Estudos de História Regional: Minas Gerais por sua História /História em Curso/2022

No encerramento de 2022, a Revista História em Curso apresenta o seu 6º número com o Dossiê temático: Estudos de História Regional: Minas Gerais por sua História. Foi importante, diante das tantas perdas físicas e simbólicas que vivenciamos no nosso tempo, lançar o olhar para dentro, para tudo que se renova a todo tempo e que é a historiografia regional mineira e das contribuições que ela traz para compreensão dos estudos da especificidade de Minas Gerais e dos Estudos de História do Brasil e História Geral. Leia Mais

Travessias: Cantos, recantos e modas da nossa gente / Cadernos de História / 2020

Em 2020, Minas completou 300 anos de uma história dinâmica, resiliente e em constante transformação. Olhar para a produção acadêmica com a temática regional e refletir sobre a riqueza de temas e seus produtos nos faz respirar Minas e se inspirar. É assim, com alegria, que apresentamos o Dossiê Travessias: Cantos, recantos e modas da nossa gente com intuito de divulgar e promover ainda mais a pesquisa que se faz sobre Minas Gerais.

Escolhemos abrir esse Dossiê trazendo a discussão sobre os intelectuais e o poder. O artigo Poder e política nas Minas Gerais, de Ana Tereza Landolfi Toledo, discute as relações de poder em Minas no contexto da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, a partir da análise de D. Manoel de Portugal e Castro, que assumiu o governo da capitania de Minas a partir do ano de 1814. Toledo analisa a atuação política de Portugal e Castro na tentativa de mitigar as tensões das elites locais com a Coroa Portuguesa. Com um texto instigante, somos levados a conhecer esse importante ator político e administrador e suas ideias ilustradas, e como essas ideias impactam na construção de uma relação de poder na capitania que acabou impulsionando a abertura de fábricas, a exploração da extração de ferro e a abertura de novos caminhos e estradas para escoar a produção mineira.

Continuando o debate dos intelectuais na capitania, Márcio Pereira vai apresentar o naturalista Joaquim Veloso de Miranda, que, entre 1780 e 1805, também a serviço do Estado português, pesquisou a botânica, a mineralogia e os metais da capitania de Minas Gerais, buscando a identificação de potencialidades de exploração e atendimento das demandas da Coroa portuguesa. Miranda e seus auxiliares, além do conhecimento inestimável sobre a flora, promoveram as ciências na capitania a ponto de influenciarem na decisão régia de implantação de um horto botânico em Vila. Ao longo do artigo conhecemos o trabalho de Veloso de Miranda e seus auxiliares, destacando as ideias, mas também o ofício do naturalista numa contribuição importante ao lançar luz sobre o trabalho e seus saberes no final do século XVIII.

Em Sob o sol das estradas, Mariana Brescia Cruz, Fernanda Mendes Santos e Silvia Maria Amâncio Rachi Vartuli, nos levam para uma temática que é relativamente popular ao se remeter à tradição mineira, mas que paradoxalmente ainda é pouco trabalhada nas produções acadêmicas: O tropeirismo. O interesse metropolitano pela capitania estava nas riquezas, como o ouro, e também no seu potencial econômico, que exigia o escoamento da produção para os portos litorâneos. Os tropeiros eram agentes necessários para a configuração de uma rede de transportes que envolvia a mineração, principal produto até o século XVIII, e também eram responsáveis pela circulação de mercadorias tão necessárias à manutenção da capitania, como a manutenção da Corte no Rio de Janeiro. As autoras desvelam, a partir dos registros, esse ofício, seu desenvolvimento, seus desafios, as relações que se estabeleceram nessas idas e vindas dos tropeiros e sua permanência ao longo de gerações.

Avançando e caminhando pela História do imaginário, Rudney Avelino Castro Silva discute o segredo como persistência frente às perseguições inquisitoriais de judeus em Imaginário religioso e persistência: estudo dos ritos mortuários judeus à luz da Inquisição portuguesa nas minas setecentistas. O autor retoma a documentação de réus do Tribunal do Santo Ofício em Lisboa e analisa os ritos mortuários identificados para discutir o papel do segredo como instrumento de perpetuação de uma tradição religiosa e identitária, que conscientes ou não, guardaram sentidos e rituais judaicos entre os moradores de Sabará-MG. Tanto o segredo como sua expressão opositora, a traição, na perspectiva simmeliana, vão sustentar as análises do Tribunal da Inquisição na promoção de silenciamentos essenciais para a própria sobrevivência dos judeus nas Minas setecentistas.

Abrindo espaço para discutir um pouco os arranjos familiares, a infância e as mulheres, apresenta-se o texto Aspectos da história da infância nas Minas Gerais (Séculos XVIII-XIX). Nesse artigo, Denise Aparecida Sousa Duarte e Weslley Fernandes Rodrigues, com base em fontes documentais diversas (registros de óbitos de inocentes, devassas, relatos de viajantes, testamentos), desvelam a criança na capitania como um ator social. A criança foi geralmente analisada na perspectiva dos adultos, sem muito foco e sem definição clara na sociedade. No Brasil isso se refletiu em descaso e em silenciamentos. O desafio apontado pelos autores é interpretar as pouquíssimas referências da criança na documentação, e destaco nesse caminho a importante contribuição no apontamento das relações afetivas que são ressaltadas nessas interpretações, com a análise dos testamentos dos filhos bastardos e órfãos e os ex-votos (pintados em tabuletas como cumprimento de uma promessa já realizada) que se fizeram presentes nas Minas entre os séculos XVIII e XIX.

Dando sequência às relações familiares e de afeto nas Minas, o artigo O concubinato na América portuguesa: resistência feminina, afetividades, famílias e mestiçagens na comarca de Sabará no século XVIII, de Igor Bruno Cavalcante dos Santos, analisa o concubinato na comarca de Sabará no século XVIII. O trabalho mergulha nas análises sobre a mestiçagem com destaque às mulheres (tanto as negras como as mestiças), por vezes pouco visíveis na historiografia. O autor vai apontar as ambivalências do sistema colonial na revelação das relações afetivas mistas (legítimas ou ilegítimas sob a ótica religiosa), que envolveram escravas concubinas e os filhos frutos desses relacionamentos presentes e identificados na documentação. Dá voz para a complexidade das relações no Brasil colonial e indica vislumbres de um Brasil silenciado que carrega uma diversidade de estratégias e arranjos familiares, envolvendo afetos e disputas na sucessão e abre uma janela importante para novas pesquisas sobre gênero e família no Brasil.

Com foco na questão do gênero no século XIX, Séfora Semíramis Sutil se debruça sobre os modelos de feminilidade e seus paradoxos entre as classes menos abastadas a partir da análise da documentação em Das virtudes ou infortúnios femininos: os ideais de conduta no Brasil oitocentista. O modelo de mulher construído no Brasil do XIX deveria ser honrada, virtuosa, submissa, assim, os manuais de civilidade que circularam no Brasil, os periódicos e também os modelos femininos construídos nas obras literárias carregavam essa representação e educavam as mulheres determinando condutas social, religiosa, sexual e familiar que eram adequadas à feminilidade. Entretanto, a autora vai nos apresentar à Luiza Maria da Conceição, moradora da vila da Formiga em Minas Gerais, acusada do assassinato de seu esposo, indicando as distâncias possíveis entre a conduta ideal e desejável para as mulheres e as práticas cotidianas que variavam de acordo com o lugar social.

Chegando aos dias atuais, o trabalho Mulher comparsa: o testemunho midiático como delito de gênero, de Leticia Silva Azevedo e Lúcia Lamounier Sena, analisa os recursos discursivos nas páginas policiais a partir dos Cadernos Cidades dos jornais OTEMPO e o Super Notícia, no período entre 2006 / 2016. Ao analisar as notícias sobre mulheres que atuam no tráfico de drogas, as autoras identificaram que há silenciamento do relatado que é operado pelo mediador (o jornal, o jornalista) e da construção do papel e da História dessa mulher, associada como comparsa do crime. Apreende-se uma importante construção midiática sobre gênero e seus desdobramentos que não só vale a leitura, como nos leva a refletir sobre as permanências das representações da mulher na sociedade e de sua moral colocada sempre em julgamento por meio do discurso, que varia, no caso de crime de tráfico, no tratamento de homens e de mulheres. Prevalece, como afirmam as autoras, um sujeito “gendrado” carregado de simbologias sobre o feminino e suas categorias (maternidade, espaço doméstico, amor / paixão, cumplicidade feminina e vitimização).

A SOLIDÃO DOS MINEIROS: mineiridade, patrimônio cultural e os processos de hierarquização de pessoas e lugares em Minas Gerais ao longo do século XX vai nos levar para as questões acerca da memória e o conjunto de representações identitárias e patrimoniais sobre Minas Gerais. Dialogando com sua experiência de pesquisa Patrimonial, Carolina Paulino Alcantara destaca os olhares distintos e os silenciamentos promovidos a partir de critérios de seleção e exclusão de grupos e elementos culturais. O título remete à solidão, evocando as ausências e invisibilidades de pessoas e grupos em diferentes momentos da História de nosso estado. Registros dos costumes, das tradições e outros princípios norteadores das representações de Minas tenderam a privilegiar a região centro sul e, nessa toada, a autora discute e desvela as disputas pela memória na formação da identidade mineira a partir dos projetos, ações e concepções dos dirigentes e gestores públicos do estado mineiro.

A extensão territorial e a diversidade do Estado mineiro vai nos levar ao O poder e suas representações no interior das comunidades agregas do Vale do Mucuri, Minas Gerais (1850-1950), num trabalho interessante, Marcio Achtschin Santos, nos revela a relação do trabalho na atividade agro pastoril, na região do Vale do Mucuri a partir da agregação, que corresponde à forma de ocupação da terra por meio de cessão a homens livres. Implantada desde o período colonial, a agregação vai aumentando no nordeste mineiro com o enfraquecimento da escravidão ao longo do século XIX. A proposta do autor é, a partir das entrevistas, identificar a relação territorial e de poder que se estabelece. O autor pergunta de que modo é construído o imaginário para o reconhecimento e permanência das relações de poder e, dando ênfase à cultura e aos ritos da tradição das comunidades agregas, vai identificando os sentidos e estratégias na relação marginal com os grupos dominantes. Na escuta dos entrevistados, vai dando foco às estratégias comunitárias, às especificidades regionais e às transformações ao longo do tempo.

Por fim, mas nunca menos importante, Rogéria Alves e Karla Cerqueira vão apresentar e discutir a organização e as ações implementadas entre 2015 e 2018 na Educação Escolar Quilombola pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. A Educação Escolar Quilombola em Minas Gerais: Identidade e Resistência trata da importante compreensão da Resolução Nº4 / 2010 das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica e seu artigo 41, que institui a Educação Escolar Quilombola como uma modalidade especial e determina sua existência em áreas quilombolas com pedagogia própria que respeite a cultura dos seus moradores. As autoras discutem os avanços dessa discussão no país em direção à uma proposta de educação inclusiva e plural (de todos, indo além da própria visão de que quilombola são herdeiros dos negros escravizados) e fornecem um panorama da aplicação da Educação Escolar Quilombola nas políticas públicas de educação e particularmente nas ações implementadas pela SEEMG, apontando seus avanços e seus desafios.

Excelente leitura!

Júlia Calvo – Editora da Revista Cadernos de História.

CALVO, Júlia. Apresentação. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.21, n.34, 2020. Acessar publicação original [DR]

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O parlamento mineiro e a construção do Estado nacional / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2014

Ao aproximar-se a data em que se comemoram 180 anos da instalação da primeira Assembleia Provincial de Minas Gerais (1835-1837), a RAPM dedica este Dossiê à análise dos embates que marcaram a atividade parlamentar em torno da construção do Estado nacional brasileiro.

A formação dos Estados nacionais modernos foi um fenômeno que teve na Revolução Francesa um dos seus principais marcos. A luta pela superação do Antigo Regime na Europa foi inseparável da crise dos sistemas imperiais, como o luso-brasileiro, e, com ele, do estatuto colonial, sobretudo nas Américas. Leia Mais

Conspirações e sedições nas Minas Gerais / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2014

Este Dossiê nasce sob o signo da afinidade. Poucos são os temas que se confundem de maneira tão perfeita com a história de uma instituição de memória como o das revoltas e o Arquivo Público Mineiro.

Minas Gerais, desde sua fundação, foi embalada por lutas políticas que brotaram em todas as escalas possíveis, das pequenas resistências cotidianas às rebeliões mais devastadoras, dos conflitos aparentemente comezinhos entre autoridades locais às utopias inconfidentes. Todo esse passado, por si só, já seria capaz de assegurar um acervo histórico monumental. Arquivos não ficam, porém, estacionados no tempo, como uma espécie de depósito silencioso em que os documentos esperam guardados a chegada dos leitores iluminados. Leia Mais

Memória da Administração de Minas Gerais / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2013

O moderno arranjo arquivístico da documentação reunida sob a custódia do APM tem disponibilizado o acesso a uma multiplicidade de pesquisas, como as que se norteiam pela história administrativa de Minas, gerando campo de interlocução em que a instituição consolida sua vocação republicana.

Os textos que compõem este Dossiê têm como ponto de partida a intenção de demonstrar o potencial de pesquisa existente nos documentos de caráter arquivístico produzidos e acumulados pelas secretarias de governo implantadas no Estado de Minas Gerais após o estabelecimento do regime republicano, em 1889, e que se encontram sob a guarda do Arquivo Público Mineiro. Leia Mais

Minas do ouro, Minas indígena / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2011

“Minas do ouro, Minas dos cataguás.” Com esse epíteto, batizou-se o território mineiro, reconhecendo-se, desde os primeiros contatos, os índios como os senhores de todas as Gerais. O que se sabe é que a presença dos colonos se estendia pouco além dos povoados, e tudo o mais era, então, domínio das populações nativas. “Infestando” o território, índios de diversas nações – caiapó, botocudo, puri, coroado, malali, maxacali e pataxó, entre outros – ocupavam todo o cenário até que colonos, avançando pelo interior e desbravando sertões inóspitos, imprimiriam uma nova paisagem ao transpor as fronteiras sob domínio das populações nativas.

No entanto, os trabalhos sobre as Minas dos cataguases, prenúncio de uma História marcada pelo encontro com os índios, pouco contribuíram para o conhecimento do processo histórico a que esses povos foram submetidos com o avanço das frentes de expansão colonizadora. Mesmo que a presença dos povos indígenas tenha sido, reiteradas vezes, tema das discussões administrativas e eclesiásticas, foram ignorados por parte expressiva da historiografia mineira. Ainda que uns poucos historiadores admitissem sua presença nesse cenário, antecipavam suas ressalvas, ao reduzirem a atuação dos índios aos primeiros contatos, sem os tomar sequer como agentes da História e da formação sociocultural de Minas. E, mesmo quando assim foram considerados, eram tidos como meros apêndices dos estudos, prestando-se, quase sempre, a penduricalhos à ação colonizadora e ao protagonismo português, como testemunham as obras clássicas da historiografia que apenas tangenciaram a questão. Leia Mais

Fotografia e cinema em Minas Gerais: Olhares / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2009

Linguagens visuais

Em 1999, o Museu da Imagem e Som de São Paulo patrocinou uma exposição dedicada à história da fotografia no Brasil. No encarte intitulado Minas: minas. IV Mês Internacional da Fotografia, o fotógrafo mineiro e organizador da seção de Minas Gerais, Bernardo Magalhães, afirmou: “[…] nenhum estudo crítico jamais foi feito sobre a Fotografia em Minas Gerais, verbete praticamente inexistente na História da Fotografia no Brasil”.[1] Leia Mais

Polígrafos, tipógrafos e jornalistas em Minas no século XIX / Revista do Arquivo Público Mineiro / 2008

Uma história de precursores e ativistas

A imprensa, que durante certo tempo foi relegada pelos estudiosos a uma posição inferior, em virtude do predomínio de abordagens de caráter mais social e econômico da história e até mesmo por uma atitude preconceituosa – uma vez que para muitos não passava de mero reflexo das idéias e fatos de seu tempo –, retoma seu valor enquanto fonte e objeto dos estudos históricos. Isso se dá não nos moldes de uma historiografia tradicional, mas na linha que já identificava Xavier da Veiga em fins do século XIX. Este, sim, o verdadeiro precursor dos estudos sobre a imprensa em Minas, se já não bastasse o legado da preciosa coleção de jornais e revistas dos séculos XIX e XX, que se iniciou com ele, à frente do Arquivo Público Mineiro, e que hoje constitui o acervo da Hemeroteca Histórica, vinculada à Superintendência de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais, órgão da Secretaria de Estado de Cultura. Leia Mais

Vila Rica do Pilar: reflexões sobre Minas Gerais e a Época Moderna / Varia História / 2004

O presente dossiê: Vila Rica do Pilar: Reflexões sobre Minas Gerais e a Época Moderna tem como ponto de partida a categoria metodológica paróquia e, portanto, abrange a jurisdição e a população pertinente à Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. É fruto da atividade conjunta dos professores Adalgisa Arantes Campos (Coordenadora do Banco de dados sobre as séries paroquiais da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto), Douglas Cole Libby (Diretor, Centro de Estudos Mineiros) e do pesquisador mestrando Renato Franco, responsável pela elaboração dos cruzamentos de dados.

Nosso objetivo é tornar público um material inédito, de grande utilidade à comunidade científica. Trata-se de um dos vários resultados do trabalho financiado através de recursos e bolsas de iniciação implementados por órgãos de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e o CNPq, através da Pró- reitoria de Pesquisa da UFMG.

A base de dados foi iniciada em fins de 1998, na própria Casa dos Contos de Ouro Preto, responsável pelo trabalho hercúleo de microfilmagem da documentação impressa e manuscrita das duas paróquias ouropretanas. Desta data aos dias atuais, o projeto teve membros fixos e também transitórios, envolvendo alunos e professores da graduação e da pós-graduação. Encontra-se concluída a série batismo; em andamento as séries casamento e óbito.

O Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar (APNSP) dispõe de definição institucional e de personalidade jurídica própria através do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto. Seu acervo, bastante completo e preservado, resulta das atividades desempenhadas pela instituição, com a particularidade de ser um dos arquivos mais importantes do tipo paroquial sobre a colônia e o império do Brasil. Nos tipos documentais específicos da jurisdição paroquial, destacam-se os assentos de batismo, casamento e óbito, cujas séries são praticamente completas, característica que tem atraído pesquisadores.

A documentação paroquial tem sido enfocada pelas recentes tendências historiográficas, pois apresenta configuração adequada para o tratamento serial. A partir de informações retiradas de campos específicos, do cruzamento de campos diferentes ou mesmo de planilhas diferentes são detectadas a natureza do individual, das relações tecidas no âmbito da (s) família(s) e dentro daquela comunidade; o que se configura como singular e como representativo naquele período histórico preciso. A paróquia destaca-se então como uma categoria privilegiada para se recuperar as relações humanas ao nível horizontal e vertical. Ela é fechada e aberta ao exterior, funcionando como uma estrutura intermediária nos domínios político / administrativo, econômico, cultural / religioso. A paróquia fundamenta-se em um território demarcado, em um espaço de relações sociais e simbólicas. Por isso, quase sempre sustenta estudos realizados em diversas linhas de abordagem, desde a perspectiva demográfica àquela das práticas e das representações relativas ao sagrado, alvo preferencial da história das vivências religiosas e da própria história da religião católica na Época Moderna.

A relevância da documentação procedente do termo (município) de Vila Rica ajuda a compreender a concentração da historiografia colonial e provincial. Da mais tradicional até a mais recente, produziu-se vasta literatura sobre o passado mineiro levando em conta a experiência e a documentação vilarriquenhas. Entretanto, destacamos que, pela primeira vez, a Paróquia de Nossa Senhora do Pilar conta com análises desta amplitude, com um número massivo de dados que só foram viáveis depois do advento do computador pessoal.

Agradecemos os autores pela generosidade com que encararam esta contribuição e chegaram ao seu término. Os artigos aqui presentes abordam aspectos variados do conhecimento: demográficos, políticos, mentais, religiosos tiveram como ponto de partida a sobredita paróquia, apresentando certa unidade, mesmo os que não recorreram à base de dados. Contudo, o período contemplado e o fio condutor não foram perdidos.

Belo Horizonte, 09 / 2003

Adalgisa Arantes Campos – Organizadora.


CAMPOS, Adalgisa Arantes. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.20, n.31, jan., 2004. Acessar publicação original [DR]

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