LOPES, Gabriel. O Feroz Mosquito africano no Brasil: o Anopheles gambiae entre o silêncio e a sua erradicação (1930-1940)

LOPES Gabriel 2 O Feroz Mosquito africano no Brasil
Gabriel Lopes | Foto: Johns Hopkins School of Medicine

LOPES O feroz mosquito O Feroz Mosquito africano no Brasil O livro de Gabriel Lopes, O Feroz Mosquito africano no Brasil, faz um trabalho de investigação histórica minucioso sobre eventos da década de 1930 que marcam a construção de um problema de saúde pública em torno do Anopheles gambiae. Por meio de uma acurada e diversificada investigação arquivística, o autor se dedica a reconstituir e a analisar dois momentos em torno do vetor transmissor da malária: o primeiro deles corresponde ao primeiro surto, entre 1930-1932, no Rio Grande do Norte; o segundo, entre 1938-1940, de impactos maiores e que atinge também o estado do Ceará, exigindo mobilizações em vários campos. Dois pontos chamam atenção no percurso da análise. O primeiro deles é a particularidade da obra em olhar com lentes ampliadas a trajetória do vetor, o Anopheles gambiae. Este recorte não é trivial e tem importância nas escolhas do livro, empíricas e teóricas, e uma “inversão” que está em afinidade e comprometida com a própria historicidade da malária. O segundo se refere ao hiato que acontece do primeiro ao segundo surto. Período que é cuidadosamente abordado, evidenciando um movimento de prospecção dos sujeitos e da própria história que está sendo tecida. O silêncio é redimensionado em termos materiais e simbólicos, pois nele reside a gênese de diversas ações postas em prática a partir de 1938. Leia Mais

Freedom’s Price: Serfdom, subjection and reform in Prussia, 1648-1848 | Sean Eddie

Poucos momentos na história do Ocidente foram tão profundos quanto as reformas agrárias dos séculos XVIII e XIX. Surgidas no contexto europeu pré-revolucionário e parte dos processos de modernização da sociedade e quebra dos estamentos tradicionais, as reformas agrárias ultrapassaram fronteiras e se tornaram elementos de construção dos estados nacionais e de novas configurações sociais em diferentes partes do globo. Mesmo sociedades como a brasileira, que se estruturava em torno do escravismo e latifúndio exportador, ou seja, detentora de realidades agrárias e sociais muito distintas daquelas da Europa central, não escaparam de tal desenvolvimento (Carvalho, 2003, p. 350-351) iii. O distante Japão, a “Prússia da Ásia”, a partir do fim do Xogunato e ascensão Meiji Tenno igualmente elaborou suas reformas agrárias a partir do modelo do reino dos Hohenzollern (Chung, 2018, p. 78) iv. No século XX, reformas no campo recebem o impulso das revoluções socialistas; alterações no status quo das estruturas do mundo agrícola foram, geralmente, prioridade para governos revolucionários no sentido de mudanças sociais profundas (Filippi, 2005, p. 27) v. De fato, o fenômeno descrito pelo historiador britânico Sean Eddie, embora confinado em sua análise na via prussiana das reformas agrárias, insere-se numa perspectiva temática de possibilidades globais, que extrapolam o século por ele descrito. Leia Mais

O poder na aldeia. Redes sociais, honra familiar e práticas de justiça entre os camponeses italianos (Brasil-Itália) | Maíra Ines Vendrame

René Gertz, um dos maiores estudiosos da imigração e da colonização alemã no Rio Grande do Sul, recentemente elaborou uma catalogação e, com isso, tornou disponível on line a bibliografia científica editada no Brasil sobre seu principal objeto de pesquisa. Foram catalogados sobre o tema da imigração e colonização alemã em torno de 3750 publicações. iii

É muito provável que, se alguém se esforçasse para compilar uma bibliografia sobre a imigração e colonização italiana no estado do Brasil Meridional, o resultado seria análogo, ou o elenco de produções, quem sabe, ainda mais extenso. Frente a uma produção que poderíamos, sem dúvida, definir como “inacabada”, como fez alguns anos atrás Matteo Sanfilippo, referindo-se àquela relativa à emigração italiana tout court num único biênio iv, é justificável portanto perguntarmo-nos o que mais possa existir de um livro, como esse de Maíra Ines Vendrame, aprofundando un caso singular de estudo – o da Colônia Silveira Martins – num campo já amplamente discutido da historiografia, ou o que se pode dizer ainda da história da imigração italiana no Rio Grande do Sul? Leia Mais

A crista é a parte mais superficial da onda: mediações culturais na MPB (1968-1982) | Luísa Quarti Lamarão

Em dezembro de 2015, Chico Buarque foi insultado por um grupo de jovens que questionavam seu apoio ao governo de Dilma Rousseff. Rapidamente as redes sociais repercutiram o caso e a divisão ideológica do país passou a envolver a esfera musical por meio de um dos seus maiores ícones. Também rapidamente surgiu a associação do “gênio da música brasileira” com o Comunismo. Chico de herói passou a ser um bolivariano. Inclusive reavivou-se um texto já esquecido do colunista de O Globo, Rodrigo Constantino, que apontava o equívoco das políticas de inclusão social que exaltavam as minorias e indicavam criminosos como vítimas de um sistema injusto:

Compare isso às letras de Chico Buarque, ícone dessa esquerda festiva, sempre enaltecendo os “humildes”: o pivete, a prostituta, os sem-terra. A retórica sensacionalista, a preocupação com a imagem perante o grande público, a sensação de pertencer ao seleto grupo da “Beautiful People” são mais importantes, para essas pessoas, do que os resultados concretos de suas ideias (CONSTANTINO, 2003). Leia Mais

Questão agrária/ cooperação e agroecologia | Henrique Novaes, Ângelo Diogo Mazin e Laís Santos

Questão agrária, cooperação e agroecologia é uma obra coletiva que reúne textos de 25 autores com formações sólidas e diversas, nas mais destacadas instituições de ensino do país. São pesquisadores, professores, intelectuais militantes e assentados que desenvolveram seus estudos em Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Engenharia Agronômica, Engenharia de Alimentos, Geografia, História, Pedagogia e Psicologia Social. A coletânea é organizada pelo trio composto pelo doutor Henrique Tahan Novaes, docente da Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp de Marília – e do Programa de Pós-Graduação em Educação, pela sua ex-orientanda Laís Ribeiro dos Santos, graduada em Pedagogia e mestre em Educação na linha de pesquisa “Políticas educacionais, gestão de sistemas e organizações, trabalho e movimentos sociais”, e pelo historiador Ângelo Diogo Mazin, mestrando em Geografia e assentado no Projeto de Assentamento Luiz Beltrame, em Gália, São Paulo.

O livro congrega capítulos de membros dos grupos de pesquisa Organizações & Democracia (Unesp, Marília) e Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos (Ibec, São Paulo), assim como de autores convidados e especialistas. É produto de um projeto mais amplo, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, que previu a oferta de um curso técnico em Agroecologia para jovens assentados de São Paulo. O conjunto dos textos trata, sobretudo, da realidade agrária e fundiária brasileira e está dividido em quatro partes: Questão agrária no Brasil; História da cooperação, cooperativismo e associativismo rural; Produção destrutiva e agroecologia; Mundialização, trabalho, gênero e juventude do campo. Leia Mais

Ditaduras e revolução. Democracia e políticas da memória | Manuel Loff, Filipe Piedade e Luciana Castro Soutelo

O presente trabalho constitui em uma resenha do livro Ditaduras e Revolução. Democracia e Políticas da Memória, publicado pela Edições Almedina em 2015, organizado por Manuel Loff1, Filipe Piedade2 e Luciana Castro Soutelo3 (LOFF, et al., 2015). Ler e refletir sobre o tema dessa obra é de fundamental importância dada a conjuntura em que vivemos. Tanto no Brasil como em diferentes países da Europa, os últimos anos marcam um momento em que revisões históricas sobre o passado de regimes ditatoriais e fascistas ganham espaço e discursos políticos incorporam apologias e mesmo pedidos pela volta de alguns desses regimes. Com o objetivo de lançar um olhar atento a esse tipo de retorno, de lutas e conflitos em torno da memória desses estados de exceção em diferentes países do ocidente, o livro em questão é uma leitura obrigatória.

Halbwachs (2006, p.72) alerta sobre a importância de marcos sociais para memória coletiva, pois, partindo de suas considerações, só conhecemos a história de nosso grupo nacional por meio de outros testemunhos de acontecimentos importantes. Sua concepção de história, baseada na analogia do “cemitério” com os fatos passados imóveis e sepultados, induziu a uma separação radical entre história e memória. Catroga (2001) observa alguns pontos em comum sobre essas duas formas de estabelecer filiações com o passado, bem como a possibilidade de mudanças, revisões e novas interpretações sobre os “fatos”, ou seja, tal como a memória, a história também está sujeita às dinâmicas e aos interesses do presente. Leia Mais

A reprodução do racismo: fazendeiros/negros/ e imigrantes no oeste paulista/ 1880-1914 | Karl Monsma

Com A reprodução do racismo, o professor Karl Monsma (Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul) oferece uma abordagem inovadora das relações cotidianas entre imigrantes, negros e fazendeiros no período da abolição até a primeira década do século XX. No erudito livro, Monsma busca entender os processos humanos que não só produzem, mas reproduzem o racismo, apesar de grandes mudanças institucionais e/ou sociais ao longo do tempo. Ele usa o duplo contexto de abolição e imigração para mostrar um habitus racial em mudança e como os diferentes negociaram essa nova realidade, procurando as melhores condições e resultados possíveis, tanto para o indivíduo quanto para os grupos. Apesar do enfoque geográfico no oeste paulista – principalmente no município de São Carlos – a contribuição tanto historiográfica quanto metodológica do livro vai muito além desse contexto.

O livro se divide em duas partes principais. Monsma começa com uma análise teórica e hemisférica do racismo como fenômeno histórico. Primeiramente, ele navega em uma vasta literatura sociológica, antropológica e histórica para teorizar os conceitos “raça,” “racialização,” e “racismo.” Para Monsma, abordagens do conceito bourdieusiano habitus, que tomam em conta as contradições e inconsistências presentes no próprio habitus, parecem as mais produtivas, abrindo novos caminhos para combinar o conceito abstrato com observações históricas do cotidiano. Mudanças sociais ou estruturais desestabilizam o habitus racial numa sociedade—mas por que a persistência da dominação racial? Para Monsma, o racismo se reproduz em tais contextos dada a intersecionalidade do habitus racial com outros contextos humanos: redes socais, instituições, ideologias, etc. Desconsiderando o resto do livro, esse capítulo teórico já seria de leitura importante para qualquer estudante ou pesquisador interessado em tais aspectos da sociedade. Leia Mais

Depois da fotografia: uma literatura fora de si | Natalia Brizuela

Depois da fotografia: uma literatura fora de si, livro escrito na forma de ensaio, busca analisar e problematizar a questão das fronteiras entre as diferentes linguagens, notadamente a literatura e a fotografia. Natalia Brizuela, professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, já é conhecida no Brasil por sua publicação Fotografia e Império: paisagens para um Brasil Moderno (Cia das Letras, 2012), em que aborda questões atinentes à produção e circulação de fotografias no Brasil do século XIX.

Em Depois da fotografia, temos a proposta de pensar as fronteiras entre a literatura e as outras artes, fazendo-nos perceber como os limites entre elas, atualmente, podem ser entendidos como uma zona porosa, que permite diversas contaminações. A proposta de Brizuela leva-nos a conhecer o trabalho de diversos escritores latino-americanos (Mario Bellatin, Diamela Eltit, Nuno Ramos e Juan Rulfo) e como, em suas obras, a fotografia aparece em meio à escrita. Leia Mais

Tratado de ateologia | Michel Onfray

O fenômeno é cotidiano. Acontece conosco, com cada um de nós, acontece com todos os que estão à nossa volta. Na medida em que a realidade se torna insuportável demais, nos refugiamos em fantasias diversas que nos apaziguem ou pelo menos dotem de sentido o nosso sofrimento. Mas não condenamos sumariamente ao suplício, ao ostracismo ou à morte aqueles que não compartilham com os nossos próprios mecanismos psicológicos de fuga. Como, então, surgem e se estabelecem as religiões monoteístas, que fazem exatamente esse mesmo movimento, elevar à alucinação universal e obrigatória aquilo que foi um dia delírio de um só ou de um pequeno grupo? Quais são as consequências devastadoras desse modelo de pensamento, desse civilizacional procedimento agressivo, “evangelizador”? São essas justamente as questões abordadas em Traité d’athéologie pelo filósofo francês Michel Onfray,1 autor de diversos outros livros de sucesso tanto no cenário filosófico atual quanto fora dele, em função, certamente, tanto da maneira eloquente e contemporânea de expressão escrita quanto da temática prevalente de seus escritos, que abordam questões filosóficas atuais mantendo tanto a rigorosidade conceitual quanto a pertinência temática. Seus mais de cinquenta textos, que versam sobre uma grande gama de temas diversos, embora o leitor atento possa perceber uma ligação simpática entre eles, passando por assuntos como materialismo hedonista, afetividade e erotismo, subjetivação, tragicidade da existência, gastronomia filosófica, estão sempre retomando a necessidade da filosofia de se fazer presente na existência cotidiana dos seres humanos em vez de constituir uma linguagem técnica acessível exclusivamente a iniciados e eruditos. Com leituras e interpretações de Nietzsche, conserva desse a combatividade filosófica e a beleza de estilo. Por vezes seu desenvolvimento argumentativo leva a conclusões que podem escandalizar aos mais sensíveis, pois esta é a tarefa da (sua?) filosofia. Com seu Tratado de ateologia, com sua defesa de um ateísmo radical e sem concessões, não será diferente. Leia Mais

A primeira guerra do Paraguai: a expedição naval do Império do Brasil a Assunção (1854-1855) | Fabiano Barcellos Teixeira

O historiador Fabiano Barcellos Teixeira realizou um belíssimo trabalho em sua obra A primeira guerra do Paraguai: a expedição naval do Império do Brasil a Assunção (1854-1855). Com maestria, Teixeira explora um tema pouquíssimo estudado pela historiografia platina, a imponente expedição naval feita pelo Império do Brasil ao Paraguai, sob o comando do chefe de esquadra Pedro Ferreira de Oliveira.

Publicado em 2012, pela editora Méritos, o livro tem 183 páginas organizadas em oito capítulos, contemplando desde a formação do Império do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai até a construção da política e da diplomacia na América Platina, com destaque minucioso para causas, itinerários, principais acontecimentos e consequências da expedição que o autor sagazmente intitula de a primeira guerra do Paraguai. Leia Mais

A expansão do Brasil e a formação dos Estados na bacia do Prata: Argentina/ Uruguai e Paraguai. Da colonização à Guerra da Tríplice Aliança | L. A. M. Bandeira

Em 1979, J. J. Chiavenato publicou reportagem jornalística de viés populista e anti-imperialista sobre a Guerra do Paraguai. Esse trabalho de divulgação histórica, de enorme sucesso, apoiava-se em temas da historiografia revisionista platina ignorados no Brasil (CHIAVENATO, 1986). O autor abraçava a tese de que a guerra era desejada pela Inglaterra, muito questionada no Prata (PEÑA, 1975, p. 61).

Em 1985, sem despertar maior discussão, Luiz Alberto Moniz Bandeira publicou, por pequena editora, O expansionismo brasileiro: o papel do Brasil na Bacia do Rio da Prata. Da colonização ao Império. O livro continha “apresentação” do autor assinada em fins de 1981 (BANDEIRA, 1985). No livro, o autor deu ampla abordagem à Guerra do Paraguai, embora o título do trabalho não conduzisse a essa percepção. Leia Mais

A corporação que mudou o mundo: como a Companhia das Índias Orientais moldou a multinacional moderna | Nick Robins

Nick Robins seguiu uma opção de carreira pouco comum entre historiadores: entrou para o meio empresarial, envolvendo-se com questões relacionadas à responsabilidade social das corporações e atualmente está dirigindo o Centro de Mudanças Climáticas do HSBC. Esse currículo inusitado deixou- -o especialmente preparado, talvez, para a temática deste livro: a história da primeira grande multinacional que foi, ao mesmo tempo, um capítulo importante na construção do imperialismo britânico.

Sem declará-lo explicitamente, a obra parece estar afiliada à corrente historiográfica da “nova história imperial” inglesa, voltada para a influência recíproca entre metrópole e colônias e destas umas com as outras. Segundo Tony Ballantyne, um dos expoentes dessa linha de pesquisas, o império assemelha-se a uma complexa teia por onde circulam capital, pessoas e ideias e na qual um lugar pode ocupar várias posições – o centro administrativo de uma colônia exercia a função de “centro subimperial”, subordinado à metrópole, mas dominante em relação ao restante da colônia e, por vezes, também em relação a outras colônias2. Robins mostra a Companhia das Índias Orientais como um fio crucial na teia imperial, capaz de exercer um impacto dramático na Inglaterra, Índia, Estados Unidos e China. Leia Mais

Educação/ Estado e Poder | F. Comparato

A educação ocupa um lugar central no desenvolvimento histórico brasileiro e as decisões tomadas em relação ao sistema de ensino, ao longo dos anos, sempre foram influenciadas a partir de variáveis econômicas, sociais, culturais, e políticas. Fábio Comparato1, em seu livro Educação, estado e poder, originado a partir de três conferências, faz uma análise das diferentes orientações que a educação recebeu ao longo da República, e ressalta que somente conhecendo a sociedade e suas dimensões, será possível ter um claro entendimento do processo educativo. Apesar de passados alguns anos de sua publicação a obra mantêm sua atualidade, servindo de base para resgatar os aspectos que ainda estão presentes na contemporaneidade. Leia Mais

Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história | Arthur C. Danto

O fim da arte é uma expressão a primeiro olhar assustadora, pois insinua o desaparecimento de uma das expressões humanas mais sublimes e que se vincula tão fortemente à cultura e à civilização que o seu desaparecimento nos ameaçaria com o desaparecimento dessas últimas e por consequência com o fim do mundo como nós o conhecemos. Quando surge pela primeira vez, com Hegel em suas lições de estética no início do séc. XIX, a expressão “fim da arte” significa a sua substituição pela racionalidade como meio de representação do Espírito Absoluto, de maneira que a arte como sempre foi conhecida tenha podido, a partir de então, se desvincular da necessidade de representação fiel da realidade e mesmo do critério de beleza, o que fez com que a morte da arte fosse, no fundo, a sua libertação. Mas não libertação completa, pois ela continuou vinculada à história, ou seja, continuou relacionada ao tempo e ao espaço no qual ocorria, continuou em firme relação com o contexto sociocultural, tornando-se ora arte de vanguarda alienada, ora arte politicamente engajada. Em Após o fim da arte, uma coletânea de diversos artigos sobre a temática da arte contemporânea, o emérito professor de filosofia da Universidade de Columbia e crítico de arte Arthur Danto, já célebre por seu livro anterior, A transfiguração do lugar comum, sobre uma nova maneira de olhar a arte que torne mais complexa a diferenciação entre objeto artístico e objeto cotidiano, vai pensá-la após a sua morte, ou seja, após esse processo de independência em relação aos critérios de valoração estéticos antigos, bem como em relação à história e sua capacidade de se inserir em um cabedal conceitual de valoração e significação que lhe seja próprio, fazendo da arte livre e autônoma o seu próprio meio cultural reflexivo. Leia Mais

Ao poente da Serra Geral: a abertura de um caminho entre as capitanias de Santa Catarina e São Paulo no final do século XVIII | Adelson André Brüggemann

Assim como pode ser possibilitada às pessoas a locomoção para outros lugares através de uma estrada, o historiador Adelson A. Brüggemann nos transporta a reflexões, no mínimo curiosas, quando lemos seu livro. Isso se dá, inicialmente, pela compreensão de que “até mesmo as estradas” possuem história. Esse livro está entre aquelas pesquisas que ampliaram a temática de investigação do passado, tão a gosto da proposição dos Annales, por exemplo, e de uma escrita da história com abordagem interdisciplinar. Com estilo de escrita agradável e envolvente, o autor torna o leitor companheiro de viagem, analisando documentos dos séculos XVIII e XIX presentes no Arquivo Ultramarino: correspondências entre capitanias, políticas e propostas da coroa portuguesa ou relatórios de autoridades. Trata-se de uma pesquisa cuidadosa em fontes que não são propriamente as mais convencionais ou rotineiras. Adelson consegue realizar um diálogo de variadas situações, tendo sempre em vista a estrada de Lages a Desterro como eixo principal e condutor da interpretação, mobilizando temas como: fronteira; geopolítica das disputas portuguesas e espanholas; apropriação estatal de bens naturais; logísticas, cotidiano e necessidade dos deslocamentos (para transeuntes); integração territorial; histórico de uso de caminhos; relações internas entre capitanias. Os temas presentes em documentos consultados são variados quanto à bibliografia e, por conseguinte, a análise tecida pelo autor é tão rica como o diálogo “teórico”. Leia Mais

A Marinha Brasileira na era dos encouraçados/ 1895-1910. Tecnologia/ Forças Armadas e política | João Roberto Martins Filho

Até o outono da marinha veleira o Brasil podia ser considerado uma potência naval. O arsenal da Marinha e outros armadores empregavam madeiras e saberes há muito disponíveis para construir e manter grande variedade de navios. O avanço da Revolução Industrial trouxe o vapor e as estruturas metálicas; já a Revolta da Armada, no início da República, destroçou boa parte da Marinha brasileira, de modo que o seu poder naval no final do século XIX tornou-se uma sombra do que fora cinquenta anos antes. O livro do João Roberto Martins Filho investiga os caminhos, motivações e implicações do processo de modernização naval brasileiro, que, em meio à febre tecnológica dos encouraçados, procurou reposicionar a Marinha brasileira entre as potências mundiais. Leia Mais

Motivation and narrative in Herodotus | Emily Baragwanath

Nos últimos anos é expressiva a quantidade de trabalhos publicados dedicados às Histórias de Heródoto. O empreendimento de Emily Baragwanath, intitulado Motivation and narrative in Herodotus (Motivação e narrativa em Heródoto), ainda sem tradução para o português, inserese nesta tendência de um “retorno” ao autor de Halicarnasso. Publicado pela série Oxford Classical Monographs, o estudo resulta da iniciativa da editora de publicação das eleitas melhores teses sobre literatura grega e latina, história e filosofia antiga da Universidade de Oxford. Leia Mais

História: a arte de inventar o passado | Durval Muniz de Albuquerque Júnior

O livro História: a arte de inventar o passado, do Doutor em História Social Durval Muniz de Albuquerque Júnior, professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, reúne em dezesseis capítulos artigos anteriormente publicados em periódicos. Os textos, que discutem as mudanças dos paradigmas na ciência histórica, estão divididos em três partes: a primeira aborda a relação entre história e literatura; a segunda apresenta as contribuições de Foucault para a história e a última traz alguns aspectos sobre o trabalho do historiador.

Uma ideia que perpassa todo o livro é a da “invenção”. Segundo o autor, a própria utilização desta palavra já indica mudanças no campo histórico, simbolizando que o historiador não trabalha com verdades e que, quando lida com as suas fontes, não se desvencilha de sua subjetividade. Se pensarmos a história do prisma da invenção, nos afastaremos das categorias homogeneizantes e universais, pensando a ciência como uma construção. Leia Mais

História & gênero | Andréa Lisly Gonçalves

Debater gênero e história na contemporaneidade tem sido tema recorrente na historiografia. Levando em consideração a evidência do tema, a historiadora Andréa Lisly Gonçalves lançou em 2006 o livro História & gênero. Na obra a autora objetivou debater gênero com base numa perspectiva histórica das relações de gênero, como o próprio título denota. O livro divide-se em três capítulos, que são analisados nas na sequência.

Militância feminista

O primeiro capítulo adentra o século XVIII apontando a Convenção de Sêneca Falls como simbólica na militância feminista. A autora aponta o século XIX como um momento de mobilizações em relação às “questões femininas” quando da ocorrência da Revolução Francesa, que influenciou na prática da escrita, permitindo a emergência de mulheres escritoras. Leia Mais

Rio Grande em debate: Conservadorismo e mudança | Nelson Boeira

Resenhista

Jacqueline Ahlerdt


Referências desta Resenha

BOEIRA, Nelson (Org.). Rio Grande em debate: Conservadorismo e mudança. Porto Alegre: Sulina, 2008. Resenha de: AHLERDT, Jacqueline. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 8, n. 1, p. 247-253, jan./jun. 2008. Acesso apenas pelo link original [DR]

Emerging Johannesburg: perspectives on the pos-Apartheid city | Richard Tomlinson et al.

Resenhista

Jó Klanovicz


Referências desta Resenha

TOMLINSON, Richard et al (Org.). Emerging Johannesburg: perspectives on the pos-Apartheid city. London: Routledge, 2006. Resenha de: KLANOVICZ, Jó. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 7, n. 2, p. 265-271, jul./dez. 2007. Acesso apenas pelo link original [DR]

Paisagens da história. Como os historiadores mapeiam o passado | John Lewis Gaddis

Resenhista

Diogo da Silva Roiz


Referências desta Resenha

GADDIS, John Lewis. Paisagens da história. Como os historiadores mapeiam o passado. Trad. Marisa Rocha Motta. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Resenha de: ROIZ, Diogo da Silva. Como os historiadores escrevem a história das sociedades passadas? História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 7, n. 1, p. 217-223, jan./jun. 2007. Acesso apenas pelo link original [DR]

A natureza dos Rios: história/ memória e territórios | Gilmar Arruda

Resenhista

Marcos Gerhardt


Referências desta Resenha

ARRUDA, Gilmar (Org.). A natureza dos Rios: história, memória e territórios. Curitiba: UFPR, 2008. Resenha de: GERHARDT, Marcos. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 233-236, jan./jun. 2009. Acesso apenas pelo link original [DR}

História Debates e Tendências | UPF | 1999

Historia Debates e Tendencias O Feroz Mosquito africano no Brasil

A Revista História – Debates e Tendências (Passo Fundo, 1999-) é um periódico quadrimestral, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Passo Fundo (PPGH/UPF), que conta com os cursos de Mestrado e Doutorado.

A revista está ativa desde 1999, com periodicidade regular e sistema de dossiê temáticos organizados por um colaborador externo e outro interno.

Tem como público alvo a comunidade de pesquisadores da área de História e Ciências Sociais, vinculados a instituições de ensino superior e centros de pesquisa do país e do exterior.

Tem como missão divulgar trabalhos de pesquisa na área de História e Ciências Humanas e Sociais, publicando, após processo de avaliação entre pares, contribuições inéditas de resultados de pesquisas em sua perspectiva histórica e em suas diversas interrelações. Aceita artigos em português, espanhol, francês, italiano e inglês.

Periodicidade quadrimestral.

Acesso livre.

ISSN 1517-2856 (Impresso)

ISSN 2238-8885 (Online)

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