autor entenda a evolução biológica de forma não tão rígida, pois ele permanece firmemente ancorado dentro da tradição neodarwinista ortodoxa, sem uma abertura para correntes importantes dentro da biologia, mas discordantes dessa interpretação, como a evolução em quatro dimensões (Jablonka, 2010) ou a realimentação somático-germinativa (Steele, Lindley, Blanden, 1998). O paradigma neodarwinista tem sido recentemente confrontado por alguns cientistas renomados internacionalmente, como a falecida Lynn Margulis, cuja posição se afastou do dogmatismo darwiniano ao se filiar às teorias da simbiogênese, ideias que descendem dos trabalhos do botânico russo Konstantin Mereshkovski. É verdade que nada faz sentido em biologia fora da evolução, mas há teorias e teorias da evolução, e não apenas uma única,vencedora e inamovível, como defendem os adeptos mais ferrenhos da teoria sintética.

Principalmente o grande público é o que mais precisa ser informado de que as controvérsias dentro da ciência são permanentemente uma fonte de inovação e que elas são, aliás, parte do funcionamento normal da atividade científica, para além da ciência paradigmática que se oferece ao grande público nos veículos de divulgação científica. A história das ciências é também a das divergências, algumas das quais mostram uma notável longevidade, pois mesmo depois de declaradas mortas e enterradas ressurgem às vezes de formas inesperadas – aspecto que ainda escapa até a muitos historiadores e filósofos da ciência.

No caso específico da evolução há um agravante, já que qualquer divergência costuma ser erroneamente interpretada como expressão de uma suposta guerra entre religião e ciência – e para sermos justos, essa posição refratária e equivocada não se resume ao jornalismo de divulgação científica, mas integra a própria tradição acadêmica. Apenas quando a divulgação científica conseguir se aprofundar e, à maneira do jornalismo investigativo, se puser a trabalhar com a desconfiança de que cientistas não são tão objetivos e neutros quanto pretendem ser, o resultado será uma apreensão qualitativamente superior do que significa fazer ciência – em que até pequenas coisas podem ter grande valor, como propõe acertadamente o autor.

Referências

BARATA, Germana.Nature e Science: mudança na comunicação da ciência e a contribuição da ciência brasileira (1936-2009). Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2010. [ Links ]

BOLLES, Edmund B.Galileo’s commandment: 2,500 years of great scientific writing. New York: W.H. Freeman. 1997. [ Links ]

JABLONKA, Eva. Evolução em quatro dimensões. São Paulo: Companhia das Letras. 2010. [ Links ]

MASSARANI, Luísa; TURNEY, Jon; MOREIRA, Ildeu de Castro (Org.).Terra incógnita: a interface entre ciência e público. Rio de Janeiro: Vieira e Lendt; UFRJ/Casa da Ciência; Fiocruz. 2005. [ Links ]

SÁNCHEZ Mora, Ana Maria. A divulgação da ciência como literatura. Rio de Janeiro: EdUFRJ. 2003. [ Links ]

STEELE, Edward J.; LINDLEY, Robyn A.; BLANDEN, Robert V.Lamarck’s signature: how retrogens are changing Darwin’s natural selection paradigm. Reading: Perseus. 1998. [ Links ]

TOGNOLLI, Claudio. A falácia genética. São Paulo: Escrituras. 2003. [ Links ]

VICKERY, Brian C. Scientific communication in History.London: Scarecrow. 2000. [ Links ]

Gildo Magalhães – Professor, História da Ciência/Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade de São Paulo. Brasil. E-mail: [email protected]

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O discurso da natureza: ecologia e política na América Latina – MIRES (H-Unesp)

MIRES, Fernando. O discurso da natureza: ecologia e política na América Latina. Organização e tradução Vicente Rosa Alves. Florianópolis, Ed. da UFSC; Bernúncia Editora, 2012, 242 p. Resenha de: PERES, Jackson Alexsandro. História [Unesp] v.32 no.2 Franca July/Dec. 2013.

O livro O discurso da natureza: ecologia e política na América Latina, foi publicado originalmente em 1990 na Costa Rica, e depois também no Chile, Argentina, Itália e Alemanha, o que demonstra a relevância do tema. Somente em 2012, ganhou uma edição em língua portuguesa, traduzida e organizada por Vicente Alves e publicada pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Bernúncia Editora. Os 22 anos que separam a primeira publicação da edição de 2012 foram de crescimento dos movimentos ecológicos em todo o mundo e de surgimento de novos conceitos relacionados ao assunto. Porém, passados tantos anos, a obra se mantém atual em muitos aspectos. Nas palavras do autor Fernando Mires, na apresentação à edição brasileira, os problemas ecológicos, principalmente na América Latina, permanecem tão vigentes como no final da década de 1980.

Mires, sociólogo, nasceu no Chile em 1943. Até 1973 foi professor de Sociologia e História do Chile no Instituto de Sociologia da Universidade de Concepción. Atua desde 1975 como docente pesquisador no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Oldenburg, Alemanha, país que lhe concedeu o título de Privat Dozent na área de Política Internacional – máximo grau acadêmico conferido pelas universidades alemãs. Sua obra, aqui resenhada, constitui a primeira de uma trilogia na qual ele propõe o estudo de temas fundamentais para a construção do que ele considera uma “nova radicalidade social”. O segundo livro da trilogia citada é El discurso de la indianidad (San José, Quito, 1992); e o terceiro, El discurso de la miséria (Caracas, 1994). Neles, o autor discute as relações entre indianidade e política e a construção da miséria social e política, respectivamente. Em sua trilogia, o interesse de Mires é questionar a lógica interna da modernidade por meio dos antagonismos e contrastes que esta produziu, e em O discurso da natureza o objetivo central é apresentar os pressupostos para essa nova radicalidade social.

O livro está dividido em quatro capítulos e um comentário final. Mires já deixa claro seu intento logo na introdução da obra e a conceitua como polêmica, por ser uma proposta em contraposição às ideologias do crescimento econômico. Nesse ponto, os argumentos fica clara a atualidade de O discurso da natureza, visto que o crescimento econômico é ainda o objetivo que projeta a maioria dos países. Para se contrapor a isso, nos é apresentado o que o autor chama de “nova radicalidade social”. Uma nova radicalidade seria necessária porque, diante dos atuais problemas – como os feministas, os religiosos e também os ecológicos –, a concepção mais drástica até então contra a sociedade capitalista e de consumo, que eram as teorias socialistas, não é mais suficientemente radical para se opor a essa nova demanda.

A longa marcha da Ecologia é o título do primeiro capítulo. Nele se discute como a Ecologia, de ciência pura que residia dentro dos laboratórios, passou a fazer parte do meio político como um dos temas dominantes. Mires apresenta como documento inaugural do que ele chama de apogeu ecológico contemporâneo o relatório apresentado pelo Clube de Roma em 1972 sob o título “Os limites do crescimento”. Segundo o autor, o documento evidencia os problemas ambientais decorrentes do esgotamento dos recursos naturais, em tom catastrófico.

As avaliações feitas naquele relatório se tornaram tendências realistas no início da década de 1990, ano da primeira edição da obra. Transcorrem nesse capítulo as discussões sobre as proporções alcançadas pelo relatório de 1972 e suas polêmicas, e são discutidos outros documentos que, na época, formularam críticas a “Os limites do crescimento”. Aliás, este seria um título mais adequado ao primeiro capítulo, não apenas pela citação do relatório do Clube de Roma, mas por trazer, a partir desse documento, as discussões acerca da Ecologia e de sua dimensão política. Isso porque, quando se pensa em Ecologia e preservação, esbarra-se na pressão sociopolítica e nos discursos em prol do crescimento econômico, sendo este o foco da última parte do primeiro capítulo e também a discussão mais importante: as tensões entre Economia e Ecologia. Pensar ecologicamente é fazer uso daquilo que o autor chama de “segunda crítica à Economia Política”, equivalente à “nova radicalidade social”. Diferenciando-se da primeira crítica à economia burguesa atribuída a Karl Marx, essa segunda crítica à economia política pretende acusar a economia burguesa e marxista de ter ocultado o significado da natureza na formação do capital. Ou seja, quando se prega o desenvolvimento econômico, que nada mais é do que o desenvolvimento de métodos mais intensivos na exploração do meio natural, se omite o preço social da perda desse meio.

Após essa contextualização, o autor busca entender, agora no segundo capítulo, Rumo à formação de um pensamento ecológico na América Latina, o porquê de a Ecologia haver demorado tanto tempo para penetrar nos círculos políticos da América Latina. É apontado ainda um atraso no que concerne ao uso da Ecologia como arma crítica e analítica, ao comparar os países latino-americanos com alguns da Europa e com os Estados Unidos da América. Nesse ponto, o argumento que Mires utiliza para defender sua tese é que os países latino-americanos possuem características socioculturais e ambientais que são refletidas no discurso desenvolvimentista hegemônico neles proferido. A dificuldade em desenvolver um pensamento crítico acerca das discussões ecológicas resulta, segundo ele, da crença compartilhada por políticos, empresários e teóricos de esquerda e direita de que a América Latina atravessa uma revolução industrial, como aquela vivida na Europa nos séculos XVIII e XIX. Dessa crença emerge a ilusão de que existem ainda enormes áreas não utilizadas que estão à espera de conquistadores. Esse pensamento faz com que governos – e neste ponto o Brasil é citado muitas vezes – incentivem a ocupação dessas áreas. Outro viés usado em prol do desenvolvimentismo seria o “álibi da dependência”, ou seja, a culpabilidade dos países imperialistas, em uma versão nacionalista dos discursos. Assim, o discurso dita que a preocupação com temas ecológicos deveria ser dos países ricos e industrializados, já que os países pobres têm outros problemas a sanar, como a fome e a miséria. Outro ponto recorrente é culpar os países imperialistas de utilizar ideologias ecológicas como uma manobra para impedir o crescimento de países pobres.

Para uma leitura ecológica da realidade latino-americana – como o próprio título do terceiro capítulo sugere -, se ocupa em mostrar que, apesar de parecer que não existe consciência ecológica na América Latina, ela subsiste. A diferença é que, enquanto nos países europeus essa consciência alcançou notável grau de expressão política, na América Latina ela se mantém dissimulada, em nível cultural, nas “economias naturais”. Os grupos que o autor menciona como praticantes desse tipo de economia são as próprias vítimas da modernização: índios e camponeses. Por isso, utiliza o termo Etnoecologia, o que não levaria em conta somente os supostos sistemas naturais objetivos, mas sim os sistemas naturais que estão relacionados com os seres humanos, trazendo exemplos dessa relação com dois povos distintos: os Shuaras (Shuar) e os Aimarás. Para Fernando Mires, as origens da modernidade latino-americana ocorreram com a colonização hispano-portuguesa, pois as crenças trazidas pelos colonizadores continuam atuais. A crença eurocêntrica como um ideal de desenvolvimentismo e a crença de que os recursos naturais do continente são infinitos são as mais recorrentes.

O quarto capítulo, intitulado O modo de produção amazônico: ou os milagres da antiecologia, revela uma interessante reflexão sobre os desdobramentos da ocupação da Floresta Amazônica, incentivada pelas crenças apresentadas no capítulo anterior. É, portanto, segundo o autor, o melhor exemplo da imposição de relações de valor, ou seja, de impor a lógica de lucro e de acumulação aos consumidores imediatos da natureza (indígenas e camponeses) e também o lugar no mapa onde se comete em grande escala atos programados de “ecocídio” e “etnocídio”. Em resumo, Mires conceitua o modo de produção amazônico como um complexo econômico orientado pela destruição da natureza em virtude da obtenção imediata de lucros. Discute, além disso, algumas situações ocorridas principalmente no Brasil, como o alagamento de grandes áreas devido à construção de barragens para produção de energia elétrica e o desmatamento da floresta para abrir áreas de plantio, em razão do mito da fertilidade milagrosa do solo amazônico. A discussão, em todo o capítulo, gira em torno daqueles que são imediatamente afetados pela ideologia do crescimento por esses processos. Os povos que são imediatamente afetados são chamados pelo autor de “sujeitos da resistência ecológica”. Isso porque, além de enfrentar policiais, empresários e latifundiários, esses atores têm ainda que modificar sua própria cultura.

Ao apresentar seu comentário final, Mires retoma os pontos discutidos nos quatro capítulos reforçando a ideia de que a Ecologia por si só não possui um valor político, tampouco ditará os modelos de ações políticas, mas é, sobretudo, parte do que se espera de uma nova radicalidade social. Podemos corroborar o argumento do autor ao classificar o livro como polêmico. Também é uma importante referência para entender, sob o ponto de vista social, como se deu a trajetória percorrida pela Ecologia: de ciência pura para uma consciência coletiva que culmina em debates políticos e econômicos. Atual na grande maioria de suas discussões, o livro também o é, principalmente no que concerne à ideologia do crescimento, deliberadamente em prática nos países latino-americanos. Por outro lado, 22 anos é muito tempo, principalmente se pensarmos na velocidade com que ocorreram as mudanças no século XX. Devido a sua importância, uma atualização se faz necessária, principalmente no tocante aos termos conceituais e a práticas e discursos de movimentos ecológicos. Apesar disso, concordamos que o discurso ecológico não conseguiu ainda desativar o discurso economicista e que é necessário que o livro, em breve, deixe de ser um livro atual.

Jackson Alexsandro Peres – Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC.

Insegnare la storia come se i poveri, le donne e i bambini contassero qualcosa – BRAZIER (CC)

BRAZIER, Chris. Insegnare la storia come se i poveri, le donne e i bambini contassero qualcosa, avec la collaboration de Claudio Economi et Antonio Nanni. Turin: Editions Sonda, 2001 (1re éd. or. 1989 ; 1re éd. it. 1992), 240 p. Resenha de: HEIMBERG, Charles. Le cartable de Clio – Revue romande et tessinoise sur les didactiques de l’histoire, Lausanne, n.1, p.217-218, 2001.

Brève histoire du monde, tel est le titre d’un court essai de Chris Brazier dont la traduction en italien constitue l’essentiel de ce petit volume. Paru à l’origine, il y a une douzaine d’années, dans la revue New Internationalist, ce texte constitue une tentative de décloison- ner l’histoire enseignée, de l’ouvrir à une approche plus universelle et plus attentive à toutes les composantes de l’aventure humaine (y compris, comme l’indique le sous-titre, du point de vue des pauvres, des femmes et des enfants).

L’orientation de ce bref récit de l’histoire universelle est clairement annoncée : elle est à la fois écologiste et internationaliste, elle se veut d’abord attentive au point de vue des opprimés et des dominés. En tant que telle, elle est aussi profondément discutable, notamment quand l’auteur remet en question l’idée de progrès en désignant désormais le conservatisme comme correspon- dant à une attitude de préservation de l’avenir de la planète, en termes de développement durable et d’un point de vue écolo- giste. Ce qui revient à liquider, par un ren- versement des points de vue, deux siècles de luttes politiques et sociales pour la démocra- tie et les droits humains (p. 193).

La lecture de cet essai ouvre toutefois des portes sur des mondes ou des domaines trop longtemps ignorés. Par exemple, l’auteur voque le génocide des peuples aborigènes en Australie. Ou les apports si riches, mais tellenent négligés, de la civilisation indienne. Malheureusement, la brièveté de la démarche l’enferme forcément dans une vision par- tielle, à tel point qu’il n’évoque même pas, par exemple, un événement aussi révélateur et symbolique que les massacres coloniaux de Sétif de mai 1945. En fin de compte, nous avons là une version anglo-saxonne de la démarche originale de reconstruction d’un récit historique sans emprise nationale que l’historienne Suzanne Citron a déjà engagée dans l’espace francophone (voir L’histoire des hommes, Paris, Syros, 1996).

Tous les chapitres de cette histoire universelle renouvelée donnent lieu à des proposi- tions de lecture, souvent fort judicieuses, mais qui ne concernent que les publications en italien. Et cette démarche, complétée par une mise au point transalpine portant sur la dernière décennie, est fort intéressante. Elle reste cependant très incomplète. Non seule- ment parce qu’un nombre de pages si limitéempêchait d’embrasser vraiment tous les aspects significatifs de l’histoire humaine. Mais surtout parce que le renouvellement de l’histoire enseignée ne saurait se contenter seulement d’une ouverture thématique – attentive à l’histoire des minorités comme à la diversité des points de vue possibles – dans la mesure où il doit s’interroger également sur la manière de proposer aux élèves la construc- tion d’une véritable pensée historique.

Charles Heimberg – Institut de Formation des Maîtres (IFMES), Genève.

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