A constituição do campo da Educação Especial no Brasil: entre tempos, lugares e pessoas/Cadernos de História da Educação/2023

As primeiras ações do que será conhecido, posteriormente, como Educação Especial ocorreram como iniciativas isoladas e praticadas por médicos, a partir do século XVIII. Historiadores da Educação Especial costumam considerar Jean-Luc Gaspard Itard, psiquiatra francês, o pioneiro do campo, por aceitar o desafio de tentar educar Victor, o menino selvagem encontrado na floresta do Aveyron, na França. Os registros da intervenção foram preservados e demonstram as tentativas de educar a criança. No Brasil, costuma-se considerar que a Educação Especial iniciou seu percurso ainda no Império, com a inauguração do Instituto Nacional dos Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) e do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, denominado desde o início da República, Instituto Benjamim Constant, responsável pela educação das pessoas cegas. No entanto, a História da Educação Especial no Brasil ainda carece ser explorada. Leia Mais

História da formação e do trabalho de professoras e professores de escolas rurais (1940-1970)/Cadernos de História da Educação/2023

A história da formação e do trabalho de professoras e professores de escolas primárias rurais possui uma grande potencialidade investigativa, pois permite o aprofundamento de várias temáticas correlatas no campo educacional, como a história da profissão docente e da escola, além da escolarização da infância e dos adultos e dos modos de disseminação da cultura letrada no meio rural. Leia Mais

Contribuições da literatura para a História da Educação | Cadernos de História da Educação | 2022

Este dossiê parte da premissa de que a literatura tem contribuições preciosas a oferecer para a história da educação. À partida, no que concerne mais de perto ao domínio metodológico, é notável a dilatação – acompanhada em seu aspecto quantitativo pelo que se refere também à diversidade – das fontes e dos objetos propiciados pelas obras literárias para a interpelação do passado educativo realizada pelo historiador. A exploração dessa potencialidade está em íntima consonância com o movimento de renovação historiográfica vindo à tona nas últimas décadas do século XX no terreno da história tout court e que chega um pouco mais tarde ao domínio da história da educação. Caracterizada em grande medida pelo protagonismo das temáticas de matiz sociocultural, as apropriações realizadas no interior desta última apontam outrossim para novos problemas, os quais terminam por provocar novas abordagens, intensificando o diálogo da história da educação com outras áreas das ciências humanas, especialmente em torno da mobilização de novos repertórios teóricos.

Em correlação com o movimento assinalado acima, a maior presença da literatura, tomada tanto como fonte quanto como objeto de análise no campo da história da educação, faz-se sentir a partir dos anos 1990 em vários dos veículos de divulgação e escoamento da produção da área. Nas revistas especializadas do campo, surgidas na maior parte naquele decênio e nos seguintes, nas atas dos eventos científicos da área e nas monografias produzidas no interior dos programas de pós-graduação se observam abordagens variadas, que abrangem desde a literatura infantil, passando por perfis de intelectuais da educação e sua vinculação ao campo literário, a produção literária de professores, as dimensões educacionais presentes na obra de escritores, a literatura nas políticas e projetos de alfabetização, a própria história da literatura infantil até os possíveis usos da literatura como fonte para a exploração dos processos de escolarização. Leia Mais

Circulação transnacional de livros de leitura e de manuais pedagógicos (entre fins do século XIX e início do século XX) | Cadernos de História da Educação | 2022

Os estudos relativos à transnacionalidade de artefatos e práticas pedagógicos, bem como o seu potencial de transnacionalização, têm se apresentado há um par de anos em periódicos de História da Educação de diversos países ocidentais. Com isso, o exame do tema avançou consideravelmente, mas está longe de ter se esgotado; há muito o que estudar sobre os livros escolares e sua circulação mundo afora. Por isso, esse dossiê investe no aprofundamento de um tópico relativo ao tema: circulação transnacional de materiais pedagógicos impressos, quer tenham nascido com destinação escolar quer tenham ganhado ulterior uso escolar. Tornou-se quase que sinônimo da modernidade a circulação de materiais impressos dados ao acesso pelas mais diferentes formas que vão do empréstimo à venda superfaturada; da impressão em folha solta a encadernados luxuosos; de versões vernaculares a traduções pouco ou nada amistosas, incluídas às muitas “apropriações” alimentadas por peculiares visões dos “gostos locais”.

Os livros de leitura, os livros didáticos, os compêndios ou manuais para formação do docente da escola primária, são documentos privilegiados neste dossiê, com vistas à análise da circulação transnacional desses fragmentos de cultura por meio dos quais se veiculam saberes e valores. O dossiê conjuga pesquisas que examinam livros, a partir de recortes temporais distintos, mas que privilegiam do século XIX às primeiras do século XX, de forma a compor um certo corpus analítico e de fontes. Assim, esta proposta objetiva discutir a produção e a circulação de livros produzidos em Portugal, na Itália, e no Brasil para pensar a história da educação a partir das diferentes projetos educacionais impressos nesses artefatos culturais. Aportes teóricos da História Cultural e História da Educação sustentam as análises que mobilizam, para além de livros, legislações, relatórios, jornais, correspondências, dentre outros materiais.

Justino P. De Magalhães abre o dossiê com o artigo Livro escolar – adaptação e tradução no Portugal de Oitocentos: do ‘aprender pelo livro’ ao ‘mestre-livro’, efetuando incursões em terras européias, a francesa em especial, na medida que recolhe elementos que lhe permitem explicar a criação do livro escolar moderno não só em terras portuguesas como brasileiras. Adentrando o século XIX, seu artigo acompanha os diversos momentos em que o livro vai se transformando em livro para uso escolar com distinção entre o livro para o aluno e o livro para o professor. Em fins do Oitocentos, o autor já tem em mãos uma diversidade de formatos de livros escolares, o que lhe permite afirmar que a proliferação do livro escolar, do pequeno livro e do periódico estão na origem da aculturação de massas. As transformações que registra no livro de uso escolar em relação aos demais livros e que lhe conferem especificidade permitem que conclua ser ela decorrente da regulação e do controle da produção e do acesso, bem como o fato de ser portador de orientações para a leitura.

O artigo de Samuel Castellanos, Livros de leituras ou manuais de civilidade como cultura material da escola maranhense para o ensino do ler e do vir-a-ser, como o próprio título indica, trabalha sobre livros/manuais que circularam no Maranhão do Oitocentos; são materiais que lhe permitem interrogar os pontos de contato entre “livros de leitura de autores maranhenses e manuais de civilidade não nacionais”, quais sejam: espanhóis, portugueses e franceses. É instigante como aí se enseja sua interlocução com o artigo de Justino Magalhães. Castellanos busca em R. Chartier e N. Elias referências conceituais para pensar os livros/manuais como suportes de regras que postas em circulação para a criação do sujeito civilizado. Posto face a face, os materiais maranhenses e europeus permitem que ele conclua que as variações percebidas naqueles são indicativas das novidades dos programas de ensino, nos métodos e nos usos prescritos daqueles materiais “como pretexto na formação do leitor em formação independentemente de seus níveis de leitura, da restrição de aprovação e indicação das obras que não cumprissem com as reformas da instrução, obrigando-as a uma reformulação e a um ajustamento segundo as prescrições nos dispositivos legais”.

O terceiro artigo desse dossiê é de Mirian J. Warde, Adaptações e traduções: cartilhas e livros de leitura “de americanos para filipinos” (início do século XX), opera um deslocamento, em relação aos anteriores, ao examinar livros escolares estadunidenses – cartilhas e livros de leituras – utilizados nas Filipinas pelos Estados Unidos durante os primeiros anos da ocupação, início do século XX, implicando operações, também essas, de deslocamento e imposição de uma cultura sobre a outra. O artigo foi provocado, originalmente, pela notícia de que a estadunidense The Arnold Primer, de Sarah Louise Arnold, indicada para adoção em São Paulo na versão traduzida e adaptada para escolares brasileiros (1907), teria sido também adaptada para escolares filipinos (1904), porém, não traduzida. O que seria “adaptação” em uma circunstância que sequer se pode chamar de transnacional? Uma condição na qual a confrontação entre culturas oblitera completamente os significados de civilização e barbárie, dissipam qualquer ilusão de que haja fronteiras entre esses dois modos de representação das culturas? Neste artigo são exploradas, especialmente séries documentais compostas por relatórios anualmente preparados pelo governo dos Estados Unidos nas Filipinas, acrescidas de um leque bastante diversificado de outras fontes.

Um novo deslocamento é operado com a inclusão dos três artigos a seguir que põem em cena dois países, Brasil e Itália, tanto mantendo as suas distâncias e diferenças quanto destacando suas interconexões.

Terciane Luchese com o artigo ‘Quando il mondo era Roma’: livros escolares para fascistizar os italianos no exterior, o caso brasileiro (1922-1938) contribui para que mantenhamos o exercício de abandono de qualquer laivo romântico que por ventura ainda guardávamos em relação aos livros escolares. Neste artigo, Luchese examina um livro – que dá título ao artigo – no contexto em que a Itália fascista, por meio de seus cônsules, enviava livros para as escolas italianas no Brasil, com o intuito de cativar os emigrados para os princípios e práticas daquele regime que ascendera ao poder em 1922, com Mussolini, e só foi encerrado com a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Roger Chartier é também seu vetor conceitual para as análises construídas sobre uma extensa base documental e bibliográfica. Luchese se pôs como desafio “compreender as políticas educacionais e culturais da Itália e sua vinculação com o contexto brasileiro e gaúcho durante os anos 1920 e 1930, em especial atentando para políticas, produção, circulação e distribuição de livros escolares fabricados durante o fascismo para as ‘escolas italianas no exterior’” que ela enfrenta em dupla direção: de um lado, examinando as políticas italianas e “suas relações/ressonâncias em terras brasileiras” e, de outro, pelo exame de um livro específico destinado à “juventude no exterior”.

Por sua vez, artigo de Claudia Panizzolo, Livros escolares para a escola elementar italiana nos dois lados do Atlântico: o estudo do Libro d’appunti de Giovanni Soli (entre o final do século XIX e início do século XX) opera um deslocamento temporal, para fins do século XIX e início do XX, e geográfico. Apresenta como objetivo compreender as políticas educacionais, a produção, a circulação e a distribuição de livros escolares para a península e escolas italianas no exterior, especificamente em São Paulo- Brasil. Panizzolo examina uma rica variedade de fontes documentais como os relatórios de cônsules, ofícios, despachos, circulares ministeriais e anuário das escolas italianas, além do ‘livro de anotações’, objeto central de sua análise. Mobiliza o corpus conceitual em especial de Chartier e Choppin para definir os procedimentos e as direções de análise, e após detalhado estudo sobre os livros em circulação na Itália e no Brasil, discordando de análises menos aprofundadas, conclui que os livros que foram distribuídos pelo Consulado italiano eram recém-publicados, de expressiva circulação na Itália e muito contribuíram para inventar o italiano na Península e fora dela.

O último artigo do dossiê escrito por Michelina D’Alessio, intitulado Manuais e livros de texto para os professores italianos da emigração no início do novecentos, lança luzes sobre um fenômeno importante para a história da educação, brasileira e italiana, que é a preparação dos professores de emigração, ou seja, aqueles profissionais que pretendiam emigrar além-mar para diversos países, entre os quais o Brasil. A autora faz uso de um corpus documental diversificado que inclui manuais, livros de texto, os quais eram direcionados para esse público de professores emigrantes. A análise efetuada por D’Alessio coloca em cena uma perspectiva pouco explorada ainda dentro da temática da escolarização e/ou educação dos imigrantes italianos que é relativa ao percurso formativo dos professores que emigrariam. Ao longo do texto, na análise dos manuais e livros de texto, a autora observa, também, o papel do Estado italiano nos assuntos referentes a emigração para o exterior. Ainda, a partir do texto é possível compreender a emigração italiana a partir de um ponto de vista transnacional que a coloca dentro de um panorama internacional e interconectado.


Organizadores

Claudia Panizzolo – Universidade Federal de São Paulo (Brasil) https://orcid.org/0000-0003-3693-0165     http://lattes.cnpq.br/7842950333039932 E-mail: [email protected]

Mirian Jorge Warde – Universidade Federal de São Paulo (Brasil) https://orcid.org/0000-0002-1119-6729  http://lattes.cnpq.br/2154986656715564 E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

PANIZZOLO, Claudia; WARDE, Mirian Jorge. Apresentação. Cadernos de História da Educação, v.21, e115, 2022. Acessar publicação original

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A pedagogia personalizada e comunitária no espaço ibero-americano (1950-1970) | Cadernos de História da Educação | 2022

A historiografia da educação francesa tem feito trabalhos instigantes sobre a pedagogia personalizada e comunitária, elaborada pelo educador jesuíta francês Pierre Faure. Em 1998, Anne-Maria Audic publicou «Pierre Faure s.j. 1904-1988: vers une pédagogie personnalisée et communautaire», livro que aborda a trajetória sócio-pedagógica do padre Faure. A pedagogia fauriana aparece sendo construída nas intervenções educativas desse padre jesuíta ecumênico, particularmente na segunda metade do século XX.

Em 2008, foi colocado à lume um volumoso conjunto de textos de Pierre Faure sob o título «Précurseurs et Témoins d`un enseignement personnalisé et communautaire», em que ele analisa as contribuições inovadoras da pedagogia de autores antigos como Jean-Jacques Rousseau e Henri Pestalozzi e educadores do novecentos como Maria Montessori, Ovide Decroly e Célestin Freinet. Leia Mais

Museus Pedagógicos: diálogos ibero-americanos 1 | Cadernos de História da Educação | 2022

A circulação de ideias pedagógicas que contribuíram para edificar projetos de escolarização da infância, acompanhando a consolidação dos Estados-nação, teve alguns sustentáculos. Destacamos aqui o aparato legislativo, que compreende um conjunto de prescrições que apoiaram o desenho da composição administrativa, entre elas a obrigatoriedade escolar; as Exposições Universais como espaços de difusão de modelos, ideias, circulação de mercadorias direcionadas ao provimento da escola – especialmente a primária – e à promoção de um nicho de mercado; e a organização de Museus Pedagógicos, os quais assumem, neste Dossiê, lugar central.

Numa caracterização mais ampla, os Museus Pedagógicos2 podem ser descritos “como um centro de formação para professores, onde seriam desenvolvidos, testados, apresentados e difundidos novos métodos, mobiliários e instrumentos didáticos” (Petry; Gaspar da Silva, 2013, p. 82). Ou, como o propunha Bartolomé Cossío (1886), um órgão que serviria para a introdução dos avanços referentes à educação primária presentes em países considerados referência (in: García del Dujo, 1985). Para Pedro Moreno Martínez, Leia Mais

Foucault, a genealogia, a história da educação / Cadernos de História da Educação / 2020

Nietzsche, a genealogia, a história é um dos textos mais célebres de Michel Foucault. Por meio de uma espécie de homenagem e, ao mesmo tempo, uma apropriação teórico-prática, o pensador francês tributa a Nietzsche seu empreendimento de uma história genealógica, no qual passam a ocupar lugar – a par do que nomeia sentido histórico ou história efetiva – a inconstância e a provisoriedade dos acontecimentos, em oposição tanto à restituição essencial das coisas, quanto ao reencontro de uma identidade perpétua ou, ainda, ao reconhecimento da unidade universal do sujeito antropológico.

A proposição deste dossiê Foucault, a genealogia, a história da educação busca, em alusão direta ao texto de Foucault, congregar abordagens e reflexões em íntima articulação à análise histórico-genealógica proposta por Foucault, de maneira a focalizar criticamente os jogos veridictivos envolvidos na investigação educacional contemporânea.

Margareth Rago – uma das pesquisadoras brasileiras pioneiras no que se refere não apenas à utilização do referencial teórico-prático da genealogia de Foucault, mas também ao enfrentamento do debate historiográfico, deslocando a análise dos fatos e dos acontecimentos para os fundamentos epistemológicos do discurso com vistas à compreensão dos campos de relações de força em que os jogos de poder se constituem – é a responsável pelo texto que abre o dossiê, o qual revisita, 25 anos depois, o texto As Marcas da Pantera: Michel Foucault na Historiografia Brasileira [1] , também de sua autoria. Por se tratar de uma das primeiras iniciativas desse tipo de discussão no Brasil, o referido texto tornou-se uma leitura obrigatória para estudiosos e pesquisadores que buscam fazer apropriações das formulações genealógicas nas diversas ramificações de campos da História e em outros campos afins.

Desse modo, desdobrando as discussões e ampliando as reflexões a partir de escritos e ditos de Foucault que foram publicados nos últimos anos, Rago atualiza, de maneira bastante abrangente, a análise acerca do conceito de poder nos deslocamentos operados por Foucault: da disciplina, do biopoder e da biopolítica para o governo de si e dos outros na condução das condutas, a partir do que aponta para os modos de subjetivação e para as contracondutas, permitindo a percepção de outros modos pelos quais as práticas da liberdade são experimentadas em face da governamentalidade cristã ou neoliberal. Por isso, As marcas da pantera, 25 anos depois…, ao abrir o dossiê, funciona como uma espécie de patamar a partir do qual são lançadas as reflexões dos outros artigos que o compõem, buscando cumprir com seu propósito de reunir um conjunto de discussões capazes de contribuir para o debate sobre a genealogia de Foucault na História da Educação.

O texto seguinte, A genealogia de Michel Foucault e a história como diagnóstico do presente: elementos para a História da Educação, tomando como base o próprio texto de Foucault que inspira este dossiê, busca desenvolver questões relativas ao projeto de uma história genealógica. A partir disso, traça uma discussão sobre a articulação de marcos teóricos da genealogia foucaultiana com a efetivação da História da Educação, desenvolvendo um argumento que aponta para a pertinência do uso do referencial genealógico no campo da história e da historiografia da educação. Considera, por fim, que a incorporação de noções genealógicas na pesquisa e na produção do conhecimento em História da Educação pode trazer ampliações teórico-metodológicas que, certamente, representam uma contribuição para o delineamento de outros contornos no que diz respeito à compreensão das formas de organização e funcionamento da educação em nossa sociedade, assim como ao entendimento da genealogia como ferramenta histórico-crítica da atualidade, naquilo que Foucault propõe como ontologia do presente, como interrogação da verdade sobre seus efeitos de poder e do poder sobre os discursos de verdade, especialmente no campo educacional.

Inés Dussel com o objetivo realizar uma análise tanto das perspectivas historiográficas como de contribuições para uma compreensão mais abrangente da emergência e dos efeitos da instituição escolar, associando Foucault com o autor pós-foucaultiano Ian Hunter, propõe em seu artigo uma releitura das posições de Foucault sobre a história da escola e uma abordagem do livro Repensando a escola. Subjetividade, Burocracia, Crítica, de Ian Hunter. Assim, a autora opera uma breve reconstituição da história da escolarização na abordagem foucaultiana, assim como apresenta a sua leitura do texto de Ian Hunter, o qual hipotetiza sobre o surgimento da instituição escolar. Em seguida, são apresentados alguns debates suscitados por essa obra entre historiadores e filósofos educacionais. Por fim, a autora propõe perspectivas de linhas de trabalho para a contunuidade do aprofundamento do diálogo com o empreendimento genealógico de Foucault a partir da história da escolarização.

Sob o argumento de que “Uma história da educação em chave genealógica é uma genealogia das práticas pedagógicas”, assim como o de que “uma genealogia das práticas pedagógicas modernas é, finalmente, uma história da modernidade em chave genealógica”, Carlos Ernesto Noguera-Ramírez e Dora Lilia Marín-Díaz apresentam sua contribuição para o dossiê com o propósito de discutir o conceito de “educacionalização do mundo” estabelecido por Tröhler, segundo o qual a modernidade corresponderia à educacionalização do mundo. Reconhecem, assim, a importância e o potência do conceito de educacionalização tanto para a História da Educação quanto para a Pedagogia como um todo. O texto dos dois pesquisadores objetiva realizar a descrição da origem e da emergência de matrizes normativas da modernidade que sustentam o que Tröhler denomina “virada educacional”; esta relida à luz de ferramentas arqueológicas estabelecidas por Foucault. Como principal resultado da investida, os autores afirmam, dierentemente de Tröhler, que o surgimento da educação do mundo não não se deu entre os séculos XVIII e XIX, mas entre os séculos XVI e XVII, no marco daquilo que Foucault cunhou como “era da governamentalidade”. Desse modo, Noguera-Ramírez e Marín-Díaz realizam um exercício histórico-filosófico por meio do qual evidenciam uma perspectiva valiosa para a reflexão sobre a educação e a pedagogia, bem como para a análise das práticas pedagógicas, segundo a problemática posta pela governamentalidade e pelo ascetismo.

Por sua vez, José G. Gondra realiza uma crítica genealógica ao pôr em questão as relações de poder que atravessam as narrativas discursivas. Dessa forma, ele explora alguns princípios narrativos que constituem o manual Noções de História da Educação, de autoria do polígrafo, Afrânio Peixoto, reeditado sucessivamente nos anos de 1933, 1936 e 1942, o qual se apresenta como resultado dos três anos (1932-1934) que o autor se dedicou ao ensino de História da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Na narrativa construída no manual, Peixoto lega para as futuras professoras o que chama de “história da civilização”, uma espécie de capital cultural que ele considerava fundamental para a compreensão do passado mais remoto e outros presentes, definindo assim uma condição para a obtenção de uma maior profissionalização da docência. Gondra investe no trabalho do registro de algo como uma origem da escola, uma fundação original que operaria com marcos fundamentais, cujo propósito seria a comprovação da substância e das funções desse acontecimento primordial. Assim, o exercício realizado busca desfazer a imobilidade de uma identidade e funcionamento da escola, perpetuando uma essência e suspendendo o tempo. Busca, pois, pensar as opções e operações historiográficas, assim como o movimento pedagógico ao qual o manual de Peixoto se conecta e que, por sua vez, também ajuda a legitimar e reproduzir. Gondra conclui que as tantas (des)continuidades que atravessam e regulam o nosso tempo presente e de modos bastante diversos são possíveis de serem observadas tanto na sociedade assim como nas escolas e, especificamente, na formação de professores, o que pode indicar que aquilo que o passado ensina, por intermédio de noções de história da educação, é o traçado de itinerários nada previsíveis e fora de qualquer teleologia predestinada.

O último artigo do dossiê, intitulado Foucault e a História da Educação brasileira: dos usos possíveis do procedimento genealógico, tendo como horizonte o procedimento investigativo foucaultiano delineado no texto Nietzsche, a genealogia, a história, propõe-se a pôr em perspectiva as repercussões do legado de Michel Foucault, no que diz respeito à utilização de ferramentas genealógicas na produção bibliográfica em História da Educação no período de 1997 a 2017, nos três periódicos brasileiros voltados especificamente ao campo histórico-educacional. A análise recaiu sobre 42 artigos selecionados, de maneira a dar a ver movimentos simultâneos, numa análise de conjunto. Na dissecação do corpus analítico escolhido, não se pretendeu realizar nenhuma comparação entre o que Foucault realizou e os traçados investigativos dos historiadores da educação brasileiros, de sorte que foi realçada a potência da circulação de novas narrativas históricas, por meio da qual desponta a reinvenção de ferramentas já tantas vezes utilizadas e reutilizadas. Desse modo, as conclusões voltam-se para as condições de tempo, lugar e modos que cercam os exercícios de investigação histórica que buscam inspiração teórico-prática em Michel Foucault.

Por fim, é preciso sublinhar que o presente dossiê reúne um conjunto de textos que apresentem repercussões possíveis da questão genealógica no campo da história da educação: as contingências das formas educacionais; os deslocamentos da organização e do funcionamento do aparelho escolar; as estratégias de governamento dos sistemas de ensino, assim como as concepções de conhecimento que sustentam os fazeres pedagógicos e, em última instância, aquelas próprias da História da Educação. Articulando a análise genealógica ao campo específico da história da educação, a intenção é, de algum modo, dispor chaves outras de compreensão do presente educacional e suas interpelações tantas.

Nota

1. Disponível em: https: / / periodicos.sbu.unicamp.br / ojs / index.php / resgate / article / view / 8647987 . Acesso em 06 abr. 2020.

Haroldo de Resende – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0001-9379-111X http: / / lattes.cnpq.br / 5363115483274501 E-mail: [email protected]

Julio Groppa Aquino – Universidade de São Paulo (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0002-7912-9303 http: / / lattes.cnpq.br / 1124623998211027 E-mail: [email protected]


RESENDE, Haroldo de; AQUINO, Julio Groppa. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 19, n.2, maio / ago., 2020. Acessar publicação original [DR]

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História e memória da EJA nas universidades brasileiras e portuguesas – séculos XX e XXI / Cadernos de História da Educação / 2020

A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) se consolidou como um campo de pesquisa que vem ganhando espaço na Academia, devido ao diálogo que faz com diferentes temáticas da historiografia. Esse campo, portanto, provoca práticas e reflexões que não estão inscritas, especificamente, no âmbito escolar, pois vão muito além. É uma história contada a partir das relações de gênero, do trabalho, da política, do corpo, entre muitas outras perspectivas que revelam facetas múltiplas de um mesmo objeto. Entretanto, embora reconheçamos que exista um aumento vertiginoso das pesquisas sobre a História da EJA nos últimos 20 anos, ainda há uma tímida produção, se a compararmos, por exemplo, com a história da educação primária. Dessa maneira, este Dossiê tem por objetivo promover um diálogo entre pesquisadores sobre a história da educação de jovens e adultos em universidades brasileiras e portuguesas, nos séculos XX e XXI.

O dossiê é composto de seis artigos; três deles foram escritos por pesquisadores brasileiros e portugueses, e nessa coautoria analisam duas realidades tão distantes e ao mesmo tempo com muitas proximidades. Nos outros três artigos, os autores, pesquisadores brasileiros, abordam, especificamente, a realidade da EJA no Brasil.

Este dossiê traz olhares que se aproximam sobre as relações entre as universidades e a EJA, a partir da década de 70 do século XX à atualidade. É uma história do tempo presente que precisa ser contada, pois os dados atualizados apontam que a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais de idade no Brasil caiu de 7,2% em 2016 para 7,0% em 2017, mas não alcançou o índice de 6,5% estipulado, ainda para 2015, pelo Plano Nacional de Educação (PNE). A realidade brasileira aponta-nos que temos cerca de 11,5 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever, e apenas 118 mil analfabetos frequentaram cursos de alfabetização no ano de 2017 [1]. Partindo desses dados, é mais triste saber que a maioria dos analfabetos brasileiros continuam fora do espaço escolar e privados de seus direitos. Não incluímos, nesse somatório, os dados da pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) em 2018, que elevaria ainda mais esse percentual, uma vez que a pesquisa mede os níveis de alfabetismo [2] da população brasileira com idade acima de 15 anos [3].

Diante desses dados alarmantes e, infelizmente, históricos na educação brasileira, este dossiê traz à tona os debates, os impasses, os lugares e não lugares da Educação de Jovens e Adultos, principalmente nos estudos e nas pesquisas sobre a alfabetização de jovens e adultos no contexto brasileiro e português. Ao mesmo tempo, os estudos aqui reunidos mostram o que temos feito, produzido e pesquisado para uma melhor compreensão desse fenômeno que impera no Brasil.

Abrimos o dossiê com o artigo de Rocha e Goulart, em que os autores buscam contemplar uma área pouco explorada, ou seja, a EJA nas pesquisas acadêmicas, com o enfoque na produção voltada especificamente sobre a alfabetização. O artigo objetivou analisar e compreender a história da alfabetização de jovens e adultos no Brasil, a partir dos discursos acadêmicos produzidos no período de 1978 a 2000. Os autores realizaram um levantamento bibliográfico de teses e dissertações publicizadas no país no decurso do século XX, considerando como as pesquisas oriundas das universidades brasileiras abordaram o tema da alfabetização de jovens e adultos.

Ainda que, em termos quantitativos, essa produção não seja tão expressiva, foram identificadas 65 produções, e dentro da análise da categoria “temáticas priorizadas”, destacaram-se: ‘Programas, projetos, iniciativas governamentais e não governamentais’, seguidos de ‘Vivências de alfabetização de jovens e adultos” e ‘Representações sobre a alfabetização de jovens e adultos’. Essa análise dos autores dialoga com os artigos subsequentes deste dossiê.

O segundo e o terceiro artigo têm em comum o diálogo entre instituições e projetos de extensão em que articulam a pesquisa, a docência, a formação e a especialização de professores da EJA. Outra afinidade nos artigos de Maciel e Santos e o de Porcaro está nos diálogos entre três universidades mineiras: Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais (UFMG) e de Viçosa (UFV). Todas as autoras atuam como professoras formadoras e pesquisadoras da EJA, com destaque para o campo da alfabetização de jovens e adultos. As semelhanças estão nas atuações e coordenações de projetos de extensão voltados para o campo da EJA, nos embates que esses projetos encontram dentro da Academia e na perseverança das autoras em levar adiante projetos considerados longevos, quando o mais comum é a terminalidade após dois ou quatro anos de execução. Perseverança como uma opção política de acreditar que a alfabetização de jovens e adultos é um direito e, dessa forma, continuar defendendo os princípios freireanos de propiciar um aprendizado que faça sentido na vida das pessoas.

Insta destacar que esses três artigos buscam evidenciar a articulação entre a extensão, a pesquisa e a especificidade da formação do educador da EJA na universidade. Essa articulação, problematizada nos textos das autoras, tem sido um dos objetivos perseguidos pelas pesquisadoras nas suas trajetórias acadêmicas e, em parte, com retorno bem sucedido ao longo de três décadas. A formação do professor alfabetizador de EJA e a especificidade necessária a essa formação, ainda pouco valorizada também nas pesquisas acadêmicas, como aponta o artigo de Rocha e Goulart, tem sido uma defesa para a continuidade desses projetos de extensão.

Neste dossiê, são, ainda, tematizadas e discutidas as políticas públicas, as histórias de vida e identidade da EJA sob o ponto de vista de pesquisadores de dois países: Brasil e Portugal. No primeiro deles, Oliveira e Amaral partem da legislação portuguesa e brasileira para analisar a história das políticas de democratização da Educação de Adultos nos dois países, história essa analisada sob o ponto de vista da inserção desse público no ensino superior. Atualmente, de acordo com os estudos e as investigações no campo da EJA, torna-se imprescindível inserir o segmento da EJA no Ensino Superior, não só por ser o aluno um trabalhador, e sim pelas suas histórias marcadas por rupturas e descontinuidades no processo de escolarização. Oliveira e Amaral também rememoram as histórias de vidas desses alunos e trazem pontos comuns entre os dois países. A distância geográfica entre Brasil e Portugal torna-se inexpressiva com as semelhanças entre os alunos da EJA de lá e de cá do Atlântico.

As autoras Vieira, Moio e Lima também trazem suas reflexões a respeito da entrada tardia dos alunos de EJA no ensino superior. Sob o título Histórias de ingresso de jovens maiores de 23 anos no ensino superior em Portugal, as autoras apresentam a história da educação de adultos em Portugal, do século XVI à educação de jovens e adultos durante e após a Revolução de 1974. Na sequência, as autoras refletem sobre a inserção dos adultos no ensino superior, tema que já vem sendo debatido no meio acadêmico português. Diferentemente do que ocorre entre nós, brasileiros, esse é um tema ainda pouco explorado, ou mais adequado dizer, não enfrentado por nós, pesquisadores e acadêmicos.

São muitas as perguntas que carecem de respostas e pesquisas. Esses alunos oriundos da EJA, quem são eles? Quais os cursos escolhidos por eles? Ou serão os cursos que escolhem seus alunos? Essas são temáticas que ainda precisam ser investigadas. O acesso democrático desse público à universidade tem garantido a esses alunos o desejo de cursar o que realmente querem? Esses artigos nos incitam a entrar nessa vereda.

No último artigo do dossiê, de autoria de Machado e Barros, cujo título é Aspectos da construção histórica da identidade da EJA no Brasil e em Portugal: enfoque na agenda política e suas práticas discursivas, as autoras tematizam os três campos da EJA: o campo das práticas educativas, o das práticas de investigação e o das práticas discursivas, priorizando a análise deste último. Apresentam-nos a história da EJA em Portugal e no Brasil, a partir da análise da legislação, focalizando nas práticas discursivas inerentes à agenda política. Analisam, a partir dos discursos legais, o processo de democratização da EJA nos dois países, apontando as semelhanças e as diferenças.

Há que ressaltar que esses artigos foram produzidos em um contexto brasileiro diferente do que estamos vivenciando hoje, após a posse do presidente Jair Bolsonaro. Foram produzidos antes da extinção da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), secretaria responsável pelas ações da EJA. E no dia 11 de abril de 2019, foi lançado, em um documento de 56 páginas, a “Política Nacional de Alfabetização (PNA)”, instituída pelo Decreto nº 9.765. Nesse documento, a parte que diz especificamente sobre a alfabetização de jovens e adultos fica restrita a seis parágrafos.

Portanto, os artigos deste dossiê refletem uma análise em que apontamos os desafios, ao lado dos avanços, da longevidade dos projetos de extensão, da articulação entre ensino, pesquisa e extensão e, mais do que isso, da esperança que nos leva a acreditar que a história da Educação de Jovens e Adultos não pode ter um retrocesso, tal como vivenciado em 1964 e, posteriormente, com o fracasso do Mobral.

Aos leitores, este dossiê é um convite para pensarmos e analisarmos a história da Educação de Jovens e Adultos, em interface com a história da Universidade – do ensino, da extensão e da pesquisa –, e sabermos onde poderemos fazer a diferença frente aos próximos anos. Continuemos firmes com Paulo Freire, acreditando que precisamos esperançar. Façamos desse verbo o nosso lema para a EJA.

Notas

1 Cf. Calçade, 2018.

2 Definição do INAF para alfabetismo: “é a capacidade de compreender e utilizar a informação escrita e refletir sobre ela, um contínuo que abrange desde o simples reconhecimento de elementos da linguagem escrita e dos números até operações cognitivas mais complexas, que envolvem a integração de informações textuais e dessas com os conhecimentos e as visões de mundo.” (AÇÃO EDUCATIVA; INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2018, p. 4).

3 Cf. Ação Educativa; Instituto Paulo Montenegro, 2018.

Referências

AÇÃO EDUCATIVA; INSTITUTO PAULO MONTENEGRO. Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) Brasil 2018: resultados preliminares. São Paulo: Ação Educativa; IPM, 2018. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2019. https: / / doi.org / 10.31368 / 1980-6221r00382018

CALÇADE, Paula. As taxas de analfabetismo ainda são altas no Brasil? 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2019. https: / / doi.org / 10.17771 / pucrio.acad.11041

Sônia Maria dos Santos – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0002-7217-1576 http: / / lattes.cnpq.br / 9281057859793276 E-mail: [email protected]

Francisca Izabel Pereira Maciel – Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0003-4751-2890 http: / / lattes.cnpq.br / 0925119698225692 E-mail: [email protected]


SANTOS, Sônia Maria dos; MACIEL, Francisca Izabel Pereira. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 19, n.1, jan. / abr., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Escolarização, livros escolares e movimentos migratórios / Cadernos de História da Educação / 2019

A Itália, assim como Alemanha, Polônia e Espanha, para mencionar apenas alguns europeus, se constituíram em países de emigração e o Brasil de imigração, acentuadamente entre meados do século XIX e primeiras décadas do século XX. A presença de movimentos migratórios nos provoca a pensar a transnacionalidade e a necessária suspensão de recortes de pesquisa que se pautem exclusivamente no contexto das fronteiras nacionais. Pensar as relações entre processos de escolarização e produção de livros escolares, permenado pelo olhar dos movimentos migratórios é o intuito principal deste dossiê. Atentamos para as ideias que circularam por meio dos materiais escolares que foram produzidos em épocas distintas e com intuitos diferenciados. Compreendemos que no interior das escolas se encontram e confrontam culturas e, por meio de olhares históricos, é possível compreender a diversidade étnica, bem como a pluralidade de práticas e de itinerários. Tal movimento investigativo também é importante para os interessados em compreenderem a história das instituições escolares. Especial atenção reside nos materiais escolares produzidos pelo governo italiano e distribuídos entre imigrantes no contexto brasileiro.

Para tal, consideramos que os livros são portadores de valores morais, sociais e éticos, são expressões dos modos de pensar e compreender o que a educação escolar deve ensinar às novas gerações. Percorrer as páginas de manuais e livros escolares significa, para os historiadores da educação, compreendê-los na sua produção, interrogá-los na sua circulação, apropriação e nos modos como foram preservados e nos chegam até a contemporaneidade. Livros escolares podem ser pensados como guias que buscaram conduzir professores e alunos em suas práticas pedagógicas ao serem portadores de conteúdo, reveladores de intenções e projetos políticos de formação sociocultural. Os livros, quadros murais e impressos analisados nesse Dossiê são entendidos como mediadores culturais que permitem pensar concepções políticas para a educação escolar produzida pelo Governo Italiano para regular as escolas italianas do exterior, aqui investigadas especialmente aquelas do Brasil. Ou produzidos no Brasil para promover renovação pedagógica por meio de quadros murais ou ensino de disciplinas como a de Trabalhos Manuais. Atentar para a similaridade de algumas práticas e pensar como os materiais escolares, em especiais os livros e impressos escolares, são portadores e difusores de modos de ser, pensar e viver, constituem o fio condutor dos artigos aqui reunidos.

O primeiro artigo, “Patria, razza e civiltà. Le istruzioni per um’emigrazione di sucesso nei manuali scolastici di Geografia Italiani tra fine ‘800 e inizio’900” (Pátria, raça e civilização: as instruções para a emigração de sucesso nos manuais de Geografia italianos entre o final do 800 e início do 900) de Paolo Bianchini analisa um conjunto de livros escolares de geografia que circularam na Itália em escolas primárias e secundárias e que tratam a questão da emigração italiana, referindo o papel da escola e dos manuais escolares de geografia, em especial, na construção de conceitos centrais como pátria, raça e civilização, que ainda hoje são fortemente influenciados pelas imagens e ensinamentos constituídos nos séculos passados.

O segundo artigo do dossiê, intitulado “Uma impronta di italianitá”: os livros didáticos para escolas étnicas italianas no Brasil entre liberalismo e fascismo de Alberto Barausse aprofunda a análise do processo histórico das políticas empreendidas pelo Governo Italiano no processo de seleção dos livros escolares a serem produzidos e adotados nas escolas no exterior. Atenta para as dinâmicas e complexas relações de acompanhamento e desenvolvimento da escolarização, dos processos culturais e formativos, sobretudo identitários, dos colonos italianos no Brasil, entre a segunda metade do século XIX e a fim dos anos 30, do século XX. Considera que os livros didáticos foram, desde o começo da experiência da unificação italiana, um instrumento fundamental para as classes dirigentes que tinham por finalidade modernizar e, sobretudo, homogeneizar e uniformizar o ensino nas escolas em sentido nacional. Ressalta a italianidade como objetivo a ser difundido, como sentimento de interligação com a Pátria-Mãe, as estratégias mobilizadas variaram e o entendimento de italianidade também.

O texto “Scuole Italiane all´estero: livros de leitura para as escolas italianas no Brasil (São Paulo / SP, 1911 – 1931) de Claudia Panizzollo analisa um dos livros produzidos na Itália e publicado pela Editora Bemporad que circulou intensamente pelo Brasil. O livro Piccolo Mondo, letture per Le scuole elementar, de 1910, de autoria de Fanny Romagnoli e Silvia Albertoni atravessou o oceano e chegou à Escola Principe di Napoli. Escrito para as escolas da península italiana circulou também nas escolas all’estero, e merece destaque a longevidade da publicação, sendo sua última edição no ano de 2011. Piccolo Mondo conforme Panizzollo apresenta uma preocupação com o ensino científico e valoriza as Ciências Naturais. O livro apresenta um conjunto de historietas que abordam temáticas voltadas à higiene, à saúde, à morte adulta e infantil e à nutrição, aos remédios e vacinas e às plantas. Na análise de Panizzollo, Romagnoli e Albertoni destinaram significativo espaço para o aprendizado da civilidade, buscando disciplinar as almas dos pequenos italianos ou seus filhos, por meio de coerção exercida sobre o corpo, além de impor à coletividade de crianças uma mesma norma de comportamento considerado adequado e aceitável, o que se faz por meio da transmissão de valores como bondade, caridade, paciência, trabalho, respeito aos mais velhos, ao mesmo tempo em que se busca distanciar as crianças do orgulho, do apego aos valores materiais, da preguiça, da cobiça, entre outros sentimentos. Em suas páginas emerge um projeto, ao mesmo tempo, civilizatório e de constituição da italianidade.

No quarto artigo, “‘E não nos deixeis cair em tentação’: livros de leitura religiosa do governo fascista para as escolas italianas no Brasil (anos 20 e 30 do século XX), Terciane Ângela Luchese atenta para a produção, a circulação e as estratégias de (con)formação postos em jogo pelos dois volumes do livro Letture di Religione, distribuídos gratuitamente aos alunos das escolas italianas do Brasil. Os livros foram escritos e compilados por Giuseppe Fanciulli, também conhecido como Maestro Sapone. Italiano nascido em Firenze, com formação em Filosofia, Psicologia e Direito, publicou inúmeros livros para as escolas italianas recomendados pelas comissões no período fascista abordando temáticas diversificadas como História e Leitura. As duas obras de Letture di Religione contavam com páginas inteiras ilustradas por Beryl Tumiati. Eram portadores de uma proposta educativa ligada à ideologia fascista que não deixou de considerar e construir a relação entre pátria (fascista), conduta moral, religião e família. O texto analisa as aproximações entre fascismo e catolicismo no contexto italiano e sua repercussão na produção e envio de livros escolares para as escolas étnicas italianas no Brasil, destacando-se que se trata de dois dos poucos manuais publicados para ensino religioso para as escolas italianas no exterior.

O quinto artigo, intitulado “O ethos do trabalho como signo de modernização pedagógica: artes de fazer prescritas na imprensa pedagógica (Minas Gerais, 1925 – 1934)” de Marcus Aurélio Taborda de Oliveira entrelaça a noção de economia moral, de Edward Thompson e trabalho desenvolvida por Hannah Arendt, para discutir a presença dos Trabalhos Manuais no contexto das Minas Gerais nas décadas de 1920 e 1930, tendo como referência a Revista do Ensino, publicada a partir de 1925, mas com destaque ao livro Trabalhos Manuaes Escolares, de Manuel Penna, de 1934. O autor considera que essas publicações representam como intelectuais e agentes públicos buscaram estabelecer parâmetros para a escola pública brasileira, objetivando renovar pedagogicamente a escola, a par da urbanização, industrialização e combate ao desprezo pelo trabalho manual no Brasil.

O último artigo, “Um olhar alemão para a escola brasileira: Carl Ernest Zeuner desenhando quadros murais (1963 – 1969)” de Maria Helena Camara Bastos analisa os suplementos didáticos ou quadros murais, encartados mensalmente e destacáveis, também denominados “Material Didático para as Classes do Curso Primário” e que circularam junto à Revista do Ensino no Rio Grande do Sul. Esses quadros murais foram desenhados pelo imigrante alemão Carl Ernest Zeuner, formado na Academia de Artes Gráficas de Leipzig / Alemanha e que chegou ao Brasil em 1922, radicando-se em Porto Alegre. Foi pintor, desenhista e ilustrador, permanecendo por quatro décadas na Livraria e Editora Globo. Na década de 1960, seus desenhos ilustraram os quadros murais, a partir das orientações da direção do periódico. A observação e experimentação visual possível pelos quadros murais produziram representações que puderam ser lidas e fomentaram uma formação moral, cívica, religiosa e patriótica.

Chartier (1990) afirma que o livro, mas também outros impressos como jornais e revistas, são materialidades que colocam em circulação ideias sobre os quais podemos questionar processos de produção, conteúdos e discursos de que são portadores. Podemos, a partir desses documentos perscrutar a distribuição e a apropriação em diferentes espaços e tempos, além de sua preservação. É em torno dessas questões e da compreensão dos movimentos migratórios e sua relação com a escolarização que os pesquisadores se articulam para pensar a História da Educação. No conjunto, os textos desse dossiê permitem compreender as políticas de seleção e produção de livros escolares pelo governo italiano e destinados às escolas no exterior, atentando para a circulação e a distribuição dos livros, bem como a compreensão, a partir da análise de alguns dos exemplares – vinculados à leitura, ao ensino histórico-geográfico, à ciências e à religiosidade – dos modos como se buscou educar os italianos e seus descendentes no interior das escolas étnicas italianas no Brasil, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Também atenta para a inserção de Trabalhos Manuais na escolarização percebendo as relações cruzadas entre trabalho, economia moral e renovação pedagógica, além de atentar-se para a produção e a circulação dos quadros-murais na Revista de Ensino do Rio Grande do Sul, outra materialidade educativa do olhar que produziu representações e resultou do trabalho do imigrante alemão Carl Zeuner. Caminhos interpretativos cruzados sobre o passado da escola e suas materialidades em circulação e que buscaram educar, mobilizando memórias sobre processos identitários, civismo e patriotismo.

Referências

CHARTIER, R. (1990). A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa, Portugal: DIFEL.

Terciane Ângela Luchese – Universidade de Caxias do Sul (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0002-6608-9728 http: / / lattes.cnpq.br / 7640634913198342 E-mail: [email protected]

Alberto Barausse – Università degli Studi del Molise (Italia) https: / / orcid.org / 0000-0002-8326-046X E-mail: [email protected]


LUCHESE, Terciane Ângela; BARAUSSE, Alberto. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 18, n.2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Educação em Perspectiva Local – Municipal / Cadernos de História da Educação / 2019

O presente dossiê, Educação em perspectiva local / municipal, pretende apresentar discussões relativas às escritas da História da Educação, mais precisamente, àquelas relacionadas às possibilidades de se investigar “novos” espaços e “novos” sujeitos. Com a extensão desses olhares emergem resultados de investigações direcionadas a cenários, épocas e temáticas até então pouco privilegiados, vindo à tona estudos dedicados a desvelar outras faces da constituição do sistema de instrução pública nos estados brasileiros e em alguns ambientes do território europeu, para além das análises macroestruturais (postura normalmente assumida pela chamada “historiografia tradicional”). Este adensamento das pesquisas centradas em espaços “menores” decorreu da formação e consolidação de grupos de pesquisas por todo o país, assim como no exterior, devotados à investigação de aspectos significativos da organização da instrução, tomando como referência os municípios, as instituições escolares (públicas e privadas), manuais pedagógicos, métodos de ensino, a imprensa (especializada ou não), etc.

Nesta ambiência, no caso do Brasil, a motivação para as pesquisas dedicadas à ação municipal sobre as coisas da instrução, aparece como reflexo da transmissão aos estados, por parte do governo federal, da responsabilidade pela educação pública. Este processo ganha mais relevo nas investigações do período compreendido da proclamação da República, em 1889, às primeiras décadas do século XX, correspondendo a um momento de grande evidência do papel dos municípios no debate sobre a situação educacional local, que abraçaram os princípios de civilidade, modernidade e progresso e procuraram superar o atraso herdado dos tempos do Império no campo da educação. Ademais, o analfabetismo – a grande chaga nacional – nessas localidades era sentido muito claramente como um dos maiores problemas, talvez o principal entrave ao seu desenvolvimento. A vereança nas Câmaras comungava a crença de que, pela via da educação, seria possível remodelar a ordem social, política e econômica e consolidar a nascente República, viabilizando sua inserção no rol das nações democráticas e civilizadas. Os republicanos municipais viam nessas ações não só o roteiro do progresso, mas também o caminho para se eliminar ou reduzir uma das principais máculas da sociedade brasileira: 80% de analfabetos, acumulados ao longo de séculos [3].

Indispensável ao progresso do país, à consolidação do novo regime e elemento de civilização, a educação – com especial ênfase na instrução pública – foi objeto de diversas iniciativas por parte do poder público. No ideário republicano a conformação de uma nova sociedade demandava, se confundia com a formação de um novo tipo de cidadão. Pela via da educação, acreditava-se ser possível alcançar esse duplo objetivo, crucial também para manter vivos os ideais de ordem e progresso inseridos no pendão nacional.

A pretendida transformação da realidade educacional nos primeiros anos republicanos, no entanto, esbarrava nas prescrições legais, uma vez que fora mantido o princípio da descentralização, advindo do Ato Adicional de 1834, remetendo a responsabilidade pela organização e difusão do ensino público aos estados e municípios. Essas duas instâncias, portanto, nas primeiras décadas republicanas, tomam relevância no debate, na formulação e implantação de propostas efetivas de intervenção, no âmbito da instrução popular.

Em Minas Gerais, a estrutura legal – Constituição, lei de instrução e regulamento escolar – concedia às Câmaras Municipais relativa autonomia (e, igualmente, responsabilidade), podendo deliberar e estabelecer linhas de intervenção sobre a instrução primária e diversos outros assuntos [4]. Nesse contexto, a realidade municipal aparece como lócus privilegiado do esforço pela organização da instrução pública e o seu estudo adquire relevância para a história da educação.

Impasses entre centralização e descentralização marcaram o desenvolvimento educacional brasileiro ao longo dos séculos XIX e XX, pendendo ora para uma tendência, ora para outra, como num movimento pendular. O município se configura, nesse contexto, não apenas como ente político-administrativo, mas também como um território pedagógico, tendo em vista que o poder local assumiu a função de organizar e definir princípios próprios para a instrução municipal, bem como abrir escolas, contratar professores, orientar métodos, etc. O processo de organização da instrução na esfera local, em Minas Gerais, pode ser assim caracterizado:

ao se falar de educação em Minas Gerais no início da República, e talvez na maioria dos estados da Federação Brasileira, não se pode pensar num sistema único de ensino, ou num processo que atinja homogeneamente todo o território. Na realidade, o processo é heterogêneo e multifacetado. Existe a ação do Estado e existem as iniciativas complementares dos municípios. Há também omissões nas duas instâncias. Estão presentes, ainda, tentativas de se suprir as ausências de um ou outro [5].

Em Minas Gerais, logo nos primeiros anos da República, foram aprovados leis e decretos que visavam reformar o ensino público primário. O texto constitucional mineiro, diferentemente da Carta Federal, dispensava maior atenção a essa questão, estabelecendo a competência estadual para legislar e promover o desenvolvimento da instrução primária em seus domínios. Além disso, a constituição estadual estabelecia a divisão administrativa do estado em municípios e distritos e definia como objeto de livre deliberação das câmaras municipais, dentre outras coisas, a instrução primária e profissional:

Art. 75. II – A administração municipal inteiramente livre e independente em tudo quanto respeita ao seu peculiar interesse, será exercida em cada município por um conselho eleito pelo povo, com a denominação de Câmara Municipal. […]. IV – O orçamento municipal, que será anual e votado em época prefixada, a polícia local, a divisão distrital, a criação de empregos municipais, a instrução primária e profissional, a desapropriação por necessidade ou utilidade do município e alienação de seus bens, nos casos e pela forma determinada em lei, são objeto de livre deliberação das câmaras municipais, sem dependência de aprovação de qualquer outro poder, guardadas as restrições feitas nesta Constituição [6] [grifos nossos].

O estado se aproveitou dessa brecha constitucional e também de outros dispositivos legais, como os previstos na lei mineira de número 2, de 14 de setembro de 1891, que “Contém a organização municipal”, que permitia às câmaras municipais “operar livremente no campo da instrução pública, criando escolas, contratando professores, fiscalizando atividades, etc” [7], para transferir / dividir os custos da escolarização popular. Dessa forma, coube aos municípios boa parte dos encargos para se promover, organizar e administrar a educação pública em sua área de competência. Isso nos permite considerar que na esfera municipal se desenvolveu grande parte do esforço republicano de organização da instrução pública, sendo significativas as realizações educacionais ocorridas nesse âmbito.

Diante da ação insuficiente ou pouco efetiva do estado, o poder municipal, respaldado ou estimulado pela legislação, se manifestava de diferentes formas: aprovando leis específicas em sua jurisdição, criando escolas, contratando e remunerando os professores, distribuindo material didático, destinando verbas para o custeio das escolas municipais e, por vezes, também, reivindicando junto ao governo estadual ações complementares em benefício da instrução pública municipal.

A Lei nº 41, de 1892, primeira reforma republicana no campo da educação em Minas Gerais, reorganizou a instrução pública. Apesar de não tratar especificamente da autonomia municipal, continha prescrições neste sentido, reforçando a liberdade de ação do poder local. Por conta desse instrumento legal, cabe aqui uma ressalva importante: não se trata de descentralização educacional propriamente dita, ao menos em termos de legislação. Desde 1892, apenas um ano após as Constituintes Federal e Estadual finalizarem seus trabalhos, o governo mineiro já tinha uma lei própria regulando a instrução pública em seus domínios, não se podendo afirmar que os municípios gozassem, portanto, de plena autonomia em termos educacionais.

Contudo, verifica-se na prática e na investigação documental que existia uma lacuna, um vazio – uma omissão? – para com as mazelas e reclamos da instrução, que será preenchida pelos municípios. Diante da crescente demanda por educação, reprimida no passado e ampliada pelas promessas da República, o poder local passa a intervir nesses assuntos. Na prática, nas duas primeiras décadas republicanas em Minas Gerais, boa parte da ação educativa se realizava em nível local.

As limitações orçamentárias do governo estadual reforçavam a sua disposição em compartilhar, ou mesmo transferir as responsabilidades e os encargos da educação pública. A preocupação do governo mineiro era que a escolarização avançasse, mas com custos que não onerassem demasiadamente as disponibilidades do estado, buscando reforço nos mais diferentes setores: “oferecer escolas à população, independentemente de sua origem pública ou privada, estadual ou municipal, leiga ou religiosa [8] ”. A participação das municipalidades nos negócios da instrução se adequava perfeitamente a esses propósitos.

A ação do poder municipal nesse campo pode ser caracterizada como atuação pedagógica, o que nos levou a denominar esse tipo de ator como “município pedagógico [9] ”, possibilitado nos primeiros anos do período republicano pelas brechas do aparato legislativo e pela omissão e carência de recursos por parte do estado. Segundo Gonçalves Neto e Carvalho essa entidade permite-nos

compreender a realidade local para além de sua dimensão político-administrativa e pensá-la também como um espaço voltado para os aspectos educacionais, como um organismo também pedagógico, preocupado com a formação intelectual de seus munícipes e não apenas com as condições econômico-materiais que se sobressaem nas ações das administrações públicas [10].

Nestes termos, o município configurou-se como instância de decisão e ação – política, administrativa e educativa. O poder local tem suas prerrogativas ampliadas e passa a desempenhar função importante em diferentes esferas, inclusive no fomento da instrução pública. A criação / supressão, transferência e manutenção de escolas, contratação e pagamento dos professores, dentre outros assuntos referentes à instrução, passaram a ser de interesse e, muitas vezes, responsabilidade dos municípios. Com essas iniciativas, somadas ao debate que ocorre no interior de muitas câmaras municipais sobre o papel da educação na promoção do desenvolvimento dos municípios e da nação, sobre os princípios que deveriam nortear a ação pública voltada para a educação, entre outras, se “advoga um poder local com capacidade de tomar iniciativas políticas, discutir e editar leis, em complemento ou para além das atribuições concedidas pelos estados” [11]. Ou seja, a omissão ou insuficiência do estado de Minas Gerais, que não permitiam vislumbrar escolarização para a infância local, tornou possível ou estimulou a intervenção do poder municipal nos negócios da instrução, gerando um contexto particular de parceria entre estado e município.

No entanto, é importante ressaltar que as análises da ação educativa municipal não devem ser tomadas isoladamente dos contextos mais amplos que as cercam, mas de forma articulada com as situações de âmbito nacional e estadual. Em Minas Gerais, por exemplo, Gonçalves Neto e Carvalho observam:

entende-se que existia uma espécie de complementaridade de esforços entre estados e municípios. (…) … a responsabilidade pela educação passa, tacitamente, para o âmbito dos estados e estes, quando possível, como em Minas Gerais, repassam parte da incumbência aos municípios. E isso estimula ou permite a concretização do que estamos chamando de município pedagógico, pois este, não tendo a quem repassar a obrigação e lidando diretamente com as demandas dos cidadãos, acaba por assumir a educação e a organizá-la dentro dos seus limites [12].

Daí a importância de se estudar o processo de organização da instrução pública na dimensão local, bem como suas relações com as instâncias estaduais e nacional. Numa mudança de perspectiva, o município deve ser concebido enquanto objeto historiográfico, perspectiva sob a qual Carvalho&Carvalho salientam que “é possível articulá-lo com a política nacional / global sem se perder de vista o local [13] ”. A realidade educacional municipal das primeiras décadas republicanas possui características próprias, que podem se articular ou mesmo contradizer processos educativos mais amplos nos quais se inserem ou as circundam. Em outros termos, reconhecer a importância da iniciativa local no processo de organização da instrução pública significa também identificar os limites e os problemas que conformaram essa ação educativa e a instrução pública municipal.

Em linhas gerais, no alvorecer da República há um intenso debate sobre a questão da escolarização da sociedade, o qual era marcada por carências de diversas ordens e pelo estado de precariedade e desorganização característicos da realidade imperial, bem como da própria República nascente. Embora os municípios estivessem impregnados pelos mesmos anseios e limitações, as transformações importantes por que foram passando – inclusive no âmbito da urbanização – e a crença no poder regenerador / propulsor da educação levaram-nos à busca da superação do arcaico passado e à busca de um porvir auspicioso, que podiam ser vislumbrados pelas portas das escolas, que promoveriam a necessária formação das futuras gerações, a grande esperança da comunidade.

Por último, destacamos que o dossiê Educação em perspectiva local / municipal, corresponde a uma possibilidade interpretativa, construída a partir das pesquisas aqui reunidas – e de outras que vêm se consolidando nos últimos anos. Dito de outra forma, as considerações apresentadas podem ser tomadas como um convite a novas reflexões que, além de contribuírem para a compreensão da temática, acenam também como parte de um processo investigativo que não deve ser descontinuado. Direcionar o foco de análise para o nível local implica na percepção do papel desempenhado pelos municípios, na forma como o poder local participa do esforço republicano em prol da educação. Desse modo, acreditamos que as reflexões aqui apresentadas, sobre as ações dos municípios, podem oferecer subsídios para uma melhor compreensão da história da educação no Brasil nos primeiros anos da República – e também em períodos posteriores / anteriores – e sobre o processo de organização da instrução pública brasileira de uma forma geral. E também uma perspectiva ampliada e comparativa quando acoplada aos resultados de estudos europeus que fazem parte do dossiê.

Notas

3. O índice de alfabetização nacional em 1920, conforme o Recenseamento realizado naquele ano, era de 24,5%. Em alguns estados da federação esse número era ainda menor, indicando “a situação calamitosa da educação popular no Brasil (…) quando comparada com a de outros países. Os dados são fornecidos pelo próprio censo de 1920. Na população de 7 anos ou mais, o Brasil tinha 31% de alfabetizados, a Argentina tinha 62%, exatamente o dobro. O fosso cresce ainda mais se compararmos o país com a França ou os Estados Unidos. Na primeira, a alfabetização da população de 10 anos ou mais era de 89%, nos Estados unidos, de 94%”. Conferir CARVALHO, Carlos Henrique. República e imprensa, p. 141.

4. Conferir vários exemplos desse tipo de intervenção camarária na instrução mineira em GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de (Org.). O Município e a Educação no Brasil: Minas Gerais na primeira república, 2012; GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de. Ação Municipal e Educação na Primeira República no Brasil, 2015.

5. GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de. Impasses e desafios à organização da instrução pública nas Minas republicanas, p. 21.

6. MINAS GERAIS, 1891.

7. GONÇALVES NETO, Wenceslau. Capital e interior, p. 198.

8. GONÇALVES NETO, Wenceslau. O Município e a Educação em Minas Gerais, p. 39.

9. De acordo com Wenceslau Gonçalves Neto, em Repensando a história da educação brasileira na Primeira República, p. 14-15: “O município pedagógico, uma categoria em formação, está sendo entendida provisoriamente como uma entidade político-administrativa presente no Brasil, possibilitada na segunda metade do século XIX pela presença se uma legislação descentralizadora da gestão do ensino e a extensão da responsabilidade para com a instrução primária aos seus limites, levando à regulamentação local dessa obrigação. Também se inclui nesse conceito a apropriação que as elites fazem dessa responsabilização, tirando proveito para a concretização de objetivos particulares, relacionados à manutenção da ordem, disseminação de ideologia própria e delimitação de uma identidade municipal. Deve-se acrescentar que esse movimento é possibilitado pela difusão da crença no poder regenerador da educação e da necessidade de implantação de sistemas escolares para sua implementação”.

10. GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de. A ação Municipal nos assuntos da Educação na Primeira República brasileira, p. 12.

11. GONÇALVES NETO, Wenceslau. O Município e a Educação em Minas Gerais, p. 31.

12. GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de. A ação Municipal nos assuntos da Educação na Primeira República brasileira, p. 13.

13. CARVALHO, Luciana Beatriz de Oliveira Bar de & CARVALHO, Carlos Henrique de. O lugar da educação na modernidade luso-brasileira no fim do Século XIX e início do XX, p. 68.

Referências

CARVALHO, Carlos Henrique de. República e imprensa: as influências do positivismo na concepção de educação do professor Honório Guimarães (Uberabinha-MG, 1905–1922). Uberlândia: EDUFU, 2007.

CARVALHO, Luciana Beatriz de Oliveira Bar de & CARVALHO, Carlos Henrique de. O lugar da educação na modernidade luso-brasileira no fim do Século XIX e início do XX. Campinas: Alínea, 2012.

GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de, Impasses e desafios à organização da instrução pública nas Minas republicanas. In: O Município e a Educação no Brasil: Minas Gerais na primeira república. Campinas: Alínea, 2012, p. 9-22.

GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de. A ação Municipal nos assuntos da Educação na Primeira República brasileira: algumas considerações. In: Ação Municipal e Educação na Primeira República no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2015, p. 7-18.

GONÇALVES NETO, Wenceslau. O Município e a Educação em Minas Gerais: a implementação da instrução pública no início do período republicano. In: GONÇALVES NETO, Wenceslau & CARVALHO, Carlos Henrique de (Org.). O Município e a Educação no Brasil: Minas Gerais na primeira república. Campinas: Alínea, 2012, p. 39.

GONÇALVES NETO, Wenceslau. Repensando a história da educação brasileira na Primeira República: o município pedagógico como categoria de análise. In: LOMBARDI, José Claudinei (Org.). Navegando na História da Educação Brasileira. Campinas: Faculdade de Educação UNICAMP, 2006, p. 1-15. Disponível em: http: / / www.histedbr.fe.unicamp.br / navegando / artigos frames / artigo105.html (consulta em 21 / 05 / 2018).

GONÇALVES NETO, Wenceslau. Capital e interior: manifestações em prol da instrução pública em Ouro Preto e Uberabinha (MG) nos anos iniciais da República Brasileira. Educação em Revista, vol.26, n. 02, 2010, p. 189-208.

MINAS GERAIS. Governo do Estado. Constituição do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 1891.

Carlos Henrique de Carvalho – Doutor em História pela Universidade de São Paulo. Professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq e do Programa Pesquisador Mineiro da FAPEMIG. E-mail: [email protected]

Wenceslau Gonçalves Neto – Doutor em História pela Universidade de São Paulo. Professor dos Programas de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba e da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq e do Programa Pesquisador Mineiro da FAPEMIG. E-mail: [email protected]


CARVALHO, Carlos Henrique de; GONÇALVES NETO, Wenceslau. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 18, n.1, jan. / abr., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Educação e Espaço Público em experiências históricas latino-americanas (Séculos XIX-XX) / Cadernos de História da Educação / 2018

Propomos como temática geral deste Dossiê a recorrência das relações que passam a ser estabelecidas entre educação e espaço público em ações, inclusive discursiva, produzidas por sujeitos e instituições situados em diversificados lugares de enunciação na América Latina dos séculos XIX e XX. Os textos que incidem sobre a realidade brasileira aqui presentes resultam, em sua maioria, da contribuição do Programa de Pesquisa “Moderno, Modernidade e Modernização: a educação nos projetos de Brasil (séc. XIX-XX) ”, desenvolvido entre 2010 e 2016 integrando pesquisadores de diferentes universidades e regiões do Brasil e que, atualmente, conta com o apoio do CNPq sob o título de “A Educação nos Projetos de Brasil: espaço público, modernização e pensamento histórico e social brasileiro nos séculos XIX e XX”, sob a coordenação do Prof. Dr. Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG) e da Profa. Dra. Rosana Areal (UFOP).

Para enriquecer esse Dossiê Temático, foram convidados pesquisadores estrangeiros que pudessem ampliar o debate que vínhamos realizando em escala nacional. Assim, a partir de uma preocupação central com a circulação de referenciais de educação e espaço público, mas também de modernidade, civilização, progresso e nação, cada pesquisador participante procurou se debruçar sobre um ponto específico em que tais noções se entrelaçam, de modo a analisar os posicionamentos efetivos dos sujeitos individuais ou coletivos em seus contextos determinados.

É sabido que a educação, tanto em seu caráter escolar quanto não-escolar, guarda profunda relação com o espaço público. Sabemos também que em diferentes momentos, e sobretudo no século XIX, a imprensa tomou para si uma função educativa e constitui-se mesmo no registro da constituição de uma pedagogia do (e no) espaço público. E isso o demonstra muito bem o texto de autoria do Prof. Dr. Matheus da Cruz e Zica e da Mestra Patrícia Barros de Oliveira, intitulado “Modelos de Espaço Público em contraste: Imprensa e Modernidade Seletiva nas Províncias da Paraíba e Pernambuco (1870-1880)”, incidindo suas análises sobre a imprensa e o lugar de formadora da opinião pública que tomou para si naquele contexto.

Numa vertente de um debate mais aprofundado sobre a educação escolar que também é um objetivo importante desse dossiê podemos considerar a expressão “Ensino Público”, por sua vez, como a ocasião discursiva específica em que essa relação educação-espaço público fica mais evidente. A expressão “Ensino Público” pode, por outro lado, também nos levar a incorrermos em um engano bastante comum: a saber sobrepor-se automaticamente a ideia de público ao âmbito do que é estatal.

Estamos entendendo aqui a noção de espaço público como um processo dinâmico e abrangente o suficiente para alcançar outras instâncias que estão para além do estado, como é o caso da pluralidade de vozes da imprensa, por exemplo, ou o conjunto muitas vezes dissonante das organizações sindicais não controladas pelo estado.

Tendo colocado a questão desse modo, afirmamos que os trabalhos que integram essa coletânea nos permitem perceber que a educação ofertada gratuitamente pelo estado tem sido encarada com frequência como uma medida importante para o fortalecimento da dimensão do público e da sensação de pertencimento a uma comunidade. Já no Brasil do período regencial, década de 1830, os debates em torno dessa questão eram notáveis e chegam mesmo a ser inspiradores para pensarmos nossa situação no presente, conforme no aponta a escrita das Dras. Marcilaine Soares Inácio Gomes e Ilka Miglio de Mesquita, e do Dr. Luciano Mendes de Faria Filho: “A educação no espaço público: a pedagogia cívica dos jornais mineiros no período regencial”. Em todo esse processo a imprensa assumia papel importante.

Muito acertadamente também apontam para o fato de que o estado pode por vezes estar em descompasso com o movimento vivo que é característico do espaço público, como se dá com o caso apresentado pelo pesquisador chileno, Dr. Felipe Zurita, em seu artigo “Educación y Espacio Público en la experiencia histórica reciente de Chile: El caso de la transformación neoliberal y autoritaria del sistema educacional durante la Dictadura Militar (1973-1990)”, em que o governo trabalha contra o viés público no campo educacional.

O desafio que daí se impõe pode ser assim sintetizado: Como fazer do estado o garantidor da permanência ou mesmo promotor dos movimentos que marcam as dinâmicas do espaço público? Para essa pergunta o artigo proposto pelo colega do México, Dr. Renè Medina, sob o título “Los forjadores de hombres: Disputas por el control de las escuelas y el espacio público en comunidades mineras mexicanas, 1917-1978”, nos traz esclarecimentos importantes sobre a possibilidade de intervenção estatal a serviço de interesses públicos contra setores representativos do meio privado.

Do mesmo modo, trabalho proposto nesse dossiê pela Dra. Vera Lúcia Nogueira e pelo Dr. Dalvit Greiner de Paula, sob o título “A presidência de província e a instrução pública como fatores de ampliação do espaço público no Império brasileiro”, nos traz um enfoque interessante sobre as possiblidades de estabelecimento de uma relação positiva das relações estado, espaço público e educação, quando procuram argumentar que a centralização política teria contribuído para o fortalecimento da instrução pública.

De maneira geral podemos ressaltar que os resultados dessas pesquisas que ora apresentamos nos permitem afirmar que uma educação específica pode ampliar ou amesquinhar a construção de sensibilidades e práticas que demandem e reivindiquem a importância do espaço público. Por outro lado, também se pode considerar que um espaço público robusto e saudável tem papel fundamental na promoção e demanda contínua de um projeto educativo que não recaia na mesquinhez e estreiteza de interesses privados e exclusivistas.

A questão é saber se o estado está suscetível a servir mais aos interesses comuns ou aos privados. Daí parece provir a maior complicação para a relação entre educação e espaço público: se o estado está a funcionar no registro do privado, e se a educação que ele oferece tem a qualificação de “pública”, uma perversidade não apenas semântica, mas também política, aí passa a vigorar. Esse tipo de perversidade é notório, no Brasil, em várias áreas que afetam o lugar pretendido para o estado no desenvolvimento, ou não, de políticas públicas.

Ficou antiquado falar-se em escamoteamento da realidade, mas receamos que nesse caso não se dá outra coisa senão exatamente o que esse conceito designa. No entanto, o que se pode a isso acrescentar é que esse escamoteamento nunca é completo em seu sucesso. Está sempre ameaçado pelas brechas que ele mesmo produz. É assim que a dimensão do público resiste, ainda em momentos de solapamento das garantias da pluralidade de vozes.

Contentarmo-nos com esse resto que insiste, parece ser, no entanto, uma posição problemática. A insatisfação com essa situação de resto da economia a que o espaço público e a educação a ele vinculada têm sido relegados continua sendo uma posição de importância cabal. Assim nos ensina a pluralidade de discursos que consegue escapar da teia de ferro construída pela mídia de massa no Brasil atual. Esses são temas fundamentais para o desenvolvimento de nossas pesquisas, que ora pretendemos trazer a público e com isso contribuir para o fortalecimento da esfera pública e da educação que a ela está atrelada.

Matheus da Cruz e Zica – Doutor em Educação, com estágio de pós-doutorado concluído na Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, realiza estágio de pós-doutorado na Universidade de Coimbra. Professor do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]


CRUZ E ZICA, Matheus da. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 17, n.3, set. / dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Educação de Mulheres no Brasil e em Portugal (séculos XIX e XX) / Cadernos de História da Educação / 2018

A educação escolar primária, secundária e universitária, bem como o trabalho escolar de mulheres preceptoras (século XIX) e de mulheres professoras primárias (século XX), foi objeto de estudo de pesquisadoras do Brasil e de Portugal, integrantes do Projeto de Pesquisa Educação de Mulheres no Brasil e em Portugal (séculos XIX e XX), que é parte do Grupo de Políticas e Organizações Educativas e Dinâmicas Educacionais da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, da Universidade de Coimbra, e que tem o apoio institucional do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), da Universidade de Coimbra (Portugal).

Com o título Educação de Mulheres no Brasil e em Portugal (séculos XIX e XX), presente Dossiê é composto de cinco artigos de professoras pesquisadoras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, da Universidade Tiradentes de Sergipe, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da Universidade de Coimbra, da Universidade Estadual do Ceará e da Universidade Pontifícia Católica do Paraná. Em seu conjunto, todos esses trabalhos visaram reconstituir a história da educação de mulheres e de mulheres educadoras, nascidas nos séculos XIX e XX, que estudaram e / ou trabalharam em lugares e tempos distintos, com níveis de estudos diferenciados, além de pertencerem a classes sociais desiguais, marcadas por suas divisões e suas diferenças.

Para reconstituir a história da educação dessas mulheres, que se sucedem e que se renovam a cada geração, pesquisamos em diários, cartas, anúncios e matérias de jornais, revistas de educação e de instrução destinadas às famílias, entrevistas orais, relatos educacionais e legislação educacional. Enfim, fontes documentais que induzem a questionamentos vários sobre a educação de mulheres e / ou sobre o trabalho educacional de mulheres educadoras, além de possibilitar a desmitificação de certos dogmas e estereótipos consagrados pelo senso comum ou mesmo pelas generalizações que “ganharam” notoriedade.

No artigo “Preceptoras estrangeiras para educar meninas nas casas brasileiras do século XIX”, Maria Celi Chaves Vasconcelos começa por registrar a chegada de mulheres europeias no Brasil, com a finalidade de trabalhar como preceptoras nas casas das elites oitocentistas, para então discutir as práticas de educação que desenvolviam para ensinar, particularmente, meninas. A educação das meninas, a cargo dessas preceptoras, era considerada uma distinção social, inclusive considerando-se o fato de que se baseava em modelos escolares análogos aos europeus.

No texto “A educação em nível primário da professora Isabel Doraci Cardoso (1940- 1944): uma história da educação vista de baixo”, Raylane Andreza Dias Navarro Barreto analisa o processo de formação escolar da professora sergipana Isabel Doraci Cardoso, que fez o seu curso primário, entre o final dos anos de 1930 e meados de 1940, numa Escola de modalidade Isolada. Bem marcante, nesse texto, é o modo como se vai delineando o estabelecimento das fronteiras entre as condições materiais e as educacionais experienciadas, pelo sujeito dessa vivência, uma revelação que se sobressai de sua narrativa.

No trabalho “Educação em nível secundário de moças de Natal e de Coimbra (1941- 1948)”, Marta Maria de Araújo e Cristina Maria Coimbra Vieira refletem sobre as dimensões formativas e autoformativas da educação secundária de Petronila da Silva Neri, no Ateneu Norte Riograndense (Natal-Brasil), e de Maria Isabel Dinis Pedroso de Lima Gonçalves Neves, no Liceu Nacional Infanta D. Maria (Coimbra-Portugal), no período de 1941 a 1948. A análise histórica a que procederam as autoras revela que a formação escolar completa e uniforme, e igualmente a autoformação das estudantes Petronila da Silva Neri (Natal-Brasil) e Maria Isabel Neves (Coimbra-Portugal) foram análogas às interações intergeracionais e às interações intrageracionais, o que confirma estarem em articulação com os propósitos formativos universalizáveis.

No texto “Educação formativa de uma líder política cearense: Maria Luiza Fontenele (1950-1965)”, Lia Machado Fiuza Fialho e Vitória Chérida Costa Freire discorreram sobre o processo formativo na educação familiar, primária, secundária e universitária, bem como sobre a inserção política de Maria Luiza Fontenele, professora, educadora, política – a primeira mulher prefeita de uma capital brasileira – a cidade de Fortaleza-Ceará. Em sua pesquisa, as autoras constatam que a educação secundária, no Liceu do Ceará, ocorreu em concomitância com a formação política de Maria Luiza, iniciada no Grêmio Estudantil e na Juventude Estudantil Católica. Sua educação superior, na Universidade Federal do Ceará, no curso de Serviço Social, como atestam as autoras, favoreceu o engajamento no Movimento Estudantil e a atuação sociopolítica.

No artigo “Aspectos de trajetórias de professoras rurais no Paraná (1957-1979)”, Rosa Lydia Teixeira Corrêa analisa aspectos da trajetória de professoras que atuaram em escolas primárias com turmas multisseriadas na zona rural, no município de Bocaiúva do Sul, no Estado do Paraná, entre os anos de 1957 e 1979. Essas professoras com incipiente formação inicial e a gradativa formação profissional em curso normal regional, exerciam múltiplas funções, sendo inclusive, elas próprias, que, em certas situações, assumiram os encargos financeiros decorrentes da aquisição de material escolar para seus alunos.

Essa reconstituição favoreceu a construção de um conhecimento histórico sobre a educação de mulheres e sobre o trabalho escolar de mulheres educadoras no Brasil e em Portugal (Séculos XIX e XX), que possibilita, necessariamente, a compreensão das singularidades, das diversidades, das semelhanças, das diferenças intranacionais e internacionais, além do que é particular e universal na educação das mulheres educadoras que escolhemos para pesquisar, e até de outras mulheres com suas variabilidades de condições educacionais sociais e materiais.

Marta Maria de Araújo – Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Professora Titular do Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil). Líder do Grupo de Pesquisa “Estudos Históricos Educacionais” (UFRN / CNPq) e pesquisadora do “Grupo Interdisciplinar de Pesquisa, Formação (Auto) Biografia e Representações (GRIFAR / UFRN)”. E-mail: [email protected]

Cristina Maria Coimbra Vieira – Doutora em Ciências da Educação (Psicologia da Educação) pela Universidade de Coimbra. Professora Associada na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (Portugal). Investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20). Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE) e Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres (APEM). E-mail: [email protected]


ARAÚJO, Marta Maria de; VIEIRA, Cristina Maria Coimbra. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 17, n.2, maio / ago., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Manuais escolares, mediações tecnológico-pedagógicas da Escola Moderna / Cadernos de História da Educação / 2018

São várias as locuções para designar os livros destinados ao uso escolar: manuais pedagógicos, livros didáticos, livros escolares, manuais didáticos etc. Todas elas versam sobre questões relativas ao ensino, mas também à aprendizagem, seja para formar professores ou alunos, por causa da cadência que tais livros imprimem à organização do trabalho didático. O que os caracterizam são a forma didática aliada aos conteúdos cognitivos, mas ambos se engendram para a constituição do livro escolar.

Esse dossiê reúne seis artigos, sendo cinco sobre livros escolares de teor diverso: três deles se referem a manuais de Pedagogia, destinados à formação de professores, dois se envolvem com manuais didáticos, destinados ao aluno, e referidos aos fundamentos de educação e à aprendizagem da escrita e da redação; e o último trata, com especificidade, de conteúdos relativos às “regras comuns para os professores das classes mais baixas” explicitadas no Ratio Studiorum.

Contemplam tais análises datações diversas: 1599, 1825, 1851, 1874, 1895, 1965 e os anos de 1980-1990. Por isso, seriam tais livros escolares expressões da ‘longa duração’ de F. Braudel (1902-1985), uma locução cunhada em 1949; porém, não se trata de afirmar que tais livros escolares sejam apenas expressões de um tempo longo, mas sim de considerálos como partícipes centrais da escola moderna enquanto mediações em diferentes tempos e espaços diversos.

Poderiam ser considerados como singularidades, mas também como mediações, representadas por esse dossiê, uma vez que estão presentes nos inúmeros colégios jesuítas pelo mundo afora, na Itália, na França, no Brasil e na Colômbia. São eles mediações representantes de uma história cruzada e mesmo interconectada em vista de sua disseminação e de sua circulação, o que permitiria a investigação comparada.

Nos objetos envolvidos pelos artigos desse dossiê, a escola se encontra protagonizada, seja pela orientação ao professor, seja pela destinação ao aluno. Ou seja, tal centralidade privilegia o que a escola deve fazer, seja pelo protagonismo de que goza o professor, seja pelas demarcações didáticas destinadas ao aluno.

Talvez o que esteja em foco seja mesmo o ensino, pois tais textos-objeto do dossiê contemplam conteúdos específicos inspirados em organização didática adequada, em linguagem acessível e em facilitação do entendimento. Quando tais livros escolares são denominados por manuais, sua origem se refere a manus, que em latim significa mão, o que designa que seja algo manuseável, que seja levado à mão do leitor aquilo que é essencial em termos de conhecimento.

Por isso, ao manual é inerente ser didático, isto é, apropriado ao ensino. Além disso, os conteúdos, por consequência, estão associados a uma dada disciplina, cuja raiz deriva do verbo latino, discěre, cujo significado é aprender, instruir, estudar. Em suma, o molde didático tem em vista a formação do professor, como é o caso dos manuais pedagógicos, mas não deixam os livros escolares de se constituírem como mediação tecnológico-pedagógica.

Como se observa, os livros escolares são inerentes à cultura ocidental, por exemplo, desde o Didascalicon, da Arte de Ler de Hugo de São Vitor (1096-1141), um manual destinado à orientação da leitura. Com certeza, estão presentes em tais livros escolares concepções de pedagogia e de educação, traduzidas em orientações antropológico-filosóficas, éticas, psicológicas, religiosas, políticas e metodológicas em relação ao ensino. Certamente, sob tais orientações estão as concepções de professor, de aluno, de ensino, de aprendizagem, didática etc.

O artigo de Mirella Dascenzo se conduz em torno do método indiciário e arqueológico, ao modo de Sherlock Holmes, através de um manual de Pedagogia destinado à formação de professores. Seu foco é a busca de indícios de tradições metodológicas e didáticas subjacentes, que possam revelar a circulação do saber pedagógico e didático destinado à referida formação dos docentes. O manual de Pedagogia em foco tem por título, Istruzioni di Mauricio Serra ao maestro della scuola normale del villaggio di Bunnanaro in Sardegna. Sua publicação é de 1825, antes portanto da unidade italiana, e está circunscrito ao período de medidas assumidas, a favor da instrução do povo, pelo Reino do Piemonte e da Sardenha antes da referida unidade. Em particular, tratava-se de induzir os párocos a coadjuvar o Estado em torno da empresa educativa. Em termos de resultados, argumenta a autora que as tradições metodológicodidáticas sedimentadas constituem o ‘ritmo lento da História’, a ‘longa duração’ de F. Braudel; além disso, o manual de Maurício Serra permite entrever experiência e sensibilidade didática amadurecida, além de revelar a possibilidade de complexa reconstrução da história comparada das culturas escolásticas e da educação.

O artigo de Karl Lorenz tem por objeto o Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Método e Sistema de Estudos da Companhia de Jesus) aprovado em 1599. Tal documento, conforme o autor, tem por arquitetura as políticas, os procedimentos administrativos, os currículos e as práticas de ensino nas instituições educacionais jesuíticas na Europa e no exterior. Seu foco específico é o programa das letras humanas, cuja análise converge para o comportamento profissional do professor jesuíta responsável por sua implementação. Este trabalho identifica as ações que um jesuíta brasileiro teria demonstrado quando ensinando as humanidades em um colégio brasileiro nos séculos XVI e XVII. Suas ações e atividades pedagógicas são inferidas das Regras comuns para os professores das classes mais baixas explicitadas no Ratio Studiorum.

Ariclê Vechia tem por objeto o manual intitulado, Fundamentos da Educação, de Amaral Fontoura. Nas primeiras décadas do século XX, os educadores brasileiros se apropriaram de um conjunto de ideias de renovação educacional que convencionamos chamar de Escola Nova. As ideias “escolanovistas”, permeadas por diferentes vertentes de pensamento, nortearam as reformas educacionais e as práticas educativas até os anos 1960. Nesse programa de reformas educacionais, a publicação de livros foi uma das principais estratégias para divulgar valores e conhecimentos destinados a conformar a prática docente. A partir de meados dos anos 1940 houve uma renovação das preocupações com os aspectos teórico e metodológico da formação de professores, sendo que os manuais pedagógicos assumiram a função de guia para o professor. Alguns de seus autores eram “escolanovistas”, de vertente católica, como Amaral Fontoura, autor do manual, Fundamentos da Educação, a primeira obra da Coleção Biblioteca Didática Brasileira assinada por ele, e que teve grande aceitação nas escolas normais do país.

Sara Evelin Urrea Quintero e Elizabeth de Sá focalizam um manual de orientação ao professor rural colombiano, e visam explicitar a formação de professores expressa em Hacia una Escuela Nueva. Unidades de capacitación docente, por intermédio das representações de ruralidade e de professor rural nele presentes. Seu marco temporal está circunscrito aos anos de 1980-1990. Na verdade, Escuela Nueva é um programa educacional pensado especificamente para a zona rural colombiana, nascido nos anos de 1970 e vigente até os dias atuais. O presente artigo tem como objetivo analisar o manual para a formação dos professores, Hacia una Escuela Nueva. Unidades de capacitación docente, visando compreender as representações de ruralidade e de professor rural inscritos nele. Pela análise, foi possível perceber que o modelo pode se vincular ao ruralismo pedagógico, não só por utilizar como pano de fundo a vida camponesa, mas pelo seu caráter nomeadamente prático. Ditas pedagogias revelam representações sobre o rural que o compreendem como um cenário pacífico, harmonioso, livre de conflito e com uma forte presença do Estado.

Geraldo Inácio Filho tem por objeto o livro, Princípios de Composição: descripções, narrações, cartas, etc, de Guilherme do Prado, cuja edição é de 1895. Tal manual didático caracteriza-se por prescrições para o ensino da redação / composição na escola, e procura ressaltar como o autor assimilou conhecimentos que contribuíram para fazer da composição / redação um saber escolarizado. Em termos de resultados, o autor configura tal manual como expressão da Escola Nova. Em termos de contextualização, situa-se que a escola brasileira, no fim do século XIX, tinha como ponto forte o ensinar a ler, escrever e contar. E o manual em pauta refere-se justamente à arte de bem escrever. Por isso é atípico, posto que grande parcela dos até então estudados tratam da leitura e não da redação. Assim sendo, esse manual de composição permite perceber o interesse do autor em não se afastar do que se fazia e se pensava no mundo, ao mesmo tempo que levava em consideração nossa realidade nacional.

José Carlos Souza Araujo tem por foco dois manuais de Pedagogia: Cours Pratique de Pédagogie, de Jean-Baptiste Daligault, publicado na França em 1851 – e traduzido e publicado no Brasil, através de duas edições, uma em 1865 e a outra em 1874 – e o Compêndio de Pedagogia de Braulio Jayme Muniz Cordeiro, cuja publicação se deu no Brasil em 1874. O objeto dessa investigação é de caráter comparativo dos referidos manuais destinados à formação docente. O autor privilegia, nesse artigo, as concepções de Educação, ângulo teórico da Pedagogia, Ciência da Educação, a qual também compreendia a dimensão prática, envolta em questões relativas ao que se denominava então por Metodologia. Em termos de resultados, tais manuais foram enfocados como expressões singulares da Pedagogia da Essência, através da vertente humanista cristã, além de se encontrarem assentados em relações culturais, políticas, religiosas, educacionais e escolares. De um lado, tais manuais são singulares em relação à totalidade social, constituindo-se como compartilhantes do processo de formação e qualificação docente no Brasil, àquela altura ainda através das escolas de primeiras letras; de outro, em termos de totalidade social, estão radicados em concepções fundadas na Antropologia, na Ética, na Metafísica de caráter teológico, na Política, no Civismo, na Teologia, na Pedagogia, porém demarcadas pela visão de mundo cristã.

José Carlos Souza Araujo – Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]

Geraldo Inácio Filho – Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, com estágio de pós-doutorado concluído na Universidade de Lisboa. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]


ARAUJO, José Carlos Souza; INÁCIO FILHO, Geraldo. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 17, n.1, jan. / abr., 2018. Acessar publicação original [DR]

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História da Educação Matemática e Formação de Professores que Ensinam Matemática / Cadernos de História da Educação / 2017

A produção de pesquisa em História da Educação Matemática tem crescido significativamente nos últimos anos. Pesquisadores têm focado temas distintos, seguindo fundamentações diversificadas em abordagens profícuas e criativas. Os trabalhos de investigação nessa área têm sido realizados em várias instituições espalhadas pelo país. Edições temáticas sobre História da Educação Matemática têm sido publicadas por conceituados periódicos nacionais e internacionais e, além dos inúmeros grupos de pesquisa brasileiros já consolidados, há muitos grupos que, embora criados mais recentemente, já apresentam produção consistente.

Um primeiro evento internacional voltado à discussão das pesquisas atuais no campo, o I Congresso Ibero-americano de História da Educação Matemática (CIHEM), foi realizado na Universidade da Beira Interior, em Covilhã, Portugal, no mês de Maio de 2011 (http: / / www.apm.pt / encontro / cihem.php), com presença marcante de brasileiros. Ainda durante esse I CIHEM, pesquisadores lá reunidos, considerando a grande expansão e vitalidade da produção brasileira, decidiram organizar um evento nacional. Esse evento foi batizado de I Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática – I ENAPHEM –, realizado em novembro de 2012, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB, em Vitória da Conquista (http: / / enaphem.galoa.com.br). A ele seguiu-se, em novembro de 2013, o II CIHEM, ocorrido em Cancún, no México. Em termos nacionais, veio o II ENAPHEM, realizado na UNESP, em Bauru, estado de São Paulo, em 2014. Em 2015, realizou-se o III CIHEM, em Belém, no Pará; em 2016, o III ENAPHEM teve lugar em São Mateus, Espírito Santo, na UFES. Entre os dias 14 e 17 de novembro de 2017 realizou-se o IV CIHEM na cidade de Múrcia, Espanha. E já está agendado para 2018, em Campo Grande, MS, a realização do próximo ENAPHEM. Todos esses eventos científicos resultaram num número imenso de textos e reflexões sobre história da educação matemática. Parcela significativa desses estudos voltaram-se para o debate do papel da história da educação matemática na formação de professores. Esse, aliás, foi o tema principal do último ENAPHEM. Tal debate fez emergir a defesa de constituição de uma rubrica curricular para a formação de professores intitulada “História da Educação Matemática”. Várias têm sido as experiências realizadas na introdução dessa rubrica para a formação de professores. Este Dossiê, leva em consideração textos que sistematizam essas experiências em diferentes instituições. Há também, estudo internacional (Portugal) que se orienta na mesma direção dos demais brasileiros, em termos de análise da trajetória profissional dos professores que ensinam matemática, numa abordagem a ser tratada pela história da educação matemática.

Acreditamos que o Dossiê terá papel fundamental para impulsionar e subsidiar debates futuros, bem como dar referências para diversas outras iniciativas aqui não tratadas.

Wagner Rodrigues Valente – Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Professor Livre Docente do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo – Campus Guarulhos, SP. Coordenador do GHEMAT – Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática. E-mail: [email protected]


VALENTE, Wagner Rodrigues. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 16, n.3, set. / dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação / Cadernos de História da Educação / 2017

Sob a designação geral “Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação”, este dossiê tem o propósito de compreender processos de produção e de ensino do conhecimento histórico-educacional mediante o exame de casos específicos, do recurso a fontes e métodos diversos, bem como da experiência do ensino.

Os seis artigos reunidos retomam e analisam, entre outros aspectos, em especial, a utilização da legislação e dos manuais de ensino situando a discussão a partir de estudos desenvolvidos acerca de situações determinadas como a educação no Maranhão na Primeira República e a elaboração de manuais escolares e os sentidos por eles assumidos no campo educacional, em São Paulo, no período entre as décadas de 1940 e 1950. Características dos processos de autoria e legitimação dos manuais são objeto de atenção.

Também se confere lugar de destaque para as potencialidades da legislação (e de diversas outras fontes) no confronto entre as proposições oficiais e a concretização de práticas na vida escolar, a partir da análise da situação do ensino de História da Educação em Minas Gerais constatando o baixo nível de correspondência entre prescrições e realizações no ensino.

Questões ligadas à produção do conhecimento histórico educacional e suas configurações em países (como Portugal, França e Espanha), cujas relações com o Brasil têm sido marcantes, são o ponto de partida para a discussão sobre o trânsito de modos de interpretação, escolhas teóricas e recurso a fontes que predominaram entre nós desde a década de 1970.

Os textos em seu conjunto evidenciam a preocupação com as possibilidades de concorrer para a história do ensino, da produção de conhecimentos, das escolas e da profissão docente. As potencialidades e limites dos diferentes materiais são problematizados em cada um dos trabalhos bem como o são as questões relativas às experiências de identificação, sistematização, disponibilização e ensino.

Desse modo, é possível afirmar que os artigos reunidos nesse dossiê se caracterizam de forma convergente ao se ancorar, cada um deles, em uma investigação específica de objeto e periodização autônomos e realizar, simultaneamente, incursões metodológicas que explicitam e debatem o potencial de fontes e métodos exemplificando marcas teóricas e enquadramentos diversos que mostram modalidades de construção de interpretações em História da Educação.

O artigo que abre o dossiê, intitula-se “A escrita da História da Educação: distâncias e proximidades na apropriação de fontes e métodos no caso das produções de Portugal, França, Espanha e Brasil”. Ele foi redigido por Denice Barbara Catani, da Universidade de São Paulo, como uma retomada de alguns resultados obtidos em investigação realizada sobre a produção de conhecimentos na área dos estudos educacionais e, em especial, sobre a produção dos estudos da História da Educação no Brasil. Para tanto, a autora recorreu à pesquisa dos processos que permitiram a construção e renovação de matrizes interpretativas a partir do exame da produção da área em países que sabidamente estabeleceram, nas últimas décadas, importantes relações acadêmicas com o nosso país, isto é França, Espanha e Portugal. Indicam-se, assim, as relações entre as transformações da escrita histórico educacional no Brasil e nos países citados atentando especialmente para as apropriações decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos conhecimentos em perspectiva comparada.

Em seguida, Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, da Universidade Federal de Sergipe, no texto intitulado “Fontes para a difusão da didática moderna no ensino da Língua Portuguesa: os manuais do Ensino Ginasial e a autoria docente nas décadas de 1940 e 1950”, relatou resultados de investigação que mobilizou como fontes prioritárias os manuais de língua portuguesa para as séries ginasiais, editados nas décadas de 1940 e 1950, de autoria de professores paulistas, que pregava o aprendizado da gramática a partir de textos literários. A coleção “Páginas Floridas”, de Francisco Silveira Bueno, editada pela Livraria Acadêmica, Saraiva e Cia e a “Coleção Didática do Brasil – Série Ginasial- Português”, assinada por Aída Costa foram selecionadas como exemplares representativos de compreensão da circulação de novos padrões didáticos por professores-autores que ocuparam posições relevantes no campo educacional paulista e mobilizaram diferentes estratégias. A pretensão do estudo foi contribuir com a História da Profissão Docente, e com a História das Disciplinas Escolares ao desvendar a trajetória dos referidos autores, que difundiram o ensino de português e literatura, a partir de coleções, que tiveram circulação nacional.

Cesar Augusto Castro, da Universidade Federal do Maranhão, redigiu o artigo intitulado “A legislação como fonte para a História da Instrução Primária maranhense”, no qual defendeu que a legislação educacional é uma importante ferramenta de investigação do campo da História da Educação por possibilitar uma ampla e fértil compreensão do movimento educativo em determinado tempo e lugar. O autor buscou entender o uso dessa fonte como recurso para a pesquisa sobre a instrução primária maranhense nas últimas décadas do período imperial e no início do período republicano, por meio da discussão dos processos econômicos, políticos, sociais que contribuíram para a criação e expansão das instituições escolares e as várias reformas educativas que objetivaram o desenvolvimento do Maranhão por meio da instrução.

Em seguida, Joaquim Pintassilgo e Carlos Beato, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, redigiram o artigo que intitularam “Balanço da produção recente no campo da História das Disciplinas Escolares: o exemplo das teses de doutoramento (Portugal, 2005-2015)”, no qual realizaram um balanço da produção portuguesa recente em História da Educação, tomando como exemplo as teses de doutoramento passíveis de inserção no campo específico da História das Disciplinas Escolares, para o que, selecionaram o período delimitado pelos anos de 2005 e 2015. Afirmam que a História das Disciplinas Escolares é um campo consolidado no interior da investigação histórico-educativa que possui uma fundamentação teórica sólida, um conjunto diversificado de fontes e uma certa tradição de pesquisa, no que se refere aos procedimentos metodológicos e aos fundamentos teóricos e conceituais. Em um campo que atingiu uma certa estabilidade, e que podia correr algum risco de estagnação, os autores procuraram identificar os desafios que lhe estão a ser lançados, as abordagens que procuram renovar e as tendências que se abrem à investigação futura, assumindo a especificidade, mas, também, a exemplaridade de que se reveste este campo particular no conjunto da pesquisa em História da Educação.

Em “O Ensino de História da Educação no Brasil: fontes e métodos de pesquisa”, Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia, apresenta os avanços na pesquisa sobre o ensino de História da Educação em Minas Gerais, particularmente, com a apresentação de aspectos de uma trajetória coletiva e pessoal de busca de entendimento do “pré-curso” e dos percursos da disciplina História da Educação no Brasil, particularmente, em Minas Gerais, mas, também, como poderá ser percebido no texto do artigo, em São Paulo. No texto abordam-se os aspectos biográficos da entrada do pesquisador nesta temática da História Disciplinar da História da Educação. Depois, apresenta-se uma breve reflexão teórico-metodológica e, por fim, há uma exposição sucinta dos resultados alcançados em investigações sob os cuidados do autor, diretamente, a partir dos projetos de pesquisa que têm desenvolvido e, indiretamente, especialmente nas orientações de iniciação científica, de mestrado e de doutorado que foram levadas a cabo nos últimos anos.

O dossiê termina com o texto intitulado “O exercicio docente universitario na materia ‘Historia da educación’ ”, escrito por Antón Costa Rico, da Universidade de Santiago de Compostela, com abordagem direta da questão do ensino da disciplina História da Educação. Parte de uma pergunta central: — Com qual História da Educação formar o nosso aluno universitário na atualidade? Para o autor, a resposta envolve a formação de um habitus histórico-educativo e os cenários específicos de formação pedagógica.

Denice Barbara Catani – Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp). Professora Titular Aposentada da Feusp. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1B). E-mail: [email protected]

Décio Gatti Júnior – Doutor em Educação: História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Professor Titular de História da Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1C). Beneficiário do Programa Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: [email protected]


CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 16, n.1, jan. / abr., 2017. Acessar publicação original [DR]

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História oral: narrativas de memória, acervos e a pesquisa em História da Educação / Cadernos de História da Educação / 2016

“Será preciso, contudo, não esquecer que tudo tem início não nos

arquivos, mas com o testemunho, e que, apesar da carência

principal de confiabilidade do testemunho, não temos nada melhor

que o testemunho, em última análise, para assegurar-nos de que algo aconteceu.” (RICOEUR, 2007, p. 156).

A afirmativa de Ricoeur propõe a reflexão acerca do valor da memória oral no processo de produção da narrativa historiográfica. No meio acadêmico, percebemos o quanto pode ser potente pesquisar a História da Educação, tendo como aporte metodológico a História Oral. Tal evidência nos mobilizou a organizar esse dossiê que reúne uma comunidade de pesquisadoras que se preocupam em pensar a educação, tendo como principal referente a memória oral como documento.

Entendemos que essa metodologia se constitui em um importante recurso para compreensão de tempos pretéritos. Por meio dela, podem ser investigadas múltiplas questões, sobretudo relacionadas à apropriação e difusão de modelos pedagógicos, práticas educativas e aspectos que tratem, de modo geral, dos itinerários dos agentes da educação.

Qual a importância da História Oral na contemporaneidade? O que significa trabalhar nessa perspectiva? Em um passado recente, preponderava um entendimento de que através dessa metodologia seria possível recuperar o passado por meio da voz dos oprimidos, daqueles relegados ao silêncio, devolvendo a eles o lugar que lhes havia sido negado nas tramas da História. Nas últimas décadas, diante das discussões propostas pela História Cultural, com relação à ampliação da noção de documento, ressignificou- se o papel da História Oral na pesquisa historiográfica. As concepções iniciais, importantes naquele contexto, foram problematizadas, em especial, o poder irrefutável conferido ao testemunho em primeira pessoa. Beatriz Sarlo questiona essa infalibilidade, mas defende a legitimidade da História Oral, afinada às perspectivas da História Social e Cultural. Neste sentido, desloca-se o foco das pesquisas “para as margens das sociedades modernas, modificando a noção de sujeito e a hierarquia dos fatos, destacando os pormenores cotidianos, articulados numa poética do detalhe e do concreto” (Sarlo, 2007). Portanto, o que constituiu a História Oral no passado não precisa ser descartado em sua totalidade, ou seja, há que se dizer que o trabalho com essa metodologia, por estar atrelado às subjetividades de cada sujeito entrevistado, traz consigo o princípio de democratização dos agentes da História.

No segundo quartel do século XX, os debates sobre narrativas de memória e sua relação com a História da Educação adquiriram certa visibilidade e, paulatinamente, ofereceram perspectivas de inteligibilidade para o passado das instituições escolares, das práticas educativas, do cotidiano da sala de aula, das memórias de professores e alunos, entre outros temas. A História da Educação, como zona de fronteira que se aproxima das teorias da História, busca construir sua identidade disciplinar, reforçar suas ligações com outras ciências, abrir-se às novas realidades e diversificar as abordagens. Atualmente, a pesquisa neste campo de conhecimento inova em relação à sua compreensão do passado recente e, nesse contexto, são valorizadas as memórias orais da educação / escolarização.

Em uma tentativa de articular a História da Educação e os pressupostos que norteiam a História Oral, apresentamos a ideia de um dossiê que tematize as questões mencionadas. A proposta é publicar estudos que examinem a complexidade da memória produzida pela oralidade, em suas distintas interfaces com a História da Educação. Desse modo, tem-se como objetivo oportunizar espaço de diálogo para que pesquisadores possam expor suas investigações inseridas nessas interfaces.

Alícia Civera, por meio das narrativas de três professores exilados pela Ditadura Franquista, analisa a construção de uma memória escolar relacionada aos modelos pedagógicos da Escola Normal Espanhola, nos anos quarenta do século XX. Ao mobilizar aspectos relacionados às especificidades da História Oral, a autora considera essa metodologia um modo de capturar as tradições pedagógicas, sem que necessariamente haja uma explicitação racional a respeito. No entanto, percebe que essas tradições e formas de atuar dos estudantes estão representadas em suas identidades, em seus afetos.

Com o objetivo de analisar itinerários formativos e práticas educativas vivenciadas no ensino primário em escolas de Caxias do Sul / RS, Terciane Luchese, a partir das memórias de docentes nascidos nas duas primeiras décadas do século XX, busca compreender os fazeres e os saberes de cinco professoras, todas elas formadas para atuarem no ensino primário. As memórias, somadas a outros documentos, compõem o campo empírico que, com o apoio teórico da História Cultural, permitem tematizar as práticas educativas de docentes entre os anos 1920 e 1960.

O acervo de fontes orais intitulado “Projeto Memória Lassalista”, o qual integra as coleções de documentos sob a guarda do Museu Histórico La Salle (MAHLS) do Unilasalle Canoas, é o objeto de estudo de Cleusa Garbin. Nessa pesquisa, a autora problematiza o depositário da coleção, as bases históricas e teóricas do Projeto, a sua constituição e operacionalização e as possibilidades de utilização. Além disso, estabelece uma discussão acerca das perspectivas futuras do Projeto. As complexidades e os desafios em relação à produção, tratamento, preservação e socialização de acervos orais são tematizados no artigo.

Claricia Otto, no período que compreende os anos 1930 e 1960, discute os resultados de uma pesquisa sobre a ação docente de religiosas da atual Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas (CICAF), em escolas primárias de Santa Catarina. Para tanto, se vale de memórias de dez religiosas, professoras aposentadas dessa Congregação. A análise evidenciou aspectos do cotidiano escolar daquele período e entendeu que as professoras tiveram papel fundamental na constituição de determinada cultura escolar, especialmente no que concerne ao vínculo com a religião católica na escola laica.

Uma discussão acerca de professores leigos que atuaram em escolas isoladas e multisseriadas nas décadas de 1940-1960 no município de Pelotas / RS é o que propõem Patrícia Weiduschadt e Giana Lange do Amaral. A análise se constituiu a partir de quatro entrevistas que tematizam o pertencimento docente à etnia pomerana alemã e a religião luterana. Neste sentido, os conceitos de memória e identidade problematizam as memórias coletivas, reelaboradas no tempo presente.

Por fim, o artigo “Memórias de escola em colônias agrícolas judaicas no Rio Grande do Sul: narrativas orais do acervo do Instituto Cultural Marc Chagal (1904 – 1930)” investiga alguns aspectos acerca dos processos de escolarização dos primeiros imigrantes judeus fixados em colônias agrícolas no RS. Por meio das narrativas de memória de sujeitos que viveram sua infância naquelas comunidades, procura-se recompor uma História acerca das primeiras escolas naqueles espaço e tempo determinados. As narrativas visibilizam elementos, tais como o significado da escola para o povo judeu, as dificuldades de acesso e locomoção à escola, a presença de crianças de origem não judia na escola e, sobretudo, o papel da Jewish Colonization Association, conhecida no Brasil como ICA, e seu papel determinante no apoio aos processos de escolarização do Imigrantes Judeus.

Referências

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.

Dóris Bittencourt Almeida – Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora Adjunta IV de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

Luciane Sgarbi S. Grazziotin – Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. E-mail: [email protected]


ALMEIDA, Dóris Bittencourt; GRAZZIOTIN, Luciane Sgarbi S. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 15, n.3, set. / dez., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Experimentalismo no Ensino Secundário nos anos 1950 e 1960 / Cadernos de História da Educação / 2016

A partir dos anos 1950, o ensino secundário brasileiro conheceu diversas iniciativas que concorreram para a sua renovação. Um foco de reflexão pedagógica colocou-se no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), criado em 1955, a partir da parceria estabelecida por Anísio Teixeira, diretor do INEP, e a UNESCO. Embora de forma não prioritária, no INEP / CBPE o ensino secundário foi objeto de pesquisas tanto em nível nacional como nos seus centros regionais de pesquisa. Nesse órgão educacional ganhou destaque as análises de Jayme Abreu, técnico muito próximo a Anísio Teixeira, que coordenou a Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar e atuou no INEP até a década de 1960. Sobre o ensino secundário, realizou pesquisas, representou o Brasil em congressos internacionais e publicou diversos trabalhos em forma de artigos científicos e de livro. De outra parte, em 1953, a Diretoria do Ensino Secundário do MEC criou a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) que tinha como intuito qualificar e certificar os professores leigos nesse nível de ensino por meio de cursos realizados nas férias. Para incrementar a sua ação em nível nacional, quatro anos depois, a CADES instituiu a revista “Escola Secundária”, tendo uma linha editorial voltada para as questões didáticas, que publicava relatos de experiências de diferentes disciplinas dos cursos ginasial e colegial (DALLABRIDA e SOUZA, 2014).

A renovação mais contundente nesse nível de escolarização foi colocada em marcha pela Diretoria do Ensino Secundário (DESe) do MEC na gestão de Gildásio Amado. Em meados de 1958, a DESE viabilizou a oficialização das “Instruções sobre a natureza e a organização das classes experimentais”, que autorizavam, a partir do ano letivo seguinte, a instalação de classes experimentais no ensino secundário, preferencialmente no curso ginasial. Essa legislação prescrevia o desenvolvimento das aptidões individuais dos alunos, que se efetivava na limitação de até trinta alunos por sala de aula e na possibilidade de os discentes optarem por disciplinas e atividades educativas. E também estipulava exigência em relação ao corpo docente, que deveria ter reuniões regulares, sendo agrupado por classes, particularmente para viabilizar a integração de “disciplinas-saber”. Desta forma, a partir de 1959, começaram a ser implantadas, em um punhado de colégios – especialmente no curso ginasial, o primeiro ciclo do ensino secundário – as classes secundárias experimentais, que construíram uma marcante renovação no ensino secundário brasileiro. Em 1962, quando fechou o ciclo de quatro anos do curso ginasial, havia no Brasil 46 estabelecimentos de ensino secundário que tinham feito ensaios renovadores, sendo que a maioria se localizava nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro (Cunha; Abreu, 1963).

Nesse pequeno conjunto de experiências educacionais renovadoras, a classe experimental secundária que ganhou maior relevo foi aquela realizada no Instituto Estadual Narciso Pieroni do município paulista de Socorro, coordenada pelas professoras Lygia Furquim Sim, Olga Bechara e Maria Nilce Mascelani. As chamadas Classes de Socorro chamaram a atenção do Secretário Estadual de Educação do Estado de São Paulo, Luciano de Carvalho, inspirando um novo projeto educacional: os ginásios vocacionais. Para tanto, por meio da Lei 6.052, de 3 de fevereiro de 1961, foi criado o Serviço de Orientação Vocacional (SEV), que estruturou o ensino industrial no Estado de São Paulo. No início desse ano, Maria Nilde Mascelani assumiu a coordenação do SEV e iniciou a implantação dos ginásios vocacionais, que tiveram como referência as classes secundárias experimentais, mas intensificaram o engajamento político. A experiência dos ginásios vocacionais desenvolveu-se na década de 1960, sendo terminada, de forma autoritária, após o endurecimento do regime militar colocado em marcha pelo AI-5 (Chiozzini, 2014). Desta forma, nos anos 1950 e 1960, as classes secundárias experimentais e os ginásios vocacionais se converteram nos principais ensaios escolares de renovação do ensino secundário.

Nesta direção, o presente dossiê procura refletir sobre experiências educativas no ensino secundário durante as décadas de 1950 e 1960 que tiveram como clave o experimentalismo pedagógico no Brasil e no Uruguai. O texto “’Nueva Educación’ y enseñanza secundaria en el Uruguay (1939-1963)”, do historiador Antonio Romano, reflete sobre transformações significativas no ensino secundário uruguaio implementadas a partir da Segunda Guerra Mundial, especialmente a partir da apropriação das classes nouvelles, dando destaque para o papel das revistas na circulação de ideias pedagógicas. De outra parte, esse trabalho reflete sobre o Plano de Estudos de 1963, proposto pelo Diretor Geral do Ensino Secundário, professor Alberto Rodriguez, que introduziu uma nova estrutura no ensino secundário, prevendo cinco anos de formação geral e integral e um ano de caráter pré-profissional. A partir dessa nova configuração escolar, foram implantados, na capital e no interior do nosso país vizinho, os chamados “liceus de ensaio”, marcados pelo experimentalismo pedagógico. O artigo de Antonio Romano abre caminho para um diálogo historiográfico sobre o ensino secundário entre os países do Mercosul e / ou da América Latina.

Os textos sobre a renovação do ensino secundário no nosso país obedecem, grosso modo, um critério cronológico. Assim, o trabalho de Letícia Vieira e Norberto Dallabrida colocam o foco sobre o pioneirismo de Luís Contier na apropriação das classes nouvelles no Brasil, que começou a quebrar o rígido ensino secundário formatado pela Reforma Capanema que ainda vigorava após o Estado Novo. Aborda o estágio do professor Contier no Centre International d`Études Pedagogiques (CIEP), no início dos anos 1950, e os primeiros usos que ele realizou das classes nouvelles francesas no Instituto de Educação Alberto Conte, localizado em São Paulo. De outra parte, explora o processo da oficialização das classes secundárias experimentais pelo Ministério da Educação, em meados de 1958, bem como a implantação das mesmas a partir do início do ano seguinte. O artigo de Sérgio Roberto Chaves Júnior lê as chamadas classes integrais – nome dado às classes secundárias experimentais – no Colégio Estadual do Paraná, que se apropriaram especialmente do Método por Unidades Didáticas desenvolvido no Colégio de Nova Friburgo. Essa experiência renovadora é constatada em vários aspectos, entre os quais são destacados a educação integral, a integração curricular – particularmente das disciplinas História e Geografia – e as atividades extraclasse como o clubismo.

No texto “Educação renovada no Estado de São Paulo: a experiência pioneira do ensino continuado e as práticas escolares do Experimental da Lapa (1961-1971)”, Carlos Eduardo Bizzocchi analisa a cultura escolar de corte escolanovista praticada em uma escola que ficou conhecida como Grupo Escolar – Ginásio Experimental Dr. Edmundo de Carvalho, popularmente chamado Experimental da Lapa. Esse trabalho histórico foi realizado sobremaneira a partir de fontes estimulantes como os relatórios das unidades da escola e os chamados “cadernos” – onze publicações que relatam e avaliam a prática educativa no Experimental da Lapa. Maria Odete Pereira Mundim, Carlos Henrique de Carvalho e Décio Gatti Júnior trazem à baila os encaminhamentos de criação e o funcionamento da Escola Vocacional de Aprendizagem Industrial de Uberlândia, localizada no Estado de Minas Gerais, especialmente na década de 1960. É importante frisar que esse colégio técnico foi pautado, a partir de 1962, pelas prescrições da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que fixou as Diretrizes e Base da Educação Nacional, unificando formalmente os cursos secundário e técnico, criando o ensino médio e permitindo a flexibilização curricular por meio do oferecimento de “disciplinas-saber” escolhidas por cada escola.

Este dossiê é coroado com um trabalho que procura cotejar as relações entre as classes secundárias experimentais e os ginásios vocacionais assinado por Daniel Ferraz Chiozzini e Sandra Machado Lunardi Marques. As aproximações entre esses dois ensaios educativos de corte inovador confluem para uma discussão sobre o experimentalismo e para a educadora Maria Nilde Mascelani, que atuou na Classes de Socorro e coordenou o projeto dos ginásios vocacionas. No entanto, esse texto produzido a quatro mãos também explora, de forma instigante, as diferenças entre as classes experimentais dos anos 1950 e os ginásios vocacionais da década de 1960. Enfim, esse exercício comparativo é muito salutar e pode estimular novas investigações em torno da renovação do ensino secundário.

Referências

CHIOZZINI, Daniel Ferraz. Memória e História da Inovação Educacional no Brasil: o caso dos Ginásios Vocacionais (1961 / 1970). Curitiba: Appris, 2014.

CUNHA, Nádia; ABREU, Jayme. Classes Secundárias Experimentais: balanço de uma experiência. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro. v. XL, n. 91, p.90-151, 1963.

DALLABRIDA, Norberto; SOUZA, Rosa Fátima de. “O todo-poderoso império do meio”: transformações no ensino secundário entre a Reforma Francisco Campos e a primeira LDBEN (à guisa de apresentação). In: Entre o ginásio de elite e o colégio popular: estudos sobre o ensino secundário no Brasil (1931-1961). Uberlândia, MG: EDUFU, 2014. p.11-30.

Norberto Dallabrida – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, com estágios de pós-doutorado concluídos na Université Rene Descartes – Paris V e na Universidad de Alcalá de Henares (Espanha). Professor de História da Educação e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: [email protected]

Daniel Ferraz Chiozzini – Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, com estágio de pós-doutorado concluído na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: [email protected]


DALLABRIDA, Norberto; CHIOZZINI, Daniel Ferraz. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 15, n.2, maio / ago., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Tópicos de História da Educação nos Estados Unidos (entre os séculos XIX e XX) / Cadernos de História da Educação / 2016

Embora a literatura educacional brasileira seja farta em referências à história da educação nos Estados Unidos, nos nossos meios acadêmicos circulam poucos estudos a respeito. Não que a história da educação norte-americana ganhe menos atenção dos estudiosos brasileiros do que a educação em outros países. A bem da verdade, não temos nos meios educacionais tradição de estudos internacionais.

Com algum conhecimento da historiografia da educação brasileira pode-se afirmar que as mais frequentes menções ao estrangeiro se reportam a algum item de filosofia ou pedagogia, de algum método ou currículo, de algum conceito ou obra, subtraídos dos contextos em que foram produzidos ou que funcionaram como base de lançamento para a circulação internacional que os teria trazido até o Brasil.

Com vistas a contribuir para os estudos internacionais, especialmente sobre os lugares ocupados pelos Estados Unidos nos processos de constituição e internacionalização do campo, organizei dois dossiês: o primeiro já publicado pela revista de História da Educação (ASPHE), com o tema geral A educação nos Estados Unidos: do século XIX ao século XX, que reúne artigos sobre dimensões abrangentes da educação norte-americana no período; quatro autoras brasileiras e um autor norte-americano compõem o conjunto.

Neste segundo dossiê, os artigos reunidos abordam temas mais específicos – ainda que de largo impacto – da educação nos Estados Unidos na passagem do século XIX para o século XX. O dossiê é composto de seis artigos, sendo que quatro são de autores norte-americanos e dois de autoras brasileiras. Muitos aspectos os interligam, embora os autores tenham sido convidados a explorar temas que lhe são caros desde as visões que lhe são próprias. Nem poderia ser de outro modo.

Ao esclarecer os leitores que as convergências entre os autores não incluem suas perspectivas teóricas ou de método, aproveito o ensejo para lhes informar que não concordo necessariamente com as análises que desenvolvem sobre um e outro tema. Falarei sobre isso mais adiante.

Os autores foram reunidos aqui em torno de um período da educação norte-americana de intensas reformas; um momento consagrado como era progressista no qual estão ocorrendo as transformações que gestaram os EUA moderno, hegemônico. Foram convidados a falar de tópicos que indicam a profundida e o alcance das mudanças em curso. São artigos sobre a educação norte-americana com ênfase no ambiente de fins do século XIX e começos do século XX; momento de ebulição da cultura norte-americana na qual se incluem reformas de largo alcance impactadas pelas transformações industriais e urbanas, pela imigração em massa, pelo envolvimento na Primeira Guerra Mundial, bem como pela confrontação de movimentos civis, políticos e sindicais de diferentes matizes.

Exatamente porque estão reunidos em torno de um momento decisivo da vida e particularmente da educação norte-americana, não poderiam deixar de abordar as mesmas reformas, as mesmas iniciativas e os mesmos nomes. Não há surpresa, portanto, que itens como Relatório do Comitê dos Dez e Associação Nacional da Educação sejam muito referidos; assim como nomes como os de John Dewey e Edward l. Thorndike não poderiam ser elididos em se tratando de dois próceres das reformas educacionais do período, opositores inscritos no mesmo terreno acadêmico.

Barry Flanklin, um dos importantes nomes da geração dos anos oitenta que provocou um turn point na área do currículo, trata das relevantes questões curriculares que emergem no período em tela e coloca os discursos de Dewey e Thorndike, além de Ross L. Finney, face a face na disputa pela concepção de comunidade – portanto, na disputa pela direção a ser estabelecida para o currículo. O campo da disputa é o currículo da escola secundária. Thorndike e Finney são, para o autor, expressão de um discurso de comunidade excludente, homogênea, temerosa do estranho / estrangeiro (o imigrante daquele momento); Dewey seria a melhor expressão do discurso liberal da inclusão, da diversidade, do entendimento das transformações que a indústria e a vida urbana produziram sobre os antigos agrupamentos rurais, assim da necessidade de recriação do coletivo e da unidade social. Franklin dedica um item para tratar dos problemas que contemporaneamente repõem a disputa em torno da comunidade. Com isso, é levado a concluir que a direção que o uso do discurso sobre o currículo irá tomar teria permanecido sem solução; e se pergunta: “irá nos conduzir ao estilo liberal de comunidade, tal como popularizada por Dewey ou nos levará à variação reacionária proposta por Thorndike e Finney? ”.

A polarização Dewey-Thorndike, que de fato foi alimentada para além dos muros do Teachers College de Columbia, não reaparece nos artigos de Monaghan / Saul nem de Santos que, aliás, tem Thorndike no centro das suas análises sobre o ensino da Matemática. Não estou certa que se deva alimentá-la mesmo. Também não estou certa que a perspectiva de Franklin possa ser mantida por quem não é herdeiro (romântico) do liberalismo deweyano. Do lugar que venho examinando a contenda nem Dewey se sustenta no lugar avançado que se colocava e que Franklin reafirma, e nem Thorndike se justifica no lugar do regresso que não postulava para si, mas é onde Franklin, como outros, o inscreve.

Spencer Clark foi chamado a tratar de assunto relevante ao qual tem se dedicado, complementar ao tema abordado por Franklin: a educação cívica nos EUA na Era Progressista. Em um momento de grande ardor cívico-patriótico, a educação para o civismo ganhou lugar proeminente no currículo escolar norte-americano, como resposta às grandes levas de imigrantes que tomaram de assalto os EUA entre fins do séc. XIX e começos do seguinte. Clark examina o assunto reportando-o com clareza ao movimento do americanismo e de americanização da escola norte-americana. Para tanto, repassa as tendências que mais diretamente teriam marcado o currículo – as assimilacionistas e as culturalmente pluralistas –, e centra a atenção em dois educadores representantes de cada visão, Arthur W. Dunn e, especialmente, Laura Donnan. O artigo de Clark oferece uma boa análise do tema, e por isso mesmo, exemplifica bem os limites e, portanto, o alcance, de uma visão crítica liberal sobre a americanização e o americanismo. Embora cruzem os caminhos de Franklin e Clark, os artigos de Monaghan / Saul e Santos conferem um tratamento bastante distinto às questões disciplinares e curriculares abordadas.

O artigo O leitor, o escriba, o pensador: um olhar crítico sobre a história da instrução da leitura e da escrita nos Estados Unidos, de E. J. Monaghan e E. W. Saul, publicado pela primeira vez há quase 30 anos, por sua impressionante atualidade está sendo aqui reproduzido [2] . O problema central é a prevalência por muito tempo da leitura sobre a escrita. Para abordá-lo, as autoras repassam a história do ensino da leitura desde o século XIX, destacando os movimentos que disputaram o controle dessa área, as tendências dos teóricos e dos docentes, bem como do mercado editorial. Para os leitores brasileiros que trabalham com o assunto é de grande importância se aperceber que não há direta correspondência entre os movimentos, as tendências, no ensino da leitura registrados nos EUA com os que aqui se formaram, por exemplo, as nossas querelas em torno do analítico e do sintético; do método da palavra, da sentença e da estória. Por outro lado, aqui não teria ocorrido tanto clamor em torno da leitura silenciosa como o registrado por Monaghan e Saul; assim como, o movimento científico e o progressismo educacional não teriam aqui ocorrido; ainda que se possa estabelecer algum (cauteloso) paralelismo entre o último e o escolanovismo brasileiro, este não se posicionou com a veemência e clareza em torno do ensino da leitura na mesma direção que a verificada pelo progressismo em sua luta contra o livro didático (cartilha, livros de leitura etc.) em favor da estória “escrita” pelo próprio aluno.

Ivanete Batista dos Santos examina os confrontos em torno do ensino da Matemática nas primeiras décadas do século XX. Rastreando os periódicos educacionais que circulavam à época nos EUA e parte dos livros de Thorndike, Santos constata a existência de duas propostas, uma que versava sobre uma organização de conteúdos baseada na teoria da disciplina mental e uma alicerçada em princípios da psicologia conexionista de Thorndike. A perspectiva da disciplina mental se fez presente no Committee of Ten Report e ainda se revelava em torno dos anos de 1910; a proposta de rompimento teria ocorrido a partir da publicação do manual The Thorndike Arithmetics, em 1917, como a evidência de que Edward Lee Thorndike conformou, nas primeiras décadas do século XX, um padrão peculiar para o ensino de Matemática. E que foi reapresentado em The Thorndike Algebra, em 1927. Esse artigo de Ivanete Santos, seguindo os parâmetros da sua tese de doutorado, traz à cena a figura de um Thorndike condizente com a imagem sobre ele produzida por seu maior biógrafo, a historiadora da educação Geraldine M Joncich: a de um “positivista são” (The Sane Positivist é o título principal de sua biografia a respeito de Edward L. Thorndike), cuja produção científica e escolar alterou profundamente os padrões de ensino da escola norteamericana, não só da Matemática, mas do ensino da leitura também, como apontam Monaghan e Saul, para não falar de outras disciplinas não incluídas neste dossiê

Seguem dois artigos mais independentes quanto aos assuntos focalizados. Noah Sobe centra-se na fabricação da atenção da criança em uma sala de demonstração montessoriana montada na Feira Mundial de São Francisco, em 1915. Ele quer “repensar a forma como poder e subjetividade agem na formação de atrações humanas”. Conduzindo suas análises com as categorias foucaultianas tais como a de poder, governamentalidade, analítica do poder, Sobe sugere que a atenção a partir de Montessori nos remete à química envolvida no poder, mais do que à física, uma vez que “em vez de forças e corpos que causam movimentos e distribuições, o poder aqui poderia ser pensado operando anexações e desanexações que montam e desmontam entidades”. Dessa perspectiva, Sobe propõe uma nova perspectiva para os estudos da atenção em “relação à produção de desejo e com uma analítica do poder” e não como um estado que se instaura ou não no corpo da criança.

Por fim, o artigo que escrevi para esse dossiê que desloca a… atenção para o campo acadêmico, mais especificamente para o Teachers College da Columbia University quando da criação do seu International Institute, em 1923, e o lançamento do periódico Educational Yearbook, em 1924. A minha pretensão é trazer para primeiro plano aquele College na função de epicentro da internacionalização do campo educacional. As iniciativas dos responsáveis pelo Instituto no âmbito do ensino e da pesquisa são as evidências que trago para sustentar a tese em torno daquela função central do TC, mas o periódico anual é a fonte original deste artigo, uma vez que ainda não explorado como um compêndio, uma enciclopédia, onde se reúnem as mais atualizadas e completas informações e dados sobre os sistemas educacionais de praticamente todos os países, colônias e protetorados existentes à época da sua circulação (1924-1944).

Para encerrar esta apresentação, uma palavra de agradecimento aos autores que se dispuseram a escrever ou ceder trabalhos para este dossiê e aos tradutores dos artigos, e uma palavra de lamento. Enquanto organizava esta coletânea Profa. Jennifer Monaghan faleceu e Prof. Barry Franklin adoeceu. Lamentei profundamente não ter podido conhecer a Profa. Monaghan; tenho lido seus trabalhos e usufruído do elegante, minucioso e fundamentado conhecimento que ela deixou sobre a história da leitura e da escrita nos Estados Unidos. Prof. Flanklin eu conheço pessoalmente; pessoa meiga e atenciosa e, ao mesmo tempo, um acadêmico sério e cuidadoso; desejo que as amizades e as leituras estejam lhe preenchendo os dias de afeto e distração.

Nota

2. Por razões de espaço, mas também de foco, a última parte do texto de Monaghan e Saul não foi mantido nesta versão em Português. Na parte suprimida, as autoras examinam o período Lyndon B. Johnson e o processo de valorização crescente da escrita. Os dados da primeira versão em Inglês desse texto são: MONAGHAN, E. J.; SAUL, W. The reader, the scribe, the thinker: a critical look at reading and writing instruction. POPKEWITZ, T.S. (ed). The Formation of the School Subjects. New York, London: The Falmer, Press, 1987, p. 85-122.

Mirian Jorge Warde – Doutora em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora Titular da PUC-SP. Professora Visitante Sênior do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Paulo, no campus Guarulhos. Pesquisador Sênior do CNPq. E-mail: [email protected]


WARDE, Mirian Jorge. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 15, n.1, jan. / abr., 2016. Acessar publicação original [DR]

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A invenção da América: estudos sobre Educação, História e Cultura na América Latina (1879-1950) / Cadernos de História da Educação / 2015

A historiografia contemporânea apresenta um interesse renovado nos fenômenos de produção, circulação e apropriação de saberes em diferentes espaços e tempos. Neste sentindo o dossiê que ora apresentamos procura analisar aspectos da representação da educação e da cultura na América Latina, a partir de obras literárias, ensaios teóricos, textos jornalísticos e narrativas históricas. A proposta consiste em tentar observar pontos de contato entre o que se percebe “no interior” das fronteiras nacionais, com o que se passa em suas exterioridades. Para tanto, procuramos observar os pertencimentos teóricos e institucionais de alguns autores, o recurso às traduções, identificar os destinatários, o regime de citação, núcleo documental mobilizado, bibliografia, editoras e projeto editorial para pensar os padrões narrativos das escritas que foram produzidos e / ou circularam no velho e no novo continente. Nesse caso, trabalhamos com parcela do universo latino-americano e com o sistema de referência à Europa e à própria América, de modo a observar: os modelos de escrita legitimados, as concorrências estabelecidas, bem como as tradições forjadas a partir destas experiências. O texto Na rota do progresso: representações a respeito da instrução pública na argentina (1879) analisa algumas representações forjadas pelo francês Celéstin Hippeau, por intermédio do relatório sobre instrução pública na Argentina, publicado em 1879. O procedimento do autor pode ser caracterizado como uma operação que busca construir um programa a ser seguido pelas nações, no qual dois países do novo mundo são apresentados como modelo – Estados Unidos e Argentina. Trata-se, portanto, de uma representação que termina por defender uma racionalização do modelo de instrução como saída para os diversos problemas identificados em todas as modalidades e níveis de ensino da Argentina; condição necessária para inscrevê-la na rota do progresso. José Ricardo Pires de Almeida entre duas vocações: a política e a ciência é o titulo do artigo que trata da obra L`Instruction Publique au Brésil: Histoire – Législation, escrita em 1889. O texto visa problematizar dois aspectos específicos: por um lado, explicita as convicções políticas defendidas pelo autor, particularmente a ideia da superioridade da instrução pública no Brasil em relação aos demais países da América do Sul; e, por outro, investe na discussão das características que legitimaram esta narrativa como expressão de uma concepção da escrita da história que visava interpretar o passado com isenção e objetividade. Outro historiador brasileiro analisado nesse dossiê foi Primitivo Moacyr, no texto intitulado Nacional e Continental – Brasil e Américas na perspectiva de Primitivo Moacyr. Este artigo explora aspectos da historiografia da educação e argumentos que sustentam os diagnósticos empreendidos e modelos propostos a partir da remissão às experiências provinciais entre o mundo latino-americano e as Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Também entre os autores brasileiros, temos América Latina, cultura e educação nos escritos de José Veríssimo. O artigo objetiva discutir como José Veríssimo articula cultura e educação em textos por ele publicados sobre a América Latina, situados teoricamente nos campo da crítica literária e da política. Os resultados indicam que as reflexões escritas por José Veríssimo sobre a América Latina reforçam a importância que atribuía à educação ao colocá-la como recurso de superação dos problemas sociais e políticos, promovidos pelo legado colonial e pelo processo de consolidação das repúblicas liberais. Fechando a proposta, La América enseñada: Colombia, primera mitad del siglo XX aborda as representações subjacentes ao ensino da categoria América, particularmente pela sua inserção no projeto político de definição da identidade de diferentes países latino-americanos, com ênfase para o contexto colombiano. Nas suas conclusões, o artigo aponta que a representação da América funcionou para justificar a existência de um povo, um território e uma raça que, apesar das fronteiras nacionais, compartilhava de um mesmo destino.

Os cinco artigos apresentados procuram em comum interrogar os projetos de educação, instrução e de civilização em curso no novo mundo. No conjunto, procuramos analisar o processo de constituição de matrizes de história da educação, algumas estratégias de legitimação, difusão e apropriação internacional desse saber e, no seu interior, o espaço reservado para se construir determinadas representações da América.

Carlos Eduardo Vieira

José Gonçalves Gondra

Organizadores


VIEIRA, Carlos Eduardo; GONDRA, José Gonçalves. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 14, n.3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História da Educação e História Regional Paulista / Cadernos de História da Educação / 2015

O dossiê História da Educação e História Regional Paulista, ora apresentado aos Cadernos de História da Educação, resulta do esforço de pesquisadores que vem agindo coletivamente em diversos âmbitos: no interior de um grupo interdisciplinar de pesquisas, na participação conjunta em congressos das áreas de História, História da Educação, Sociologia e Geografia, na orientação de trabalhos cujas temáticas se avizinham e, agora, na publicação de um dossiê temático. Fato é que dentre as muitas aproximações possíveis entre as investigações desenvolvidas pelos pesquisadores do grupo, uma em especial merece ser ressaltada: o fato de que examinamos, direta ou indiretamente, a história da educação no interior paulista. Olhamos para “o rio da minha aldeia”, conforme queria Alberto Caieiro / Fernando Pessoa, buscando estabelecer as relações possíveis entre o nosso rio e os outros rios do Brasil e do mundo. Campeamos, igualmente, as singularidades locais dos espaços por onde passam nossos córregos e riachos.

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia (Alberto Caieiro)

Vimos trabalhando com o interior paulista numa perspectiva tributária da obra de Pierre Monbeig, o geógrafo francês que entre os anos de 1935 e 1946 integrou o grupo de professores franceses que formou a Universidade de São Paulo, e que escreveu Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo – obra clássica para os estudos regionais paulistas. Nela, Monbeig estudou as zonas pioneiras do estado para além de uma perspectiva local, identificando-as como sociedades em movimento: regiões interligadas entre si e constituídas por fronteiras que progrediram irregularmente desde a segunda metade do século XIX.

O autor procurou problematizá-las a partir de um olhar relacional entre o fenômeno histórico que observava in loco e o que acontecia no restante do mundo ocidental. Ele dizia que numa zona pioneira “tudo é alvoroço”: derrubada de floresta, criação de fazendas, cidades e constante instabilidade demográfica gerada pelo intenso afluxo de migrantes e imigrantes; rápida construção de redes de comunicações, representadas pelas icônicas estradas de ferro, pelas estradas de rodagem e pelos veículos de comunicação de massa, como o rádio, as revistas, os cinemas e os jornais; edificação de simbologias regionais, como àquelas relacionadas ao caipira e ao bandeirante; intensa miscigenação racial e diversos outros elementos que caracterizam o contraditório desenvolvimento do capitalismo paulista da primeira metade do século XX.

Tanto “alvoroço” fazia Monbeig se espantar com a rapidez das transformações às quais assistia. No entanto, para além do espanto, interessa destacar o empenho do autor na compreensão do dito “alvoroço” com as ferramentas analíticas que dispunha no período – e também com àquelas que inventou em pleno campo de pesquisa.

Assim demonstrarão Laurent Vidal e Paulo César da Costa Gomes, ao analisarem a experiência dos jovens Pierre Monbeig e Roger Bastide, quando vieram lecionar Geografia e Sociologia na USP, nos anos de 1930. No artigo Déplacement des savants, déplacement des savoirs, ou le glissement des concepts sur le sol meuble du Brésil: les exemples de Roger Bastide et Pierre Monbeig, os autores discutem o surgimento de temas pouco usuais nas áreas da Geografia e da Sociologia a partir da inserção de Monbeig e Bastide no Brasil, destacando a contribuição de ambos, a partir da experiência brasileira, para a criação de conceitos até então inexistentes.

Rosa Fátima de Souza, por sua vez, discute justamente a necessidade de desnaturalização e problematização de uma ferramenta de análise largamente utilizada por historiadores da educação para delimitação de espaços de pesquisa no interior paulista: a divisão do território por regiões econômicas e demográficas. Em Educação e civilização nas zonas pioneiras do estado de São Paulo (1933 – 1945) a autora problematiza a relação duvidosa existente entre região econômica e região escolar, além de discutir a situação educacional das zonas pioneiras no período.

No caso do “oeste paulista”, em particular da cidade de Ribeirão Preto, ícone da riqueza gerada pelo café, não por acaso à época reconhecida como Petit Paris, Sergio César da Fonseca problematiza, em Ribeirão Preto e a chegada da assistência institucional à infância ao Oeste Novo, o aumento do abandono de crianças na localidade, bem como o processo de interiorização da assistência por aquelas plagas; enquanto Alessandra Cristina Furtado, em História de uma Instituição Escolar Católica: O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Ribeirão Preto no cenário do interior paulista (1918-1944) reconstrói a história daquela instituição, uma das mais importantes escolas confessionais da localidade. Ambos demonstram a intrínseca relação existente entre o incremento do complexo capitalista verificado no interior paulista e o aumento de instituições destinadas à conformação de pessoas, quer sejam escolares ou não.

Ainda sob a égide do “oeste” simbólico ribeirão-pretano, Sauloéber Tarsio de Souza e Wagner Teixeira da Silva discutem em O café, a indústria e a escola: reflexões acerca da educação pública no interior paulista (Franca: 1889-1970) não apenas a institucionalização da rede pública de ensino na cidade de Franca, região de fronteira com Minas Gerais, mas avaliam as representações recorrentes sobre a importância da escola para uma localidade distante da capital, mas que passava por inexorável processo de dinamização econômica.

Representando a chamada Cuesta de Botucatu, mais especificamente a cidade de São Manoel, Marcelo Augusto Totti reflete, à luz da sociologia de Florestan Fernandes, sobre Educação, civilização e implementação capitalista no interior paulista, demonstrando as contradições inseparáveis entre os discursos sobre a modernidade em voga e o recrudescimento de antigos problemas sociais.

Resta destacar que sob a influência de Pierre Monbeig e da sua ideia de sociedade em movimento, o dossiê apresentado aos Cadernos de História da Educação busca desbastar a temática educacional em meio ao “alvoroço” verificado nas frentes pioneiras pelo geógrafo, além de compartilhar os resultados, por ora obtidos, com a comunidade acadêmica. Acreditamos que para além da qualidade das análises empreendidas pelos pesquisadores que se dedicaram à arquitetura deste dossiê, destaca-se o esforço conjunto na mobilização de um amplo espectro de fontes regionais que foram, em sua maioria, trazidas à luz pela primeira vez pela iniciativa dos membros do grupo: jornais, revistas, fotografias, relatórios oficiais, atas de câmaras municipais, discursos, registros civis e memória, dentre outros vestígios do passado, que passaram a existir a partir do nosso recorte, adquirindo um novo significado.

Raquel Discini de Campos

Sérgio César da Fonseca

Organizadores


CAMPOS, Raquel Discini de; FONSECA, Sérgio César da. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 14, n.2, maio / ago., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Colégio Pedro II – lugar de memória da educação brasileira / Cadernos de História da Educação / 2015

Durante o Império, desde o início da tarefa de construção da nacionalidade brasileira, o discurso de legitimação da Monarquia levou políticos / intelectuais a formularem um projeto civilizatório de Nação, comprometido com o perfil identitário branco, europeu e cristão idealizado para os trópicos.

Como elementos constitutivos do projeto civilizatório do Império, podemos identificar os investimentos da diretriz política no campo da educação e cultura, tais como:

– A primeira Lei da Instrução Pública de 15 de outubro de 1827, que estabeleceu as “escolas das primeiras letras para meninos e meninas”, destinadas às camadas mais populares e vedadas aos escravos, em consonância com a organização do Estado patrimonialista e escravista;

– A criação das Escolas de Medicina de Salvador (1823) e do Rio de Janeiro, pela Lei de 03 de outubro de 1832, destinadas à formação de “especialistas na arte de curar” em farmácia, partos e procedimentos cirúrgicos, profissionais de formação científica, destinados a substituir, em longo prazo, o trabalho empírico dos curandeiros, parteiras e cirurgiões-barbeiros;

– A criação das Faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo, em 1827, destinadas à formação de juristas, advogados, deputados, senadores, diplomatas e quadros da burocracia estatal. Centros de produção de saberes, modelados pela Universidade de Coimbra, caracterizados pelo autodidatismo e pela militância político-ideológica;

– A fundação da Academia Imperial de Belas Artes, em 1827, refundação da Escola de Artes (1816) e da Real Academia de Artes (1820), responsável pela produção iconográfica da imagem oficial do país. O didatismo nos temas de representação do Império – natureza exuberante, símbolos, rituais e retrato idealizado – oficializaram a memória do poder nacional; – A Escola Normal de Niterói, fundada em 1835, destinada a formar candidatas ao magistério público, segundo modelo das escolas francesas do século XVIII, criada com o objetivo de “ensinar como se ensina”. A formação das “mestras” em pedagogia representou o padrão idealizado do ensino público livre e laico da educação fundamental;

– A fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, lugar de produção da escrita da história nacional definida pelos critérios da pesquisa de fontes documentais, segundo princípios da historiografia do século XIX. O estudo da gênese da nação garantiu a identidade da civilização branca e europeia nos trópicos e delineou os contornos da nação brasileira;

– A criação do Arquivo Público, em 1838, também segundo modelo de arquivo nacional europeu, com a finalidade de recolher documentos oficiais para salvaguardar a memória do poder, hierarquizar e cristalizar as memórias do Estado. A autoridade institucional do Arquivo Público Nacional preservou um “patrimônio histórico que constitui a própria memória do país e possui a qualidade de acompanhar o desenvolvimento histórico brasileiro”;

– A fundação do Imperial Colégio de Pedro II, em 1837, instituído para servir de norma oficial da instrução secundária no Município da Corte e modelo nas demais províncias. Historicamente identificado como agência oficial de educação, criou uma cultura escolar própria e constituiu-se como um dos atores do processo de construção do regime monárquico e da nação civilizada, adquirindo, ao longo do tempo, uma segunda natureza institucional legitimada pela tradição.

A educação no Brasil Monárquico teve seu lugar demarcado no projeto civilizatório do Império de consolidação do Estado / Nação, sendo concebida como instrumento social de moralização dos indivíduos, garantia da ordem e caminho para o progresso. A fundamentação da política educacional, através das sucessivas Reformas do Ensino Primário e Secundário, evidencia a proposta ideológica de um Estado em formação que pretendeu assumir a responsabilidade pela instrução pública através de várias tentativas de criação de um sistema nacional para a configuração da identidade cultural da Monarquia.

O Imperial Colégio de Pedro II, fundado por Decreto de 02 de dezembro de 1837, pelo Ministro Interino do Império, o Bacharel Coimbrão Bernardo Pereira de Vasconcelos, para ser o modelo da instrução secundária, cumpriu seu papel de colégio padrão do ensino clássico no Município da Corte, projetando-se como instituição educacional de referência para as demais províncias, através de seus Estatutos organizacionais, seus Planos de Estudos, Programas de Ensino e compêndios didáticos de autoria dos seus professores catedráticos, que foram adotados na maioria das escolas do país.

O corpo docente de “notório saber”, nomeado pelo Ministério do Império, depois concursado e reconhecido pela sociedade; a seletividade do corpo discente, determinada pelos exames de admissão e promocionais; as exigências do curso de bacharelado de estudos simultâneos e seriado, expressas nos programas de ensino de tradição humanística; o pagamento das anuidades, apesar da existência de reservas de vagas para alunos necessitados; e a rígida disciplina imposta pelos Regulamentos – deram ao ensino secundário oficial, representado pelo Colégio de Pedro II, uma função formativa dirigida às elites, através da preparação dos alunos para o ensino superior. O Colégio foi o único estabelecimento de ensino secundário a conferir o Grau de Bacharel em Letras a seus formandos, título que dava o direito a ingressar nos cursos superiores do Império sem a obrigatoriedade dos exames das matérias preparatórias.

A concepção humanística da educação, patrimônio cultural iluminista, privilegiava o conhecimento erudito do latim e das línguas estrangeiras, notadamente o francês, garantia de participação social no mundo civilizado; dos saberes clássicos da literatura da retórica e da poética, formas de domínio do homem culto; e do conhecimento ilustrado da história universal, identificação da genealogia da nação brasileira branca, civilizada e cristã.

O curso das humanidades no Império foi defendido pelo grupo de políticos conservadores que consideravam o ensino secundário como uma etapa preparatória para os cursos superiores, sendo a educação clássica essencial ao brilho dos futuros Doutores no Parlamento. Os grupos de políticos mais liberais criticavam o modelo de educação ilustrada e procuravam introduzir, na legislação de ensino, disciplinas escolares de caráter mais científico, como “as matemáticas” e as ciências físicas e naturais, defendendo um ensino secundário mais prático e voltado para a modernização e o progresso. Nas duas visões culturais um ponto em comum: o ensino da História Universal e do Brasil como base da construção da identidade nacional e da formação do cidadão.

Instituição diretamente ligada ao poder constituído, o Colégio de Pedro II no período monárquico foi um celeiro de formação de grupos de elites culturais condutoras do país – “homens do mundo, homens das ciências, das letras e das artes”: políticos, legisladores, escritores e professores que se diplomaram nas tradicionais universidades europeias, ou nos cursos superiores de direito, medicina e engenharia do Império – “homens públicos” formados pelos paradigmas europeus de civilização e progresso. O Colégio Pedro II tem lugar na historicidade do poder cultural como guardião da herança civilizacional e órgão transmissor do patrimônio cultural, garantia da perenidade do Estado e de sua identidade nacional.

Durante o processo de desagregação do Estado Imperial, ficou patente a necessidade de se tornarem as instituições mais flexíveis e de se projetarem valores adequados à reordenação do Estado e das relações sociais.

No redesenhar do perfil do Estado nacional, a ideia libertária de república representou um “sentimento estético de crítica intelectual à ordem monárquica, retomando o discurso do progresso revitalizado pelas discussões em torno de novas atitudes civilizatórias”.

A tese da educação pública livre, laica e científica, foi um dos suportes do estado republicano. A importância da Instrução Pública foi redefinida segundo pressuposto de que um Estado para todos equivale a uma escola para todos, referência do aprendizado comum da vida coletiva para a formação da base para o progresso da razão pura e para o exercício efetivo da cidadania.

No início da República houve o boom da escola primária, pois era necessário “educar, controlar e ordenar a população livre do país”. Compartilhar a res publica exigia o conhecimento instrumental da preparação do cidadão. Pautada na “pedagogia do cidadão” e no dogma da liberdade do ensino, a escola republicana tinha a finalidade de desenvolver a moral e as virtudes cívicas, prioridades educacionais do novo regime.

Apesar da ruptura republicana com a tradição do Imperial Colégio – mudanças de nomes: Instituto Nacional de Instrução Secundária, 1889; Ginásio Nacional, 1890; Externato Nacional Pedro II e Internato Nacional Bernardo Pereira de Vasconcelos, 1909; extinção do bacharelado; abolição de títulos e diplomas (1911); e das políticas de equiparações dos ginásios estaduais e colégios particularidades (1892 / 1895 e 1911 / 1927) –, a existência de um passado comum entre o Colégio e a Monarquia foi o ponto de partida da construção da memória institucional dentro da memória nacional.

A tradição reinventada e revivida nos rituais de lembrança sustentou a instituição escolar nas fases de crise de identidade de sua natureza elitista e esgotamento do modelo de educação clássica e humanística, como resultantes da modernização imposta pela República e pela indefinição da política educacional. Esse processo de reenquadramento da memória que se alimenta do material da história é, segundo Michel Pollack, um “trabalho que reinterpreta incessantemente o passado em função dos combates do presente e do futuro, no sentido [de reconstrução institucional] da identidade individual e grupal”.

Nas primeiras décadas republicanas, a luta pela volta da designação histórica ao colégio, empreendida pelo Instituto dos Bacharéis, comunidade afetiva de ex-alunos, e pela comunidade escolar como um todo, foi um processo de recriação formal da memória coletiva, onde o poder pessoal e aristocrático do patrono foi preservado no patrimônio cultural escolar como um atributo afetivo e garantia hipotética da qualidade de ensino, bem como sua presença moral e protetora de avaliador erudito, evocada nos rituais de lembrança, que constitui marca de seu zelo paternal e um dos fundamentos da “memória petrossegundense”.

O movimento de preservação da memória coletiva e do nome histórico da instituição conseguiu, em 1911, a adesão do mais ilustre ex-aluno do Ginásio Nacional da época, o Chefe de Governo Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, sobrinho do fundador da República, cujo apoio e aprovação da nova reforma de ensino do Ministro Rivadávia Correa foi fundamental não só para a “restauração do nome Colégio Pedro II ao estabelecimento reunificado”, mas também para a redefinição de seu papel de instituição oficial de ensino, em sua nova natureza e finalidade: “Art. 1º O Colégio Pedro II tem por fim proporcionar uma cultura geral de caráter essencialmente prático, aplicável a todas as exigências da vida e difundir o ensino das ciências e das letras, libertando-o da preparação subalterna de curso preparatório”.

Como parte das comemorações do 1º centenário da Independência do Brasil, o Governo republicano revogou o decreto de banimento da família real e autorizou o translado dos despojos mortuários de D. Pedro e D. Teresa Cristina do Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, para a Catedral de Petrópolis, cidade-capital de verão do Império, no Rio de Janeiro. A República do Café com Leite, carente de heróis nacionais e de popularidade, recebeu o ex-monarca como um “herói do passado”.

Também as comemorações do centenário natalício de D. Pedro II, em 1925, representaram uma aliança política em prol da reabilitação do monarca e não do regime monárquico, ambos mortos e descontextualizados. O dia 2 de dezembro, dia do aniversário de D. Pedro, foi declarado feriado nacional e comemorado com uma série de festejos populares, missas, desfiles, bandas e inaugurações de obras de arte. Estes festejos contribuíram para a formulação do mito do “Monarca magnânimo” fora da monarquia, perpetuando a imagem do “Monarca cidadão de barbas brancas de pé no meio da Quinta da Boa Vista”, e da representação oficial de “D. Pedro o intelectual de jaquetão surrado e chapéu preto sentado na Praça de Petrópolis”.

As instituições culturais ligadas ao seu patronato aproveitaram a oportunidade da comemoração para a produção de documentos-monumentos de celebração da história- -memória.

O Arquivo Nacional – a casa da memória oficial do país – organizou a “Publicação Temática: Infância e adolescência de D. Pedro II. Documentos interessantes publicados para comemoração do primeiro centenário do grande brasileiro ocorrido em 02 de dezembro de 1825”. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas do Archivo Nacional, 1926.

A produção do IHGB apresenta D. Pedro como um político de visão, capaz de manter a unidade nacional, ponto nodal da opção monárquica e do princípio da alteridade em relação às Repúblicas da América Hispânica; um estadista culto, capaz de arbitrar dissidências internas e conflitos externos; um monarca atento aos princípios liberais, e gestor da política educacional.

Como não poderia deixar de ser, o centenário natalício de D. Pedro foi comemorado junto com o aniversário de 88 anos de fundação do “seu-colégio”. Em Sessão Solene do dia 2 de dezembro de 1925, no Salão Nobre do Externato, a Colenda Congregação, o corpo docente e discente e os Bacharéis do passado e do presente receberam as mais conceituadas personalidades políticas, sociais e intelectuais do Rio de Janeiro, como o Ministro Affonso Penna Júnior, o Príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, neto de D. Pedro II, e o Conde de Affonso Celso, Reitor da Universidade do Brasil, dentre outras autoridades civis, militares e eclesiásticas.

Como autoridade máxima, o Presidente Vargas encerrou a solenidade parabenizando o Colégio pelo transcurso de seu centenário e acentuou o compromisso do governo de cumprir a diretriz cultural de formação integral e os objetivos da política educacional estadonovista representada pela escola de massa com qualidade.

Nesta temporalidade histórica o Colégio Pedro II teve sua função de estabelecimento padrão do ensino oficial ratificada pelo programa de política educacional do Governo Federal, através da reordenação de seu papel no âmbito da instrução pública.

O Colégio Pedro II patrocinou a geração de documentos monumentos – produção de uma história institucional desde a origem setecentista – especialmente elaborados como legados de história memória, que constituem a permanência institucional no tempo presente. São eles: “Memória Histórica do Colégio Pedro II. (1837-1937)” – Luiz Gastão d`Escragnolle Dória. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938. “Anuário Comemorativo do 1º Centenário da Fundação do Colégio Pedro II”. Raja Gabaglia (Org). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944. “O Colégio Pedro II cem anos depois” = “Álbum do Centenário”. Ignesil Marinho e Luiz Inneco (Coord). Comissão Organizadora dos Festejos Comemorativos do 1º Centenário (Patrocínio). Rio de Janeiro: s / d.

A recriação da memória coletiva possibilitou a institucionalização das práticas e representações sociais de resgate do “passado de glórias do Imperial Colégio” e a superação do esvaziamento do Ginásio Nacional no contexto de crise e indefinição político-educacional da República Velha.

Como patrimônio cultural, o “novo-velho” Colégio Pedro II teve sua origem imperial preservada pelo acervo de memória que guarda a história vivida pela comunidade escolar no tempo, operando com as categorias passado / presente, sempre em processo de atualização / expansão como “um elo vivido no eterno presente […] onde a memória está em permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento […] que se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto”, configurando a secular instituição de ensino como “lugar de memória” da História da Educação no Brasil.

Para salvaguardar todo o patrimônio histórico institucional foi criado pela Portaria da Direção Geral nº 1019, de 22 de agosto de 1995, o Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II – NUDOM.

O NUDOM constitui-se como um guardião da memória coletiva petrossegundense, tanto pelos documentos únicos referentes à história do Colégio, como pelas memórias de seus antigos alunos e professores, registradas em livros, depoimentos escritos e orais e imagens que retratam as marcas muito características de uma formação educacional. Representa um setor institucional de pesquisa interdepartamental do Colégio Pedro II, aberto ao público desde 1998, com os seguintes objetivos: “Preservar, tratar e divulgar o acervo documental, bibliográfico e iconográfico do Colégio Pedro II; Estimular o trabalho de pesquisa na comunidade escolar junto aos professores e alunos; Dar suporte ao trabalho de pesquisa de graduação e pós-graduação de instituições nacionais e estrangeiras”.

Para este dossiê temático foram selecionados seis artigos representativos dos estudos desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino em nível de Pós-Graduação. Os autores são: Ariclê Vechia (Universidade Tuiuti do Paraná), Karl Michael Lorenz (Sacred Heart University, Fairfield, Connecticut, EUA), Arlette Medeiros Gasparello (Universidade Federal Fluminense – UFF), Beatriz Boclin Marques dos Santos (Colégio Pedro II), Carlos Fernando Ferreira da Cunha Júnior (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF), Jefferson da Costa Soares (Pontifícia Universidade Católica – PUC-Rio), Márcio Ferreira Nery Corrêa (Universidade de São Paulo – USP), e Vera Lucia Cabana de Queiroz Andrade (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Colégio Pedro II – CPII, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB). O conteúdo dos trabalhos destaca o processo de construção do ensino das disciplinas História, Geografia, Sociologia e Educação Física, que compõem até hoje a base curricular das escolas brasileiras, a partir do contexto de escolarização proporcionado pelo Colégio Pedro II como personagem da História da Educação no Brasil.

Os trabalhos selecionados utilizaram essencialmente os documentos históricos que compõem o acervo do NUDOM, como fontes para suas pesquisas acadêmicas: Reformas da Instrução Pública, no Império e nos primeiros períodos da República; Programas de Ensino do Colégio desde sua criação; livros didáticos e teses de professores catedráticos; coleções de Manuscritos, como Atas da Congregação, Atas de Concurso, Livros de Matrícula, Livros de Nomeação de Professores e Funcionários. Estas são algumas das fontes primárias de pesquisa que compõem o acervo documental do NUDOM, essenciais para a fundamentação teórica dos trabalhos desenvolvidos por estudiosos da educação. O desenvolvimento dessas pesquisas caracteriza o NUDOM como centro interdepartamental de estudos e configura o Colégio Pedro II como “lugar de memória” da História da Educação Brasileira.

Vera Lucia Cabana de Queiroz Andrade – Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora aposentada de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Colégio Pedro II. Pesquisadora do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II. E-mail: [email protected]


ANDRADE, Vera Lucia Cabana de Queiroz. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 14, n.1, jan. / abr., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Ensino de História da Educação no espaço luso-brasileiro: Percursos institucionais, Currículos – Manuais Disciplinares / Cadernos de História da Educação / 2014

Este dossiê configura-se como um desdobramento das atividades desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Disciplina História da Educação (Gepedhe), com quatro artigos que comunicam resultados de estudos e pesquisas recentemente desenvolvidas por cinco pesquisadores brasileiros que se vinculam ao referido Grupo, provenientes de diferentes universidades brasileiras. Além disso, há dois artigos, redigidos por três pesquisadores vinculados a duas universidades portuguesas, Universidade de Lisboa e Universidade do Porto, que complementam o presente dossiê.

O quadro de estudos e pesquisas em torno da temática do Ensino de História da Educação tem se avolumado no âmbito da História da Educação, seja no âmbito nacional, mas, também, em âmbito internacional, sendo este dossiê uma colaboração que se soma as demais, em um esforço de contribuir para a consolidação de uma área que se julga essencial desenvolver no rol de investigações da área de História da Educação.

Neste dossiê, os artigos que o integram abordam o ensino de História da Educação, pela via de seus percursos institucionais, curriculares e dos manuais utilizados. Para efeito de sua organização, optou-se por apresentar os artigos conforme a ordem alfabética do nome de seus autores, conforme será apresentado a seguir.

O primeiro artigo foi redigido pelos professores doutores Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro e Sauloéber Tarsio de Souza, da Universidade Federal de Uberlândia. Sob o título, “Educação de mulheres nas páginas de manuais de História da Educação (1930–1970)”, eles apresentam uma discussão sobre a historiografia educacional brasileira, tendo como enfoque o modelo de educação feminina presente nas páginas de manuais amplamente utilizados no ensino de história da educação no século XX. Foram examinados seis manuais utilizados sobretudo em cursos de formação docente e especialmente difundidos entre normalistas e alunas dos institutos de educação e dos cursos de Pedagogia.

Carlos Monarcha, da Universidade Estadual Paulista, redigiu o segundo artigo apresentado neste dossiê, com o título “Um autor polígrafo. Um manual insólito. Raul Briquet e História da Educação: evolução do pensamento educacional”, no qual estudou as circunstâncias de produção de História da educação: evolução do pensamento educacional, manual de ensino publicado por Raul Briquet em 1946, professor da cadeira Educação Nacional do curso de Sociologia e Política da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.

O terceiro artigo, intitulado “As ideias de Rousseau nos manuais de História da Educação com autores estrangeiros publicados no Brasil (1939-2010), foi redigido por Décio Gatti Júnior que analisou doze obras de grande repercussão no país, nas quais os autores dos manuais didáticos analisados não poucas vezes se manifestaram favoravelmente ou desfavoravelmente ao pensamento de Rousseau, com a constatação de que apenas uma pequena parte dos manuais teve êxito no estabelecimento de relações entre as ideias políticas, educacionais e pedagógicas em Rousseau. Uma parte considerável privilegiou o pensamento rousseauniano como precursor do desenvolvimento futuro da psicologia do desenvolvimento humano, com destaque para a psique infantil.

Por fim, algumas obras foram muito críticas em relação as ideias educativas de Rousseau e as ideias liberais de modo geral, o que se deve ao corte analítico enviesado por forte crítica ideológica, seja a do espectro católico tradicional ou a do espectro comunista.

O quarto artigo, intitulado “O espaço curricular da História da Educação na Faculdade de Letras do Porto (1961-2013)”, redigido por Luís Alberto Marques Alves e Carla Luísa Santos Moreira, da Universidade do Porto, no qual constataram que a História da Educação na Faculdade de Letras do Porto percorreu um caminho longo, desde a sua integração no curso de Ciências Pedagógicas até ao seu regresso na atualidade.

Em seguida, Maria Helena Camara Bastos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta o quinto artigo deste dossiê que se intitula “Maria Lúcia de Arruda Aranha e a História da Educação”, analisa a produção, circulação e apropriação do manual de autoria de Maria Lúcia de Arruda Aranha, intitulado História da Educação, abordando a trajetória da autora e sua inserção no campo educacional; a história da obra – da materialidade ao conteúdo, da edição à circulação; e a contribuição para a disciplina.

Por fim, há o sexto e último artigo, escrito por Maria João Mogarro, da Universidade de Lisboa, intitulado “O ensino da História da Educação na Universidade de Lisboa (1950-2013)”, no qual procedeu a análise do espaço ocupado pela História da Educação na Universidade de Lisboa, na segunda metade do século XX e nos anos iniciais deste século, sendo que atualmente, é ministrada no Instituto de Educação, fazendo parte da licenciatura, do Mestrado em Ensino (que configura institucionalmente a legislação que consagrou o chamado processo de Bolonha, em 2007) e é oferecida também como um mestrado e um programa de doutoramento específicos, tendo construído um campo claramente definido de atuação.

Convida-se os colegas da área de História da Educação no Brasil e no exterior para a leitura deste dossiê vinculado ao tema Ensino de História da Educação, com a esperança de ser uma contribuição que some aos esforços de estudos e pesquisas que se tem visto atualmente, no sentido de permitir a melhor compreensão dos lugares institucionais e das formas tomadas pelo conteúdo da disciplina História da Educação.

Décio Gatti Júnior – Organizador


GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 13, n.2, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Dimensões laico e religiosas no espaço Luso-Brasileiro nos séculos XIX e XX / Cadernos de História da Educação / 2014

O presente dossiê reúne cinco artigos, que resultam de investigações concluídas e, agora, apresentam os desdobramentos dos trabalhos expostos durante o IX Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado na Universidade de Lisboa, em 2012. Na oportunidade os participantes da mesa coordenada, intitulada Dimensões Laico e Religiosas no Espaço Luso-Brasileiro nos Séculos XIX e XX, abordaram a questão da relação Estado e Igreja Católica, em Portugal e no Brasil, pela disputa da hegemonia sobre a escola, que vai do final do século XIX a meados do século XX. Este período pode ser apresentado como um processo histórico caracterizado por ciclos de hegemonia do Estado, sob a forma de Estado Liberal e Republicano, e por ciclos de convenção e procura de entendimento com a Igreja Católica.

Fruto dos debates promovidos à época e tendo em vista a perspectiva de estabelecer / constituir um espaço de reflexão sobre as relações entre Estado e Igreja nos dois “mundos”, europeu e americano, ou melhor, fazer aflorar informações e interpretações novas dos fenômenos históricos, em particular, daqueles relacionados às formas educativas, desenvolvidas nas suas inter-relações / implicações com o Estado, a sociedade e as instâncias religiosas.

Assim, o conjunto dos textos que compõem o dossiê promovem uma discussão sobre o panorama histórico-educativo das diferentes experiências educacionais vivenciadas no contexto luso-brasileiro, nos séculos XIX e XX, momento marcado por intensos embates entre a Igreja Católica e o Estado liberal que se consolidava na Europa e entrava no cenário político brasileiro, inspirador da educação moderna (pública, gratuita e laica) e pelos questionamentos da Igreja Católica sobre esses princípios. Em suma, busca-se a compreensão das aproximações / tensões entre essas duas instâncias na promoção da educação no interior da sociedade, bem como explicitar os interesses políticos, culturais, ideológicos, antropológicos e religiosos que permearam esses conflitos no campo educacional. Exatamente a relação entre Igreja, Estado e Educação no contexto Luso-Brasileiro que trata o presente dossiê, constituindo uma amostra variada das relações entre Igreja, Estado e Educação no referido contexto.

O artigo de José António Afonso, Simulação e Ofensiva – Movimentações Católicas e Reivindicação do Ensino da Religião no Curso Liceal (Portugal, década de 1890 ), abre o dossiê. Neste focaliza a Reforma do Ensino Secundário, de Jaime Moniz, em 1895, mas o centro da análise do artigo recai sobre os argumentos dos católicos em torno da necessidade de instituir a disciplina de Ensino Católico. Também abordando a realidade portuguesa, mas a partir da sua intersecção com a situação brasileira, Carlos Henrique de Carvalho e Luciana Beatriz de Oliveira Bar de Carvalho, no texto Intelectuais Católicos no Espaço Luso-Brasileiro: as Contribuições de Alceu de Amoroso Lima e António Durão (1930- 1950), examinam a participação desses intelectuais ligados ao pensamento católico, nos debates sobre a implantação das reformas educacionais promovidas pelo Estado no espaço Luso-Brasileiro, entre 1930 a 1950, tendo em conta os objetivos dos respectivos governos (português e brasileiro) para estabelece e consolidar um sistema nacional de ensino.

No caso do Brasil temos três trabalhos. O primeiro é de José Gonçalves Gondra e Maria de Lourdes da Silva, Educação da Inteligência, Educação da Vontade na Escrita da História da Educação Brasileira (1826-1929), que descreve os investimentos do polígrafo Afranio Peixoto, tendo em vista o papel doutrinário que ele concebe para a educação a qual, mesmo laica, se encontra eivada por uma espécie de liturgia científica. Aline de Morais Limeira em, Doutrina e Religião Christã: a Igreja Católica no Exercício do Magistério e na Seleção dos Mestres, procura analisar a ação e interferência da religião cristã e da Igreja Católica como força inscrita nas experiências do magistério, a partir dos processos de seleção, recrutamento e concessão de licença dos professores na Corte Imperial. Wenceslau Gonçalves Neto no artigo “Educação christã da mocidade”: Regulamentação da vida escolar em colégios católicos de Minas Gerais (1863-1911), aborda como se evidenciaram as preocupações disciplinares dos colégios católicos com a “educação christã da mocidade”, na segunda metade do século XIX e início do século XX, em Minas Gerais, envolvendo o atendimento tanto de órfãos pobres como de filhos de famílias abastadas, nos estatutos do Collegio de Macaúbas (Santa Luzia, 1863), do Episcopal Collegio do Bom Jesus (Congonhas do Campo, 1896), das Escolas Dom Bosco (Cachoeira do Campo, 1896) e do Colégio Marista Diocesano de Uberaba (1911).

Esse dossiê, intitulado Dimensões Laico e Religiosas no Espaço Luso-Brasileiro nos Séculos XIX e XX, traz um conjunto de artigos com importantes contribuições para o esclarecimento, com base em fundamentação histórica, dos problemas educacionais que ainda hoje estamos enfrentando no que tange às relações entre Igreja e Estado.

Carlos Henrique de Carvalho – Organizador


CARVALHO, Carlos Henrique de. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 13, n.1, jan. / jun., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Instrumentos do trabalho didático / Cadernos de História da Educação / 2013

Esta edição dos Cadernos de História da Educação traz a público um dossiê sobre instrumentos do trabalho didático. Dois são artigos assinados por pesquisadores que compõem o HISTEDBR de Mato Grosso do Sul, como resultados da pesquisa financiada pelo CNPq: “O manual didático como instrumento de trabalho nas escolas secundária e normal (1835-1945)”. A partir da ideia de centralidade dos instrumentos didáticos na relação educativa, os trabalhos analisam manuais didáticos, compêndios e apostilas adotadas no Colégio Pedro II e na Escola Normal de São Paulo, no período em questão.

A escolha dessas instituições pauta-se no preceito de que as mesmas representaram as formas mais desenvolvidas da educação no Brasil da segunda metade do século XIX e primeira do século XX, servindo, inclusive de referência ao sistema educacional brasileiro. Compõe ainda, o dossiê, um artigo que analisa material didático publicado e divulgado pelos anarquistas no Brasil, no primeiro quartel do século XX. Trata-se de material que pretendia oferecer suporte teórico às suas ações educacionais. O ultimo artigo a integrar o dossiê versa sobre os instrumentos didáticos primordiais para o ensino da língua alemã, formulados por Wolgang Ratke, em fins do século XVI e início do XVI. Ao todo são publicados quatro artigos, cuja ordem de apresentação é a que segue:

Abre o dossiê o artigo Ensino de língua e literatura no Brasil do século XIX: o Curso Elementar de Literatura Nacional e as Postillas de Rethorica e Poetica utilizados no Colégio Dom Pedro II, de autoria de Ana Aparecida Arguelho de Souza, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. O artigo analisa dois instrumentos formulados pelo cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, professor das cadeiras de Retórica, Língua Portuguesa e Literatura, no Colégio Pedro II. Na análise das postilhas demonstra-se, face à retórica aristotélica, o caráter reducionista que esse instrumento tão caro e necessário ao mundo antigo ganhou no cenário educacional do Brasil Império; no estudo do Curso Elementar… A preocupação foi a de demonstrar que o foco dos estudos literários no século XIX recaíam na história da literatura e não, propriamente, no texto literário. O cônego Pinheiro cumpriu papel determinante no desenvolvimento dos estudos linguístico-literários, sendo que a organização do ensino de literatura no Brasil em manuais didáticos contemporâneos ainda apresenta algumas marcas do seu trabalho pioneiro.

O segundo texto é Manuais de psicologia – instrumentos de trabalho utilizados na formação dos professores paulistas (1920-1940), de Samira Saad Pulchério Lancillotti, que buscou evidenciar a simplificação do trabalho didático materializado em dois manuais didáticos de Psicologia e o papel que cumpriram as Escolas Normais na consolidação desse campo do conhecimento, no Brasil. A análise dos manuais tem por vetor os conteúdos concernentes à aprendizagem e ao desenvolvimento humanos. Em um deles, o Psychologia, escrito por Antonio Sampaio Dória, na década de 1920, o autor discute a Psicologia enquanto ciência, seu objeto e métodos de investigação. A obra não trata, especificamente, da Psicologia aplicada à educação, mas da Psicologia em geral, de uma perspectiva mais elementar. O outro manual, Introdução à Psychologia Educacional, de Noemy da Silveira Rudolfer, publicado em1938, revela o amplo movimento histórico e a complexidade que marca esse novo campo de conhecimento e, nesse sentido, cumpre relevante papel na constituição da ciência psicológica no Brasil.

No artigo seguinte, “’Leitura que recomendamos – o que todos devem ler’: impressos didáticos e ensino de história nas escolas anarquistas”, José Damiro de Moraes traça um interessante painel sobre o movimento anarquista no Brasil e discute instrumentos de caráter didático utilizados pelo movimento em sua ação pedagógica, os quais, segundo o autor “ajudaram a organizar os trabalhadores em suas lutas cotidianas por melhores condições de vida”. O compêndio de História Universal de Clemencia Jacquinet, “que discutia os acontecimentos históricos e explicava o funcionamento da sociedade a partir da ótica do proletariado”, é um desses instrumentos. Analisa também o jornal A Voz do Trabalhador, “que trazia denúncia a partir do ponto de vista do sindicalismo revolucionário” e periódicos como O Início, de responsabilidade dos alunos da Escola Moderna, instituição emblemática do movimento anarquista O artigo analisa esse material procurando perceber as diferenças, similitudes e compromissos na formação individual e coletiva desejada pelo projeto libertário da construção de uma nova sociedade. A pesquisa contou com auxílio parcial da FAPEMIG.

No quarto artigo, Instrumentos do trabalho didático na Nova Arte de Ensinar de Ratke, Sandino Hoff analisa, nessa obra traduzida por ele do alemão para o português, os instrumentos de ensino utilizados pelo autor para a disseminação dos estudos da língua alemã. Hoff busca compreender na obra, à época em que floresceram as manufaturas, a relação educativa, instituída por um professor a ensinar a lição programada de cada dia a dezenas de alunos, reunidos numa classe única, sob a mediação dos instrumentos didáticos. O artigo traz a análise de materiais didáticos – livrinho de leitura, livro de ensino, livro escolar, guia, compêndio e tabela, tal como Ratke os concebeu e utilizou, como centralidade dos ensinos. O artigo conclui que os livros escolares, elaborados e utilizados pelo pedagogo alemão, destoam do manual comeniano. Constata-se, neles, a presença maior da subjetividade do que da objetivação, característica do manual comeniano. Explica-se essa manifestação dos livros escolares de Ratke, primeiramente, pela forma de elaboração, isso é, foram feitos pelos próprios professores da matéria; e, em segundo lugar, pelo tipo de livro confeccionado em moldes de fio condutor, deixando à subjetividade docente a tarefa de organizar os ensinos.

Ana Aparecida Arguelho de Souza

Samira Saad Pulchério Lancillotti

Organizadoras


SOUZA, Ana Aparecida Arguelho de; LANCILLOTTI, Samira Saad Pulchério. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 12, n.1, jan. / jun., 2013. Acessar publicação original [DR]

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A pesquisa em História da Educação em Perspectiva Internacional / Cadernos de História da Educação / 2011

Com a disponibilização deste segundo número do décimo volume dos “Cadernos de História da Educação”, comemoram-se os dez anos de existência do periódico. Assim, de uma publicação destinada inicialmente apenas a dar visibilidade ao que era produzido no âmbito do Núcleo de Estudos e Pesquisa em História e Historiografia da Educação (NEPHE-UFU), passou-se, ao longo dos anos, à publicação de um periódico científico que ganhou relevância no âmbito da área de História da Educação brasileira, com a divulgação, até o momento, de mais de duas centenas de artigos, com concentração em autores vinculados a instituições externas à Universidade Federal de Uberlândia, o que alcançou 161 artigos do total publicado, ou seja, 78%. Esse é um aspecto considerado fundamental para o alcance da maturidade da revista, o que lhe valeu, por exemplo, a prestigiosa classificação no extrato A2 no Qualis / CAPES (Ano Base: 2008), mas, também, seu reconhecimento no interior da comunidade acadêmica afeta à área de História da Educação.

Outro aspecto relevante diz respeito ao apoio conquistado junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) que, desde 2010, tem disponibilizado os recursos necessários para editoração e impressão do periódico, o que contribui sobremaneira para manutenção de sua adequada periodicidade e qualidade editorial.

A disponibilização do conteúdo integral de todos os números publicados em meio eletrônico, por meio do “Open Journal Systems” (OJS), a partir de parceria estabelecida entre a Universidade Federal de Uberlândia e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, também contribuiu efetivamente para a difusão da revista junto à comunidade científica da área no país e no exterior. Todavia, essa mesma disponibilização tornou praticamente impossível manter um conjunto consistente de assinantes e de compradores de números avulsos do periódico. Assim, a manutenção da edição impressa dos Cadernos de História da Educação tem servido, sobretudo, para sua disponibilização a 75 bibliotecas de importantes instituições de pesquisa e ensino no país (54) e no exterior (21), bem como para fazer frente às permutas estabelecidas com periódicos nacionais e estrangeiros e para distribuição aos autores e eventuais compradores, ainda fiéis à leitura de exemplares impressos.

Nesses dez anos, o periódico conseguiu indexação junto a cinco importantes repertórios, assegurando maiores facilidades para o seu acesso: Biblioteca Brasileira de Educação (BBE); “Directory of Open Access Journals” (DOAJ); “Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de America Latina, el Caribe, Espanã y Porgugal” (LATINDEX); Sumários de Revistas Brasileiras (SRB); Repertório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).

No intuito de celebrar essas conquistas, nesse número comemorativo, organizou-se dossiê que o integra, intitulado “A pesquisa em História da Educação em Perspectiva Internacional”. Para confecção desse dossiê, contou-se com a colaboração de pesquisadores de reconhecida competência na área de História da Educação de diferentes países, por meio da redação de artigos inéditos com informações sobre aspectos relevantes da pesquisa histórico-educacional desenvolvida em suas respectivas nações,

Originariamente, o texto de Gary McCulloch seria publicado apenas em inglês, mas, por sugestão de Carlos Eduardo Vieira, da Universidade Federal do Paraná, ao qual é importante agradecer, optou-se por publicar uma edição bilíngüe do artigo, de modo a dar maior difusão ao texto do autor nos meios acadêmicos nacionais. Nessa direção, também é necessário agradecer a contribuição dada por Osvaldo Freitas de Jesus, professor aposentado da Universidade Federal de Uberlândia e, atualmente, vinculado à Universidade Presidentes Antônio Carlos que se responsabilizou pela tradução para o português do texto em referência.

Além do dossiê, este número contém doze artigos provenientes de demanda espontânea que foram aprovados no processo de avaliação. Redigidos por autores oriundos de diferentes instituições universitárias brasileiras e estrangeiras, contêm a comunicação de resultados de investigação no âmbito da História da Educação que interessam ao conjunto de pesquisadores da área. Dentre eles, destaca-se a tradução realizada por Maria Helena Câmara Bastos, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente vinculada à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, de texto de autoria de Boris Noguès, do “Service d’histoire de l’éducation”, do “Institut National de Recherche Pédagogique” (Paris, França). Há, ainda, duas resenhas de obras significativas da área que constam do presente número.

É importante agradecer novamente a confiança depositada pelos pesquisadores brasileiros e estrangeiros do campo da História da Educação na Comissão Editorial, no Conselho Editorial e no Conselho Consultivo dos “Cadernos de História da Educação”, sobretudo, por meio da contínua submissão de contribuições acadêmicas que avalizam a qualidade do periódico e que tem garantido seu sucesso entre os leitores da área de História da Educação.

Sem dúvida, é preciso agradecer também, a determinação demonstrada continuamente pelos dirigentes da Faculdade de Educação que, desde 2002, mantêm firme apoio à publicação da revista, sendo que foi fundamental a confiança da diretora à época da criação, professora Conceição Maria da Cunha, à qual se agradece publicamente. Além disso, tem sido fundamental ainda o apoio dos dirigentes e funcionários da Editora e da Gráfica da Universidade Federal de Uberlândia, bem como, dos dirigentes e funcionários da Fundação de Apoio Universitário da UFU e da Gráfica Composer. Por fim, os agradecimentos se estendem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) que, desde 2010, apóia financeiramente a publicação do periódico.

Décio Gatti Júnior – Presidente da Comissão Editorial


GATTI JÚNIOR, Décio. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 10, n.2, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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A História da Educação em Minas Gerais: investigações recentes / Cadernos de História da Educação / 2008

Este sétimo volume dos Cadernos de História da Educação é dedicado a Profa. Dra. Ana Maria Casasanta Peixoto, falecida recentemente. Uma das mais importantes historiadoras da educação do Brasil que, com sua costumeira generosidade, tenacidade e amizade, incentivou a criação desse periódico e integrou seu Conselho Consultivo desde seu primeiro número em 2002. Colega da área que deixa saudade e um exemplo de dedicação acadêmica que deve inspirar a todos que se dedicam a pesquisa, ao ensino e a divulgação científica na área de História da Educação.

Coincidentemente, neste novo volume encontram-se publicados oito artigos que formam o Dossiê –A História da Educação em Minas Gerais: investigações recentes, com autores provenientes de diferentes grupos de pesquisa em História da Educação instalados em diferentes Instituições de Educação Superior do Estado de Minas Gerais, sendo que a influência da Profa. Dra. Ana Maria Casasanta Peixoto está presente em todos estes grupos.

O texto “Uma nova instituição de ensino na cidade de Juiz de Fora e a visão da imprensa (1907-1908)”, de Dalva Carolina (Lola) de MenezesYazbeck e Marília Neto Kappel da Silva, provem da Universidade Federal de Juiz de Fora. Denilson Santos de Azevedo, Regilane Gava Lovato e Gilzânea Zanetti, da Universidade Federal de Viçosa, redigiram o texto “A voz dos estudantes de Agronomia impressa nas páginas do jornal “O Bonde” (1945-1963)”. Da Universidade Federal de São João del-Rei, recebemos a colaboração intitulada “Na periferia da cidade, à margem dos processos educativos: memórias de experiências escolares de moradores do bairro de São Geraldo em São João del-Rei”, de Laerthe de Moraes Abreu Junior, Michele Longatti Fernandes e Ellen Pereira Neves. Maria do Carmo Xavier, da Pontifícia Universidade Católica, redigiu o texto “Indagando a tradição: a pesquisa educacional e o projeto político do desenvolvimento mineiro (1956 / 1966)”. Em seguida, o texto “A psicologia educacional e o ensino da paixão, do prazer e da dor (Minas Gerais – 1920-1960)” de Maria Madalena Silva de Assunção que também é vinculada a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e também a Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações. Da Universidade Federal de Ouro Preto, Rosana Areal de Carvalho, Lívia Carolina Vieira e Leandro Silva de Paula, colaboraram com o texto “O cotidiano e a política no espaço escolar: o relatório de 1911 do Grupo Escolar de Mariana”. Em o “ ‘Templo do bem’: o Grupo Escolar de Uberaba na escolarização republicana (1908 – 1918)”, Rosângela Maria Castro Guimarães e Décio Gatti Júnior apresentam texto no campo da História das Instituicoes Educacionais. Por fim, da Universidade Estadual de Montes Claros, Sarah Jane Alves Durães e Fátima Rita Santana Aguiar colaboram com o texto “Os grupos escolares mineiros como lugar de disciplina e higienização dos corpos”.

Sem dúvida, este conjunto de textos selecionados dos trabalhos apresentados no IV Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação em Minas Gerais, realizado em maio de 2007, em Juiz de Fora / MG e que foram adensados e complementados por seus autores, revela a pujança que a pesquisa e a produção científica encontra em Minas Gerais, bem como o espalhamento dessas práticas desde a capital, Belo Horizonte, até cidades importantes de diversas regiões de Minas Gerais.

O presente volume também é integrado por onze artigos científicos inéditos, com dois artigos internacionais, seis com autores de diferentes e importantes instituições de educação superior brasileiras e, ainda, três artigos com autores da UFU. Assim, este volume alcança um percentual de 79% de artigos com autores de fora da universidade e 21% de artigos escritos por pesquisadores da própria UFU, o que demonstra a plena aceitação da comunidade de pesquisadores em História da Educação do Brasil e do exterior em relação ao periódico.

Por fim, há três resenhas publicadas nesse volume de obras escritas entre 2004 e 2007 e que ganham relevância internacional, nacional e regional pelas temáticas tratadas, em uma articulação que contempla preocupações recentes de pesquisadores brasileiros.

Novamente, agradecemos à confiança depositada nos integrantes da Comissão e no Conselho Editorial dos Cadernos de História da Educação seja pelo envio de colaborações para avaliação seja no sucesso que o periódico tem encontrado nos leitores da área de História da Educação. Sem dúvida, a disponibilização do periódico no Open Journal System (SEER, no Brasil) ampliará ainda mais a penetração do periódico no Brasil e no exterior.

Décio Gatti Júnior – Editor


GATTI JÚNIOR, Décio. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 7, jan. / dez., 2008. Acessar publicação original [DR]

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Tempo de cidade, lugar de escola e de cultura no espaço Portugal-Brasil: dinâmicas institucionais, axiológicas, culturais, simbólicas e de formação de professores / Cadernos de História da Educação / 2006

Este é o quinto número dos “Cadernos de História da Educação”, referente ao ano de 2006. Ano importante para a área de História da Educação e, particularmente, para o Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação da Universidade Federal de Uberlândia, pois o VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado entre 17 e 20 de abril de 2006, esteve sob a responsabilidade do NEPHE / UFU e reuniu mais de um mil pesquisadores da área, com aproximadamente seiscentos trabalhos apresentados, consubstanciando-se como o evento com maior número de inscritos e de trabalhos apresentados em História da Educação até o momento no país.

Soma-se a essa constatação, o fato do periódico “Cadernos de História da Educação” ter sido classificado, em sua primeira avaliação junto a CAPES, realizada em 2005, como “Nacional C”, o que trouxe contentamento aos idealizadores e responsáveis pelo periódico desde sua origem em 2002, o que atesta, simultaneamente, os acertos da gestão acadêmica do periódico no período, bem como as possibilidades de melhoria que se colocam, com vistas a obtenção de classificação ainda melhor em futuras avaliações.

Deste quinto número constam treze colaborações. Onze delas com autores vinculados a diferentes instituições de educação superior do Brasil e duas com autores vinculados a importantes universidades de Portugal, o que reitera a confiança e a credibilidade que o periódico tem alcançado junto a comunidade de pesquisadores em Historia da Educação na comunidade ibero-americana.

Na seção de artigos há quatro colaborações. A primeira, intitulada “Análise da construção histórica da figura “heróica” do padre José de Anchieta”, com autoria de Flávio Massami Martins Ruckstadter e Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, apresenta leitura instigante de personagem importante da educação colonial da América Portuguesa. Em “A formação da educação escolar pública em Sorocaba — um balanço preliminar”, os colegas Jorge Luis Cammarano González e Wilson Sandano, da Universidade de Sorocaba, incursionam sobre a História da Educação na localidade de Sorocaba, em São Paulo. Em seguida, a importante pesquisadora em História da Educação, Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, apresenta o artigo “Durmeval Trigueiro Mendes: idéias, propostas e atuação”, no qual aborda pontos centrais da trajetória desse destacado educador brasileiro. Por fim, Sandra Cristina Fagundes de Lima, vinculada ao NEPHE / UFU, apresenta reflexão teórico-metodológica ancorada em experiência de pesquisa vivenciada, sob o título “As fotografias como fonte para a história das escolas rurais em Uberlândia (1933-1959)”.

Há dois dossiês que integram o presente número dos Cadernos. O primeiro, intitula-se “Imprensa de educação e ensino, educação popular e formação do campo pedagógico na primeira metade do século XX” que inclui três colaborações de experientes pesquisadores do Brasil e de Portugal, a saber: “Periódicos educacionais portugueses: circulação e apropriação de modelos culturais”, de Ana Clara Bortoleto Nery, da Universidade Estadual Paulista; “Imprensa de educação e ensino, universidades populares e renovação pedagógica”, de Joaquim António de Sousa Pintassilgo, da Universidade de Lisboa; “Imprensa de educação e ensino: fonte privilegiada para uma História da Educação do trabalhador urbano em Portugal no começo do século XX”, de Luiz Carlos Barreira, da Universidade de Sorocaba.

O segundo dossiê, “Tempo de cidade, lugar de escola e de cultura no espaço Portugal-Brasil: dinâmicas institucionais, axiológicas, culturais, simbólicas e de formação de professores”, comunica resultados de projeto coletivo de pesquisa. Integram esse dossiê cinco colaborações, incluindo: “Tempo de cidade, lugar de escola”, de Eurize Caldas Pessanha e Fabiany de Cássia Tavares Silva, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; “A escola na cidade: a criação das instituições escolares em Uberlândia, Minas Gerais na primeira metade do séc. XX”, de autoria de Giseli Cristina do Vale Gatti, Geraldo Inácio Filho e Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia; “Escola, culturas, cidades — as dinâmicas religiosas e a modernidade”, de José António Afonso, da Universidade do Minho, em Portugal; “Cidade e instituição escolar nas trajetórias e práticas educativas de professoras”, de Diva Otero Pavan e Laurizete Ferragut Passos, respectivamente, do Centro Universitário Padre Anchieta e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; “Arquitetura, escola e memória: o edifício do Liceu de Humanidades de Campos”, com autoria de Silvia Alicia Martinez, Marcelo Carlos Gantos e Maria Amelia de Almeida Pinto Boynard, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Encerra o presente número a resenha redigida por Angela Cristina Santos acerca da obra do pesquisador Wagner Rodrigues Valente, intitulada “Uma História da Matemática escolar no Brasil (1730-1930)” que se insere entre as melhores obras publicadas no âmbito da História das Disciplinas Escolares.

Novamente, a comissão editorial agradece aos membros do Conselho Editorial e Consultivo nas atividades que garantem a manutenção do periódico, aos colegas da área de História da Educação que tem enviado colaborações aos Cadernos História da Educação, aos dirigentes e profissionais da Editora e da gráfica da Universidade Federal de Uberlândia que tem garantido cada vez mais qualidade aos números dos Cadernos publicados.


Comissão Editorial. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 5, jan. / dez., 2006. Acessar publicação original [DR]

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Imprensa de educação e ensino, educação popular e formação do campo pedagógico na primeira metade do século XX / Cadernos de História da Educação / 2006

Este é o quinto número dos “Cadernos de História da Educação”, referente ao ano de 2006. Ano importante para a área de História da Educação e, particularmente, para o Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação da Universidade Federal de Uberlândia, pois o VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado entre 17 e 20 de abril de 2006, esteve sob a responsabilidade do NEPHE / UFU e reuniu mais de um mil pesquisadores da área, com aproximadamente seiscentos trabalhos apresentados, consubstanciando-se como o evento com maior número de inscritos e de trabalhos apresentados em História da Educação até o momento no país.

Soma-se a essa constatação, o fato do periódico “Cadernos de História da Educação” ter sido classificado, em sua primeira avaliação junto a CAPES, realizada em 2005, como “Nacional C”, o que trouxe contentamento aos idealizadores e responsáveis pelo periódico desde sua origem em 2002, o que atesta, simultaneamente, os acertos da gestão acadêmica do periódico no período, bem como as possibilidades de melhoria que se colocam, com vistas a obtenção de classificação ainda melhor em futuras avaliações.

Deste quinto número constam treze colaborações. Onze delas com autores vinculados a diferentes instituições de educação superior do Brasil e duas com autores vinculados a importantes universidades de Portugal, o que reitera a confiança e a credibilidade que o periódico tem alcançado junto a comunidade de pesquisadores em Historia da Educação na comunidade ibero-americana.

Na seção de artigos há quatro colaborações. A primeira, intitulada “Análise da construção histórica da figura “heróica” do padre José de Anchieta”, com autoria de Flávio Massami Martins Ruckstadter e Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, apresenta leitura instigante de personagem importante da educação colonial da América Portuguesa. Em “A formação da educação escolar pública em Sorocaba — um balanço preliminar”, os colegas Jorge Luis Cammarano González e Wilson Sandano, da Universidade de Sorocaba, incursionam sobre a História da Educação na localidade de Sorocaba, em São Paulo. Em seguida, a importante pesquisadora em História da Educação, Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, apresenta o artigo “Durmeval Trigueiro Mendes: idéias, propostas e atuação”, no qual aborda pontos centrais da trajetória desse destacado educador brasileiro. Por fim, Sandra Cristina Fagundes de Lima, vinculada ao NEPHE / UFU, apresenta reflexão teórico-metodológica ancorada em experiência de pesquisa vivenciada, sob o título “As fotografias como fonte para a história das escolas rurais em Uberlândia (1933-1959)”.

Há dois dossiês que integram o presente número dos Cadernos. O primeiro, intitula-se “Imprensa de educação e ensino, educação popular e formação do campo pedagógico na primeira metade do século XX” que inclui três colaborações de experientes pesquisadores do Brasil e de Portugal, a saber: “Periódicos educacionais portugueses: circulação e apropriação de modelos culturais”, de Ana Clara Bortoleto Nery, da Universidade Estadual Paulista; “Imprensa de educação e ensino, universidades populares e renovação pedagógica”, de Joaquim António de Sousa Pintassilgo, da Universidade de Lisboa; “Imprensa de educação e ensino: fonte privilegiada para uma História da Educação do trabalhador urbano em Portugal no começo do século XX”, de Luiz Carlos Barreira, da Universidade de Sorocaba.

O segundo dossiê, “Tempo de cidade, lugar de escola e de cultura no espaço Portugal-Brasil: dinâmicas institucionais, axiológicas, culturais, simbólicas e de formação de professores”, comunica resultados de projeto coletivo de pesquisa. Integram esse dossiê cinco colaborações, incluindo: “Tempo de cidade, lugar de escola”, de Eurize Caldas Pessanha e Fabiany de Cássia Tavares Silva, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; “A escola na cidade: a criação das instituições escolares em Uberlândia, Minas Gerais na primeira metade do séc. XX”, de autoria de Giseli Cristina do Vale Gatti, Geraldo Inácio Filho e Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia; “Escola, culturas, cidades — as dinâmicas religiosas e a modernidade”, de José António Afonso, da Universidade do Minho, em Portugal; “Cidade e instituição escolar nas trajetórias e práticas educativas de professoras”, de Diva Otero Pavan e Laurizete Ferragut Passos, respectivamente, do Centro Universitário Padre Anchieta e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; “Arquitetura, escola e memória: o edifício do Liceu de Humanidades de Campos”, com autoria de Silvia Alicia Martinez, Marcelo Carlos Gantos e Maria Amelia de Almeida Pinto Boynard, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Encerra o presente número a resenha redigida por Angela Cristina Santos acerca da obra do pesquisador Wagner Rodrigues Valente, intitulada “Uma História da Matemática escolar no Brasil (1730-1930)” que se insere entre as melhores obras publicadas no âmbito da História das Disciplinas Escolares.

Novamente, a comissão editorial agradece aos membros do Conselho Editorial e Consultivo nas atividades que garantem a manutenção do periódico, aos colegas da área de História da Educação que tem enviado colaborações aos Cadernos História da Educação, aos dirigentes e profissionais da Editora e da gráfica da Universidade Federal de Uberlândia que tem garantido cada vez mais qualidade aos números dos Cadernos publicados.


Comissão Editorial. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 5, jan. / dez., 2006. Acessar publicação original [DR]

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História das Disciplinas Escolares / Cadernos de História da Educação / 2004

Neste terceiro número do periódico “Cadernos de História da Educação” estão apresentados 15 trabalhos científicos, sendo dois deles com autores de Portugal e os demais de autores brasileiros provenientes de nove diferentes instituições de educação superior do país, fato este que novamente atesta a confiança depositada pela comunidade acadêmica ao empreendimento editorial levado a termo pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação da Universidade Federal de Uberlândia.

Inicialmente há quatro trabalhos na seção de artigos. No primeiro, de autoria de António Gomes Alves Ferreira, da Universidade de Coimbra, em parceria com Ariclê Vechia da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Tuiuti, a temática se refere a um estudo comparativo sobre o ensino secundário disseminado no Séc. XIX em Portugal e no Brasil. Em seguida, há o texto sobre o pensamento educacional de Dewey de autoria de Claudemir Galiani. Sandra Cristina Fagundes de Lima procede a uma reflexão histórica sobre a escola rural em Uberlândia. Por fim, Vera Lúcia Abrão Borges apresenta texto sobre a educação profissionalizante em Uberlândia, no período de 1946 a 1983.

Por uma feliz coincidência foi possível aglutinar nesse terceiro número dos Cadernos, um dossiê sobre a temática da História das Disciplinas Escolares, no qual está abordado sobre este prisma o ensino de Ciências Físico-Químicas nos liceus portugueses de meados do Séc. XX em Portugal, de Carlos Alberto da Silva Beato, o qual enviou texto por recomendação do colega e membro do Conselho Editorial, Joaquim Pintassilgo, bem como o ensino de Língua Portuguesa no Brasil, em parceria de Ioná Vieira Guimarães Venturi e Décio Gatti Júnior. Wagner Rodrigues Valente encerra o dossiê com reflexão sobre o campo da pesquisa em disciplinas escolares em perspectiva histórica, tratando especificamente do ensino da matemática escolar.

Este número fecha o dossiê sobre História das Instituições Escolares que teve sua primeira parte, publicada no número anterior dos Cadernos de História da Educação, contando, nessa oportunidade, com a publicação de nove artigos sobre a temática, sendo que parte deles aqui reunidos ainda é fruto de uma seleção de trabalhos, devidamente adensados e ajustados às normas do periódico, apresentados durante o II Congresso de Ensino e Pesquisa em História da Educação em Minas Gerais, bem como há artigos que nos foram enviados diretamente e que após a aprovação e dada a proximidade temática, foram incorporados ao referido dossiê.

Permanecemos no aguardo do envio de colaborações dos colegas brasileiros e do exterior e no firme propósito de colaborar na disseminação com qualidade e agilidade dos novos conhecimentos e das reflexões teóricas e metodológicas produzidas no âmbito da História da Educação.

Comissão Editorial


Comissão Editorial. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 3, jan. / dez., 2004. Acessar publicação original [DR]

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História das Instituições Escolares (II) / Cadernos de História da Educação / 2004

Neste terceiro número do periódico “Cadernos de História da Educação” estão apresentados 15 trabalhos científicos, sendo dois deles com autores de Portugal e os demais de autores brasileiros provenientes de nove diferentes instituições de educação superior do país, fato este que novamente atesta a confiança depositada pela comunidade acadêmica ao empreendimento editorial levado a termo pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação da Universidade Federal de Uberlândia.

Inicialmente há quatro trabalhos na seção de artigos. No primeiro, de autoria de António Gomes Alves Ferreira, da Universidade de Coimbra, em parceria com Ariclê Vechia da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Tuiuti, a temática se refere a um estudo comparativo sobre o ensino secundário disseminado no Séc. XIX em Portugal e no Brasil. Em seguida, há o texto sobre o pensamento educacional de Dewey de autoria de Claudemir Galiani. Sandra Cristina Fagundes de Lima procede a uma reflexão histórica sobre a escola rural em Uberlândia. Por fim, Vera Lúcia Abrão Borges apresenta texto sobre a educação profissionalizante em Uberlândia, no período de 1946 a 1983.

Por uma feliz coincidência foi possível aglutinar nesse terceiro número dos Cadernos, um dossiê sobre a temática da História das Disciplinas Escolares, no qual está abordado sobre este prisma o ensino de Ciências Físico-Químicas nos liceus portugueses de meados do Séc. XX em Portugal, de Carlos Alberto da Silva Beato, o qual enviou texto por recomendação do colega e membro do Conselho Editorial, Joaquim Pintassilgo, bem como o ensino de Língua Portuguesa no Brasil, em parceria de Ioná Vieira Guimarães Venturi e Décio Gatti Júnior. Wagner Rodrigues Valente encerra o dossiê com reflexão sobre o campo da pesquisa em disciplinas escolares em perspectiva histórica, tratando especificamente do ensino da matemática escolar.

Este número fecha o dossiê sobre História das Instituições Escolares que teve sua primeira parte, publicada no número anterior dos Cadernos de História da Educação, contando, nessa oportunidade, com a publicação de nove artigos sobre a temática, sendo que parte deles aqui reunidos ainda é fruto de uma seleção de trabalhos, devidamente adensados e ajustados às normas do periódico, apresentados durante o II Congresso de Ensino e Pesquisa em História da Educação em Minas Gerais, bem como há artigos que nos foram enviados diretamente e que após a aprovação e dada a proximidade temática, foram incorporados ao referido dossiê.

Permanecemos no aguardo do envio de colaborações dos colegas brasileiros e do exterior e no firme propósito de colaborar na disseminação com qualidade e agilidade dos novos conhecimentos e das reflexões teóricas e metodológicas produzidas no âmbito da História da Educação.

Comissão Editorial


Comissão Editorial. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 3, jan. / dez., 2004. Acessar publicação original [DR]

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História das Instituições Escolares (I) / Cadernos de História da Educação / 2003

Temos a satisfação de apresentar este segundo número do periódico “Cadernos de História da Educação” que resulta do esforço do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação (NEPHE) em oportunizar a socialização da produção no campo da História e Historiografia da Educação no Brasil.

Neste número foram contemplados dezesseis trabalhos, distribuídos nas seções de memorialistas, de artigos internacionais e nacionais, e de uma primeira parte de um dossiê sobre História das Instituições Escolares. Destes, mais de setenta por cento provêem de autores externos à Universidade Federal de Uberlândia, inclusive do exterior, o que atesta a confiança depositada pela comunidade acadêmica ao empreendimento editorial levado a termo pelo NEPHE.

Inaugurando a seção memorialistas temos o texto do Sr. Antônio Pereira da Silva, conhecido na cidade de Uberlândia pela dedicação à sua história e à narrativa dos fatos relevantes de sua gente. O trabalho resultou de sua conferência no interior do I Ciclo de Palestras em História da Educação, promovido pelo NEPHE, na Faculdade de Educação da Universidade federal de Uberlândia.

Joaquim Pintassilgo, da Universidade de Lisboa e membro do Conselho Editorial deste periódico, colabora, neste número, com artigo acerca do associativismo docente no ensino liceal de Portugal, na perspectiva das representações sociais. Texto importante para pesquisadores no país que se dedicam aos estudos das representações sociais, bem como ao exame da realidade do ensino em Portugal do inicio do Séc. XX.

Neste número estão também quatro artigos de autores brasileiros em temas variados da História da Educação, incluindo estudos sobre o pensamento educacional, assistência estudantil, as diferentes instâncias promotoras do ensino, escola rural, ensino profissionalizante, leitura de professores e legislação de ensino.

Por fim, publicamos a primeira parte de um dossiê sobre História das Instituições Escolares, com dez artigos, no intuito de contribuir para a compreensão de sua multifacetada expressão, seja em relação aos seus vínculos com a história local, regional, ou, quando é o caso, nacional.

Internamente, as instituições escolares têm revelado uma dinâmica organizativa, curricular, pedagógica, administrativa, compreendidas sempre como mediações que se interpõem entre professores, alunos, gestores e pais.

Mas esta dimensão interna, inerentemente institucional, não pode ser captada senão a partir e em torno do sentido das instituições em seus vínculos com a sociedade a que servem, seja na perspectiva de recepção das marcas da cultura em que se inserem, seja na disseminação de uma cultura escolar, expressa pela pedagogia, pelo currículo, pela organização escolar, pela disciplina.

Dessa forma, enquanto parcialidade, a instituição escolar somente ganha sentido numa perspectiva de totalidade, na qual está inserida. Os diferenciados artigos aqui reunidos são frutos, em parte, de uma seleção de trabalhos, devidamente adensados e ajustados às normas do periódico, apresentados durante o II Congresso de Ensino e Pesquisa em História da Educação em Minas Gerais, realizado em Uberlândia, MG, entre 6 e 9 de maio de 2003.

Embora o dossiê se refira às instituições escolares mineiras, o mosaico que se apresenta do ponto de vista das orientações é revelador do pluralismo ideológico expresso pelas diferentes instituições, em municípios de regiões variadas do mesmo Estado de Minas Gerais. Salientam-se também as diversas periodizações, bem como os diferentes níveis de educação escolar e, sobretudo, as diferentes instâncias promotoras do ensino contempladas.

Esperamos, com esta publicação, estar atendendo às necessidades de divulgação científica da área da História da Educação no país. Aproveitamos também para agradecer aos pesquisadores brasileiros e estrangeiros que têm confiado seus textos para publicação nos “Cadernos de História da Educação”, bem como a todos que têm adquirido ou se tornado assinantes desse empreendimento editorial do NEPHE / UFU.

Comissão Editorial


Comissão Editorial. Editorial. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 2, jan. / dez., 2003. Acessar publicação original [DR]

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História da Educação | UFU | 2002

Cadernos de Historia da Educacao 2 História da Educação

O periódico Cadernos de História da Educação (Uberlândia, 2002-) está vinculado à área de História da Educação, cobrindo uma série de temáticas próprias dessa área, o que inclui: História das Instituições Escolares, História das Disciplinas Escolares, História do Pensamento Educacional, Imprensa e História da Educação, Historiografia da Educação etc.

[Publicado pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia], o periódico divulga os resultados de estudos e de pesquisas de caráter científico realizados por pesquisadores brasileiros e estrangeiros afetos à temática da História e Historiografia da Educação, bem como promover o intercâmbio de ideias e de novos conhecimentos entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros vinculados a instituições acadêmico-científicas que se dediquem à investigação no campo da História e da Historiografia da Educação.

Periodicidade quadrimestral.

Acesso livre.

ISSN 1982-7806 (Online)

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