Peripheral nerve: health and medicine in Cold War Latin America | Anne-Emanuelle Birn e Raúl Necochea López

Anne Emanuelle Birn Imagem University of Toronto
Anne-Emanuelle Birn | Imagem: University of Toronto

Scholars of Latin America are familiar with the narrative of the Cold War in the region. The stories we tell about the second half of the twentieth century often rely on narrative scaffolding provided by the Cold War; after all, the global influence of the ideological, political, economic, and military battles between the United States and Soviet Union permeated all aspects of people’s lives to various degrees. In these stories, the Latin American Third World is presented as influenced, persuaded, and pressured by the two global superpowers while politicians and policymakers made decisions about the path nations would take towards development and globalization (see, e.g., Smith, 2007). In Peripheral nerve: health and medicine in Cold War Latin America , Anne-Emanuelle Birn and Raúl Necochea López present a different way to look at the Cold War era in Latin America, with a more nuanced view of how different people in different places experienced, reacted to, and acted during the Cold War. This is not an alternative approach meant to decenter the Cold War: on the contrary, the authors and editors illustrate the complexity of the Cold War on the ground, on the so-called peripheries of development. This book demonstrates that people in Latin America had the “nerve” to face international pressures and make choices that, while under the veil of the Cold War dichotomy, had more to do with the individual local realities than the larger battle between First and Second Worlds. To learn how Latin Americans dealt with the Cold War on a local and international level this book is essential. Leia Mais

América y la Guerra Fría Transnacional | Patricio Herrera

Esta obra recoge un interesante conjunto de trabajos presentados al seminario internacional “América en la Guerra Fría. Perspectivas sociales y políticas desde la investigación (1945-1973)” celebrado en septiembre de 2017 en la Universidad de Valparaíso, que convocó a especialistas que abordaron aristas de este período, fundamentalmente a través de la perspectiva regional del conflicto mediante el análisis de diversos sujetos en distintos ámbitos de influencia. Se trata de historias conectadas en perspectiva dialógica entre lo nacional y lo global, presentadas mediante una sugerente articulación temática que contribuye a entregar a los lectores una vista panorámica profunda y amplia a la vez. Leia Mais

Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos | Leonardo Augusto de Carvalho

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Intitulada Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos, a obra é resultado de um curso de especialização em Saberes e Práticas na Educação Básica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CESBEP/UFRJ), em 2018, na qual são condensados questionamentos que emergiram das experiências de Leonardo de Carvalho Augusto, a partir de seu trabalho na educação básica como professor de História e as reflexões alcançadas a partir da pós-graduação. Dessa forma, pode conciliar questões do mundo contemporâneo com indagações próprias ao ensino de História.

Guerra Fria Conceitos elementaresO livro tem como objeto a escrita didática em torno de um tema: a Guerra Fria. Influenciado pela teoria da história alemã atrelada à história dos conceitos de Reinhart Koselleck e da Didática da História de Jörn Rüsen, Carvalho Augusto investigou como os conceitos que dão realidade à Guerra Fria foram mobilizados e em que medida contribuíram para a constituição de um sentido a partir da narrativa dos livros didáticos. Leia Mais

International Recognition. A Historical and Political Perspective | Warren Pezé, Daniel R. Rojas

Mao Tsé-Tung e Henry Kissinger se cumprimentando sorridentes ilustram a capa do interessante e provocativo livro International recognition: a historical and political perspective, organizado por Warren Pezé e Daniel R. Rojas. A histórica fotografia registrou o momento em que o governo dos EUA, em plena Guerra Fria, reconheceu o governo comunista da China e estabeleceu relações diplomáticas. Esta escolha editorial sistematiza as principais questões levantadas pela obra: como se dão os esforços de um novo país, ou de um novo regime, para se inserir no sistema internacional? Como se dá o processo de reconhecimento pelos outros atores internacionais? Sob quais condições? Como este processo se alterou ao longo do tempo? Quais características de longa duração podem ser observadas? Leia Mais

Navigating Socialist Encounters: Moorings and (Dis)Entanglements between Africa and East Germany during the Cold War | Eric Burton, Anne Dietrich, Immanuel R. Harisch, Marcia C. Schenck

A consolidação da História Global como um campo historiográfico, que ganhou força a partir dos anos 2000, esteve relacionada a intensos debates sobre ausências e silêncios que o campo parecia perpetuar. Atualmente, é consensual nos estudos africanos que uma escrita da história tendo como base a perspectiva da “virada global” não deu a devida atenção para o lugar que a África ocupou – e ocupa – nas dinâmicas de interconexões e interrelações mundiais que buscavam ser evidenciadas. A esse propósito, como recorda o historiador Andreas Eckert, desde a década de 1950 o senegalês Cheikh Anta Diop, um dos intelectuais africanos mais conhecido e pioneiro na promoção de uma história da África fora de balizas europeias coloniais, tinha como uma de suas principais prerrogativas “reconfigurar o lugar da África no Mundo”.1 Leia Mais

Madness in Cold War America | Alexander Dunst

Alexander Dunst
Alexander Dunst | Foto: Netherlands American Studies Association

Madness in Cold WarAlexander Dunst é professor assistente de Estudos Americanos na Uni­versidade de Paderborn, na Alemanha, atuando no Departamento de Inglês da referida instituição. Intitula-se “historiador cultural da América do século XX” com foco de pesquisa sobre o período da Guerra Fria, utilizando como fontes os discursos e as narrativas culturais presentes na literatura e cine­ma. Em 2010, Alexander Dunst concluiu seu doutorado em Teoria Crítica na Universidade de Nottingham, com a tese intitulada Politics of madness: Crisis as Psychosis in the United States 1950 – 2010, publicada em 2017, por meio da editora Routledge, com o título Madness in Cold War America. Essa obra, composta por 6 capítulos e 173 páginas, está resenhada no presente texto com criticidade a partir da minha leitura. Leia Mais

Direitas nos Estados Unidos e Brasil durante a Guerra Fria | Revista de História | 2021

Guerra Fria resumo desenhado
Guerra Fria – Resumo desenhado | Foto: HISTORIAR-TE

Nas últimas décadas, um fenômeno político tem chamado a atenção de especialistas e estudiosos em geral: o crescimento e as reformulações no campo da direita em países do Ocidente. Recentemente, surpreendeu a mui­tos o fato de a extrema direita, antes marginalizada, alcançar cena pública ressentida e decididamente, num movimento que soube ganhar adeptos, especialmente pela internet e que consagra líderes ao largo do universo po­lítico, cujas ações desacreditam o próprio sistema que os elegeu.

Esse dossiê procura colaborar com o tema, enfatizando as direitas no plural, já que o fenômeno é suficientemente complexo para ser tratado como substantivo singular. Versa sobre as direitas no correr da Guerra Fria. Expõe as renovações sofridas no campo, para recuperar terreno, na época do welfare, oferecendo elementos para pensarmos as direitas no século XXI. O dossiê aborda o tema nos Estados Unidos e Brasil, países que viram presidentes vinculados à extrema direita serem eleitos e manterem expressivo apoio, apesar das vicissitudes e medidas polêmicas: Donald Trump (2017-2021) e Jair Messias Bolsonaro (2019- ). Leia Mais

Nuestro viaje a la Luna: la idea de la transformación de la naturaleza en Cuba durante la Guerra Fria | Reinaldo Funes Monzote (R)

Filosofia e Historia da Biologia 7
Reinaldo Funes Monzote | Foto: YU |

SCOTT The common wind 10Os processos de transformação da natureza no século XX, sobretudo relacionado à revolução agrícola nesse período, continuam a instigar pesquisadores em diferentes disciplinas, e vêm ganhando destaque no campo da história da ciência, ou mesmo da história da agricultura. Ultimamente, a história ambiental tem procurado analisar essas transformações, sublinhando o papel governamental, de instituições, pesquisadores, políticos e ativistas. A própria natureza aparece como agente histórico em muitas dessas análises. Donald Worster (2020), mais recentemente, tem analisado a transformação da natureza como o avanço científico sobre o mundo pós-fronteira, que envolve tanto o desenvolvimento como as críticas à nova revolução na agricultura.

O tema da transformação da natureza é ainda urgente, pertinente e cheio de possibilidades. E o texto de Monzonte (2019) reforça essa assertiva, na medida em que se apropria das análises da geotransformação na construção do seu argumento, um desafio compartilhado com outros historiadores e cientistas sociais no estudo das transformações de paisagens e ecossistemas negligenciados e ameaçados, como o Cerrado brasileiro, por exemplo (Dutra e Silva, 2020). Apesar de os estudos agronômicos destacarem os avanços científicos na produção de grãos e commodities, essa realidade aponta para uma crise ambiental sem precedentes. Nesse sentido, a obra cumpre o importante papel de procurar evidenciar a instabilidade entre a busca pelo desenvolvimento econômico e a conservação dos recursos naturais. A despeito dos enredos político e geográfico de Cuba, o contexto da transformação da natureza não é visto apenas do ponto de vista regional, mas dialoga com contextos históricos globais, sem negar o valor histórico dos enredos regionais, detalhadamente apresentado por meio de ricas fontes documentais. E isso é muito bem orquestrado por Monzote, que transita confortavelmente na descrição da política local com as teorias do desenvolvimento na América Latina e os modelos de planificação do bloco socialista. Leia Mais

Madness in Cold War America | Alexaner Dunst

Alexander Dunst é professor assistente de Estudos Americanos na Universidade de Paderborn, na Alemanha, atuando no Departamento de Inglês da referida instituição. Intitula-se “historiador cultural da América do século XX” com foco de pesquisa sobre o período da Guerra Fria, utilizando como fontes os discursos e as narrativas culturais presentes na literatura e cinema. Em 2010, Alexander Dunst concluiu seu doutorado em Teoria Crítica na Universidade de Nottingham, com a tese intitulada Politics of madness: Crisis as Psychosis in the United States 1950 – 2010, publicada em 2017, por meio da editora Routledge, com o título Madness in Cold War America. Essa obra, composta por 6 capítulos e 173 páginas, está resenhada no presente texto com criticidade a partir da minha leitura. Leia Mais

Latin America and the Global Cold War. The New Cold War history

Latin America and the Global Cold War foi publicado na coleção The new cold war history, dirigida por Odd Arne Westad, autor também do curto posfácio do texto. O objetivo dessa coletânea é publicar livros que proponham novas interpretações do período da Guerra Fria a partir de pesquisas em arquivos da China ou dos países da antiga URSS, entre outros. De forma mais geral, a new cold war history, é uma tentativa, formulada no final dos anos 90 do século passado, de repensar o paradigma que estava na base da maioria das pesquisas sobre o período que começa no pós-guerra e que o considera como caraterizado exclusivamente pelas principais tensões em termos militares e econômicos entre o bloco ocidental e soviético. Entre as várias implicações dessa perspectiva tem o fato de considerar tudo que aconteceu fora desses dois blocos, na “periferia” da Guerra Fria, como sendo sem importância para a compreensão histórica do período. Com relação a esse ponto, a perspectiva da Global Cold War mostra como, ao contrário, os países do Terceiro Mundo, ou mais recentemente, do Sul Global, foram os palcos de alguns dos principais conflitos do pós guerra, e como, ao mesmo tempo, é impossível entender as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais nesses países sem levar em conta as intervenções internacionais das duas superpotências. Isso não significa, no entanto, considerar esses países como meras peças no tabuleiro da Guerra Fria. As políticas e iniciativas desses países eram, ao invés disso, fruto da articulação entre interesses nacionais, estratégias políticas dos governos locais e o contexto de tensão internacional. Nessa linha de pesquisa, o trabalho de Westad e seu livro, de 2005, The Global Cold War foram sem dúvida seminais (WESTAD, 2005). Leia Mais

Universidad, revolución y dólares | Vania Markarian

Desde hace ya algunos lustros, la llamada historia reciente no solo ha proliferado en obras sino que, además, transitó una fuerte renovación historiográfica. En ese movimiento, merece enmarcarse el libro recientemente publicado de Vania Markarián. El texto trata de dos polémicas universitarias de mediados de los sesenta en torno a las implicancias de financiar la investigación científica con fondos provenientes de Estados Unidos. En este contexto, evidencia cómo los procesos de modernización académica pueden ser conducidos bajo diferentes signos político-ideológicos, incluso —aunque pueda parecer contraintuitivo— durante momentos de fuerte radicalización política, signada por el antimperialismo.

El libro puede ubicarse, como refiere su propia autora, en la intersección entre una historia de la educación superior, fuertemente influenciada por la historia intelectual, con los estudios del pasado reciente, con énfasis en el campo de los estudios de la Guerra Fría. Leia Mais

O Brasil na Guerra Fria Cultural – CANCELLI (H-Unesp)

Marvel comics falauniversidade com br
Quadrinhos e Guerra Fria/falauniversidade.com.br

CANCELLI E O Brasil na Guerra Fria culturalCANCELLI, Elizabeth. O Brasil na Guerra Fria Cultural: o pós-guerra em releitura. São Paulo: Intermeios, 2018. 182p. Resenha de: CATTAI, Júlio Barnez Pignata; CHAVES, Wanderson da Silva; Brasil de exotismo, minoridade e alinhamento: por uma contra-proposta historiográfica. História v.39  Assis/Franca,  2020.

Brasil na Guerra Fria Cultural: o pós-guerra em releitura, da historiadora do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Elizabeth Cancelli, é realização de uma década de sólida pesquisa de documentos inéditos em arquivos do Brasil e dos Estados Unidos. Esforço que já resultou, entre trabalhos publicados no país e no exterior, no livro O Brasil e os outros: o poder das ideias (CANCELLI, 2012).

Neste novo lançamento, a autora aprofunda um tópico de investigação persistente na sua obra recente. Mais amiúde, as finalidades e o percurso de construção, durante a Guerra Fria, de três lugares-comuns da historiografia sobre o Brasil República, que são, além disso, também temas duradouros de nossa tradição de pensamento político: primeiramente, o exotismo brasileiro no interior da modernidade ocidental, tema através do qual vem sendo preenchidas de conteúdos as noções de “falta”, de “atraso” e de “subdesenvolvimento” nacional; em segundo, a defesa, para sanar essa condição de “minoridade” internacional do Brasil, de um ideal de missão intelectual cuja tarefa seja a adequação do país e do brasileiro a padrões hegemônicos de vida social e econômica; em terceiro, o destaque, nessas propostas de alinhamento, à acelerada transformação do Homem, equilibrada através da estabilidade da vida política e das esferas de poder.

Segundo Elizabeth Cancelli, o advento da Guerra Fria trouxe consigo um novo e sofisticado sistema de agendamento da vida pública, alimentando e sendo alimentado por estes três lugares-comuns, base de um eloquente sentimento de privação civilizatória. A formação desse sistema, em suas características de inovação e propostas de mudança, vistas em O Brasil na Guerra Fria Cultural, especialmente através do seu desenvolvimento na frente norte-americana, seria um tema negado e ausente da historiografia brasileira, para Cancelli, porque o debate temático se estrutura, de certa forma, de ponta-a-cabeça. As memórias individuais formam a principal base do arquivo material de época e a aposta teórica, na fluidez entre História e memória, operam conjuntamente uma típica inversão do processo analítico: a História protege a memória de revelar-se além de seus sintomas e, com esse suporte, que traz atributos de legitimidade, temos a propriedade de certas memórias recordadas sendo transformadas em “verdade”. Ela diz, especialmente na “Introdução” e nas “Considerações Finais” do livro, que são casos exemplares dessa inversão a Era Vargas e a ditadura instaurada com o golpe de 1964: o primeiro período é recordado na literatura privilegiando o projeto nacional de Getúlio, obliterando-se, no elogio a esse projeto, a violência que era a premissa do seu regime de modernização totalitário; em relação à ditadura de 1964, é justamente na violência que se funda, de forma quase exclusiva, a reflexão intelectual, de modo que a vida institucional do regime, do qual floresceu nossa “Nova República”, acaba soterrada em sua diversidade de problemáticas por aquilo que Cancelli chama de “a exaltação da memória espetáculo”. Para a historiadora, trata-se da tendência de a escrita da história sobre o período, encapsulada por uma rememoração “ressentida” de imagens de horror, tortura e desaparecimento, prender-se a uma dimensão sentimental e normativa de fala, transmissão e investigação, produzindo limites de compreensão, assim como de superação de problemas. Naturalmente, há no “ressentir” uma fragilidade de elaboração psíquica e política que resulta, à título de realização da justiça, na exortação e nomeação de certos heróis e vilões. O trabalho historiográfico deve, inclusive para fazer justiça à memória própria ao ressentimento, investir contra seus mecanismos de obliteração.

Para a autora, as idiossincrasias do eu testemunhal tendem a aprisionar a História no interior de dogmas e de fantasias pessoais – conforme a análise, inspirada em Jacques Derrida, de Elisabeth Roudinesco (2006), em A análise e o Arquivo – quanto maior for a escassez documental. A solução, portanto, viria da formação de um arquivo que indique, a contrapelo, no interior de instituições e projetos, justamente as formas e avatares de constituição desse sujeito, narrador da História. As fontes desse arquivo de pesquisa foram formadas, grosso modo, do material do Escritório de Assuntos Culturais do Departamento de Estado Norte-Americano, do National Achives and Records Administration (NARA); da documentação do Congresso pela Liberdade da Cultura (CCF) e do Instituto Latino Americano de Relações Internacionais (ILARI), duas frentes da Agência Central de Inteligência (CIA), arquivada na Biblioteca da Universidade de Chicago; dos documentos dos programas de patrocínio da Fundação Ford às Ciências Sociais, do Rockefeller Archive Center (RAC); e dos fundos relativos ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), think tank que se tornou fundamental para o golpe de 1964 e para o projeto do seu regime, guardadas no Arquivo Nacional. O Brasil na Guerra Fria Cultural beneficiou-se tanto da busca por novo material nesses arquivos quanto da opção por uma noção ampliada de fonte, na qual buscou-se abordar toda a produção bibliográfica temática também como documento. Assim, Cancelli mergulhou, no que concerne à produção intelectual, na releitura de trabalhos fundamentais do pensamento social, considerando, via desconstrução, os argumentos, lugar e posição de onde falam cientistas políticos como Samuel Huntington e Zbgniew Brzezinski, o pensador protestante Reinhold Niebuhr, os cientistas sociais Fernando Henrique Cardoso, Guilherme O’Donnell e Seymour Martin Lipset, dentre outros autores decisivos.

Atravessam o livro duas premissas de trabalho: é transnacional a dimensão de produção da história do Brasil e trata-se, a Guerra Fria, de um confronto entre distintos princípios ideológicos e de modelos de mudança. Estas premissas são tratadas mais detidamente nos capítulos 1 e 2, respectivamente, “A Guerra Fria Cultural no Brasil, a CIA e uma agenda antitotalitária” e “O ILARI, o Congresso pela Liberdade da Cultura e a construção de uma agenda para as Ciências Sociais”. Ali, a historiadora aborda a consolidação, sob a liderança norte-americana, de um consenso entre seus aliados sobre como o sucesso de pressões militares, diplomáticas e econômicas da Guerra Fria deveria ser obtido, antes e sempre, na arena das ideias do combate por “corações e mentes”. Isso orientou, na colaboração entre políticas oficiais de Estado e de organizações norte-americanas, para a sustentação de agendas de longa duração, centradas na formação e arregimentação de elites políticas, técnicas e intelectuais, das quais foram exemplares, justamente, o CCF e o ILARI. Eram realizados nestes órgãos, de forma modelar, investimentos, geralmente secretos, na promoção das ideias de desenvolvimento, modernização, democracia, liberdade e justiça social do “centro liberal”, a tendência política que se tornara um importante proponente da ofensiva que se convencionou chamar de cultural cold war.

Para esses proponentes, como o historiador da Universidade de Harvard, Arthur M. Schlesinger Jr, intelectual importante na administração de John F. Kennedy, países como o Brasil vivenciariam, no desenvolvimento econômico, industrial e urbano, uma via única rumo à consolidação gradual e pacífica da democracia. CCF e ILARI, neste sentido, eram parte de uma estratégia global na qual buscara se instituir, em lugares como o Brasil, uma agenda de trabalho focado na estruturação das Ciências Sociais como tecnologias de reforma social. Assim, através de uma ampla programação de pesquisas empíricas, as Ciências Sociais pretendiam projetar a criação de alternativas às teorias marxistas, apostando na formação de modernas “classes sociais” e na aceitação, em nome da estabilidade, das premissas de um Estado de Bem-Estar Social. O debate de questões raciais e, no Brasil, do “lugar do negro na sociedade de classes”, viria a ser, por exemplo, profundamente influenciado pela preocupação dessas políticas com o potencial explosivo do racismo para a administração das democracias modernas.

Grupos “conservadores”, como o representado pelo cientista político de Harvard, Samuel Huntington, também apostavam nessa intervenção política global e de apoio às Ciências Sociais, mas sustentando, diferentemente do “centro liberal”, que a modernização preconizada por eles geraria instabilidade política e pressão sobre as instituições, na medida em que produziria maior complexidade social e, por isso, pressão sobre a partilha do poder e da participação no governo. As propostas da orientação “conservadora”, tratadas principalmente nos capítulos 3 e 4, respectivamente, “O golpe de 1964 e sua construção antitotalitária: âncoras teóricas e redes intelectuais” e “Modernização, democracia e totalitarismo: teses de transição democrática”, estavam alicerçadas, para Cancelli, no preceito de que toda mudança, especialmente em nações consideradas “sem tradição democrática”, como o Brasil, corriam o risco de enveredarem pelo totalitarismo sempre que houvesse ameaça de ruptura institucional.

Segundo a historiadora, o golpe de 1964 e seu regime partiram de uma premissa “antitotalitária”, da qual o “centro liberal” também partilhava, que significava um acordo sobre o perigo da politização das “massas”, representada especialmente pelo “totalitarismo não derrotado”, o comunismo, e na contraposição que este, como qualquer proposta totalitária, representaria para as proposições ocidentais de democracia liberal, cristianismo, direitos humanos e justiça social. Mas, para pensadores como Huntington, o caminho para a democratização seria, em países como o Brasil, no máximo, elíptico, pois dependeria de um regime de “transição” que alternaria, necessariamente, para gerar estabilidade e acomodação de forças sociais emergentes, momentos de “compressão” e de “descompressão” política.

O “antitotalitarismo” ofereceria um guarda-chuva de estratégias de mudança, em particular, para o mundo pós-colonial africano e asiático e para os países “subdesenvolvidos” da América Latina, contornando, assim, quaisquer propostas de ruptura da ordem, combatidas como sendo “totalitárias”. Se as “teorias de modernização”, na frente antitotalitária, preconizavam o desenvolvimento econômico, na elevação das condições materiais de vida, como requisito de formação das instituições da democracia, tal como na proposição da Aliança para o Progresso, de que houvesse, ainda que anticomunista, a formação de uma liderança latino-americana progressista e moderada para a pacificação de conflitos sociais, nesta mesma frente, as teorias de “desenvolvimento político” preconizavam quase o inverso: o “fortalecimento das instituições” como princípio indutor de um ambiente “democrático” e de desenvolvimento econômico. A historiadora, na linha do que transmitira René A. Dreifuss (1987), demonstra como o IPES, além do trabalho conspiratório contra a administração de João Goulart, atuava, articulado às premissas antitotalitárias, como verdadeira agência de inteligência da ditadura. O IPES dava orientação a uma proposta de modernização que se constituía em diálogo com premissas huntingtonianas de segurança e estabilidade, isto é, a mudança, para eles, deveria se dar contra o desequilíbrio entre governo e governados, para que quaisquer transformações assumissem, via contínua aglutinação de forças políticas, uma sedimentação institucional que produzisse formas próprias de “transição”.

Samuel Huntington veio diversas vezes ao Brasil para o aconselhamento de lideranças fundamentais do regime, como Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, e divulgava suas proposições do “desenvolvimento político” junto a um novíssimo campo disciplinar de Ciência Política no país que a Fundação Ford vinha patrocinando. O cientista político de Harvard trazia, assim, ao debate acadêmico e à aplicação, pelas políticas de Estado, a importância de instrumentos de “compressão” e “descompressão”, que logo viriam a ter um uso específico na aplicação dos Atos Institucionais (AIs) da ditadura. A promulgação da Emenda Constitucional n.º 1, de 1969, que devolvera “a ordem legal ao domínio da Constituição”, marcaria o fim da estratégia de “compressão” pretendida com os AIs, para dar início a um debate sobre a tomada de medidas de “descompressão”. Ou seja, acerca de propostas de “abertura” na qual a assimilação de novos atores políticos, que a própria modernização da sociedade criara ou pusera em movimento, se desse no cálculo do equilíbrio entre as liberdades e as restrições a elas, tendo-se em vista, por princípio, a segurança e a estabilidade. Cancelli revela, nessa análise, que a leitura que capturou o discurso historiográfico, da disputa entre “duros” e “moderados” como sendo estruturante do governo realizado pela ditadura, trata-se, antes, de uma tipologia oriunda do trabalho de Huntington, com a qual pretendera-se criar, ora uma justificativa para a “compressão”, ora para a “descompressão”, fazendo emergir ou submergir grupos e projetos de poder, de acordo com a análise do que, em cada momento, configurava melhor a governabilidade e o que, dentro e fora do regime, representava o risco de rompimento da ordem.

O livro, em um diálogo da historiadora com uma nova produção de especialistas norte-americanos e europeus, vai de encontro às visões, não exclusivas de teorias das relações internacionais, nas quais se naturaliza a existência de práticas de “soft power” e de “hard power”, isto é, de separação entre o exercício do poder político-militar do ideológico e cultural, pois, segundo Elizabeth Cancelli, essa distinção, falha factualmente, é contraproducente analiticamente em relação ao fenômeno da “Guerra Fria Cultural” e de suas estratégias de persuasão, penetração política e dominação, objeto de suas pesquisas. O livro, se convida à um aprofundamento analítico além do sintoma, obriga o leitor e a leitora a considerar, por isso mesmo, como a nova configuração política dos anos 1970 pode ter sido orientada, no Brasil, na sua guinada para uma defesa dos direitos humanos e retorno à legalidade do Estado de Direito, menos por uma esquerda, que buscava reinventar-se frente ao esmagamento da luta armada, e mais por uma proposta dos EUA para a Guerra Fria, com a qual se pretendeu novas formas de engajamento político, em propostas de modernização que vinham renovar e substituir uma perspectiva tecnocrática e “amoral” de desenvolvimento das sociedades que tanto naufragara no Vietnã quanto quase implodira a própria sociedade norte-americana.

Brasil na Guerra Fria Cultural encaminha ainda duas questões sobre a transmissão e os usos da história do Brasil, sublinhando, nas justificativas colocadas à guisa de legitimidade dos discursos políticos: a) a persistente submissão dos meios aos fins, em propostas que, em nome de desenvolvimento e melhoria das condições sociais, soterram ou rebaixam a expansão das liberdades e da esfera pública; e b) a sustentação, nas agendas de “transição ”, de certa inaptidão democrática do país, indefinidamente colocado como incapaz de realizar-se senão como uma demanda feita ao futuro.

Para Elizabeth Cancelli, trata-se de uma captura pela máxima tocquevilleana, na qual se perguntava: “poderia a América do Sul (e o Brasil, por suposto) suportar a democracia?” Como O Brasil na Guerra Fria Cultural o demonstra, esta dúvida, uma velha novidade, é hoje nosso principal projeto de país.

REFERÊNCIAS

CANCELLI, Elizabeth. O Brasil e os outros: o poder das ideias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. [ Links ]

DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe. 5a. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. [ Links ]

ROUDINESCO, Elisabeth. Análise e o arquivo. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. [ Links ]

Júlio Barnez Pignata CATTAI. Historiador, possui doutorado em História Social (2018) pela Universidade de São Paulo (2018). É autor de Guerra Fria e Propaganda: a U.S. Information Agency na mídia impressa brasileira, 1953-1964 (Prismas, 2017; Appris, 2018). Responsável pela coordenação do Núcleo de Pesquisa e Extensão e, na condição de Editor-Chefe, pela Revista Diálogos Acadêmicos – IESCAMP, do Instituto de Educação e Ensino Superior de Campinas. Membro no Brasil do Grupo de Estudos sobre a Guerra Fria, sediado na Universidade de São Paulo (USP/CNPq), dedica-se a pesquisas em História das Ideias, com foco em pensamento político, direito, intelectuais, organismos internacionais e liberalismo. E-mail: [email protected] 

Wanderson da Silva CHAVES. Historiador, possui graduação (2003) em Ciências Sociais, com habilitação em Antropologia e mestrado (2007) em Ciências Sociais, com especialização em Estudos Americanos, pela Universidade de Brasília; e doutorado em História Social (2012), pela Universidade de São Paulo (USP). Membro no Brasil do Grupo de estudos sobre a Guerra Fria e pesquisador colaborador do Departamento de História da USP, dedica-se atualmente a pesquisas na área de História Contemporânea, com foco em Guerra Fria, intelectuais, direitos humanos, organismos internacionais e racismo. E-mail: [email protected]

Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall – WILNER (TH-JM)

WILNER, Nina. Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall. New York: HarperCollins, 2016. 391p. Resenha de: SHIELDS, Trevor. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.55-57, 2020.

On June 26, 1963, President John F. Kennedy, on a visit to West Berlin, eloquently lamented, “The [Berlin] Wall is…an offense not only against history but an offense against humanity, separating families, dividing husbands and wives and brothers and sisters, and dividing a people who wish to join together.” All too often, the humanity of those impacted by the events of the Cold War gets lost in the background of the larger narrative of communism versus democracy—the Soviet Union versus the United States. Nina Willner’s work, Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall (2016), successfully and vividly injects much needed humanity into the Cold War.

Written as primarily a family memoir, Forty Autumns tells the story of just one of the families divided by the Berlin Wall. Willner’s book chronicles the life of her mother, Hanna, and grandparents, Erna and Karl (Willner regularly only refers to Erna and Karl as Oma and Opa, or Grandma and Grandpa.) The book, which is divided into roughly four sections, begins with several maps of Europe during the Cold War. From there, one of the greatest features of the book appears, a family and historical chronology as Willner pairs the events of the Cold War physically right alongside their impact on her family. Seeing the history of the Cold War linked to the impacts of particular historical events on real people makes the vivid narrative of Forty Autumns difficult to put down. In 1946 the Soviets occupied East Germany and imposed Soviet law. That same year, Opa, who fought for the Germans during WWII, was forced to begin teaching Soviet doctrine to his many students in East Germany.

The Cold War had more physically terrifying consequences on the people of East Germany than being forced to learn and love communism. Not wanting to take any chances of people inciting dissent, many East Germans were thrown into prison with little idea why they had been arrested. The Hoheneck Castle, which was known around the world for its Gothic and Renaissance architecture, was converted to house women. In eloquent yet terrifying prose, Willner paints the picture: “There, skin to skin, in total darkness, with no room to sit, they were made to stand in knee-deep freezing water for days on end in dank, poorly ventilated chambers until they simply passed out” (72). The inhumanity of what happened at Hoheneck Castle, although known to historians, is often missing from more traditional narratives. Since Forty Autumns was written in such an accessible way, more people today will understand the realities of life behind the Iron Curtain.

Willner’s book could be used in the classroom in a variety of ways. The most obvious, though, would be to use the story of her family to both introduce and to potentially teach the entirety of the Cold War. This would be particularly doable since Willner interjected the major events of the Cold War throughout the many pages of Forty Autumns. On the family level, for example, East German authorities harassed Opa at the same time the Warsaw Pact was being formed and dissent was being silenced. Forty Autumns definitely brings to life the impact of many Cold War developments on both individuals and Germany as a whole.

While not all of Millner’s family lived to see Germany reunified in 1990, all the individuals discussed helped make true a few of President Ronald Reagan’s words: “What is right will always triumph” (324). Although much of Forty Autumns detailed the horrors of life under communism in East Germany, it ended on a positive note, with Willner’s extended family reuniting in a united Germany in 2013. Anyone interested in learning more about the Cold War or about one family’s brave attempt at enduring the unthinkable should give Forty Autumns a read. Beyond that, in a more contemporary moment where construction of a wall is regularly discussed as a way to make life better for so many, the history within Forty Autumns should be seen as a foreboding tale.

Trevor Shields – Minooka High School.

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Caribbean Revolutions. Cold war armed movements.

MAY, Rachel; SCHNEIDER, Alejandro; GONZALEZ, Roberto. Caribbean Revolutions. Cold war armed movements. Cambridge University Press, 2018. 165P. Resenha de: GIRALDO, Fernando. Memorias – Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, Barranquilla, n.39, set./dez., 2019.

Este libro se propone brindar elementos de análisis para una mejor comprensión del origen y la evolución de los movimientos armados en El Salvador, Guatemala, Colombia, Nicaragua y Puerto Rico durante los años de la llamada Guerra Fría, desde una perspectiva comparada. A fin de cumplir este propósito se analiza el carácter jerárquico de sus estructuras, sus alianzas, patrones de movilización y bases ideológicas, continuando el análisis de trabajos clásicos como el de Timothy Wickham: Crowley Guerrillas and Revolutions, publicado en 1991.

Según los autores, la ocupación norteamericana tanto en México, Cuba y Nicaragua, contribuyó a que sus procesos revolucionarios fueran a su vez de liberación nacional, en los cuales hasta las élites tuvieron interés y participación en su lucha contra Gobiernos militares que les habían cerrado espacios de gobernabilidad. También la capacidad de convocatoria de los movimientos guerrilleros, por ejemplo en Cuba y Nicaragua, hizo posible la vinculación de fuerzas obreras, campesinas, estudiantiles e incluso religiosas. A ello habrá que agregar que la comunidad internacional fue solidaria con las luchas contra estas dictaduras y en casi todo el continente se celebró luego el advenimiento de la democracia a estos países.

May, Schneider y González sostienen que tanto en México como en Cuba y Nicaragua se registraron intervenciones militares y despojos territoriales de los Estados Unidos. Recordemos, en el caso de México, la pérdida de Texas, Nuevo México y California (en 1847); la intervención en Nicaragua del filibustero William Walker y el precio que tuvo que pagar Cuba por la injerencia de los Estados Unidos en su independencia de España.

Se aborda la excepcionalidad del respaldo ciudadano en Colombia al M-19 -en contraste a otros grupos armados como las FARC o el ELN- porque fue una guerrilla muy pluralista e incluyente que no aparecía como un movimiento dogmático y, por lo tanto, las clases medias, la juventud, la intelectualidad simpatizaban con sus luchas y sus operaciones muy mediáticas. Ello explica el hecho de que luego de su desmovilización (ocurrida el 9 de marzo de 1990) recibió un amplio apoyo ciudadano representado en varias votaciones para cargos de elección popular.

Hubiera sido interesante en el libro que se incluyeran las perspectivas actuales de esas guerrillas, sobre todo en aquellos países donde hoy son partido de gobierno como en El Salvador o Nicaragua, pero quizá esto rebasa el periodo de estudio.

Resulta de mucha vigencia la lectura de esta obra dado que existe un gran desconocimiento de la naturaleza, características y particularidades de la historia política más reciente de América Latina y el Caribe, máxime por parte del púbico angloparlante. También cabe destacar que el caso de la guerrilla puertorriqueña ha sido poco estudiado por parte de la literatura más clásica sobre estos temas, lo cual sin duda es un aporte de este libro.

Resulta interesante el trabajo colaborativo de académicos de la Universidad del Sur de la Florida (USF), la Universidad Nacional de La Plata y la Universidad del Norte, autores de esta publicación.

Fernando Giraldo – Ph. D., profesor titular, Departamento de Ciencia Política y Relaciones Internacionales, Universidad del Norte.

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Guerra Civil. Super Heróis: Terrorismo e Contraterrorismo nas Histórias em Quadrinhos | Victor Callari

Pouco explorada pelos historiadores, as fontes iconográficas ganharam nesses últimos anos um espaço de destaque no cenário historiográfico. As mudanças de perspectivas desenvolvidas no decorrer do século XX e também no início do XXI possibilitaram uma ruptura com leituras tradicionais que restringiam o trabalho do historiador aos arquivos e seus documentos considerados oficiais, e abriram espaços para novos questionamentos, abordagens e metodologias que ampliaram significativamente as possibilidades de compreensão de eventos passados e da contemporaneidade. A entrada dos historiadores nesse ramo diversificou ainda mais as produções acadêmicas. Autores conhecidos do grande público, como Peter Burke, Ivan Gaskell, Carlo Ginzburg, entre outros, se aventuraram em obras com essa abordagem, e se tornaram referências no âmbito acadêmico. Por outro lado, pesquisadores em início de carreira também vêm se aventurando e promovendo, mediante suas pesquisas, uma expansão significativa nesses estudos, muitos deles partindo de objetos até então pouco explorados pela historiografia.

Foi nesse novo cenário que a Editora Criativo publicou a obra “Guerra Civil. Super Heróis: Terrorismo e Contraterrorismo nas Histórias em Quadrinhos” (2016), resultado da dissertação de mestrado realizada dentro do Programa de Pós-Graduação em História e Historiografia da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, sob orientação da professora Drª Ana Nemi, escrita por Victor Callari professor da rede particular tanto no Ensino Superior quanto na Educação Básica. Callari possui publicações em periódicos acadêmicos nacionais e participações em eventos internacionais, em temas relacionados às histórias em quadrinhos, memória, holocausto, terrorismo, entre outros assuntos pertinentes a sua área. Leia Mais

Guerra fria e política editorial: a trajetória das Edições GRD e a campanha anticomunista dos Estados Unidos no Brasil (1956-1968) – OLIVEIRAR (RBH)

OLIVEIRA, Laura de. Guerra fria e política editorial: a trajetória das Edições GRD e a campanha anticomunista dos Estados Unidos no Brasil (1956-1968). Maringá: Eduem, 2015. 274p. Resenha de: GRINBERG, Lucia. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.36, n.71, jan./abr. 2016.

Era comum em resenhas bibliográficas relacionadas à história política do Brasil republicano a constatação de que historiadores e cientistas sociais se dedicavam especialmente ao estudo das esquerdas, negligenciando as direitas. O panorama mudou. Nos anos 2000 houve um crescimento significativo na produção de teses e dissertações dedicadas a intelectuais, movimentos e partidos políticos de direita nos programas de pós-graduação em história no país. No campo específico dos estudos sobre o movimento integralista, as pesquisas avançaram para além dos anos 1930, buscando mostrar a presença de integralistas na vida política institucional no período da experiência democrática instaurada em 1945, a vitalidade de intelectuais e periódicos integralistas, assim como a diversidade de trajetórias individuais e de memórias de militantes. Guerra fria e política editorial é expressão da ampliação e do amadurecimento da área. Elaborado originalmente como tese de doutorado, defendida em 2013 no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG), obteve menção honrosa no Prêmio Capes de Teses (2014) e ganhou o Prêmio Anpuh de Teses (2015).

Com base no estudo de caso sobre o editor Gumercindo Rocha Dorea e de suas Edições GRD, a historiadora Laura de Oliveira desenvolve uma reflexão relevante e atual sobre o campo das direitas políticas ao mostrar as possibilidades de alianças apesar da diversidade de inspirações doutrinárias. No caso, ela aborda como um militante integralista, admirador de Plínio Salgado, pôde contar com o financiamento do governo norte-americano para promover o anticomunismo em nome da democracia. Na primeira parte do livro, “a experiência”, Laura de Oliveira apresenta as articulações entre as Edições GRD, o movimento integralista e a United States Information Agency (USIA). Na segunda parte, “a palavra”, desenvolve um estudo propriamente da “obra editorial”. Para investigar os integralistas e seus aliados no Brasil, Oliveira consultou acervos considerados estratégicos por especialistas, como o Fundo Plínio Salgado (Arquivo Público Histórico de Rio Claro) e o Fundo IPÊS (Arquivo Nacional). Nos Estados Unidos, pesquisou documentação relativa à USIA no National Archives and Records Administration (NARA), e ao Franklin Book Programs, na Mudd Manuscript Library da Princeton University.

Na primeira parte do livro, “a experiência”, em narrativa bem estruturada, a historiadora analisa os contextos variados que combinados permitem compreender a trajetória política e empresarial de Gumercindo Rocha Dorea: as tradições e a estrutura das organizações integralistas, a política externa norte-americana de intercâmbio cultural e a parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS). Em 1956, quando o jovem baiano Gumercindo Rocha Dorea criou as Edições GRD, era filiado ao Partido de Representação Popular (PRP), liderado por Plínio Salgado, e participava ativamente de iniciativas integralistas no campo da cultura. Dorea foi editor do jornal integralista A Marcha (1952-1955), diretor da Livraria Clássica Brasileira (1956-1957) e presidente da Confederação Nacional dos Centros Culturais da Juventude (1952-1953 e 1957-1958). A autora dialoga com obras recentes sobre a Ação Integralista Brasileira (AIB) e o PRP, indicando ao leitor contribuições relevantes na área.

As Edições GRD também foram beneficiadas pelas iniciativas da “cultural war”, a política norte-americana de intercâmbio cultural implementada nos anos da guerra fria. Desde os anos 1950 a editora obteve recursos por meio da política de financiamento de traduções do Book Development Program, desenvolvido pela USIA, entidade diplomática que vigorou entre 1953 e 1999.

De acordo com as fontes pesquisadas, a USIA promoveu cerca de 1.340 traduções de originais de língua inglesa lançados no mercado editorial brasileiro.

A GRD teve 48 traduções patrocinadas pela agência. Muitas editoras brasileiras receberam subsídios por meio do programa que incentivava a publicação de obras que veiculavam do elogio ao american way of life ao anticomunismo.

Dorea se destacou pela seleção de obras marcadamente anticomunistas.

Na conjuntura anterior ao golpe de 1964, as Edições GRD se associaram ao IPÊS, como outros estudos já apontaram. No entanto, Laura de Oliveira mostra que a associação era um desdobramento de parceria anterior às conspirações para depor o presidente João Goulart – havia uma sintonia entre os objetivos políticos da USIA, do IPÊS e da GRD, todos desejavam combater as esquerdas e desestabilizar o governo federal. Apesar de a campanha ipesiana se caracterizar por penhorar o destino brasileiro às instituições liberais, Dorea participou ativamente. Em contraste com os “camisas verdes” dos anos 1930, a partir de 1945, os militantes do integralismo, então denominados “águias brancas”, construíram uma nova identidade política. Não se isolaram na doutrina original, apropriaram-se das regras da democracia representativa instaurada e continuaram operando por intermédio do PRP e de iniciativas culturais, como as Edições GRD, mesmo estando longe de compartilhar ideais liberal-democráticos.

Na segunda parte do livro, “a palavra”, na perspectiva de Raymond Williams, Laura de Oliveira investiga as conexões entre experiência social e literatura, combinando história política, história do mercado editorial e estudos literários. De acordo com a autora, ao analisar o conjunto da obra das Edições GRD, de 1956 a 1968, é possível identificar um sentido comum: a divulgação do comunismo como distopia contemporânea, como tragédia iminente que ameaçava o Brasil e a América Latina. As Edições GRD tiveram duas coleções importantes, a “Coleção Política Contemporânea”, traduções financiadas pela USIA principalmente, e “Clássicos Modernos da Ficção Científica” (posteriormente intitulada “Ficção Científica GRD”). O anticomunismo estava presente em ambas.

De 1958 a 1971, as Edições GRD publicaram cerca de trinta livros do gênero ficção científica, traduções e originais de autores brasileiros, sendo considerada responsável pela consolidação do gênero no país nos anos 1960. Em diálogo com estudos sobre ficção científica, Oliveira mostra como o gênero lida com alegorias utópicas e seu par coexistente, a distopia, ao narrar mundos alternativos, outros planetas, territórios longínquos ou paraísos perdidos. Durante a guerra fria, nos clássicos da literatura de ficção científica de língua inglesa, Aldous Huxley, George Orwell e Ray Bradbury contrapõem sociedades baseadas nos ideais de liberdade e individualidade a Estados totalitários. Nas publicações de ficção científica da GRD, Oliveira identifica “uma permanente associação entre a consagração dos projetos totalitários (marcadamente, do comunismo soviético) em ambiente internacional, o esforço da União Soviética de colonização dos países democráticos, sua ação na América, confirmada pela então recente revolução em Cuba, e seu conjecturado avanço sobre o Brasil” (p.195).

No mesmo sentido, durante o governo João Goulart, a “Coleção Política Contemporânea” editou títulos como Anatomia do comunismo (1963) e Cuba, nação independente ou satélite (1963). Oliveira apresenta os enredos, os paratextos e reproduções de capas das publicações, introduzindo o leitor em um universo trágico comum às obras de ficção científica e de política contemporânea. Na orelha de Anatomia do comunismo (1963), Dorea inscreveu a sua mensagem: pretendia levar “aos homens públicos responsáveis pela manutenção do sistema democrático na vida política brasileira, a lição que nos vem dos que têm sofrido, na própria pele, a ameaça diuturna das hostes bélicas que, a qualquer momento, poderão descer do leste europeu” (grifos do autor, p.202).

Na historiografia relativa a partidos políticos no Brasil republicano, desde os anos 1990, há teses que desafiam as interpretações tradicionais que enfatizam a distância entre as organizações partidárias e a sociedade, assim como as que destacam as descontinuidades das legendas, desconsiderando as intervenções sucessivas de ditaduras no sistema partidário. No presente caso, as intervenções extinguindo os partidos políticos por decreto atingiram a AIB, no Estado Novo, e, posteriormente, o PRP, em 1965, com o Ato Institucional no 2. Guerra Fria e política editorial é uma bela contribuição para o debate. Partindo do caso de Gumercindo Rocha Dorea, baiano de Ilhéus, a autora mostra a possibilidade de, diminuindo a escala de análise, investigar trajetórias individuais tendo em vista o estudo de atores coletivos, como partidos políticos. Ao se dedicar ao estudo das Edições GRD, Oliveira investiga as relações entre atividade editorial e militância político-partidária, considerando as especificidades dos dois campos: as características de negócio e a necessidade de financiamento, a marca da afinidade ideológica e a existência de uma rede de sociabilidade de intelectuais, antigos membros da AIB, filiados e simpatizantes do PRP, reunidos em torno da editora. Afinal, apresenta os integralistas, entusiastas de um movimento de extrema direita, inseridos na sociedade, e mostra que os militantes se articularam em novas organizações, não permaneceram isolados.

O interessante em Guerra Fria e política editorial é justamente a percepção das dinâmicas, continuidades e descontinuidades do movimento integralista, e da possibilidade de articulação com o próprio governo norte-americano, antes combatido pelo nacionalismo exacerbado, o anticosmopolitismo e o antilibe- ralismo, próprios do integralismo. Em 1967, as iniciativas da USIA foram denunciadas nos Estados Unidos como tentativa de manipular a opinião pública por intermédio de editoras da iniciativa privada. Em pouco tempo, com o fim do convênio, as Edições GRD voltaram a reeditar autores integralistas e Dorea passou a comandar igualmente a “Voz do Oeste”, editora fundada por Plínio Salgado. Guerra Fria e política editorial mostra, portanto, a parceria entre liberais norte-americanos e integralistas brasileiros, assim como o enraizamento das tradições integralistas e a capacidade organizacional de seus quadros.

Lucia Grinberg – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected].

Cuba e a Eterna Guerra Fria: mudanças internas e política externa nos anos 90 | Marcos Antonio da Silva

Cuba, certamente, enquadra-se entre os países-chave para se entender parte da história do século XX. Mesmo sendo uma pequena Ilha do Caribe, este país, a partir da ruptura com a ditadura de Fulgencio Batista, em janeiro de 1959, transformou-se em um dos principais agentes políticos mundiais, em especial para a América Latina e demais regiões periféricas do capitalismo.

Neste seu trabalho, Marcos Antonio da Silva demonstra como Cuba teve protagonismo nas relações internacionais durante as décadas de 1960-70-80. E isso tanto do ponto de vista cultural quanto do político-militar. Entretanto, apesar dessa sua força, a Ilha possuía um elemento de fragilidade para a sua organização social: o aspecto econômico. Em grande medida, será essa situação de debilidade econômica que criará para os cubanos um vínculo de dependência em relação à URSS. A partir da década de 1990, com a crise soviética, ocorre uma radical mudança nas relações exteriores de Cuba, forçando-a para uma postura mais diplomática. E é essa transformação o eixo central do livro. Leia Mais

O Brasil e a URSS na Guerra Fria. A Política Externa Independente na imprensa gaúcha / Charles S. M. Domingos

As últimas décadas do século XX foram palco de grandes transformações estruturais vividas com intensidade pela humanidade. Último século do milênio que também findava, ele ficou marcado por diferentes interpretações historiográficas. Para alguns, constituiu-se num longo período (ARRIGHI, 1996), para outros em um tempo mais curto (HOBSBAWM, 1995). Em sua primeira metade, foi cenário das maiores guerras e atrocidades, já a sua segunda metade foi orientada pelas diretrizes de uma Guerra Fria que produziu fatos com conseqüências muito mais quentes.

O debate historiográfico sobre a demarcação temporal desta Guerra Fria também é extenso e ainda fértil. Boa parte desse material acessível a um público amplo apresenta o ponto de vista ocidental e norte-americano como preponderante. O professor Paulo Vizentini apresentou uma visão diferenciada ao abordar o tema a partir do desafio imposto pelo sistema socialista à ordem capitalista (VIZENTINI, 2004). O trabalho de Charles Sidarta Machado Domingos: “O Brasil e a URSS na Guerra Fria: a Política Externa Independente na imprensa gaúcha” apresenta um enfoque das relações brasileiras com a então URSS a partir da análise da visão da imprensa gaúcha do período sobre um ponto específico: a Política Externa Independente (PEI).

Este livro é produto da dissertação desenvolvida pelo autor no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e defendida em 2009. Esta obra se insere nos marcos da história política, que logrou se dissociar do estigma de execução de uma análise superficial, para galgar, com a terceira geração dos Annales, um status historiográfico mais respeitado. René Rémond destaca a impossibilidade de abordar o político como algo isolado, pois este fator não possui margens, comunicando-se com os outros domínios e campos historiográficos (RÉMOND, 2003: 444). Pensar estes diferentes domínios conectados ao político também implica pensar a atuação do historiador e suas implicações políticas dentro do seu lugar social.

É dentro deste marco da história política que o autor retorna aos anos em que o país estava “irreconhecivelmente inteligente” para mostrar como este novo vocabulário também podia ser percebido no âmbito da práxis. Na década de 1960, a PEI colocou-se sob uma nova orientação nos governos Jânio Quadros e João Goulart, sendo alvo de crítica dos setores conservadores e de defesa pelos progressistas. Este enfoque ainda é pouco explorado na historiografia do período, haja vista que o tema das Reformas de Base é o que ganha maior destaque. Em relação à PEI, e, mais especificamente, ao reatamento das relações diplomáticas com a URSS, o autor destaca que no âmbito da imprensa escrita, os jornais O Globo e O Estado de São Paulo se colocaram contra esta política. Já o Jornal do Brasil e o Correio da Manhã eram favoráveis. Para realizar uma análise diferenciada, o autor foca seu olhar para a imprensa gaúcha, deslocando o olhar do centro do país. Na esfera acadêmica, os trabalhos desenvolvidos até o momento sobre a PEI tiveram outro enfoque. José Honório Rodrigues abordou-a no tempo presente do acontecimento, publicando em formato de artigos em jornais e que foi, posteriormente, sistematizado no estudo intitulado Uma política externa própria e independente, editado em 1965 (RODRIGUES, 1965). Tânia Quinaneiro, no seu trabalho realizado na década de 1980, enfocou a questão cubana, dado seu papel catalisador para a realidade política latino-americana (QUINTANEIRO, 1988). Paulo Vizentini, no seu trabalho de doutorado, preferiu investigar a Operação Pan-americana, que se constituiu na gênese da PEI, inovando em sua abordagem ao inserir o estudo da PEI dentro do contexto do surgimento do Terceiro Mundo (VIZENTINI, 1995).

As fontes utilizadas por Charles Domingos constituem-se majoritariamente na imprensa escrita do período estudado. A principal fonte primária, o periódico Correio do Povo, um dos jornais de maior destaque do Estado do Rio Grande do Sul, teve sua história marcada por uma propagada neutralidade jornalística. O autor problematiza este fato correlacionando-o com a sua reflexão sobre o uso da imprensa escrita pelo historiador, bem como seu cuidado metodológico necessário na análise desta fonte. Na época estudada, este periódico possuía o formato Standard, e os assuntos relacionados à política internacional eram apresentados na capa do jornal. Na contracapa é que se concentravam os fatos referentes à política interna brasileira, e, neste lugar, eram noticiados os fatos relacionados à PEI. Charles Domingos também faz uso de outras seções produzidas pelo jornal, das matérias enviadas pelas agências de notícias e pelas interpretações assinadas. Também compõe o seu cabedal de fontes uma série de documentos diplomáticos pesquisados em arquivos do Rio de Janeiro (Arquivo San Tiago Dantas, Arquivo Nacional) e de Porto Alegre (Anais da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e Centro Brasileiro de Documentação e Estudos da Bacia do Prata). Somado a tudo isso, há a utilização de uma vasta bibliografia (mais de 100 livros, teses, dissertações e artigos) que cobrem qualitativamente o período estudado.

O primeiro capítulo do livro, “Populismo e nacionalismo”, discute um tema polêmico e que ainda produz intensos debates: o conceito de populismo. Questionando a operacionalidade do conceito e destacando seu caráter polissêmico, o autor apresenta seu histórico como categoria explicativa, inserido dentro do marco temporal do período democrático de 1945 a 1964. Também destaca a construção do conceito conforme diversos interesses ao longo desse período, principalmente por aqueles que se opunham ao trabalhismo. Atrelado ao conceito de populismo está o estudo do nacionalismo, entendido pelo autor dentro de uma análise histórica, tal como proposta por Eric Hobsbawm, e que, portanto, apresenta transformações ao longo do tempo (HOBSBAWM, 2002). Para Charles Domingos, este constitui o conceito norteador e ideal para o estudo da PEI:

Entendemos ser a partir dele que melhor se explica a relevância da Política Externa Independente para o período estudado. Mesmo com graus variáveis, o nacionalismo – juntamente com a idéia do desenvolvimento – é a tônica dos governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, estando presente inclusive nos momentos de transição entre a morte do presidente Vargas e a posse do presidente Kubitschek (DOMINGOS, 2010: 65).

Tendo sua gênese no século XVIII, com o início do capitalismo, o fenômeno do nacionalismo atravessou três séculos sofrendo adaptações e incorporações. Inicialmente, seu caráter estava atrelado ao pertencimento da cidadania. No século XIX, o nacionalismo veste as égides do liberalismo em voga. Entretanto, é no período entre-guerras que ele encontra seu apogeu, seja encarnado nos corpos da direita ou da esquerda. No contexto brasileiro, é a partir dos anos 1950 que seu emprego começa a ser feito por intelectuais e políticos. O IBESP (Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política), a publicação Cadernos de nosso tempo e o ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) são exemplos de instituições e publicações sobre o tema. Configura-se como uma primeira fase do nacionalismo brasileiro o período de 1952 a 1956. A segunda fase compreende o período do nacional-desenvolvimentismo.

Para tanto, trabalharemos, nesse momento, com o conceito de nacional-desenvolvimentismo. Buscaremos opiniões diversas das de Angela de Castro Gomes e Pedro Cezar Dutra Fonseca, por entendermos que se faz necessário aproximar-se da perspectiva que norteava a sociedade brasileira na segunda metade da década de 1950. A razão disso é que a Política Externa Independente foi gestada e desenvolvida por homens que tinham também no nacional-desenvolvimentismo um de seus horizontes (DOMINGOS, 2010: 77).

Por fim, a terceira fase constitui-se no nacional-reformismo, que se inicia do final dos anos 1950. Seu amadurecimento reordena seus fatos constitutivos, rompendo com a fase anterior destacada.

O segundo capítulo, intitulado “Antecedentes e expectativas”, realiza uma reconstrução histórica das relações do Brasil com a Rússia, recuando no século XVIII. Também apresenta uma importante contextualização da principal fonte utilizada na obra: o periódico Correio do Povo. A partir deste ponto o autor correlaciona a história do jornal com suas relações com os governos da União e do Estado do Rio Grande do Sul.

O terceiro capítulo, “O reatamento das relações diplomáticas”, transfere a visão macro para um aporte mais detalhado sobre o dia do reatamento das relações entre o Brasil e a URSS, bem como de suas repercussões políticas. Esta análise detalhada é realizada através das páginas do jornal Correio do Povo, onde o autor destaca o caráter pedagógico da atuação da imprensa. Neste ponto, Charles Domingos desenvolve um detalhado estudo e uma ampla análise da repercussão do discurso de San Tiago Dantas na Assembléia do Rio Grande do Sul, cotejando a fonte jornalística com os Anais da casa legislativa, apontando o porquê de supressões e ausências nas páginas do jornal. A percepção das posições políticas oficiais, bem como a repercussão em diversos setores da sociedade, como a Igreja Católica, e inclusive em outros países também aparecem através desta leitura.

O quarto capítulo, “De volta a Província”, restabelece o olhar macro para averiguar as repercussões do reatamento após a sua ocorrência. Neste ponto, são analisadas as posições e leituras dos colaboradores do jornal, além de políticos e do governador Leonel de Moura Brizola, que aproveitava o espaço para realizar uma crítica à oposição do seu governo.

Desse modo, o enfoque da obra recai sobre a percepção do posicionamento dos setores políticos, no que tange ao reatamento das relações com a URSS, a partir da imprensa escrita da época. A partir desta lente, o autor objetiva perceber como a política externa interferiu na política interna. Esta leitura é realizada alternando abordagens macros e escalas reduzidas, destacando através destes aspectos um rico olhar sobre um importante período brasileiro.

Referências

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

DOMINGOS, Charles Sidarta Machado. O Brasil e a URSS na Guerra Fria: a Política Externa Independente na imprensa gaucha. Porto Alegre: Suliani Letra & Vida.

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia das letras, 1995.

____________, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

QUINTANEIRO, Tânia. Cuba e Brasil: da revolução ao golpe (1959-1964): uma interpretação sobre a política externa independente. Belo Horizonte: UFMG, 1988.

RÉMOND, René. Do político. In: RÉMOND, René. Por uma história política. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 444.

RODRIGUES, José Honório. Uma política externa própria e independente. In: Política Externa Independente. A Crise do pan-americanismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.

VIZENTINI, Paulo Fagundes. A Guerra Fria: o desafio socialista à ordem americana. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.

__________, Paulo Gilberto Fagundes. Relações internacionais e desenvolvimento: o nacionalismo e a Política Externa Independente. Petrópolis: Vozes, 1995

Rafael Hansen Quinsani – Mestre em História pela UFRGS. E-mail: [email protected].


DOMINGOS, Charles Sidarta Machado. O Brasil e a URSS na Guerra Fria. A Política Externa Independente na imprensa gaúcha. Porto Alegre: Letra & Vida, 2010, 223p. Resenha de: QUINSANI, Rafael Hansen. Em Tempo de Histórias, Brasília, n.17, p.107-111, ago./dez., 2010. Acessar publicação original. [IF].

How Enemies Become Friends | Charles Kupchan

Charles Kupchan é professor de relações internacionais na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Também é associado ao Conselho de Relações Exteriores. Foi diretor do Departamento de Assuntos para a Europa, órgão do Conselho Nacional de Segurança, durante o governo Clinton. Portanto, um especialista renomado e influente.

Tem estudado sistematicamente o que os americanos já chamaram de «nova ordem mundial». Kupchan, de forma mais contundente, considera o momento como «O fim da Era Americana» («The End of the American Era: U.S. Foreign Policy and the Geopolitics of the Twenty-first Century», publicado em 2002) e um período de transição, não para uma nova, mas para uma outra ordem mundial («Power in Transition: The Peaceful Change of International Order», 2001). Leia Mais

Relaciones tumultuosas: Estados Unidos y el primer peronismo – RAPPORT; SPIGEL (RBPI)

RAPOPORT, Mario & SPIGUEL, Claudio. Relaciones tumultuosas: Estados Unidos y el primer peronismo. Buenos Aires: Emecé, 2009, 522 p. Resenha de: BUCHRUCKER, Cristian. Revista Brasileira de Política Internacional. v.53 no.1 Brasília Jan./July 2010.

Estamos en presencia de una muy importante contribución a la historiografía argentina, en una temática que siempre suscita renovadas preguntas y debates. A lo largo de una introducción, 16 capítulos y una conclusión se analiza una época decisiva, no sólo de la historia nacional, sino también del devenir de la historia internacional. Dos apéndices, uno estadístico y el otro documental cierran el libro, ofreciéndole al lector valiosos elementos adicionales para su propia evaluación crítica. Los ocho primeros capítulos están dedicados a los antecedentes inmediatos de la década del primer peronismo. Se establecen allí las grandes líneas de las relaciones argentino-norteamericanas a partir de 1933, conectándolas siempre con el más antiguo vínculo británico y el entonces tan polémico tema de la Alemania nazi. El legendario choque entre el embajador Spruille Braden y Juan Perón (1945-46) se ubica justamente en la sutura entre dos épocas, yuxtaponiendo buena parte de los mitos y realidades de la Segunda Guerra Mundial al inicio de las tensiones mundiales que se convertirán en la Guerra Fría.

Los ocho capítulos siguientes desarrollan los altibajos de la primera y segunda presidencia de Perón, conservando la dinámica expositiva de la parte anterior, en la que las figuras relevantes siempre se muestran interactuando con restricciones y oportunidades cambiantes que surgen del entorno regional e internacional. Desfilan así la normalización de las relaciones (1946-47), las conferencias interamericanas y el Plan Marshall, la proclamación de la “Tercera Posición”, la crisis de 1949, el inicio de un viraje (1950), el retorno de los conflictos (1951-52), la nueva política peronista (1952-53) y las renovadas tensiones de 1953-54, hasta culminar con la caída del gobierno en 1955. El aparato erudito que fundamenta todo esto es extenso y sólido: los autores han consultado las fuentes documentales relevantes de Argentina, Estados Unidos, Gran Bretaña y las Naciones Unidas en 38 archivos y colecciones, más de 300 libros y capítulos de libros, 46 artículos de publicaciones periódicas e internet, así como 25 diarios y periódicos argentinos, 10 norteamericanos, 6 británicos y 7 de otros países americanos y europeos.

A pesar de estar firmemente anclada en los documentos, cosa que siempre debe ser elogiada, esta no es simplemente una tradicional historiografía narrativa-lineal, sino un estudio consciente de la necesidad de hacer explícitos sus supuestos teóricos. En ese sentido resulta especialmente significativo el siguiente pasaje:

“Los enfoques teóricos que han descuidado el análisis profundo de la vinculación entre los procesos económicos, políticos y estratégicos niegan la existencia de la contradicción en tanto concepto central de las ciencias sociales y asumen esa ‘incoherencia’ como muestra de una posible irracionalidad institucional. En resumen, suplantan el análisis complejo de la realidad en el proceso de toma de decisiones en materia de las políticas exteriores […] por la interpretación psicológica de los individuos o de las instituciones y/o por la competencia burocrática resultante. Pierden así de vista la verdadera índole de los factores que pujan entre las bambalinas del poder, o de esos pocos que lo ostentan, como titula su libro de memorias uno de los más perspicaces diplomáticos británicos de la época, Sir David Kelly, quien desde la embajada en Buenos Aires seguía paso a paso la conducta de estos actores.” (p.62)

Rapoport y Spiguel logran desplegar una época no sólo relatando, sino tambien analizando y explicando toda su complejidad, mostrando los nexos entre política interior y exterior, el peso de la economía y el claroscuro de las ideas. Todo eso da origen a un oscilante campo de fuerzas condicionantes, que permite más de una opción, pero que también implica costos para cualquier camino que se tome y siempre reserva una gran cuota de incertidumbre a la hora de prever resultados. Este enfoque supera claramente las deficiencias de numerosos ensayos sobre el siglo XX argentino hasta fines de la década de 1990, difundieron el cómodo estereotipo del “actor racional” operando en “los mercados” según una única doctrina económica válida o conduciendo un país como estadista iluminado que tiene recetas preparadas de antemano para todas las contingencias. Ya el título de esta obra permite advertir que no vamos a encontrar tales simplificaciones. Más fieles al mundo real, los autores nos introducen en “relaciones tumultuosas” y heterodoxias, dejando la linealidad y las ortodoxias (del tipo del “librecambio” universalmente bienhechor) relegadas a las páginas de ciertos manuales.

Sobre este trasfondo se hacen más inteligibles ciertas continuidades históricas, no sólo en lo referente a las estructuras, sino incluso en la actuación de determinadas figuras, como fue el caso de Braden, que ya en los años 30 había chocado con la diplomacia argentina, esa vez en la persona del canciller Carlos Saavedra Lamas. Paso a paso, vinculando magistralmente las fuentes con el análisis crítico, los autores logran una reconstrucción histórica que no deja mitos en pie. Creo que en esta reseña resulta especialmente interesante referirse a tres de esos lugares comunes de vida excesivamente larga.

En primer lugar: la pretensión del sedicente “realismo” de entender la política internacional como la interacción entre Estados que se conciben como bloques homogéneos. Lo que este libro muestra claramente es que en cada encrucijada deben ser estudiados cuidadosamente los diferentes sectores internos (coaliciones de políticos y diplomáticos, militares y grupos empresarios) y las recurrentes tensiones entre “duros” y “blandos”, entre rupturistas y negociadores. Y esto vale tanto para Buenos Aires como para Washington.

En segundo lugar, la vieja tesis del supuesto carácter “nazi” del golpe militar del 4 de junio de 1943. Conectando su propia investigación con los resultados sólidos alcanzados por la historiografía a nivel internacional, los autores llegan a la conclusión de que el tópico de la “amenaza nazi” fue “la modalidad principal que adoptó la legitimación de la acción política de los Estados Unidos en el conflicto con la Argentina, buscando el logro de sus objetivos y la expansión de su influencia, en la que trató de doblegar a su voluntad a sucesivos regímenes argentinos: Castillo, la junta militar de 1943, Perón”. (p.83)

Por último, la supuesta falta de adecuación de una Argentina excesivamente arrogante al escenario internacional de los años cuarenta y cincuenta. Variaciones de esta tesis se encuentran en una parte no despreciable de la lo que se viene publicando desde hace décadas, a menudo con el agregado conjetural de que una política argentina más “adecuada” y humilde hubiese dado como resultado vaya a saber qué maravillosos beneficios para los argentinos. Sin embargo, ni la historia comparada con otros países en situaciones aproximadamente similares, ni el estudio detallado de las relaciones argentino-norteamericanas han logrado producir muchas pruebas que avalen esas apreciaciones. En ese sentido, las conclusiones a que llegan Rapoport y Spiguel después de su paciente indagación resultan un verdadero ejemplo de rigor analítico y apego a la evidencia documental. En el “desafío nacionalista” de la política exterior peronista no fueron lo fundamental ni el “estilo de gobierno”, ni “un liderazgo circunstancial”, ni una “inadecuación”. En realidad, tanto el oficialismo como “buena parte de la oposición” consideraban que “el carácter periférico y dependiente del país respecto de las grandes potencias” no era una “condición natural”, sino un obstáculo que debía ser superado. En el desarrollo concreto de la política exterior, esta percepción básica (que no parece haber estado muy alejada de la realidad) no pudo manifestarse en una sola línea, sino que tuvo cambios de instrumentación, dado el “el contexto de una determinada correlación de fuerzas a nivel nacional e internacional.” En el diseño de esos cambios “la gama de opciones” disponibles estaba determinada también por el “sustento social y objetivos del proyecto gubernamental.” Habiéndose dado esas condiciones, no resulta sorprendente que quedasen descartadas, “tanto una ruptura radical del tipo de vinculación externa que había caracterizado a la Argentina, como una ‘asociación estable’ que supusiera la subordinación periférica a una gran potencia.” (p.447)

Como siempre que se escribe historia, nadie puede pretender que se ha dicho alguna vez “la última palabra”. Pero de este libro cabe decir que sus excepcionales características lo convierten en referencia obligatoria para todos los que pretendan informarse seriamente y entender en profundidad no sólo las relaciones entre Estados Unidos y el primer peronismo, sino también sus proyecciones hasta nuestro tiempo.

Cristian Buchrucker – Professor de la Universidad Nacional de Cuyo (Argentina) y investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – Conicet ( [email protected]).

 

Russia: a new cold war? (T), Vallentine Mitchell Academic | Michel Korinman e John Laughland

Estendendo-se da Europa à Ásia, com uma trajetória marcada por dois séculos de história, a Rússia busca na atualidade o reconhecimento do seu status como potência e a redefinição da sua identidade enquanto país reemergente depois da imediata crise do pós-Guerra Fria. De império soviético à nação russa, Estado em reconstrução, à luz de tal dualidade, o país que fora palco de grandes transformações revolucionárias, vivenciou nessas quase duas décadas, uma situação de rápida mudança. Frente a essa reconfiguração, velhos dilemas se misturam aos novos desafios reascendendo o debate sobre qual é o papel da Rússia. Dessa forma, terá a Rússia perspicácia e desenvoltura para enfrentar uma ordem em transformação ou se renderá às suas heranças e bases ideológicas soviéticas? Ou ainda buscará um caminho diferente como sugerem alguns autores?

Para tentar responder a estes questionamento, o livro intitulado Russia: a new Cold War? é produto de uma cooperação entre o Daedalos Institute of Geopolitics em Chiore e o OGENI (Geopolitical Observatory for Nations and the World) da Sorbonne em Paris, sendo organizado por Michel Korinman e John Laughlan. Em seu conjunto, é uma coletânea de artigos, cujos assuntos diversos são divididos em nove blocos, os quais de uma maneira ou de outra, buscam refletir acerca da pergunta título da obra e discorrem sobre as movimentações russas do Ocidente ao Oriente. O livro traz ao leitor questões concernentes aos problemas internos como demografia, território, economia, identidade, bem como as perspectivas e desafios à nação russa. Leia Mais

The Global Cold War | Odd Arne Westad

Ao nos aproximarmos do vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlin, a prolixidade acadêmica acerca da Guerra Fria continua firme e forte. Assim como The Cold War: A New History, de John Gaddis (resenhado na edição 1/2006 desta revista), o livro de Arne Westad traz novas interpretações, baseadas em arquivos recém-abertos dos Estados Unidos, da União Soviética e de diversos países do Terceiro Mundo, que desafiam antigas visões da Guerra Fria.

Um dos principais problemas para estudiosos da Guerra Fria é a sua definição: ela pode ser vista como um período, um conflito ideológico, uma disputa político-militar ou de uma série de outras formas. Westad propõe estudá-la como um conflito verdadeiramente global entre duas superpotências, cada uma portadora de um projeto ideológico universalista da modernidade. O grande palco da disputa entre esses dois arautos da modernidade – que o autor caracteriza, não sem ironia, como o “império da liberdade” (EUA) e o “império da justiça” (URSS) – teria sido o Terceiro Mundo, que ao emergir do processo de descolonização, buscava alcançar a independência política e o desenvolvimento econômico. O livro é concebido, portanto, como uma história do intervencionismo das superpotências no Terceiro Mundo ao longo da Guerra Fria. Leia Mais

For the soul of mankind: the United States, the Soviet Union, and the Cold War | Melvyn P. Leffler

Melvyn Leffler é um prolífico autor, tendo já redigido centenas de páginas sobre a Guerra Fria. Seu livro sobre a doutrina de segurança nacional do governo Truman é um dos maiores trabalhos sobre a política externa americana do século XX; seus embates com o historiador John Lewis Gaddis são igualmente relevantes para a historiografia americana. Tendo se dedicado tanto ao tema, podemos nos perguntar por que esse autor decidiu escrever outro livro sobre a Guerra Fria.

São duas razoes que justificam a publicação de mais um volume sobre o período. A primeira é que o autor, assim como outros estudiosos do período, não previu o fim do conflito. Subitamente, o mundo no qual ele vivia e estudava deixara de existir. Poucas pessoas anteciparam o fim; um grupo menor ainda de indivíduos conseguiu predizer em quais condições e como essa transição se daria. Para Leffler, além do desafio de entender por que o conflito terminou, há uma outra questão subjacente bem mais complexa e que merece um exame mais detido: se a Guerra Fria terminou ao final da década de 1980 em um processo aparentemente tão simples, por que isso não ocorreu antes? Leia Mais

The Gaullist Attack on Canada, 1967-1997 – BOSCHER (CSS)

BOSHER, J. F. The Gaullist Attack on Canada, 1967-1997. Montreal & Kingston: McGill-Queen’s University Press, 2000. 331p. Resenha de: LeVOS, Ernest. Canadian Social Studies, v.36, n.1, 2002.

In this well-researched book, one learns about Charles de Gaulle and the Gaullist aggression on Quebec between 1967 and 1977. Many Quebecois were aware of de Gaulle’s French imperial connections, but separatists in Quebec, encouraged by his famous Vive la Quebec libre! speech in July 1967, ignored the fact that de Gaulle interpreted history to serve his own political ambitions. There is little literature supporting the idea that de Gaulle was an inspiration to the Quebec separatists, and this book underscores that paucity. With cogent arguments, Bosher fills a large gap in the history of Quebec separatism.

In the 1960s, during the Cold War and the period of decolonization, de Gaulle identified with the liberal and national aspirations of the Quiet Revolution in Quebec (p.14). France and Quebec initially cooperated to establish agencies to achieve social, economic and political reform, but de Gaulle had an ulterior motive to include Quebec within the French realm. He believed that France would conduct cultural and clandestine activities, through the efforts of the French Quebec mafia (that included civil servants, diplomats, government officials, parliamentarians and associates of de Gaulle), to promote an independent French-speaking republic in North America (p.29). The Acadians in New Brunswick were also part of de Gaulle’s liberation schemes. France (and the Gaullists) offered the Acadians cultural gifts and scholarships that were obviously tinged with emotional and political motives.

Eventually, the Canadian government began to watch the French Quebec mafia that supported the separatist movement and the Parti Quebecois. While the RCMP carried out surveillance on separatists, it was the FLQ Crisis in October 1970 which alerted Canadian government officials that the Gaullist activities in Quebec were more than a part of the normal intellectual process in the world of la francophonie (p.142).

Part three of the book, focusing on imperialistic dreams, offers additional and succinct insights into the mind of Charles de Gaulle. His was to be a cultural and an economic empire based on language, history, and misty feelings of cultural affinity (p.180). In chapters 14 and 15, Bosher also critically explores de Gaulle’s (and Gaullist) thinking (p.216). de Gaulle reinvented the past and three points are evident. First, de Gaulle was a revisionist. Where Allied sacrifices are concerned, he ignored Canada’s contributions at Vimy Ridge and Dieppe. Second, by an act of faith (p. 221), the French were called upon to believe in their leader and his imperial dreams. He had a sense of history that many French never ceased to admire. Third, his views of history were propagandistic and he had no qualms about distorting past events to promote present political objectives. de Gaulle’s was a home-brewed version of Quebec history (p. 230). It was clear that he interpreted history to suit his own goals and schemes.

The Guallist Attack on Canada, 1967-1997 was written for a specialized audience. In addition to individuals interested in politics and foreign policy, senior university students and students of Quebec history will find the book a useful resource. Students in introductory Canadian history and political science courses will appreciate reading about the Gaullist support for the FLQ. While the appendix with the chronology of events is useful some may find the list of names confusing. That aside, readers will find the lessons Bosher draws, thirty years after de Gaulle’s 1967 speech, enlightening.

Ernest LeVos – Grant MacEwan College. Edmonton, Alberta.

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