The age of empathy: nature’s lessons for a kinder society – DE WAAL (SY)

DE WAAL, Frans. The age of empathy: nature’s lessons for a kinder society. London: Souvenir Press, 2011. Resenha de: TRINDAD, Gabriel Garmendia da; MARIN, Ana Paula Foletto. Synesis, Petrópolis, v.9, n.1, p.180-195, jan./jul., 2017.

De produções cinematográficas1 a discursos políticos2, ‘empatia’ está se tornando um termo cada vez mais comum no vocabulário popular. O termo em questão tem sido igualmente empregado e discutido em uma miríade de estudos filosóficos e do campo da psicologia. Porém, a despeito de seu uso contínuo e popularização, tanto por acadêmicos quanto por profissionais de outras áreas, ainda não existe um acordo acerca de como, precisamente, a noção de ‘empatia’ deveria ser entendida e definida – o que tem resultado em um número ainda maior de publicações. Em sua obra The Age of Empathy: Nature’s Lessons for a Kinder Society, o primatólogo e antropólogo holandês Frans de Waal3 convida os leitores a refletirem sobre a ideia de ‘empatia’, bem como o seu papel e importância nas vidas de humanos e não-humanos.

No primeiro capítulo de The Age of Empathy, de Waal articula uma ideia que será constante até o final do livro, a de que é preciso perceber e compreender as relações sociais, enquanto alvo de problematização da biologia, de modo diferente do habitual. Há de se abandonar as costumeiras suposições de caráter negativista sobre a biologia e adotar uma visão mais positiva quanto aos seres humanos. Por exemplo, um pensamento ainda bastante comum no campo das ciências humanas é o conhecido Homo homini lupus (“O homem é o lobo do homem”). Para de Waal, tal máxima hobbesiana não poderia estar mais longe da verdade. Isso porque ela não passa de uma afirmação enganosa sobre os seres humanos a qual se fundamenta em falsas suposições acerca de outra espécie. Em realidade, lobos são seres que mantêm profundos laços sociais. A sua sobrevivência não depende da eliminação de competidores ou do ato de manter os alimentos obtidos individualmente para si mesmos, mas sim de cooperação e partilha. Tais comportamentos são próprios de diversas espécies predadoras que caçam em bando, o que inclui primatas e, por consequência, seres humanos.

Humanos são animais de grupo. Por um lado, revelam-se como altamente cooperativos, sensíveis a ações injustas e, na maioria das vezes, amantes da paz. Por outro lado, agem por incentivo, de maneira a atentar, por exemplo, para o status pessoal, limites do território e a segurança de suas fontes de alimento. Ou seja, há tanto um aspecto social quanto um aspecto egoísta na espécie humana. Uma sociedade que ignora essas tendências, assevera de Waal, não pode ser tomada como ideal. Assim, se “o homem é o lobo do homem”, ele o é em todos os sentidos, e não apenas no negativo. A humanidade não teria sobrevivido até os dias de hoje se os seus ancestrais fossem seres socialmente indiferentes e distantes.

Ainda no capítulo inicial, de Waal propõe-se a discutir e refutar três mitos referentes aos seres humanos e suas relações sociais em geral. O primeiro deles é o de que os ancestrais dos atuais seres humanos governavam abertamente a savana africana. Conforme esclarece de Waal, embora os antepassados da espécie humana se encontrassem em uma posição bem mais elevada do que a maioria dos outros primatas na cadeia alimentar, eles estavam muito longe do topo. Eles provavelmente deveriam ter vivido em contínuo terror de outros animais predadores, como hienas gigantes ou tigres-dente-de-sabre. Em decorrência disso, os ancestrais humanos tinham de se contentar com horários de caça secundários.

O segundo mito debatido por de Waal está intimamente ligado à questão da segurança – a primeira e principal razão para a vida social. O mito em pauta concerne à ideia de que a sociedade humana foi erigida voluntariamente por seres humanos autônomos. Em outros termos, os seres humanos são animais inteligentes que decidiram abrir mão de algumas de suas liberdades individuais para adotar uma vida em comunidade. De acordo com essa perspectiva, os ancestrais humanos levavam vidas descompromissadas de modo a não precisar uns dos outros. Porém, por serem criaturas altamente competitivas, o custo dos sucessivos conflitos entre si se tornou insustentável. Assim, a vida em sociedade se revelou como uma solução sensata.

Para de Waal, essa forma de perceber as relações sociais entre seres humanos é um mero resquício de um pensamento pré-darwiniano, o qual está assentado sobre uma visão completamente equivocada da espécie humana. Do mesmo modo que ocorre para muitos outros mamíferos, os diferentes ciclos da vida humana abrangem estágios nos quais os seres humanos dependem uns dos outros. A espécie humana descende de uma longa linhagem de primatas que viviam em grupos e que apresentavam um elevado grau de interdependência. A necessidade de segurança moldou tanto a vida social de humanos quanto a dos demais primatas. A predação, por exemplo, é um fenômeno que força os indivíduos a se unirem. Deveras, pode-se dizer que quanto mais vulnerável é uma espécie, maiores são as agregações entre seus integrantes. Esse, segundo de Waal, é o real ponto de partida para problematizações acerca da sociedade humana; e não abordagens fundamentalmente desvinculadas da realidade biológica e evolutiva, as quais retratam os seres humanos como criaturas exageradamente livres e destituídas de quaisquer obrigações sociais.

O terceiro mito a ser explorado é o de que a espécie humana tem travado guerras desde os seus primórdios. Ou seja, a agressão é compreendida como a marca registrada da humanidade – a belicosidade estaria escrita no DNA humano. Como expõe de Waal, essa perspectiva se tornou bastante popular após as devastações resultantes da Segunda Guerra Mundial. Os seres humanos passaram a ser tomados como “símios assassinos” quando comparados a outros primatas – que eram vistos como “pacifistas”. O estadista britânico Winston Churchill (1874 – 1965), por exemplo, acreditava que, salvo alguns breves momentos de paz, a guerra é ininterrupta nesse mundo. Segundo de Waal, essa é outra visão que se afasta enormemente da realidade humana.

Embora existam evidências arqueológicas de que os primeiros assassinatos individuais entre membros da espécie humana tenham sucedido há centenas de milhares de anos, o mesmo não é válido para quaisquer possíveis morticínios em larga escala ocorridos antes da revolução agrícola. Como argumenta de Waal, em decorrência das interdependências entre grupos, os ancestrais da espécie humana provavelmente nunca entrariam em uma guerra de grandes proporções até terem acumulado uma considerável soma de valores por meio da agricultura. Tal estratégia resultaria em mais espólios após ofensivas a grupos rivais. Em última instância, de Waal sugere que, para os ancestrais humanos, a guerra sempre se apresentou como uma opção. Muito possivelmente, eles seguiam um modelo similar aos das atuais tribos caçador-coletoras, i.e., intercalar longos períodos de paz com breves momentos de disputa violenta – uma abordagem que visivelmente contradiz o pensamento churchilliano.

No segundo capítulo, de Waal concentra seus esforços na construção de uma crítica ao darwinismo social. Este se caracteriza por ser uma tentativa de aplicar certos conceitos e princípios de ordem biológica para explicar e justificar a superioridade de determinados indivíduos em contextos sociais ou políticos. A vida é descrita como uma contínua batalha. Aqueles que podem perseverar não deveriam ser obstruídos por outros que não possuem o que é necessário para sobreviver. A gênese de tal posicionamento pode ser traçada, mais notavelmente, aos escritos do filósofo inglês Herbert Spencer (1820 – 1903). Ele foi o formulador original da ideia de “sobrevivência do mais apto”, a qual ainda hoje permanece sendo erroneamente referida a Charles Darwin (1809 – 1882).

No tocante ao darwinismo social, sentimentos como a compaixão, ou outras demonstrações empáticas não são bem vistos. Isso porque comportamentos altruístas supostamente impedem que a natureza siga o seu curso. A caridade, bem como qualquer tentativa de buscar a igualdade social, por exemplo, são tidos como atos despropositados e/ou contraprodutivos. Nesse sentido, a pobreza é tomada como uma prova da preguiça daqueles que são afligidos por ela, e a justiça nada mais é do que uma marca da fraqueza de outrem. Assim, no entender de Spencer, o real intuito da natureza é extinguir aqueles que são percebidos como retardatários ou socialmente ineficientes e dar lugar a algo ou alguém melhor.

Para de Waal, no entanto, o darwinismo social é fundamentalmente problemático, pois é inviável deduzir os objetivos da sociedade a partir dos objetivos da natureza. Em outras palavras, o darwinismo social incorre na chamada falácia naturalista, a qual denuncia a impossibilidade de extrair do atual estado das coisas como elas deveriam ser. Por exemplo, animais não-humanos comumente eliminam uns aos outros em larga escala, porém não é possível extrair disso a conclusão de que os seres humanos também devem fazê-lo. Da mesma forma, se os membros de outras espécies vivessem em plena harmonia, disso também não se seguiria que os seres humanos teriam uma obrigação de agir de modo igual. A natureza, afirma de Waal, pode oferecer informação, assim como inspiração, porém não prescrição.

Ainda no segundo capítulo, e seguindo na esteira de objeções ao darwinismo social, de Waal passa a criticar a teoria do “gene egoísta”. Esta foi popularizada pelo etólogo e biólogo evolutivo Richard Dawkins. De acordo com a visão da evolução centrada nos genes pleiteada por Dawkins, os organismos devem ser entendidos como “veículos”, ao passo que os “condutores” seriam os genes. Em outras palavras, uma vez que a evolução adaptativa ocorre através da competição e propagação dos genes, estes constroem organismos que agem como “máquinas de sobrevivência”, cuja função é possibilitar a perpetuação dos genes nas futuras gerações. Dawkins cunhou a metáfora do “gene egoísta” para explicar a ideia de que os genes que serão replicados nas gerações seguintes são aqueles cujos efeitos concernem aos seus interesses implícitos – i.e., serem replicados e permanecerem no pool gênico. Isso significa que a evolução não estaria centrada em indivíduos específicos ou grupos, mas sim nos genes. Todavia, na opinião de de Waal, a metáfora criada por Dawkins para explicar a teoria da seleção genética acabou gerando mais mal do que bem para o campo da biologia.

Como de Waal faz questão de esclarecer, genes são simplesmente pedaços de DNA que não podem ser mais “egoístas” do que um rio pode ser “furioso”. É preciso ficar entendido que quando os genes são descritos como “egoístas”, isso não diz absolutamente nada acerca das reais motivações de humanos ou não-humanos. Há uma separação entre aquilo que guia a evolução e aquilo que norteia o verdadeiro comportamento dos indivíduos. Deveras, alguns comportamentos – os quais incluem a realização de ações notavelmente compassivas ou altruístas – podem ser produzidos por genes selecionados para salvaguardar os seus portadores (vulgo “veículos”). Ademais, é necessário salientar que a contínua discussão de biólogos sobre a temática da competição não implica que esses pesquisadores advoguem em prol dela como um norteador aceitável do comportamento em sociedade. Similarmente, quando esses mesmos biólogos descrevem os genes como “egoístas”, isso não significa que eles, de fato, o sejam. Nesse sentido, a metáfora elaborada por Dawkins mostrase bastante problemática. Isso porque ao adicionar um termo de ordem psicológica a uma discussão sobre evolução genética, dois níveis distintos que os biólogos constantemente lutam para manter separados acabam chocando-se. Tal colisão forçada resulta no obscurecimento da distinção entre genes e motivação, o que leva a posturas cínicas acerca dos comportamentos de humanos e não-humanos.

Como sugere de Waal, mesmo que uma dada característica biológica tenha evoluído por determinada razão, isso não significa que ela não possa ser utilizada diariamente para outras finalidades. Por exemplo, o ato de oferecer ajuda a outros evoluiu para satisfazer interesses pessoais – o que, de fato, é realizado quando o alvo do auxílio é um familiar ou um membro do grupo que possa reciprocar o favor futuramente. Todavia, isso não quer dizer que humanos e não-humanos somente prestam ajuda por motivos egoístas. As razões para a evolução desse modo de agir não restringem, necessariamente, as ações do agente. Embora esse indivíduo siga dada tendência, certas vezes ele pode fazê-lo sem receber nada em troca. Alguns exemplos disso são o comportamento sexual humano que, em incontáveis situações, não tem como objetivo a reprodução; o mesmo pode ser dito da adoção de outros indivíduos que não fazem parte da própria prole – algo observado em diversas espécies.

No terceiro capítulo, de Waal trata do surgimento da empatia. Segundo ele, esta primeiramente se apresenta na forma de sincronização de corpos. Por ‘sincronia’ entende-se a imitação de certos movimentos corporais como rir, chorar, bocejar, etc. O riso, por exemplo, é uma expressão humana universal e inata que frequentemente indica bem-estar. As primeiras risadas acontecem entre mãe e filho e simbolizam apreciação mútua. Em outros primatas, por sua vez, o riso ocorre como uma reação à surpresa ou incongruência – como quando a mãe cutuca a barriga de seu filhote com seus dedos compridos. O riso, por ser contagiante, reflete a sensibilidade do indivíduo aos demais. De acordo com de Waal, sincronia é a forma mais antiga de ajustamento aos outros. Sincronizar-se implica ser capaz de reconhecer o próprio corpo no corpo do outro e fazer dos movimentos deste os seus movimentos. Isso explica o fato de que o riso ou o bocejo de alguém é capaz de fazer outros rirem ou bocejar. Além disso, ser capaz de se conectar aos demais e se ajustar aos seus movimentos é vantajoso em termos de sobrevivência – e.g., um pássaro que foge de um possível perigo ao levantar voo quando outros pássaros voam em disparada.

Reconhecer o próprio corpo no corpo do outro (body-mapping) é algo que inicia bastante cedo e continua se mostrando como um fenômeno profundamente enigmático. Quando um adulto mostra a língua para um bebê, por exemplo, este tende a responder fazendo o mesmo. O enigma é: como o bebê sabe que sua língua, a qual ele nem consegue ver, corresponde ao músculo carnudo que se encontra entre os lábios do adulto? Mais misteriosos ainda são os casos de body-mapping entre diferentes espécies. Em um estudo, golfinhos sem nenhum tipo de treinamento imitavam pessoas perto de uma piscina: quando um homem abanava os braços, o golfinho respondia abanando suas nadadeiras; quando o homem levantava uma perna, o golfinho levantava a calda acima da água. A questão de como o cérebro corretamente reconhece as partes do corpo de outra pessoa como partes do seu próprio corpo é conhecido como o ‘problema da correspondência’. Segundo de Waal, identificação é o que atrai um indivíduo e o faz adotar as emoções e comportamentos daqueles que se encontram próximos. Em outras palavras, quando há identificação entre um corpo e outro, há empatia e, consequentemente, imitação. Essa, por sua vez, possui um papel fundamental no fortalecimento de vínculos. Estudos indicam que, em situações românticas, imitar os movimentos do parceiro, como cruzar as pernas quando o outro cruza ou segurar o copo quando o outro o faz, gera conexão, o que aumenta as chances de o encontro prosperar. Além disso, pesquisas mostram que garçons que repetem o pedido do cliente recebem duas vezes mais gorjetas do que aqueles que apenas exclamam “É pra já!”

Como relembra de Waal, humanos adoram o som do seu próprio eco. Ainda assim, o modo como o corpo de um indivíduo – seja sua voz, seu humor, sua postura, etc. – é influenciado por aqueles corpos que o cercam permanece um mistério. Interessantemente, tal enigma é justamente o que mantém sociedades inteiras conectadas. O psicólogo alemão Theodor Lipps (1851 – 1914) foi o primeiro a reconhecer que há algo como um canal que conecta as pessoas entre si. As experiências de um indivíduo podem ecoar dentro de outra pessoa de modo que essa as sinta como se fossem suas. Como quando ela observa em suspense um acrobata caminhando sobre um cabo de aço e reage com apreensão a cada deslize. Tal conexão involuntária de emoções começou a ser pesquisada em 1990 pelo psicólogo sueco Ulf Dimberg. A fim de registrar os movimentos musculares mais sutis, Dimberg colocou eletrodos na face de seus voluntários e exibiu fotos de rostos raivosos e felizes na tela de um computador. Os participantes franziam as sobrancelhas em resposta às imagens de rostos raivosos e esticavam o canto da boca em resposta a rostos felizes. Um resultado similar foi obtido em outro teste, onde as mesmas fotos foram apresentadas em alta velocidade, de modo que os participantes não pudessem percebê-las conscientemente. Aqueles que foram expostos a rostos felizes relataram ter se sentido melhor do que aqueles que observaram rostos raivosos. Como a pesquisa de Dimberg sugere, humanos não decidem, necessariamente, ser empáticos; eles simplesmente o são.

A descoberta dos neurônios-espelho, em 1992, impulsionou a perspectiva acima mencionada. Um experimento realizado em macacos revelou que esses possuem células cerebrais especiais, as quais disparam quando o macaco agarra um objeto e também quando ele vê outro fazendo o mesmo. Em outras palavras, tais neurônios não diferenciam o ato “macaco faz” do ato “macaco vê”. Por conseguinte, também não fazem distinção entre ‘si mesmo’ e o ‘outro’. Como destaca de Waal, tal descoberta fornece um primeiro indício do papel do cérebro no reconhecimento das emoções e do comportamento alheio. Ademais, ela igualmente fragiliza as afirmações de que a empatia concerne unicamente aos seres humanos. De acordo com de Waal, ‘empatia’, entendida como o ato de projetar-se no outro, pode ser regulada através de atenção seletiva e identificação. Ou seja, um indivíduo pode optar por ignorar o que lhe causa desconforto e se identificar apenas com aqueles que lhe são semelhantes – familiares, amigos, pessoas do mesmo sexo, da mesma religião, etc. de Waal salienta que identificação é tão fundamental para que haja empatia que até mesmo ratos de laboratório compartilham a dor de seus companheiros de jaula. Em termos gerais, enquanto a presença de identificação abre a porta para a empatia, sua ausência a fecha.

Ainda no terceiro capítulo, de Waal apresenta as duas principais respostas ao problema de como as emoções alheias afetam um indivíduo. Uma primeira sugestão é a de que o corpo afeta as emoções. Estudos revelam que o humor de um indivíduo pode ser melhorado pelo simples ato de esticar os cantos da boca. Em contraste, pessoas que assistem a desenhos animados com as sobrancelhas franzidas, por exemplo, tendem a julgá-los menos engraçados do que aquelas que assistem forçando um sorriso (mordendo um lápis horizontalmente sem encostar nos lábios). Outra sugestão é a de que o corpo é afetado pelas emoções. Ao observar a linguagem corporal de uma pessoa, um indivíduo é capaz de deduzir o estado emocional dela, o que, por seu turno, acaba por afetar as suas próprias emoções. Apesar da linguagem corporal ser um fator crucial para que haja contágio emocional, é o rosto que possibilita a conexão mais rápida com o outro. Pesquisas revelam que pessoas tendem a se afastar de indivíduos que apresentam paralisia facial, ao passo que esses, muitas vezes, se sentem profundamente sozinhos e depressivos, podendo chegar a beira do suicídio. Como de Waal faz questão de enfatizar, a empatia precisa de um rosto. Pode-se dizer, então, que expressões faciais pobres geram um entendimento empático pobre.

No quarto capítulo, de Waal fornece uma distinção entre ‘empatia’ e ‘simpatia’. Segundo ele, ‘empatia’ é um processo através do qual um indivíduo é capaz de apreender informações a respeito do estado emocional de outros seres. ‘Simpatia’, por sua vez, envolve preocupação com o outro, geralmente acompanhada do desejo de melhorar a sua situação. de Waal ressalta que ‘simpatia’ é comum não apenas a humanos, mas também a não-humanos. Outros primatas, em especial, são muito sensíveis ao sofrimento alheio e tendem a oferecer ajuda àqueles que precisam. Uma demonstração de simpatia comum em grupos de chimpanzés se dá na forma de consolo. Após brigas entre chimpanzés, é comum que a vítima de uma agressão receba a visita de algum amigo ou familiar que irá oferecer abraços, inspecionar cuidadosamente os seus ferimentos ou praticar catação (social grooming) – i.e., o ato de remover piolhos e outros parasitas do pelo. De acordo com de Waal, oferecer conforto através de contato físico faz parte da biologia dos mamíferos. No entanto, a motivação por trás de tal ato não está inteiramente clara. Uma hipótese é a de que ao consolar outros busca-se, em realidade, o próprio conforto. Por exemplo, uma pessoa que, por sentir-se aflita com o choro de alguém, oferece consolo para tranquilizar a si mesma. Crianças pequenas e alguns não-humanos também são frequentemente atraídos a indivíduos cuja a agonia os afeta – de Waal chama essa atração cega de ‘preconcern’. Outras demonstrações de simpatia ocorrem na forma de “ajuda direcionada” (targeted helping) – i.e., quando a ajuda é voltada à situação específica de outros. de Waal oferece o exemplo da bonobo Kuni que, ao encontrar um pássaro preso em sua jaula no zoológico, levou-o ao ponto mais alto de uma árvore, abriu suas asas e o soltou no ar. de Waal também distingue empatia e simpatia do que ele chama de perspective-taking: tomar a perspectiva de alguém, o que envolve buscar saber e entender o que o outro pensa, acredita ou sente. Tal capacidade é altamente desenvolvida em animais com cérebros grandes, mas também pode ser encontrada em animais com cérebros menores.

Ainda no quarto capítulo, de Waal trata da questão do altruísmo, comportamento esse que, segundo ele, não existiria sem a capacidade de empatia.  Embora haja incontáveis histórias e casos de sacrifício humano, o heroísmo, por exemplo, não é uma característica exclusivamente humana. Há numerosas evidências acerca dessa forma de altruísmo em outras espécies de primatas. Casos comuns são os de chimpanzés que, apesar de hidrófobos, arriscam a própria vida ao tentar socorrer companheiros se afogando. Como explica de Waal, altruísmo, em geral, exige esforço. Porém, há também o chamado ‘altruísmo de baixo custo’ – i.e., quando é possível ajudar outros sem muito esforço (e.g., dar carona ou segurar a porta aberta para alguém). Ser atencioso com outros indivíduos implica entender como o próprio comportamento afeta os dos demais, o que, por sua vez, requer empatia e perspective-taking. Tal assistência de baixo custo pode ser igualmente observada em distintas espécies de primatas e se dá na forma de catação e social scratching – i.e., o ato de coçar vigorosamente as costas de outros indivíduos.

No quinto capítulo, de Waal aborda a relação entre empatia e a capacidade de um indivíduo de se reconhecer no espelho. Segundo de Waal, não se pode conceber a ideia de empatia em sua forma mais avançada sem uma noção de ‘si mesmo’. Sem essa noção em particular não seria possível distinguir o próprio sofrimento do sofrimento dos demais. Uma maneira de testar se um indivíduo possui uma noção de si mesmo é observar o seu comportamento diante de um espelho. Tal teste consiste em marcar um lado da face do participante com tinta ou maquiagem colorida e observar as suas reações. Crianças a partir de dois anos de idade, outros primatas, elefantes e golfinhos respondem ao teste inspecionando cuidadosamente a marca em seus corpos e tentando removê-la quando possível. O teste do espelho é relevante, pois expõe como um indivíduo se posiciona no mundo, o seu jeito de se relacionar com os outros, e sua capacidade para tratar situações alheias como distintas da sua. A hipótese de que há uma relação entre se reconhecer no espelho e ser capaz de empatia e ajuda direcionada é chamada por de Waal de ‘hipótese da co-emergência’.

Para de Waal, indivíduos que se identificam no espelho apresentam a tendência em ajudar tanto aqueles que pertencem a sua própria espécie quanto a membros de outras. Há inúmeros casos de assistência interespécie. Um exemplo bastante popular é o de nadadores humanos salvos por golfinhos ou baleias. Interessantemente, embora entendam e utilizem espelhos para encontrar comida, macacos tendem a reprovar no teste do espelho. A partir disso, de Waal sugere a existência de diferentes níveis de entendimento de um espelho. O fato de macacos nunca confundirem o seu próprio reflexo com o reflexo de outros macacos sugere que a imagem deles mesmos no espelho não lhes é estranha. Além disso, embora macacos pareçam não serem capazes de tomar a perspectiva de outros indivíduos e identificar as suas necessidades, eles compartilham da aflição alheia e, em raras ocasiões, ajudam uns aos outros.

O ato de apontar para objetos como forma de compartilhar informação é outra temática discutida por de Waal no quinto capítulo. Tal gesto depende da capacidade de tomar a perspectiva alheia e reconhecer que o outro não possui a mesma perspectiva nem a informação que se está querendo passar. Humanos não são os únicos animais que esticam o braço e apontam com o dedo para objetos aos quais se quer chamar a atenção. Outros primatas também são especialistas em suscitar a atenção alheia, muitas vezes sem nem precisar apontar – de Waal conta como o chimpanzé Nikkie mantendo apenas contato visual e movimentando a cabeça comunicou que ele queria os frutos que se encontravam atrás de de Waal. Tal exemplo contraria a ideia de que apenas indivíduos dotados de uma linguagem sofisticada são capazes de compartilhar informação e expressar as suas necessidades.

No sexto capítulo, de Waal investiga as origens e principais características do senso de justiça (fairness) comum aos seres humanos. Ele nota um aspecto bastante curioso da espécie humana como um todo; embora erijam e tomem parte de complexas estruturas sociais, humanos tendem a renegá-las sempre que seus interesses e bem-estar próprios estão em risco. Diferenças de status e hierarquias sociais são toleradas apenas até certo ponto. Quando determinado limite é cruzado, humanos frequentemente abdicam de tais construtos e se rebelam contra aqueles que os prejudicam sem uma boa causa. Segundo de Waal, esse senso de justiça – de receber o que lhe é devido – está fortemente arraigado num igualitarismo que perpassa a história da espécie humana inteira. Estudos antropológicos conduzidos pelo pesquisador norte-americano Christopher Boehm revelam como comunidades tribais regulam os seus níveis de hierarquia internos. Perda de respeito e apoio são as principais reações comunais a líderes que optam por não cumprir as suas funções adequadamente – e.g., ao engradecerem a si mesmos em detrimento dos integrantes de seus grupos, distribuírem bens materiais de forma inapropriada, governarem por meio de intimidação e medo, etc. O apreço e anseio dos seres humanos por um tratamento justo pode ser observado em todos os tipos de sociedades. Porém, a despeito do que tem sido tradicionalmente tomado como fato entre intelectuais, humanos não são os únicos animais que demonstram um senso de justiça. Em realidade, esse traço social possui profundas raízes evolutivas, as quais são partilhadas com uma variedade de outras espécies. No intuito de construir uma defesa convincente dessa visão, de Waal passa a examinar o tema da confiança entre indivíduos – o que ele entende como sendo um dos elementos fundamentais do senso de justiça comum a humanos e não-humanos.

Confiança é um fator-chave para relações sociais. Como descreve de Waal, confiar em alguém implica, primeiramente, em contar com a sua fidelidade ou cooperação e, num sentido ainda mais básico, na simples expectativa de que esse indivíduo não irá agir de má-fé e lhe passar a perna ou deixar na mão. O cultivo e estabelecimento de confiança ajuda a expandir o círculo de atuação dos indivíduos, o que, por sua vez, os prepara para múltiplos tipos de colaboração. Para que isso possa ocorrer, no entanto, experiências passadas são comumente empregadas em considerações acerca de quem é confiável ou não – experiências essas que podem ser generalizadas dependendo do alvo da reflexão. Isso não significa, necessariamente, que todo e qualquer indivíduo deva ser testado antes de uma ação conjunta. Se assim fosse, conjectura de Waal, jamais alguém seria capaz de alcançar qualquer coisa. Confiança é o elemento que mantém diferentes sociedades unidas – sejam essas altamente complexas ou rústicas. Aborígenes, por exemplo, constantemente espalham veneno em suas flechas e as escondem nas árvores mais altas, longe do alcance de crianças. As suas armas são tratadas com bastante seriedade. Uma comunidade na qual os seus integrantes estão sempre dispostos a utilizá-las dificilmente encontraria qualquer coesão social duradoura. A importância da confiança para a construção e manutenção de vínculos cooperativos não está restrita a relações humanas. O ato de confiar no outro é fundamental para inúmeras espécies sociais.

Há uma profusão de cenários retratando relações de confiança entre não-humanos, sejam esses de uma mesma espécie ou de espécies distintas. Um dos exemplos mais conhecidos na literatura científica é o dos “peixes limpadores” que mantêm uma relação de perfeito mutualismo com outros não-humanos. Peixes limpadores mordiscam ectoparasitas e tecidos mortos da superfície do corpo e, algumas vezes, do interior da cavidade bucal de peixes maiores. Eles confiam que os indivíduos para os quais prestam esse serviço não irão devorá-los vivos. Por sua vez, os “peixes clientes” igualmente confiam que a criatura nadando dentro de sua boca não irá abocanhar mais do que o devido e se alimentar de tecidos saudáveis. Quando isso ocorre, todavia, alguns peixes limpadores tentam restaurar a confiança de seus clientes fazendo cócegas ao massageá-los com suas barbatanas dorsais. Isso geralmente tranquiliza os peixes maiores, o que permite a continuidade e conclusão da limpeza. Certos peixes limpadores acabam se ocupando tanto com os seus clientes que esses chegam a formar filas para serem atendidos.

Outro componente basilar do senso de justiça comum a humanos e não-humanos é reciprocidade. Retornar favores e demonstrar gratidão são engrenagens cuja atuação silenciosa torna possível diversos aspectos da vida em comunidade. Quem exibe uma tendência a não retribuir a gentileza ou não reconhecer a ajuda de outrem acaba sendo mal visto em agregados sociais. Em situações nas quais é possível escolher entre colaborar com uma pessoa que apresenta um histórico de correspondência ou alguém que tem o costume de tirar vantagem da generosidade alheia, o último é frequentemente rejeitado. Quando se trata de cooperação, penalizações sociais sérias raramente são aplicadas àqueles que ficam aquém do desejado. Entretanto, esses indivíduos tendem a ser “punidos” por seus pares em estudos psicológicos conduzidos em laboratório. Tal apreço pelo ato de reciprocar é igualmente partilhado com outras espécies de animais. Morcegos-vampiros, por exemplo, adotam um sistema de companheirismo centrado em parcerias mutualmente vantajosas. Uma vez que não podem ficar nem um único dia sem se alimentar, morcegos-vampiros dividem o risco trabalhando em pares. Se por alguma razão um dos membros do par não conseguir encontrar uma presa, o outro irá lhe regurgitar um pouco de sangue na boca ao final da noite. Sempre que o cenário inverte, o gesto é reciprocado. Chimpanzés, por sua vez, demostram comportamentos ainda mais conscientes e propositados acerca de atos recíprocos. Por exemplo, chimpanzés machos geralmente não gostam de lidar com filhotes. Porém, eles irão acariciá-los e coçá-los caso isso os ajude a conquistar o apoio de um maior número de fêmeas e manter e/ou adquirir poder em sua comunidade. de Waal compara esse comportamento com a prática de candidatos políticos que, no intuito de angariar votos, levantam bebês acima da cabeça em frente de seus pais e outros possíveis eleitores.

Quando alguém se revela indigno de confiança e apresenta uma tendência a não retornar favores ou demonstrar gratidão, ele passa a ser alvo do ressentimento alheio. Porém, esse indivíduo também é mal visto quando recebe mais do que lhe é devido no que seria considerada uma divisão justa; essa “aversão à iniquidade” tem sido tradicionalmente tomada como outro comportamento exclusivo dos seres humanos. Para de Waal, entretanto, ela é igualmente comum a múltiplas espécies não-humanas. Chimpanzés novamente, por exemplo. Após uma caçada bem-sucedida, membros de um grupo de chimpanzés garantem o seu quinhão a partir de seu papel na empreitada. Aqueles que não tiveram grande participação ganham apenas porções pequenas. Nem mesmo os machos mais dominantes fogem à regra. Caso não tenham ajudado ativamente, eles receberão o mínimo, ou sequer coisa alguma. Embolsar mais do que o merecido é sempre uma manobra arriscada, pois pode resultar em agressões – especialmente se o ato for realizado em frente aos demais. de Waal relata o caso de uma bonobo fêmea que, ao ser testada em um laboratório de cognição, recebeu uma recompensa muito maior de leite e passas de uva do que os seus companheiros. Após perceber os olhares dos outros bonobos à distância, ela recusou a comida e gesticulou em direção aos demais até que boa parte dos petiscos fosse dividida com eles. Somente após isso ela consumiu a sua porção. Caso tivesse agido de outra maneira e mantido todos os alimentos para si, a bonobo certamente iria correr um grande perigo quando retornasse ao seu grupo mais tarde.

Confiança, reciprocidade, igualdade; são os principais elementos do senso de justiça comum a humanos e não-humanos. Naturalmente, seres humanos tratam questões de justiça de uma forma muito mais sofisticada e ampla que os outros animais. Reflexões acerca daquilo que é justo em sociedades humanas quase sempre vão além de meros interesses pessoais e ressentimento. Interesses alheios também são levados em consideração. de Waal está ciente disso. Porém, como ele faz questão de enfatizar, o senso de justiça humano não se origina em pretensões de imparcialidade ou numa preocupação com o outro, a qual transcende interesses pessoais. As suas reais raízes são partilhadas, em maior ou menor grau, com inúmeras outras espécies animais – o que tem ficado cada vez mais claro a partir das contínuas descobertas dos atuais estudos etológicos.

No sétimo e último capítulo, de Waal oferece uma abordagem da empatia. Segundo ele, empatia é uma capacidade inata que se manifesta em áreas do cérebro as quais possuem centenas de milhões de anos. de Waal propõe que a empatia pode ser melhor entendida como uma boneca russa, i.e., formada por diferentes camadas. No núcleo encontram-se processos automáticos, como a tendência de imitar a linguagem corporal e o estado emocional dos outros. Ao redor desse núcleo, a evolução foi adicionando camadas cada vez mais sofisticadas, tal como a capacidade de se preocupar com os demais, tomar a sua perspectiva e entender o que buscam e/ou precisam. As reações emocionais humanas mais complexas partilham dos mesmos processos básicos que as reações presentes em uma grande variedade de espécies. Ao tomar ‘empatia’ como uma capacidade antiga, inata e composta de diferentes níveis de complexidade, de Waal reconhece que animais não-humanos também são capazes de empatizar. Porém, ainda há uma grande resistência por parte de cientistas em aceitar que a empatia não é uma característica exclusivamente humana. Tal relutância, de Waal acredita, está mais relacionada a crenças religiosas do que com dogmatismo científico per se –  sobretudo religiões que surgiram em comunidades sem qualquer contato com outras espécies de primatas. de Waal nota ainda que mesmo aqueles que reconhecem seres humanos como simples produtos da evolução persistem em procurar por alguma anormalidade, i.e., uma característica especial que vá diferenciar humanos dos demais animais. Quando se trata de apontar para características humanas indesejáveis, todavia, continuidade nunca é um problema; os genes humanos são logo culpados e a espécie inteira é rapidamente comparada a outras que demonstram traços similares.

Embora a empatia seja uma capacidade inata, de Waal observa que é possível escolher não empatizar. Empatia ocorre facilmente quando há identificação, i.e., quando se trata de indivíduos que fazem parte do mesmo círculo, sejam eles familiares, amigos, parceiros, ou quaisquer outros que partilhem dos mesmos gostos, crenças, etc. Fora desse círculo, a empatia é opcional. Como explica de Waal, tal fenômeno ocorre da seguinte maneira. Primeiramente, suprime-se a identificação com grupos de indivíduos desconhecidos ou inimigos ao desconsiderar a individualidade dos participantes do grupo. Após isso, esses indivíduos são classificados como “inferiores” – e.g., nazistas referiam-se a judeus como “ratos” ou “pestes”. Ademais, enquanto não empatizar com aqueles que são considerados inimigos ou competidores possa resultar em diferentes formas de discriminação, manipulação e agressão, a capacidade de tomar a perspectiva alheia também pode ter fins destrutivos. O ato de torturar alguém, por exemplo, requer saber em certa medida o que os outros pensam e sentem. Psicopatas são particularmente hábeis em apreender as intenções e interesses alheios – ainda que sejam incapazes de compartilhar do sofrimento de outrem.

A investigação de de Waal sobre a empatia é enriquecida com comentários sobre Mencius (372 a.C. – 289 a. C.), o sábio chinês que há mais de dois milênios refletiu sobre a origem do ato de empatizar. Mencius foi o primeiro a notar que a empatia depende de conexões corporais. Em uma de suas histórias, um rei observou um boi com aparência amedrontada passar por seu palácio. Ao descobrir que o boi estava a caminho de ser morto em uma cerimônia, o rei ordena que ele seja poupado e uma ovelha seja sacrificada em seu lugar. Mais precisamente, o rei partilhou do sofrimento do boi que estava em sua frente e, por essa razão, optou que outro ser, com o qual ele jamais teve qualquer contato, fosse abatido e ofertado. Essas conexões corporais que pressupõem contágio emocional explicam a dificuldade de empatizar com desconhecidos ou aqueles que estão ausentes. Como de Waal explica, a empatia é uma capacidade construída sobre proximidade, similaridade e familiaridade, uma vez que evoluiu para promover a cooperação entre indivíduos do mesmo grupo.

Por último, de Waal faz questão de pontuar que embora a maioria dos seres humanos viva em grandes sociedades, onde é difícil manter igualdade e solidariedade, eles ainda assim possuem uma psicologia que os motiva a buscar tais princípios. de Waal alude à noção de “mão invisível do mercado” de Adam Smith (1723 – 1790) para defender que uma sociedade puramente baseada em motivos egoístas e forças do mercado não é capaz de produzir unidade e confiança entre seus cidadãos. A sociedade igualmente depende de uma “segunda mão invisível”, i.e., uma que aproxime os indivíduos. Para de Waal, o sentimento de que humanos não deveriam ser indiferentes uns aos outros (caso realmente queiram construir uma comunidade verdadeira) é a força que subjaz a sua conduta para com os demais. Ele acredita que é preciso confiar no intelecto humano para descobrir novas maneiras de equilibrar interesses coletivos e individuais. Além disso, há de se fazer uso de uma ferramenta adicional para enriquecer e engrandecer a forma como humanos pensam e agem. Tal instrumento foi selecionado pela evolução ao longo dos anos e testado repetidas vezes no que diz respeito ao seu valor de sobrevivência. Trata-se da empatia: a capacidade de se conectar e entender os outros e fazer da situação deles a sua própria. A partir disso tudo, de Waal reitera, conclusivamente, que recorrer a essa capacidade inata seria vantajoso a qualquer sociedade.

Para encerrar, algumas considerações estilísticas acerca de The Age of Empathy como um todo. Os leitores com uma formação analítica tradicional podem achar, ao menos por vezes, a escrita de de Waal incômoda. Embora de Waal consiga expor cenários e ocorrências de maneira detalhada e vívida, ele frequentemente passa de um assunto a outro sem finalizar argumentos e racionalizações prévias. Isso acaba por forçar os leitores a ponderar sobre o real propósito de alguns dos casos introduzidos, o que interrompe o fluxo da leitura desnecessariamente. Em contrapartida, de Waal oferece uma ferramenta interpretativa adicional. No decorrer dos sete capítulos do livro, é possível encontrar diversas ilustrações que remetem às múltiplas situações e temáticas discutidas. Todas as ilustrações foram feitas pelo próprio de Waal, o que torna a experiência de percorrer o texto muito mais íntima e agradável. Em certa medida, por meio desses desenhos, os leitores acabam por experienciar as impressões de de Waal sobre os tópicos tratados de uma maneira bastante peculiar – i.e., através dos olhos do autor. Por razões óbvias, essa é uma abordagem muito oportuna para uma obra que considera o tema ‘empatia’.

Notas

1 O tópico ‘empatia’ vem sendo tão abordado (seja direta ou indiretamente) em grandes filmes internacionais que alguns críticos de cinema têm se referido a 2016 como “um ano de empatia”: <http://www.craveonline.com/entertainment/1178765-year-empathy-16-best-movies-2016>. Acesso em: 04/05/2017. Tal tema também é analisado de maneira ainda mais aprofundada em Empatía: Una historia sobre el respecto animal contada por un escéptico, documentário recém-lançado do diretor e escritor espanhol Ed Antoja: <http://documentalempatia.com/>. Acesso em: 04/05/2017.

2 O ex-presidente norte-americano Barack Obama, por exemplo, continuamente reforçou em suas falas a importância e necessidade de ações empáticas para a construção de um mundo mais tolerante e compassivo. Uma compilação de discursos e entrevistas em que Obama aborda a questão da empatia pode ser encontrada em: <http://cultureofempathy.com/Obama/VideoClips.htm>. Acesso em: 04/05/2017.

3 Frans de Waal ocupa os cargos de Charles Howard Candler Professor of Primate Behavior no Departamento de Psicologia de Emory University e Diretor do Living Links Center – Center for the Advanced Study of Ape and Human Evolution. Além de ter publicado inúmeros artigos em periódicos científicos, de Waal é autor/editor de mais de uma dúzia de livros. Maiores informações sobre de Waal e suas publicações podem ser encontradas em: <http://www.yerkes.emory.edu/research/divisions/developmental_cognitive_neuroscience/dewaal_frans.ht ml>. Acesso em: 04/05/2017.

Gabriel Garmendia da Trindad – University of BIrmingha, Grã-Bretanha.  Doutorando em Global Ethics no Centre for the Study of Global Ethics, Department of Philosophy, University of Birmingham. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6770358458457650.  E-mail: [email protected]

Ana Paula Foletto Marin – Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Mestre em Philosophy of Health and Happiness pelo Department of Philosophy, University of Birmingham. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8155173813323590.  E-mail: [email protected]

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[DR]

 

Tereza Batista cansada de guerra | Jorge Amado

Esta resenha objetiva descrever e analisar algumas passagens do romance acima citado no intuito de perceber as relações elencadas por Jorge Amado, que possibilitam um conhecimento da época, do espaço e das relações sociais, que todas as obras literárias carregam nas entrelinhas de sua trama. No caso de Jorge Amado, escritor baiano que começa a escrever na década de 1930, estas relações são postas intencionalmente para mostrar a sociedade na qual o autor está inserido e é observador atento do cotidiano do povo. Aqui identificaremos estas relações enfocando a mulher como sujeito social no cenário proposto pelo autor.

Posto que Jorge Amado trabalha com uma temporalidade que descreve os meandros por que perpassam a memória, fazendo uma alusão ao caráter popular que ele dá as suas obras, traçaremos aqui uma linha cronológica que nos permita caminhar por uma ordem que não segue necessariamente a do livro.

Tereza ficou órfã muito cedo e passou sua curta infância com uma tia. Foi uma criança livre, gostava de correr e subir em árvores. Com os meninos, seus colegas, aprendeu que um bom guerreiro não chora. Aos doze anos ela foi vendida ao Coronel Justiniano, por uma quantia irrisória e um bracelete barato. Seu tio foi contra a venda, não por um gesto altruísta, mas por desejar ser ele a tirar o “cabaço” da menina. Sabendo que sua esposa conhecia suas intenções, não se atreveu a falar nada.

Já neste momento o autor sinaliza a falta de alternativa de Tereza. Era condição de ela perder a infância, pois se o Coronel não a desvirginasse violentamente o tio faria, fazendo-a perder, portanto a chance de ser uma “mulher direita”, posto que para isso era necessário ser virgem. Ela é coisificada e pela dimensão da violência deste processo ela é obrigada a aceitar esta condição.

Na casa do Coronel “Justo”, Tereza viveu um verdadeiro inferno a começar na sua chegada, na condição de “coisa sexual”, depois de resistir bravamente à primeira “cavalgada” (termo usado pelo próprio Coronel para referir-se aos estupros que comete) continua a ser estuprada. A descrição detalhada que o autor faz destas violências sexuais carrega nos detalhes a angústia, a raiva, a impotência do leitor, sensação esta que nos faz refletir sobre a nossa condição como participantes desta sociedade que carrega embaixo de um fino pano as injustiças contra a mulher.

Tereza foi escrava sexual por cerca de três anos, até ser seduzida por Daniel, jovem boêmio, sem caráter, muito semelhante fisicamente ao anjo pendurado na parede do quarto do Coronel, que presenciava toda a violência cometida contra a menina. Por Daniel, Tereza foi capaz de matar o Coronel quando ele descobrir a relação dos dois e humilhou o rapaz.

Neste momento o autor nos desvela que o Coronel não conseguiu anular a coragem da menina, agora mulher, com as surras e os estupros. A coragem lhe era inerente, só ficou adormecida por um tempo, despertando na primeira oportunidade.

Quem libertou Tereza da prisão, já que ela matou o Coronel na presença de Daniel que a denunciou acusando-a covardemente (e nós leitores sabemos que ela o fez para salvá-lo), foi o Coronel Emiliano, este já havia se encantado pela menina quando lhe fez uma visita ao, agora, falecido Justo, e tentou, na ocasião, “comprá-la”, mas não teve sucesso. A menina viveu durante seis anos na condição de “amásia” do Coronel Emiliano, ele a colocou numa casa, lhe deu vestidos, contou-lhe uma porção de coisas e ensinou-lhe a ser uma “senhora”. Porém nunca tornar-se-ia uma “senhora”, posto que as “mulheres de família” suportavam as “protegidas” dos Coronéis por medo e respeito aos mesmos, sua condição de “mulher da vida” iria acompanhá-la para sempre, como uma sombra.

Apesar desta condição de “amásia”, Tereza foi feliz durante aqueles anos, e quando finalmente o Coronel revelou seu amor por ela (dizendo-lhe inclusive que pensava em lhe dedicar parte da herança), confessando sua infelicidade no seio familiar, ele morreu, durante o ato sexual, dentro de Tereza. Novamente sem ninguém e sem nada a menina-mulher “cai na vida”.

O Coronel Emiliano reproduziu com Teresa a mesma lógica de todos os Coronéis, inclusive a do Coronel Justino, o vilão do primeiro capítulo. Mas pela primeira vez a menina, que perdeu a infância, foi tratada com carinho, ele fez o papel de pai e amante e este fato em contraste com os momentos vividos com o outro primeiro Coronel acabou aliviando a culpa deste.

O contraste também se faz presente na estrutura do texto, que nos transporta para dois momentos respectivamente: ora são descritos os momentos de felicidade de Tereza ao lado do coronel Justino, ora o desfecho da morte deste e o sofrimento da perda por Tereza, aliado a chegada da família, que o Coronel dizia nunca tê-lo amado. Neste momento as lembranças da menina são nossos guias, pois o autor nos faz enxergar o Coronel pelos olhos da personagem.

As relações dos dois espaços da mulher nestas cidades são descritas neste capítulo quando Amado narra a função de Tereza como “amásia”: a mulher sustentada e protegida por um Coronel próspero. Estas mulheres normalmente são tiradas de prostíbulos e colocadas na casa de descanso destes Coronéis, a maioria tem que estar consciente de seu papel; elas esperam os Coronéis terem vontade de estar com elas, fazendo, quando isso acontece, todas as vontades deles. Esta relação de submissão fica clara quando Tereza aborta, ao saber, pela boca do Coronel Emiliano, que ela não era mulher para ter filhos dele.

O Coronel então morreu durante o ato sexual e quando a família legitima dele chegou, Tereza se viu obrigada a ir embora sem nada. O autor deixou explicito o orgulho da personagem e o amor sem interesses materiais que ela mantinha pelo falecido, indo embora sem reivindicar nada. Ao partir, deixou todos os bens materiais que recebeu do Coronel para a família que se mostrava avarenta, pois mostravam-se mais preocupados com a herança do que com a morte do ente. Este é um cenário sempre presente na obra de Amado, tendo em vista sua busca por retratar as famílias patriarcais, tradicionais baianas, onde as diferenças sociais sempre são a tônica central.

Tereza instalou-se numa cidadezinha e lá trabalhou como “rapariga” (termo usado para designar as profissionais do sexo). Logo conheceu um médico e mudou-se com ele para uma cidadezinha do interior quando ele foi promovido. Mas em meio à tranqüilidade da saúde na cidade, houve um surto de Bexiga Negra, o médico que permaneceu por pouco tempo no local, recebeu a ajuda de Tereza que neste curto período aprendeu um pouco sobre a doença e o tratamento. Quando o médico fugiu, num ato covarde, com medo de contrair a doença, assim como fizeram as autoridades da cidade (sobraram apenas os mais pobres, que não tinham como fugir), Tereza ficou para tentar amenizar o problema. O autor a descreve como uma guerreira, que mesmo diante de tão heróicos feitos é condenada pelas más línguas da cidade devido ao seu passado e sua condição. O autor nos mostra a dificuldade de aceitação de uma mulher que foge das regras da sociedade, seja esta uma condição ou uma escolha.

Antes de encontrar a paz, Tereza ainda passaria por mais uma batalha. Este último capítulo é iniciado por uma Mãe de Santo que fala do destino de Tereza. Ela era querida no lugar onde agora vivia e trabalhava novamente como “mulher da vida” de coronéis muito poderosos, devido a sua exuberante beleza. Em sua narrativa, o autor nos apresenta uma distinção sócio-econômica entre os prostíbulos: existiam os mais simples, onde era aceito qualquer cliente, e os mais sofisticados, onde os clientes eram ricos e em sua maioria coronéis, estes tinham mulheres fixas, como Tereza que também se apresentava em shows de dança.

O governo decidiu deslocar os prostíbulos mais pobres para uma região de condições precárias. O autor descreve detalhes destas relações puramente políticas, sem preocupação social, mostrando como a vida do povo estava subjugada aos desígnios das autoridades locais. Por mais que Tereza não estivesse envolvida, tomou aqueles acontecimentos como se fossem dela, pois quando as mulheres se recusaram a sair, a polícia as reprimiu violentamente. A idéia veio de Tereza, as “profissionais do sexo” não trabalhariam enquanto o problema não fosse resolvido. Concomitantemente estava por chegar um navio com muitos marinheiros americanos que iriam movimentar a cidade com seus dólares, porém sem a atuação das “mulheres da vida” este movimento se reduziria significativamente.

A polícia ao saber da greve tentou violentamente reprimi-la, mas com a ajuda dos Deuses africanos, os Orixás, Tereza incentivou todas a não voltarem às atividades naquela noite. “A greve do balaio fechado”, um dos possíveis títulos para este capítulo sugerido pelo autor, deu certo, mas Tereza foi presa e apanhou muito na cadeia.

As torturas não foram suficientes para acabar com sua beleza e ela foi pedida em casamento por um antigo pretendente. Tereza por ter perdido seu grande amor, um marinheiro que ela conheceu quando ele a salvou da polícia no inicio do livro, e por ela estar acreditando que ele havia morrido no mar, sem nenhuma esperança de amar novamente aceitou o casamento. Porém, momentos antes de se casar, seu grande amor apareceu reivindicando seu lugar no coração de Tereza.

Finalmente ela encontrou a paz nos braços de quem amava, no convés de um barco, e foi no mar que ela descarregou as três mortes que pesava em suas costas: o Coronel Justo que ela matou com uma facada, o Coronel Emiliano que morreu durante o ato de amor e seu filho que ela matou ainda no ventre dela.

Através dos olhos de um narrador que se diz presente na história contada e que sempre coloca sua opinião apaixonadamente influenciando desta forma a opinião do leitor, Jorge Amado denunciou uma realidade dolorosa, cruel e ainda atuante. Tereza Batista é a personagem que carregou em suas costas as experiências de meninas que se tornam mulheres condicionadas a um futuro de escolhas limitadas. Tereza parece ser o grito desesperado de denuncia que Jorge Amado vem trazendo em todas as suas obras, estereotipada na mulher baiana que é muito sensualizada e que só encontra saída na sujeição do próprio corpo.

A estratégia estrutural do texto nos induz aos caminhos da memória, onde podemos ouvir a voz e as impressões do narrador presente, que tudo indica ser um taxista que conta a história para um passageiro, relembrando o que viu unido ao que ouviu da boca do povo que até transformou a história em cordel. Para dar veracidade à história ele usa o argumento desta ser conhecida nas ruas da Bahia, valorizando a oralidade e a tradição oral como forma de perpetuação da História de um Povo (deste povo marginalizado e oprimido que nunca é privilegiado pela história oficial). Esta tradição oral que veio nos navios negreiros e esta tão presente nas religiões e costumes de origem africana, com as quais o autor sempre trabalha.

Conhecemos Tereza Batista por meio da “Memória”, a mulher forte e inteligente é fruto de uma vida de violências físicas e psicológicas de uma sociedade machista, limitadora, patriarcal, injusta, desigual e muito violenta. Tereza pagou o preço por nascer mulher, negra, bonita e pobre, mas ela não desistiu, não se rendeu e venceu a guerra, cujas as batalhas por serem tão violentas fazem com que, nós leitores, duvidemos que seria possível vencê-la. Tereza perdeu o medo de apanhar, de sentir fome, de ser sozinha e talvez tenha sido isso que a fez querer enfrentar este monstro que é a sociedade, apresentando-se a ela na figura de um coronel, de uma doença (Bexiga Negra), da prisão, da lei, a mulher sem infância a enfrentou e mesmo diante de tanto sofrimento e desilusão, não perdeu a capacidade de amar.

Luciana Santos Barbosa – Mestra em História Social pela PUC-SP.


AMADO, Jorge. Tereza Batista cansada de guerra. São Paulo: Martins, 1972. Resenha de: BARBOSA, Luciana Santos. O grito de denúncia de Tereza: história, corpo e literatura. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade. São Paulo, n.7, p. 403-411, jul./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]

 

Relações internacionais: dois séculos de história | Entre a preponderância européia e a emergência americano-soviética | Entre a ordem bipolar e o policentrismo (1947 a nossos dias)| José Flávio Sobra Saraiva || Relações internacionais e temas sociais: a década das conferências | José Augusto Lindgren Alves || Relações internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas | Amado Luiz Cervo || Relações internacionais: cultura e poder | Estevão Chaves de Rezende Martins || Cooperação/ integração e processo negociador: a construção do Mercosul | Alcides Costa Vaz

Foram lançados em 2002 mais dois títulos da coleção “Relações Internacionais”, que se juntam aos quatro levados a público no segundo semestre de 2001. A coleção é publicada pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e organizada por José Flávio Sombra Saraiva, diretor-geral do Instituto, com o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o patrocínio da Petrobras. O IBRI cumpre, assim, uma das importantes missões a que se propôs, que é a de difundir os estudos desenvolvidos no Brasil sobre as relações internacionais e sobre a inserção do país no cenário internacional. A coleção, distinta de outras que recentemente incorporaram-se ao mercado editorial do país, volta-se, com efeito, à exposição do atual pensamento brasileiro em relações internacionais.

Os dois volumes de “Relações internacionais: dois séculos de história”, organizados por José Flávio Sombra Saraiva, são, não por acaso, os dois primeiros títulos da coleção “Relações internacionais”. Trata-se de uma versão ampliada e revista de “Relações internacionais: da construção do mundo liberal à globalização (1815 a nossos dias)”, lançado em 1997, rapidamente esgotado. O primeiro volume intitula-se Entre a preponderância européia e a emergência americano-soviética (1815-1947) e o segundo Entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias). O leitor encontra nos dois caprichados volumes uma excelente síntese de quase dois séculos da história das relações internacionais, escrita de maneira acessível e instigante por quatro especialistas: além do organizador, José Flávio Sombra Saraiva, Amado Luiz Cervo, Wolfgang Döpcke e Paulo Roberto de Almeida. Os autores utilizaram bibliografia atualizada e da mais alta qualidade, trazida ao final de cada capítulo, o que permite ao leitor prosseguir facilmente no aprofundamento de temas que são de seu maior interesse. Leia Mais