A História Medieval na formação docente e na educação básica: experiências, propostas e reflexões atuais | Ponta de Lança | 2022

Detalhe de capa de A Historia Medieval entre a formacao de professores e o ensino na Educacao Basica no seculo XXI Imagem Luciano Jose Viana 2021
Detalhe de capa de A História Medieval entre a formação de professores e o ensino na Educação Básica no século XXI | Imagem (Luciano José Viana, 2021)

Nas últimas décadas, a História Medieval como disciplina nos cursos de história nas universidades brasileiras consolidou-se como uma área com amplas atividades, ou seja, apresentando-se não somente como disciplina (BOVO, 2018), mas também sendo tema de congressos, seminários, grupos de estudo e pesquisa, além de ser tema de diversas revistas acadêmicas que trazem publicações especializadas sobre o período. Em termos de formação curricular e de materiais didáticos, o período medieval também tem sido intensamente discutido e trabalhado, o que demonstra a preocupação por parte dos especialistas desta área e dos docentes que atuam com esta disciplina em cursos universitários em problematizar tais aspectos (SILVA, 2011; PEREIRA, 2017; LIMA, 2019).

Além disso, a História Medieval também tem sido objeto de publicações recentes que trazem diversas propostas na abordagem deste período, não somente na formação de professores, mas também na educação básica (VIANNA, 2021), assim como a interação da mesma com propostas historiográficas recentes que incidem sobre o ensino de História na atualidade (BUENO; BIRRO, BOY, 2020). De todas as formas, esta disciplina se apresenta nos currículos dos cursos de história das universidades brasileiras, onde docentes problematizam diversas perspectivas advindas das práticas de ensino e pesquisa referentes a este período (MIATELLO, 2017). Leia Mais

Ensino de História, Livro Didático, Formação de Professores | Escritas do Tempo | 2020

O ensino de história entre lutas, alegrias e esperanças

Em sua última obra publicada em vida, o educador Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia sentencia que para ensinar é necessário que exista uma relação movida pela alegria e esperança. Trata-se da esperança — do verbo esperançar — como uma construção urdida nas relações sociais das lutas cotidianas que concorre como força mobilizadora para o agir no dia a dia. Para ele “a esperança é um condimento indispensável à experiência histórica” (FREIRE, 2019, p. 71), pois sem ela estaríamos limitados a viver o tempo sem problematizá-lo, como se não fosse o tempo uma construção humana de homens e mulheres em seus fazeres ordinários. Por extensão, sem a esperança prevaleceria uma concepção determinista da história onde tudo já estaria dado, definido e, portanto, nada poderia ser feito no presente para projetarmos nossas possibilidades de futuros.

Em nossa experiência de tempo presente, parece importante nos avizinhar das reflexões — tão combatidas — do pensador Paulo Freire. Esperançar-se com a atividade docente, com o ensino de História, continua sendo uma possibilidade potente na luta pela construção de uma sociedade menos desigual. Esperançar-se por um aprender inquietante, prenhe de questionamentos sobre o tempo; esperançar-se por uma aprendizagem que não aceite passados, presentes e futuros determinados, que esteja fecunda de problematizações, se torna necessário e vital nos dias atuais.

Esses sentimentos brotam também porque este dossiê (o segundo na sequência de publicação da Revista Escritas do Tempo que tematiza o Ensino de História) demonstra sinais do crescimento e do fortalecimento das pesquisas em Ensino de História, e não apenas daquelas sobre ensino de História, como defende Carmen Teresa Gabriel (2019). Assim, em alguma medida, este dossiê pode ser apreendido como um vestígio, um sinal da potencialidade que se vem constituindo o campo do Ensino de História.

Este dossiê fecha o ano de publicação de 2020; um ano marcado pelas experiências dolorosas que resultaram em mais de 180 mil vidas ceifadas pela pandemia causada pela Covid-19. Esses dados não levam em consideração as vidas perdidas que não entraram na contagem oficial, nem aquelas cuja causa da morte foi atribuída à síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome). Portanto, já é motivo de alegria e esperança o fato de chegarmos ao fim do ano de 2020 vivos — mesmo com a lida relacionada às perdas pessoais e coletivas — e estarmos com saúde, produzindo reflexões sobre o Ensino de História.

Todavia, também experienciamos sentimentos de preocupação, sobretudo com o atual cenário político do Brasil, que mostra a crescente polarização e ascensão de posturas e práticas fascistas no País. As políticas públicas de Educação igualmente despertam preocupação, em especial a política direcionada à formação do professor. Uma formação que se fundamenta na Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) nº 2, de 20 de dezembro de 2019, que estabelece as diretrizes para a formação docente.

Estaremos alertas e atentos para a disputa desses espaços promotores de projetos políticos, em especial daqueles direcionados à formação do professor, ao ensino de História e aos livros didáticos. Nessa luta, nossa arma é o conhecimento. Nosso combate ocorrerá por meio da reflexão, do debate e do uso ético do saber como um elemento de poder. Nesses termos, é fundamental ampliar e socializar o conhecimento especializado para instrumentalizar o profissional e garantir o bom combate. O campo do Ensino de História tem-se tornado fértil, potente e disputado. Sua fertilidade pode ser percebida com a quantidade e a qualidade das pesquisas e publicações que vêm a público em forma de monografias, dissertações, teses, livros, dossiês, seminários, artigos, palestras, lives, blogs e uma infinidade de outros formatos que oferecem diferentes narrativas sobre o ensino de História.

O campo tem ofertado uma ampla e diversificada produção e seria enfadonho elencar, aqui, uma lista. Basta reforçar que, como objeto de estudo, a pluralidade temática também é disputada por diferentes leituras, interpretações, percepções teóricometodológicas e, inclusive, por diferentes projetos políticos de governo, como bem destacou Christian Laville (1999) ao lançar mão do conceito “guerras de narrativas”.

O Ensino de História, enquanto campo de produção de conhecimento, não é caracterizado pela prática de consensos. Estamos atuando em um espaço marcado pelo dissenso. São distintas as concepções, abordagens, temáticas, aportes metodológicos, referenciais teóricos e epistêmicos que transitam pela História, Educação, Didática, Psicologia da aprendizagem, Linguagem, para mencionar apenas alguns. Mas talvez, possamos falar que exista algum consenso que a História — como lugar de produção de saber e espaço de formação docente —, precisa ressignificar as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura. Esse entendimento não reside porque temos uma nova (e preocupante) resolução que determina a adequação dos projetos políticos pedagógicos dos cursos. Mas — e principalmente — porque há um certo entendimento entre professores que atuam na formação de outros professores de que o modelo de formação estruturado na configuração quadripartite europeia — que ainda prevalece como mostram as pesquisa de Mauro Coelho e Wilma Baia (2018), Flávia Caimi (2013 e 2015), Margarida de Oliveira e Itamar Freitas (2013) e Erinaldo Cavalcanti (2018, 2020a e 2020b) —, já não atende às demandas do chamado tempo presente no que tange à formação do profissional de História. Ou seja, a formação docente, em História, precisa ocupar os proscênios do centro de interesse dessa ciência. As questões que envolvem as diferentes narrativas que disputam a produção de sentido, no cotidiano de homens, mulheres, crianças e adolescentes (o potencial público a ser atendido pelo professor de História) precisam ser objeto de aprendizagem durante a formação inicial desse professor. Da mesma forma, debater e problematizar o universo de práticas constituidoras do livro didático — que ainda continua ocupando importante posição nas tarefas desempenhadas pelos professores da Educação Básica — é algo que precisa ser tematizado durante o período de formação inicial dessa licenciatura.

As reflexões que apresentamos, neste dossiê, se constituem em ricas possibilidades de ampliação do debate que envolve essas questões. Assim, esta publicação está composta por 14 artigos, dos quais, 10 compõem o referido dossiê, 4 fazem parte da sessão Artigos livres, além de contarmos com uma resenha.

Abrindo o dossiê, temos o artigo do professor Almir Félix Batista de Oliveira — Livros didáticos e formação de professores: questões para o ensino de história — no qual amplia-se a reflexão e apresenta-se uma importante problematização acerca do livro didático de História e da formação de docentes, tanto a do profissional de História, responsável pelo ensino da História aos alunos do Ensino Fundamental II e Médio, como a do chamado professor generalista, pontuando a necessidade de se tematizar o livro didático na formação inicial de professores.

À sequência, temos o artigo assinado pela professora Camila Corrêa e Silva de Freitas As representações da catequese jesuítica nos livros do PNLD: abordagens do passado colonial e possibilidades de aprendizagem histórica. Nele, a autora analisa algumas representações a partir de um conjunto de narrativas didáticas sobre o chamado “período colonial brasileiro”. O foco de atenção é direcionado para a atuação da Companhia de Jesus. São tematizados os livros de História dos sétimos anos de três coleções didáticas, a partir dos quais se analisa, também, como essas narrativas podem representar possibilidades de aprendizagem histórica.

No artigo seguinte, intitulado Da construção do estereótipo de selvagem à representação do indígena brasileiro no livro didático de História, a professora Roberta Fernandes Santos amplia a discussão sobre como se construiu o estereótipo de “selvagem”, atribuído aos indígenas. A autora, ainda, destaca a importância da Constituição de 1988 e, posteriormente, da Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, ao ampliar as condições de maior inserção dos indígenas na História ensinada no Brasil, contribuindo para ressignificar o lugar por eles ocupado, ampliar sua cidadania e proteger seu direito à diversidade.

À continuação, no artigo intitulado A Revolução Cubana: representações generificadas em um livro didático de História, a professora Andréa Mazurok Schactae analisa as representações construídas em relação à Revolução Cubana em um livro didático de História do ensino médio, usado no Instituto Federal do Paraná (IFPR), Campus Telêmaco Borba, e publicado em edições de 2013 e 2016. A autora também analisa de que forma a categoria “gênero” constituiu-se como uma estratégia fecunda para entender e problematizar algumas das representações acerca da revolução cubana.

A formação do professor de História é o foco de análise do artigo seguinte. Assinado pela professora Renilda Vicenzi e pelo professor Bruno Antonio Picolli, o artigo Formação de professores de História: implicações a partir da BNCC e da DCNBNC tem o foco central da sua reflexão direcionado à ampliação do debate sobre as implicações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (DCNBNC) na formação de professores de História. Por meio da pesquisa e da análise realizadas, os autores chegam à conclusão de que as referidas reformas impactam com sérias implicações a formação profissional do professor de História.

A seguir, o professor Leandro Antonio de Almeida também focaliza a formação docente em História, no seu artigo, A formação docente em laboratórios universitários de ensino de história através da produção de materiais didáticos: a experiência do LEHRB-UFRB. Nele, o autor apresenta uma reflexão a partir de suas experiências desenvolvidas no laboratório da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). São tematizadas as atividades voltadas à formação docente inicial por meio de projetos desenvolvidos entre 2009 e 2017, em especial aqueles direcionados à produção de materiais didáticos. As ações relatadas e analisadas mostram a complexidade das experiências costuradas pela prática interdisciplinar, de modo a ampliar a construção dos saberes históricos e pedagógicos dos professores participantes dos projetos e em formação.

Na sequência, temos o artigo Um olhar sobre o ensino de História nos museus de ciência, assinado pelas professoras Déborah Roberta Santiago Chaves Vilela, Zenaide Gregório Alves e Rozeane Porto Diniz. As autoras centram sua atenção nos museus enquanto espaços culturalmente potentes para construir e ampliar suas relações com as práticas educativas. Em sintonia com documentos formais, como a Declaração do Rio de Janeiro de 1958 e outros decretos/leis, como a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, e as Diretrizes Curriculares Nacionais (Base Nacional Comum Curricular e Matriz do Exame Nacional do Ensino Médio), as autoras exploram as possibilidades de interação e construção de saberes, como práticas potencialmente ricas para o Ensino de História entre os museus de ciência, a chamada cultura científica e a relação sociedade-História.

O artigo seguinte, Didática da história, consciência e emancipação: uma reflexão sobre os limites materiais do ensino crítico da História, é assinado pelos professores Filipe Boechat e Fernando Viana Costa no qual os autores se propõem a ampliar o debate acerca das categorias “consciência”, “alienação” e “ideologia” situando a reflexão no âmbito do debate da Didática da História, em especial através da problematização de dois dos principais intelectuais alemães que tematizam a questão.

Em continuidade temos o artigo O irreconciliável nos editais do PNLD: eurocentrismo, cidadania e ensino de História. Assinado pela professora Taissa Cordeiro Bichara, o texto problematiza os sentidos atribuídos às categorias eurocentrismo, cidadania e ensino de História, encaminhados pelos editais de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas e literárias. Esses editais, publicados no Diário Oficial da União pelo Ministério da Educação (MEC), submetidos ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e destinados aos Anos Finais do Ensino Fundamental entre 1996 e 2018. Destaca-se, no artigo, que a construção histórica da civilização europeia continua como o principal referente, que representa outras civilizações como inferiores ou submissas à história ocidental branca e cristã.

Finalizando o dossiê, a professora Luiza Sarraff assina o artigo A narrativa didática sob a ótica da imputação causal singular, a autora estabelece uma reflexão entre história e narrativa em diálogo direto com Paul Ricoeur para problematizar a análise da narrativa de um livro didático, aprovado pelo Programa Nacional do Livro Didático, enfatizando o aspecto da imputação causal singular, na esteira do que defende o filósofo francês.

Temos, ainda, quatro importantes artigos que contribuem com valiosas discussões na sessão Artigos Livres. O primeiro é Panoramas recentes do feminismo na interseccionalidade, de autoria da professora do departamento de sociologia da Universidade de Montreal, Sirma Bilge. Originalmente, o artigo foi redigido em inglês, cujo título é Recent feminist outlooks on intersectionality, e tem como foco a ampliação da discussão, teorizando o conceito “interseccionalidade” a partir da operacionalização de gênero em estudos feministas.

À sequência, Marcos Antonio Batista da Silva assina o artigo Discursos étnicoraciais sobre o acesso e a permanência na Pós-graduação, em que analisa trajetórias de estudantes negros no ensino superior/pós-graduação na sociedade brasileira, oferecendo contribuições para as discussões sobre importantes temáticas, como relações étnicoraciais, políticas públicas, família e educação.

Entre datas, festas e compêndios: a História como pedagogia cívica na Amazônia no início do século XX, é o artigo seguinte assinado pelo professor Silvio Ferreira Rodrigues no qual ele analisa um conjunto de relações e estratégias políticas utilizadas por um grupo de intelectuais ligados ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará, para refletir como História foi mobilizada como estratégia de construção e consolidação dos laços de pertença ao projeto político de pátria brasileira defendido por aqueles intelectuais.

Finalizando a sessão, está o artigo Biografia, gênero e carnaval: uma rainha nos festejos de momo na Porto Alegre do início do século XX, da professora Caroline Pereira Leal. Nele, a autora focaliza a trajetória da personagem Maria Elvira Werna Coelho Roxo, rainha da Sociedade Carnavalesca Os Venezianos, ampliando as discussões sobre as relações construídas pelas mulheres, que fazem compreender e potencializar a visibilidade sobre elas enquanto sujeitos históricos.

Por fim o professor Marcos Rodrigues assina a resenha A encruzilhada das ações afirmativas do livro Filosofia Africana: ancestralidade e encantamento como inspirações formativas para o ensino das africanidades de Adilbênia Freire Machado na qual o professor analisa as importantes contribuições presentes no livro no que tange à problematização das ações afirmativas.

Desejamos a todos uma boa leitura e aproveitamento do dossiê da revista Escritas do Tempo e suas propostas de reflexão. Que a esperança e a alegria façam muito sentido e promovam muitas inquietações em 2021, a partir do controle da Covid19 e que possamos vislumbrar um horizonte de possíveis mudanças em políticas ameaçadoras à educação, bem como à saúde e vida dos brasileiros e brasileiras.

Referências

CAVALCANTI, Erinaldo. A história encastelada e o ensino encurralado: reflexões sobre a formação docente dos professores de história. Revista Educar em Revista, v. 34, n. 72, 2018.

_______. La formación docente inicial del profesor de Historia en Brasil: temas, reflexiones y desafíos. Revista Ciencias Sociales y Educación, v. 9, n. 18, 2020a.

_______. O que deve aprender o professor de História? Reflexões sobre aprendizagem, ensino e formação docente inicial. Revista Roteiro, v. 45, e21829, 2020b.

CAIMI, Flávia. A licenciatura em História frente às atuais políticas públicas de formação de professores: um olhar sobre as definições curriculares. Revista Latinoamericana de História, v. 2, n. 6, p. 193-209, 2013.

_______. O que precisa saber um professor de história? Revista História & Ensino, v. 21, n. 2, p. 105-124, 2015.

COELHO, Mauro Cezar e COELHO, Wilma Baia de Nazaré. As licenciaturas em História e a Lei 10.639/03 – percursos de formação para o trato com a diferença? Educação em Revista, v. 34, e192224, 2018.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.

GABRIEL, Carmen Teresa. Pesquisa em Ensino de História: desafios contemporâneos de um campo de investigação. In: MONTEIRO, Ana Maria e RAJELO, Adriana (org.). Cartografias da pesquisa em Ensino de História, p. 143-161, Rio de Janeiro: Mauad X, 2019.

LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História. Revista Brasileira de História, v. 19, n. 38, p. 125-138, 1999.

OLIVEIRA, Margarida Dias de; FREITAS, Itamar. Desafios da formação inicial para a docência em história. Revista História Hoje, v. 2, n. 3, p. 131-147, 2013.

Erinaldo Vicente Cavalcanti – Professor Adjunto da Faculdade de História e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará [Unifesspa], coordenador do laboratório e grupo de pesquisa iTemnpo e editor da Revista Escritas do Tempo. E-mail: [email protected]

Helenice Aparecida Bastos Rocha – Professora Adjunta na Faculdade de Formação de Professores, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro [UERJ/FFP]. E-mail: [email protected]

 

CAVALCANTI, Erinaldo Vicente; ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Apresentação. Escritas do Tempo, Pará, v.2, n.6, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Formação docente, Gênero e Sexualidade na (e para a) Formação Docente / Formação Docente / 2020.

A Revista Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores (RBPFP) – é uma publicação do Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT8), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) publicada em parceria da Autêntica Editora. Esta publicação refere-se ao segundo quadrimestre de 2020 – número 24, do volume 12 maio – agosto de 2020.

Este segundo número de 2020 apresenta uma discussão inédita nas páginas da RBPFP – trata-se do dossiê com um tema palpitante abrindo um debate sobre os temas de Gênero e Sexualidade na/para a Formação Docente. Organizado por duas pesquisadoras de renome internacional nos seus respectivos campos de estudos. Margareth Diniz (no campo da Psicanálise e Educação) nossa colega do GT8 e a Dra Ana Guil da Universidade de Sevilla (pesquisadora no campo dos Estudos de Gênero).

Os artigos referentes ao Dossiê que abrem este número conta com a colaboração de colegas da América Latina e Europa e serão apresentados oportunamente no artigo introdutório que contextualizam as temáticas (Gênero e Sexualidade) no campo da Formação Docente da autoria das pesquisadoras convidadas para coordenar o referido Dossiê.

Chamamos a atenção do leitor para este número porque ele traz para dentro do campo de pesquisa sobre a formação do professor, temas com pouca densidade nossos debates e nas pesquisas, os quais vêm recebendo ecos na área mãe – a Educação.

Não se pode dizer que está totalmente ausente, a exemplo disso que se pode indicar esforços aqui e ali da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. A questão de gênero na formação docente foi registrada em um importante livro produzido pelo grupo de Estudos da Faculdade de Educação da USP “Docência, memória e gênero” (1997), do qual participaram as professoras Denice Catani, Belmira Bueno e Cynthia Souza, que se constituiu em material de um mini curso oferecido pelo GT 08 responsável pela RBPFP.

Uma das temáticas entra pela segunda vez em pauta da RBPFP, a primeira veio com esforço da mesma pesquisadora que assina este dossiê, no vol.3, n4 de 2011. Que informava: A profusão de estudos sobre as bases do processo de feminização do magistério, suas implicações na representação social sobre essa categoria e em sua desvalorização no mercado das profissões, assim como as análises sobre a origem social e as discussões em torno do empobrecimento do/a professor/a, têm sido mais consideradas nas propostas oficiais destinadas a formar docentes.

Embora esses aspectos sejam extremamente relevantes, é necessário pensar a formação de professores/as considerando também as diferentes formas pelas quais homens, mulheres, negros, brancos, índios, heterossexuais, homossexuais e indivíduos formados em tradições religiosas diversas experenciam o mundo. Além desses fatores, sua experiência de vida e o modo como se integram e participam da sociedade têm profundas implicações nas formas de ser e agir dos/ as docentes, portanto não se pode desconsiderar as influências dos ambientes socioculturais em que circulam, os bens culturais a que tiveram e têm acesso, enfim, o capital cultural que podem mobilizar no exercício da docência (Diniz, el.al. 2011, p.17).

É importante considerar que ao falar de gênero estamos nos referindo à feminilidades e a masculinidades (sempre no plural) de acordo com Louro (2006) e a potencialidade do conceito talvez resida exatamente nesta noção, a de que se trata de uma construção cultural contínua, sempre inconclusa e relacional, atualmente bastante usual, permitindo-nos avançar das análises binaristas e polarizadoras entre homens e mulheres, buscando interrogar análises das pesquisas no campo da formação docente que, por vezes, reiteram posições hierarquizadoras, cuja polaridade masculina sai em vantagem.

Outro ponto que o dossiê destaca e a busca de inserção dessas categorias conceptuais tais como gênero e sexualidade, tendo em vista sua vertente relacional, pois, estas categorias de forma geral no campo da educação, e, em especial no campo da formação docente, ainda percebemos um ausência destes temas no campo, conforme demonstram as autoras em seu artigo de introdução ao dossiê. Em fim, esperamos que este dossiê, seja para o campo da pesquisa sobre a Formação de Professores (as) um tema provocador e quiçá, desperte jovens pesquisadores para estas temáticas.

Este número conta também com quatro artigos da demanda de submissão geral. Dois internacionais que vem da comunidade acadêmica de Língua Portuguesa. O primeiro da lavra de três colegas da Universidade de Aveiro em Portugal – Jane Machado, Ana Isabel Andrade e Rui Neves que trazem para o debate “Os planos curriculares de cursos em supervisão: um contributo para uma epistemologia da prática” e o segundo dos colegas das universidades de Licurgo e Rovuna em Moçambique. África, Geraldo Deixa e Rosalino Chicote que abordam sobre a formação inicial dos professores no artigo intitulado “A influência da indução de professores principiantes na qualidade de ensino no 1º grau do Ensino Básico em Moçambique”.

Na sequência se publica dois artigos nacionais também de demanda geral: um da região sul, de Suelen A.

Felicetti e Irinéa de Lourdes Batista, colegas de Universidade Estadual de Londrina (UEL), sobre a formação de professores para a educação inclusiva de alunos com deficiências. Um artigo de revisão na literatura. E por último, contamos com um artigo de professoras da Universidade Federal do Ceará sobre a “Docência na educação infantil: Diálogo entre Filosofia e Pscicomotricidade relacional” da lavra das professoras Rosalina R.A Morais; Silvana M.S.Morais e Ana M.M.C Frota.

Esperamos que este número que ora apresentamos da Formação Docente –Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores, seja relevante para o debate no campo, e possibilite a reflexão para os investigadores que atuam pesquisando sobre a Formação de Professores na América Latina.

Agradecemos atenção do leitor e o convidamos à leitura.

Referências

DINIZ, Margareth. A formação e a condição docente num contexto de complexidade e diversidade. In. Revista Brasileira de Pesquisa sobre a Formação de Professores. Belo Horizonte, v. 03, n. 04, p. 13-22, jan./jul. 2011.

REVISTA BRASILEIRA DE PESQUISA SOBRE FORMAÇÃODE PROFESSORES. volume 3., n.4. Belo Horizonte, 2011.

CATANI. D.B.; BUENO, B.O.; SOUSA, C.P.; SOUZA, MCCC. Docência, Memória e Gênero. Estudos sobre a formação. São Paulo. Ed. Escrituras, 1997.

José Rubens Lima Jardilino – Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Belo Horizonte, Minas Gerais – Brasil.


JARDINLINO, José Rubens lima. Apresentação. Formação Docente. Belo Horizonte, v. 12, n. 24, p. 9-12, mai./ago. 2020. Acessar publicação original [IF]

Formación inicial docente: avances, nudos críticos y desafios | Sophia Austral | 2020

La formación inicial docente en Chile ha experimentado en las últimas décadas una serie de reformas, promovidas, en ciertos casos, desde las propias universidades, y en otras ocasiones, desde el Estado. En ambos casos, el objetivo ha sido el mismo, fortalecer de manera sustancial la calidad de la formación de profesoras y profesores. A pesar de ello, se mantienen múltiples nudos críticos en el sistema de formación inicial docente, así como una serie de desafíos de los que las universidades deben hacerse cargo.

En el presente dossier, se abordan temáticas que consideran diversas aristas de la formación inicial docente, en un proceso que abarca, temporalmente, una proyección más amplia que la mera duración de la carrera universitaria. En efecto, las instituciones formadoras de profesoras y profesores se encuentran hoy ante desafíos que hace algunos años no necesariamente asumían, pero que son actualmente insoslayables. Ejemplos de tales desafíos lo constituyen, por un lado, detectar tempranamente, durante la enseñanza secundaria, a estudiantes de buen rendimiento académico y motivados por la carrera pedogógica, con el fin de atraerlos. Por otro lado, en el extremo opuesto, desde el punto de vista temporal, se encuentra el desafío de establecer estrategias y dispositivos que permitan insertar de la manera más fluida posible a los recién egresados al mercado laboral. Leia Mais

Grupos de Pesquisa Sobre Formação de Professores no Brasil (II) / Formação Docente / 2019

Esse Dossiê reúne artigos de grupos de pesquisa sobre formação de professores, resultado do III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil, que ocorreu entre os dias 3 e 4 de outubro de 2016, na cidade de Guarulhos, evento vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil foi organizado pelos membros do Grupo de Trabalho (GT) 8 – Formação de Professores, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd. O evento contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, da ANPEd e da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo – FAP Unifesp.

Os membros do GT 8 têm como principal preocupação oportunizar aos pesquisadores, de todo o Brasil, a apresentação de seus estudos e pesquisas para a comunidade científica, durante as reuniões nacionais, em uma perspectiva de ampliar o debate e socializar a produção de conhecimento do campo da educação e da formação de professores. Os relatórios emitidos pela coordenação do GT, tendo por base processos de avaliação ocorridos durante as reuniões nacionais da ANPEd, apontam de forma recorrente à necessidade de continuidade dos debates entre os inúmeros Grupos de Pesquisa do campo da Formação de Professores, para além do evento. Essa necessidade se firmou no propósito de acompanhar as tendências investigativas das pesquisas nacionais e internacionais, ampliando a compreensão sobre o campo.

Essa necessidade de contínuo debate e trocas de pesquisas resultou na organização dos Simpósios dos Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores, que já está na iminência de sua quarta edição. Destacase que a primeira edição do Simpósio dos Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores ocorreu em 2006, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC SP. A segunda edição, realizada em 2011, aconteceu na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC PR, e, sua terceira edição, como mencionado anteriormente, ocorreu em 2016, no Teatro Adamastor, no centro da cidade de Guarulhos, local cedido pela Secretaria Municipal de Educação para a Universidade Federal de São Paulo.

Os pesquisadores do GT 8, ao pensarem na organização do Simpósio, desde sua origem em 2006, destacaram como finalidades deste evento: a) favorecer a interação e intercâmbio entre grupos de pesquisa brasileiros e estrangeiros/internacionais; b) contribuir para o debate consubstanciado sobre a pesquisa em formação de professores na constituição da área; c) analisar, junto aos grupos de pesquisa, o movimento em que se situa a investigação sobre a formação de professores, visando a compreensão do campo e as tendências investigativas; d) colaborar com a organização e constituição de redes de pesquisa sobre o campo e a articulação da pesquisa com a educação básica e superior, fortalecendo a formação de profissionais da educação; e) avaliar a contribuição social da pesquisa sobre formação de professores para a produção de conhecimento na área da educação e para o sistema educacional brasileiro; f) discutir formas de indução de debates orientadores para a formulação de políticas públicas referentes ao campo de formação de professores.

Por ser a formação de professores um campo de pesquisa relativamente novo (DINIZ-PEREIRA, 2013; ZEICHNER, 2009), essas finalidades se firmam naquilo que os estudos sobre o campo vêm apontando. Embora haja um avanço nas pesquisas que tem como foco este tema, ainda há muito que fazer para consolidá-lo. Sua maior fragilidade encontra-se nos processos de análise e interpretação dos dados, o que indica a necessidade de “aprofundamento teórico e metodológico” para “gerar um conhecimento mais abrangente e consistente” (ANDRÉ, 2010, p.180). Para os integrantes do GT 08 da ANPEd, uma saída para enfrentar esses desafios é conhecer a produção que tem sido desenvolvida sobre o campo e problematizá-la. Uma forma de efetivar essa demanda é a propositura de eventos como os simpósios e a manutenção da Revista Formação Docente.

A dimensão política da ideia de assegurar a interação entre os grupos de pesquisa durante os intervalos entre as reuniões nacionais da ANPEd se alicerça na intenção de manter acesa a discussão sobre os principais enfrentamentos impostos pela contemporaneidade à pós-graduação e pesquisa no Brasil e, especificamente, ao campo de formação de professores. A aposta é investir em uma rede de pesquisadores que, ao dar visibilidade ao conhecimento produzido, poderá colocá-lo a serviço da busca por uma educação escolar pública de qualidade.

Nessa direção, o público-alvo dos três Simpósios realizados (2006, 2011 e 2016), foram grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil; pesquisadores da área de Educação – Formação de Professores dos Programas de Pós-Graduação em Educação; mestrandos e doutorandos na área da Educação – Formação de Professores; alunos da graduação; e, professores da Educação Básica da Rede Pública da cidade em que ocorre o evento.

No III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil, que ocorreu em 2016, foram efetivadas 50 inscrições de grupos de pesquisa. Desse total, 47 compareceram ao evento e apresentaram suas pesquisas. Grupos de diversas regiões brasileiras marcaram presença, entre os quais, trinta e três da Região Sudeste; seis da Região Sul; cinco da Região Centro-Oeste; e três da Região Nordeste. Como resultado dessas apresentações dos grupos de pesquisas sobre formação de professores é que se pensou na organização deste Dossiê, de forma que contemplasse convite aos coordenadores dos grupos de pesquisa, seguindo os seguintes critérios, essenciais para a representativa de um periódico científico em Educação, segundo a avaliação da CAPES: trabalhos aprovados e apresentados no III Simpósio com representação das cinco diferentes regiões do Brasil; com inserção de pesquisadores estrangeiros; grupos/núcleos de pesquisa com um mínimo de cinco anos de experiência; pesquisas com financiamento; dados realmente articulados ao campo da formação de professores; grupo coordenado por doutores na área da educação e vinculados à pós-graduação Stricto Sensu.

Desse modo, após análise dos 47 trabalhos apresentados, de acordo com os critérios mencionados anteriormente, foram encaminhados 21 convites, por e-mail, para os coordenadores dos grupos de pesquisa que estiveram presentes em Guarulhos (Unifesp). A organização do Dossiê recebeu 18 aceites para (re)elaborar o artigo para publicação no periódico Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores Os artigos que compõem este Dossiê foram organizados por Região do Brasil: Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Essa amostra representa a presença quantitativa dos grupos de pesquisa no evento, indicando maior incidência de trabalhos das Regiões Sudeste e Sul, e uma menor participação de grupos de pesquisa das Regiões Centro-Oeste e Nordeste. Nenhum grupo da Região Norte se apresentou no evento. Essa configuração é condizente com o número de Programas de Pós-Graduação existentes nas diferentes regiões do Brasil.  Em seu conjunto, os artigos revelam a produção do conhecimento que vem sendo produzido no campo da formação de professores no Brasil, assim como configuram um retrato das tendências investigativas nesse campo. O que, para as organizadoras do Dossiê, de certo modo, provoca nos leitores pesquisadores a necessidade de enfrentamento dos desafios impostos.

Desejamos que a leitura dos artigos de alguns dos grupos de pesquisa sobre formação de professores amplie os conhecimentos sobre as pesquisas realizadas no Brasil, bem como, desperte o interesse para participar dos próximos Simpósios organizados pelos membros do GT 8 – Formação de Professores.

Márcia de Souza Hobold

Magali Aparecida Silvestre  


HOBOLD, Márcia de Souza; SILVESTRE, Magali Aparecida. [Apresentação]. Formação Docente. Belo Horizonte, v.10, n.19, p.9, jan./jul. 2019. Acessar publicação original [IF].

O papel dos colégios de aplicação na formação docente | Revista Práticas de Linguagem | 2019

O ensino, a pesquisa e a extensão formam a natureza tríplice dos 17 Colégios de Aplicação existentes no Brasil. O presente volume, intitulado “O papel dos colégios de aplicação na formação docente”, convida o leitor a conhecer um pouco dessa vocação, por meio dos artigos e relatos de experiência que compõem este volume e que revelam a diversidade e a riqueza do trabalho dos docentes que atuam nos Caps.; da entrevista que coloca em foco o Programa Residência Docente da Universidade Federal de Juiz de Fora e da seção Fale para o Professor, que evidencia a importância dos estágios supervisionados no cotidiano dos Caps.

Os dois artigos científicos que compõem este número da Revista Práticas de Linguagem contribuem para o questionamento do papel da escola na construção de uma educação crítica e democrática, quer problematizando seu protagonismo na formação leitora, em disputa com outras influências, quer discutindo os discursos que a atravessam, a partir das perspectivas de gênero e corpo, apontando para a necessidade de mudanças de perspectivas em relação aos temas e para a criação de espaços e estratégias diferenciados de aprendizado. Leia Mais

Questões Étnicas Raciais na formação do Professor / Formação Docente / 2019  

A Revista Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores (RBPFP) – é uma publicação do Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT8), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) publicada em parceria da Autêntica Editora. Esta publicação refere-se ao número 22, do volume 11 referente aperiodicidade de Setembro – Dezembro de 2019.

Para esse número que contamos com a publicação de um dossiê de pesquisas sobre as questões Étnicas Raciais na formação do Professor, organizado pelo Prof. Dr. Erisvaldo Pereira dos Santos, quem divide comigo a apresentação desta publicação. Desta forma os artigos que compõem esse número são reflexões de temáticas do referido dossiê e de artigos da demanda espontânea, oriundos de diversas da área da formação e do ensino.

A partir da promulgação da Lei Federal nº 10.639/2003, a qual alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394) para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e da instituição das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” pelo Conselho Nacional de Educação em 2004, nos Programas de Pós-Graduação em Educação no Brasil houve um incremento de projetos de pesquisa sobre as relações étnico-raciais e o problema do racismo no Brasil. O nosso dossiê sobre formação de professores e questões étnico-raciais traz cinco (5) trabalhos que são resultados de pesquisas realizadas em Programas de Pós-Graduação em Educação nos estados de Minas Gerais, Maranhão e Pernambuco. Essas pesquisas têm como objetivo principal oferecer aportes teóricos, críticos e pedagógicos para a formação de professores. Além disso, os trabalhos nos oferecem um nível de conhecimento sobre os limites e os desafios da implementação das questões étnico-raciais no currículo escolar.

O primeiro artigo discute a questão das relações étnico-raciais na educação infantil a partir do trabalho de pedagogas do Município de Governador Valadares em Minas Gerais. Trata-se de uma investigação desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto, sob a nossa orientação e no âmbito do Grupo de Pesquisa Formação de Professores e Relações Étnico-Raciais. Os resultados da pesquisa aproximam-se de outras investigações sobre as relações étnico-raciais na Educação Infantil, remetendo para o campo de formação de professores alguns desafios relacionados às bases teóricas e também às práticas pedagógicas desenvolvidas.

O segundo artigo aborda a questão da formação docente e relações étnico-raciais, diante do desafio da implementação da Lei nº 10.639/2003 e do desenvolvimento de uma educação antirracista. Trata-se de um trabalho de pesquisa realizado sob a orientação do professor Dr. Antônio de Assis Cruz Nunes do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica da Universidade Federal do Maranhão, no âmbito do Grupo de Estudo e Pesquisa Investigações Pedagógicas Afro-brasileiras da Universidade Federal do Maranhão. A educação das relações étnico-raciais é compreendida em uma perspectiva intercultural. A educação antirracista é compreendida como um pilar para a equidade social que valorize o debate intercultural.

O Terceiro artigo aborda a temática da formação continuada para a diversidade étnico-racial discutindo suas repercussões nas práticas pedagógicas de professores da Rede Municipal de Educação do Município de Contagem em Minas Gerais. Trata-se de trabalho que teve como objetivo analisar as repercussões do curso “Grupo de Trabalho Educação para as Reações Étnico-Raciais”, coordenado pela professora Dra. Silvani dos Santos Valentimdo Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Os resultados obtidos evidenciaram uma rede de troca de informações, conhecimentos e experiências, oportunizando ressignificar saberes que resultaram em práticas pedagógicas antirracistas.

O quarto artigo também aborda a Lei nº 10.639/2003 e alguns percalços para sua implementação nas escolas da partir do atendimento voltado para o ensino das relações étnico-raciais no Maranhão. Trata-se de uma pesquisa orientada pela professora Dra. Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes do Programa de Pós- Graduação em Gestão do Ensino na Educação Básica da Universidade Federal do Maranhão. Os resultados demonstram que no Estado Maranhão, a ação de formação de professores mais significativa para a área das relações étnico-raciais vai se configurar em um curso de licenciatura em nível superior denominado de “Curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-Brasileiro”, oferecido pela universidade supracitada, no qual se oferecem aportes legais, teóricos e metodológicos para superar os percalços e desafios da implementação da Lei supracitada.

O quinto é ultimo artigo deste dossiê aborda os caminhos para a desconstrução do racismo epistêmico no ambiente escolar a partir da Lei nº 10639/2003. Trata-se de uma pesquisa orientada pela professora Dra.

Denise Maria Botelho do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Nos resultados da pesquisa, o trabalho interdisciplinar com bases nas discussões sobre colonialidade foi evidenciado como um meio importante para a desconstrução do racismo epistêmico e religioso no seio do ambiente escolar, demonstrando como para além do trabalho interdisciplinar, o racismo preciso ser estudando sob a perspectiva da interseccionalidade, pois existem múltiplos fatores que interferem e agravam o problema do racismo na sociedade.

Ao socializar os resultados dessas pesquisas, pretendemos contribuir para que a temática das relações étnico-raciais na formação docente e no ambiente escolar continue sendo investigada a partir de múltiplas abordagens teóricas e metodológicas, a fim de que o racismo seja enfrentado e combatido e a interculturalidade seja afirmada como um valor fundamental nos processos de formação humana para o bem viver na sociedade brasileira.

Os demais artigos, oriundos de demanda espontânea da revista compõem outro corpus de pesquisa e estudos de variadas abordagens no campo do Ensino e da Formação de Professores que enriquecem, sobremaneira, o debate sobre a formação do professor neste número que ora publicamos. A primeira pesquisa traz para nosso campo de investigação os resultados de uma pesquisa sobre a formação de professores na Colômbia para a Educação Básica. Dra. Marlén Rátiva-Valendia, apresenta os resultados de sua pesquisa sobre as Escolas Normais Superiores na Colômbia, que formam em cursos complementares, os professores para desempenhar a docência na transição da educação básica primaria para os estudos secundários. No que concerne ao sistema brasileiro – Fundamental II.

As pesquisas seguintes trazem temas novidosos para o campo da Formação de Professores. Trata-se de um debate pouco veiculado na área, a saber: a Formação de Professores para o trabalho com estudantes com altas capacidades/Superdotação. A pesquisa realizada pela Profa. Dra. Carina Rondini, especialista no campo da inclusão da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Rico Claro, na qual busca compreender o desafio desta temática na formação professores.

O outro artigo da professora Geilsa Costa Santos Baptista e sua orientanda Laryssa Santos da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) BA, discute a Monitoria como espaço de formação inicial do docente.

O estudo no campo da Biologia tem com foco a questão da diversidade cultural. Tema bastante original para a formação de professores, inicial e continuada.

A reflexão é seguida por mais dois (2) artigos, fundamentados na perspectiva histórica e sociológica, sobre as problemáticas da carreira docente e suas implicações na vida profissional: As questões das políticas de avaliação da profissão e do trabalho docente e as de inserção no mundo sindical da profissão professor.

Nesse bloco, a primeira pesquisa realizada no locus da experiência portuguesa, os autores. Macedo, Paixão e Tomaz da Universidade de Aveiro, Portugal, analisam e identificam fatores inerentes ao processo de avaliação dos professores que influenciam o Desenvolvimento Profissional (DP) dos docentes em exercício, assim como apresentam as potencialidades deste tipo de avaliação docente para o DP do professor. O segundo texto, é uma pesquisa de cunho históriográfico da lavra do professor Carlos Bauer e seu orientando Luiz Paiva que estudam de maneira comparada a inserção sindical de professores no Argentina, Brasil, Colômbia e México. O artigo está estruturado a partir de depoimentos de docentes participantes da vida sindical e política das entidades sindicais. A análise da atividade sindical e política prioriza o período de implementação das contrarreformas neoliberais na educação durante a década de 1990.

Agradecemos atenção do leitor e o convidamos à leitura.

José Rubens Lima Jardilino – Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Belo Horizonte, Minas Gerais – Brasil.

Erisvaldo Pereira dos Santos. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Mariana, Minas Gerais – Brasil.


JARDILINO, José Rubens Lima; SANTOS, Erisvaldo Pereira dos. Apresentação. Formação de Professores. Belo Horizonte, v.11, n.22, p.9-12, set./dez. 2019. Acessar publicação original [IF].

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Manuais disciplinares, discursos pedagógicos e formação de professores (Séculos XIX e XX) / Revista História da Educação / 2019

Neste dossiê estão reunidos artigos em que os autores envidaram esforços para compreender os aspectos instituintes presentes nos diferentes discursos pedagógicos que fundamentaram a ideia de renovação educacional desde o final do Século XIX e durante o Século XX. Para tanto, tomam como fonte privilegiada diferentes manuais disciplinares que foram muito utilizados nos processos de formação de professores internacionalmente, ainda que a análise recaia particularmente naqueles em circulação no Brasil e em Portugal, o que ocorreu, destacadamente em Escolas Normais, mas, também, em cursos superiores de formação de professores. Nessa direção, os manuais disciplinares elencados como fonte nos diferentes artigos propostos para integrar o presente dossiê incluem os de História da Educação, Psicologia Educacional, Didática, Pedagogia e Metodologias e Práticas de Ensino.

Assim, pode-se perceber que parte considerável dos manuais disciplinares publicados em uma primeira fase, que se estende até meados do Século XX comportava um ideário cientificista, evolucionista e higienista que estava acompanhado do estabelecimento e da disseminação de um código moral laico eminentemente cívico, considerado fundamental para o progresso das diferentes nações e para o alcance dos fins gerais da Humanidade. Em um segundo momento, a ênfase recaiu na dimensão científica e crítica, o que se estende até os tempos atuais. Com certeza este esforço discursivo e formativo contido nos manuais disciplinares encontrou forte ressonância, mas também resistência, o que se espera deixar evidenciado com o presente dossiê.

O primeiro artigo que integra o dossiê recebeu o título “Os temas da evolução e do progresso nos discursos da Psicologia educacional e da História da Educação”. Foi redigido por Ana Laura Godinho Lima, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Este artigo realiza a análise de um conjunto de manuais de psicologia educacional e história da educação destinados à formação docente, cujo objetivo é identificar as aproximações e os distanciamentos entre essas disciplinas no que se refere à presença dos temas da evolução e do progresso. Incide sobre manuais publicados no Brasil entre 1934 e 1972 e inspira-se nos escritos de Foucault sobre a análise do discurso. Nos manuais dessas disciplinas, observou-se a recorrência da associação entre o desenvolvimento da criança e o progresso social, frequentemente descritos à luz da teoria da recapitulação. Essa teoria não foi, contudo, objeto de consenso, mas constituiu foco de controvérsia, representando um aspecto do debate entre educadores escolanovistas e católicos no período considerado.

Sob o título “A medicalização da Pedagogia: discursos médicos na construção do discurso pedagógico e nos manuais de formação de professores em Portugal (Séculos XIX-XX)”, António Carlos da Luz Correia, professor convidado do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, apresenta um ensaio, no qual procura problematizar as modalidades por meio das quais o discurso médico foi incorporado no discurso pedagógico, naturalizando-o, no período que decorre entre o final do século XIX e as três décadas iniciais do século XX, em Portugal. Do ponto de vista empírico, recorre a pesquisas realizadas previamente, individualmente ou em colaboração com outros pesquisadores. Pretende abrir pistas para discussão da Escola e do seu papel nas transformações sociais atuais, buscando desocultar as modalidades de apagamento dos fatores sociais, culturais e políticos que intervêm historicamente nos desafios da problemática educativa escolar.

Geraldo Gonçalves de Lima e Décio Gatti Júnior, vinculados, respectivamente, ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro e a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, redigiram o artigo intitulado, “Educação, sociedade e democracia: John Dewey nos manuais de História da Educação e/ou Pedagogia (Brasil, Século XX), no qual comunicaram os resultados de investigação no âmbito da História da Educação, particularmente na temática da História Disciplinar, cujo foco recaiu sobre as ideias de John Dewey disseminadas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, traduzidos e publicados no Brasil, entre 1939 e 2010, que tiveram ampla circulação em escolas normais e cursos superiores de formação de professores. As fontes incluíram bibliografia de referência e doze manuais de História da Educação. Os resultados apontam para a percepção de quatro ênfases nas abordagens sobre Dewey: herança hegeliana; marcos evolucionistas; relação indivíduo/sociedade (industrial e democrática); emergência da psicologia experimental.

No artigo intitulado “As ideias de Durkheim nos manuais de História da Educação: cientificidade e moralidade laica na vida social e na escola”, Katiene Nogueira da Silva (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo) e Giseli Cristina do Vale Gatti (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba), analisam as ideias de Durkheim contidas em manuais de História da Educação, com autores estrangeiros, publicados no Brasil entre 1939 e 2010. Perceberam que alguns manuais, apesar de não terem mencionado Durkheim diretamente, abordaram ideias próximas de seu pensamento. Os demais, que foram maioria, mencionaram Durkheim em intensidades diferentes. Neles, Durkheim foi tomado simultaneamente como fonte de informações e de análises, mas, também como portador de uma perspectiva original e influente de educação, a pedagogia sociológica. Além disso, foi possível perceber a existência de críticas a seu pensamento, provenientes, sobretudo, dos autores de manuais vinculados ao campo católico.

Vivian Batista da Silva e Denice Barbara Catani, ambas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, fecham o presente dossiê, com o artigo intitulado, “Metáforas e comparações que ensinam a ensinar: a razão e a identidade da Pedagogia nos manuais para professores (1873-1909), no qual perguntam se estariam os manuais para professores mais próximos de um livro ou de um receituário? A partir desta questão, analisam cinco títulos publicados entre 1873 e 1909, a saber: o Compêndio de Pedagogia (Pontes, 1873); Pedagogia e metodologia, de C. Passalacqua (1887); Lições de Pedagogia, de V. Magalhães (1900); Compêndio de Pedagogia, de D. Vellozo (1907); Tratado de Metodologia, de F. Carvalho (1909). Buscaram conhecer como são feitas as referências à Pedagogia, sua razão e identidade. Nesses textos, ela aparece ora como ciência, ora como arte. Analisando as metáforas usadas para orientar os professores, é possível identificar imagens a partir das quais os saberes pedagógicos são definidos e apresentados como objetos de leitura para o magistério.

Esperamos que a leitura do presente dossiê oportunize tanto a percepção de uma temática importante relacionada aos esforços de formação de professores, no qual formas de pensar o pedagógico, as instituições escolares e a relação com a sociedade se destaquem, mas, também, por outro lado, assinalar a fertilidade em tomar os manuais disciplinares como fonte privilegiada para conhecer as finalidades pedagógicas que disputaram o público docente e presidiram sua formação desde o final do Século XIX, com avanço na quase totalidade do Século XX.

Denice Barbara Catani – Professora Titular aposentada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]  http://orcid.org/0000-0001-6019-8969

Décio Gatti Júnior – Professor Titular de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Doutor em Educação (História e Filosofia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Beneficiário do Edital Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: [email protected]  http://orcid.org/0000-0002-5876-6733

 

CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Revista História da Educação, Porto Alegre, v. 23, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores no Brasil (I) / Formação Docente / 2018

Revista Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores (RBPFP) – é uma publicação do Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT8), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) publicada em parceria da Autêntica Editora. Esta publicação refere-se ao número 18, o primeiro número do volume 10 que abrange a periodicidade de janeiro-Julho de 2018.

O Conselho editorial executivo da revista tomou a decisão de publicar nos dois números de 2018, um dossiê divulgando um retrato/perfil dos grupos de pesquisa sobre Formação de Professores no Brasil, elaborados pelos grupos que participaram do III Simpósio de Grupos de Pesquisas nesse campo do conhecimento na área da Educação e Ensino, realizado em Guarulhos em Outubro de 2016 e no qual participaram 42 Grupos de Pesquisa. Desta forma os dois números do volume 10 retratam uma fotografia da pesquisa em grupos consolidados sobre a temática.

Pela lavra de experientes pesquisadores do campo, o núcleo duro de sustentação do GT 08 da Anped, os textos aqui veiculados indicam como os grupos vêm desenvolvendo suas pesquisas, tema e subtemas, o quadro teórico sob qual orientam suas pesquisas, a natureza da investigação, as contribuições para o campo da formação de professores e as perspectivas teórico-metodológicas. Esse volume demonstra o acumulo do conhecimento sobre a Formação de Professores e, em especial, revelam uma grande rede de pesquisa no país sobre esse campo de conhecimento.

Os números 18 e 19 que compõem o volume 10 comemoram os 10 anos de criação do periódico – Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre a Formação de Professores (RBPFP) publicada pelo GT 08 – Formação de Professores da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação em parceria com a Editora Autêntica.

Duas novidades aparecem a partir dos números do volume 10: a) os artigos sairão com o indicativo do DOI (Digital Object Identifier) fundamentais para a identificação dos artigos de acesso aberto; b) Mudança no layout da capa da revista. Decisão tomada pela comissão editorial para adequação as necessidades de edição no sistema SEER/OJS.

Agradecemos atenção do leitor e o convidamos a leitura da presente edição.

José Rubens Lima Jardilino


JARDILINO, José Robens Lima. Apresentação.  Revista Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores. Belo Horizonte, v.10, n.18, p.9, jan./jul. 2018. Acessar publicação original [IF]

Formação docente e ensino de história: fontes, objetos e categorias / Territórios & Fronteiras / 2015

O dossiê “Formação docente e Ensino de História: fontes, objetos e categorias” traz artigos que expõem diferentes contextos, atravessam os níveis de ensino, e mobilizam categorias que permitem destacar a variedade de abordagens e as possibilidades do trabalho investigativo a partir de fontes diversas que indagam sobre a escrita didática da história, os sujeitos, as políticas, as memórias e as práticas imersas no processo formativo de professores / as de História.

O percurso formativo do / a professora / a de História é um tempo de conhecimento, reflexão, crítica e aperfeiçoamento profissional. Nos cursos superiores entram em contato com os saberes teóricos, com a pesquisa e a preparação pedagógica. A base formativa prévia (origem e inserção cultural e formação escolar anterior) se mescla com a formação continuada e, assim, a socialização dos saberes no interior das escolas e na vida vai se constituindo. Os saberes profissionais, como diz Tardif,1 são datados (temporais), são plurais e heterogêneos, são personalizados e situados, são adquiridos por meio da experiência.

Ao percorrer um caminho escolhido do conhecimento (o currículo), têm-se objetivos em mente e questões que devem indagar sobre qual passado tratamos quando ensinamos aos estudantes e como essas histórias operam sentidos na formação dos sujeitos.

Um dos procedimentos imprescindíveis para o ensino de História é o trabalho com as fontes ou documentos. Também a ampliação da noção de fonte atingiu diretamente o trabalho pedagógico, levando à superação da compreensão do documento como prova do real. As inovações tecnológicas também modificaram a relação com o documento.

Entre os oito artigos que compõem este Dossiê, podemos indagar no trabalho de Ana Carolina Eiras Coelho Soares sobre o conceito de História Visual em Ulpiano Bezerra de Meneses2, entendido como um conjunto de recursos para dar consistência à pesquisa histórica. Alerta ele que o uso da pintura, da fotografia ou do desenho não deve ser feito como mera ilustração do texto. A investigação deve levar ao exercício de reconstrução de redes que falam de quando o autor produziu a obra, do contexto da época, do lugar da produção, das articulações de interesse para quem produziu etc.

Ana Carolina Soares aproveita um episódio alardeado na mídia carioca, no ano de 2009, polemizando a retirada de livros didáticos de História das escolas por acusação de suposto conteúdo nefasto presente em possível interpretação de imagens de Theodore de Bry (século XVI). O fato é utilizado pela autora para refletir sobre as vulnerabilidades a que as escolas se submetem em momentos nos quais são cobradas e vitimadas por ações violentas vindas de toda parte. O incidente serviu também para apontar possíveis caminhos do trabalho pedagógico nas aulas de História e fazer pensar a formação de professores.

Em defesa de um código disciplinar da Didática da História, Ana Claudia Urban foi buscar na análise de ementas de cursos de licenciatura em História de universidades públicas do Paraná os “textos visíveis” para suas argumentações. Também analisou pareceres de 1960 ao ano 2000 que foram dando indicativos de como as preocupações com a Didática caminharam junto com as mudanças de perspectivas para a formação de professores.

Alexandra Lima da Silva apresenta, no exemplo de Rocha Pombo, as subjetividades formativas da docência. Explorando o autodidatismo do poeta, historiador e professor, Alexandra faz um passeio pela atribulada história do fazer-se professor e escritor de livros didáticos – esses últimos ficaram tão presentes no imaginário de estudantes, tanto quanto foram marcantes referências de formação para muitos professores.

Jaqueline Aparecida Zarbato nos brinda com uma reflexão sobre Educação Histórica e sobre como se produz a consciência histórica nas práticas pedagógicas de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sua análise parte de uma oficina realizada com estudantes de História da Universidade de Mato Grosso do Sul, em Três Lagoas, no ano de 2013.

Buscando refletir sobre o embate entre representações no entorno da formação de professores de História, André Luiz Bis Pirola, ao estudar o Espírito Santo na segunda metade do século XIX, investiga como a História era ensinada na ausência de uma formação específica. Dessa forma, a história da formação de professores de história imbrica-se com a própria história da construção da história como disciplina escolar e pode-se compreender como, em meio às lutas, leis e livros, diferentes profissionais (bacharéis, padres e médicos) buscaram instituir determinadas formas de ser e estar no mundo por meio da construção de um sentido para o saber e o fazer docentes.

João Batista Bueno, Arnaldo Pinto Jr. e Maria de Fátima Guimarães, por sua vez, refletem sobre três conceitos importantes para a formação dos professores de História: a interação, a significação e a identidade. Discutem também quais são as possíveis alternativas e critérios que podem ser mobilizados na definição de atividades de interações significativas que visem conectar questões do passado ao presente do estudante. Além disso, analisam como algumas abordagens atuais do conceito de identidade estão modificando os objetivos do ensino de História.

Já o artigo de Helenice Ciampi tem o objetivo de refletir sobre a questão da formação do educador a partir de sua experiência na PUC-SP, com a Prática de Ensino e Estágio Supervisionado e disciplinas afins. A intenção da autora foi focar as últimas décadas de debates no Brasil, articulando as questões centrais da discussão com os temas que constituíram os planejamentos dos cursos no período. Enfim, sua reflexão visa explicitar as questões canônicas na formação do profissional de História ontem e hoje.

Concluindo o Dossiê, Juciene Ricarte Apolinário traz ao debate um tema ainda pouco discutido na área do ensino de História: a educação indígena. Seu artigo aborda, de forma reflexiva, a criação do Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Educação Indígena, UFCG – Povo Potiguara, especialmente no tocante às experiências das práticas pedagógicas das disciplinas de História do Brasil e História Indígena. O projeto foi produzido coletivamente entre indígenas e professores da UFCG para a elaboração de uma proposta de educação superior intercultural, tendo como destaque a formação do professor indígena na área de História.

Acreditamos que os diferentes trabalhos aqui reunidos poderão contribuir com os debates acerca da formação docente do / a profissional de História e sua relação com a dinamização da produção historiográfica e das reflexões metodológicas. Pensamos que os textos que compõem este Dossiê, ao tratarem de diferentes contextos, atravessam os níveis de ensino e mobilizam categorias que permitem destacar a variedade de abordagens e as possibilidades do trabalho investigativo a partir de fontes, objetos e categorias diversas que indagam sobre a escrita didática da história, os sujeitos, as políticas, as memórias e as práticas imersas no processo formativo em questão. Esse conjunto de textos nos oferece, enfim, um quadro representativo de produções acadêmicas que demonstram a consolidação da área de Ensino de História e a relevância das pesquisas sobre formação docente para a profissão do / a historiador / a. Esperamos que estes textos sejam também inspiradores.

Boa leitura!

As organizadoras

Notas

1 TARDIF, Maurice. Os professores enquanto sujeitos do conhecimento. In: _____. Saberes docentes e formação profissional. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

2 MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Fontes visuais, cultura visual, história visual – balanço provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, 2003.

Ana Maria Marques – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: [email protected]

Juçara Luzia Leite – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: [email protected]


MARQUES, Ana Maria; LEITE, Juçara Luzia. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.8, n.1, jan / jun, 2015. Acessar publicação original [DR]

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