Manuais disciplinares, discursos pedagógicos e formação de professores (Séculos XIX e XX) / Revista História da Educação / 2019

Neste dossiê estão reunidos artigos em que os autores envidaram esforços para compreender os aspectos instituintes presentes nos diferentes discursos pedagógicos que fundamentaram a ideia de renovação educacional desde o final do Século XIX e durante o Século XX. Para tanto, tomam como fonte privilegiada diferentes manuais disciplinares que foram muito utilizados nos processos de formação de professores internacionalmente, ainda que a análise recaia particularmente naqueles em circulação no Brasil e em Portugal, o que ocorreu, destacadamente em Escolas Normais, mas, também, em cursos superiores de formação de professores. Nessa direção, os manuais disciplinares elencados como fonte nos diferentes artigos propostos para integrar o presente dossiê incluem os de História da Educação, Psicologia Educacional, Didática, Pedagogia e Metodologias e Práticas de Ensino.

Assim, pode-se perceber que parte considerável dos manuais disciplinares publicados em uma primeira fase, que se estende até meados do Século XX comportava um ideário cientificista, evolucionista e higienista que estava acompanhado do estabelecimento e da disseminação de um código moral laico eminentemente cívico, considerado fundamental para o progresso das diferentes nações e para o alcance dos fins gerais da Humanidade. Em um segundo momento, a ênfase recaiu na dimensão científica e crítica, o que se estende até os tempos atuais. Com certeza este esforço discursivo e formativo contido nos manuais disciplinares encontrou forte ressonância, mas também resistência, o que se espera deixar evidenciado com o presente dossiê.

O primeiro artigo que integra o dossiê recebeu o título “Os temas da evolução e do progresso nos discursos da Psicologia educacional e da História da Educação”. Foi redigido por Ana Laura Godinho Lima, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Este artigo realiza a análise de um conjunto de manuais de psicologia educacional e história da educação destinados à formação docente, cujo objetivo é identificar as aproximações e os distanciamentos entre essas disciplinas no que se refere à presença dos temas da evolução e do progresso. Incide sobre manuais publicados no Brasil entre 1934 e 1972 e inspira-se nos escritos de Foucault sobre a análise do discurso. Nos manuais dessas disciplinas, observou-se a recorrência da associação entre o desenvolvimento da criança e o progresso social, frequentemente descritos à luz da teoria da recapitulação. Essa teoria não foi, contudo, objeto de consenso, mas constituiu foco de controvérsia, representando um aspecto do debate entre educadores escolanovistas e católicos no período considerado.

Sob o título “A medicalização da Pedagogia: discursos médicos na construção do discurso pedagógico e nos manuais de formação de professores em Portugal (Séculos XIX-XX)”, António Carlos da Luz Correia, professor convidado do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, apresenta um ensaio, no qual procura problematizar as modalidades por meio das quais o discurso médico foi incorporado no discurso pedagógico, naturalizando-o, no período que decorre entre o final do século XIX e as três décadas iniciais do século XX, em Portugal. Do ponto de vista empírico, recorre a pesquisas realizadas previamente, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores. Pretende abrir pistas para discussão da Escola e do seu papel nas transformações sociais atuais, buscando desocultar as modalidades de apagamento dos fatores sociais, culturais e políticos que intervêm historicamente nos desafios da problemática educativa escolar.

Geraldo Gonçalves de Lima e Décio Gatti Júnior, vinculados, respectivamente, ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro e a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, redigiram o artigo intitulado, “Educação, sociedade e democracia: John Dewey nos manuais de História da Educação e / ou Pedagogia (Brasil, Século XX), no qual comunicaram os resultados de investigação no âmbito da História da Educação, particularmente na temática da História Disciplinar, cujo foco recaiu sobre as ideias de John Dewey disseminadas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, traduzidos e publicados no Brasil, entre 1939 e 2010, que tiveram ampla circulação em escolas normais e cursos superiores de formação de professores. As fontes incluíram bibliografia de referência e doze manuais de História da Educação. Os resultados apontam para a percepção de quatro ênfases nas abordagens sobre Dewey: herança hegeliana; marcos evolucionistas; relação indivíduo / sociedade (industrial e democrática); emergência da psicologia experimental.

No artigo intitulado “As ideias de Durkheim nos manuais de História da Educação: cientificidade e moralidade laica na vida social e na escola”, Katiene Nogueira da Silva (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo) e Giseli Cristina do Vale Gatti (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba), analisam as ideias de Durkheim contidas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, publicados no Brasil entre 1939 e 2010. Perceberam que alguns manuais, apesar de não terem mencionado Durkheim diretamente, abordaram ideias próximas de seu pensamento. Os demais, que foram maioria, mencionaram Durkheim em intensidades diferentes. Neles, Durkheim foi tomado simultaneamente como fonte de informações e de análises, mas, também como portador de uma perspectiva original e influente de educação, a pedagogia sociológica. Além disso, foi possível perceber a existência de críticas a seu pensamento, provenientes, sobretudo, dos autores de manuais vinculados ao campo católico.

Vivian Batista da Silva e Denice Barbara Catani, ambas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, fecham o presente dossiê, com o artigo intitulado, “Metáforas e comparações que ensinam a ensinar: a razão e a identidade da Pedagogia nos manuais para professores (1873-1909), no qual perguntam se estariam os manuais para professores mais próximos de um livro ou de um receituário? A partir desta questão, analisam cinco títulos publicados entre 1873 e 1909, a saber: o Compêndio de Pedagogia (Pontes, 1873); Pedagogia e metodologia, de C. Passalacqua (1887); Lições de Pedagogia, de V. Magalhães (1900); Compêndio de Pedagogia, de D. Vellozo (1907); Tratado de Metodologia, de F. Carvalho (1909). Buscaram conhecer como são feitas as referências à Pedagogia, sua razão e identidade. Nesses textos, ela aparece ora como ciência, ora como arte. Analisando as metáforas usadas para orientar os professores, é possível identificar imagens a partir das quais os saberes pedagógicos são definidos e apresentados como objetos de leitura para o magistério.

Esperamos que a leitura do presente dossiê oportunize tanto a percepção de uma temática importante relacionada aos esforços de formação de professores, no qual formas de pensar o pedagógico, as instituições escolares e a relação com a sociedade se destaquem, mas, também, por outro lado, assinalar a fertilidade em tomar os manuais disciplinares como fonte privilegiada para conhecer as finalidades pedagógicas que disputaram o público docente e presidiram sua formação desde o final do Século XIX, com avanço na quase totalidade do Século XX.

Denice Barbara Catani – Professora Titular aposentada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] http: / / orcid.org / 0000-0001-6019-8969

Décio Gatti Júnior – Professor Titular de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Doutor em Educação (História e Filosofia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Beneficiário do Edital Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: [email protected] http: / / orcid.org / 0000-0002-5876-6733


CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 23, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Manuais disciplinares, discursos pedagógicos e formação de professores (Séculos XIX e XX) | História da Educação | 2019

Neste dossiê estão reunidos artigos em que os autores envidaram esforços para compreender os aspectos instituintes presentes nos diferentes discursos pedagógicos que fundamentaram a ideia de renovação educacional desde o final do Século XIX e durante o Século XX. Para tanto, tomam como fonte privilegiada diferentes manuais disciplinares que foram muito utilizados nos processos de formação de professores internacionalmente, ainda que a análise recaia particularmente naqueles em circulação no Brasil e em Portugal, o que ocorreu, destacadamente em Escolas Normais, mas, também, em cursos superiores de formação de professores. Nessa direção, os manuais disciplinares elencados como fonte nos diferentes artigos propostos para integrar o presente dossiê incluem os de História da Educação, Psicologia Educacional, Didática, Pedagogia e Metodologias e Práticas de Ensino.

Assim, pode-se perceber que parte considerável dos manuais disciplinares publicados em uma primeira fase, que se estende até meados do Século XX comportava um ideário cientificista, evolucionista e higienista que estava acompanhado do estabelecimento e da disseminação de um código moral laico eminentemente cívico, considerado fundamental para o progresso das diferentes nações e para o alcance dos fins gerais da Humanidade. Em um segundo momento, a ênfase recaiu na dimensão científica e crítica, o que se estende até os tempos atuais. Com certeza este esforço discursivo e formativo contido nos manuais disciplinares encontrou forte ressonância, mas também resistência, o que se espera deixar evidenciado com o presente dossiê. Leia Mais

Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação / Cadernos de História da Educação / 2017

Sob a designação geral “Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação”, este dossiê tem o propósito de compreender processos de produção e de ensino do conhecimento histórico-educacional mediante o exame de casos específicos, do recurso a fontes e métodos diversos, bem como da experiência do ensino.

Os seis artigos reunidos retomam e analisam, entre outros aspectos, em especial, a utilização da legislação e dos manuais de ensino situando a discussão a partir de estudos desenvolvidos acerca de situações determinadas como a educação no Maranhão na Primeira República e a elaboração de manuais escolares e os sentidos por eles assumidos no campo educacional, em São Paulo, no período entre as décadas de 1940 e 1950. Características dos processos de autoria e legitimação dos manuais são objeto de atenção.

Também se confere lugar de destaque para as potencialidades da legislação (e de diversas outras fontes) no confronto entre as proposições oficiais e a concretização de práticas na vida escolar, a partir da análise da situação do ensino de História da Educação em Minas Gerais constatando o baixo nível de correspondência entre prescrições e realizações no ensino.

Questões ligadas à produção do conhecimento histórico educacional e suas configurações em países (como Portugal, França e Espanha), cujas relações com o Brasil têm sido marcantes, são o ponto de partida para a discussão sobre o trânsito de modos de interpretação, escolhas teóricas e recurso a fontes que predominaram entre nós desde a década de 1970.

Os textos em seu conjunto evidenciam a preocupação com as possibilidades de concorrer para a história do ensino, da produção de conhecimentos, das escolas e da profissão docente. As potencialidades e limites dos diferentes materiais são problematizados em cada um dos trabalhos bem como o são as questões relativas às experiências de identificação, sistematização, disponibilização e ensino.

Desse modo, é possível afirmar que os artigos reunidos nesse dossiê se caracterizam de forma convergente ao se ancorar, cada um deles, em uma investigação específica de objeto e periodização autônomos e realizar, simultaneamente, incursões metodológicas que explicitam e debatem o potencial de fontes e métodos exemplificando marcas teóricas e enquadramentos diversos que mostram modalidades de construção de interpretações em História da Educação.

O artigo que abre o dossiê, intitula-se “A escrita da História da Educação: distâncias e proximidades na apropriação de fontes e métodos no caso das produções de Portugal, França, Espanha e Brasil”. Ele foi redigido por Denice Barbara Catani, da Universidade de São Paulo, como uma retomada de alguns resultados obtidos em investigação realizada sobre a produção de conhecimentos na área dos estudos educacionais e, em especial, sobre a produção dos estudos da História da Educação no Brasil. Para tanto, a autora recorreu à pesquisa dos processos que permitiram a construção e renovação de matrizes interpretativas a partir do exame da produção da área em países que sabidamente estabeleceram, nas últimas décadas, importantes relações acadêmicas com o nosso país, isto é França, Espanha e Portugal. Indicam-se, assim, as relações entre as transformações da escrita histórico educacional no Brasil e nos países citados atentando especialmente para as apropriações decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos conhecimentos em perspectiva comparada.

Em seguida, Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, da Universidade Federal de Sergipe, no texto intitulado “Fontes para a difusão da didática moderna no ensino da Língua Portuguesa: os manuais do Ensino Ginasial e a autoria docente nas décadas de 1940 e 1950”, relatou resultados de investigação que mobilizou como fontes prioritárias os manuais de língua portuguesa para as séries ginasiais, editados nas décadas de 1940 e 1950, de autoria de professores paulistas, que pregava o aprendizado da gramática a partir de textos literários. A coleção “Páginas Floridas”, de Francisco Silveira Bueno, editada pela Livraria Acadêmica, Saraiva e Cia e a “Coleção Didática do Brasil – Série Ginasial- Português”, assinada por Aída Costa foram selecionadas como exemplares representativos de compreensão da circulação de novos padrões didáticos por professores-autores que ocuparam posições relevantes no campo educacional paulista e mobilizaram diferentes estratégias. A pretensão do estudo foi contribuir com a História da Profissão Docente, e com a História das Disciplinas Escolares ao desvendar a trajetória dos referidos autores, que difundiram o ensino de português e literatura, a partir de coleções, que tiveram circulação nacional.

Cesar Augusto Castro, da Universidade Federal do Maranhão, redigiu o artigo intitulado “A legislação como fonte para a História da Instrução Primária maranhense”, no qual defendeu que a legislação educacional é uma importante ferramenta de investigação do campo da História da Educação por possibilitar uma ampla e fértil compreensão do movimento educativo em determinado tempo e lugar. O autor buscou entender o uso dessa fonte como recurso para a pesquisa sobre a instrução primária maranhense nas últimas décadas do período imperial e no início do período republicano, por meio da discussão dos processos econômicos, políticos, sociais que contribuíram para a criação e expansão das instituições escolares e as várias reformas educativas que objetivaram o desenvolvimento do Maranhão por meio da instrução.

Em seguida, Joaquim Pintassilgo e Carlos Beato, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, redigiram o artigo que intitularam “Balanço da produção recente no campo da História das Disciplinas Escolares: o exemplo das teses de doutoramento (Portugal, 2005-2015)”, no qual realizaram um balanço da produção portuguesa recente em História da Educação, tomando como exemplo as teses de doutoramento passíveis de inserção no campo específico da História das Disciplinas Escolares, para o que, selecionaram o período delimitado pelos anos de 2005 e 2015. Afirmam que a História das Disciplinas Escolares é um campo consolidado no interior da investigação histórico-educativa que possui uma fundamentação teórica sólida, um conjunto diversificado de fontes e uma certa tradição de pesquisa, no que se refere aos procedimentos metodológicos e aos fundamentos teóricos e conceituais. Em um campo que atingiu uma certa estabilidade, e que podia correr algum risco de estagnação, os autores procuraram identificar os desafios que lhe estão a ser lançados, as abordagens que procuram renovar e as tendências que se abrem à investigação futura, assumindo a especificidade, mas, também, a exemplaridade de que se reveste este campo particular no conjunto da pesquisa em História da Educação.

Em “O Ensino de História da Educação no Brasil: fontes e métodos de pesquisa”, Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia, apresenta os avanços na pesquisa sobre o ensino de História da Educação em Minas Gerais, particularmente, com a apresentação de aspectos de uma trajetória coletiva e pessoal de busca de entendimento do “pré-curso” e dos percursos da disciplina História da Educação no Brasil, particularmente, em Minas Gerais, mas, também, como poderá ser percebido no texto do artigo, em São Paulo. No texto abordam-se os aspectos biográficos da entrada do pesquisador nesta temática da História Disciplinar da História da Educação. Depois, apresenta-se uma breve reflexão teórico-metodológica e, por fim, há uma exposição sucinta dos resultados alcançados em investigações sob os cuidados do autor, diretamente, a partir dos projetos de pesquisa que têm desenvolvido e, indiretamente, especialmente nas orientações de iniciação científica, de mestrado e de doutorado que foram levadas a cabo nos últimos anos.

O dossiê termina com o texto intitulado “O exercicio docente universitario na materia ‘Historia da educación’ ”, escrito por Antón Costa Rico, da Universidade de Santiago de Compostela, com abordagem direta da questão do ensino da disciplina História da Educação. Parte de uma pergunta central: — Com qual História da Educação formar o nosso aluno universitário na atualidade? Para o autor, a resposta envolve a formação de um habitus histórico-educativo e os cenários específicos de formação pedagógica.

Denice Barbara Catani – Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp). Professora Titular Aposentada da Feusp. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1B). E-mail: [email protected]

Décio Gatti Júnior – Doutor em Educação: História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Professor Titular de História da Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1C). Beneficiário do Programa Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: [email protected]


CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 16, n.1, jan. / abr., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Ensino de História da Educação no espaço luso-brasileiro: Percursos institucionais, Currículos – Manuais Disciplinares / Cadernos de História da Educação / 2014

Este dossiê configura-se como um desdobramento das atividades desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Disciplina História da Educação (Gepedhe), com quatro artigos que comunicam resultados de estudos e pesquisas recentemente desenvolvidas por cinco pesquisadores brasileiros que se vinculam ao referido Grupo, provenientes de diferentes universidades brasileiras. Além disso, há dois artigos, redigidos por três pesquisadores vinculados a duas universidades portuguesas, Universidade de Lisboa e Universidade do Porto, que complementam o presente dossiê.

O quadro de estudos e pesquisas em torno da temática do Ensino de História da Educação tem se avolumado no âmbito da História da Educação, seja no âmbito nacional, mas, também, em âmbito internacional, sendo este dossiê uma colaboração que se soma as demais, em um esforço de contribuir para a consolidação de uma área que se julga essencial desenvolver no rol de investigações da área de História da Educação.

Neste dossiê, os artigos que o integram abordam o ensino de História da Educação, pela via de seus percursos institucionais, curriculares e dos manuais utilizados. Para efeito de sua organização, optou-se por apresentar os artigos conforme a ordem alfabética do nome de seus autores, conforme será apresentado a seguir.

O primeiro artigo foi redigido pelos professores doutores Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro e Sauloéber Tarsio de Souza, da Universidade Federal de Uberlândia. Sob o título, “Educação de mulheres nas páginas de manuais de História da Educação (1930–1970)”, eles apresentam uma discussão sobre a historiografia educacional brasileira, tendo como enfoque o modelo de educação feminina presente nas páginas de manuais amplamente utilizados no ensino de história da educação no século XX. Foram examinados seis manuais utilizados sobretudo em cursos de formação docente e especialmente difundidos entre normalistas e alunas dos institutos de educação e dos cursos de Pedagogia.

Carlos Monarcha, da Universidade Estadual Paulista, redigiu o segundo artigo apresentado neste dossiê, com o título “Um autor polígrafo. Um manual insólito. Raul Briquet e História da Educação: evolução do pensamento educacional”, no qual estudou as circunstâncias de produção de História da educação: evolução do pensamento educacional, manual de ensino publicado por Raul Briquet em 1946, professor da cadeira Educação Nacional do curso de Sociologia e Política da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.

O terceiro artigo, intitulado “As ideias de Rousseau nos manuais de História da Educação com autores estrangeiros publicados no Brasil (1939-2010), foi redigido por Décio Gatti Júnior que analisou doze obras de grande repercussão no país, nas quais os autores dos manuais didáticos analisados não poucas vezes se manifestaram favoravelmente ou desfavoravelmente ao pensamento de Rousseau, com a constatação de que apenas uma pequena parte dos manuais teve êxito no estabelecimento de relações entre as ideias políticas, educacionais e pedagógicas em Rousseau. Uma parte considerável privilegiou o pensamento rousseauniano como precursor do desenvolvimento futuro da psicologia do desenvolvimento humano, com destaque para a psique infantil.

Por fim, algumas obras foram muito críticas em relação as ideias educativas de Rousseau e as ideias liberais de modo geral, o que se deve ao corte analítico enviesado por forte crítica ideológica, seja a do espectro católico tradicional ou a do espectro comunista.

O quarto artigo, intitulado “O espaço curricular da História da Educação na Faculdade de Letras do Porto (1961-2013)”, redigido por Luís Alberto Marques Alves e Carla Luísa Santos Moreira, da Universidade do Porto, no qual constataram que a História da Educação na Faculdade de Letras do Porto percorreu um caminho longo, desde a sua integração no curso de Ciências Pedagógicas até ao seu regresso na atualidade.

Em seguida, Maria Helena Camara Bastos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta o quinto artigo deste dossiê que se intitula “Maria Lúcia de Arruda Aranha e a História da Educação”, analisa a produção, circulação e apropriação do manual de autoria de Maria Lúcia de Arruda Aranha, intitulado História da Educação, abordando a trajetória da autora e sua inserção no campo educacional; a história da obra – da materialidade ao conteúdo, da edição à circulação; e a contribuição para a disciplina.

Por fim, há o sexto e último artigo, escrito por Maria João Mogarro, da Universidade de Lisboa, intitulado “O ensino da História da Educação na Universidade de Lisboa (1950-2013)”, no qual procedeu a análise do espaço ocupado pela História da Educação na Universidade de Lisboa, na segunda metade do século XX e nos anos iniciais deste século, sendo que atualmente, é ministrada no Instituto de Educação, fazendo parte da licenciatura, do Mestrado em Ensino (que configura institucionalmente a legislação que consagrou o chamado processo de Bolonha, em 2007) e é oferecida também como um mestrado e um programa de doutoramento específicos, tendo construído um campo claramente definido de atuação.

Convida-se os colegas da área de História da Educação no Brasil e no exterior para a leitura deste dossiê vinculado ao tema Ensino de História da Educação, com a esperança de ser uma contribuição que some aos esforços de estudos e pesquisas que se tem visto atualmente, no sentido de permitir a melhor compreensão dos lugares institucionais e das formas tomadas pelo conteúdo da disciplina História da Educação.

Décio Gatti Júnior – Organizador


GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 13, n.2, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

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A pesquisa em História da Educação em Perspectiva Internacional / Cadernos de História da Educação / 2011

Com a disponibilização deste segundo número do décimo volume dos “Cadernos de História da Educação”, comemoram-se os dez anos de existência do periódico. Assim, de uma publicação destinada inicialmente apenas a dar visibilidade ao que era produzido no âmbito do Núcleo de Estudos e Pesquisa em História e Historiografia da Educação (NEPHE-UFU), passou-se, ao longo dos anos, à publicação de um periódico científico que ganhou relevância no âmbito da área de História da Educação brasileira, com a divulgação, até o momento, de mais de duas centenas de artigos, com concentração em autores vinculados a instituições externas à Universidade Federal de Uberlândia, o que alcançou 161 artigos do total publicado, ou seja, 78%. Esse é um aspecto considerado fundamental para o alcance da maturidade da revista, o que lhe valeu, por exemplo, a prestigiosa classificação no extrato A2 no Qualis / CAPES (Ano Base: 2008), mas, também, seu reconhecimento no interior da comunidade acadêmica afeta à área de História da Educação.

Outro aspecto relevante diz respeito ao apoio conquistado junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) que, desde 2010, tem disponibilizado os recursos necessários para editoração e impressão do periódico, o que contribui sobremaneira para manutenção de sua adequada periodicidade e qualidade editorial.

A disponibilização do conteúdo integral de todos os números publicados em meio eletrônico, por meio do “Open Journal Systems” (OJS), a partir de parceria estabelecida entre a Universidade Federal de Uberlândia e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, também contribuiu efetivamente para a difusão da revista junto à comunidade científica da área no país e no exterior. Todavia, essa mesma disponibilização tornou praticamente impossível manter um conjunto consistente de assinantes e de compradores de números avulsos do periódico. Assim, a manutenção da edição impressa dos Cadernos de História da Educação tem servido, sobretudo, para sua disponibilização a 75 bibliotecas de importantes instituições de pesquisa e ensino no país (54) e no exterior (21), bem como para fazer frente às permutas estabelecidas com periódicos nacionais e estrangeiros e para distribuição aos autores e eventuais compradores, ainda fiéis à leitura de exemplares impressos.

Nesses dez anos, o periódico conseguiu indexação junto a cinco importantes repertórios, assegurando maiores facilidades para o seu acesso: Biblioteca Brasileira de Educação (BBE); “Directory of Open Access Journals” (DOAJ); “Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de America Latina, el Caribe, Espanã y Porgugal” (LATINDEX); Sumários de Revistas Brasileiras (SRB); Repertório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).

No intuito de celebrar essas conquistas, nesse número comemorativo, organizou-se dossiê que o integra, intitulado “A pesquisa em História da Educação em Perspectiva Internacional”. Para confecção desse dossiê, contou-se com a colaboração de pesquisadores de reconhecida competência na área de História da Educação de diferentes países, por meio da redação de artigos inéditos com informações sobre aspectos relevantes da pesquisa histórico-educacional desenvolvida em suas respectivas nações,

Originariamente, o texto de Gary McCulloch seria publicado apenas em inglês, mas, por sugestão de Carlos Eduardo Vieira, da Universidade Federal do Paraná, ao qual é importante agradecer, optou-se por publicar uma edição bilíngüe do artigo, de modo a dar maior difusão ao texto do autor nos meios acadêmicos nacionais. Nessa direção, também é necessário agradecer a contribuição dada por Osvaldo Freitas de Jesus, professor aposentado da Universidade Federal de Uberlândia e, atualmente, vinculado à Universidade Presidentes Antônio Carlos que se responsabilizou pela tradução para o português do texto em referência.

Além do dossiê, este número contém doze artigos provenientes de demanda espontânea que foram aprovados no processo de avaliação. Redigidos por autores oriundos de diferentes instituições universitárias brasileiras e estrangeiras, contêm a comunicação de resultados de investigação no âmbito da História da Educação que interessam ao conjunto de pesquisadores da área. Dentre eles, destaca-se a tradução realizada por Maria Helena Câmara Bastos, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente vinculada à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, de texto de autoria de Boris Noguès, do “Service d’histoire de l’éducation”, do “Institut National de Recherche Pédagogique” (Paris, França). Há, ainda, duas resenhas de obras significativas da área que constam do presente número.

É importante agradecer novamente a confiança depositada pelos pesquisadores brasileiros e estrangeiros do campo da História da Educação na Comissão Editorial, no Conselho Editorial e no Conselho Consultivo dos “Cadernos de História da Educação”, sobretudo, por meio da contínua submissão de contribuições acadêmicas que avalizam a qualidade do periódico e que tem garantido seu sucesso entre os leitores da área de História da Educação.

Sem dúvida, é preciso agradecer também, a determinação demonstrada continuamente pelos dirigentes da Faculdade de Educação que, desde 2002, mantêm firme apoio à publicação da revista, sendo que foi fundamental a confiança da diretora à época da criação, professora Conceição Maria da Cunha, à qual se agradece publicamente. Além disso, tem sido fundamental ainda o apoio dos dirigentes e funcionários da Editora e da Gráfica da Universidade Federal de Uberlândia, bem como, dos dirigentes e funcionários da Fundação de Apoio Universitário da UFU e da Gráfica Composer. Por fim, os agradecimentos se estendem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) que, desde 2010, apóia financeiramente a publicação do periódico.

Décio Gatti Júnior – Presidente da Comissão Editorial


GATTI JÚNIOR, Décio. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 10, n.2, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Currículos, práticas e cotidiano escolar na formação educacional, moral e cívica de cidadãos no espaço luso-brasileiro / Revista História da Educação / 2010

O presente dossiê reúne seis artigos na temática geral da história das instituições escolares, com ênfase na questão dos currículos, práticas e cotidiano escolar. Os cinco primeiros estão dedicados à temática geral das práticas desenvolvidas a partir de instituições escolares em regiões e cidades do Brasil e de Portugal, tendo sido redigidos originariamente para apresentação no VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado no Porto, em Portugal, em 2008. O último artigo foi redigido mais recentemente, abordando a questão dos arquivos escolares e sua relação como à produção do conhecimento em História da Educação, com correspondência significativa com os artigos apresentados anteriormente.

A percepção do sentido e dos objetivos sociais das instituições escolares contribui sobremaneira para o entendimento das relações fundamentais que se estabelecem entre o particular e o geral no processo de compreensão e de construção de interpretações sobre a história das instituições escolares e de seu papel nas cidades e regiões circunvizinhas, pois que no entendimento dessa relação ancora-se a descoberta da dinâmica das identidades construídas e assumidas pelos indivíduos que animam as instituições educativas.

Desse modo, as práticas escolares que se expressam por meio da organização curricular, da utilização de manuais por professores e alunos, da realização de festividades, da aplicação de premiações e de punições etc. tornam-se compreensíveis não pela descrição detalhada de suas especificidades, mas sim pela qualidade das relações que o pesquisador consegue estabelecer entre essas práticas e as finalidades sociais mais amplas determinadas pela sociedade nas possibilidades sempre em aberto de manutenção da ordem, de iniciativas transgressoras e mesmo de ruptura com o estabelecido.

Assim, a convergência dos trabalhos apresentados está, sobretudo, na preocupação em promover nas investigações particulares a articulação entre as práticas escolares e as finalidades sociais mais amplas, no estabelecimento de uma dialética que enriqueça a interpretação histórica, com utilização para tanto de farta documentação encontrada nos arquivos escolares pesquisados.

Décio Gatti Júnior – Professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, no qual coordena a linha de pesquisa “História e Historiografia da Educação”. E-mail: [email protected]

Eurize Caldas Pessanha – Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no qual coordena a linha de pesquisa “Escola, Cultura e Disciplinas Escolares”. E-mail: [email protected]


GATTI JÚNIOR, Décio; PESSANHA, Eurize Caldas. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 14, n. 31, maio / ago., 2010. Acessar publicação original [DR]

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A História da Educação em Minas Gerais: investigações recentes / Cadernos de História da Educação / 2008

Este sétimo volume dos Cadernos de História da Educação é dedicado a Profa. Dra. Ana Maria Casasanta Peixoto, falecida recentemente. Uma das mais importantes historiadoras da educação do Brasil que, com sua costumeira generosidade, tenacidade e amizade, incentivou a criação desse periódico e integrou seu Conselho Consultivo desde seu primeiro número em 2002. Colega da área que deixa saudade e um exemplo de dedicação acadêmica que deve inspirar a todos que se dedicam a pesquisa, ao ensino e a divulgação científica na área de História da Educação.

Coincidentemente, neste novo volume encontram-se publicados oito artigos que formam o Dossiê –A História da Educação em Minas Gerais: investigações recentes, com autores provenientes de diferentes grupos de pesquisa em História da Educação instalados em diferentes Instituições de Educação Superior do Estado de Minas Gerais, sendo que a influência da Profa. Dra. Ana Maria Casasanta Peixoto está presente em todos estes grupos.

O texto “Uma nova instituição de ensino na cidade de Juiz de Fora e a visão da imprensa (1907-1908)”, de Dalva Carolina (Lola) de MenezesYazbeck e Marília Neto Kappel da Silva, provem da Universidade Federal de Juiz de Fora. Denilson Santos de Azevedo, Regilane Gava Lovato e Gilzânea Zanetti, da Universidade Federal de Viçosa, redigiram o texto “A voz dos estudantes de Agronomia impressa nas páginas do jornal “O Bonde” (1945-1963)”. Da Universidade Federal de São João del-Rei, recebemos a colaboração intitulada “Na periferia da cidade, à margem dos processos educativos: memórias de experiências escolares de moradores do bairro de São Geraldo em São João del-Rei”, de Laerthe de Moraes Abreu Junior, Michele Longatti Fernandes e Ellen Pereira Neves. Maria do Carmo Xavier, da Pontifícia Universidade Católica, redigiu o texto “Indagando a tradição: a pesquisa educacional e o projeto político do desenvolvimento mineiro (1956 / 1966)”. Em seguida, o texto “A psicologia educacional e o ensino da paixão, do prazer e da dor (Minas Gerais – 1920-1960)” de Maria Madalena Silva de Assunção que também é vinculada a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e também a Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações. Da Universidade Federal de Ouro Preto, Rosana Areal de Carvalho, Lívia Carolina Vieira e Leandro Silva de Paula, colaboraram com o texto “O cotidiano e a política no espaço escolar: o relatório de 1911 do Grupo Escolar de Mariana”. Em o “ ‘Templo do bem’: o Grupo Escolar de Uberaba na escolarização republicana (1908 – 1918)”, Rosângela Maria Castro Guimarães e Décio Gatti Júnior apresentam texto no campo da História das Instituicoes Educacionais. Por fim, da Universidade Estadual de Montes Claros, Sarah Jane Alves Durães e Fátima Rita Santana Aguiar colaboram com o texto “Os grupos escolares mineiros como lugar de disciplina e higienização dos corpos”.

Sem dúvida, este conjunto de textos selecionados dos trabalhos apresentados no IV Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação em Minas Gerais, realizado em maio de 2007, em Juiz de Fora / MG e que foram adensados e complementados por seus autores, revela a pujança que a pesquisa e a produção científica encontra em Minas Gerais, bem como o espalhamento dessas práticas desde a capital, Belo Horizonte, até cidades importantes de diversas regiões de Minas Gerais.

O presente volume também é integrado por onze artigos científicos inéditos, com dois artigos internacionais, seis com autores de diferentes e importantes instituições de educação superior brasileiras e, ainda, três artigos com autores da UFU. Assim, este volume alcança um percentual de 79% de artigos com autores de fora da universidade e 21% de artigos escritos por pesquisadores da própria UFU, o que demonstra a plena aceitação da comunidade de pesquisadores em História da Educação do Brasil e do exterior em relação ao periódico.

Por fim, há três resenhas publicadas nesse volume de obras escritas entre 2004 e 2007 e que ganham relevância internacional, nacional e regional pelas temáticas tratadas, em uma articulação que contempla preocupações recentes de pesquisadores brasileiros.

Novamente, agradecemos à confiança depositada nos integrantes da Comissão e no Conselho Editorial dos Cadernos de História da Educação seja pelo envio de colaborações para avaliação seja no sucesso que o periódico tem encontrado nos leitores da área de História da Educação. Sem dúvida, a disponibilização do periódico no Open Journal System (SEER, no Brasil) ampliará ainda mais a penetração do periódico no Brasil e no exterior.

Décio Gatti Júnior – Editor


GATTI JÚNIOR, Décio. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 7, jan. / dez., 2008. Acessar publicação original [DR]

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