Representaciones sobre las mujeres en la independencia. Entre realidad y ficción Nueva Granada, 1810-1830 | Judith Colombia González Erazo

Flag of the Gran Colombia used between December 17 1819 and January 10 1820 and in the Venezuela Department until July 12 1821 Imagem Wikipedia
Flag of the Gran Colombia, used between December 17, 1819 and January 10, 1820, and in the Venezuela Department until July 12, 1821 | Imagem: Wikipédia

Judith Colombia González Erazo es licenciada en Historia por la Universidad del Valle y Magíster en Historia en la misma universidad, donde, además, es profesora de cátedra en el Departamento de Historia. La mayoría de sus investigaciones giran en torno a la temática de la feminidad, las representaciones femeninas y la historia de las mujeres dentro de los procesos independentistas y la creación de la república neogranadina. En dicho eje temático se inscribe Representaciones sobre las mujeres en la independencia. Entre realidad y ficción Nueva Granada, 1810-1830, texto que es producto investigativo de su proceso formativo de la maestría.

Esta obra se compone de una introducción, tres amplios capítulos y una muy breve conclusión. En el primer capítulo intitulado Mitografías y narrativas sobre las mujeres en la Independencia, la autora se acerca a las figuras femeninas que participaron activamente de la independencia neogranadina rastreando la presencia real y ficticia de estas en los procesos de amotinamiento, los encuentros bélicos y las transformaciones sociales, especialmente en Santafé de Bogotá. En este mismo capítulo elabora un balance historiográfico para encontrar las denominadas mitografías y representaciones sociales en los escritos históricos desde los primeros historiadores empíricos del siglo XIX hasta los formados académicos del siglo XX, especialmente hasta la década del sesenta. Leia Mais

Mexiko: presencia y representación en las publicaciones en lengua alemana entre 1914 y 1945 | Emma Julieta Barreiro, Bernd Hausberger

El Colegio de México publicó en 2021 el libro Mexiko: presencia y representación en las publicaciones en lengua alemana entre 1914 y 1945 que fue coordinado por la literata y traductora Emma Julieta Barreiro y el historiador Bernd Hausberger. Se trata de una obra en la que once autores exploran la forma en que periodistas, científicos, escritores y fotógrafos germanoparlantes retrataron a México, los mexicanos y lo mexicano de la Primera a la Segunda Guerra Mundial. Con ello, los autores muestran la variedad de publicaciones donde se presentó a México y nos incentivan a seguir estudiando las formas en que autores extranjeros han construido el imaginario sobre este país y su población. Leia Mais

Entre Sertões e Representações: Ensaios e Estudos | Antônio Fernando de Araújo Sá

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Antônio Fernando de Araújo Sá | Foto: Acervo pessoal

SA F Entre sertoesA primeira resenha de livro que produzi foi em 2007, um comentário crítico da obra de Terry Eagleton, “Depois da Teoria: Um olhar sobre os Estudos Culturais e o Pós-Modernismo”. Na ocasião, fui convidado pelo Prof. Dr. Antônio Fernando de Araújo Sá a proferir palestra sobre esse livro em um Curso de Extensão promovido pelo Grupo de Pesquisa “História Popular do Nordeste”, na Universidade Federal de Sergipe. Livro complexo, que me exigiu um bom esforço intelectual para criticá-lo.

O desafio agora recai sobre um livro escrito pelo próprio Professor Antônio Fernando de Araújo Sá e lançado ano passado. O empenho exigido nesta resenha não foi inferior ao dedicado ao livro produzido pelo filósofo e crítico literário britânico. Leia Mais

Victoria Ocampo. Escritura/poder y representaciones | María Soledad González

La sonoridad del nombre de Victoria Ocampo sigue haciendo eco no sólo en el mundo de las letras y la alta cultura, sino también en el ámbito académico-científico. Si bien, los impulsos renovados del campo historiográfico -en dialogo interdisciplinar con otras ciencias sociales- han permitido reivindicar a las mujeres como sujetos históricos; el abordaje de las intelectuales argentinas del siglo XIX y XX aún es un terreno poco explotado. Desde esta preocupación, María Soledad Gonzáles nos ofrece Victoria Ocampo. Escritura, poder y representaciones, como producto de una tesis de maestría en Ciencias Sociales con mención en Problemas Políticos, defendida en la Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Así mismo, la presente obra abreva en el estudio de las configuraciones y trayectorias intelectuales en la Argentina metropolitana y periférica durante el siglo XX que, la autora, está realizando en el marco de su tesis doctoral. Leia Mais

Mandarin Brazil: race, representation, and memory. | Ana Paulina Lee

A obra Mandarin Brazil , premiada como melhor livro em humanidades na seção Brasil pela Latin American Studies Association, é uma leitura importante para a compreensão das representações dos chineses na cultura popular brasileira. O livro remonta a construção e ressignificação dos estereótipos raciais associados ao imigrante chinês na literatura, na música e no teatro nos séculos XIX e XX. A obra extrapola o enfoque da historiografia nacional sobre os debates e as construções raciais em torno da imigração chinesa entre 1850 e 1890. Ana Paulina Lee (2018) priorizou a elaboração, reprodução e apropriação da chinesness , expressões culturais que elaboram conceitos e estigmas raciais referentes à China e aos seus habitantes. Essas imagens foram concebidas e apropriadas em meio a um intenso diálogo global fortalecido após a abolição do tráfico negreiro. Tais representações circulam dentro de uma memória circum-oceânica, um processo criativo por meio do qual a cultura da modernidade se inventa ao transmitir um passado que pode ser esquecido, recriado ou transformado em uma memória coletiva. Leia Mais

Viagens e relatos: representações e materialidade nos périplos de latino-americanos pela Europa e Estados Unidos no século XIX | Stella Maris Scatena Franco

Por uma série de motivos, os livros de viagem têm despertado, ao longo do tempo, considerável interesse e conquistado gerações de ávidos leitores, estando como que inscritos na cultura ocidental. É extensa a lista de autores que marcaram época com seus relatos e ainda hoje são objeto da atenção de leitores e estudiosos, tais como Heródoto (séc. V a.C.), Marco Polo (1254-1324), Américo Vespúcio (1454-1512) ou Alexander von Humboldt (1769-1859). De formatos variados e natureza essencialmente híbrida, as obras que contêm relatos dos sucessos e desventuras dos viajantes por povos e culturas estranhos despertaram tamanho interesse basicamente por duas razões – especialmente nos últimos 500 anos: a) primeiramente, tendiam a satisfazer a curiosidade do público leitor europeu a respeito dos outros – fossem eles asiáticos, árabes, africanos ou nativos americanos – em meio à expansão comercial/colonial dos tempos modernos, por vezes afigurando-se como únicas formas de informação em um mundo sem cinema, rádio, televisão ou internet; b) segundo, tendem a abrir – em menor ou maior grau – uma porta para a intimidade do autor/viajante, revelando aspectos da sua subjetividade difíceis de se captar em obras diversas, de cunho ensaístico – e por isso ainda fazem sucesso nos dias atuais, ao lado dos diários pessoais e das autobiografias, propriamente ditas. Leia Mais

Noites Festivas de Junho: História e Representações do São João no Recife (1910-1970) | Mário Ribeiro Santos

Noites Festivas de Junho: História e Representações do São João no Recife (1910- 1970) é fruto da tese de doutorado apresentada em 2015, na Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) do Doutor Mário Ribeiro dos Santos. Em 2018, com apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (FUNCULTURA) foi publicado em formato de livro pela Editora da UFPE.

Ao realizar sua pesquisa voltada as festas das agremiações carnavalescas nas ruas de Recife durante sua dissertação, o autor identificou como o Estado atuava organizando tais festividades sobretudo ao instituir medidas normatizantes e punições. Entretanto, o mesmo não acontecia quando se observava as festividades juninas no mesmo período. Além dessa observação, dois outros detalhes ajudaram na construção do problema do livro. O primeiro foi a sua coordenação no projeto “Nos Arraiais da Memória: as quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias” que foi financiada pela Fundação de Cultura da cidade de Recife e que tinha como premissa o registro das expressões culturais da quadrilha junina vivenciado na cidade, ao se utilizar da história oral e de documentação do Diário Oficial do Município (1970- 1980). A busca seria para encontrar registros e memórias que expressassem as relações sociais daquele período, e é neste momento que o autor descobre um contraste que coloca em pauta o silencio intelectual acerca da temática. O segundo detalhe foi um comercial veiculado pela Globo Nordeste em junho de 2013 que representavam os festejos de São João em diversos estados nordestinos. Leia Mais

O Negro no Livro Paradidático | Fernando Santos de Jesus

Antes da aplicação e sistematização da Lei 10.639/03 – a qual visa instituir a obrigatoriedade dos conteúdos de História e Culturas Afro-Brasileira e Africana nos currículos de todos os níveis de ensino do país – ainda no século XX, muitos intelectuais negros já questionavam as maneiras pelas quais a população negra era representada na literatura, nas artes e sobretudo, midiaticamente. Levava-se em consideração o histórico recente das teorias racialistas que perpassaram desde o fim da abolição, os debates políticos e intelectuais que, de modo direto, subalternizaram e desumanizaram os africanos e seus descendentes no país.

Tais pressupostos científicos foram elaborados a partir de instituições e políticos renomados que tinham ligações diretas com a aplicação de políticas públicas, tendo como uma das principais consequências a consolidação de estereótipos sobre os negros. Tal como, nas escolas de medicina do Rio de Janeiro, os estudiosos concentravam-se em temas como degenerescência e doenças tropicais associados às pessoas negras (SCHWARCZ, 1993). Leia Mais

Representações Utópicas no Ensino de História | Antônio Simplício de Almeida Neto

O que pensar sobre o ensino na ditadura militar brasileira? O que modificou na estrutura do ensino com o término deste período? Em que o ensino de História contribuiu para a formação intelectual, social e política dos alunos? Refletir a partir destas indagações, motiva-nos à busca pela apreensão através do conhecimento das experiências de professoras que lecionaram entre as décadas 1960 a 1990, em pleno regime militar. Porém, o que se vislumbra nessa obra são as representações que fazem do passado, presente, até mesmo do futuro, onde suas utopias por um país melhor e uma educação de qualidade, recaem em desejos de conscientização dos alunos sobre o mundo que os rodeiam, tornando-se essencial em seus trabalhos com o ensino de História, embora há os desconfortos, as decepções, as angústias, as incertezas que trazem ao leitor uma perspectiva dualista no ensino durante o período totalitário.

A princípio, Antônio Simplício faz uma discussão sobre a concepção de história e seu utópico ensino nas escolas básicas. Refletindo sobre as interpretações de Walter Benjamin e Sevcenko da pintura intitulada Angelus Novus, tendo em vista suas perspectivas acerca do rumo que a história teria com a “falência e fim da modernidade” e o tão estimado advento da pós-modernidade.

Com isso, constatam-se os anseios e as irrealizações dos professores diante das novas perspectivas do ensino, havendo o intuito de conscientizar e educar os alunos para que compreendam a sociedade em sua totalidade, e busquem soluções para os problemas políticos, econômicos e sociais. Essa “pretensão redentora da história” traz aos livros didáticos uma carga de desejos utópicos, implicando um diferenciado modo de ver e reconhecer o ensino de História, como também sua importância no amadurecimento intelectual, crítico e participativo de professores e alunos na contemporaneidade.

De acordo com a construção da obra, é importante ressaltar a composição a partir dos fragmentos de introduções de livros, artigos, textos em geral sobre a expectativa atual dos professores para o ensino de História, na verdade, seus desejos por uma História politizadora. Pois, como numa das partes da introdução da coleção História Nova “Resta esperar, de professores e alunos, que de uma nova reflexão sobre os dados componentes de nossa história se passe de imediato àquela ação capaz de dar ao povo brasileiro o Brasil pelo qual ele realmente anseia” (ALMEIDA NETO, 2011, p.25)

. Esse desejo e sonho de ter um país emancipado no que tange aos problemas socioeconômicos, parte do pressuposto da educação como libertadora dos males da sociedade, tendo em vista o ensino de História uma arma capaz de mudar as estruturas sociais pela inteligibilidade dos alunos de que “a análise de situações passadas cria o hábito da análise de situações contemporâneas. ” (ALMEIDA NETO, 2011, p.26)

Além disso, a crise das utopias, como um dos tópicos de análise do autor, refere-se ao “declínio da modernidade” e o efeito que houve na educação, como também a oposição da pós-modernidade contundente às bases estruturais das sociedades modernas desde o período renascentista. Para isso, discute-se sobre a visão prospectiva utópica, idealizadora de transformações significativas na realidade, e como essa prospecção inclinou-se diante dos anseios e desejos dentro da sala de aula.

Diante dessas bases de discussão, ressaltar referenciais que possibilitaram o desenrolar das questões inerentes ao ensino de História durante o regime civil-militar, torna-se imprescindível à compreensão do objetivo do autor ao propor essa temática.

Antônio Simplício de Almeida Neto é graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado e doutorado em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Tem como ênfase de trabalho Ensino de História e História da Educação. Membro da linha de pesquisa em Ensino de História; Educação: Memória e Representações; Livro didático: história e memória. Concebe-se, portanto, as características que elucidam os aportes teóricos, metodológicos e historiográficos utilizados na problematização do tema em questão.

Além disso, a trajetória em relação ao estudo de memórias e ensino durante o regime militar advém desde sua dissertação de mestrado, ou mesmo antes, pois busca elucidar nos trabalhos, tanto do mestrado quanto do doutorado, aspectos relativos ao professor como sujeito histórico das experiências escolares; ao seu silenciamento e hierarquização dentro do âmbito escolar; e seus conhecimentos e práticas de ensino de História que transformam-se em desejos, anseios, irrealizações e decepções.

A obra divide-se em quatro capítulos, possuindo suas especificidades em relação às concepções, relatos e explanação dos problemas propostos. No primeiro capítulo, intitulado “Utopias, Representações e Memória”, abre-se discussões e conflitos de ideias acerca da utopia, partindo do ponto de situar e refletir sobre o objetivo da dimensão utópica na realidade, pois, como pensam Ricouer e Falcon, que a sociedade e o ser humano não podem se desvincular das utopias por dar significado a tudo que os rodeia, sobretudo a vida.

Perspectivas de autores que também constituíram a problematização, como Boaventura Santos e Antônio Moreira, contribuintes para construção de um ensino com bases pedagógicas fixas, de acordo com ideais educacionais modernos para a renovação das escolas, o revigoramento da democracia e “dar voz aos oprimidos”, restituindo a dimensão utópica. Contudo, esse desejo de transformação e realização é inerente ao ofício do professor, tendo uma finalidade ao lecionar e explicitar conteúdos, havendo projeções e intuitos a serem alcançados com a elucidação dos temas propostos.

O autor também aborda concepções sobre Representação, melhor dizendo, Teoria crítica das representações. Uma teoria de Henri Lefebvre que trata do que de fato é a representação e como ela é formada, veiculada e seu uso em diversos momentos históricos como forma de legitimar discursos falsos ou verdadeiros – refiro-me ao mundo publicitário e as campanhas políticas. Mas também sua manifestação nas entrevistas das professoras, imbuída de desejos, realizações, projeções, limites, na sua prática de ensino, como também dentro e fora do âmbito escolar, até mesmo nos conteúdos selecionados.

Logo no segundo capítulo intitulado “Representações de História: Conhecimento e ensino”, começou-se com relatos dos professores sobre suas concepções do ensino de História, e suas representações surgidas ao longo do tempo no magistério e fora dele. Ademais, compreender a lógica da memória na busca da rememoração de conjunturas inerentes ao trabalho dos docentes, torna-se fundamental na análise dos relatos, além de que as representações presentes na rememoração motiva o autor a analisar minuciosamente as concepções de história que envolvem as práticas de ensino, os conflitos dentro e fora da sala de aula, as dificuldades em lecionar, nas referências que contribuíram para escolha de graduação, no crescimento intelectual e pessoal e na busca por ser progressista no que tange ao tradicionalismo vigente em muitos professores de História. Portanto, suas representações acerca do ensino de História, recaem em conceitos que dão luz ao que fizeram, ou fazem ao longo das suas trajetórias na educação.

Em “Representações sobre a Prática: Intenção e Gesto”, Antônio Simplício analisa as representações das professoras entrevistadas sobre suas práticas, abarcando questões que vão além de conteúdos e exposição. Através da óptica do presente sobre o passado, as professoras visualizam suas práticas, oscilando entre sentimentos de desprezo e angústia, orgulho e felicidade acerca de suas atividades realizadas durante o tempo de magistério, ou para aquelas que ainda continuam lecionando. Além disso, problematiza-se as utopias presentes nas lembranças sobre o objetivo em lecionar História, através de “noções de cidadania e cidadão crítico apresentam-se como incertos, é sobre ele que certa dimensão utópica se erigiu, disparando ações e freando impulsos, ensejando práticas criadoras ou meramente reprodutivas.” (ALMEIDA NETO, 2011, p.170)

No entanto, “abre-se os olhos” para uma nova perspectiva que é o desvelo e carinho no trato com as metodologias e conteúdos preparados aos alunos. Essa noção modifica as formas didáticas-pedagógicas da História, como as experiências das professoras Vera e Inês que “parecem ter descoberto, entre o vivido e o concebido, que outros aspectos estão envolvidos no ensino de História, além dos conteúdos e da intenção crítica”. (ALMEIDA NETO, 2011, p.171)

Por fim em “Representações sobre o ensino de História: Conservação e busca”, procura-se compreender a totalidade da prática de ensinar História, levando em conta a dimensão utópica que envolve suas representações acerca da rememoração do passado não tão distante. Além de que se discute sobre o objetivo do ensino dessa disciplina, levando em conta a visão prospectiva do presente sobre o passado, com o desejo de retorno e permanência daquele momento de “bons alunos, boas escolas e bom ensino e sociabilidade”, e a construção da consciência histórica nas alunas e alunos através da exposição em sala de aula, como também os trabalhos extraclasse – promover festa junina, lavar banheiro, pintar escola, militância – enfim, todas essas lembranças envolvem as falas das professoras como “momentos de glória”.

No entanto, contrapondo esses grandes momentos, existem seus desvios em relação à ineficácia e precariedade do ensino em geral, alegando como fatores da decadência da educação, a grande leva de alunos semianalfabetos, o choque de valores, o desinteresse dos alunos e professores, até à falta de recursos em promover uma boa aula.

Por conseguinte, a contribuição do livro de Antonio Simplício na formação de professores de História é relevante para compreendermos o processo histórico da educação no Brasil, a partir das perspectivas de professoras que atuaram num dado momento “divisor de águas” na história brasileira, e, por isso, nos instiga a refletir sobre o que buscamos com o ensino de História, e sua utilidade na formação do cidadão “racional, autônomo e democrático” (ALMEIDA NETO, 2011, p.216).

Ademais, torna-se desejável ao leitor (a) o método utilizado na busca dos relatos orais, sendo a História Oral revolucionária no campo da História, trazendo consigo diretrizes a ser seguidas para captação de tão rico material histórico: a memória. Assim, conduzindo ao cerne da história, trajetórias antes silenciadas pela historiografia tradicional, no caso as memórias de professoras do ensino básico, e que agora possibilita outra perspectiva para o tema em questão.

Michele Pires Lima – Graduanda em História pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista de IC pela mesma Instituição e CNPq.

ALMEIDA NETO, Antônio Simplício de. Representações Utópicas no Ensino de História. São Paulo: Editora Unifesp, 2011. Resenha de: LIMA, Michele Pires. Mandurarisawa – Revista Discente do Curso de História da UFAM, Manaus, v.1, n.1, p.157-161, 2017. Acessar publicação original

Representações do Feminino nas Histórias em Quadrinhos / Amaro Xavier Braga Jr.

BRAGA JR Amaro Xavier
Amaro Xavier Braga Jr. / Foto: Cult de Cultura /

BRAGA JR A X Representacoes do feminino nas Historias em QuadrinhosEste livro, lançado em 2015, é uma coletânea de artigos de pesquisadoras(es) brasileiras(os) que analisam como as questões de gêneros estão sendo representadas nos quadrinhos. Concentra-se na análise da representação dos papeis femininos nas histórias em quadrinhos desde o comics estadunidenses, passando pelos mangás japoneses (shonene shojo) chegando às publicações undergrounds, tiras e biografias.

O livro apresenta 16 artigos, fruto do trabalho de 18 pesquisadoras(es) e está dividido em quatro partes definidas pela estética dos quadrinhos, sendo elas: quadrinhos infantis, de super-heróis/comics estadunidenses, mangás japoneses e undergrounds, tiras e biografias.

A primeira parte da obra denominada “quadrinhos infantis” apresenta os textos de quatro pesquisadoras, são elas: Marta Regina Paulo da Silva, Denise Castilhos de Araujo, Andréia Cristina Silva e Juliane Di Paula Queiroz Odinino.

Marta apresenta o texto “Mas só se For no Campo de Menina”: Infância, Histórias em Quadrinhos e Relações de Gênero na Educação Infantil, resultado de parte da sua tese de doutorado; neste artigo, a autora analisa a partir das histórias da Turma da Mônica a relação entre infância, relações de gênero e histórias em quadrinhos e como as crianças “consomem” esses produtos. Segundo ela, o importante é saber como meninos e meninas pequenos(as) apropriam-se das HQs e nelas as questões referentes à relação de gênero e o que produzem a partir destas narrativas.

Denise Castilhos de Araujo discute os “Papéis Femininos em Mafalda”, refletindo sobre os diferentes papéis das mulheres argentinas da década de 1960, que são muito atuais na nossa sociedade, a partir da produção do desenhista argentino Joaquim Salvador Lavado, mais conhecido como Quino. Mafalda, uma personagem com idade pré-escolar, é apresentada como questionadora dos conflitos sociais, políticos, culturais mundiais e da Argentina, vivenciando no seu dia a dia as preocupações dos seus leitores e da sociedade em geral. Segundo ela, a produção do autor analisado,soube demonstrar “a busca de igualdade entre os indivíduos,… a trajetória feminina na defesa de seus direitos”.

Em seu texto “Ethos feminino nos quadrinhos infantis: ‘aniversário da Mônica ou festa do Mônico?’”, Andréia Cristina Silva, analisa a inversão dos papéis femininos e masculinos dos personagens da Turma da Mônica na festa de aniversário da Mônica, destacando como o ethos e a representação de si no discurso ganha importância na narração das histórias em quadrinho. E como essas “imagens podem facilitar ou dificultar a aceitação do discurso, e ocorre constantemente no nosso dia a dia em qualquer ato comunicativo”.

Juliane Di Paula Queiroz Odinino, no texto “Princesas, Heroínas ou Super-Poderosas? Agência e representação das personagens femininas infantis dos quadrinhos ao desenho animado”,a autora analisa as transformações das personagens femininas nos quadrinhos e nas animações destinadas ao público infantil, a partir do seu amplo alcance, tem-se um grande número de expectadores/consumidores.

A segunda parte do livro reúne os textos de Natania Nogueira, Nildo Silva Viana e Gelson Weschenfelder, as reflexões dos autores partem dos comics estadunidenses, para discutir a constituição da super-heroínas, o contexto histórico, a releitura das personagens no passar do tempo.

No texto “II Guerra Mundial e as ‘Super-Mulheres’: o Surgimento das Super-Heroínas nos Estados Unidos da Década de 1940” , Natania Nogueira discute o papel das personagens femininas nas histórias em quadrinhos e as suas transformações no pós-guerra.

Nildo Silva Viana discute o “Inconsciente coletivo feminino e valores contraditórios na Mulher-Maravilha” procurando identificar os valores e concepções presentes nas histórias da Mulher-maravilha e a manifestação do inconsciente coletivo feminino nesse universo, analisando a personagem a partir os conceitos de: valores, axiologia, axionomia, ideologema, teorema e inconsciente coletivo.

Gelson Weschenfelder, no texto “As Super-Heroínas como instrumento de gênero nas histórias em quadrinhos”, analisa a representação feminina nas histórias em quadrinhos e o papel das personagens Mulher-maravilha, da editora DC; Tempestade e Jean Grey dos X-men, da editora Marvel, num contexto da libertação feminina.

A terceira parte do livro traz os textos de Sonia Bibe Luyten, Taís Marie Ueta e Yuji Gushiken, e Valéria Fernandes da Silva, os autores analisam a produção dos mangás japoneses, principalmente o “shoujo mangá”, que é destinado ao público feminino. O papel que as personagens representam e a idealização do feminino são assuntos que os autores discutem neste bloco.

No texto “A produção e retratação da mulher nos quadrinhos ocidentais e no mangá: Romantismo e Erotismo”, de Sonia Bibe Luytentem como objetivo verificar a representação da mulher nos quadrinhos orientais e ocidentais, num contexto Brasil-Japão. A autora também analisa a participação das mulheres como produtoras/desenhistas de histórias em quadrinhos ou charges publicadas nos diferentes períodos da história.

Taís Marie Ueta e Yuji Gushiken problematizam “O Feminino na produção de Mangás”, apresentam em seu texto a contextualização da criação e o enredo dos mais variados mangás e diferentes estilos, publicados no Japão e traduzidos em diversos países. Problematizando o papel das personagens na representação do ideal feminino nessas obras.

A historiadora Valéria Fernandes da Silva, em seu texto “A Garota-Príncipe nos shoujo mangá: discutindo as fronteiras de gênero”, analisa a construção do modelo garota-príncipe, nas obras “A princesa e o cavaleiro”, de 1953; “A rosa de Versalhes”, 1972-1974; “A espada de Paros”, 1986-1987, e “A garota revolucionária”, 1996-1997, em que as protagonistas apresentam tanto atributos femininos quanto masculinos.

Otávia Alves Cé, no texto “Elas para Eles e Elas para Elas: diferenças e semelhanças na representação de personagens femininas nos mangás shonen e shojo”, a autora destaca a divulgação e da facilitação do acesso aos mangás e animes japoneses, em que muitas crianças e jovens ocidentais tiveram conhecimento e incorporaram elementos presentes no cotidiano japonês. Apresenta uma conceitualização da estética e estilo da narrativa dos mangás e a definição dos estilos shojoe shonen. Além da análise sobre a caracterização de diferentes personagens nos estilos shojoe shonen.

A quarta e última parte da obra “Undergrounds, tiras e biografias”, reúne os textos de Maria Adriana Nogueira e Daiany Ferreira Dantas, Thayse Madella, Luciana Zamprogne, Alba Valéria Tinoco Alves Silva e Karine Freitas Sousa. Coincidentemente, temos dois trabalhos sobre a mesma obra “Retalhos” (2010), demonstrando como as análises sobre as histórias em quadrinho podem ser fecundas.

Maria Adriana Nogueira e Daiany Ferreira Dantas discutem no texto “Feminino, intimidade e subversão em Bordados, de Marjane” a partir dos conceitos de resistência aos dispositivos de sexualidade presentes no pensamento de Michel Foucault (1988), analisam a obra Bordados da iraniana Marjane Satrapi procurando compreender a identidade feminina das mulheres islâmicas, a partir de conceitos como o de construção de identidade e construção do feminino.

No texto “Casamento, virgindade e falocentrismo: a subversão de tradições patriarcais no romance gráfico ‘Bordados’, de Marjane Satrapi”, Thayse Madella analisa as representações gráficas dos depoimentos das personagens, procurando mostrar as lutas diárias dessas mulheres para subverter no sistema patriarcal do Irã, as regras que as oprimem.

O texto de Luciana Zamprogne, “Como estranhos podem encontrar o paraíso: contra-discursos, ideologias e representações do feminino na sociedade contemporânea”, a autora apresenta a possibilidade de analisar a sociedade a partir da cultura pop, ressaltando que ela é produto de um contexto histórico, carregado de estruturas simbólicas, subjetividades e racionalidades individuas ou coletivas.

Alba Valéria Tinoco Alves Silva, analisa “O Traço de 3 mulheres nas tiras em quadrinhos de humor”, centralizando suas reflexões nas produções de Cecilia Whitaker de Azevedo Alves Pinto –Ciça, Pryscilla Vieira e Cibele Santos. A autora expõe o baixo número de mulheres na produção dos quadrinhos de humor e procura responder se existem divergências entre homens e mulheres na representação do humor.

O texto de encerramento “As (Sub) subalternas mulheres em Scott Adams”, de Karine Freitas Sousa procura analisar, a partir das histórias em quadrinhos fragmentos das violências simbólicas de gênero sofridas pelas mulheres profissionais presentes nessas histórias.

Concluindo, a obra Representações do Feminino nas Histórias em Quadrinhos, conseguiu reunir uma expressiva amostra de trabalhos desenvolvidos a partir da problematização da questão de gênero apresentadas nas histórias em quadrinhos. Os autores procuram demonstrar a representação dos papéis femininos nos mais diferentes formatos e estilos das histórias em quadrinhos, criticando a desigualdade entre a representação do masculino e do feminino nesse universo. Dessa forma, acredito que a intenção desse trabalho é a de demonstrar aos mais variados leitores como as HQs podem ser utilizadas como fonte para as pesquisas, nas diferentes áreas do conhecimento, proporcionando reflexões e discussões sobre as diferentes representações do mundo presentes em seus enredos.

Maycon André Zaniné – Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História do Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste–Paraná). E-mail: [email protected].


BRAGA JR, Amaro Xavier; SILVA, Valéria Fernandes da (Orgs.). Representações do Feminino nas Histórias em Quadrinhos. Maceió: Editora da Ufal, 2015. 330p. Resenha de: ZANINÉ, Maycon André. História histórias. Brasília, v.4, n.7, p.227-230, 2016. Acessar publicação original. [IF]

Bridging the Island: Brazilians´ Views of Spanish America and Themselves 1865-1912 | Ori Preuss

O livro “Bridging the Island” de Ori Preuss, professor do Instituto de História e Cultura da América Latina da Universidade de Tel Aviv, é uma adaptação de sua tese de doutorado defendida, em 2005, na Universidade da Flórida. O texto da tese, ademais de referir-se, já no título, apenas à percepção das elites (que é o que, de fato, é tratado), remetia a um período menos extenso (1888-1912) do que o analisado no livro.

De acordo com suas próprias palavras, o objetivo principal da obra é “identificar algumas grandes mudanças e continuidades de perspectivas [da elite brasileira sobre a América hispânica] através de diversas figuras que desempenharam papéis-chave a este respeito, articulando suas reflexões sobre os vizinhos do Brasil com outras formas de interações luso-hispano-americanas nos domínios da cultura e da diplomacia” (pág. 23). Para tal, o autor centrou sua análise em textos de Quintino Bocaiuva, Eduardo Prado, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Rio Branco e Oliveira Lima. Leia Mais

Caipira sim, trouxa não. Representações da cultura popular no cinema de Mazzaropi | Soleni B. Fressato

O típico caipira brasileiro foi imortalizado nas telas do cinema pelo Jeca Tatu de Amácio Mazzaropi. Sucesso nas bilheterias dos cinemas brasileiros, as aventuras e desventuras de um caipira ingênuo e ao mesmo tempo malicioso e debochado divertiram numerosas platéias por quase três décadas. Mazzaropi produziu 32 películas entre os anos de 1952 e 1980, atuando como ator, roteirista e produtor. Seus primeiros filmes foram lançados pela Vera Cruz e posteriormente, em 1958, Mazzaropi fundou sua própria produtora – a PAM Filmes, tendo como carro chefe das suas produções o personagem do caipira Jeca, representado seja no contexto urbano ou rural. Não era a primeira vez que a figura do caipira era apropriada e recriada pelas artes; já fazia parte do imaginário brasileiro, por exemplo, o Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato – que apesar de ser homônimo ao caipira de Mazzaropi, possuía características distintivas – e tantos outros “caipiras” que fizeram sucesso nos programas humorísticos radiofônicos.

A popularidade do Jeca nas telonas não significou um reconhecimento da crítica cinematográfica. Os filmes de Mazzaropi eram taxados como superficiais, com pouco valor estético e repleto de fórmulas repetitivas e piegas. Além disso, a representação de valores rurais em um contexto histórico de valorização da urbanização e da modernização brasileira colidiu com as percepções e interesses desenvolvimentistas de alguns setores da sociedade que tinham o anseio de extirpar a “cultura atrasada” dos caipiras. A falta de prestígio também é perceptível nas reflexões acadêmicas que ora resumiram-se ao ataque ao conservadorismo das produções de Mazzaropi, ora optaram pelo simples desprezo e ignorância.

Buscando romper com os silêncios e ponderações reducionistas em torno das películas de Mazzaropi, foi lançado recentemente o livro Caipira sim, trouxa não. Representações da cultura popular no cinema de Mazzaropi, fruto da tese de doutorado da historiadora e socióloga Soleni Biscouto Fressato. A autora, que é editora da revista eletrônica O Olho da História, desenvolve suas pesquisas em torno da temática cinema-história, abordando as obras cinematográficas como uma forma de representação do real e instrumento de análise sócio- históricas. O seu objetivo é entender como está representada a cultura popular rural no cinema de Mazzaropi e as relações que são estabelecidas com outras esferas socioculturais.

Soleni não recusa ou foge do conceito de cultura popular: ela o historiciza e o problematiza. Sua abordagem teórica, sustentada pelas reflexões introduzidas por Bakhtin em Cultura Popular na Idade Média, identifica a cultura de maneira plural e heterogênea. No processo de circularidade cultural – conceito chave para a interpretação da autora – as práticas culturais populares e hegemônicas se relacionam, se influenciam e ao mesmo tempo se contradizem. Há um fluxo de permeabilidade entre as culturas, o que impede a definição de cultura popular de maneira simplista, orientada pelo signo da pureza cultural. A cultura popular pode ser compreendida como espaço de contestação e resistência, ao mesmo tempo em que há concordância e subordinação.

Um dos meios de questionar e reagir às normas dominantes é a utilização do cômico e da paródia. Tais expressões foram exploradas por Mazzaropi ao representar as dimensões da cultura popular caipira como espaços de sátira e crítica às estruturas socioculturais dominantes. A comicidade não é apresentada apenas como uma ingênua válvula de escape das vicissitudes cotidianas. Torna-se, no cinema de Mazzaropi, uma forma sútil de crítica social.

É importante pontuar que em nenhum momento Soleni defende um suposto caráter revolucionário de Mazzaropi, apenas identifica que, por trás de posturas conservadoras, a filmografia pode apontar inúmeras contradições sociais nas quais estavam (e estão ainda) inseridos os homens do campo. Um pesquisador que tem a proposta de utilizar o cinema como forma de compreender as representações e discursos sobre a realidade deve analisar as imagens para além da intencionalidade do diretor e da produção técnica, apreendendo o dizível e o não dizível. O cinema, ao fazer uma contra- análise da sociedade, revela muito além do que inicialmente era a proposta da película, pois a arte nunca perde o vínculo com o real. Além de observar e descrever os aspectos do cotidiano caipira e os elementos centrais explorados por Mazzaropi na construção dos enredos e personagens, a autora averiguou, por exemplo, os silêncios, ausências e deturpações presentes nas obras.

Soleni analisa especialmente quatro películas: Chico Fumaça (1958), Chofer de praça (1958), Jeca Tatu (1959) e Tristeza do Jeca (1961). Sua abordagem, entretanto, não se deteve apenas a estas, uma vez que a autora trabalha com o conjunto das produções de Mazzaropi, buscando contextualizá-las historicamente. A análise do contexto social do país permite ao leitor perceber como o discurso das décadas de 50 e 60 do desenvolvimentismo nacionalista, que pregava a valorização da industrialização, do trabalho, da cidade e do progresso, se contrapunha totalmente ao caipira preguiçoso de Mazzaropi, considerado pela intelectualidade da época um símbolo do atraso e da ignorância.

A problemática da tradição versus modernidade – ainda tão atual! – foi abordada expressivamente nos filmes de Mazzaropi. A modernidade, que proporcionou a transformação do modo de vida caipira a partir do avanço das práticas e organizações capitalistas, não encantou o caipira. A autora aponta que, na cinematografia de Mazzaropi, quanto mais o país tornava-se urbano e desenvolvido, mais caipira ficava o personagem Jeca Tatu. A oposição cidade versus campo também foi bastante recorrente. Mesmo nos espaço das grandes cidades, o Jeca não se adaptava e os seus gestos, trejeitos e formas de se comportar destoavam dessa nova maneira de viver. A sua inaptidão aos novos códigos suscitava nos espectadores muitos risos e gargalhadas.

Mazzaropi tinha o compromisso de divertir e entreter o seu público. Queria fazer um cinema de fácil compreensão para os brasileiros. Contava histórias nas quais muitos espectadores poderiam se identificar, já que os problemas da modernidade estavam chegando para muitos migrantes que tiveram que abandonar o campo e ir para as cidades.

Caipira sim, trouxa não apresenta ainda o contexto da produção cinematográfica da época, destacando o surgimento e o declínio da Vera Cruz, a fundação da Atlântida e a história da chanchada no Brasil. Por fim, a autora traça comparações entre o Cinema Novo e as produções de Mazzaropi. A proposta do Cinema Novo era promover a reflexão crítica com seriedade a partir de películas ricas em simbologias e elementos de contestação. Tal concepção acreditava que outras formas de fazer cinema, como o cinema de Mazzaropi, eram apenas formas de alienação. Soleni ainda discorre sobre as diferentes visões sobre o campesinato expressas nos filmes de Glauber Rocha e de Mazzaropi, comentando as diferentes maneiras de tecer críticas sociais a partir do uso do cinema.

A pesquisa de Soleni Biscouto Fressato pode abrir caminhos para outros estudos e reflexões sobre as obras de Mazzaropi, principalmente aquelas que se proponham a realizar uma análise sobre a recepção dos seus filmes – aspecto não aprofundado no livro. Acredito, contudo, que a maior contribuição da obra – além de resgatar o cinema de Mazzaropi para as novas gerações que o desconhecem – se insere na utilização do cinema como uma ferramenta de compreensão das contradições da realidade social. Soleni defende que o cinema age como um pesquisador inconsciente das diversas dimensões sociais, construindo até mesmo hipóteses sobre determinados aspectos do real. Deste modo, os estudiosos que ignoram ou desprezam as interpretações cinematográficas desconhecem o grande potencial analítico do cinema.

Ao terminar a leitura do livro percebo que o Brasil do Jeca Tatu de Mazzaropi não está tão distante do Brasil contemporâneo. Um Brasil no qual o discurso do progresso e da modernização ainda impera. Um Brasil repleto de Jecas expropriados que sobrevivem precariamente em um espaço rural cada vez mais mecanizado, ou que têm de ir para as cidades nas quais não existem nem ao menos os empregos de Chofer de praça. Jecas que agora precisam de Bolsa Família para viver – e que milagrosamente sobrevivem. Jecas que criam (e recriarão) suas formas de resistir, se adaptar e reagir sem abdicar totalmente de suas manifestações culturais. Cientistas sociais: aprendei com os nossos Jecas, que apesar de tudo, não abandonaram o riso, o deboche e a crítica.

Catarina Cerqueira de Freitas Santos –  Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected]

 


FRESSATO, Soleni Biscouto. Caipira sim, trouxa não. Representações da cultura popular no cinema de Mazzaropi. Resenha de: SANTOS, Catarina Cerqueira de Freitas. O deboche caipira nas telas do cinema em “Caipira sim, trouxa não”. Aedos. Porto Alegre, v.4, n.10, p.169-172, jan. / jul., 2012. Acessar publicação original [DR]

História das mulheres e as representações do feminino – TEDESCHI (REF)

TEDESCHI, Losandro Antonio. História das mulheres e as representações do feminino. Campinas: Curt Nimuendajú, 2008. 144 p. Resenha de FARIAS, Marcilene Nascimento de. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.17 n.3 Florianópolis Sept./Dec. 2009.

Nas últimas décadas do século XX, a história sofreu grandes transformações teóricas e metodológicas que direcionaram os olhares dos historiadores a temas e grupos sociais que, até então, estavam à margem dos estudos históricos, como as mulheres, os velhos, os operários, os camponeses e os escravos. Daí a história das mulheres emerge como um campo de estudo, influenciada pelos novos interesses da disciplina histórica e pelas campanhas feministas. Os reflexos dessas renovações não demoraram a alcançar o Brasil, e o aumento dos estudos sobre as mulheres nos programas de graduação e pós-graduação fez com que a história das mulheres se consolidasse rapidamente em nosso país.

Dentro desse contexto, o livro História das mulheres e as representações do feminino, de Losandro Antonio Tedeschi, publicado em 2008 pela editora Curt Nimuendajú, é mais uma contribuição aos que se ocupam em entender as mulheres na história. O autor, atualmente professor da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, onde atua no curso de graduação e pós-graduação em História, tem ampla experiência nesse tema, fruto de seus estudos de mestrado e doutorado, bem como de sua atuação junto a organizações como o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – MMTR e a Red de Educación Popular entre Mujeres de America Latina – REPEM.

O livro, dividido em três capítulos, busca, pela análise dos discursos filosófico-religiosos, compreender como em diferentes momentos históricos a sociedade enxergava o comportamento feminino e criava representações para as mulheres. Eram discursos legitimadores da inferioridade “natural” das mulheres. Nas palavras do próprio autor,

Esses discursos recorrentes exerceram influência decisiva na elaboração de códigos, leis e normas de conduta, justificando a situação de inferioridade em que o sexo feminino foi colocado […] Assim, a desigualdade de gênero passa a ter um caráter universal, construído e reconstruído numa teia de significados produzidos por vários discursos, como a filosofia, a religião, e educação, o direito, etc. perpetuando-se através da história, e legitimando-se sob seu tempo (p. 123).

Nessa perspectiva, Tedeschi utiliza-se das articulações entre história e gênero para demonstrar as inter-relações socialmente construídas entre os sexos. Sobre os estudos de gênero, o autor adverte serem importantes, na medida em que possibilitam a análise “das relações entre os sexos, buscando principalmente contribuir para os estudos sobre a condição feminina e a vida familiar na sociedade” (p. 10). Nesse sentido, o autor apresenta importantes considerações sobre os estudos de gênero na atualidade, mostrando os ganhos obtidos com essa nova abordagem histórica, que trouxe consigo “uma diversidade de documentações, uma teia de novos sentidos e significados, e requerem uma paciente busca de indícios, sinais e sintomas, uma leitura detalhada para descortinar a história das mulheres” (p. 11).

No primeiro capítulo – “História das mulheres: abordagens” -, como o próprio título evoca, o autor faz um breve apanhado sobre a história das mulheres, bem como sobre as diferentes abordagens da moderna historiografia, que perpassam essa área do conhecimento histórico, tais como imaginário, sexualidade, corpo, trabalho, relações de poder, relações de gênero, dominação simbólica, práticas discursivas, religiosidade, relações sociais, vida econômica e representações. Nesse sentido, a história cultural da maneira como é trabalhada por Roger Chartier mereceu especial destaque por parte do autor, que analisou formulações discutidas por esse historiador sobre a importância da representação para o entendimento do universo cultural, destacando os benefícios de se estudar a história das mulheres pelas representações: “Ao abordar a história das mulheres pelas representações, busca-se trazer para o cenário os discursos de construção das identidades e da interpretação masculina do mundo. Cabe então a nós, homens e mulheres, contribuir para desnaturalizar essa história” (p. 40).

O segundo capítulo, intitulado “Representações do feminino”, busca analisar, segundo o autor, “a construção históricofilosófica dos vários discursos que em certa época conferiram um caráter científico e natural aos papéis da mulher, do que significa ser mulher” (p. 12). Para tanto, Tedeschi elegeu dois discursos fundamentais para a compreensão das primeiras representações construídas na história sobre o feminino: o discurso de matriz filosófica grega e o discurso da moral cristã no mundo medieval.

No discurso de matriz filosófica grega, o autor destaca o olhar masculino da teoria filosófica, que pensava a mulher como um objeto, ou seja, “criaturas irracionais, sem pensar próprio”, que deveriam viver sob o controle dos homens. Representações estas que, segundo o autor, é possível perceber no pensamento filósofo de Platão, Aristóteles e Hipócrates, que, por meio de um discurso masculino sobre o corpo feminino, construíram mitos que justificavam a inferioridade e a fragilidade feminina.

Quanto às representações femininas presentes no discurso da moral católica, o autor ressalta que o modelo judaico-cristão exerceu influência significativa na definição do lugar ocupado pela mulher na Igreja, na sociedade e na cultura ocidental, não restando dúvidas de que esse discurso foi fundamental para reforçar as desigualdades de gênero. Ao buscar os modelos do feminino veiculados e defendidos pela Igreja Católica, Tedeschi identifica dois “paradigmas do feminino” que procuram enquadrar a percepção social das mulheres para a criação de seus modelos de autorrepresentação. Tais paradigmas são representados por duas mulheres centrais na tradição cristã, “Eva pecadora” e “Maria virtuosa”, que, devido às suas características antagônicas, são utilizadas pelo cristianismo para representar todo o universo feminino.

No terceiro e último capítulo – “A confluência dos saberes: as representações e os espaços sociais das mulheres” -, o autor se propõe a “pensar e aprofundar a questão dos lugares e funções, que se constroem pelo casamento e reforçam o ideal de lar e de maternidade – como papéis historicamente construídos e legitimados pela moral cristã” (p. 101). O autor ressalta que os papéis atribuídos à mulher, de mãe e esposa, foram representações que contribuíram para a definição de alteridade e identidade feminina, resultando em práticas culturais que a limitaram ao espaço privado. Tedeschi também trata das representações sociais das mulheres na modernidade, destacando que nesse período o poder patriarcal e a delimitação dos papéis das mulheres no espaço privado não diferiram das representações do feminino observadas na Antiguidade e no Medievo.

Nesse sentido, a leitura da obra História das mulheres e as representações do feminino, de Losandro Antonio Tedeschi, permite ao leitor conhecer e analisar os discursos responsáveis por construir a desigualdade de gênero como “natural”, bem como as representações sociais que esses discursos constroem sobre a mulher. Sintético, porém temporalmente abrangente, o livro permite uma visão panorâmica sobre o tema tratado, sendo, dessa maneira, extremamente útil aos estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação e aos demais pesquisadores que têm em comum o interesse pela história das mulheres.

Marcilene Nascimento de Farias – Universidade Federal da Grande Dourados

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Dourados: memórias e representações de 1964 | Suzana Arakaki

No livro, originário de sua dissertação de mestrado, a autora trata das conjunturas que levaram ao regime militar em 1964 e as reviravoltas políticas que foram geradas pela euforia do movimento no antigo sul do estado de Mato Grosso, especialmente a cidade de Dourados e a região da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), lugares grandemente influenciados pela ação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). O contexto por ela analisado tem como recorte temporal a década de 1960, desde os primeiros momentos do governo de Jânio Quadros, concentrando especialmente na posse e governo de João Goulart (o Jango), destacando suas indefinições político-partidárias, até o golpe derradeiro com o Golpe e a tomada do poder pelo militares.

Para a elaboração do seu texto a autora vai fazer uso de notícias veiculadas no jornal douradense “O Progresso”, deixando clara a postura de direita assumida pelo mesmo e o apoio dado à derrubada do Governo Goulart, tendo como figura de destaque na propagando da pseudo-revolução o proprietário do jornal e deputado Weimar Gonçalves Torres. Em seguida ela não deixa de salientar a decepção que acometeu o mesmo deputado, assim como tantas outras pessoas da região com os resultados das ações dos militares. Para se utilizar dos jornais como fonte de sua pesquisa a autora elabora um pequeno histórico dos periódicos locais. Leia Mais

Fire and Ice: The United States, Canada and the Myth of Converging Values – ADAMS (CSS)

ADAMS, Michael. Fire and Ice: The United States, Canada and the Myth of Converging Values. Toronto: Penguin Press, 2003. 224p. Resenha de: NEIDHARDT, W. S.. Canadian Social Studies, v.39, n.2, p., 2005.

For many years now Canadians – at least those who are interested in their country’s history – have been exposed to countless books and articles about the Canadian-American relationship. Most of the authors inevitably concluded that Canada was slowly but surely drifting into a closer relationship with the United States. In fact, some writers even predicted that Canada’s ultimate destiny was nothing less than complete absorption into the American republic. In Fire and Ice, Michael Adams challenges what he calls the existing myth of inevitability and advances the rarely heard, and even more rarely substantiated, thesis that Canadians and Americans are actually becoming increasingly different from one another (p. 4).

Adams is quite aware that most Canadians may not, at first, believe him. He readily admits that Canada is increasingly dependent on the U.S. economy and that Canadians consume increasing amounts of American popular culture, products, services and imagination (p. 140). He also points out that in a recent public opinion poll – taken in 2002 – 58% of Canadians thought that Canada had been becoming more or less similar to the United States during the preceding ten years (p. 3). He also fully acknowledges that the two North American nations do have, indeed, much in common, including such things as common founding principles and similar political institutions.

However, Adams also wants his readers to know that there are, in fact, some very fundamental differences that have developed between the two countries over the years. For example, he refers to the ‘revolutionary tradition’ in the U.S.A as opposed to the ‘counter-revolutionary tradition’ in Canada, the contrasting attitudes Americans and Canadians have towards the roles of government, and the quite different beliefs they have about the role of religion in their daily lives. As one reads each chapter in Fire and Ice, one begins to believe that Adams is onto something and that his thesis is not a mere flight of academic fancy but rather a thoroughly researched and carefully constructed argument.

The book is filled with a vast array of statistics that he and his colleagues at Environics compiled while conducting over 14000 individual interviews and numerous focus groups and surveys. Based on these findings, Adams argues that fundamental values, motivations, and mindsets were changing (p. 7) in recent years in both Canada and the United States and that these changes in peoples’ social values have, in fact, created two distinct societies in North America. The author, who is more a social scientist than a historian (Seymour Lipset seems to be his much admired role model) believes that much of what people say when they are asked specific questions during public opinion polls tends to reveal only how they feel about specific issues. Furthermore, he argues that these polls generally do not involve the social value assessment criteria that are required in order to elicit peoples’ more fundamental beliefs and values.

Adams makes skilfull use of the social scientist’s repertoire as he examines a variety of areas of social change that have taken place in Canada and the United States including religion, multiculturalism, immigration, the status of women, patriarchal authority, consumerism, social welfare, gun-control and many others. In the final analysis, Adams concludes that his research data clearly establishes that Canadians and Americans embrace a different hierarchy of values (p. 147) and that the two nations are socio-culturally distinct and will remain so for many years to come – perhaps indefinitely (p. 76).

Some of Adams’ conclusions may well be seen as quite provocative and will probably not endear him to some readers – especially those who espouse the neo-conservative vision for the Canada of the future – when he suggests that the United States is becoming a country where we find values of nihilism, aggression, fear of the other, and consumptive one-upmanship (p. 72). While he supports the commonly held view that the United States is a more competitive society than Canada and that Americans are more innovative, he also describes America as being more violent and more racist (p. 115). He suggests that Americans worship money and success more than Canadians do but he also admits they are more willing to take risks in the hope that they might win than to ensure against disaster in fear that they might lose (p. 115). Meanwhile, Canada, according to Adams, is showing increasing flexibility, openness, autonomy and fulfillment (p. 74) and is perhaps becoming the home of a unique postmodern, postmaterial multiculturalism, generating hardy strains of new hybrids that will enrich this country and many others in the world (p. 143).

Fire and Ice is a clearly written and carefully researched book. In his introduction the author spells out what he wants to say and in the subsequent six short chapters he does what he said he would do. For the amateur social scientists in us he has included seven appendices (60 pages in length) which provide ample information about the social values methodology that was used to collect and interpret the vast amount of data. In addition, the book has a useful Trend Glossary, a carefully prepared index, several humorous but thought-provoking cartoons from the New Yorker, numerous graphs, and a short bibliography. As far as usability in the classroom is concerned, Fire and Ice is a must read for teachers and students who study the Canadian-American relationship because it provides a compellingly different view from the traditional interpretation as to where Canadian and American societies are heading.

In my opinion, Fire and Ice richly deserves to be the winner of the Donner Prize as the best book on Canadian public policy in 2003/04. Perhaps this paragraph – found at the end of chapter four of the book will best sum up Michael Adams’ message: In my nightmares, I may see the American fire melting the Canadian ice and then dream of the waters created by the melting ice drowning the fire, but this will not happen – at least not in our lifetimes. The two cultures will continue side by side, converging their economies, technologies, and now their security and defence policies, but they will continue to diverge in the ways that most people in each country, I believe, will continue to celebrate (p. 126).

S. Neidhardt – Northview Heights S.S. History Department (retired). Toronto, Ontario.

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Brasil e o Mundo: novas visões | Clóvis Brigadão e Domício Proença Junior

“Esta coletânea reúne trabalhos inéditos sobre questões relativas à inserção internacional do Brasil. Trata-se de questão de importância crescente, mas, ainda assim, de esforço exploratório”(p. 09). É dessa forma que Domício Proença Jr. e Clóvis Brigagão apresentam mais um importante empreendimento acadêmico brasileiro, no campo da paz e da segurança. Em Brasil e o Mundo destaca-se o empenho de dois grandes pesquisadores brasileiros na sistematização do conhecimento nacional na área.

Parte de um ambicioso projeto, o livro Brasil e o Mundo representa mais do que a concretização de um plano de trabalho. O motor dessa iniciativa encontra significado maior na perspectiva de fazer “ruir o imobilismo” de um país que, ainda hoje, mostra-se indiferente ao tema. Leia Mais

Representações. Contribuições a um debate transdisciplinar – CARDOSO; MALERBA (RBH)

CARDOSO, Ciro Flamarion; MALERBA, Jurandir (orgs.). Representações. Contribuições a um debate transdisciplinar. Campinas: Papirus, 2000. 288p. Resenha de: PELEGRINI, Sandra C. A. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.22, n.43, 2002.

A organização de uma coletânea voltada para o debate acerca das representações configura um projeto ambicioso, dada a complexidade que o próprio tema encerra. A obra, além de contemplar o necessário equacionamento do conceito, indica diferenciadas tendências teóricas e contribui para o aprofundamento da reflexão no âmbito da pesquisa histórica, sua natureza epistemológica e hermenêutica. Se uma ressalva pudesse ser feita, apontar-se-ia a ausência de uma detida análise sobre as relações entre a história das artes e as representações ¾ um terreno fértil, mas pouco explorado pela historiografia, especialmente no campo das produções pictóricas e da plasticidade.

No seu conjunto, o volume reúne ensaios que, mediante distintas interpretações, apresenta abordagens que enfocam desde as implicações da representação como objeto histórico até a constatação de sua dimensão lingüística na produção historiográfica. Embora aponte os riscos da utilização indiscriminada da noção supracitada e de determinados paradigmas teóricos sem as devidas precauções metodológicas, o trabalho parte do reconhecimento de que a representação tornou-se uma das pedras angulares do discurso histórico contemporâneo e, como tal, procura caracterizar sua índole e função cognitiva.

Entre as contribuições do volume, chama especial atenção a análise do conceito de representação política na esfera da produção historiográfica brasileira, efetuada por Maria Helena Rolim Capelato e Eliana Regina de Freitas Dutra. As autoras reconhecem a multiplicidade das abordagens, objetos e referenciais metodológicos que têm sido alvo das investigações no âmbito do político, todavia advertem que tal fato não deve ser atribuído aos modismos historiográficos passageiros que tendem a privilegiar os estudos voltados para as representações do poder e do exercício político e sua articulação com a vida social brasileira. Muito pelo contrário, esse deslocamento, do ponto de vista das historiadoras, resulta das aberturas epistemológicas e da operacionalidade proposta pelo estruturalismo e pós-estruturalismo. Nesse contexto, a análise proposta volta-se inicialmente para a identificação dos caminhos percorridos pelo conceito de representações, sua dimensão epistemológica e prática no campo das investigações históricas. E, num segundo momento, procura verificar o impacto do mesmo em cerca de uma centena de dissertações de mestrado e teses de doutorado concluídas nos anos 90, no Brasil.

Com o intento de promover um balanço historiográfico dessa produção, a reflexão abarca desde a análise do elenco dos temas abordados1 até o cômputo das fontes utilizadas nos referidos trabalhos2. A incidência de um confronto entre as posturas adotadas nesses trabalhos e os pressupostos teóricos que informaram as produções dos períodos anteriores às analisadas revelou a tentativa desses pesquisadores estabelecerem um exercício de interlocução com as tendências historiográficas internacionais. Se, por um lado, como salientam as autoras, percebe-se que o resultado de tais iniciativas parecem ter-se reduzido a um tratamento descritivo e pouco analítico, que em última instância revelou significativa dificuldade de compreensão do espaço da política. Por outro, a referida pesquisa possibilitou constatar a importância desse novo campo para a historiografia nacional, além da incorporação de novas fontes e objetos.

Não obstante a constatação do esforço dos profissionais brasileiros, torna-se imperioso admitir, segundo Capelato e Dutra, que mesmo os estudos portadores de maior eficácia empírica e metodológica, não conseguem superar as armadilhas inerentes às simplificações e demonstram uma efetiva dificuldade de aprofundamento teórico pertinente aos conceitos formadores da explanação do conhecimento histórico. Tal assertiva fundamenta-se no rastreamento da noção de representação e na instrumentalização do termo associada às teorias semiolingüísticas consolidadas nos anos 60 e vinculadas à lógica das articulações entre linguagem, símbolo, imaginário e representação. Na trilha dos suportes que embasaram teórica e metodologicamente as pesquisas no campo das humanidades, as autoras pontificam os encaminhamentos propostos por destacados pensadores como Marin, Castoriadis, Lefort, entre outros expoentes.

Nessa direção, a proposta de Capelato e Dutra termina intercruzando-se com as inferências implícitas no texto de Francisco J. C. Falcon, que se ocupa prioritariamente da discussão das matrizes teóricas que informam a construção do conceito de representações. Este, por sua vez, apropriadamente, antes de investigar as acepções das representações, propõe-se a pontuar a concepção do discurso histórico mediante a análise de distintas correntes historiográficas, mais precisamente, na perspectiva dos modernos e na dos pós-modernos. De um extremo ao outro, tende a sublinhar o trânsito do conceito: para esses últimos a representação figuraria como negação do conhecimento histórico, enquanto para os primeiros seria reconhecida como parte integrante do próprio discurso da disciplina. Enveredando pelo circunstanciamento dessa problemática no campo da história cultural, Falcon recupera usos e interpretações do conceito na historiografia atual. Assim, termina resgatando etimológica e cognitivamente acepções do termo e do conceito, ocupando-se das articulações entre representações, ideologia e imaginário, e também do mapeamento de algumas das principais obras dedicadas ao tema em questão.

Assim como Falcon, Helenice Rodrigues da Silva empenha-se na recuperação genealógica das representações e seus sentidos na disciplina histórica, debatendo a operacionalidade da noção de representação na esfera da historiografia francesa. Ao procurar acompanhar a trajetória na qual os estudiosos da história cultural e da história política foram atribuindo primazia ao conceito, ao longo da década de 1970, a autora alerta para a necessidade de se relativizar a importância da noção de representação na prática histórica. Nesse horizonte, ressalta que no universo das renovações teóricas e metodológicas processadas nessa área, a história das representações tendeu a firmar-se como complemento e nova orientação da história cultural, uma vez que significou, para os herdeiros da tradição dos Annales, a possibilidade de integração dos atores individuais ao social e histórico. Desse modo, como propõe Roger Chartier, o conceito permitiria a associação entre antigas categorias que a história social, a história das mentalidades e a história política mantinham separadas3. Em síntese, Silva procura evidenciar como a noção de representação, largamente utilizada em disciplinas como a sociologia e a psicologia (entre outras), tendeu a substituir o conceito de mentalidades na pesquisa histórica e de que forma viria a contribuir para a integração dos distintos domínios da disciplina.

Reportando-se às múltiplas facetas que o conceito implica, Ciro Flamarion Cardoso principia sua análise por intermédio de uma tentativa de perceber as motivações que informaram a denominada “virada cultural” na produção histórica da atualidade. Nesse sentido, detecta as implicações de três dos seus desdobramentos na esfera da nova história cultural4. Do seu ponto de vista, essas tendências tenderiam a inverter as premissas estruturais e explicativas do marxismo e dos Annales, terminando por promover a confecção de uma história cultural do social, em detrimento de uma história social da cultura.

Apesar de entender que as representações contribuem para a edificação de uma dada inteligibilidade do passado, Cardoso mostra-se temeroso em relação à crescente negação do realismo epistemológico, identificado em um número significativo de estudos na área das ciências humanas. Nessa direção, desnuda uma série de vícios que tem informado as pesquisas nessa área do conhecimento, analisa os pressupostos teóricos que fundamentam a obra de Roger Chartier e, posteriormente, debruça-se sobre um minucioso acompanhamento dos usos das representações nos horizontes da psicologia social.

Numa trilha similar, mas apresentando o tema do ponto de vista do sociólogo Norbert Elias, Jurandir Malerba analisa a apropriação que a história vem realizando da noção de representação. Considerando que essa questão deva ser deslocada para o campo da narratividade, o autor busca problematizar os procedimentos mais comuns nessa área. Assim, debate os ditames que orientam a indiscriminada utilização do conceito na historiografia contemporânea, reconduzindo a temática para uma síntese distinta das proposições mais recorrentes. Esse encaminhamento privilegia as articulações entre a teoria simbólica de Elias e a definição de habitus proposta por Pierre Bourdier.

Para Malerba, a teoria simbólica de Elias sugere uma leitura de representações que supera os limites circunstanciais da oposição maniqueísta entre o mundo real e o mundo representado. Nessa linha de argumentação, tal enfoque possibilita a incorporação do homem à natureza escapando de falsos dilemas, processados na edificação da teoria processual do conhecimento e da linguagem, de modo a permitir uma compreensão diferenciada do hábito social. Este, por sua vez, contempla a recuperação de visões da experiência de vida dos indivíduos em sociedade5.

Não menos relevantes são as assertivas de Lúcia Helena C. Z Pulino, Graciela Chamorro e Gustavo Blázquez. Enquanto Pulino equaciona o problema das representações em filosofia a partir da obra de Richard Rorty, Chamorro estabelece as possíveis articulações entre o referido conceito e a teologia, rastreando as representações de Deus na história, apontando as relações da teologia feminista com múltiplas formas do simbolismo (paterno e materno). Por seu turno, Blázquez aborda a maneira como a antropologia social tem-se relacionado com a noção de representação.

À guisa de conclusão, Jurandir Malerba reporta-se, por um lado, à proposta de alinhar possíveis conexões entre os textos que compõem a coletânea, respeitando as particularidades das análises propostas em cada um deles, e por outro, ao desconforto cunhado nas abordagens que tendem a limitar os efeitos das representações em toda e qualquer problemática. Oportunamente, acaba apontando os paradoxos de uma história que se propõe nova, mas enfrenta uma crise de “consciência” da própria disciplina. Para tanto, enfoca tantos os impasses teóricos enfrentados pela história como os problemas inerentes ao estatuto epistemológico da história cultural.

Curiosamente, as evidências ilustram o fato de que a abertura do diálogo da história com outras áreas do conhecimento, a conseqüente ampliação de seus objetos, o corpus documental e as estratégias metodológicas deflagraram aquela que poderíamos nomear como crise de identidade da disciplina e um intenso processo de fragmentação da mesma em múltiplas histórias, tomadas como eixo norteador da explicação sobre as contínuas transformações da sociedade moderna.

Por certo, as razões que motivaram o surgimento desse impasse teórico diante das constantes mutações do objeto histórico passam pela questão do narrativismo histórico. Mas, no contexto de tais transformações, a reflexão acerca das representações tornou-se providencial e seus aportes ganharam, cada vez mais, relevância e interesse por parte dos profissionais da área. Contudo, os excessos unilaterais detectados nas formas de interpretação histórica têm se circunscrito a modismos transitórios e efêmeros.

Sem dúvida, tais contingências explicitam a necessidade de se buscar soluções intermediárias para a abordagem das demandas mais urgentes da sociedade humana, suscitando paradigmas explicativos alternativos. Numa visão de conjunto, torna-se forçoso admitir que as restrições ao conceito de mentalidade propiciaram aos historiadores da cultura a busca de premissas alternativas àquelas assentadas na ambigüidade e na imprecisão, observadas nas articulações entre o mental e o social.

A nova história cultural, longe de tomar como objeto preponderante as interpretações dos expoentes filosóficos e as manifestações formais de cultura (como a arte e a literatura), demonstrou sua “estima” pelas práticas populares ou pelas manifestações das massas inominadas expressas nos rituais religiosos, crenças, festas e resistências cotidianas ao poder instituído.

No terreno da história social e política, o descontentamento com os modelos tradicionais impulsionou também a revisão de axiomas pautados por obnubilantes explicações globais. Desse modo, talvez a conjugação entre o poder e as representações venham a assinalar novos dispositivos de apreensão do saber histórico, sejam eles centrados no estudo do imaginário ou da simbologia política.

Por fim, não se deve furtar de proclamar que os resultados dessa coletânea foram plenamente satisfatórios. Ao superar os propósitos iniciais do projeto, com certeza esse volume se tornará uma obra de referência na esfera da produção historiográfica contemporânea.

Notas

1 Identidade nacional, imagens do poder, representações da política, espetáculos políticos, imagens e símbolos do progresso/modernidade/modernização/desenvolvimento capitalista, produção artística, veículos de propaganda política; instrumentos pedagógicos e meios de comunicação e imagens da cidades, são os temas diagnosticados pelo levantamento efetuado. CARDOSO, Ciro Flamarion e MALERBA, Jurandir (orgs.). Representações. Contribuições a um debate transdisciplinar. Campinas: Papirus, 2000, p. 247.

2 Entre as fontes mais citadas destacaram-se: jornais/revistas/pasquins/relatos jornalísticos; obras literárias/narrativas/crônicas/dramaturgia; memórias/diários/biografias/autobiografias/relatos de viagens; discursos/mensagens/manifestos/escritos políticos; depoimentos; iconografia; fotografia; correspondência; música; estátuas/monumentos/obras arquitetônicas/planos urbanísticos; filmes; álbuns; almanaques; objetos simbólicos/moedas, bandeiras, escudos, emblemas, cartazes; rádio/TV; publicidade; mapas e plantas. Idem, p.249.

3 Idem, pp. 82-83.

4 O autor as nomeia como “virada lingüística”, “virada para o interior” e “virada para exterior”, indicando os respectivos representantes de cada uma delas. Idem, p.11.

5 Idem, p. 218.

Sandra C. A. Pelegrini – Universidade Estadual de Maringá.

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Representações. Contribuições a um debate transdisciplinar | Ciro Flamarion Cardoso e Jurandir Malerba

Não tenho dúvida de que a publicação desta obra coletiva é oportuna ante o debate e as tendências narrativas observadas na historiografia. É oportuna também em razão da pouca importância dada ao tema pela comunidade de historiadores. Somente nos últimos anos essa comunidade despertou para esse aspecto, e ainda assim de forma tímida, apesar de as representações estarem presentes em todos os objetos de pesquisa e nas formas estruturantes das narrativas historiográficas. Decorre também desse aspecto a dificuldade momentânea de resenhar um livro que contém autores e textos com orientações temáticas e epistemológicas distintas. Na verdade, a obra já recebeu, em seu próprio conjunto, uma resenha do professor Malerba, o qual, na conclusão (p. 269-288), com o intuito de estabelecer a conexão do conjunto de ensaios, propõe um conjunto de idéias para além dos próprios textos. E aqui é necessário fazer-se uma primeira distinção: as representações como objeto histórico para a reconstituição do passado e as representações como objeto narrativo da análise historiográfica. Essa distinção é fundamental, pois ela implica em configurações metodológicas diferentes, as quais, não obstante, podem estar intercambiadas. Talvez o subtítulo do livro “Contribuição a um debate transdisciplinar” possa sugerir um encaminhamento nessa direção. Leia Mais

As Relações entre o Brasil e o Paraguai (1889-1930): do afastamento pragmático à reaproximação cautelosa | Francisco M. Doratioto || José Martí e Domingo Sarmento: duas idéias de construção da hispano-América | Dinair A. Silva || Segurança Coletiva e Segurança Nacional: a Colômbia entre 1950-1982 | César Miguel Torres Del Rio || Entre Mitos/ Utopia e Razão: os olhares franceses sobre o Brasil (século XVI a XVIII) | Carmen L. P. Almeida || A Parceria Bloqueada: as relações entre França e Brasil/ 1945-2000 | Antônio C. M. Lessa || Políticas Semelhantes em Momentos Diferentes: exame e comparação entre a Política Externa Independente (1961-1964) e o Pragmatismo Responsável (1974-1979) | Luiz F. Ligiéro || Dimensões Culturais nas Relações Sindicais entre o Brasil e a Itália (1968-1995) | Adriano Sandri || Opinião Pública e Política Exterior nos governos Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964) | Tânia M. P. G. Manzur || O Parlamento e a Política Externa Brasileira (1961- 1967) | Antônio J. Barbosa || Los Palestinos: historia de una guerra sin fin y de una paz ilusoria en el cercano oriente | Cristina R. Sivolella || Do Pragmatismo Consciente à Parceria Estratégica: as relações Brasil-África do Sul (1918-2000) | Pio Penna Filho || Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 | Eugênio V. Garcia

As relações internacionais, enquanto objeto de estudo, vêm se desenvolvendo de maneira satisfatória nos últimos anos no Brasil. Parte desse avanço é devido ao surgimento de cursos de pós-graduação na área, que colocam o estudo das relações internacionais, de modo geral, e a inserção externa do Brasil, em particular, no centro das preocupações de pesquisa. O primeiro programa de pós-graduação em História das Relações Internacionais na América do Sul foi criado na Universidade de Brasília, em 1976. Em torno desse Programa formou-se uma tradição brasiliense de estudo de relações internacionais. Ao longo de mais de vinte anos de atuação, o Programa produziu cerca de sessenta dissertações de mestrado e, com a implantação do doutorado em 1994, doze teses.

Uma particularidade das teses de doutorado do Programa é a diversidade temática. A ampliação dessa linha de pesquisa permitiu a modernização da História das Relações Internacionais. Assim, junto com os estudos que privilegiam as relações bilaterais do Brasil, inseriram-se novos temas e objetos de investigação. Com efeito, há estudos que aprofundam a análise das parcerias estratégicas, a opinião pública, a imagem, a segurança internacional, o pensamento político, as relações internacionais do Brasil e as relações internacionais contemporâneas. Tais estudos evidenciam a diversificação de olhares sobre a inserção internacional do Brasil. Leia Mais

Argentina: visões brasileiras | Samuel Pinheiro Guimarães

O projeto Anuário de Política Internacional, elaborado pelo IPRI e patrocinado pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, tem por fim a elaboração “de uma visão brasileira sobre as principais sociedades e Estados” parceiros do Brasil. O livro organizado por Samuel Pinheiro Guimarães, parte integrante desse projeto, recolhe uma interpretação do pensamento brasileiro sobre a Argentina. O texto percebe a Argentina como um ator influente na história regional sul-americana, razão porque aprofunda as linhas gerais de sua história e de sua política exterior entre 1945 e 2000, dando ênfase à década dos noventa, ou seja, ao Governo de Carlos Saúl Menem. Tudo sob a visão dos brasileiros.

O livro está dividido em três grandes partes. A primeira, a cargo do internacionalista historiador Amado Luiz Cervo, corresponde à visão política, a segunda, a cargo do diplomata Pedro Mota Pinto Coelho, à visão diplomática, e, enfim, a terceira esteve sob a responsabilidade dos economistas Ricardo Markwald e Roberto Iglesias. Leia Mais

América Latina no século XIX: tramas, telas e Textos – PRADO (RBH)

PRADO, Maria Ligia Coelho. América Latina no século XIX: tramas, telas e Textos. São Paulo: EDUSP; Bauru: EDUSC, 1999, 228 p. Resenha de: FUNES, Patrícia. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.40, 2001.

Em América Latina no Século XIX: Tramas, Telas e Textos, Maria Ligia Prado trabalha tanto tópicos clássicos do pensamento político latino-americano do século XIX quanto novos temas, produto das últimas revisões da história política: velhos e novos problemas abordados a partir de uma perspectiva atualizada e inovadora1. Borges, resgatando o processo da leitura e da interpretação, certa vez escreveu: “A veces creo que los buenos lectores son cisnes aun más tenebrosos y singulares que los buenos autores.”

Maria Ligia lê e analisa biografias, novelas, relatos de viajantes, quadros e pinturas para interpretar as sociedades latino-americanas do século XIX, especialmente no que se refere à produção de idéias e de imaginários políticos.

Procedamos por círculos concêntricos, partindo de fora para dentro. O livro (editado pela EDUSP e EDUSC em 1999) é um objeto primorosamente elaborado, impresso com esmero e acompanhado por ilustrações muito bem escolhidas, que se tornam imprescindíveis, como no caso do artigo sobre as representações pictóricas da natureza nos Estados Unidos e no Rio da Prata (“Natureza e Identidade Nacional nas Américas”). Este cuidado estético não pretende ser trivial, uma vez que se encontra associado a uma das preocupações da autora com relação ao suporte material da leitura: como se lê, como circulam os textos e para quem estão dirigidos (remeto ao artigo sobre novelas voltadas a um público feminino, editadas pela Imprensa Régia no Brasil Joanino). Maria Ligia também incorpora epígrafes e citações literárias, que em geral são pedras de toque um tanto misteriosas, mas que sempre sugerem uma intenção a decifrar.

A autora nos propõe sete ensaios de história das idéias políticas e das representações e imaginários sociais, tecendo uma trama menos visível e mais sutil, mas sempre operante, aludida no próprio título do livro.

Dissemos que a autora revisa alguns problemas clássicos da historiografia do século XIX, as emblemáticas questões sobre a Independência, enfocada aguda e originalmente em dois dos ensaios. O primeiro analisa a participação das mulheres no processo revolucionário e, mais concretamente, o apagamento e o nivelamento deste protagonismo na historiografia do século XIX a partir dos relatos biográficos. Assim, nos apresenta o processo independentista pelo reverso da tela e mostra os mecanismos de ocultamento e “feminilização” desta participação contestatória e rebelde, operação pedagógico-moralizante dirigida a fixar imagens de “bom comportamento”. Este interessantíssimo contraponto que Maria Ligia realiza entre a recuperação e a reconstrução do papel político das mulheres (Juana Azurduy, Manuela Sáenz, Leona Vicario, Policarpa Salavarrieta) e estas biografias, escritas por homens, desvela um imaginário de nação no qual a família é a metáfora. O lugar da mulher corresponde à moral católica de “mãe e esposa”, à ordem privada e não à pública; em síntese, a valores tradicionais, precisamente num momento em que se recusa esta ordem e em que a vocação é pretensamente secularizadora na ordem política.

O outro ponto abordado na questão da Independência é o das relações entre a Igreja e o processo de ruptura revolucionária e, dentro disto, o papel do clero revolucionário: Hidalgo, Morelos, Camilo Torres, Luis Vieira são associados aos movimentos das classes subalternas. É interessante aqui a reflexão aguda de Maria Ligia acerca das tensões entre os novos e velhos princípios de legitimidade política no interior do clero – cruzado por referências ideológicas diversas, mas explicáveis em seu contexto sociopolítico – e também e particularmente no caso de Hidalgo é instigante a análise da autora a respeito dos dilemas entre liberdade e violência dentro de um contexto revolucionário.

A brecha entre utopias políticas e resultados na construção de uma nova ordem – a distância entre os sonhos e as desilusões – é uma questão que Maria Ligia problematiza neste artigo e em outros dois: refiro-me ao inteligente trabalho sobre as visões acerca da soberania popular, seus recortes e adaptações no pensamento de Luis María Mora e Esteban Echeverería e também em sua leitura de Facundo, de Sarmiento (“Para Ler o Facundo de Sarmiento”). As peripécias na construção dos estados e nações, das identidades e do poder, e o papel da igreja, da ciência e do positivismo, objetivados na criação de instituições universitárias, são analisados com destreza pela autora, comparativamente em três países: Brasil, México e Chile (“Universidades, Estado e Igreja na América Latina”).

Mais do que me referir pontualmente a cada um deles, gostaria de assinalar uma preocupação historiográfica e interpretativa, subjacente a vários trabalhos do livro e que, a meu juízo, está na base das intenções da autora ao pensar na relação entre as idéias e a política. Consideramos que o livro de Maria Ligia nos propõe abordagens sugestivas e instigadoras do ponto de vista da disciplina e da metodologia. Grande parte dos trabalhos é comparativa, estratégia que lança luz sobre traços comuns das sociedades e da política latino-americanas, mas particularmente sobre as especificidades e singularidades de cada processo. O exercício comparativo é uma ferramenta que permite romper com o componente “nacionalitário” e “nacionalizante” que teve a história política tradicional, e ao mesmo tempo abrir a análise a visões menos endogâmicas e autofágicas.

Maria Ligia adverte: “Para defender-se das habituais acusações de elitista, ideológica, particular, factual, nacionalista, a história política teve que repensar suas abordagens e indicar caminhos de investigação inovadores.” Assim, a atuação humana, as subjetividades, a longa duração, a fixação de símbolos identitários são buscas às quais a autora recorre em seu rigoroso trabalho, com resultados muito férteis e explicativos.

Por outra parte, já no terreno das idéias políticas e em épocas de orfandades e intempéries teóricas globalizadoras, em nosso entender a autora não cai em alguns riscos aos quais estão expostos aqueles que trabalham com a produção textual e discursiva. Mais concretamente, Maria Ligia evita o risco do “reducionismo lingüístico ou discursivo” que, no limite, chega a delinear a natureza exclusivamente ficcional da narrativa histórica.

Pensamos que ao abordar o campo das idéias, das ideologias, do pensamento, da produção intelectual, corre-se o risco da análise enredar-se em dois tipos de atitudes: a de pensar em uma “soberania” do mundo das idéias, em que estas se geram e se reproduzem com uma autonomia absoluta numa espécie de território “nebuloso” cujo império é o das meras representações, situadas em algum lugar “acima” das sociedades. Uma segunda atitude é a da ultra-simplificação da linguagem política, que se autolegitima circularmente por estar impregnada do social. A esta complexidade haveria que acrescentar ainda uma outra, já “clássica” entre os analistas das sociedades latino-americanas: a obsessão pela cópia ou a originalidade do pensamento latino-americano, já anunciada nos debates sobre as idéias inspiradoras do processo independentista. A velha visão entre o universal e o particular, inerente à modernidade, cobra, nessas sociedades nas quais a modernidade foi e é um tema controverso, uma vigorosa centralidade. Assim, aqueles que sublinham o caráter de mera “cópia” ou “reflexo” no campo das idéias não deixam de dar uma explicação muito tranqüilizadora no momento de analisar os limites e frustrações dessas ideologias para entender estas sociedades, e de atribuir a essa “colonização” ideológica uma quota de responsabilidade nada desdenhável para explicar suas “disciplinas pendentes”. O avesso desta atitude que, entretanto, circula na órbita do mesmo eixo, é considerar os “modelos clássicos”, as “idéias originais” (o liberalismo, o positivismo, o romantismo, o naturalismo e também os nada vernáculos “nacionalismos”, por exemplo) corpos fechados e acabados que, ao serem contrastados com as “indóceis” sociedades latino-americanas e com suas produções intelectuais (tão obstinadamente resistentes a disciplinarem-se no perímetro destes marcos) dão como resultado uma caracterização destas sociedades como “incompletas”, “inacabadas”, “disformes”, ou sob o império interpretativo dos “proto” ou dos “sub”.

Maria Ligia adverte para estes riscos, por exemplo, ao referir-se a positivistas e liberais, refletindo: “Não se trata, como afirmam tantos, de uma má compreensão ou de uma deformação das idéias matrizes, e sim de uma consciência bastante clara desses atores, para quem as idéias estão sempre a serviço de uma causa político-social, fato que os levou a fazer leituras peculiares dos textos filosóficos clássicos. As ambigüidades encontradas explicam-se, para o historiador, pela análise dos cruzamentos entre os vários campos e por seu entendimento dentro de cada contexto social particular.”2

O caminho que Maria Ligia elege – a nosso ver, com êxito – para evitar estes deslizamentos, é o de trançar a produção ideológica aos contextos sociopolíticos, (re)situando as idéias no tabuleiro do poder, forma pela qual consegue diferenciar-se tanto das visões teleológicas como das essencialistas.

Para não me alongar demasiado, agrego um pequeno parágrafo sobre o astuto e sensível ensaio a respeito das possíveis leituras da natureza na conformação das identidades nacionais; em minha opinião, este é um artigo cheio de criatividade que estimula pensar a respeito de variadas questões, tanto por sua construção quanto por sua análise. A natureza para o historiador, diz-nos Prado, é um objeto sobre o qual se elaboram representações que comportam visões de mundo, repertórios diversos constitutivos da identidade, do território e da nacionalidade. Neste sentido, sua comparação das obras de Turner e Sarmiento, acompanhada pela leitura das imagens dos pintores do Rio Hudson e dos viajantes do Rio da Prata no começo do século XIX, parece-nos um exercício analítico muito agudo e perspicaz, no qual a autora desenha as cumplicidades entre natureza, política e história.

Pinturas, biografias, novelas, telas e textos são suportes nada convencionais que Maria Ligia entrelaça para aproximar-se das sociedades latino-americanas do século XIX, de suas idéias e seus horizontes de pensamento, sem perder de vista a atualidade de algumas problemáticas ou como estas rebatem no presente – lugar explícito onde a autora se instala para realizar sua análise.

Para concluir, gostaria de reproduzir a epígrafe de Karl Bauer que abre o artigo sobre a leitura de novelas no Brasil joanino: “A postura forçada e a ausência de movimento físico durante a leitura, combinada com essa sucessão tão violenta de idéias e sentimentos […] cria preguiça, conglutinação, inchaço e obstrução das vísceras, em uma palavra, hipocondria, que, como se sabe, afeta em ambos os sexos os órgãos sexuais e conduz a estancamentos e corrupção do sangue, aspereza e tensões no sistema nervoso, e, em geral, ao enfraquecimento de todo o corpo.” Karl Bauer, 17913

Não se preocupem. Nada disso ocorre com a leitura deste livro. Ao contrário, por sua escritura ágil e fluida nosso corpo se alonga e se estira. Ativa e estimula novas perguntas e ressignifica velhos problemas através de proposições criativas e originais que nos aproximam da compreensão das sempre complexas e fascinantes sociedades latino-americanas.

Notas

1 Este texto foi lido por ocasião da apresentação do livro no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de San Martín, organizada por este Centro e pelo Instituto Gino Germani, da Universidade de Buenos Aires, em 8 de junho de 2000. Tradução de Stella Maris Scatena Franco.

2 PRADO, M. Lígia C. América Latina no século XIX: tramas, telas e textos. São Paulo: EDUSP; Bauru: EDUSC, 1999, p. 116-117.

3 Id., p. 119.

Patrícia Funes

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Abolitionism in the United States and Brazil. A Comparative Perspectiva – AZEVEDO (VH)

AZEVEDO, Célia Marinho. Abolitionism in the United States and Brazil. A Comparative Perspectiva. Nova Iorque e Londres: Garland Publishing, 1995. Resenha de: FUNARI, Pedro Paulo A. Varia História, Belo Horizonte, v.13, n.17, p. 279-282, mar., 1997.

A tese de doutoramento da Professora Célia Marinho Azevedo, apresentada à Columbia Universlty, nos Estados Unidos, acaba de ser publicada na coleção de “Estudos sobre Cultura e História Afro-Americana”, de Nova Iorque. Raras são as obras de brasileiros publicadas no exterior e, ainda mais excepcionais aquelas que não se refiram apenas ao Brasil, como é o caso deste estudo comparativo do abolicionismo nos dois países. Na verdade, a abolição tem sido considerada muito mais do ponto de vista econômico e político do que de uma perspectiva social e cultural e este trabalho, portanto, cobre também uma lacuna na historiografia sobre o tema 1_ O livro começa com um pequeno prefácio, seguido de uma introdução bibliográfica (lx-xxiv) e desenvolve-se por quatro capítulos principais, sobre “O abolicionismo nos dois países: uma visão geral” (págs. 3-20), “Visões do senhor de escravos” (págs_ 21-48), “Visões do escravo” (págs. 49-82), “Reflexões sobre o racismo e o destino no ex-escravo” (págs. 83-120), concluindo com um “Epílogo” (págs. 121 -126). Em cada tópico, as experiências do abolicionismo brasileiro e norte-americanos são analisadas, comparativamente e passo a passo. A erudição da autora pode ser avaliada pelas 36 páginas de notas e as 444 obras citadas, entre fontes primárias e secundárias. Sua leitura, contudo, nem por isso é difícil, mas, ao contrário, a suavidade do texto apresenta-se. ainda. tornada mais agradável pela beleza do estilo claro e pouco afeito ao jargão.

A bela comparação entre o abolicionista William Lloyd Garrison, nascido no norte dos Estado Unido e alheio, d todo, à prática da escravidão e Joaquim Nabuco, antigo senhor tornado opositor do sistema, permite observar a precisão estética da autora: “falando com este senhor, Garrison sentiu-se, provavelmente, um verdadeiro outsider, incapaz de compreender a consciência e o mundo do dono de escravos. Pelo contrário, para o futuro líder abolicionista brasileiro, Joaquim Nabuco, a escravidão tinha sempre sido uma realidade tão natural como o ar que respirava. A escravidão não era uma instituição esquisita que, às vezes, ouve-se falar ou encontra-se, face a face, apenas em circunstancias excepcionais. A escravidão era o seu mundo e moldava sua consciência tão profundamente quanto o fazia para o dono de escravos que Garrison havia encontrado na prisão de Baltimore” (págs. 16-17). Azevedo utiliza-se do conceito de “imaginário” para descrever a criação perene de figuras, formas e imagens que permite aos agentes históricos, neste caso abolicionistas. produzir sua ”realidade” e sua “racionalidade”. O livro pode ser lido como uma oposição constante entre duas culturas irredutíveis, cujas escravidões e abolicionismos guardam semelhanças externas, em parte derivadas da sua inserção em um contexto internacional comum, e profundas diferenças ideológicas.

Os diferentes caminhos dos dois países na sua emancipação política explicam, em grande parte, os divergentes abolicionismos. A Revolução Americana e a vitória do republicanismo construíram idéias sobre a identidade nacional. a igualdade política e social e a cidadania completamente diversas do compromisso pacífico entre a Coroa portuguesa e a nova nação brasileira. Seguindo as idéias desenvolvidas por David Brion Davis, sobre a liberdade interior e a virtude, Azevedo considera que o abolicionismo norte-americano foi o resultado de um pensamento inovador, derivado de uma nova ética de benevolência, cujo ideal de responsabilidade individual substituiu os antigos padrões. em de integração, da caridade da responsabilidade social de cunho medieval. Esta filosofia, surgida na Grã-Bretanha, no século XVII, confiava na capacidade humana de aprimoramento moral e opunha-se tanto à predestinação calvinista como ao apego ritualístico do catolicismo tradicional. A este ethos americano, opõe-se o caráter patriarcal da sociedade brasileira. Baseada na hierarquia e na proteção derivada das relações de compadrio, a sociedade católica brasileira, fundada no respeito à ordem vigente, que incluía a escravidão, só podia conceber o abolicionismo como … movimento dentro da Iei ! “Os abolicionistas brasileiros permaneceram, normalmente, determinados a combinar a abolição com o respeito das leis, o que, em um país escravista. eqüivalia a respeitar os interesses dos donos d escravos” (pág. 45). A guerra civil americana e seus mortos representam uma quebra com o antigo regime que, no Brasil, nunca houve. Como lembra Célia Marinho Azevedo, a passagem pacifica à emancipação, no Brasil, foi acompanhada pela reforma eleitoral de 1879 que reduziu os votantes de 1.114.066, em 1874, para apenas 145.296, em 1879 2.

O abolicionismo norte-americano fundava-se na igualdade entre os homens. entre os quais estavam os negros, o que opunha a escravidão, a um só tempo, ao cristianismo e à república. Os senhores, pecadores e infratores à constituição ipso facto, eram não apenas combatidos como a própria escravidão nos Estados Unidos era considerada a mais detestável, a menos mitigada. É neste contexto, argumenta a autora, que, naquele país, cria-se a noção de uma escravidão mais humana, porque fundada no Direto Romano, imperante alhures. O Brasil passa a ser, na verdade, o paradigma dos benefícios de uma escravidão regrada: “No Brasil. no momento (i.e. 1833) a nação com maior população escrava, é ainda melhor. Ali o senhor é obrigado, sob ameaça de pena severa, a dar a seu escravo uma licença escrita para procurar outro dono sempre que o escravo assim o pedir; encontrada a pessoa interessada na compra, o magistrado fixa o preço” (David Child}. Com o passar do tempo, o racismo norte-americano. denunciado por diversos abolicionistas, foi contrastado ao paraíso racial brasileiro, cuja fama internacional já era reconhecida em meados do século XIX. Como lembra a autora, é interessante notar que muitas dessas idéias abolicionistas sobre o inferno racial norte-americano e o paraíso racial brasileiro foram incorporadas pelos grandes estudiosos do nosso século, Gilberto Freyre e Frank Tannenbaum3.

Célia Marinho Azevedo toca, en passant, em um ponto que talvez mereça alguma reflexão: André Rebouças, de origem africana, teve carreira notável graças ao esforço, trabalho, disciplina e estudo. As disciplinas estudadas incluíam latim, francês, inglês e a tradução dos filósofos gregos e romanos. Ora, também nos Estados Unidos, escravos. fugitivos e forros privilegiavam. da mesma forma. o estudo do latim e do grego. como demonstrou Shelley P. Haley4 . No contexto norte-americano, o domínio dos clássicos era sinal de igualdade, quanto ao Brasil? Se aceitarmos a interpretação proposta pela autora, parece razoável supor que, ao contrário, o conhecimento erudito afastasse o indivíduo de ascendência africana dos escravos e libertos pobres e o identificasse como integrante da elite branca. Nesta direção caminha constatação de Célia Marinho Azevedo a respeito da imagem positiva da África nos círculos abolicionistas americanos, por oposição à terra de ignorantes na concepção brasileira predominante. Cleópatra era negra nos Estados Unidos. enquanto Rebouças era branco, no Brasil.

Espera-se que a obra seja, o mais breve possível, traduzida e publicada entre nós. Desta forma, também o público brasileiro mais amplo, e não apenas aquele mais diretamente dedicado ao estudo de temas afro-americanos, poderá ter acesso uma obra cuja repercussão acadêmica já começou nos principais centros internacionais de pesquisa.

Nota

1 Lacuna bem lembrada por Hebe Maria Matos de Castro em “Estudos Afro-Asiáticos”, número 28, 1996, pág 106.

2 De maneira independente, era o que também ressaltava Magnus Mômer em “Ibero-Americana. Nordic Journal of Latln American Sludies”, número 22, 1992, pág 20.

3 Esta oposição entre a tradição latina e anglo- saxônica foi ressaltada em diferentes historiografia latino-americanas . o caso cubano estudado por AIine Helg em “Politlcas sociais en Cuba después de la lndependencla: represión de la cultura negra y mito de la lgualdad racial”, America Negra, Bogotá, 11, 1996, páginas 63-79, apresenta paralelos interessante a respeito

4 Em ” Feminlest Theory and lhe Classlca”, organizado por N.S. Rablnowltz e A Richlin, 1993, págs 23-43.

Pedro Paulo A. Funari – Departamento de História, IFCH, IJNICAMP.

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