O legado de Marte. olhares múltiplos sobre a Guerra do Paraguai | Marcello José Gomes Loureiro

Marcello Jose Gomes Loureiro Imagem Mondes Americains
Marcello José Gomes Loureiro | Imagem: Mondes Americains

Guerras são episódios traumáticos que marcam de maneira indelével países e populações. Por tratar-se do último grande conflito bélico platino e por sua extensão, dramaticidade e sanguinolência, a Guerra do Paraguai marcou a história das Américas. Dela quase todas as quatro nações envolvidas saíram prejudicadas, sobretudo o Paraguai, todas passaram por mudanças, tanto nas relações entre si, quanto nas suas vidas políticas e institucionais internas, e suas populações tiveram as vidas alteradas.

O Brasil não estava preparado para uma guerra de tamanha envergadura como a campanha contra o Paraguai, e teve que mobilizar às pressas a população para constituir um exército, transformando civis em combatentes. Além disto, o governo imperial teve que enfrentar uma série de desafios, militares, diplomáticos e de política interna. Os seis anos do conflito desviaram a atenção do governo das reformas internas; levou a enormes gastos com a luta, gerando um déficit público que persistiu até 1889; explicitou as contradições de uma sociedade que tinha a escravidão como principal instituição; colocou à prova elementos definidores das relações sociais e da cidadania e transformou o exército em importante agente político. Além disto, os historiadores são praticamente unânimes em considerar que a guerra marcou o princípio de erosão do sistema monárquico. Leia Mais

La Guerra del Paraguay y la construcción de la identidad nacional | María Victoria Baratta

La guerra que enfrentó a la Triple Alianza formada por Brasil, Argentina y Uruguay contra Paraguay constituye un problema que despierta cada vez mayor interés en el mundo de los historiadores. Tanto en los países que se enfrentaron en aquella contienda, como en otras partes del globo, asistimos desde la última década a una renovación de temas y enfoques ligados al conflicto. María Victoria Baratta se ha nutrido de ella y, a la vez, ha contribuido a generarla: su libro La Guerra del Paraguay y la construcción de la identidad nacional es una apuesta valiente, sustentada en un análisis crítico y documentado que desarma mitos y teorías conspirativas profundamente arraigadas en la sociedad argentina.

El trabajo recupera los resultados de su tesis doctoral defendida en el año 2013, bajo la dirección de Fabio Wasserman. En aquella ocasión se preocupó por establecer la relación entre la guerra como fenómeno histórico y la construcción de la identidad argentina, a partir del discurso de las elites letradas. En la obra que aquí reseñamos amplía el análisis con la incorporación de las representaciones de la cultura popular. Para cumplir los objetivos de su investigación, se apoyó en un contundente corpus de fuentes: diarios y periódicos de los países implicados en la Guerra del Paraguay (para Argentina toma tanto la prensa porteña como del resto de las provincias) y de Europa; documentos oficiales, institucionales, correspondencia, folletos, testimonios y relatos; Diarios de Sesiones de la Cámara de Diputados y de la Cámara de Senadores en Argentina; relatos de corresponsales de guerra, memorias y cantares populares. Leia Mais

La Guerra del Paraguay y la construcción de la identidad nacional | María Victoria Baratta

Resenhista

Silvina Sosa Vota – Universidad de Santiago de Chile. Estudiante de Doctorado en Historia. USACH


Referências desta Resenha

BARATTA, María Victoria. La Guerra del Paraguay y la construcción de la identidad nacional. Buenos Aires: SB, 2019. Resenha de: VOTA, Silvina Sosa. Historia y conflictos bélicos: nuevas formas de abordaje. Escrita da História, v.7, n.14, p.247-250, jul./dez. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

A primeira guerra do Paraguai: a expedição naval do Império do Brasil a Assunção (1854-1855) | Fabiano Barcellos Teixeira

O historiador Fabiano Barcellos Teixeira realizou um belíssimo trabalho em sua obra A primeira guerra do Paraguai: a expedição naval do Império do Brasil a Assunção (1854-1855). Com maestria, Teixeira explora um tema pouquíssimo estudado pela historiografia platina, a imponente expedição naval feita pelo Império do Brasil ao Paraguai, sob o comando do chefe de esquadra Pedro Ferreira de Oliveira.

Publicado em 2012, pela editora Méritos, o livro tem 183 páginas organizadas em oito capítulos, contemplando desde a formação do Império do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai até a construção da política e da diplomacia na América Platina, com destaque minucioso para causas, itinerários, principais acontecimentos e consequências da expedição que o autor sagazmente intitula de a primeira guerra do Paraguai. Leia Mais

Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai

Como já mencionamos em oportunidade anterior [2], a Guerra do Paraguai é uma temática que tem gerado celeumas na historiografia brasileira (e não somente nesta). O professor Francisco Doratioto, que atua no Departamento de História da Universidade de Brasília, é conhecido nacional e internacionalmente por pesquisar sobre a Guerra do Paraguai e as relações internacionais entre o Brasil e os países da América Meridional.

Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai, livro publicado pela Companhia das Letras, é fruto de anos de pesquisa do autor e é considerado um referencial para o pesquisador que deseje se aventurar nas tumultuosas águas das Histórias referentes à Guerra do Paraguai. Alguns pesquisadores, contudo, chegam a utilizar irrefletidamente o texto do professor Doratioto como um porto seguro, quase que como um ponto final nas altercações produzidas sobre a historiografia do conflito. Leia Mais

A Missão Paranhos ao Prata (1864-1865): diplomacia e política na eclosão da Guerra do Paraguai | César de Oliveira Lima Barrio

Após os festejos dos 20 anos do Mercosul, autoridades, intelectuais e a opinião pública debatem o futuro da região. No entanto, poucos são os estudos, em especial na área das relações internacionais, sobre a história do Cone Sul. A comunidade acadêmica parece ignorar importantes acontecimentos e períodos da política externa brasileira, como o período regencial ou a República velha.

Felizmente, César de Oliveira Lima Barrio, diplomata e doutorando em história pela Universidade de Brasília, é uma exceção. Em seu livro A Missão Paranhos ao Prata (1864-1865): diplomacia e política na eclosão da Guerra do Paraguai, Barrio descreve detalhadamente a atuação política de Paranhos nos países da Bacia do Rio da Prata (1864-1865). Para tanto, o autor apresenta as principais diretrizes e as ações da diplomacia brasileira nos momentos que antecederam a deflagração do maior conflito interestatal na América do Sul: a Guerra do Paraguai (1864 – 1870). Leia Mais

Diário da Campanha Naval do Paraguai / Manuel C. Rocha

O diário cuja resenha ora apresentamos, o qual abrange o período de 08 de fevereiro a 31 de dezembro de 1866, é de autoria do Capitão-Tenente Manuel Carneiro da Rocha, que pertenceu ao Estado-Maior do Vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa, conhecido como Visconde de Tamandaré; ambos foram combatentes na Guerra do Paraguai (1864-1870), evento que envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai.

A Guerra do Paraguai foi um momento específico da história nacional no qual um inimigo externo, mas também forjado, colaborou em certa medida para a valorização de qualidades e atributos, tais como: coragem, bravura e heroísmo. Os estímulos para a luta foram criados em função do embate contra um adversário que se mostrava aos olhos do governo imperial como desumano e cruel.

Os diários e memórias escritos durante a Guerra do Paraguai (1865- 1870) são ricas fontes para a interpretação da identidade nacional brasileira no século XIX, revelando condutas e comportamentos dos homens da Esquadra brasileira em luta contra o Paraguai. Ao investigá-los, nos deparamos com a instigante discussão sobre as múltiplas manifestações, representações e apropriações do conceito tempo. As fontes informam não somente o desenrolar do tempo histórico (cronológico), mas, também, atrelam o tempo da natureza à lógica e ao desenrolar dos combates.

Manuel Carneiro da Rocha nasceu na Bahia em 1833. No ano de 1865 é nomeado ajudante-de-ordens do comandante em Chefe da esquadra em operações no Rio do Prata. É destacado para o comando da embarcação Itajaí, em 1866, sua missão: organizar expedições de reconhecimento ao Alto do Rio Paraná. Em 1889, é promovido ao posto de Contra-Almirante, dirigindo a Escola Naval no anos de 1890 a 1892; vinculado ao Quartel-General da Marinha com o posto de Vice-Almirante. Seu falecimento deu-se em 1894.

O Diário de Campanha Naval do Paraguai: 1866 apresenta uma introdução e algumas anotações do Capitão-de-Mar-e-Guerra, Lauro Nogueira Furtado de Mendonça, que sintetiza os temas e os objetivos de Manuel Carneiro da Rocha ao descrever os acontecimentos vistos durante as contendas navais do conflito platino.

Lauro Nogueira ressalta a importância destas memórias para o estudo da guerra: as idas e vindas das embarcações; o tratamento nem sempre eficaz aos enfermos e feridos; a luta feroz dos homens contra as intempéries da natureza. Manuel Carneiro evidencia as tensões e as angústias dos combates, a ansiedade das esperas e o desencontro das informações; reforçando o combate às chatas paraguaias, espetáculo nem sempre tranqüilo do estrondar dos canhões, a tristeza pela perda de amigos e companheiros de guerra. Ou seja, seu Diário colabora para a enunciação dos elementos cotidianos do conflito, se convertendo em rica documentação para a análise dos encaminhamentos históricos da Guerra do Paraguai.

Além da descrição e comentários das fainas executadas nos rios paraguaios, Rocha apresenta alguns dados estatísticos relativos aos alcances de alguns tipos de canhões utilizados pelos navios brasileiros, três mapas com o número de combatentes mortos, feridos e extraviados durante a primeira quinzena do mês de abril de 1866. Há também uma listagem das embarcações utilizadas durante o período de sua atuação na guerra.1 O diário descreve a atuação da Marinha na guerra durante o período de 08 de fevereiro a 31 de dezembro de 1866. Os escritos de Manuel Carneiro contêm informações de cunho privado, detalhes sobre a composição e organização da Esquadra, além da descrição minuciosa do cotidiano naval no decorrer do período relatado. Sendo assim, esta fonte apresenta uma série significativa de elementos sociais, econômicos, políticos e culturais pertinentes para o entendimento de alguns rumos históricos da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Vale ressaltar que a interpretação desta fonte se apóia sobre dois patamares analíticos. Em primeiro lugar, tentar perceber a fronteira que sugere a união entre duas dimensões temporais: do tempo histórico e do tempo natu relações sociais cotidianas que pareciam fomentar atitudes e comportamentos específicos.

Ao indicar a convivência entre o tempo cronológico (guiado pela história) e o tempo natural (orientado pela ação da natureza), devemos considerar as facetas das experiências que envolvem o próprio conceito de tempo e como a fonte pesquisada apresenta a relação entre estas dimensões e como os atores sociais as recepcionaram.

Manuel Carneiro da Rocha indica a importância que as manifestações da natureza tinham para a tripulação dos navios em guerra. O autor não parece dissociar os acontecimentos históricos da lógica natural, indicando a possível força com que a natureza interferia nas experiências vividas no front.

O tempo histórico desenrolava-se e incidia sobre a vida dos combatentes, direcionando condutas a partir dos sentidos e ações que a guerra ia ganhando.

A longa duração do embate competiu para a adoção de comportamentos e atitudes no interior dos navios. Como exemplo, as reclamações contra a longevidade e insalubridade dos combates e a presença constante de doenças geravam certo desânimo entre os embarcados.

A descrição do quadro natural e dos significados que a natureza atribuía à vida dos tripulantes foi preocupação constante do capitão Rocha. As condições climáticas e a relação que os combatentes navais estabeleciam diariamente com a natureza se transformaram em tema presente em quase todos os dias relatados pelo autor do diário.

A natureza parecia interferir de maneira significativa sobre o dia-a-dia dos embarcados. Manuel da Rocha utiliza-se de linguagem metafórica para descrever as condições climáticas da noite de 21 de fevereiro de 1866, comparando as alterações do tempo natural a uma rajada de balas, no prenúncio, considerado perigoso, de chuva intensa. Para tanto, os combatentes colocaramse de prontidão em posições de luta, pois as intempéries naturais, de acordo com Rocha, eram consideradas inimigas dignas de respeito.

Nossa fonte foi elaborada a partir do uso de linguagem específica e recorrente entre os pares da Marinha brasileira durante o conflito. A linguagem se convertia em fator de comunicação e parecia agregar alguns homens em torno de elementos comuns e da construção de espaços compartilhados.

A linguagem cotidiana utilizada pelos combatentes navais foi constitutiva das relações sociais estabelecidas a bordo dos navios. As “maneiras de falar” acumulavam experiências históricas elaboradas com o intuito de diferenciar aspectos da corporação Marinha de outros segmentos sociais. A linguagem maruja fornecia arcabouços concretos para a possível construção de uma identidade marinheira que se fazia considerando um corpo lingüístico peculiar.

A especificidade da linguagem usada pelos profissionais da Marinha brasileira no front evidencia-se ainda mais com os vocábulos que serviam para caracterizar o meio ambiente e a natureza que os circundava. O relacionamento dos homens da Esquadra com o tempo natural mostrava-se marcante e freqüente.

As relações sociais estabelecidas nos espaços cotidianos também pareciam considerar a proximidade dos homens do mar com as lógicas naturais.

Tal cenário aparece nos escritos de Manuel Carneiro da Rocha quando descreve as bruscas mudanças climáticas ocorrida nos rios platinos. Num primeiro momento, tendemos a direcionar as análises afirmando que o clima se converteu em empecilho dificultador das ações a bordo, pois parecia abater os ânimos dos embarcados. O autor do Diário não apresenta indícios claros de que as reviravoltas naturais realmente pudessem ocasionar grandes perdas e derrotas.

Manuel Carneiro da Rocha descreve a necessidade de uma embarcação buscar carne em terra como o objetivo de alimentar a guarnição do navio.

Apesar da “trovoada”, os tripulantes ignoraram os avisos da natureza e procuraram cumprir a missão que lhes foi atribuída, apesar do espanto revelado pelo autor que por vezes estranhava a escuridão do céu e a quantidade significativa de chuvas que acometiam a região.

Importante notar que as dificuldades impostas pelas ações da natureza no ambiente de luta chegam a gerar no autor uma predileção pelos estampidos dos canhões e pelo tilintar dos fuzis em detrimento aos sons causados por raios e trovões. Neste momento, Manuel Carneiro indica uma dose de pessimismo com relação aos rumos que a guerra ia trilhando.

Além dos altos índices de chuvas, o diário de guerra apresenta a preocupação de seu autor com a hidrografia da região platina. O espaço fluvial paraguaio se mostrava inadequado à navegação dos navios brasileiros; os mesmos possuíam grande calado e não foram bem adaptados para atuarem em rios. Novamente, nosso narrador aponta algumas queixas com relação ao cenário natural durante os combates. Desta vez, o motivo registrado gira ao redor das poucas condições de navegabilidade dos rios do Prata.

Além dos altos índices de chuvas, o diário de guerra apresenta a preocu pação do seu autor com as características dos rios platinos. O espaço fluvial paraguaio se mostrava inadequado à navegação dos navios brasileiros, pois os mesmos possuíam grande calado e não foram bem adaptados para atuarem em rios. O narrador reitera queixas com relação ao cenário natural durante os combates. Desta vez, o motivo apresentado gira ao redor das baixas condições de navegabilidade dos rios platinos.

O diário analisado informa um detalhe logístico considerado por seu autor como imprescindível para o alcance do sucesso nas batalhas: a boa navegabilidade na região do conflito. Sendo assim, Manuel Carneiro da Rocha desejava que as chuvas aumentassem o volume das águas nos rios platinos, ma parecia torcer contra o excesso das precipitações climáticas que poderiam trazer problemas para os embarcados.

Vale reafirmar que os entrelaçamentos das manifestações naturais e dos comportamentos verificados a bordo dos navios podem ser refletidos a partir das relações sociais cotidianas, ou seja, diuturnamente eram criadas e/ou recriadas convivências, reciprocidades, desligamentos e afastamentos, considerando o ritmo diário que o evento guerra ia pouco a pouco adquirindo.

Nosso intuito com estas reflexões é contribuir para a análise da Guerra do Paraguai pautado no reconhecimento que o tempo da natureza e o tempo histórico andavam de mãos dadas e atuavam decisivamente nas tomadas de decisões de alguns atores históricos como é o caso do próprio Manuel Carneiro da Rocha.

Ao aventar o entrelaçamento do tempo natural com o tempo histórico na fonte analisada, gostaríamos de sinalizar para a construção de entendimentos específicos com relação à lógica temporal. O autor do diário insiste em comunicar a força com a qual a natureza orientava os feitos dos atores envolvidos nos embates. Na fonte pesquisada, natureza e história confundem-se, os guarnecidos percebem o desenrolar dos dias e das noites orientados pelos desígnios e “caprichos” naturais.

A tentativa deste labor foi alvitar reflexões sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870) que possam contemplar matizes históricas múltiplas e variadas, não se atendo somente às descrições minuciosas de feitos militares e de batalhas.

A faina se faz em torno da exigência não menos audaciosa de vociferarmos o passado, de fornecer visibilidades aqueles ou aquelas que outrora foram silenciados e/ou emudecidos, numa atividade igualmente complexa de construção discursiva e plausível sobre a história, na qual apontamos nossas próprias e mais íntimas visões e apreciações sobre as experiências um dia vivenciadas.

Thiago Gomes de Araújo – Doutorando em História na UnB. Professor-Coordenador nas Faculdades IESA – DF.


ROCHA, Manuel Carneiro da. Diário da Campanha Naval do Paraguai: 1866. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1999. 351p. Resenha de: ARAÚJO, Thiago Gomes de. Textos de História, Brasília, v.17, n.1, p.191-196, 2009. Acessar publicação original. [IF]

The Paraguayan War (1864-1870) | Leslie Bethell || História do Cone Sul | Amado Luiz Cervo e Mário Raport || A guerra contra o Paraguai | Júlio J. Chiavenato || A espada de Dâmocles: O exército/ a guerra do Paraguai e a crise do Império | Wilma Peres Costa || A Guerra do Paraguai | Francisco Doratioto || Guerra do Paraguai: como construímos o conflito | Alfredo da Mota Menezes

Até onde as relações entre os Estados processam-se em virtude do confronto dos interesses independentes de cada um deles? Em que medida a História de um povo ou de um conflito pode ser pensada como um contexto autônomo frente ao contato com outras nações? As respostas para estas perguntas são múltiplas, mas, divergentes ou não, há algo que as torna semelhantes: a cada forma de contar a História das relações internacionais corresponde um projeto – pessoal ou mais comumente coletivo –, de manter ou de transformar a situação atual da convivência entre os povos. Em outras palavras, o conhecimento produzido sobre o mundo não costuma estar desvinculado de um conjunto específico de interesses.

O tema da Guerra do Paraguai é perfeito para explicitar essas questões. Realmente, diversas pesquisas têm sido realizadas recentemente sobre o assunto e isso não é por acaso, já que aquele conflito representa um divisor de águas na história do Cone Sul. Numa época em que a globalização e o Mercosul dão o tom dos debates políticos e acadêmicos envolvendo o relacionamento dos países sul-americanos, discutir as origens da guerra e o real peso de influências externas ao sub-continente nas mesmas torna-se um exercício fundamental. Leia Mais

Guerra do Paraguai: como construímos o conflito | Alfredo da Mota Menezes

Em Guerra do Paraguai: como construímos o conflito, Alfredo Menezes, professor titular de História da América da Universidade Federal de Mato Grosso, promove uma significativa contribuição para a historiografia brasileira com relação a Guerra do Paraguai.

Estudioso do tema há vários anos, o autor traz à discussão sobre a Guerra do Paraguai uma contribuição valiosa ao estudar o contexto regional, em uma abordagem pouco usual na literatura brasileira disponível, dado que chama a atenção para a intrincada conjuntura política dos países envolvidos no conflito nos anos anteriores à guerra. Sua análise parte, portanto, da averiguação das motivações regionais que desembocaram na tragédia platina do século passado. Leia Mais