Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco – SANTOS (Tempo)

SANTOS Luís Cláudio Villafañe G luisclaudiovillafanegsantos wordpress com Barão do Rio Branco
Luís Cláudio Villafañe / luisclaudiovillafanegsantos.wordpress.com

SANTOS, Luís Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Resenha de: SOARES, Rodrigo Govena. Tempo, v.25 n.3 Niterói set./dez. 2019.

Não são poucas as anedotas que fizeram de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco (1845-1912), um personagem festejado de maneira praticamente unânime pela historiografia. Feito raro para um diplomata, a considerar que seus homólogos de maior prestígio – tais como Duarte da Ponte Ribeiro (1795-1878) e Paulino José Soares de Sousa (1807-1866), à época do Império; ou Oswaldo Aranha (1894-1960), San Tiago Dantas (1911-1964) e Azeredo da Silveira (1917-1990), na República – costumam figurar apenas tangencialmente na história dos grandes acontecimentos nacionais. Estudioso compulsivo da formação lindeira do Brasil, o barão do Rio Branco, pelo que conta a história, tinha nos mapas um pêndulo que ritmava sua vida política e biológica. Quando já velho e debilitado pelo consumo exagerado de tabaco e por uma alimentação tanto desequilibrada quanto irregular, era surpreendido por rotineiras visitas médicas, adormecendo nos volumes cartográficos que, pelo resto, consolidavam sua glória. “Ontem à noite, quis examinar mais de perto os pormenores de um mapa que desenrolei no chão e acabei por dormir em cima dele” (apud Lins, 1945, p. 622), teria dito o paciente, ainda despertando, a um médico cada vez mais preocupado.

No cotidiano das ruas, o barão teria gozado de igual prestígio. Não há capital brasileira que não carregue ao menos uma avenida, rua ou beco com o nome de Rio Branco. Quiçá de forma ainda mais expressiva, não houve presidente qualquer capaz de demover o povo brasileiro de sua principal celebração nacional, qual seja, o carnaval. Sequer nos difíceis anos de Arthur Bernardes (1922-1926), do Estado Novo (1937-1945) ou da ditadura escancarada (1968-1974) a proeza foi alcançada. Nisso Paranhos também teve êxito. Ou quase, porque, embora sua morte, em fevereiro de 1912, tenha levado o governo de Hermes da Fonseca (1910-1914) a postergar o reinado de Momo para meados do ano como manifestação de pesar nacional, a população não resistiu, e dois carnavais foram comemorados em um semestre apenas. De todas as formas, o quase feito terminou sendo um duplo feito.

A biografia de Paranhos escrita pelo diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe G. Santos apresenta um personagem diferente. Sem minimizar a importância do barão para a política externa brasileira, emerge das páginas de Villafañe um Rio Branco múltiplo, porque a um só tempo Juca, José Maria, Paranhos, Júnior e Barão. A enumeração de nomes ou apelidos não se presta apenas no sentido das fases biológicas do personagem, que o fizeram transitar de um Juca boêmio para um José Maria bacharel, a um Paranhos deputado e, em seguida, Júnior, porque agora diplomata, porém sob a silhueta de seu pai, o visconde do Rio Branco (1819-1880), para final e paradoxalmente ser um barão na República. Quando assumiu em 1902 a chancelaria, que ganhara havia pouco o nome de Itamaraty em referência ao palácio que passou a albergá-la, Rio Branco acumulava vasta experiência. Nesse sentido, a narrativa fundamentalmente cronológica de Villafañe, permeada por um ou outro flashforward cinematográfico, expressa, antes de mais nada, uma acumulação de práticas e saberes do biografado, não sem as respectivas contradições, hesitações e sombras do passado. A divisão da obra em três partes – “Juca Paranhos na sombra do pai (1845-1876)”, “A redenção do boêmio (1876-1902)” e “Um saquarema no Itamaraty (1902-1912)” – sugere esse acúmulo linear somente em aparência. Dá-se, então, um barão mais incoerente, vaidoso, obsessivo, ansioso e por vezes cabeça-dura do que aquele dos textos largamente mais hagiográficos de Álvaro Lins (1945) e de Luís Viana Filho (1959).

Afora a revisão sobre a personalidade do barão, as principais contribuições historiográficas – discutidas na terceira e última parte da obra – dizem respeito ao tempo do barão na chefia do Ministério das Relações Exteriores. Villafañe concede especial ênfase a três temas: a interdependência entre política interna e externa, o estabelecimento de uma – suposta – aliança não escrita com os Estados Unidos e a resolução pacífica das disputas lindeiras. São essas as discussões que nos interessam sobremaneira nesta resenha.

Em vez de insistir na oposição entre políticas interna e externa, Villafañe funde-as, vislumbrando a ação diplomática como política pública, cujos entrelaçamentos com os eventos domésticos a explicam, causam e condicionam. De entrada, portanto, há uma revisão pela forma e pelo conteúdo da historiografia diplomática, que, a maneira de textos clássicos, como o de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno (2008) ou do mais antigo Delgado de Carvalho (1959), tende a isolar o Itamaraty das tensões políticas internas. Nisso, Villafañe assemelha-se à posição de Rubens Ricupero, marginalmente na rápida biografia do barão que este também escreveu e substancialmente na recente obra sobre o lugar da diplomacia na formação nacional (Ricupero, 20002017). Assim, e para citar apenas alguns exemplos, o barão de Villafañe não conduziu um Itamaraty ausente dos traumas causados pela campanha civilista de Rui Barbosa (1909-1910) ou pela Revolta da Chibata (1910), e foi ativo, em uma chave mais propositiva do que reativa, em seu relacionamento com chefes partidários de magnitude nacional, como Pinheiro Machado.

Se não há negação ontológica entre políticas externa e interna, tampouco haveria, nas ponderações de Villafañe, um Itamaraty autônomo em relação ao governo. O espírito corporativo do ministério, malgrado sua irrefutabilidade, não o tornaria responsável somente perante suas idiossincrasias. Pelo contrário, e em especial na gestão Rodrigues Alves (1902-1906), o barão esteve longe de ter independência decisória na condução da política externa, inclusive no que se refere a assuntos burocráticos do ministério. Particularmente problemática foi a condução das negociações de limites com a Bolívia, que resultou na assinatura do Tratado de Petrópolis (1903). As concessões feitas pelo barão – nomeadamente, o pagamento de 2 milhões de libras, a construção da ferrovia Madeira-Mamoré e a cessão de pequena parcela territorial -, de forma a angariar a posse de um território também disputado, pelo menos em parte, pelo Peru, teriam sido excessivas no olhar de seus principais desafetos. O tratado, ao qual o barão vinculou, mais à frente, uma áurea de completa vitória, poderia ter ido a pique caso a negociação com o Peru não tivesse sido exitosa. As tratativas com Lima tardaram pouco mais de cinco anos e quase empurraram o Rio de Janeiro para uma guerra de resultados incertos. Como se não bastasse, o sucesso alcançado com o Peru deveu-se a fatores exógenos ao Brasil, visto que dependia do laudo arbitral da rival Argentina sobre a fronteira entre o Peru e a Bolívia. Não à toa, a trama que conduziu à assinatura e à ratificação do Tratado de Petrópolis contemplou desentendimentos entre os negociadores brasileiros, como também resistências da imprensa e do governo ao barão do Rio Branco.

Do ponto de vista teórico, e ampliando a discussão sobre a autonomia do Itamaraty na sucessão de governos que marcou a gestão barão e sobre o lugar da chancelaria no tipo de Estado que caracterizou o Brasil da Primeira República, Villafañe não identifica Rio Branco a uma mera expressão dos interesses econômicos dominantes à época, malgrado as irrefutáveis interdependências. Para reabilitar uma antiga discussão metodológico-política da década de 1960, o autor coaduna-se com a interpretação de Nicos Poulantzas (1968), segundo a qual o Estado detém autonomia relativa, agregando-se às contradições de uma restrita pluralidade de classes ou frações de classe economicamente preponderantes, e não forçosamente sucumbindo a uma classe apenas, homogênea e hegemônica. A distinção entre governo e Estado não poderia ser mais importante nesse diapasão. O Itamaraty, indissociável do governo, somente agiria dentro de constrangimentos estruturais impostos pelo tipo de Estado oligárquico constituído especialmente com a presidência de Campos Sales (1898-1902). No concreto, o barão não teria sido um chanceler a serviço de oligarquias cafeeiras perfeitamente coerentes, mas tampouco teria atuado contrariamente a elas. Rio Branco, dito de outra maneira, não tinha margem para opor-se a uma política externa do “café”, ou, ainda, ao americanismo característico da Primeira República, mas soube negociar com os atores domésticos – e internacionais, naturalmente -, de forma a alcançar o que era possível nos limites daquele momento.

Não por acaso, o americanismo do barão ganha nova interpretação com Villafañe. Não foi o posterior patrono da diplomacia brasileira o primeiro a entabular a virada americanista, que veio com a Proclamação da República. Na mesma lógica dos constrangimentos estruturais, o plano internacional da análise biográfica ganha expressão, e a opção americanista é percebida em uma via de mão de dupla, porém assimétrica. Dada a dependência do setor cafeeiro em relação ao mercado americano – que, de resto, explica pelo menos em grande parte a insistência dos republicanos, já em 1889, pela aproximação com Washington -, a potência então ainda emergente do Norte vislumbrava no Brasil um espaço hemisférico singular para aprofundar sua corrida industrial. Ao chegar à chancelaria, o barão não rompeu com um americanismo alegadamente ingênuo dos primeiros tempos republicanos, mas o aprofundou e o matizou nos limites das estruturas internas e externas. Não há, dessa forma, oposição entre o que haveria sido pejorativamente ideológico e, com o barão, positivamente pragmático, mas uma reinterpretação que enxergava em Washington, a um só tempo, um incontornável espaço comercial e uma garantia para a segurança nacional.

Na leitura de Villafañe, o barão dava compreensão hierárquica às relações hemisféricas, e quanto a isso a proximidade com os Estados Unidos não poderia senão beneficiar o Brasil em suas rivalidades regionais, especialmente com a Argentina. Particularmente importantes, na tônica de aproximação, teriam sido as Conferências Pan-americanas do Rio de Janeiro (1906) e de Buenos Aires (1910). Na primeira – não à toa realizada no Palácio Monroe, que se erguia para a ocasião -, o Itamaraty encarregou-se de assinalar aos vizinhos do Brasil uma hipotética e irremediável aliança com os Estados Unidos; na segunda, o barão sugeriu, sem concretizá-lo, um endosso continental à Doutrina Monroe, também como forma de assinalar postura amigável em relação a Washington em um tempo de intensificação, embora relativa, das relações dos Estados Unidos com a Argentina. Malgrado ajustes interpretativos possíveis, conforme se discutirá mais adiante, Villafañe analisa acertadamente os episódios em um quadro de relações não lineares entre Washington e Rio de Janeiro, permeadas por tensões e, sobretudo, pautadas por uma assimetria favorável aos Estados Unidos.

A suposta aliança não escrita com os Estados Unidos cai então rapidamente por terra. A ideia original era de Bradford Burns e foi desenvolvida em contexto histórico de franco interesse brasileiro por uma aproximação irrestrita com Washington (Burns, 1966). Burns, oriundo da Universidade de Califórnia, veio ao Brasil logo após o golpe civil-militar de 1964 e contou com decidido apoio das autoridades nacionais, chegando inclusive a ser condecorado com a Ordem de Rio Branco. A proposta interpretativa, que emoldurava as relações entre o Brasil e os Estados Unidos em um quadro róseo, não se dispôs a elucidar do ponto de vista teórico o sentido de uma aliança não escrita, constituindo-se, pois, em uma seleção de eventos históricos que legitimariam os laços atávicos entre os dois países. Villafañe refuta a interpretação, incluindo na análise momentos de rispidez entre o Brasil e os Estados Unidos tanto no plano bilateral – a exemplo das tensões alfandegárias – quanto no multilateral, à luz do cisma produzido na II Conferência de Paz da Haia (1907).

Integrando a sua análise, então, os momentos difíceis com os Estados Unidos, Villafañe entende que o pensamento diplomático do barão se constituía no tabuleiro complexo das relações internacionais do Brasil. Essa complexidade expressou-se, singular mas não unicamente, nas disputas lindeiras em que Rio Branco esteve envolvido – todas, praticamente, entre 1895 e 1909. Em outras palavras, e aportando documentos novos, como o tratado secreto de aliança militar com o Equador contra o Peru no caso antes referido, Villafañe interpreta as questões de fronteira, incorporando interesses cruzados de Estados direta ou indiretamente envolvidos nas disputas. Os exemplos do Amapá e do Pirara são emblemáticos nesse sentido. No primeiro caso, o litígio entre o Brasil e a França revelou-se bilateral apenas na medida da fronteira contestada e do laudo arbitral. Considerando as tensões sistêmicas próprias à era dos impérios (1870-1914), Villafañe sugere um barão atento às possibilidades de tirar proveito das rivalidades entre a França e a Inglaterra quanto às ambições territoriais desses Estados na América do Sul. O padrão interpretativo, que, em uma adaptação temporal, poderia significar, pelo menos parcialmente, a interdependência complexa de Robert Keohane e Joseph Nye (1977), vale também para o caso da Bolívia – conforme apresentado – e para o britânico; quanto ao último, teriam por demais pesado nos insucessos brasileiros na disputa pelo Pirara as pressões de Londres para que o rei da Itália, anglófilo de pulmão cheio por questões territoriais na África, fosse indicado o árbitro contra o Rio de Janeiro.

Metodologicamente rica e coerente – porque alia a nova história política às novas maneiras de biografar -, a obra de Villafañe tem tudo para demover aquela que, até agora, tinha sido a principal biografia do barão: a de Álvaro Lins. Não obstante, e da perspectiva de uma crítica interpretativa, alguns episódios poderiam estar mais aprofundados, inclusive para que o sentido geral das principais contribuições historiográficas ganhe expressividade. Penso particularmente, neste espaço restrito próprio às resenhas, em dois momentos e em uma caracterização. No que se refere ao primeiro momento, e na mesma trama dos interesses cruzados, há poucos comentários sobre o discurso de encerramento do barão na III Conferência Pan-Americana do Rio de Janeiro. Disse ele, ao concluir sua fala: “aos países da Europa, a que sempre nos ligaram e hão de ligar tantos laços morais e tantos interesses econômicos, só desejamos continuar a oferecer as mesmas garantias que lhes tem dado até hoje o nosso constante amor à ordem e ao progresso”.1 Em uma interpretação possível e, ao mesmo tempo, ancorada nos múltiplos tabuleiros do barão, a referência à Europa em plena conferência pan-americana poderia dar-se como sinal de contrapeso a ações imperialistas que também poderiam vir dos Estados Unidos.

O segundo momento que nos interessa, a modo de crítica, diz respeito à IV Conferência Pan-Americana de Buenos Aires. Na leitura de Villafañe, o endosso do barão à Doutrina Monroe teria origem em sua visão de mundo, segundo a qual “o poder de polícia dos Estados Unidos sobre os países instáveis do continente era não somente justificado como desejável” (Santos, 2018, p. 455). Em uma interpretação alternativa, que Villafañe descarta, a posição de Rio Branco seria uma tentativa de multilateralizar a Doutrina Monroe, de forma a ponderar, no continente, sua aplicação (Fonseca Jr., 2012). Parece-me difícil encontrar nos arquivos documento que ratifique a última interpretação; no entanto, julgo-a mais coerente com o pensamento diplomático do barão. Em outros termos, e reciprocamente ao discurso de encerramento na III Conferência, o americanismo do barão expressava-se, embora não exclusivamente, como mecanismo de compensação ao imperialismo europeu. Da mesma forma, a tentativa de construir um triângulo de paz na América do Sul – constituído pela Argentina, pelo Brasil e pelo Chile – também poderia ser vislumbrada como freio político ao vizinho do Norte. Ou, para usar a teoria das relações internacionais, como um instrumento de balancing.

Por último, refiro-me à caracterização de Rio Branco como um saquarema no Itamaraty. O termo saquarema, menos usual do que o contrário nas fontes primárias, serviu a Ilmar Rohloff de Mattos para designar não apenas o partido conservador, sobretudo nas décadas de 1840 e de 1850, mas também as dimensões sociais e culturais do tipo de Estado que esse mesmo partido havia constituído (Mattos, 1987). Filho de um conservador da segunda geração, o barão talvez tenha carregado, ainda que como contradição, o espírito saquarema que marcou sua formação intelectual. A doutrina do uti possidetis e a das fronteiras naturais, embora de origem colonial, serviram aos saquaremas do Império e ao barão também nos primórdios da República. No entanto, a segunda década republicana em pouco se pareceu ao tempo da direção saquarema (1848-1853), outra expressão de Mattos. O Brasil não tinha sequer a sombra da hegemonia que gozara no Prata; o principal eixo econômico do país havia-se deslocado para São Paulo; a mão de obra não era mais cativa; o Brasil agia multilateralmente, o que o Império abominava; e Washington tomava o posto de Londres. Certo é que o hipotético espírito saquarema do barão poderia emergir fora de seu tempo, mas tampouco é o que nos conta, no fundo, Villafañe. Pelo contrário, e acertadamente, Rio Branco figura em Villafañe como um homem de seu tempo, fazendo história nos limites estruturais do que era então possível.

Saquarema ou, quiçá, republicano malgré lui, o Rio Branco que emerge de Villafañe é, antes de mais nada, um convite aberto ao estudo da história da política externa brasileira. E isso em âmbito universitário, com o qual o autor dialoga, ou para o grande público, constante preocupação no texto agradável, bem-construído, imagético e articulado de Luís Cláudio Villafañe G. Santos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURNS, Bradford. The unwritten alliance: Rio Branco and Brazilian-American relations. Nova York: Columbia University Press, 1966. [ Links ]

CARVALHO, Delgado de. História diplomática do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959. [ Links ]

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. Brasília: Universidade de Brasília, 2008. [ Links ]

FONSECA-JR, Gelson. Rio Branco diante do monroísmo e do pan-americanismo: anotações. In: PEREIRA, Manoel Gomes(Org.). Barão do Rio Branco: 100 anos de memória. Brasília: Funag, 2012. [ Links ]

KEOHANE, Robert; NYE, Joseph S. Power and interdependence: world politics in transition. Boston: Little/Brown, 1977. [ Links ]

LINS, Álvaro. Rio Branco. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1945. [ Links ]

MATTOS, Ilmar Rohloff. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987. [ Links ]

POULANTZAS, Nicos. Pouvoir politique et classes sociales de l’État capitaliste. Paris: François Maspero, 1968. [ Links ]

RICUPERO, Rubens. Barón de Rio Branco. Buenos Aires: Nueva Mayoría, 2000. [ Links ]

RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2017. [ Links ]

VIANA FILHO, Luís. A vida do barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959. [ Links ]

1 Revista Kosmos, ano III, n. 8, ago. 1906.

O autor agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo no 2017/12748-0.

 

Rodrigo Goyena Soares

Tempo, v.25 n.3 Niterói set./dez. 2019

This Vast Southern Empire: Slaveholders at the Helm of American Foreign Policy – KARP (PR-RDCDH)

KARP, M. .This Vast Southern Empire: Slaveholders at the Helm of American Foreign Policy. Cambridge: Harvard University Press, 2016. 360p. Resenha de: CAPRICE, K. Panta Rei. Revista Digital de Ciencia y Didáctica de la Historia, Murcia, p. 187-188, 2018.

In This Vast Southern Empire, Matthew Karp steps back from the previous historiography of the slaveholding antebellum South, a historiography that situates slaveholders as antiquated and inward looking, and, instead, Karp sees a slaveholding Southern elite looking outward in an attempt to enshrine their vision of modernity: a world economy run on slave labor. Karp bookends his study with the 1833 British emancipation of the West Indies, seen by Southerners as a global threat to the proliferation of slavery, and the creation and ultimate failure of the Confederate States of America, which Karp deems the “boldest foreign policy project of all” (p. 2). In this fresh take, Karp argues that, from 1833 to 1861, Southern elites eagerly utilized Federal power to secure the safety of slavery, not just in the United States, but throughout the Western Hemisphere.

By looking globally, Karp provides new and broader understandings to events previously seen as having only insular motivations. American interest in Cuba was less about the expansion of American slavery, Karp argues, and more about blocking the expansion of British anti-slavery, what Karp brilliantly terms as the “nineteenth-century domino theory” (p. 70). In a similar vein, Karp shows that Polk’s decision to push for war with Mexico, while pursuing peace with Great Britain over the Oregon question, was at least partially due to the fact that war with Mexico would not put the institution of slavery at risk. Insights from Karp’s global perspective do not end with the antebellum period, but extend into the policies of the Confederate government. As Karp explains, the immediate Confederate abandonment of the states’ rights platform was presaged by the Southern embrace of Federal power during their antebellum reign over American foreign policy. Through his argument, Karp provides yet another nail in the coffin which so securely holds the myth that the Civil War was fought for states’ rights rather than slavery.

In the epilogue, Karp closes by considering the imperialism of the 1890s as merely a continuation of the Southern elite’s original vision. Karp’s assessment, one deserving of far greater treatment, provides a steady timeline of white supremacy, framed originally as pro-slavery, and its position as the driver of American foreign policy. Previous views of the antebellum South as outmoded and inflexible, Karp makes astoundingly clear, dangerously underestimate a sectionalist dream of modernity with global reach. Along with a new understanding of the South, Karp also reframes the antebellum period, providing a transtemporal reassessment of the period typically considered “the coming of the Civil War.” Karp reimagines the early nineteenth century South as a growing slave empire from 1833 onward, an empire which required Republican success in politics and Union victory in war to overthrow, an assessment that is as imaginative as it is successful.

In the field of Civil War studies, which can at times view national borders as opaque and impassable, Karp’s work may be seen as so concerned with looking outward that it obscures the internal, but such criticism would be short sighted. Karp is adding to a historiography which is more than adequately saturated with examinations of the domestic struggles that eventually brought about war. David M. Potter’s 1977 The Impending Crisis, for example, is widely considered a masterwork on the coming of the Civil War, and it was certainly not the first or last published on the subject. Karp’s voice is a welcome addition, and his arguments should help convince many in the field to look beyond the black box in which we occasionally place ourselves while studying the Civil War.

Kevin Caprice – Purdue University.

Acessar publicação original

[IF]

Um novo olhar sobre o país vizinho. A cooperação cultural como crítica ao paradigma da rivalidade no contexto das relações Brasil-Argentina (1930-1954) | Raquel Paz dos Santos

O trabalho da historiadora Raquel Paz dos Santos traz contribuições aos que se dedicam a pensar um tema sempre atual: as relações entre Brasil e Argentina. Fruto de uma tese de doutorado defendida em 2008 na Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro tem como recorte temporal os anos de 1930 a 1954. A pesquisadora lança luz especialmente sobre as iniciativas de colaboração cultural entre os dois países nesse período. Como alertado por ela, esse objeto foi, em comparação às relações políticas, econômicas e militares, um tanto quanto negligenciado pelos pesquisadores das Ciências Humanas.

Após a Primeira Guerra Mundial, houve, de modo geral, intensificação dos gastos dos Estados nacionais com ações de política externa que redundassem em aproximação cultural com outros povos. Para além dos objetivos econômicos, interessava a divulgação de uma imagem positiva dos países junto à opinião pública de outras nações, de modo a fortalecer laços, especialmente com os meios intelectuais e quadros dirigentes (2012, p. 41). Como demonstrado pela autora, essa preocupação desenvolveu-se no Brasil e na Argentina sobretudo a partir da década de 1930, quando se estruturaram oficialmente os setores culturais dos serviços diplomáticos dos respectivos países. Leia Mais

Relaciones tumultuosas: Estados Unidos y el primer peronismo – RAPPORT; SPIGEL (RBPI)

RAPOPORT, Mario & SPIGUEL, Claudio. Relaciones tumultuosas: Estados Unidos y el primer peronismo. Buenos Aires: Emecé, 2009, 522 p. Resenha de: BUCHRUCKER, Cristian. Revista Brasileira de Política Internacional. v.53 no.1 Brasília Jan./July 2010.

Estamos en presencia de una muy importante contribución a la historiografía argentina, en una temática que siempre suscita renovadas preguntas y debates. A lo largo de una introducción, 16 capítulos y una conclusión se analiza una época decisiva, no sólo de la historia nacional, sino también del devenir de la historia internacional. Dos apéndices, uno estadístico y el otro documental cierran el libro, ofreciéndole al lector valiosos elementos adicionales para su propia evaluación crítica. Los ocho primeros capítulos están dedicados a los antecedentes inmediatos de la década del primer peronismo. Se establecen allí las grandes líneas de las relaciones argentino-norteamericanas a partir de 1933, conectándolas siempre con el más antiguo vínculo británico y el entonces tan polémico tema de la Alemania nazi. El legendario choque entre el embajador Spruille Braden y Juan Perón (1945-46) se ubica justamente en la sutura entre dos épocas, yuxtaponiendo buena parte de los mitos y realidades de la Segunda Guerra Mundial al inicio de las tensiones mundiales que se convertirán en la Guerra Fría.

Los ocho capítulos siguientes desarrollan los altibajos de la primera y segunda presidencia de Perón, conservando la dinámica expositiva de la parte anterior, en la que las figuras relevantes siempre se muestran interactuando con restricciones y oportunidades cambiantes que surgen del entorno regional e internacional. Desfilan así la normalización de las relaciones (1946-47), las conferencias interamericanas y el Plan Marshall, la proclamación de la “Tercera Posición”, la crisis de 1949, el inicio de un viraje (1950), el retorno de los conflictos (1951-52), la nueva política peronista (1952-53) y las renovadas tensiones de 1953-54, hasta culminar con la caída del gobierno en 1955. El aparato erudito que fundamenta todo esto es extenso y sólido: los autores han consultado las fuentes documentales relevantes de Argentina, Estados Unidos, Gran Bretaña y las Naciones Unidas en 38 archivos y colecciones, más de 300 libros y capítulos de libros, 46 artículos de publicaciones periódicas e internet, así como 25 diarios y periódicos argentinos, 10 norteamericanos, 6 británicos y 7 de otros países americanos y europeos.

A pesar de estar firmemente anclada en los documentos, cosa que siempre debe ser elogiada, esta no es simplemente una tradicional historiografía narrativa-lineal, sino un estudio consciente de la necesidad de hacer explícitos sus supuestos teóricos. En ese sentido resulta especialmente significativo el siguiente pasaje:

“Los enfoques teóricos que han descuidado el análisis profundo de la vinculación entre los procesos económicos, políticos y estratégicos niegan la existencia de la contradicción en tanto concepto central de las ciencias sociales y asumen esa ‘incoherencia’ como muestra de una posible irracionalidad institucional. En resumen, suplantan el análisis complejo de la realidad en el proceso de toma de decisiones en materia de las políticas exteriores […] por la interpretación psicológica de los individuos o de las instituciones y/o por la competencia burocrática resultante. Pierden así de vista la verdadera índole de los factores que pujan entre las bambalinas del poder, o de esos pocos que lo ostentan, como titula su libro de memorias uno de los más perspicaces diplomáticos británicos de la época, Sir David Kelly, quien desde la embajada en Buenos Aires seguía paso a paso la conducta de estos actores.” (p.62)

Rapoport y Spiguel logran desplegar una época no sólo relatando, sino tambien analizando y explicando toda su complejidad, mostrando los nexos entre política interior y exterior, el peso de la economía y el claroscuro de las ideas. Todo eso da origen a un oscilante campo de fuerzas condicionantes, que permite más de una opción, pero que también implica costos para cualquier camino que se tome y siempre reserva una gran cuota de incertidumbre a la hora de prever resultados. Este enfoque supera claramente las deficiencias de numerosos ensayos sobre el siglo XX argentino hasta fines de la década de 1990, difundieron el cómodo estereotipo del “actor racional” operando en “los mercados” según una única doctrina económica válida o conduciendo un país como estadista iluminado que tiene recetas preparadas de antemano para todas las contingencias. Ya el título de esta obra permite advertir que no vamos a encontrar tales simplificaciones. Más fieles al mundo real, los autores nos introducen en “relaciones tumultuosas” y heterodoxias, dejando la linealidad y las ortodoxias (del tipo del “librecambio” universalmente bienhechor) relegadas a las páginas de ciertos manuales.

Sobre este trasfondo se hacen más inteligibles ciertas continuidades históricas, no sólo en lo referente a las estructuras, sino incluso en la actuación de determinadas figuras, como fue el caso de Braden, que ya en los años 30 había chocado con la diplomacia argentina, esa vez en la persona del canciller Carlos Saavedra Lamas. Paso a paso, vinculando magistralmente las fuentes con el análisis crítico, los autores logran una reconstrucción histórica que no deja mitos en pie. Creo que en esta reseña resulta especialmente interesante referirse a tres de esos lugares comunes de vida excesivamente larga.

En primer lugar: la pretensión del sedicente “realismo” de entender la política internacional como la interacción entre Estados que se conciben como bloques homogéneos. Lo que este libro muestra claramente es que en cada encrucijada deben ser estudiados cuidadosamente los diferentes sectores internos (coaliciones de políticos y diplomáticos, militares y grupos empresarios) y las recurrentes tensiones entre “duros” y “blandos”, entre rupturistas y negociadores. Y esto vale tanto para Buenos Aires como para Washington.

En segundo lugar, la vieja tesis del supuesto carácter “nazi” del golpe militar del 4 de junio de 1943. Conectando su propia investigación con los resultados sólidos alcanzados por la historiografía a nivel internacional, los autores llegan a la conclusión de que el tópico de la “amenaza nazi” fue “la modalidad principal que adoptó la legitimación de la acción política de los Estados Unidos en el conflicto con la Argentina, buscando el logro de sus objetivos y la expansión de su influencia, en la que trató de doblegar a su voluntad a sucesivos regímenes argentinos: Castillo, la junta militar de 1943, Perón”. (p.83)

Por último, la supuesta falta de adecuación de una Argentina excesivamente arrogante al escenario internacional de los años cuarenta y cincuenta. Variaciones de esta tesis se encuentran en una parte no despreciable de la lo que se viene publicando desde hace décadas, a menudo con el agregado conjetural de que una política argentina más “adecuada” y humilde hubiese dado como resultado vaya a saber qué maravillosos beneficios para los argentinos. Sin embargo, ni la historia comparada con otros países en situaciones aproximadamente similares, ni el estudio detallado de las relaciones argentino-norteamericanas han logrado producir muchas pruebas que avalen esas apreciaciones. En ese sentido, las conclusiones a que llegan Rapoport y Spiguel después de su paciente indagación resultan un verdadero ejemplo de rigor analítico y apego a la evidencia documental. En el “desafío nacionalista” de la política exterior peronista no fueron lo fundamental ni el “estilo de gobierno”, ni “un liderazgo circunstancial”, ni una “inadecuación”. En realidad, tanto el oficialismo como “buena parte de la oposición” consideraban que “el carácter periférico y dependiente del país respecto de las grandes potencias” no era una “condición natural”, sino un obstáculo que debía ser superado. En el desarrollo concreto de la política exterior, esta percepción básica (que no parece haber estado muy alejada de la realidad) no pudo manifestarse en una sola línea, sino que tuvo cambios de instrumentación, dado el “el contexto de una determinada correlación de fuerzas a nivel nacional e internacional.” En el diseño de esos cambios “la gama de opciones” disponibles estaba determinada también por el “sustento social y objetivos del proyecto gubernamental.” Habiéndose dado esas condiciones, no resulta sorprendente que quedasen descartadas, “tanto una ruptura radical del tipo de vinculación externa que había caracterizado a la Argentina, como una ‘asociación estable’ que supusiera la subordinación periférica a una gran potencia.” (p.447)

Como siempre que se escribe historia, nadie puede pretender que se ha dicho alguna vez “la última palabra”. Pero de este libro cabe decir que sus excepcionales características lo convierten en referencia obligatoria para todos los que pretendan informarse seriamente y entender en profundidad no sólo las relaciones entre Estados Unidos y el primer peronismo, sino también sus proyecciones hasta nuestro tiempo.

Cristian Buchrucker – Professor de la Universidad Nacional de Cuyo (Argentina) y investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – Conicet ( [email protected]).

 

Major Problems in American Foreign Relations | Thomas Paterson e Dennis Merril

A obra integra uma coleção original editada sob a direção do historiador Paterson, da Universidade de Connecticut, “Major Problems in American History Series”, que já publicou mais de duas dezenas de títulos de história política, social, regional ou sobre períodos determinados da história dos Estados Unidos. Em todos esses “major problems”, o modelo básico é o mesmo: uma seção de “fontes primárias”, seguida de análises por historiadores reputados nos diversos campos ou períodos em causa. No caso desta obra sobre as relações exteriores, houve um progresso conceitual em relação às três primeiras edições, cujos títulos remetiam tão simplesmente à American Foreign Policy, noção agora ampliada para a abordagem do conjunto das interações (econômicas, políticas, militares, culturais) entre sociedades, organizações e Estados envolvidos em quase três séculos de história daquele país. O primeiro dos dois alentados volumes trata das relações da nação americana com o mundo desde o período colonial (o primeiro documento é de 1630) até o final da Primeira Guerra Mundial e o segundo – cujo primeiro capítulo de documentos históricos é exatamente o mesmo que conclui o primeiro livro – examina o período subsequente, até o final da Guerra Fria (o último documento é um artigo de Brzezinski na Foreign Affairs, do outono de 1992). Leia Mais