Entre o impossível e o necessário: esperança e rebeldia nos trajetos de mulheres sem-terra no Ceará | Paula Godinho, Adeaide Gonçalves e Lourdes Vicente

Como mensurar o interesse e a utilidade de um livro? Não somente de um texto, de um relato ou de uma história, mas do todo que constitui o objeto? Um caminho certamente é pensar naquilo que tal encontro desperta nos sentidos e traz como potencial de transformação ou elaboração. No quanto está em sincronia com as questões do próprio tempo, mas vai além e, por vezes intuitivamente, destila o que permanece, oferece o que não se esvai. Ou mesmo se traz mais do que seria suposto, não apenas porque se renova a cada leitura, mas pelo intangível que não controla, nem prevê, mas no qual seu todo participa. Seja por que caminho for, essas são balizas que podem guiar a leitura de Entre o impossível e o necessário: esperança e rebeldia nos trajetos de mulheres sem-terra no Ceará, lançado pela editora Expressão Popular no denso e tenso ano de 2020.

Composto por estudos e relatos correlacionados, mas que mantém independência entre si, tem a qualidade de que cada parte é mais do que se propõe a ser. Isto é, não seria incorreto dizer que o livro se centra em 15 relatos vida de 16 mulheres sem terra do Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, a partir de entrevistas realizadas pela antropóloga portuguesa Paula Godinho, autora da introdução e do epílogo. É também organizado pela historiadora brasileira Adelaide Gonçalves e a pedagoga Lourdes Vicente, ambas professoras e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que também assinam o estudo “Essencial é a travessia”, como em Guimarães Rosa, à guisa de prefácio. Mas, depois de lido, dizer isso torna-se insuficiente ou inexato. Leia Mais

Design para um mundo complexo | Rafael Denis Cardoso

Design para um mundo complexo (Ubu, 264p.), escrito por Rafael Cardoso Denis, reúne reflexões sobre o design na contemporaneidade relacionado com a dinâmica da sociedade, cultura, memória, patrimônio e meios de produção. Como fundamento teórico, o autor retoma as discussões do designer Papanek que, em seu livro, Design for the world (1971), polemizava sobre os conflitos entre a visão prática do design no período modernista e as demandas sociais daquela época. Há uma tentativa de Denis em romper com alguns mitos de origem da área, objetivando revelar a instabilidade entre as noções de forma, função e significado. O trabalho se estrutura em três capítulos principais, tendo como linha de abordagem tanto a atualização do pensamento de Papanek como a abertura crítica acerca da complexidade do exercício projetual.

A discussão inicia com uma problematização sobre a natureza dos artefatos, que são resultantes da interferência humana na matéria-prima. Costuma-se categorizar esses objetos como móveis e imóveis. Mas o fato de um objeto permanecer fixo num lugar seria garantia de sua imobilidade no tempo? Para aprofundar essa questão, toma-se como exemplo o monumento dos Arcos da Lapa, uma das mais conhecidas referências do patrimônio construído do Rio de Janeiro. Após 1740, ano de sua criação, a construção se submeteu a diferentes intervenções, e da proposta original de aqueduto passou a ser usado como viaduto, lugar de passagem do bondinho. Leia Mais

Espaços da Recordação: formas e transformações da memória cultural | Aleida Assmann

Tópico

Esta resenha versa sobre o livro Espaços da Recordação: formas e transformações da memória cultural, de Aleida Assmann. Lançado em 2011 pela Editora Unicamp, o livro é resultado do trabalho de um grupo de tradutores liderados por Paul Soethe, da Universidade Federal do Paraná, da versão original alemã Erinnerungsräume: formen und wandlungen des Kulturellen Gedächtnisses, publicada em 2006 pela editora Verlag em Munique. A autora e seu companheiro, Jan Assmann, figuram entre os autores mais influentes das últimas décadas nos estudos da memória. Será de grande utilidade, contudo, para o leitor, perceber que o surgimento da memória cultural enquanto conceito está alinhado a uma crescente corrente de estudos transdisciplinares sobre a memória. Ainda que possam haver origens ainda mais remotas, como Aristóteles (SANTOS, 2013) e Platão (A. ASSMANN, 2011), Maurice Halbwachs e Aby Warburg são frequentemente referenciados para definir o momento em que a compreensão da memória humana incorpora o aspecto social e coletivo (J. ASSMANN, 1995). O termo memória cultural, entretanto, foi cunhado por Aleida Assmann e Jan Assmann para designar a memória que permanece viva em uma sociedade a longo prazo e distingue-se da memória comunicativa, que abrange um intervalo de três gerações, e da memória política, perpetuada por meio de instituições (J. ASSMANN, 2010). Leia Mais

Noites Festivas de Junho: História e Representações do São João no Recife (1910-1970) | Mário Ribeiro Santos

Noites Festivas de Junho: História e Representações do São João no Recife (1910- 1970) é fruto da tese de doutorado apresentada em 2015, na Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) do Doutor Mário Ribeiro dos Santos. Em 2018, com apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (FUNCULTURA) foi publicado em formato de livro pela Editora da UFPE.

Ao realizar sua pesquisa voltada as festas das agremiações carnavalescas nas ruas de Recife durante sua dissertação, o autor identificou como o Estado atuava organizando tais festividades sobretudo ao instituir medidas normatizantes e punições. Entretanto, o mesmo não acontecia quando se observava as festividades juninas no mesmo período. Além dessa observação, dois outros detalhes ajudaram na construção do problema do livro. O primeiro foi a sua coordenação no projeto “Nos Arraiais da Memória: as quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias” que foi financiada pela Fundação de Cultura da cidade de Recife e que tinha como premissa o registro das expressões culturais da quadrilha junina vivenciado na cidade, ao se utilizar da história oral e de documentação do Diário Oficial do Município (1970- 1980). A busca seria para encontrar registros e memórias que expressassem as relações sociais daquele período, e é neste momento que o autor descobre um contraste que coloca em pauta o silencio intelectual acerca da temática. O segundo detalhe foi um comercial veiculado pela Globo Nordeste em junho de 2013 que representavam os festejos de São João em diversos estados nordestinos. Leia Mais

História Oral e Patrimônio Cultural: potencialidades e transformações | Letícia B. Bauer e Viviane Trindade Borges

Quando ouvimos o patrimônio cultural, quais vozes são possíveis? As historiadoras Leticia Bauer e Viviane Trindade Borges, organizadoras desta publicação, contribuem nos debates recentes desenvolvidos no campo do patrimônio e da história oral no Brasil, com a seleção de diferentes percepções sobre o tema, ampliando as possibilidades teórico metodológicas de análise do patrimônio cultural a partir do trabalho com fontes orais, e das discussões sobre a história oral na problematização do patrimônio cultural. Este trabalho está inserido na coleção “História oral e dimensões do público”, da Editora Letra e Voz, que é dirigida por Juniele Rabêlo de Almeida, divulgando pesquisas voltadas para o uso das fontes orais e a relação com seus públicos, trazendo outras perspectivas sobre a história oral a partir de temas como migrações, mídia e os movimentos sociais.

Para além de ouvir a potencialidade das vozes nas narrativas sobre o patrimônio, as organizadoras buscam divulgar ações que possibilitem a transformação com a participação cidadã na construção de suas memórias. Esse intuito se relaciona com as trajetórias acadêmicas destas historiadoras, que privilegiaram em suas pesquisas e na sua atuação profissional as experiências com patrimônios não convencionais de maneira colaborativa, em consonância com as discussões desenvolvidas pela História Pública. Leia Mais

Memória em Rede | UFPEL | 2009

Memoria em Rede 1

A revista Memória em Rede  (Pelotas, 2009-) é um periódico eletrônico [do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas] que publica trabalhos inéditos, versando sobre os temas processos de patrimonialização, políticas públicas para o patrimônio, patrimônio material e imaterial, estudos em memória social, estudos sobre memória e identidade ou ainda tratem da organização de acervos, sua conservação e restauro, recuperação e acessibilidade para pesquisa e outros temas relacionados.

Acesso livre

Periodicidade semestral

ISSN: 2177 4120

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arquivos