Framing animals as epidemic villains: histories of non-human disease vectors | Christos Lynteris

Em 2020, o historiador e ambientalista Donald Worster publicou texto sobre a pandemia (covid-19) que irrompera no final do ano anterior e que continua devastando o mundo. Em seu texto, Worster (2020) chamava a atenção para o silêncio deixado nas cidades pelo afastamento da população dos possíveis caminhos capazes de cruzar com o tão temido coronavírus SARS-Cov-2, e que estava a se propagar de continente a continente, alcançando novas vítimas. Agora, a causa do silêncio não mais seria o pesticida DDT, como alertado por Rachel Carson em 1962 em seu livro Silent spring, mas um inimigo silencioso, não humano, que chegava desequilibrando a ordem social mundial. Como em outros surtos epidêmicos e pandêmicos, são os animais silvestres e seus patógenos apontados como os grandes vilões da história, e, assim como ocorreu com o Sars ou Ebola, a falta de certeza científica sobre o verdadeiro reservatório é compensada por representações sistemáticas e generalizadas de poucos animais selecionados; no caso, os morcegos, como “bandidos” epidemiológicos (Lynteris, 2019). Leia Mais

Zoo studies: a new humanities | Tracy MacDonald e Daniel Vandersommers

O livro de Tracy McDonald e Daniel Vandersommers (2019) é um ótimo sinalizador do potencial e dos limites que o campo de investigações identificado como zoo studies possui. Associados a campos similares, como animal studies, os zoo studies têm uma particularidade: são centrados em uma instituição que, segundo os organizadores, normaliza uma determinada maneira de estar no mundo, apartada dos demais seres viventes. Essa instituição é acusada de legitimar, por meio do cativeiro, a supremacia dos humanos sobre os não humanos, assim como de desqualificar o direito destes últimos ao mesmo planeta que habitamos. Os zoo studies surgem, portanto, não apenas para dar visibilidade aos habitantes cativos dos zoológicos, mas também para questionar o nosso próprio conceito de “humanidade”, em oposição, desde o Iluminismo, ao de “animal”.

Esses princípios são interessantes e oportunos. A academia tem, de fato, muito a investigar sobre a história dos zoológicos, assim como há muito a ser discutido, nas mais diversas áreas de conhecimento, sobre o papel que os zoológicos desempenham na sociedade contemporânea e em diversos contextos socioculturais. Não são os princípios, portanto, a razão de minha crítica ao livro de McDonald e Vandersommers. Não divergimos quanto a eles, mas na plataforma política que subjaz a esses princípios. Antes de levantar questões para um debate, farei um breve sumário do conteúdo do volume. Leia Mais

The political lives of Victorian animals: liberal creatures in literature and culture | Anna Feuerstein

No cenário tecnológico e ambiental contemporâneo, sob a égide do conceito de Antropoceno, ascende a demanda pela problematização dos sentidos de “humanidade” e “humanismo”. Nessa perspectiva, a produção de conhecimento orienta-se para a exploração de objetos e abordagens que transcendem as sociedades humanas e as reposicionam em relação a outros sujeitos igualmente dotados de interioridade e agência.

Abraçando a pesquisa historiográfica e a crítica político-cultural, o trabalho de Anna Feuerstein, professora da Universidade do Havaí em Manoa, inscreve-se nesse contexto. The political lives of Victorian animals divide-se em duas vertentes principais: a incorporação dos animais na comunidade política liberal forjada ao longo do século XIX inglês e a representação da subjetividade animal pela produção intelectual da época. Leia Mais

City of beasts: how animals shaped Georgian London | Thomas Almeroth-Williams

Durante a Era Georgiana (1714-1830), Londres consolidou sua posição como centro financeiro mundial. A cidade se expandia com a construção de edifícios, de ruas e avenidas e a criação de parques e jardins. No porto, as grandes docas fervilhavam com embarcações nacionais e estrangeiras, trazendo produtos e mercadorias vindos de diferentes partes do globo. A cidade se tornara uma metrópole, com mais de 700 mil pessoas, mas a população de viventes era ainda maior. Invisíveis à primeira vista, os animais possuíam importante papel na conformação social, econômica e urbana, como assevera Thomas Almeroth-Williams (2019), pesquisador associado do Centre for Eighteenth Century Studies da Universidade de York, em seu livro City of beasts: how animals shaped Georgian London.

Fruto de uma pesquisa de 10 anos, Almeroth-Williams expõe a contribuição dos animais no cenário londrino e os desafios enfrentados por esses e por seus senhores. Londres, no começo do século XVIII, consumia semanalmente cerca de três mil ovelhas e bois, em conjunto com toneladas de outros gêneros alimentícios. Na época, era considerada uma cidade que a tudo e a todos devorava. Além do trânsito desses animais para abate, mais de 31 mil cavalos e milhares de cães e gatos circulavam em seus parques, ruas e avenidas. Números impressionantes, mas que não obtiveram a atenção por parte da historiografia britânica, como observado no Cambridge urban history of Britain e em outras biografias da cidade. A preocupação dessas e das demais pesquisas sobre o tema, segundo o autor, residia nas questões associadas à crueldade animal e ao surgimento do apelo humanitarista. Leia Mais

Como animales. Historia política de los animales durante la Revolución francesa (1750-1840) | Pierre Serna

El siglo XVIII fue un periodo de cambios. El contexto intelectual de la Ilustración se interesó por comprender y explicar su entorno bajo los principios de la razón. En Francia, novedosas ideas surgieron al criticar el agotado sistema absolutista; esto derivó en el estallido de una crisis política: la Revolución francesa; tema que Pierre Serna, historiador francés, profesor en la Universidad de Paris I, Panthéon-Sorbonne, conoce muy bien, y del cual lleva ya varios títulos publicados. Leia Mais

Entangled empathy: an alternative ethic for our relationships with animals – GRUEN (C)

GRUEN, Lori. Entangled empathy: an alternative ethic for our relationships with animals. New York: Lantern Books, 2015. Resenha de: MARIN, Ana Paula Foletto; TRINDADE, Gabriel Garmendia da. Conjectura, Caxias do Sul, v. 21, n. 3, p. 672-677, set/dez, 2016.

Recentemente, empatia se tornou um tópico de interesse em múltiplos campos profissionais (e.g., direito, administração, recursos humanos, etc.), além de alvo de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento (e.g., psicologia, filosofia, neurociência, etologia, etc.).

Embora empatia seja um termo constantemente empregado como se o seu significado fosse aceito por todos, é surpreendentemente difícil encontrar uma base comum entre especialistas não apenas no que concerne à melhor maneira de defini-la, mas também de entendê-la. Leia Mais