Historia de mujeres, Género y Feminismos: Mujeres haciendo historias desde el sur de Chile/Revista de Historia/2022

Gracias a los cambios epistemológicos del último cuarto del siglo XX se ha podido cuestionar la omnipresencia del sujeto universal y la causalidad racional, dando paso a la diversidad y la resignificación de las experiencias de mujeres y hombres. La mirada sesgada y que producía la invisibilidad analítica de las mujeres al interior de las ciencias sociales tienen como referente el androcentrismo que se comprende según la filósofa española Celia Amorós como una “mirada que se fija en lo masculino y desde lo masculino para observar la realidad. Este se relaciona no solo con el hecho que los investigadores o pensadores sean hombres, sino que además pone en evidencia que se trata de hombres y mujeres adiestrados en disciplinas que explican la realidad bajo modelos masculinos”1. Todo lo cual ha permeado el discurso histórico que por siglos ha considerado legítima la invisibilidad de las mujeres, y de esta manera reivindicar los saberes y protagonismos de la mitad de la humanidad. Leia Mais

História das mulheres e gênero em suas diversas abordagens | História em Revista | 2021

As pesquisas voltadas para os mais diversos âmbitos relacionados à História das mulheres e aos Estudos de Gênero têm se ampliado desde meados do século passado, e, no tempo presente, consolidam esses campos de estudos como importantes áreas de produções acadêmicas. Trabalhos realizados, tanto nas esferas da graduação quanto da pós-graduação, refletem a dinâmica das investigações realizadas e, significativamente, têm contribuído para o fortalecimento dessas temáticas sensíveis. Tendo em vista suas diversas abordagens, permeadas por diferentes fontes, bibliografias, discussões teóricas e metodológicas, essas pesquisas são capazes de conduzir estudiosas e estudiosos desses assuntos a uma gama de novos conhecimentos históricos e epistemológicos.

As autoras e os autores que colaboram com seus artigos para a composição do dossiê, abordam discussões a respeito de sexualidades, construções culturais, preconceitos, desigualdades de gênero, violências, entre outros elementos, de forma que, com seus diferentes diálogos, problematizam os temas, oferecendo reflexões atualizadas e enriquecedoras. Leia Mais

História das Mulheres, Gênero e Interseccionalidades / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2020

Concebemos esse dossiê em função da surpresa que tivemos com a imensa quantidade de textos que recebemos para a chamada “Ensino de História, História das Mulheres e Desigualdades Sociais”, publicada em setembro de 2020. Desse modo, selecionamos alguns trabalhos que não demonstravam alinhamento com todas as categorias da proposta inicial, mas ainda assim representavam enorme contribuição historiográfica. Esse conjunto de textos evidencia a diversidade de temas, abordagens e categorias que fazem parte dos campos da História das Mulheres e dos Estudos de Gênero.

São trabalhos que, em todas as suas diferenças, celebram na historiografia a pluralidade de narrativas, sujeitas e sujeitos, mostram aspectos das lutas feministas que se desvelam em cotidianos, trabalhos, escritas, rezas e partituras de piano, reunindo e inspirando forças motrizes para pesquisas futuras. Falamos de celebração enquanto afirmação, positivação realizada pela construção da compreensão de alteridades que extrapolam os espaços textuais e inundam discursividades e práticas cotidianas.

As leitoras e leitores encontrarão ainda neste dossiê outro traço de diversidade: ele consiste numa seleção de escritas de autoras e autores de diferentes regiões do país, os quais instigam reflexões sobre contextos históricos inscritos em temporalidades distintas. As condições de gênero em diálogo com as interseccionalidades de classe, etnia, idade, dentre tantas outras, investigadas nas pesquisas aqui apresentadas, narram resistências e feminismos que emergem na e da vida prática.

Estes textos representam o compromisso da organização desse dossiê com a diversidade da produção em História das Mulheres e Estudos de Gênero, com vistas à transformação social promovida pelo conhecimento histórico, produção essa formada por relações e posições políticas presentes na pesquisa, na escrita e no ensino da história.

Dividimos então, com imensa alegria e legítimo orgulho, o prazer dessas leituras, que evidenciam, pela pesquisa e escrita da história, lutas passadas, assim como batalhas travadas no tempo presente. Tempo que nos tem imposto desafios e adversidades, que tem nos lembrado o quão recentes são as conquistas e compreensões que questionam os determinismos de gênero, e, também por isso, são alvos de frequentes questionamentos e ataques. Deixamos, além do convite à leitura, o chamado à luta, esta que, como demonstra cada texto aqui presente, foi e é o caminho para a conquista e a consolidação de direitos que promovam a ampliação de uma cidadania plena.

Kênia Érica Gusmão Medeiros – Doutora em História pela Universidade Federal de Goiás – UFG (2019). Mestre em História pela Universidade de Brasília – UnB – (2011). Graduada em História pela Universidade Estadual de Goiás – UEG- (2008). Atualmente docente do quadro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

Gilmária Salviano Ramos – Doutorado em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015), com período sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris (2013). Mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2009). Graduação em História pela Universidade Federal de Campina Grande (2006). Professora Visitante do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa / MG.

Paula Faustino Sampaio – Graduada em Licenciatura em Historia pela Universidade Federal de Campina Grande (2006) e mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2009). Atualmente, é Professora Assistente II da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis e cursa doutorado em História pelo PPGH / Universidade Federal da Grande Dourados.


MEDEIROS, Kênia Érica Gusmão; RAMOS, Gilmária Salviano; SAMPAIO, Paula Faustino. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 14, n. 28, jul. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Ensino de história, história das mulheres e desigualdades sociais no Brasil / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2020

O dossiê Ensino de história, história das mulheres e desigualdades sociais no Brasil é um convite a um presente e um futuro feministas. A obra conta com um conjunto de ações concretas, propositivas e imediatas dos ensinos de história dentro do campo da história das mulheres e dos estudos de gênero. De norte a sul, de oeste a leste do Brasil, o dossiê em tela recebeu artigos que são atravessados pelas discussões acerca dos marcadores sociais de gênero, de classe e de raça. São contribuições dos fazeres da história que permeiam temas e problemáticas distintas. Além disso, abrangem uma diversidade de fontes documentais – legislações, livros didáticos, literatura, oficinas temáticas, literatura de cordel, história oral, fontes digitais e iconográficas, entre outras –, cotejando metodologias de pesquisa e dos ensinos de história. Trata-se de uma riqueza que amplia a perspectiva de gênero e não se encerra em si mesma, abre caminhos e condições de possibilidade para futuras reflexões, relacionando ensino, pesquisa e extensão – tripé caro aos institutos federais e às universidades–, bem como os desafios para a Educação Básica.

Dentro da perspectiva do engajamento militante e de mobilização política, o dossiê aborda vozes marginalizadas e invisibilizadas pela história, tais como a de Dandara dos Palmares e a representação de mulheres negras em dois livros didáticos do Ensino Fundamental. Vidas ressignificadas pela educação, pela história das mulheres e pela história pública mantêm o vínculo entre o feminismo e potencialidades de um ensino posicionado. Entre avanços e desafios, as ações do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) na formação inicial das professoras para o exercício da docência inauguram uma estratégia política por meio do acesso à educação formal, incluindo igualdade e senso de justiça social.

É precisamente por meio do ensino de história e do combate à violência de gênero no Brasil contemporâneo que se assume a responsabilidade de erradicar a violência sistêmica e estrutural. A esse respeito, as lutas políticas e sociais por meio da educação assumem papel fundamental. O dossiê é norteado por caminhos reflexivos por entender que é possível operacionalizar os feminismos partindo das margens do ensino de história, corroborando com as discussões que vêm sendo desencadeadas desde a década de 1980, pautadas pela ideia de que não somente as mulheres brancas, da classe média e de países do Norte Global produzem história.

Em se tratando do Brasil, presenciam-se feminismos plurais e transdisciplinares que emergem nos entre-lugares sociais e políticos que compõem o escopo deste dossiê. Outrossim, os feminismos mobilizados por meio dos artigos se mostram potencializadores de críticas às desigualdades sociais e às discriminações das diferenças. Nesse sentido, pensar as relações de gênero por meio de oficinas temáticas se propõe como uma perspectiva de discussão das práticas históricas e sociais alicerçadas no patriarcado e no racismo estrutural secular. Construindo caminhos, trilhando possibilidades de ensinar histórias no chão das escolas, professoras e estudantes enfrentam os silêncios que persistem na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio (BNCCEM), nos livros didáticos e em outros documentos normatizadores dos ensinos, defendendo uma pedagogia feminista voltada para um mundo justo com equidade de gênero.

Por fim, esse espaço de reflexão crítica é fruto da acolhida que a chamada do dossiê recebeu. Foram 92 artigos submetidos a avaliação que sinalizam a potencialidade dos debates relacionando ensino de história, história das mulheres e marcadores sociais; e, sobretudo, evidenciam o compromisso de professoras e estudantes no enfrentamento cotidiano da estrutura de violência de gênero. Como reconhecimento de sua latência, o dossiê foi agraciado pela entrevista inédita da historiadora e feminista Joana Maria Pedro, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A todas, dedicamos o nosso agradecimento pelo trabalho e pelas inspirações!

Kênia Érica Gusmão Medeiros – Doutora em História pela Universidade Federal de Goiás – UFG (2019). Mestre em História pela Universidade de Brasília – UnB – (2011). Graduada em História pela Universidade Estadual de Goiás – UEG- (2008). Atualmente docente do quadro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

Gilmária Salviano Ramos – Doutorado em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015), com período sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris (2013). Mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2009). Graduação em História pela Universidade Federal de Campina Grande (2006). Professora Visitante do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa / MG.

Paula Faustino Sampaio – Graduada em Licenciatura em Historia pela Universidade Federal de Campina Grande (2006) e mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2009). Atualmente, é Professora Assistente II da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis e cursa doutorado em História pelo PPGH / Universidade Federal da Grande Dourados.


MEDEIROS, Kênia Érica Gusmão; RAMOS, Gilmária Salviano; SAMPAIO, Paula Faustino. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 14, n. 27, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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História das Mulheres e Estudos de Gênero: novas questões e abordagens / Ars Historica / 2019

Obs.: Apresentação indisponível na publicação original.

[História das Mulheres e Estudos de Gênero: novas questões e abordagens]. Ars Historica, Rio de Janeiro, v.18, n.1, 2019. Acessar dossiê [DR]

História das mulheres e estudos de gênero: novas questões e abordagens | Ars Historica | 2019

Neste primeiro semestre de 2019, o Comitê Editorial da Ars Historica, revista discente do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ) vem apresentar, na sua 18ª edição, o Dossiê História das mulheres e estudos de gênero: novas questões e abordagens.

Em época de cortes e contingenciamento é preciso renovar o fôlego diariamente para conseguir dar continuidade aos trabalhos acadêmicos. Vive-se um momento de grande tensão política e um crescimento do conservadorismo, das estatísticas de violência contra as mulheres, de casos de homofobia, entre outras formas de violência física e simbólica. Fazer história social das mulheres ou história das categorias de gênero é, portanto, um exercício de engajamento diário. Leia Mais

História das mulheres e estudos de gênero: novas questões e abordagens | Ars Historica | 2019

Neste primeiro semestre de 2019, o Comitê Editorial da Ars Historica, revista discente do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ) vem apresentar, na sua 18ª edição, o Dossiê História das mulheres e estudos de gênero: novas questões e abordagens.

Em época de cortes e contingenciamento é preciso renovar o fôlego diariamente para conseguir dar continuidade aos trabalhos acadêmicos. Vive-se um momento de grande tensão política e um crescimento do conservadorismo, das estatísticas de violência contra as mulheres, de casos de homofobia, entre outras formas de violência física e simbólica. Fazer história social das mulheres ou história das categorias de gênero é, portanto, um exercício de engajamento diário. Leia Mais

História das mulheres e das relações de gênero / Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s) / 2018

É com enorme satisfação que anunciamos o décimo terceiro número da “Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s)”. Esse periódico é resultado da iniciativa e do trabalho conjunto de discentes da graduação em História e do Mestrado Acadêmico em História (MAHIS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), além de doutorandos / as egressos / as desta mesma instituição, que agora atuam em outros Programas de Pós-Graduação do país. O décimo terceiro número, volume 6, foi composto por 19 textos enviados para o Dossiê Temático História das Mulheres e das Relações de Gênero e mais 3 textos na secção Artigos livres, totalizando o número de 22 trabalhos inéditos nesta publicação.

Ratificamos aqui a satisfação em lançar um Dossiê que versa sobre as complexas relações de gênero e seu papel estruturante das relações sociais, e consequentemente dos processos históricos, em um contexto de esfacelamento da democracia brasileira, do crescimento do autoritarismo do Estado, das tentativas de implantação do famigerado projeto Escola Sem Partido, do ataque aos direitos humanos, da necessidade de autoexílio de congressistas e militantes dos Direitos Humanos, feministas, militantes LGBTI+, bem como da acentuada violência contra as mulheres, LGBTI+, povo negro, indígena e do campo. Leia Mais

A história das mulheres e suas fronteiras / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2018

As produções teóricas relativas à História das Mulheres e os estudos de gênero, encontra-se ligada ao movimento de renovação da própria história que, distanciando-se da história tradicional de cunho positivista que se impôs no século XIX, se voltava a preocupar por traçar um caminho interessado muito mais pelos coletivos que pelos individuais, pela evolução da sociedade que pelas instituições, pelos costumes que pelos acontecimentos, pelas coletividades excluídas do que pelos grandes personagens. As mulheres nunca estiveram ausentes da história, embora a historiografia oficial as tenha esquecido. No decorrer da história há uma relação entre gênero e poder que precisa ser estudada, revelada, reescrita, pois a história tradicional, moderna, colonial-patriarcal e universalizante criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e da sua dependência existencial do masculino.

A historiografia moderna, colonial e hetero-patriarcal transformou-se em relato que esqueceu as mulheres, como se, por serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, elas estivessem fora do tempo, fora do acontecimento. Mas elas não estão sozinhas neste silêncio-profundo. Elas estão acompanhadas de todos aqueles que foram marginalizados pela história como os negros, os índios, os velhos, os homossexuais, as crianças, etc. Portanto, escrever a história das mulheres é libertar a história. Libertar a história das amarras das metanarrativas modernas, colonial e falocêntricas presentes não apenas nos livros didáticos, mas nas práticas docentes de que ministra o currículo de história em sala de aula.

Se historicamente o feminino é entendido como subalterno e analisado fora da história, porque sua presença não é registrada, libertar a história é falar de homens e mulheres numa relação igualitária. Falar de mulheres não é somente relatar os fatos em que esteve presente, mas reconhecer o processo histórico de exclusão de sujeitos. Desconstruir a história da história feminina para reconstruí-la em bases mais reais e igualitárias, é um dos desafios permanentes hoje da história.

Pensar e refletir sobre a História das Mulheres e os estudos de gênero nos leva a inventar-se, descobrir-se, tornar-se. Deslizar-se por entre as possibilidades que este devir-mulher na história pode proporcionar, através de linhas flexíveis, invisíveis e maleáveis, buscar a desterritorialização; como um cigano que não possui moradia fixa, sua ânsia é conhecer lugares, pessoas, possibilidades, um nômade em constante movimento, que se desdenha não mais nas estradas ou trilhas, mas busca para si os lugares não trilhados na invenção de novos caminhos, de novas existências.

Tal existência está ligada a um processo de pura luta com as palavras, com as fontes, com os discursos, com os corpos, com o poder. É nessa luta à luz do dia com a palavra e com o não dito que tentamos construir a / as história / as das mulheres. Essa luta é uma empreitada difícil e perigosa, principalmente no Brasil atual, onde falar sobre a as questões de gênero tornou-se uma prática marginal, mal-dita, mal-vista. Ao escrever sobre a vida de mulheres brasileiras, não se escreve com palavras e, sim, com fluxos, devires, intensidades, silêncios e re-existencias.

Pensar a História das mulheres nos instiga a uma atitude crítica, de suspeita em relação aos instrumentos linguísticos e conceituais que utilizamos em nosso trabalho como historiadores(as). A ideia é que, dessa forma, sejamos visitantes do passado com um olhar mais sereno, menos violento, porém, mais críticos e menos proclives a reproduzir os sistemas ideológicos que sustentaram – e ainda continuam sustentando – as desigualdades de gênero, que violentam e dizimam milhares de mulheres no Brasil afora.

Esse dossiê que temos em mãos revela que história colonial, hetero-patriarcal e universalista necessita urgentemente de um trabalho arqueológico / genealógico para podermos entender seu poder normativo e enunciativo, para assim desconstruí-lo. A história das mulheres através de seus fluxos, devires e intensidades é marcada pela potência do ser e do fazer. Pensar o impensado é o maior desafio de quem quer fazer a história das mulheres. Como nos diz Gilles Deleuze, (2005) “viajar para a ilha deserta e, com seus signos malditos da escrita, roubar a paz dos idiotas que vivem na terra”.

Abraçar a história das mulheres e os estudos de gênero é mostrar os ecos de uma história silenciosa e em particular as formas em que elas são objeto de discriminação por sua própria condição humana como mulher. Ao falarmos sobre a História das Mulheres levamos nosso pensamento para fora das margens costumeiras da linguagem historiográfica, fora do espaço epistêmico da história patriarcal colonial, produzindo assim uma escrita lateral, intersticial, ex-cêntrica, que provoca o surgimento de texto, con-texto e sujeitos novos.

É nesse pensar nômade — um pensar associado ao movimento fugidio, que escorrega, desvia e desliza – que esse número da revista História em Reflexão nos convida, à vulnerabilidade de largar o corpo e o pensamento, de deixar o pensamento alargar-se, transpondo inúmeras fronteiras, para que se possa pensar e criar de modo diferente em relação à forma como se pensa a história.

Boa leitura.

Losandro Antonio Tedeschi – Doutor UFGD – BRASIL

Angeles Castãno Madronal – Doutora U. Sevilla – Espanha ORG.


TEDESCHI, Losandro Antonio; MADROÑAL, Ángeles Castaño. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 12, n. 23, jan. / jun., 2018. Acessar publicação original [DR]

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História das Mulheres / História, Histórias /2015

Apresentação

Em mãos das leitoras e dos leitores este dossiê –”História das Mulheres” –se constitui em uma resposta acadêmica, social e política contra as inúmeras formas de atualização dos discursos androcêntricos, que se regozijam no poder patriarcale que perpassam a vida, fora e dentro das universidades. Os artigos reunidos cuidadosamente para este dossiê buscam não somente dar visibilidade às práticas e aos processos de produção de sentidos que envolvem as relações de gênero e as identidades e experiências das mulheres no passado, mas também revelam propostas políticas transformadoras. Nesse sentido, eles produzem e difundem conhecimentos, orientados por perspectivas críticas, permitindo enfrentar e desconstruir as desigualdades, que produzem corpos, comportamentos, subjetividades, saberes e práticas sociais pautados na diferença entre homens e mulheres, entre os homens, entre as mulheres, e que excluem as inúmeras e –porque não dizer –infinitas possibilidades de vivenciar o corpo, a sexualidade, os desejos e os prazeres.

Abre este dossiê um artigo de minha autoria, intitulado “História das Mulheres e Estudos Feministas: um diálogo entre Rago, Rüsen e Mccullagh”, no qual se apresentam diálogos divergentes que refletem sobre a constituição do campo História das Mulheres e sua abordagem feminista à luz dos conceitos de “matriz disciplinar”, de Jorn Rüsen, e de “viés”, de Mccullagh. Pretende-se argumentar que, após a inclusão das mulheres na História, toda história de mulheres pode ser apreendida como um compromisso com o feminismo, pois as relações entre escrever uma história das mulheres e defender suas demandas não são conflitantes politicamente, mas assumem entrecruzamentos de vieses muito próximos.

Já o segundo artigo, de Simone Alves dos Santos (Centro Universitário Fundação Santo André), apresenta os resultados de uma investigação sobre práticas de assédio sexual contra mulheres em espaços públicos, cometidas no final dos anos 1970 até os dias atuais. Trata-se de uma investigação ancorada em uma abordagem feminista atenta às variáveis sociais, étnicas, políticas e de gênero.

O terceiroartigo, de autoria de Raquel Botelho (Secretaria de Educação do Distrito Federal), Benedito Santos (UCB) e Gabriel Rosa (Universidad del Salvador, Argentina), trata do discurso jurídico de responsabilização por crimes de violência contra mulheres e a efetividade da Lei nº. 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, em sentenças resultantes de julgamentos realizados entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012, em um juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Marcus Reis (UERJ), no quartoartigo, analisa fontes da primeira visitação do Santo Ofício à América Portuguesa (1591-1595), que revelam perseguições aos ritos de adivinhação praticados por mulheres. De acordo com o autor, a presença feminina tanto no interesse pelos ritos de adivinhação como nas supostas práticas, revela os primeiros indícios de uma tentativa das mulheres em procurar espaços de autonomia para além da normatização vigente.

Frank Mezzomo (UNESPAR), Ivania Skura (UNESPAR) e Cristiana Pátaro (UNESPAR), no quintoartigo, criticam os estereótipos femininos que desvalorizam as mulheres na mídia. Desse modo, analisam o papel da propaganda na construção e na desconstrução de estereótipos femininos em três propagandas de 1967, publicadas em uma mídia impressa norte-paranaense; em outras duas propagandas de 2014 e de 2015, publicadas em ambiente digital; e em dois anúncios atuais, de 2014, também veiculados online, por organizações que reconhecem e questionam papéis de gênero e que visam combater práticas sexistas.

Ronyere Ferreira (UFPI) e Teresinha Queiroz (UFPI), autores do sexto artigo, discutem a participação de literatos, como Jônatas Batista, no processo de alargamento das responsabilidades sociais das mulheres no início do século XX, em Teresina (Piauí). Tais fontes permitiram aos autores fazer emergir sentidos sobre o feminismo e suas demandas naquela cidade. Apesar de o feminismo não ter se constituído em um movimento organizado na cidade de Teresina, os autores argumentam que o feminismo, ali, teve adesão tanto de homens quanto de mulheres, possibilitando uma ampla reflexão sobre a vida das mulheres.

No sétimoartigo, Raimundo Expedito dos Santos Sousa (UFMG) e Adelaine Laguardia (UFSJ) analisam como oanticolonialismo irlandês pautou-se na maximização de fronteiras de gênero, com vistas a acentuar a hombridade dos homens gaélicos, em face de sua feminização. Nesse caso, o colonialismo legitimava-se pela atribuição de gênero ao liame entre Inglaterra e Irlanda, ao inscrever o império no registro masculino e a colônia no feminino. Mediante pesquisa em fontes primárias, os autores investigam as implicações dessa contra-estratégia na representação de mulheres subversivas que desafiavam uma matriz de gênero dual, em que a masculinidade se definia em relação oposta e complementar com a feminilidade.

Já o oitavoartigo, de autoria de Marcus Vinicius Neto Silva (UFMG) e Érica Silva Espírito Santo (UFMG) confere visibilidade e importância às primeiras mulheres psicanalistas, enfocando sua vida e obra.

Encerrando o dossiê, o artigode Paulo Brito do Prado (UFF) problematiza os silêncios impostos às mulheres que atuaram no cenário urbano da antiga Vila Boa (Cidade de Goiás), nos anos 1960. Por meio da história oral, o autor confere visibilidade às versões da história local produzidaspor essas mulheres que se tornaram guardiãs das tradições e das manifestações culturais nesta cidade.

Os artigos aqui reunidos revelam olhares precisos que analisam, criticam e desnaturalizam discursos fomentadores da subalternização feminina e das tecnologias de gênero heteronormativas e racializadas.Nestes trabalhos o gênero também é tomado como categoria de análise e como discurso construído historicamente que adquire novos contornos e novas operacionalidades frente à pluralidade de discursos e práticas que caracterizam o social. Não há como negar, portanto, esse estilo múltiplo, aberto, problematizador, ousado e desafiador, que configura a História das Mulheres, sinalizando para a condição relacional da pesquisa histórica, para a dimensão constantemente aberta dos processos de subjetivação e para a presença incontornável das relações de poder que atravessam as práticas e os saberes sociais.

Boas indagações!

Goiânia, outubro de 2015.

Prof. Dr. Thiago Fernando Sant’Anna eSilva (UFG)

ORGANIZADOR

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História das mulheres e relações de gênero / Fronteiras – Revista de História / 2011

As mulheres nunca estiveram ausentes da história, embora a historiografia oficial as tenha esquecido. Pesquisadoras(es) tem se debruçado sobre estudos da história das mulheres e suas lutas em todos os processos civilizatórios. Além disso, as mulheres têm garantido o seu lugar de cidadã na vida, no mundo e na própria história. No decorrer da história há uma relação entre gênero e poder que precisa ser estudada, revelada, reescrita, pois a história tradicional antropocêntrica e universalizante criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e da sua dependência existencial do masculino.

As produções teóricas relativas à História das Mulheres encontram-se ligada ao movimento de renovação da própria história que, distanciando-se da história tradicional de cunho positivista que se impôs no século XIX, se voltava a preocupar por traçar um caminho interessado muito mais pelos coletivos que pelos individuais, pela evolução da sociedade que pelas instituições, pelos costumes que pelos acontecimentos, pelas coletividades excluídas do que pelos grandes personagens1. Leia Mais