History and Morality | Donald Bloxham

Donald Bloxham, historiador e professor da Universidade de Edinburgh, produziu diversas obras referentes aos estudos sobre genocídios, tais como Genocide on Trial: War Crimes Trials and the Formation of Holocaust History and Memory (2001), The Final Solution: A Genocide (2009) e a organização, com Dirk Moses, de The Oxford Handbook of Genocide Studies (2010). Após se consolidar como uma referência em língua inglesa acerca dos crimes de guerra e genocídios históricos, em 2020 Bloxham dedicou-se a reflexões teóricas próprias do fazer historiográfico. Why History? A History (2020) e History and Morality (2020) são dois livros, publicados ao mesmo tempo pela Oxford University Press, que levam em consideração a história de sua própria disciplina e um problema de filosofia da história, o do julgamento histórico. Esta resenha é dedicada ao segundo volume citado. Leia Mais

Securing sex: morality and repression in the making of Cold War Brazil – COWAN (RTA)

COWAN, Benjamin A. Securing sex: morality and repression in the making of Cold War Brazil. Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2016. Resenha de: ZALUSKI, Jorge Luiz. Impressos, discursos e moralidade nos regimes autoritários instituídos no Brasil. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.12, n.29, e0501. jan./abr., 2020.

Atualmente, os regimes autoritários instituídos durante o século XX na América do Sul e na América Central constituem tema de muitas investigações científicas e, ainda, um profícuo campo de pesquisa na historiografia. No livro Securing sex: morality and repression in the making of Cold War Brazil, Benjamin A. Cowan apresenta uma interpretação sobre determinadas “facetas” dos regimes autoritários instituídos no Brasil, centrando o foco de sua análise na ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985. O autor é Doutor em História pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e realizou estudos sobre as temáticas relações de gênero, sexualidade, movimentos sociais da denominada direita e violências no século XX. Essa obra, que recebeu o prêmio da Associação de Estudos Latino-Americanos (Latino American Studies Association [LASA]) em 2017, ainda não tem tradução para o português.

Para a elaboração da narrativa histórica, o historiador analisou 35 impressos publicados no Brasil entre as décadas de 1930 e 1980. Dentre esses impressos se encontram os jornais O Estado de S. Paulo, Correio da Manhã e O Globo, que circulavam em diversos estados da federação. As revistas de informação, como Claudia, Veja, Manchete, e as revistas produzidas por instituições militares, com ênfase para A Defesa Nacional, Revista Militar Brasileira e Segurança e Desenvolvimento também fazem parte da documentação investigada. Tais impressos foram pesquisados pelo autor em várias instituições, com destaque para o Arquivo Nacional, o Arquivo Nacional do Exército, a Biblioteca da Academia Militar das Agulhas Negras e a Biblioteca do Exército.

A obra se divide em 7 capítulos, que têm como “fio condutor” as ações de diferentes naturezas adotadas por representantes do Estado brasileiro e pelos civis para combater o que foi considerado um “desvio moral” da população à época. O autor, no processo de construção da narrativa histórica, apoia-se no referencial conceitual relativo ao “pânico moral”, idealizado pelo sociólogo sul-africano Stanley Cohen na década de 1970. Benjamin A. Cowan afirma que as mudanças socioculturais ocorridas na sociedade brasileira na segunda metade do século XX geraram novas experiências que provocaram grande preocupação em grupos sociais identificados no campo da política como de direita.

O autor destaca que algumas premissas dos discursos autoritários e moralistas estão presentes na sociedade brasileira durante grande parte do século XX. No primeiro capítulo da obra, intitulado “Only for the cause of the pátria: the frustrations of interwar moralism” (tradução livre: Somente pela causa da pátria: as frustrações do moralismo no entreguerras), Cowan analisa como a política socioeconômica adotada no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) contribuiu para instaurar em uma significativa parcela da população novas práticas e novos valores, que acabaram sendo alvo de questionamento por parte de intelectuais, religiosos, juristas e outros personagens identificados com a direita. Para Cowan, parte dos grupos sociais de direita, entre eles integrantes do Movimento Integralista e católicos, que associaram as novas práticas e os novos valores a 2 processos: a) ao comunismo; e b) a uma crise moral que colocava em xeque muitos dos “valores tradicionais da família brasileira” (aqui entendida como a configuração de família das elites), inclusive os relativos à masculinidade. Segundo o autor, o governo de Getúlio Vargas, especialmente durante a Ditadura do Estado Novo, como “resposta” ao referido quadro, optou por manter um estreito “diálogo” com os grupos sociais de direita, adotando políticas nos campos da educação escolar, da assistência social etc. que instituíam e/ou reforçavam uma configuração de família nuclear associada aos valores burgueses e com distinções de gênero Na década de 1960 e no início da década de 1970, a política socioeconômica implementada durante o “Milagre Econômico” pelos governantes da ditatura provocou novas mudanças no âmbito da família e das relações de gênero que foram alvo de questionamentos de grupos sociais de direita. No segundo capítulo da obra, intitulado “Sexual revolution? Contexts of countersubversive moralism” (tradução livre: Revolução sexual? Contextos do moralismo contrassubversivo), Cowan explora como se deu a aproximação entre os civis e os governantes militares, com o objetivo de combater os considerados subversivos. Por meio da análise das revistas Manchete e Realidade, o pesquisador observou que temas como juventude, sexualidade e moralismo estiveram no centro de debates públicos na década de 1960, muitas vezes associados aos discursos comunistas. O autor destaca que muitos jovens brasileiros das diferentes camadas sociais não estavam interessados nos debates públicos da época sobre família e sexualidade. Apesar desse fato, a produção de discursos para a “proteção” da família nuclear burguesa e de determinada perspectiva de sexualidade heteronormativa foi bastante grande. Esses discursos de cunho moralista incitaram a ampliação da vigilância sobre as escolas ginasiais e secundárias e as universidades, vistas como espaços privilegiados onde se propagavam ideais considerados subversivos.

No terceiro capítulo, intitulado “Sexual revolution! Moral panic and the repressive right” (tradução livre: Revolução sexual! Pânico moral e direita repressiva), Cowan enfoca as relações estabelecidas em nível transnacional entre grupos de direita do Brasil e do exterior. Para o autor, após as manifestações estudantis de maio de 1968 emergiu um discurso de crise cultural no Ocidente que contribuiu para a construção de muitas narrativas voltadas ao combate do comunismo e à defesa da família nuclear burguesa. No Brasil, tal discurso foi difundido por meio da ideia de “pânico moral”, que apresentava a resistência armada, a delinquência juvenil e a crítica às relações de gênero como sinônimos de uma crise moral que supostamente destruiria a juventude brasileira. Segundo o autor, integrantes de movimentos sociais, como Tradição, Família e Propriedade (TFP) e Rearmamento Moral do Brasil (RM), tinham por “missão” defender as práticas e os valores morais da família brasileira. Por meio da revista Doutrina de Segurança Nacional, o autor analisou os discursos de membros dos referidos movimentos sociais que foram utilizados para sustentar o moralismo instituído no período e proporcionar legitimidade às ações do Estado brasileiro de diferentes ordens contra aqueles que rompiam com práticas e valores relativos à família compartilhados pela direita.

No quarto capítulo, intitulado “Drugs, anarchism, and eroticism: moral technocracy and the military regime” (tradução livre: Drogas, anarquismo e erotismo: tecnocracia moral e o regime militar), Cowan aborda o papel desempenhado pelos tecnocratas durante a ditadura militar em relação às temáticas família e relações de gênero. Juristas, filósofos, educadores, médicos etc. publicavam artigos na Revista da Escola Superior de Guerra, considerada um dos principais “porta-vozes” do regime autoritário. Esses técnicos, que atuam em diferentes setores da burocracia, sobretudo da federal, partilhavam do ideário que atribuía aos comunistas a difusão de ideais sobre a “liberação das mulheres” que ocasionavam a “degeneração da família” e o “problema da juventude”. A juventude, nesse discurso, era considerada delinquente, usuária de drogas e portadora de práticas e valores relativos à sexualidade que necessitavam ser controlados. Para o autor, o discurso enunciado por esses burocratas se mostrou de fundamental importância na construção de leis e na implementação de políticas sociais no período. Dentre essas leis se destacam o Código de Menores, de 1979, e a Lei do Divórcio, aprovada em 19771.

No quinto capítulo, intitulado “Young ladies seduced and carried off by terrorists: secrets, spies, and anticommunist moral panic” (tradução livre: Moças seduzidas e levadas por terroristas: segredos, espiões e pânico moral anticomunista), o autor investiga os discursos que acusavam uma parcela das mulheres brasileiras de ser responsáveis pela divulgação de discursos de cunho subversivo. As revistas Ação Democrática e A Defesa Nacional dedicaram inúmeras páginas a esse ideário antifeminista e anticomunista. Segundo o historiador, essas duas concepções conjugadas favoreceram a perseguição e a tortura de muitas jovens que integraram os agrupamentos políticos contrários ao regime ditatorial. Em “Brazil counts on its sons for redemption moral, civic, and countersubversive education” (tradução livre: O Brasil conta com seus filhos para a redenção moral, cívica e a educação contrassubversiva), sexto capítulo do livro, Cowan analisa como a disciplina escolar Educação Moral e Cívica (EMC) foi utilizada como “instrumento” de combate ao comunismo. Para o historiador, a EMC articulou em seu conteúdo programático as preocupações construídas em torno do “pânico moral” anticomunista. Por meio da disciplina, esse discurso circulou em larga escala em materiais didáticos produzidos para o ensino ginasial da época. Na revista A Defesa Nacional, por exemplo, eram recorrentes os artigos que entendiam que a escola deveria difundir entre os alunos noções sobre uma masculinidade que subsidiasse a preparação para a carreira militar, bem como para a edificação de uma família nuclear.

No último capítulo do livro, intitulado “From pornography to the pill: bagunça and the limitations of moralist efficacy” (tradução livre: Da pornografia à pílula: bagunça e as limitações da eficácia moralista), Cowan analisa as “fissuras” presentes nos discursos sobre o uso de métodos contraceptivos pelas mulheres durante o processo de redemocratização, iniciado no final da década de 1970. Temas como controle da natalidade e pornografia ganharam destaque nos debates sobre saúde pública do país. Para o autor, os defensores do regime ditatorial teceram largas críticas às políticas sociais colocadas em prática na época, que distribuíam contraceptivos para a população e também passaram a associar o processo de redemocratização à ideia de retrocesso político.

É notável como o historiador mobilizou um grande número de fontes na obra Securing sex: morality and repression in the making of Cold War Brazil, que possibilitou a produção de reflexões inovadoras sobre as temáticas estudadas, muitas vezes de modo tangencial, em relação aos regimes autoritários instituídos no Brasil. Soma-se a esse trabalho de pesquisa das fontes o uso de um extenso e atual referencial bibliográfico sobre as ditaduras brasileiras (governo de Getúlio Vargas e ditadura militar) para além das publicadas em português. Esse fato, que permite que o(a) leitor(a) estabeleça conexões entre as produções nacionais e internacionais. Por fim, a obra contribui com os estudos da História do Tempo Presente seja em relação às temáticas estudadas, seja em relação à temporalidade dos discursos. Dados os recentes acontecimentos no Brasil, uma parte desse passado parece inseparável, como lembra Henry Rousso (2016, p. 302), “um passado que volta para assombrar o presente”.

Referências

ROUSSO, Henry. A última catástrofe: a história, o presente, o contemporâneo. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2016.

Jorge Luiz Zaluski – Doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Florianópolis, SC – BRASIL. E-mail: [email protected].

Empirically Informed Ethics: Morality between Facts and Norms – CHRISTEN et al (FU)

CHRISTEN, M.; VAN SCHAIK, C.; FISCHER, J.; HUPPENBAUER, M.; TANNER, C. (Eds.). Empirically Informed Ethics: Morality between Facts and Norms. London: Springer, 2014. Resenha de: TRUJILLO, Laura Yenisa Cabrera. Filosofia Unisinos, São Leopoldo, v.16, n.2, p.194-197, mai./ago., 2015.

Historically, facts and norms have been considered as two separate realms, each one approached by different analytical tools and each one studied with different purpose in mind. Empirically Informed Ethics: Morality between Facts and Norms gathers contributions from philosophers, theologians and empirical scientists who, in spite of their firm standings in their own disciplines, see the value of crossing to realms beyond their traditional one and learning how these other realms can inform their own work.

This book is of interest for two main reasons. On the one hand it provides an overview of recent developments in empirical investigations of morality. On the other hand it assesses their importance and impact for ethical thinking. Empirically Informed Ethics is suitable for those who are new into cross-disciplinary work, those who want to learn more on the benefits and caveats that come with it, or just to get a picture of empirical investigations within ethics.

The book is organized in six parts; each one with the exception of the last one consists in three chapters. Part I, entitled ‘What is empirically informed ethics?’, begins with a chapter (Chapter 1) by M. Christen and M. Alfano outlining the field of empirically informed ethics. They start by presenting the phenomenon that empirically informed ethics investigates, namely moral agency. This chapter continues with some important distinctions in how empirical data is used, e.g. as an indicator of the feasibility of ethical thought, as foundations of normative theory or as framing of an ethical problem. In what follows Christen and Alfano provide an overview of the different kinds of empirical methodologies and data that can inform ethics. The chapter concludes by presenting several problems raised by this approach.

The second chapter by J. Fischer focuses on how understanding of the field affects the role of empirical research on morality for ethics. Fischer provides three arguments in favor of comprehending ethics as a rational justification of moral judgment, the first one rooted in the very essence of morality, the second on its authenticity and the third one on its being necessary to deal with moral conflict. Fischer also argues that empirically informed ethics “can deliver crucial insights into the type of reasons involved in moral reflection” (p. 39) and thus “be better suited in guiding us to the right moral thinking compared to an ethics that purely understands itself as the rational justification of morality” (p. 43).

The final chapter of Part I is by A. Naves de Brito (Chapter 3) and deals with moral behavior and moral sentiments. He starts with the hypothesis that “moral values can be understood and their authority explained on the basis of how humans are naturally disposed to behave in groups” (p. 45). He draws a distinction between universalism and egalitarianism in relation to a theory of value and explains the different problems each of these have in terms of naturalization. For universalism this relates to the search for the natural basis of normativity in morality, whereas in egalitarianism to the natural basis for considering equality as a moral value (p. 57). In his conclusion Naves de Brito puts forward that “universality and equality are to be defended in any tolerable human concept of morality, simply because they are constituent elements of human morality, and not fundamentally because it is rationally plausible to choose them” (p. 62).

Part II, entitled ‘Investigating origins of morality’, starts with a chapter by C. van Schaik and colleagues (Chapter 4). Van Schaik and colleagues’ chapter ‘Morality as a biological adaptation – An evolutionary model based on the lifestyle of human foragers’ offers a departure from the traditional way in which morality is seen as rooted in rational reflection. They present sympathy, concern with reputation, the wish to conform and the sense of fairness as the “major components of human moral psychology upon which our reflective morality is built” (p. 77). Furthermore they suggest that these moral emotions arise very early, which suggest an innate moral core.

The next chapter (Chapter 5) by S.F. Brosnan deals with the evidence for moral behaviors in non-human primates. She starts by discussing the evolution of moral behaviors, making clear that the scientific goal of understanding what moral behavior is and the ethicist’s goal of determining what ought to be are not the same. Brosnan describes that behavior that is shared between species due to common descent is known as homology, whereas behavior that may be shared among species due to common environmental pressures, constraints and opportunities is known as convergence. Social interventions, reciprocity, inequity and prosocial behavior are four behaviors put forward by Brosnan as behaviors that uphold social norms. In addition she puts moral emotions as a potential mechanism for moral behavior that is common between humans and other species.

This part ends with a chapter by J.J. Prinz (Chapter 6) entitled ‘Where do morals come from? A plea for a cultural approach’. Prinz argues that such an approach has implications for “how to think about the biological contributions to morality and the processes by which moral values are acquired” (p. 99). In the first part of his chapter he discusses what morality is, including the role of emotion and moral judgment and the content of morality. The second part of the chapter focuses on where moral values come from. Is morality innate or is it influenced by culture and history? Connected to this, Prinz argues that the scientific study of morality should include “fields that track sources of cultural variation” (p. 116). This chapter is a very nice addition to this part of the book as a call for even further expansion of the sources of empirical data used to inform ethics.

Part III of the book is entitled ‘Assessing the moral agent’ and starts with a chapter by C. Tanner and M. Christen on moral intelligence (Chapter 7). They start by defining what moral intelligence is—the agent’s capacity to process and manage moral problems—and then move on to present a model that provides the foundation for the moral intelligence framework, a framework for understanding moral competencies. According to Tanner and Christen, the moral intelligence framework includes: a reference system (moral compass), ability and willingness to prioritize (moral commitment), ability to recognize a moral issue (moral sensitivity), an ability to develop and determine a morally satisfactory course of action (moral problem solving) and the ability to build up moral behavior by acting consistently despite barriers (moral resoluteness) (p. 122).

Then they introduce the elements and moral competences that they deem as essential for moral agents, and conclude by presenting some ideas on how to improve moral intelligence.

The next chapter (Chapter 8) is on ‘Moral brains – possibilities and limits of the neuroscience of ethics’. K. Prehen and H.R. Heekeren start this chapter by providing a brief overview of traditional recent psychological models on moral judgment and behavior. Then they introduce the neuroscientific approach and the methods applied to the study of the ‘moral brain’, such as examination of brain damaged patients and neurostimulation. They move on to present major lines of research while at the same time offering a critical overview of these. They end by presenting their own empirical findings on the influence of individual differences in moral judgment competences based on neuroimaging studies (p. 138).

The last chapter of this part (Chapter 9) focuses on using experiments in ethics. Here S. Nichols, M. Timmons and T. Lopez start by introducing ethical conservatism. They move on to highlight the problem of moral luck and two different epistemic accounts of luck-blame judgments: the rational inference account and the epistemic bias account. Nichols and colleagues then discuss psychological research on moral luck, as well as luck in the context of control and negligence.

Part IV of Empirically Informed Ethics, entitled ‘Justification between rational reflection and intuitions’, starts with a chapter on intuitions in moral reasoning by G.J.M.W. van Thield and J.J.M van Delden. The authors discuss normative empirical reflective equilibrium as a model for substantial justification of moral claims. Van Thield and van Delden argue that this model differs from the traditional reflective equilibrium approach in two main respects: (i) moral intuitions of agents other than the thinker are included and (ii) empirical research is used to obtain information about these intuitions (p. 179). In this chapter van Thield and van Delden also discuss four types of coherence in moral justification: explanatory, deductive, deliberative and analogical coherence, as well as durability, transcendence and experienced perception as ways to assess the justificatory power of moral intuitions.

Chapter 11 by M. Musschenga touches on issues of moral expertise. In this chapter Musschenga argues that in order to strengthen the quality of reflective equilibrium the initial judgments should come from moral experts. According to the author, “a moral expert is someone who, by virtue of his knowledge, training, experience, and other skills […] is competent enough to make justifiable judgments on issues in his particular moral domain” (p. 200). In terms of the limits of moral expertise, Musschenga argues that “[f]or moral experts the ultimate source of moral beliefs and values that guide their judgment and decisions are not their own moral views, but the views of society at large which are embodied in the relevant documents and policies” (p. 207).

The final chapter of this part (Chapter 12) touches on issues of social variability in moral judgments. In this chapter E.H. Witte and T. Gollan introduce the prescriptive attribution concept by its formal analysis, report two extensions of the model, present empirical measurement of the justification and conclude by offering some empirical results on determinants of prescriptive attributions.

Part V, ‘Practicing ethics in the real world’, starts with a chapter (Chapter 13) by D. Narvaez and D. Lapsley on becoming a moral person. In particular they emphasize moral development and moral character as a result of social interactions.

In the next chapter (Chapter 14), M. Huppenbauer and C. Tanner write about ethical leadership with a focus on how to integrate empirical and ethical aspects for promoting moral decision-making in business practice. In doing so, the core of their argument is based on the idea that “empirical research without normative reflection is ‘blind’ […] similarly normative reflection is ‘empty’ without empirical insights” (p. 240). I find this chapter in particular to truly speak about the goals of the book.

The last chapter of this part (Chapter 15), ‘The empirical turn in bioethics’, by T. Krones, emphasizes the benefits of transdisciplinary work within bioethics, namely to “improve theory and practice of medicine and health care” (p. 256).

Part VI, ‘Critical Postcript’, ends with the chapter by A. Kauppinen entitled ‘Ethics and empirical psychology – Critical remarks to empirically informed ethics’. Kauppinen starts by presenting two main theses of empirical facts within armchair traditionalism and then presents how these theses are seen under what he calls ethical empiricism. In both the bold and modest claims of empirical empiricism what is key is that armchair traditionalism is rejected. Kauppinen then charts various ways in which empirical results might be or have been claimed to be important to metaethics and normative ethics, and closes the chapter by suggesting that “while armchair reflection will and ought to continue to be central to ethical inquiry, findings about what, why, and how we judge may stimulate and even challenge its results at several important junctures” (p. 305).

Overall the book is clear and covers a wide range of important aspects for those aiming to make the contributions of ethics more valuable and relevant for society. In particular, I enjoyed reading the opening chapter, the chapter by Prinz and the one by Huppenbauer and Tanner. This book deserves to be read by anyone interested in stepping out of their traditional norms and facts boundaries or by those who have never found the world of facts and norms as mutually exclusive realms, and particularly by anyone new to this field. For those already familiar with some (if not all) of the topics that the book covers, there is still some benefit to be gained from reading about some recent empirical investigations in areas in which they may not have such detailed knowledge or using different approaches from the ones they are familiar with.

Laura Yenisa Cabrera Trujillo – Assistant Professor of Neuroethics Michigan State University Center for Ethics & Humanities. USA. E-mail: [email protected]

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International Ethics: concepts/ theories/ and cases | Mark R. Amstutz

Mesmo tendo um papel ainda secundário nos debates de relações internacionais, o estudo sobre ética e moralidade nunca deixou de ter um lugar importante nesse campo do conhecimento. Desde as obras mais clássicas – em que se destacam os capítulos XV e XVI da obra seminal de Hans Morgenthau, Política entre as Nações – até a contemporaneidade com os estudos de Eric Patterson, há uma permanente preocupação em se discutir os limitantes morais e éticos do exercício do poder dentro do sistema internacional.

Diante desse contexto, a obra de Mark Amstutz renova sua análise acerca da temática com uma rica sistematização para os acadêmicos interessados em se aprofundar em torno dos conceitos e especificidades da ética internacional. Ainda que a primeira edição da obra tenha sido publicada em 1999, a quarta edição do autor traz contribuições inéditas ao propor uma discussão sobre temáticas contemporâneas recheadas de consistentes estudos de caso, tais como sobre as implicações do 11 de setembro, a invasão do Iraque e a proteção de civis no conflito líbio. Leia Mais

Em defesa da honra: moralidade/ modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940) | Sueann Caulfield

Os leitores que já conheciam os artigos de Sueann Caulfield editados no Brasil certamente aguardavam com ansiedade a publicação completa do seu estudo, elaborado originalmente como uma tese de doutorado na New York University. No livro Em defesa da honra: moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940), mais uma vez temos a expressão da sensibilidade da autora — que em antropologia poderíamos arriscar chamar de etnográfica — para tratar de temas como a honra e também de sua grande capacidade de articular inúmeras fontes e referências bibliográficas. Vale mencionar que o tipo de abordagem empreendido aproxima esse estudo de uma série de outros que nos últimos anos têm se caracterizado por privilegiar uma relação profícua entre história e antropologia. A natureza das questões propostas e a perspicácia na análise dos dados tornam a leitura do livro obrigatória não apenas para aqueles que se interessam pela história a partir da perspectiva das relações de gênero, mas para todos que querem compreender com mais profundidade o Brasil da primeira metade do século XX.

O estudo trata da honra sexual a partir do grande interesse que esse tema provocava na primeira metade do século XX no Brasil. Esse interesse aparecia expresso em diversos debates públicos e também, de uma forma mais particular, nas queixas que chegavam ao sistema jurídico-policial envolvendo vários tipos de delitos que contrariavam a moral sexual vigente. Para se ter uma idéia da magnitude do fenômeno, Caulfield revela que durante as décadas de 1920 e 1930, anualmente, cerca de quinhentas famílias procuravam a polícia da cidade do Rio de Janeiro para denunciar o defloramento de suas filhas e tentar algum tipo de reparação do mal. Os casos, sobretudo aqueles mais violentos, atraíam a atenção não apenas dos juristas, policiais, advogados, mas também da opinião pública em geral. E, se a importância da honra sexual parecia inquestionável, as concepções sobre o que ela de fato representava variavam bastante. Leia Mais