Fronteira e Defesa Nacional: Segurança Integrada e Ajuda Humanitária | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2021

Esta edição da revista Monções1 – o dossiê Fronteira e Defesa Nacional: Segurança Integrada e Ajuda Humanitária – reúne um conjunto de artigos que abordam diferentes temáticas das Relações Internacionais contemporâneas. Os textos dão enfoque especial à crise decorrente da imigração venezuelana para o Brasil, com seus desdobramentos – Operação Acolhida, políticas de interiorização dos imigrantes e a questão dos refugiados em Mato Grosso do Sul – e trazem ainda análises das políticas públicas voltadas à faixa de fronteira do Brasil, como o projeto SISFRON e a implantação do RTU, e da política para as fronteiras do governo Trump e os fluxos migratórios da América Latina para os Estados Unidos. Por fim, é apresentada uma resenha que aborda a temática do terrorismo.

O dossiê Fronteira e Defesa Nacional: Segurança Integrada e Ajuda Humanitária traz em sua abertura uma entrevista com o diplomata Celso Amorim, ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Na entrevista, concedida à equipe da revista Monções, o diplomata discorre sobre sua trajetória profissional, sua atuação como diplomata no âmbito do MERCOSUL, sua atuação na ONU, suas experiências como Ministro da Defesa e como Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Ao longo de sua fala, o diplomata aborda diferentes temas como geopolítica, PEB, BRICS, Conselho de Defesa Sul-Americano, ZOPACAS, Operação Ágata e a Comissão da Verdade. Ao final da entrevista, Amorim analisa as mudanças na política externa do Brasil a partir de 2016 e traz um prognóstico do cenário internacional pós-COVID19, comentando o papel dos Estados Unidos de Biden, o protagonismo da China, a importância da UNASUL e a crise na Venezuela, entre outros temas. Leia Mais

As relações nação-região e os espaços de fronteira no processo de institucionalização das ciências e da saúde no Brasil / Outros Tempos / 2020

O dossiê em questão, dedicado às relações nação-região e aos espaços de fronteira no processo de institucionalização das ciências e da saúde no Brasil, é um dos primeiros resultados da nossa parceria, iniciada no ano passado no âmbito da ANPUH-2019, que está assentada no interesse mútuo por explorar as potencialidades analíticas do entrecruzamento das áreas de História das Ciências e trabalhos realizados no âmbito do debate sobre a existência de uma História Regional. Tal aproximação se deu também a partir dos estudos realizados pelo Núcleo de Pesquisa e Documentação em História (NUPEDOCH), da Universidade Federal do Piauí (Campus de Picos – CSHNB), e do grande fluxo de alunos egressos do Piauí que estão realizando os seus mestrados / doutorados no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (COC–FIOCRUZ–RJ), fruto de suas pesquisas desenvolvidas na graduação.

Percebemos, enquanto historiadores dos campos de história das ciências e da saúde, que contextos diversificados e mais particularizados, distantes dos já tradicionais Rio de Janeiro – São Paulo – Minas Gerais, passaram a ser privilegiados pelos pesquisadores. No entanto, cabe ressaltar, que muitos destes trabalhos acabam ficando desconhecidos e deslocados do diálogo com outras realidades, de modo que o local acaba não se conectando com o nacional e o global, e a reflexão se traduz a uma análise de particularismos, com pesquisas que não circulam e acabam sendo desconhecidas de um público maior.

O que propomos não é uma coleção de estudos de caso, mas sim, repensar o nacional a partir de uma diversidade de trabalhos que nos permitam amadurecer o debate sobre nação-região, centro-periferia e outras questões que perpassam o debate em História das Ciências. Nesse sentido, cabe destacar que tal perspectiva de análise já tem, nos últimos anos, gerado resultados de pesquisa relevantes no âmbito da História das Ciências e da Saúde no Brasil, como expresso, por exemplo, em trabalhos sobre a medicina tropical no Amazonas (Schweickardt, 2011) e sobre as instituições científicas do Paraná (Ardigó, 2011), além das diversas pesquisas desenvolvidas no âmbito das Pós-Graduações no Brasil, com destaque para o Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (COC – FIOCRUZ) e o Programa de Pós- Graduação 2 em História da Universidade Federal do Pará – com concentração em História Social da Amazônia. Todos os trabalhos que compõem este dossiê, escritos por pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e que abrangem regiões de norte a sul do país, com recortes temporais que vão de meados do século XIX a meados do século XX, dialogam, de algum modo, com essa chave de interpretação.

Por volta dos anos 1980 assistimos a um processo de renovação importante no âmbito da História das Ciências no Brasil, a partir do qual saberes médicos, epidemias, saúde e doença de escravos, indígenas e mestiços, nas mais diversas temporalidades e contextos históricos, bem como estudos sobre museus naturais, periódicos médicos, escolas médico-cirúrgicas e comissões científicas, entre outros espaços institucionais passaram a ser reconhecidos como objetos legítimos dos estudos históricos, porém isso não significou necessariamente uma ampliação dos horizontes de pesquisa no que se refere aos recortes espaciais.

De um modo geral, percebe-se que vêm aumentando nos últimos anos os trabalhos que se dedicam a uma reflexão mais acurada sobre as diversas artes e ofícios de curar no interior do Brasil, sobre a institucionalização da ciência fora das principais capitais urbanas do país ou sobre a construção de trajetórias de cientistas em diferentes regiões. Sendo assim, considerando a importância de voltar a atenção para contextos particulares, alguns historiadores vêm desvendando as especificidades locais e a necessidade de perceber processos históricos diversos dos já tradicionais debates sobre os conhecimentos científicos e práticas médicas. A possibilidade desse olhar mais direcionado e circunscrito permite que se confrontem representações já cristalizadas no âmbito do imaginário social sobre determinadas regiões, permitindo maior problematização e reflexão crítica acerca da diversidade de contextos.

O universo de pesquisas sobre o tema da história regional nos coloca frente a trabalhos de natureza muito diversa, cuja leitura às vezes mais confunde do que esclarece seus significados e objetivos. Isso se deve, em grande parte, aos múltiplos sentidos atribuídos aos conceitos de região-nação, centro-periferia, por exemplo, dos quais decorrem também abordagens diferenciadas, dependendo do entendimento que dele se faça. Registre-se, no entanto, a relevância das análises regionais para os estudos históricos na medida em que permitem desafiar a homogeneidade de teorias generalizantes. Dada a possibilidade de aproximação com realidades mais particularizadas, tais estudos fazem emergir o específico e o diferente, viabilizando uma leitura alternativa que enriquece e complexifica a compreensão histórica sobre temas 3 variados. A imagem de que uma variação de escala permite contar outras histórias pode ser analisada, por exemplo, a partir de J. Revel, em livro no qual premissas diversas da historiografia na atualidade são abordadas, como o retorno da biografia e a microhistória. Nessa perspectiva de análise, o enfoque regional nos permitiria perceber com mais clareza a diversidade de experiências históricas.

Tendo em vista o grande debate historiográfico existente em torno das relações centro-periferia no âmbito da história das ciências, esse tipo de abordagem contribui para tensionar essas interações ao mostrar que os lugares dos centros e das periferias não podem ser considerados como fixos ou sem dinamicidade, muito menos como fruto de uma ciência capaz de definir com clareza os seus protagonistas, retirando-se toda a historicidade desses processos de definição. Nesse sentido, o conceito de circulação, de Kapil Raj, nos ajuda a compreender essa polarização que coloca em campos distintos um grupo que seria produtor de conhecimento e outro que seria mero receptor de práticas científicas vindas de fora, conferindo protagonismo a diferentes atores, muitos deles pensados até então como meros expectadores.

Sua ideia de que o conhecimento circula deixa os historiadores em alerta para as múltiplas possibilidades que os estudos focados em determinada região, por exemplo, podem trazer. Além de evidenciar o caráter relativo desses contextos considerados como “periféricos”, este tipo de estudo permite também que se note a existência de comunidades e práticas médicas e científicas locais que, ao se voltarem para a resolução de problemas cotidianos, mostram-se atualizadas e produtoras de conhecimento, trazendo elementos novos que nos levam a colocar em perspectiva o protagonismo de uma ciência pensada, sobretudo, a partir das regiões sul e sudeste do Brasil ou mesmo da Europa e dos Estados Unidos. E esse, nos parece, que é mais um motivo para apostar no potencial analítico do cruzamento entre as definições do que se convencionou chamar de História das Ciências e História Regional. Ao nos permitirem observar realidades mais específicas e ajustar as lentes para o dia-a-dia das práticas científicas, esse “casamento” entre dois campos correlatos possibilitará também que, no futuro, possamos contar com uma base variada e sólida de análises para a realização de mais estudos comparativos.

Por fim, ressaltamos ainda os artigos livres enviados para o v. 17, n. 30, 2020, da Revista Outros Tempos. Mesmo que tais trabalhos não estejam no rol dos artigos do dossiê sobre “As relações nação-região e os espaços de fronteira no processo de institucionalização das ciências e da saúde no Brasil”, os leitores perceberão que 4 todos dialogam diretamente com a proposta dos organizadores, pois trata-se também de uma tentativa de trazer à tona outras experiências históricas em contextos diversos dos já tradicionalmente trabalhados por uma historiografia oficial. Tal constatação já nos deixa com a sensação de que todo o esforço de organização e reunião dos artigos, entrevista, estudo de caso, foi completamente recompensado pelo resultado final apresentado neste volume.

Boa leitura!


COE, Agostinho Júnior Holanda; VIEIRA, Tamara Rangel. Editorial. Outros Tempos, Maranhão, v. 17, n. 30, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Complexo madeira: região, fronteiras e diversidades / Canoa do Tempo / 2020

Nas últimas décadas, a concepção de História Regional passou a se constituir como importante campo de estudos ao valorizar espaços sócio-históricos considerados periferias dos centros de tomadas de decisões políticas. Ao privilegiar noções como região, território, fronteira, etnicidade, dentre outras, ela tem possibilitado a valorização de espaços até então invisibilizados por análises historiográficas generalizantes. Os desdobramentos destas últimas têm sido, em muitos casos, a construção de representações esvaziadas de especificidades sócio-históricas, as quais negligenciam as características de determinados espaços regionais marginalizados pelas estruturas das organizações sociais hierarquizantes e pelas tendências geopolíticas hegemônicas e homogeneizadoras.

Considerando as reflexões apresentadas pelo editorial da Revista de História Regional (RHR), periódico do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a noção de “região” pode ser concebida como “uma produção de diferentes grupos, classes e culturas que a constroem mediante determinadas vivências e representações. [Assim,] uma região é tanto um espaço físico, ambiental e material quanto um espaço imaginário, simbólico e ideológico. E uma dimensão é inseparável da outra”.1 Para Claude Raffestin, o “espaço” se constitui como um campo de possibilidades para a conformação do “território” e “falar de território é fazer uma referência implícita a noção de limite que, mesmo não sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção do espaço”. Assim, “a territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade [sociedade-espaço-tempo] do ‘vivido’ territorial pelos membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral”.2

Nesse sentido, o presente dossiê se propôs a reunir trabalhos que se debruçassem sobre as especificidades presentes na região denominada por Alfredo Wagner Berno de Almeida, em 2009, de “A última grande fronteira amazônica”. Para este autor, é preciso pôr em evidência os antagonismos sociais existentes na região amazônica, sendo importante que apresentemos elementos comparativos entre as diferentes realidades vivenciadas por indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais e outros grupos sociais denominados formalmente pelos órgãos fundiários como assentados e agricultores familiares, além dos residentes em perímetro urbano. Isto porque de acordo com Almeida, o discurso da “vocação mineral, agropecuária e energética”, voltado para a materialização de projetos desenvolvimentistas gestados na Amazônia em forma de construção de grandes obras de infraestrutura como hidrelétricas, rodovias, ferrovias, portos fluviais, dentre outros cresce a cada dia, sendo que a região denominada de “O Complexo Madeira” não está dissociada desse fenômeno.

Assim, a tese de Almeida é de que a ação das agências multilaterais, os interesses neoliberais dos agronegócios e aqueles referidos ao que se denomina usualmente de globalização “não teriam derrubado a capacidade e o poder de intervenção do Estado na região amazônica, ao contrário, se associaram a ele numa poderosa coalisão de interesses”, concorrendo para o aumento da concentração fundiária e o crescimento dos conflitos agrários nas fronteiras amazônicas.3 Por outro lado, o respeito e a preservação da relação entre natureza e cultura, no que concerne ao modo como as populações tradicionais lidam com o meio ambiente, está pautada no artigo 216 da Constituição brasileira de 1988, o qual prescreve que é responsabilidade do Poder Público e da comunidade zelar pela preservação do patrimônio material e imaterial relacionado às referências identitárias e às memórias dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.4

Dessa forma, consideramos que as representações sobre esta parte da Amazônia compreendem diferentes espaços e perspectivas que informam particulares relações sócio-históricas desenvolvidas ao longo das relações de contato entre diferentes sujeitos e coletivos. Além disso, o espaço relacionado ao Complexo Madeira, inclui regiões fronteiriças entre os atuais estados do Amazonas, Rondônia e Acre, assim como áreas relacionadas ao Vale do Guaporé até a fronteira com a Bolívia, partindo de uma perspectiva que privilegia a História Regional e evidencia diferentes relações estabelecidas nesta parte da Amazônia brasileira. Assim, as propostas que compõem esse dossiê privilegiam características sócio-históricas específicas e particularizadas. Cada uma delas a seu modo apontam caminhos e rascunham interpretações que nos permitem evidenciar vestígios do cotidiano social nessa parte da Amazônia.

Seguindo essa linha, o texto escrito pelo professor do Departamento Acadêmico de História da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Dante Ribeiro da Fonseca, intitulado Santo Antonio do Rio Madeira: as ambiguidades de uma povoação amazonense do Mato Grosso e a Madeira-Mamoré, evidencia o processo de surgimento e a dinâmica das transformações ocorridas na povoação de Santo Antonio do Rio Madeira, assim como as mutações ocorridas desde o início da construção da ferrovia Madeira-Mamoré em sua relação com o colapso da economia da borracha no Vale Amazônico, num processo que mescla referências dos séculos XIX e XX. Dentre suas importantes contribuições está a evidenciação dos processos históricos que informam o modo como a povoação de Santo Antonio, que surgiu como uma localidade do Mato Grosso ocupada pelo Amazonas, hoje resiste como um bairro da capital do território do Guaporé, Porto Velho, RO.

Outro trabalho que evidencia processos que informam uma espécie de geografia humanística é aquele desenvolvido por Aleandro Gonçalves Leite e intitulado Sentidos colonizados: a Zona Sul de Porto Velho na redemocratização nacional. Nesta proposta, o autor analisa, através da imprensa periódica, o processo de formação discursiva da ideia de uma periferia da capital de Rondônia e apresenta elementos para refletirmos sobre o modo como os sentidos produzidos discursivamente pela imprensa dos anos 1980, no contexto de reabertura política no Brasil, influenciaram os processos de expansão urbana de Porto Velho, RO.

Partindo das concepções de patrimônio, memória e representações, apresentamos três trabalhos que nos permitem compreender o modo como a relação entre as culturais materiais e imateriais vêm se constituindo nessa região. O primeiro deles, produzido pelo professor Alexandre Pacheco e intitulado O patrimônio histórico da EFMM: entre a “política do precário” e o impacto da natureza (Porto Velho, 2007- 2017), traz como proposta a análise estética e histórica do complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), em Porto Velho, a partir dos resultados de sua revitalização/restauração, a partir de 2007, e os impactos decorrentes da chamada “Grande Enchente do Rio Madeira”, ocorrida em 2014. A ideia do autor é evidenciar como a inadequação das políticas patrimoniais de preservação da cultura material e os impactos dos fenômenos naturais têm concorrido para um processo de invisibilização da EFMM nos últimos anos.

Já o trabalho desenvolvido por Marcelo Leal Lima, intitulado A instalação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em O mar e a Selva, de Henry Tomlison e Mad Maria, de Márcio Souza, apresenta o projeto cartográfico “Complexo Madeira”, considerando a EFMM através das cartografias literárias de Tomlinson e Márcio Souza.

A proposta do autor é enveredar pela literatura de modo a evidenciar o processo de construção dessa ferrovia em plena Amazônia e indicar possibilidades do uso da literatura como elemento indicador de novos olhares socio-históricos e político-culturais na região.

Em seguida, a pesquisadora Carmem Rodrigues, no texto intitulado Um experto em Amazônia? O Visconde de Balsemão e a representação da Amazônia portuguesa no mapa “Colombia Prima or South America”, faz uma análise sobre os agentes colonizadores que auxiliaram o geógrafo inglês William Faden a produzir seu grande mapa da América do Sul intitulado Colombia Prima or South America, publicado em 1807. A proposta da autora é verificar quem foram os oficiais portugueses que auxiliaram nesta produção e, através da análise de suas trajetórias, verificar de que modo eles contribuíram para a criação de representações cartográficas sobre a região amazônica.

O terceiro conjunto de artigos traz uma mescla de discussões referentes às fronteiras, colonizações, projetos desenvolvimentistas e seus derivados impactos socioambientais. Cada um deles, a seu próprio modo, problematiza as mudanças micro e macro relacionais ao Complexo Madeira em múltiplas escalas. O trabalho escrito por Antônio Cláudio Barbosa Rabello, intitulado Agentes e agências na construção da política mineral brasileira e da fronteira amazônica (1930-1960), traz elementos para refletirmos sobre a noção de “volatividade da fronteira amazônica”, entendendo-a como produto de relações sociais em permanentes disputas na condução das políticas de Estado.

O trabalho ainda evidencia que os argumentos utilizados pelos agentes da mineração são fundamentados na ideia de que há primazia das atividades de mineração em detrimento dos processos de industrialização entendendo a primeira como principal alternativa à independência econômica do Brasil ao mesmo tempo em que produzem diferentes interpretações sobre a Amazônia e seu papel enquanto fronteira de recursos minerais.

Em seguida, o professor Rogério Sávio Link, no texto intitulado A “Ferrovia de Labre” e a consolidação da última fronteira, problematiza o projeto colonizador de Antonio Rodrigues Pereira Labre para o Complexo do Madeira e para a última fronteira brasileira entre Brasil e Bolívia. Nele, o autor apresenta elementos que contribuem com as reflexões relacionadas à História Regional do Complexo Madeira e com a evidenciação de processos de colonização e demarcação daquilo que também denomina como a última fronteira brasileira.

Já o trabalho redigido por Paula de Souza Rosa e Jéssyka Sâmia Ladislau Pereira Costa, intitulado O célebre Telesforo Salvatierra, o herói da terrível tragédia de Carapanatuba: conflitos pela posse de seringais e o mundo do trabalho no rio Madeira (1870-1887), analisa a trajetória do negociante e seringalista boliviano Manoel Telesforo Salvatierra no contexto de expansão conflituosa da fronteira extrativista desenvolvida na região. Ao refletir sobre os mundos do trabalho a partir de meados do século XIX, as autoras se propõem a reconstruir redes de relações familiares, econômicas e sociais estabelecidas por Manoel Telesforo na Bolívia e ao longo do Rio Madeira.

O trabalho que encerra esta apresentação é fruto uma excelente pesquisa desenvolvida junto aos pescadores do Rio Madeira, na região de Porto Velho. Intitulado Pescarias tradicionais da Cachoeira do Teotônio submersas pelas Usinas em Rondônia, os autores trazem à tona as transformações ocorridas na atividade de pesca de pequena escala, uma atividade de profunda importância histórica e que garantia segurança alimentar e renda para as comunidades desenvolvidas ao longo do Rio Madeira antes da construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Outra importância do trabalho está na evidenciação de que antes da construção das usinas, as atividades pesqueiras da região da Cachoeira de Teotônio se destacavam pela pescaria altamente adaptada à captura e produtividade. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é descrever as mudanças socioambientais e históricas ocorridas nas atividades de pesca após a construção das usinas e nos indicar de que modo a alteração da condição da pesca pela modificação antropogênica do ambiente, aliado ao deslocamento de comunidades inteiras de suas regiões de atividades de sobrevivência tradicionais, altera as relações sócio-históricas entre sujeitos e coletivos e suas paisagens ao longo de gerações de pescadores.

Dessa forma, o dossiê reflete as diferentes tentativas de seus colaboradores e idealizadores para evidenciar um caleidoscópio de possibilidades de análise sobre uma região complexa e historicamente resultante de constantes transformações sóciohistóricas e geopolíticas. Não nos admiramos, nesse sentido, de que os trabalhos distribuídos ao longo desta publicação possam suscitar possibilidades de pesquisas futuras que privilegiem aquilo que se tem denominado a última grande fronteira amazônica. Com este dossiê, esperamos contemplar diferentes pesquisadores que se debruçam sobre essa região particular, denominada de “O Complexo Madeira”.

Notas

1As publicações feitas pela Revista de História Regional desde 1996 e demais informações sobre o periódico podem ser acessadas através do endereço: https://revistas2.uepg.br//index.php/rhr/index; Acesso em: 21 jan. 2021.

2 RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder – Terceira parte: capítulo I – O que é o Território. Tradução: Maria Cecília França. São Paulo: Editora Ática, 1993, p. 153.

3 DE ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. A última grande fronteira amazônica: anotações de preâmbulo. In. DE ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno (Org.). Conflitos sociais no” Complexo Madeira”. Manaus: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia/UEA Edições, 2009, p. 22. Disponível em: http://novacartografiasocial.com.br/download/conflitos-sociais-no-complexo-madeira/; Acesso em: 21 jan. 2021.

4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm; Acesso em: 21 jan. 2021.

Fernando Roque Fernandes Porto Velho – Inverno amazônico, 2021.

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Amazônia global: espaços de circulação e representação da fronteira | Revista de História | 2019

Os textos que compõem esse dossiê foram gerados em grupos de pesquisa e programas de pós-graduação que têm, sistematicamente, se dedicado à historiografia da Amazônia. Esse exercício implica em alguns desafios intelectuais. Em primeiro lugar, compreender processos e transformações sociais ocorridos até o século XIX fora da chave interpretativa fornecida pela associação entre plantation, mineração e escravidão africana, que domina a historiografia brasileira e que já vem sendo questionada há algum tempo como inadequada para a região. Em seguida, dar visibilidade e protagonismo a sujeitos de máxima importância para a história da Amazônia, como os povos indígenas e os ribeirinhos, de diferentes culturas, línguas e estratégias de aproximação e negociação com a sociedade nacional; os numerosos e diversificados agentes coloniais e servidores do Estado, em geral de baixo escalão; os pequenos proprietários e os comerciantes que dominavam a economia regional, centrada no extrativismo e na agricultura e que se organizou a partir do controle de acesso às zonas de exploração e cultivo, localizadas nas várzeas dos grandes rios; os missionários e demais membros do clero, peças ativas na expansão europeia e no processo de urbanização da região; e mesmo os afro-brasileiros ali residentes, com suas culturas e identidades, não redutíveis a ‘escravos’. Vemos, nas fontes, todos eles circulando pelo território amazônico e colocando em movimento a fronteira que se estabelece desde o início do período colonial e que se amplia à medida que novos espaços e povos são incorporados no sistema global de intercâmbios políticos, econômicos e culturais. Leia Mais

Fronteira, Política e Economia / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2015

El número de la revista História em Reflexão, que tengo el honor de presentar está compuesta por una serie de artículos sumamente interesantes que conforman un dossie “Fronteira, Política e Economia”. En este número desde diversas perspectivas y momentos históricos el lector podrá comprender la relación ambivalente que existe entre la frontera, frontera que es definida desde la política y por supuesto también desde las relaciones económicas. Pero es ambivalente porque por un lado esa frontera separa y por otro lado une, como se puede comprobar en los artículos que componen este número. Por un lado se establece hasta donde llega el estado civilizado frente al indígena pero al mismo tiempo de señalar el límite se marca el punto de unión y de contacto, y de alguna forma de interculturalidad, al igual que al estudiar las relaciones entre grupos políticos de países fronterizos, así como sin duda queda claro que la frontera es un lugar de comercio por excelencia.

El artículo escrito por Fábio Luiz Arruda nos ayuda a comprender las relaciones y las tensiones entre dos corrientes historiográficas más que importantes entre los años 1960 y 1980, por un lado la discontinuidad propuesta por el francés Michel Foucault y por otro lado la microhistoria planteada por el italiano Carlo Ginzburg. El detallado análisis realizado por el autor concluye con una serie de consideraciones sumamente interesantes sobre tan influyentes corrientes historiográficas.

Gilmara Yoshihara Franco y Wander Scalfoni de Melo realizan un interesante análisis historiográfico del Álbum Gráfico de Mato Grosso, compuesto de textos e imágenes que fue concebido con el propósito de testimoniar la modernización económica del estado de Mato Grosso durante la década de 1910. El análisis realizado descubre el discurso que trasunta en dicho texto en cuanto a las características y el pasado de la región matogrossense y el futuro promisorio que se vislumbraba con la inauguración de vías férreas que conectaban al estado con el resto del territorio brasileño.

Por su parte Amanda Souza Ribeiro nos plantea un texto en el cual da cuenta de su investigación de cómo se enseña la Historia en la enseñanza fundamental en el estado de Paraná. El estudio realizado por Souza Ribeiro, plantea claramente que es fundamental la utilización de una diversidad de fuentes históricas en la enseñanza de la historia para lograr que los estudiantes tengan una acabada comprensión de los procesos históricos, superando de esa forma la historia heroica a la que tienden la mayoría de los textos escolares.

El artículo de Victor Santos Gonçalves, es el resultado de su investigación sobre el tráfico de africanos en São Jorge dos Ilhéus durante el siglo XIX, principalmente cuando a partir de 1831 dicho tráfico ya era ilegal. Entre sus principales conclusiones se encuentra que el color de la piel de los africanos era un determinante para la posición social de los individuos en dicha población en la región de Bahía durante el período analizado.

Sandor Fernando Bringmann, analiza la política indigenista del estado brasileño a mediados del siglo XX, a través del estudio de un caso en particular, el de Francisco José Vieira dos Santos (Francisco Vieira) quien estaba encargado de un Puesto Indigena, el de Nonoai, en el cual se encontraban los kaingang. El artículo utiliza como fuentes tanto los documentos y las memorias de Vieira al igual que los testimonios de los kaingang sobre la labor del encargado del puesto. Este artículo enriquece desde una perspectiva bastante amplia lo que fue la política indigenista del estado brasileño, así como su intención de incorporar a “la modernidad” a los habitantes originarios del Brasil.

Por su parte Tiago João José Alves investigó sobre las consecuencias políticas del denominado Argentinazo en 2011 en el estado de Paraná cuando un grupo de estudiantes de la Universidad Estadual de Maringa se organizó en el grupo denominado Construção ao Socialismo (CAS), que fue influenciado por militantes de la organización argentina Convergencia Socialista de orientación ideológica troskista. En el artículo el autor analiza los efectos de la denominada trasnacionalización política y como la misma estuvo orientada por un mismo proyecto político que buscaba en ambos países la conformación de una agrupación política de carácter revolucionaria.

Márcio Augusto Scherma realizó una interesante investigación de historia económica reciente en el contexto de las relaciones internacionales. En su artículo analiza como el estado de Mato Grosso do Sul aprovecho la política exterior impulsada por el presidente Luiz Inacio Lula Da Silva en cuanto a los demás países latinoamericanos. Scherma realiza un primer acercamiento a las relaciones comerciales entre Mato Grosso do Sul con Bolivia, concluyendo que fue mucho mayor el volumen de comercio entre el estado de Mato Grosso do Sul con Bolivia aumento en poco más del 360% durante el período analizado.

Este interesante número de la Revista História em Reflexão, concluye con la reseña elaborada por Lenita Maria Rodrigues Calado sobre el libro de la doctora Ana María Colling titulado Tempos diferentes, discursos iguais: a construção do corpo feminino na história.

Este número es sumamente rico no solo por la diversidad de temas que son expuestos sino por la calidad y profundidad de los artículos al tratar aspectos no sólo teóricos sino que también al analizar temas de la historia social tanto del siglo XIX como del siglo XX, al igual que aspectos de la historia reciente del Brasil y del estado de Mato Grosso do Sul.

Deseo a cada uno de los lectores, que estos artículos sean tan ilustrativos y provechosos como lo fueron para mí.

Anibal Herib Caballero Campos – Universidad Nacional de Canindeyú, UNICAN. Post Doctorado en Historia – UFGD


CAMPOS, Anibal Herib Caballero. Presentación. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 9, n. 18, jun. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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A historicidade da fronteira nos tempos passados e presentes / Cantareira / 2014

Pensar a constituição dos chamados Estados Nacionais têm sido uma preocupação constante nas análises historiográficas. A nação foi, enquanto produto do século XIX, uma construção orientada por traços comuns que a sustentavam, tais como a constituição de uma memória comum, de uma trajetória comum e de um porvir comum. Nesse sentido, estabelecer fronteiras entre o “nós” e o “eles” permitiu a consolidação de “comunidades imaginadas” – ainda que em graus variados para cada lugar -, seguindo a expressão usada no livro de Benedict Anderson para pensar o Estado Nação [2´]. Em um período onde as nacionalidades vêm sendo cada vez mais reivindicadas e os limites dos países ocidentais reafirmados, é interessante perceber o lugar destinado às fronteiras e sua ligação com a sociedade que as envolve.

A preparação deste número para a Revista Cantareira dedicado a um estudo que vislumbrasse uma história social das fronteiras tinha por objetivos trazer à cena os agentes sociais que viviam nesses espaços fluidos, indeterminados e por vezes confusos para os que nela transitavam. Nosso maior desafio foi pensar a historicidade do tema na medida em que, cada vez mais, a ideia de fronteira entre Estados Nação distintos têm se fortalecido diante de outras demandas sociais e econômicas como as ondas de imigração no continente europeu e as diferentes ações dos Estados para contê-las. As tentativas de impedir a entrada de imigrantes somadas à uma série de ações de proteção ás fronteiras nacionais têm sido noticiadas na imprensa nacional e internacional. Na era da Internet e do imediatismo das informações, os contornos mundiais vêm ganhando outras dimensões que podem atender a perspectivas e interesses variados, os quais muitas vezes estão associados a ideia de soberania – conceito formulado ao longo do século XVIII para abarcar a defesa dos interesses dos Estados Modernos, onde é possível destacar uma polarização entre a moral e a política para a constituição desta ideia [3]. Nesse sentido, é importante sublinhar que a constituição de espaços de soberania podem, ainda hoje, ser referendados como norteador fundamental para os Estados Nação; embora haja certo paradoxo com a integração e a união, destacadamente econômica.

Muitos jornais têm noticiado o impacto da entrada de estrangeiros na Europa. Esta, por sua vez, vem sendo interpretada como a maior crise de imigração ocorrida desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Países como Áustria, Hungria, Grécia, Espanha, Sérvia, Itália, Alemanha, França e Reino Unido se veem recebendo um número elevado de refugiados oriundos da Síria, de países africanos, da Turquia, entre outros lugares. Isso têm fomentado reações as mais diversas das autoridades e também da sociedade, dentre as quais podemos destacar: 1) a intensificação da segurança nas fronteiras, como no Canal da Mancha, e o uso de linhas de arame farpado numa cerca definitiva que separaria países como Sérvia e Hungria; 2) o aumento da força nas ações policiais e, por conseguinte, de ações de xenofobia nos mais variados estratos sociais e; 3) uma série de pedidos da Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de uma postura mais branda por parte das autoridades europeias em relação a estes refugiados [4].

A partir destas linhas de raciocínio, como podemos dar conta de uma realidade tão variada e distinta presente nos espaços fronteiriços? É importante frisar que não falamos apenas das fronteiras coloniais, reflexo do processo de colonização; mas também a constituição destes espaços na contemporaneidade e seus reflexos no que tange as políticas públicas e de assistência social. É nítido que os primeiros debates sobre o tema tiveram sua importância ao perceber a singularidade da fronteira, a qual não pode ser vista apenas enquanto uma linha imaginária que dividia o domínio de duas (ou mais) jurisdições distintas; mas também como um espaço de múltiplos significados cuja experiência precisava ser melhor interpretada e construída. O pensar a vida na fronteira recaía em, pelo menos, dois pólos: um sinalizava o papel do Estado diante das interações sociais, pensando o viés das instituições coloniais para melhor compreendê-las. Já o outro polo sinalizava a ação dos indivíduos frente a um mundo que lhes era hostil, onde predominava o desconhecido, o bárbaro – locus ideal aos chamados excluídos da sociedade [5].

Optamos por pensar este espaço de múltiplos significados através de análises interdisciplinares, na busca da apreensão de diversos elementos para a configuração deste espaço, contemplando questões políticas, culturais, econômicas, tanto dos tempos passados quanto dos tempos atuais. O primeiro artigo, intitulado “O nervo mais forte das fronteiras: dinâmicas sociais dos índios no Paraguai [séculos XVI e XVII]”, de Bruno Castelo Branco, busca mostrar a participação ativa dos povos indígenas da América Meridional nos processos de constituição destes territórios; destacando a ação dos mesmos enquanto força de trabalho através da mita e da encomienda, reiterando a importância de se abordar a “agência histórica indígena” numa perspectiva de negociação, e não somente dentro de uma leitura assimétrica da dominação no decorrer do processo de conquista e de colonização da América.

O segundo artigo, “As fronteiras sociais do nacionalismo alemão: Identidade nacional, etnicidade e os paradoxos da democracia alemã nos dias atuais” já nos remete a questões do tempo presente a partir da discussão sobre os paradoxos da identidade nacional alemã; a qual teve, ao longo de sua história, uma construção baseada num passado de glórias e de guerras. Num país atualmente multiétnico, “ser alemão” têm sido cada vez mais questionado por conta de questões econômicas, sociais e culturais que perpassam a realidade de outros países europeus – tais como a França e o Reino Unido – onde a presença de imigrantes, sobretudo muçulmanos, vem sendo polemizada e questionada.

Já no texto de autoria de Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior aparecem as complexidades das relações diplomáticas entre o Brasil e Guiana Francesa dentre fins do século XIX e inícios do século XX, tomando o espaço do Amapá como local de análise. A partir de publicações do jornal norte-americano Times, o então território do Amapá “surgia” num veículo de comunicação que objetivava retratar uma determinada visão dos fatos e que, por outro lado, acabou por contemplar experiências de outros agentes sociais que viviam naquelas regiões; estabelecendo conexões entre o Brasil, a Guiana Francesa e os Estados Unidos. A ideia de consolidar pesquisas que tratem de temáticas transnacionais nos coloca o desafio de se pensar a multiplicidade das ações e das reações na fronteira no gerenciamento de conflitos e no quanto os mesmos podem impactar a política e a diplomacia tanto no passado quanto em tempos recentes.

Por fim, o artigo intitulado “Vivendo na Bolívia, contudo trabalhando do Brasil: uma discussão acerca de convivência(s) e migrações na Zona de Fronteira Brasil / Bolívia”, envereda por uma questão fundamental nos espaços de fronteira: a relação das pessoas com o trabalho. Num espaço onde uma das principais atividades econômicas é o comércio, constituir determinadas interações sociais poderia fomentar conflitos em torno do que os agentes locais interpretam como uma noção de territorialidade. Nesse ínterim, o diálogo entre as pessoas e o espaço é fundamental a apreensão de um significado econômico da fronteira, de modo que os habitantes de cidades do Mato Grosso confluentes com a Bolívia irão se ater a suas lógicas de apropriação e significação do território.

Ainda na busca por problematizar os temas relativos ao universo das fronteiras, temos uma entrevista com a Profª Drª Keila Grinberg (UNIRIO), que tratou de temas mais recentes de sua pesquisa sobre o papel da escravidão nestas regiões e o peso que ela possuía no relacionamento diplomático do Império Brasileiro com as recém formadas repúblicas do Uruguai, da Argentina e do Peru. Além disso, a historiadora ressaltou as possibilidades de pesquisa dentro de uma perspectiva atlântica, a importância da comparação enquanto método de pesquisa para compreender semelhanças a diferenças nos processos históricos e o papel das chamadas histórias regionais à compreensão de realidades locais e, por que não ousar dizer, nacionais?

Por fim, contamos com uma sessão de artigos livres, onde é possível ver contribuições interessantes ao estudo de histórias regionais e a importância de instituições para garantir o atendimento demandas sociais. Além disso, outros artigos destacam o papel que determinadas fontes têm para o trabalho do historiador e a importância das experiências conectadas no mundo colonial em campos como a cultura e a religiosidade.

Agradecemos aos pareceristas e desejamos, desde já, uma boa leitura!

Notas

  1. ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. Também são obras importantes deste debate os livros de Eric Hobsbawm. Nações e nacionalismos desde 1780. Programa, mito e realidade. 5ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. Do mesmo autor, com organização junto com Terence Ranger. A invenção das tradições. 6ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
  2. KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro: Ed. Uerj / Contraponto, 1999. p. 55-56.
  3. Ver, dentre outras notícias sobre o tema: Jornal O Globo, 25 / 08 / 2015. Europa militariza fronteiras frente à crise migratória. Disponível em: http: / / oglobo.globo.com / mundo / europa-militariza-fronteiras-frente-crisemigratoria-3-17303595. Folha de São Paulo, 26 / 08 / 2015. Polícia húngara usa gás lacrimogêneo em centro para migrantes. Disponível em: http: / / www1.folha.uol.com.br / mundo / 2015 / 08 / 1673716-policia-hungara-usagas-lacrimogeneo-em-centro-para-migrantes.shtml. RFI Brasil, 27 / 08 / 2015. Áustria e Hungria, em dia fúnebre para os migrantes. Disponível em: http: / / www.portugues.rfi.fr / mundo / 20150827-austria-e-hungria-em-diafunebre-para-os-migrantes.
  4. TURNER, Frederick Jackson. “O significado da fronteira no Oeste Americano”. KNAUSS, Paulo (org). Oeste Americano: 4 ensaios de História dos Estados Unidos da América de Frederick Jackson Turner. Niterói: EDUFF, 2004. BOLTON, Herbert E. “La misión como institución de la frontera en el septentrion de Nueva España”. Francisco de Solano e Salvador Bernabeu (orgs): Estudios (Nuevos y Viejos) sobre la frontera. Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1991. p. 45 – 60. HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 31. RUSSELL-WOOD, John. Histórias do Atlântico português. São Paulo: Editora UNESP, 2014.

Hevelly Ferreira Acruche – Doutoranda pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes).


ACRUCHE, Hevelly Ferreira. Apresentação. Revista Cantareira, Niterói- RJ, n. 21, jul / dez, 2014. Acessar publicação original [DR]

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