Bases Nacionais e o Ensino de História embates, desafios e possibilidades na/ entre a Educação Básica e a formação de professores | Educar em Revista | 2021

Seminario do Curso Pro Docencia em Educacao Infantil Ensino de História
Detalhe do cartaz “Seminário do Curso Pró-Docência em Educação Infantil“, UFSC, 2015.

INTRODUÇÃO

Com o objetivo de atender a determinações da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 – LDB (BRASIL, 1996), debates foram realizados ao longo dos últimos anos em torno de definições para orientar a construção dos currículos da Educação Básica em escolas brasileiras. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) elaborada e recentemente aprovada (BRASIL, 2017) apresenta permanências e, também, algumas mudanças em relação ao que historicamente tem sido produzido em nosso país quanto a discussões curriculares. Sua elaboração e implementação envolvem questões epistemológicas de cada área de conhecimento, questões pedagógicas e questões políticas. Além disso, a Base foi aprovada em um contexto histórico e político conturbado, em que sua discussão e sua construção coletiva foram seriamente prejudicadas, quando não, ausentes.

A BNCC, apropriada nos Estados e Municípios, gerou e vêm gerando diretrizes curriculares para orientar a ação dos professores nas escolas, a elaboração de exames de avaliação institucional e de acesso às instituições de ensino superior, a produção de livros didáticos por meio dos editais do Programa Nacional do Livro Didático e, também, a formação de professores. Esta última, também recentemente (dezembro/2019), teve aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e uma Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica. Leia Mais

Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores II / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2020

Neste ano tão diferente, tão inédito, trazemos à luz mais um número da HISTEMAT. O último de 2020 e também o derradeiro dessa forma de publicação. Considerando os novos modos de edição das revistas científicas, também a HISTEMAT terá publicação contínua, tendo um número por ano, a partir de 2021. E que ele seja para todos nós, um Feliz Ano Novo!

Em meio à pandemia e às suas nefastas consequências, encerrados em suas casas e apartamentos, os pesquisadores muito vêm trabalhando, elaborando artigos e colocando os resultados de seus estudos à apreciação da comunidade, da seara da História da educação matemática. Haja vista a enorme quantidade de artigos que foram submetidos sob a temática da constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores em perspectiva histórica. O número de contribuições excedeu em muito as expectativas. Assim, seguindo as normativas da quantidade de artigos por número em torno de 12, foram recebidos mais do dobro desse limite. Dessa forma, esta edição da HISTEMAT reúne textos aprovados para publicação na edição anterior, mas que por excesso, foram trazidos para este Volume 6, número 3, de 2020.

A Editoria da HISTEMAT muito agradece o trabalho realizado pelos Editores Convidados Professores Eliene Barbosa Lima, da UEFS, Bahia e David Antonio da Costa, da UFSC, Santa Catarina. O empenho desses professores, em grande parte, explica a grande quantidade de artigos submetidos.

Em específico este número reúne estudos de pesquisadores estrangeiros e brasileiros que se dedicaram a temáticas diversas sob a ótica da História da educação matemática. Formação de professores é assunto dominante dos estudos; há, ainda, pesquisas que trouxeram à vista o papel de determinados personagens na produção de novos saberes – os experts; também é dominante nos artigos, as apropriações de bases teórico-metodológicas vindas da Universidade de Genebra. Em razão disso, o último artigo deste número da HISTEMAT reproduz texto em tradução para o português de pesquisadores daquela universidade.

Boa leitura!

O Editor


VALENTE, Wagner Rodrigues. Editorial. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.6, n.3, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores (I) / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2020

Quando fomos convidados pelo editor chefe da HISTEMAT para a tarefa de organizar o número temático de 2020, sentimos o peso da responsabilidade de executar um bom trabalho dada a qualidade das publicações presentes nesta revista. A HISTEMAT tem se consolidado como um importante periódico da área da História da educação matemática e nesse sentido cumpre importante papel na disciplinarização do campo científico (Hoffmann, Costa & Valle, 2019).

Como resposta ao convite formulado, decidimos então propor o tema Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores. Ao iniciarmos as divulgações no âmbito internacional e nacional, rapidamente tivemos o acolhimento de pesquisadores comprometendo-se a encaminhar propostas. Isso demonstrou o reconhecimento pelos investigadores do espaço assumido pela HISTEMAT no campo científico da História da educação matemática. Agradecemos aqueles que responderam a esta chamada. Procuramos identificar, dentre os artigos submetidos, os que melhor apresentaram aderência a proposta.

Os artigos apresentados neste número contemplam divulgações de pesquisas e estudos de autores em âmbito internacional e nacional. Como resultado deste processo, apresentamos neste Número Temático doze artigos dos quais quatro foram escritos por pesquisadores estrangeiros e oito foram escritos por pesquisadores brasileiros.

Dos quatro primeiros artigos estrangeiros podemos observar distintas abordagens metodológicas abrangendo temas relacionados a história do saber matemático em espaços de ensino e formação, particularmente em Portugal, Espanha, México e Venezuela. Privilegiou-se a diversidade geográfica não necessariamente vinculados a uma periodização no desenvolvimento de seus estudos ou mesmo no tratamento do nível de ensino.

O primeiro artigo intitulado CONSTRUINDO O CONHECIMENTO PEDAGÓGICO DO CONTEÚDO EM TEMPOS DA MATEMÁTICA MODERNA: as múltiplas facetas da lógica de autoria de José Manuel Matos e Teresa Maria Monteiro intenta caracterizar os significados atribuídos ao termo “lógica” em tempos da reforma da Matemática Moderna. As análises apresentadas se apoiam sobre um corpus de 26 trabalhos produzidos pelos estagiários do Liceu Pedro Nunes em Lisboa entre 1956 e 1968. Esta instituição, no período considerado, era responsável pela formação de professores de matemática do ensino secundário em Portugal.

A MATEMÁTICA PARA ENSEÑAR EN LOS LIBROS DE AURELIO RODRÍGUEZ CHARENTÓN: la numeración y las operaciones é o artigo produzido por Encarna Sánchez-Jiménez e tem como objetivo caracterizar a matemática para ensinar nos livros indicados deste autor. O prof. Charentón está ligado diretamente ao processo de disciplinarização da metodologia da matemática. Essa narrativa se dá nos espaços de formação dos professores normalistas que preparavam futuros professores para ensinar matemática nas escolas primárias espanholas em tempos de difusão da escola nova na década de 1930.

Retrocedendo no tempo, mas mantendo-se na temática dos saberes matemáticos, o terceiro artigo escrito por Alberto Camacho Ríos tem como título EL POSITIVISMO MEXICANO DEBATE SOBRE LOS FUNDAMENTOS DEL CÁLCULO INFINITESIMAL A FINALES DEL SIGLO XIX. Neste trabalho, o autor relata o debate sobre a fundamentação filosófica do cálculo infinitesimal engendrado no Centro de Ensino preparatório de matemática por dois professores que promoveram sua criação em 1867. A Escola Nacional Preparatória é o cenário da discussão presente no texto e esta instituição se desdobra contemporaneamente na Universidade Nacional Autónoma de México.

O quarto artigo, de autoria de Walter O. Beyer K, intitula-se EL CÁLCULO INFINITESIMAL EN LA FORMACIÓN DE INGENIEROS Y SU PROFESORADO EN EL SIGLO XIX VENEZOLANO. Tomando a história de um saber matemático do ensino superior, este texto apresenta resultados de uma investigação sobre o processo que conduziu a incorporação do Cálculo Infinitesimal nos estudos superiores da Venezuela por alguns dos seus docentes na Academia Matemática de Caracas (AMC), na Universidade e Escola de Engenharia. Para este empreendimento o autor se utilizou de outros estudos históricos e bibliográficos, de catálogos comerciais de livros e de bibliotecas, dos informes da AMC, assim como tomou as obras de cálculo infinitesimal que circularam na Venezuela no século XIX.

A partir das contribuições recebidas pelos pesquisadores brasileiros, podemos destacar que no Brasil há, também, um crescente movimento de historiadores da educação matemática preocupados em construir histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores, sob uma variedade de abordagens teóricas, metodológicas e de estilos narrativos, alinhados com certo fazer de uma história dita cultural.

Nessas historiografias, há espaços não apenas para os fatos regulares, mas, ainda, para episódios que fogem ao comum em um dado tempo histórico, sem nenhuma preocupação com grandes sínteses generalistas que tudo explicam independentemente do contexto sociocultural e suas peculiaridades (Vainfas, 1997). Seguem essa ótica as pesquisas nacionais que compõem este número temático.

De fato, tais pesquisas evidenciaram, em primeiro plano, que os saberes matemáticos não foram constituídos no ensino e na formação do professor de forma homogênea, estanque e inflexível nas mais diversas localidades brasileiras em cada tempo histórico-pedagógico (Valente, 2016). Houve, nesse sentido, uma pluralidade de saberes matemáticos, sedimentados por certos ideários de educação e por contextos socioculturais como sendo necessários e importantes para cada uma das dimensões das modalidades de ensino e de formação do professor que ensinaria matemática, em distintos períodos históricos.

Sob o contexto das escolas normais, que formavam o professor que iria lecionar nas escolas primárias brasileiras (Tanuri, 2000), os saberes matemáticos foram analisados em três diferentes cenários.

Nesse sentido, no quinto texto intitulado OS SABERES A ENSINAR DESENHO PARA A ESCOLA NORMAL DO MARANHÃO: um encaminhamento pelas finalidades de ensino, 1905-1934, o autor Marcos Denilson Guimarães direciona sua investigação para as finalidades do saber Desenho na formação dos professores normalistas maranhenses durante a primeira metade do século XX.

Os dois textos seguintes refletem uma política de expansão da educação baiana para o interior voltada para a formação do professor na década de 1950. Assim, ambos os textos foram construídos no mesmo espaço geográfico, isto é, no estado da Bahia e possuem periodizações semelhantes. Contudo, revelam cenários diferentes, tanto em termos de localidades, bem como em relação às categorias administrativas das instituições analisadas.

Com efeito, o texto SABERES RELACIONADOS AO ENSINO DE MATEMÁTICA NO CURSO PEDAGÓGICO DO GINÁSIO DE JEQUIÉ de Marly Gonçalves da Silva e Janice Cassia Lando direciona-se para os saberes matemáticos, mais precisamente, para aqueles presentes nas disciplinas de Matemática, Estatística e Desenho, no período de 1954 a 1966. Tais saberes, faziam parte das práticas pedagógicas dos professores formadores do Curso Pedagógico do Ginásio de Jequié, uma instituição de iniciativa privada criada no município de Jequié.

Já o trabalho de Wesley Ferreira Nery, Larissa Pinca Sarro Gomes e Martha Raíssa Iane Santana da Silva intitulado SABERES RELACIONADOS AO ENSINO DE MATEMÁTICA NO CURSO PEDAGÓGICO DO GINÁSIO DE JEQUIÉ contempla o ensino dos saberes aritméticos na Escola Normal Teodoro Sampaio no período de 1954 a 1963. Trata-se de um estabelecimento público, localizado na cidade de Santo Amaro, outra cidade do interior da Bahia.

O oitavo artigo, A MATEMÁTICA PROFISSIONAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES, escrito por Nara Vilma Lima Pinheiro, também aborda os saberes profissionais em um espaço específico de formação do professor que iria ensinar matemática em escolas primárias. No entanto, sua análise sobre a constituição e sistematização de uma matemática profissional própria na formação do docente foi circunscrita ao Instituto de Educação do Rio de Janeiro, criado na década de 1930. Esse Instituto, diferentemente ao modelo de formação que predominava até aquela conjuntura nas escolas normais, trouxe uma estruturação fundamentada nos saberes advindos das ciências da educação a partir de uma preocupação com o desenvolvimento infantil.

De outra parte, os autores Jonathan Machado Domingues e Denise Medina de Almeida França, no nono texto deste número temático da HISTEMAT, intitulado DIDÁTICA ESPECIAL DA MATEMÁTICA: em busca dos saberes da profissão docente fazem, do mesmo modo, uma investigação dos saberes da profissão docente, mas debruçados na obra de Manuel Jairo Bezerra, intitulada “Didática Especial da Matemática”, publicada em 1958.

Para além dos saberes matemáticos na formação do professor, essa edição temática, ainda, contemplou trabalhos que tiveram um enredo construídos em torno dos saberes matemáticos presentes em duas modalidades de ensino: primário e industrial.

Na ambiência do ensino primário, Elenice de Souza Londron Zuin conduz a análise de seu artigo FRAÇÕES NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DE SANTA CATARINA: um olhar sobre planos de aula da década de 1940 para o ensino de frações a partir de planos de aula de aritmética para o 3º e 4º anos, elaborados por docentes de escolas do Estado de Santa Catarina, nos anos de 1941 e 1942.

Outro estudo, nessa mesma modalidade de ensino, foi realizado por Nícolas Giovani da Rosa e Elisabete Zardo Búrigo. Esses autores no texto APRENDER E DECORAR: aulas de matemática da Escola Evangélica Duque de Caxias nos anos 1960 realizam uma investigação sobre as aulas de matemática ministradas na Escola Evangélica Duque de Caxias, Rio Grande do Sul, nos anos de 1960, por meio de entrevistas com ex-alunas e uma professora dessa Escola e, ainda, fazendo uso de um Relatório de Estágio escrito no ano de 1967.

Por último, finalizando o rol de artigos deste número temático da HISTEMAT tem-se o texto de Oscar Silva Neto e David Antonio da Costa intitulado SABERES MATEMÁTICOS NO ENSINO INDUSTRIAL: o caso dos números complexos e incomplexos, produzido na esfera do ensino industrial brasileiro, criado mediante promulgação do Decreto-Lei nº 4073, de 30 de janeiro de 1942. Em tal texto, os autores analisam o ensino dos números complexos e incomplexos (não entendidos como números imaginários) nos cursos industriais básicos brasileiros por meio da obra “Caderno de Matemática”, de Arlindo Clemente, publicada no ano de 1955.

Assim, a partir desse universo de 12 pesquisas, foi possível perceber que os saberes matemáticos passaram por processos de transformações a depender dos objetivos educacionais e do contexto sociocultural que vigoravam em cada tempo histórico, nas mais diversas localidades internacional e nacional. Sob essa ótica, ratifica-se, portanto, uma compreensão problematizadora acerca da pluralidade de histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores.

Boa leitura!

Referências

HOFFMANN, Y. T.; Costa, D. A. & Valle, I. R. (2019). Transversalidade entre Bourdieu e Fleck: campo e produção do conhecimento científico. Educar em Revista, (78),283-301. https: / / www.redalyc.org / articulo.oa?id=1550 / 155062213016

tanuri, L. M. (2000, maio / ago.). História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, (14), 61-88. https: / / www.scielo.br / pdf / rbedu / n14 / n14a05

VAINFAS, R. (1997). História das mentalidades e história cultural. In: Cardoso, C. F.; Vainfas, R. (Org.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, p. 127-162.

VALENTE, W. R. (2016). Sobre a investigação dos saberes profissionais do professor de matemática: algumas reflexões para a pesquisa. Caminhos da Educação Matemática em Revista (online), 6 (1), 1-13. https: / / aplicacoes.ifs.edu.br / periodicos / index.php / caminhos_da_educacao_matematica / iss ue / view / 16

David Antonio da Costa

Eliene Barbosa Lima

Os organizadores,


COSTA, David Antonio da; LIMA, Eliene Barbosa. Editorial. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.6, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Políticas públicas para a formação de professores no Brasil: história e projetos em disputa / Revista Trilhas da História / 2019

O presente dossiê, articulado às atuais demandas para as políticas públicas, objetiva promover o debate sobre as políticas de formação de professores em curso no sistema educacional brasileiro conferindo destaque para a contextualização histórica dos processos e projetos formativos.

As políticas educacionais oficializadas pela Lei nº 13.005, de julho de 2014, que aprova do Plano Nacional de Educação de 2014 a 2024, a Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que altera a LDB de 1996, promovendo a denominada reforma do Ensino Médio e a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), precipitam um amplo debate no sistema educacional brasileiro, sobre as políticas de formação de professores. Debates que se materializam na incidência direta por profundas mudanças na formação de professores, que precisam ser analisadas à luz da história enquanto projetos em disputa.

O artigo que abre o dossiê, “Impactos da BNCC na formação de professores de História para os Anos Iniciais” de autoria de Carollina Lima, discute a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o que se estabeleceu na versão final para a área de História, especialmente para os anos iniciais, bem como os possíveis impactos do documento na formação de professores nos cursos de Pedagogia.

Outro texto que aborda a BNCC é de autoria de Marcelo Pires, sob título “Apontamentos para o professor de história que atua no ensino religioso, partindo da BNCC e do RCG”. O autor analisa o Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul, de 2018, norteado pela BNCC de 2017, para tanto faz uma abordagem histórica da legislação e no segundo momento discute as possibilidades teórico-metodológicas para o professor de História que ministre Ensino Religioso.

Ainda quanto ao Ensino de História e as políticas públicas, Eduardo Knack e Lidiane Friderichs, em “Considerações sobre as novas tecnologias, o ensino de história e as eleições de 2018”, abordam as novas tecnologias a partir de conceitos como tempo, espaço, supermodernidade e regimes de historicidade. A utilização das redes sociais nas eleições brasileiras, em 2018, é observada como momento que impõe a necessidade de se pensar a disseminação e uso da informação nas novas tecnologias.

Na sequência temos o texto de Tiago Benfica e Eliamar Folle, “Fincando tábua no chão: a viabilização da escola para Peixoto de Azevedo (1979-1985)”. Os autores apresentam a história da construção de uma escola em forma de mutirão, no interior do Mato Grosso, bem como o processo de institucionalização da mesma e de formação do quadro docente, e a importância desse movimento dos moradores para prover a cidade de uma unidade escolar.

O último texto desta seção, “A formação profissional no SENAI de Três Lagoas-MS à luz da teoria do capital humano: histórias de sujeição as demandas do capital”, assinado por Tarcísio Pereira e Maysa de Sá, analisa o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-SENAI com vistas a compreender a educação profissionalizante desenvolvida por este sistema. Com foco no SENAI de Três Lagoas, os autores analisam a relação da Educação Profissional com a teoria do capital humano na formação para o mercado de trabalho.

Michelle Fernandes Lima – Professora Doutora (UNICENTRO, Campus de Irati)

Paulo Fioravante Giareta – Professor Doutor (UFMS, Campus de Três Lagoas)

Irati-PR e Três Lagoas-MS, dezembro de 2019


LIMA, Michelle Fernandes; GIARETA, Paulo Fioravante. Apresentação. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.9, n.17, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Manuais disciplinares, discursos pedagógicos e formação de professores (Séculos XIX e XX) / Revista História da Educação / 2019

Neste dossiê estão reunidos artigos em que os autores envidaram esforços para compreender os aspectos instituintes presentes nos diferentes discursos pedagógicos que fundamentaram a ideia de renovação educacional desde o final do Século XIX e durante o Século XX. Para tanto, tomam como fonte privilegiada diferentes manuais disciplinares que foram muito utilizados nos processos de formação de professores internacionalmente, ainda que a análise recaia particularmente naqueles em circulação no Brasil e em Portugal, o que ocorreu, destacadamente em Escolas Normais, mas, também, em cursos superiores de formação de professores. Nessa direção, os manuais disciplinares elencados como fonte nos diferentes artigos propostos para integrar o presente dossiê incluem os de História da Educação, Psicologia Educacional, Didática, Pedagogia e Metodologias e Práticas de Ensino.

Assim, pode-se perceber que parte considerável dos manuais disciplinares publicados em uma primeira fase, que se estende até meados do Século XX comportava um ideário cientificista, evolucionista e higienista que estava acompanhado do estabelecimento e da disseminação de um código moral laico eminentemente cívico, considerado fundamental para o progresso das diferentes nações e para o alcance dos fins gerais da Humanidade. Em um segundo momento, a ênfase recaiu na dimensão científica e crítica, o que se estende até os tempos atuais. Com certeza este esforço discursivo e formativo contido nos manuais disciplinares encontrou forte ressonância, mas também resistência, o que se espera deixar evidenciado com o presente dossiê.

O primeiro artigo que integra o dossiê recebeu o título “Os temas da evolução e do progresso nos discursos da Psicologia educacional e da História da Educação”. Foi redigido por Ana Laura Godinho Lima, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Este artigo realiza a análise de um conjunto de manuais de psicologia educacional e história da educação destinados à formação docente, cujo objetivo é identificar as aproximações e os distanciamentos entre essas disciplinas no que se refere à presença dos temas da evolução e do progresso. Incide sobre manuais publicados no Brasil entre 1934 e 1972 e inspira-se nos escritos de Foucault sobre a análise do discurso. Nos manuais dessas disciplinas, observou-se a recorrência da associação entre o desenvolvimento da criança e o progresso social, frequentemente descritos à luz da teoria da recapitulação. Essa teoria não foi, contudo, objeto de consenso, mas constituiu foco de controvérsia, representando um aspecto do debate entre educadores escolanovistas e católicos no período considerado.

Sob o título “A medicalização da Pedagogia: discursos médicos na construção do discurso pedagógico e nos manuais de formação de professores em Portugal (Séculos XIX-XX)”, António Carlos da Luz Correia, professor convidado do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, apresenta um ensaio, no qual procura problematizar as modalidades por meio das quais o discurso médico foi incorporado no discurso pedagógico, naturalizando-o, no período que decorre entre o final do século XIX e as três décadas iniciais do século XX, em Portugal. Do ponto de vista empírico, recorre a pesquisas realizadas previamente, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores. Pretende abrir pistas para discussão da Escola e do seu papel nas transformações sociais atuais, buscando desocultar as modalidades de apagamento dos fatores sociais, culturais e políticos que intervêm historicamente nos desafios da problemática educativa escolar.

Geraldo Gonçalves de Lima e Décio Gatti Júnior, vinculados, respectivamente, ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro e a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, redigiram o artigo intitulado, “Educação, sociedade e democracia: John Dewey nos manuais de História da Educação e / ou Pedagogia (Brasil, Século XX), no qual comunicaram os resultados de investigação no âmbito da História da Educação, particularmente na temática da História Disciplinar, cujo foco recaiu sobre as ideias de John Dewey disseminadas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, traduzidos e publicados no Brasil, entre 1939 e 2010, que tiveram ampla circulação em escolas normais e cursos superiores de formação de professores. As fontes incluíram bibliografia de referência e doze manuais de História da Educação. Os resultados apontam para a percepção de quatro ênfases nas abordagens sobre Dewey: herança hegeliana; marcos evolucionistas; relação indivíduo / sociedade (industrial e democrática); emergência da psicologia experimental.

No artigo intitulado “As ideias de Durkheim nos manuais de História da Educação: cientificidade e moralidade laica na vida social e na escola”, Katiene Nogueira da Silva (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo) e Giseli Cristina do Vale Gatti (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba), analisam as ideias de Durkheim contidas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, publicados no Brasil entre 1939 e 2010. Perceberam que alguns manuais, apesar de não terem mencionado Durkheim diretamente, abordaram ideias próximas de seu pensamento. Os demais, que foram maioria, mencionaram Durkheim em intensidades diferentes. Neles, Durkheim foi tomado simultaneamente como fonte de informações e de análises, mas, também como portador de uma perspectiva original e influente de educação, a pedagogia sociológica. Além disso, foi possível perceber a existência de críticas a seu pensamento, provenientes, sobretudo, dos autores de manuais vinculados ao campo católico.

Vivian Batista da Silva e Denice Barbara Catani, ambas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, fecham o presente dossiê, com o artigo intitulado, “Metáforas e comparações que ensinam a ensinar: a razão e a identidade da Pedagogia nos manuais para professores (1873-1909), no qual perguntam se estariam os manuais para professores mais próximos de um livro ou de um receituário? A partir desta questão, analisam cinco títulos publicados entre 1873 e 1909, a saber: o Compêndio de Pedagogia (Pontes, 1873); Pedagogia e metodologia, de C. Passalacqua (1887); Lições de Pedagogia, de V. Magalhães (1900); Compêndio de Pedagogia, de D. Vellozo (1907); Tratado de Metodologia, de F. Carvalho (1909). Buscaram conhecer como são feitas as referências à Pedagogia, sua razão e identidade. Nesses textos, ela aparece ora como ciência, ora como arte. Analisando as metáforas usadas para orientar os professores, é possível identificar imagens a partir das quais os saberes pedagógicos são definidos e apresentados como objetos de leitura para o magistério.

Esperamos que a leitura do presente dossiê oportunize tanto a percepção de uma temática importante relacionada aos esforços de formação de professores, no qual formas de pensar o pedagógico, as instituições escolares e a relação com a sociedade se destaquem, mas, também, por outro lado, assinalar a fertilidade em tomar os manuais disciplinares como fonte privilegiada para conhecer as finalidades pedagógicas que disputaram o público docente e presidiram sua formação desde o final do Século XIX, com avanço na quase totalidade do Século XX.

Denice Barbara Catani – Professora Titular aposentada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] http: / / orcid.org / 0000-0001-6019-8969

Décio Gatti Júnior – Professor Titular de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Doutor em Educação (História e Filosofia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Beneficiário do Edital Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: [email protected] http: / / orcid.org / 0000-0002-5876-6733


CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 23, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Manuais disciplinares, discursos pedagógicos e formação de professores (Séculos XIX e XX) | História da Educação | 2019

Neste dossiê estão reunidos artigos em que os autores envidaram esforços para compreender os aspectos instituintes presentes nos diferentes discursos pedagógicos que fundamentaram a ideia de renovação educacional desde o final do Século XIX e durante o Século XX. Para tanto, tomam como fonte privilegiada diferentes manuais disciplinares que foram muito utilizados nos processos de formação de professores internacionalmente, ainda que a análise recaia particularmente naqueles em circulação no Brasil e em Portugal, o que ocorreu, destacadamente em Escolas Normais, mas, também, em cursos superiores de formação de professores. Nessa direção, os manuais disciplinares elencados como fonte nos diferentes artigos propostos para integrar o presente dossiê incluem os de História da Educação, Psicologia Educacional, Didática, Pedagogia e Metodologias e Práticas de Ensino.

Assim, pode-se perceber que parte considerável dos manuais disciplinares publicados em uma primeira fase, que se estende até meados do Século XX comportava um ideário cientificista, evolucionista e higienista que estava acompanhado do estabelecimento e da disseminação de um código moral laico eminentemente cívico, considerado fundamental para o progresso das diferentes nações e para o alcance dos fins gerais da Humanidade. Em um segundo momento, a ênfase recaiu na dimensão científica e crítica, o que se estende até os tempos atuais. Com certeza este esforço discursivo e formativo contido nos manuais disciplinares encontrou forte ressonância, mas também resistência, o que se espera deixar evidenciado com o presente dossiê. Leia Mais

Formação de Professores: tecnologias e educação a distância | EmRede – Revista de Educação a Distância | 2016

Prezado(a) Leitor(a),

O volume 03 da Revista EmRede traz o dossiê Formação de Professores – tecnologias e educação a distância. Quando pensamos este dossiê, imaginávamos estas duas temáticas como essenciais à pesquisa sobre educação a distância no contexto hoje vivido pelo Brasil. Contudo, fomos surpreendidos pela preponderância do tema Tecnologias e EaD, o que explica seu destaque nos artigos aqui publicados.

Assim, os cinco primeiros artigos desse número da Revista EmRede têm o professor como foco. O primeiro artigo discute a influência da dimensão tecnológica das IES no desenvolvimento de competências docentes para a EaD. O segundo artigo faz um levantamento sobre as motivações de professores de Línguas Estrangeiras num curso na modalidade a distância. Já o terceiro apresenta os desafios e avanços dos professores quando há uma inversão da lógica da aprendizagem na sala de aula, utilizando-se ferramentas de EaD. O quarto artigo traz uma análise dos desafios enfrentados por professores e alunos no processo ensino-aprendizagem em um curso de graduação a distância. O último artigo dessa seção mostra como é necessário a intervenção ativa do professor-tutor num curso a distância para que ocorra a autonomia da aprendizagem de estudantes no que se refere à significação e à contextualização do conhecimento. Leia Mais

Formação de Professores de História | Revista Latino-Americana de História | 2013

Esta Edição Especial foi organizada com os artigos referentes à XIX Jornada de Ensino de História e Educação, ocorrida na Universidade Federal de Santa Maria, em agosto, de 2013. O conjunto de artigos é resultados das apresentações de Mesas, Conferências e Oficinas, bem como, das Comunicações realizadas durante o evento.

O evento acontece anualmente e é promovido pelo Grupo de Trabalho (GT) de Ensino de História e Educação, da ANPUH-RS, desde 1996, com o objetivo de socializar a produção de professores e pesquisadores da área do ensino da história e construir um espaço de reflexão acerca das relações entre História e Educação. Para a realização do evento uma instituição de ensino superior é escolhida a partir de reuniões de trabalho com as coordenações e representantes do GT, com o objetivo de promover e sediar a jornada. Neste ano, o evento ocorreu no mês de agosto, tendo como instituição anfitriã a Universidade Federal de Santa Maria. Leia Mais

Educação, Formação de Professores e TIC | Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais | 2013

 


Referências desta apresentação

Apresentação. Revista EDaPECI – Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.13, n.3, 2013. Sem acesso ao original [DR]

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