História, Métodos e Narrativas / História & Perspectivas / 2018

Para este Número 58, da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê História, Métodos e Narrativas e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Ao definir a temática para a este dossiê, a Revista teve como objetivo reunir artigos que apontam reflexões em torno da valorização da História, do método na pesquisa e no ensino, e das narrativas que articulam campos de investigação e análises importantes para a Historiografia.

Ao fazer uso de diferentes materiais, fontes de pesquisa, narrativas sociais, os pesquisadores nos oferecerem um horizonte de metodologias e interpretações, com distintos olhares para a História em articulação com linguagens e temas diversos – imprensa, charge, música, relato memorialístico, narrativas orais; cidades, migrações, trabalho, formação profissional e outros. Trata-se de trabalho cuidadoso dos estudiosos que fazem despontar uma riqueza de memórias e narrativas sobre diferentes tempos e espaços.

O primeiro artigo, de Itamar Freitas, explora princípios e práticas de uso da História destinados às crianças e aos adolescentes, descreve como epistemologias históricas se disseminaram na formação superior de historiadores e migraram para a formação continuada de professores por meio de manuais de método de ensino nos Estados Unidos da América.

O segundo, de José D’Assunção Barros, tece considerações teóricas e metodológicas em torno de possibilidades de interação entre Música e História: “a Música como recurso para a História; a música como objeto de estudos para a História; música como meio de representação para a História ou para a historiografia; o potencial da relação interdisciplinar a partir da Música para a História, levando em conta possibilidades de usos historiográficos de conceitos musicais como ‘polifonia’ ou ‘acorde’”.

O terceiro, de Alberto Gawryszewski, adota o conceito de charge ideológica para estudar como a imprensa anarquista brasileira, no período entre 1890 e 1930, desenhou a “justiça burguesa” em charges e caricaturas.

Gláucia de Oliveira Assis e Assis Felipe Menin analisam diferentes narrativas para discutir a relação entre memórias, imigrantes e imprensa, no contexto da saída dos haitianos e senegaleses de seus países e seu acolhimento em Caxias do Sul (RS), caracterizada como uma cidade de imigração italiana e que começa a receber imigrantes haitianos desde 2011 e senegaleses a partir de 2012.

Mariana Esteves de Oliveira percorre narrativas docentes como indicativos para a pesquisa acerca da precarização do trabalho e da própria história docente. Ao abordar memórias e percepções docentes, levanta pistas para a compreensão sobre as formas como a precarização atua sobre os sujeitos e discute como a dimensão subjetiva dialoga com a constituição histórica da categoria docente e de suas identidades.

Com o objetivo de preservação da memória sindical, no atual contexto de desregulamentação das relações de trabalho e da mercantilização da educação, no Brasil, Antônio Fernando de Araújo Sá ressalta a importância da “polifonia da memória” para: o trabalho de reconstrução da trajetória do movimento docente na Universidade Federal de Sergipe em articulação com a “complexidade das experiências dos trabalhadores nas últimas décadas de reconstrução democrática no Brasil”; e para a “inclusão do tema da cidadania dos distintos sujeitos sociais no sentido do direito da narração”.

Ana Paula Squinello e Jérri Roberto Marin discorrem sobre os processos de elaboração das representações produzidas acerca de Mato Grosso e suas populações por Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay) em sua experiência de viajante, narrador e expedicionário.

Na segunda seção deste número, consta um conjunto de nove artigos.

Maria Gisele Peres percorre narrativas de viajantes, livros de memorialistas e códigos de postura de Araguari (MG) em busca de evidências acerca da construção de marcos de memória que ganharam espaço no circuito de difusão de uma história sobre a cidade, para discutir a organização dos espaços, a construção de sentidos sobre seu passado e o processo de produção social de lembranças e esquecimentos.

Henry Marcelo Martins da Silva analisa a trajetória da colônia árabe de São José do Rio Preto (SP) no início do século XX. A partir de fontes impressas, como jornais e almanaques locais, descortina momentos de perseguição e conflitos e examina as estratégias do grupo para articular-se às transformações urbanas e empreender um característico e bem sucedido projeto de inserção social.

Felipe Cittolin Abal e Ana Luiza Setti Reckziegel estudam um processo transcorrido durante a ditadura militar brasileira, contra Theodomiro Romeiro dos Santos – sua prisão sua tortura e sua condenação à morte –, para discutir as relações entre a Justiça Militar e a repressão aos opositores da ditadura no Brasil.

Cleber Eduardo Karls, Thaina Schwan Karls e Victor Andrade de Melo debruçam-se sobre revistas e jornais publicados no Rio de Janeiro, no século XIX, para identificar a presença da feijoada no cotidiano da cidade e discutir “as peculiaridades de conformação de uma ideia de cultura nacional em um momento em que o Brasil começava a se forjar como nação”.

André Mota e Gustavo Querodia Tarelow levantam e apresentam documentação inédita para analisar as relações entre a “política da boa vizinhança”, promovida pelos Estados Unidos, e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre 1938 e 1944, no contexto de criação do Hospital das Clínicas. A partir dos artigos publicados na Revista Médico-Social, criada no ano de 1942, os autores apontam evidências da influência do modelo médico-assistencial e tecnológico americanos sobre a medicina paulista.

Osicleide de Lima Bezerra e Geraldo Alexandre de Oliveira Gomes discorrem sobre o processo de elaboração dos valores e das representações sobre o trabalho, levando em consideração noções de utilidade e produtividade e o processo de formação do mercado de trabalho na região Nordeste, para refletir acerca da consagração do trabalho durante o Estado Novo e dos modos como “os ideais do trabalho são erigidos em oposição à ociosidade e à malandragem através da música e da propaganda oficial do governo de Getúlio Vargas”.

Carlos Alberto Medeiros Lima reúne informações sobre a incidência da coqueluche entre crianças do Sudeste rural brasileiro, no período compreendido entre 1840 e 1870. Parte de três razões para se discutir a doença no Brasil: uma ligada à historiografia das doenças; outra, pelos modelos de choque microbiano; e a terceira, ligada às percepções de historiadores em torno da incidência da tuberculose, especialmente nas populações escravas. E discute a difusão da coqueluche, levando em consideração os processos de transmissão ligados aos contatos entre regiões brasileiras no contexto de mudanças do século XIX.

Raquel de Souza Felício e João Henrique Zanelatto desenvolvem reflexão acerca do processo de construção de hegemonia dos professores na direção do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Criciúma e Região, ao longo dos anos 1990. Abordam a luta sindical, as demandas de reivindicações, o perfil da própria categoria de servidores públicos na região, para discutir os fatores que contribuíram para a reconfiguração da categoria, que deixou de ser formada por uma maioria braçal masculina para ser uma maioria de profissionais da área da educação e do gênero feminino.

Felipe Cazetta estuda obras e periódicos que publicaram projetos defendidos por autores espanhóis e portugueses entre os finais do século XIX e início do XX, como Ganivet, Unamuno e António Sardinha, para analisar a circulação de projetos de hispanoamericanismo.

Desejamos a todas e a todos uma boa leitura e agradecemos às pesquisadoras e aos pesquisadores que colaboraram com a Revista História & Perspectivas.

O Conselho Editorial.

História, Métodos e Narrativas. História & Perspectivas, Uberlândia, v.31, n.58, 2018. Acessar publicação original [DR].

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História, Narrativa e usos do passado / Expedições / 2015

A História seja considerada como ciência ou arte, ou algo entre uma e outra, não pode deixar de ser posta em si no tempo de sua tessitura. Malgrado diga-se que ela possua por objeto um tempo passado, cabe considera-la em todas as suas perspectivas, afinal trata-se de um sujeito que analisa no presente indícios de um passado à sua e outras temporalidades que, por sua vez, será em narrativa lida, apropriada e criticada por sujeitos em um tempo que não se fecha em si. Neste ínterim, expõe-se a complexa constituição da matriz disciplinar enunciada pelo teórico alemão Jörn Rüsen em sua Razão Histórica2. É neste caminho que se constrói este Dossiê sobre “História, narrativa e usos do passado”. Por compreender a história como problematizadora de uma série de questões, em diferentes tempos e espaços; por entender a necessidade de refletir sobre sua escrita e os sujeitos envolvidos; por compreender com Rüsen, na obra citada, que o cotidiano do historiador é a base para reflexão do seu exercício; por compreender a estreita relação entre a História e a vida prática das pessoas; por compreender, enfim, as diversas possibilidades de escrita e de usos que podem ser feitos do passado.

Por todas estas questões, são propostas as reflexões que seguem nos artigos, cabendo, no entanto, uma salvaguarda: a de que, acerca das reflexões sobre a História, narrativa e usos do passado não se limitam ao aqui elencado, mas sim esta é uma fração pequena de áreas tão profícuas à reflexão, por parte de filósofos e historiadores e que estão ganhando espaço entre pesquisadores brasileiros e de diversos países. Feitas essas breves contextualizações, cabe iniciar pelas contribuições dos intelectuais que construíram esta miríade temática, congregando profissionais da UFMS, UniCEUMA, UNIVERSO, UDF, UnB, UFRJ, UFMA e UFPI. A iniciar por uma história que é explicada em desenvolvimento e com uma finalidade, em detrimento da realização do Espírito, portanto plena de intencionalidades em seu devir. Assim podemos perceber as formas da razão associadas à historicidade em Hegel propostas por Delmo Mattos e que denotam, no século de Hegel, uma perspectiva bastante apropriável para o Estado de Direito, logo a serviço da ordem política e de uma elite que usufrui de fato do devir da História no contexto.

Neste sentido, mas em outra linguagem, Diogo Pereira da Silva nos traz à tona a música de Mozart que, na perspectiva apresentada mostra um passado apropriado em uma ópera desejante de representar “uma alegoria velada do monarca reinante, cuja Corte havia comissionado a composição da Ópera para um determinado festejo – como Coroações, Onomásticos, Jubileus, Bodas” conforme diz o autor. Para além do exemplo em questão, o material serve de instrumento para reflexões de outras produções musicais do século XVIII dentro do mesmo gênero que se apropriaram de um passado greco-romano. No âmbito filosófico e literário, Renato Nunes Bittencourt evoca Nietzsche e Eça de Queiroz para pensar o conhecimento histórico e a consciência histórica, no sentido de suas utilidades, benefícios ou malefícios ou, como o próprio autor diz, “benefícios e malefícios decorrentes do uso do conhecimento histórico na condução da vida individual e da consciência social”. De fato, cabe pensar sobre a presença do conhecimento histórico na vida prática das pessoas e nos níveis de consciência a serem percebidos acerca do mesmo. Em uma perspectiva prática, em relação à Educação e movimentos populares, Wellington Lima Amorim e ainda Maria Aparecida Alves da Costa que mostra a própria ação de sujeitos no ato de empoderamento ao buscar definir seus papéis sociais em prol de uma Educação de qualidade. Neste sentido, a apropriação de ideias, o embate e engajamento caracterizam, no plano social, o plasmar de ações humanas no tempo e espaço que anseiam por construir sua própria história e mudar a ordem do estabelecido, criando expectativas em um horizonte de histórias não privilegiam classes subalternas.

E, nos contextos mais variados, não apenas a literatura, a música, a filosofia, a educação ou mesmo as ações humanas denotam apropriações, releituras e usos do passado. A figura do historiador não aparece imune a formas de leitura e as opções teóricas, metodológicas, perspectivas acerca das fontes históricas e construções narrativas são permeadas de concepções de verdade (entre ciência e arte), subjetividades e projeções / construções de identidades e alteridades. Neste caminho os autores Fábio Libóreo, Daniela Scheinkman Chatelard, Rita de Cássia Oliveira e Roberto Nunes Bittencourt problematizam diversas possibilidades e contribuem para uma profícua reflexão das relações entre passado e presente em diversas temporalidades com as quais trabalham os pesquisadores. Espaço aberto e palavras escritas, ficam as contribuições para problematização das áreas que dão nome a este dossiê, com o saboroso gosto de dever cumprido, concomitante à sensação de que a tarefa está incompleta. Gosto este e sensação esta que advém da consciência de que o dizer do poeta Antonio Machado, no tocante à Teoria e Metodologia da História, é uma sentença válida: “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar.”3 Portanto, sempre haverá reflexões, caminhos, opções e temas a se tornarem objeto de interesse dos historiadores, basta que estes os construam como tais.

Notas

1. Razão histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Brasília: EdUNB, 2001.

2. MACHADO, Antonio. Poesias Completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917.

Leandro Hecko – Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná e Professor Adjunto do Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas – MS. E-mail: [email protected]


HECKO, Leandro. História, narrativa e usos do passado. Revista Expedições, Morrinhos, n6, n.2, 2015. Acessar publicação original. [DR].

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Ensino de História e Linguagem: discurso, narrativa e práticas de significação do tempo / História Hoje / 2015

As pesquisas no campo do ensino de História que hoje consideram os referenciais da historiografia e da teoria da História no diálogo com diversos outros campos de conhecimento têm crescido em quantidade e qualidade no Brasil. No entanto, em que pese o avanço teórico evidente e sua importante contribuição para a renovação do ensino dentro e fora da escola, poucos são os investigadores que têm se dedicado às questões concernentes à linguagem destacando, por um lado, a leitura e a escrita como práticas sociais, e, por outro, os gêneros discursivos em sua relação com o ensino e aprendizagem da História.

Destarte, o ensino de História é permeado e impactado pelas questões da Linguagem de forma singular, assemelhando-se e distinguindo-se da historiografia em seu sentido estrito. Nesse diálogo permanente, significantes como narrativa histórica tornam-se elementos centrais das empreitadas analíticas situadas em lugar de fronteira na busca por compreensão dos diferentes processos de significação do tempo presente que tomam lugar no espaço escolar. Articulados, tempo e narrativa, por sua qualidade discursiva compõem o processo de compreensão da existência temporal do ser humano, dado que o espaço do contar é um espaço de compreensão.

Movidas por essa preocupação, procuramos reunir neste dossiê estudos cujas preocupações recaem sobre os diálogos e tensões surgidos nos enfrentamentos e indagações pela aproximação de referenciais provenientes de dois campos: Ensino de História e Linguagem. Nesse sentido, ressaltam, em exercícios e propostas teórico-metodológicas, que a compreensão do tempo é produção linguística e que as operações discursivas envolvidas na narrativa implicam também um processo constitutivo da compreensão do mundo pelo homem, envolvendo, ainda, a constituição do próprio ser. A produção de sentido histórico no ensino de História está, dessa forma, impregnada pelo narrar o tempo e por seus desdobramentos pelos múltiplos e complexos espaços vividos.

Nesse marco analítico, propõe-se o adensamento de questões a princípio triviais e cotidianas da História escolar como os atos de ler o livro, copiar do quadro, escrever no caderno, responder provas, comprar e ler periódicos de divulgação de História e tantos outros aspectos que constituem este universo complexo, múltiplo, híbrido, ambivalente e polissêmico, que desperta muitos questionamentos e possibilidades investigativas.

A seção Dossiê é aberta pelo texto “Potencialidades das ‘narrativas de si’ em narrativas da história escolar”, de Ana Maria Monteiro e Mariana de Oliveira Amorim. As autoras apresentam as bases teórico-metodológicas de uma pesquisa em andamento que busca examinar as potencialidades das “narrativas de si” de professores, em sala de aula, para a construção do saber histórico escolar e, também, para a produção de identidades docentes.

Carmen Teresa Gabriel apresenta “Jogos do tempo e processos de identificação hegemonizados nos textos curriculares de História”, instaurando um diálogo com as teorizações do discurso e os estudos narrativos. Seu objetivo é explorar os jogos do tempo que articulam passado, presente e futuro nas narrativas identitárias hegemonizadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História (PCNs) que tem como leitor potencial o professor desta disciplina.

Patricia Bastos de Azevedo em “História Ensinada e Dialogismo: prática de letramento no 6º ano do Ensino Fundamental” empenha-se em compreender a produção de sentido em práticas de letramento na história ensinada que tomam lugar em uma sala de aula de história em uma escola estadual no Rio de Janeiro / Baixada Fluminense.

Marcelo Fronza convida-nos a ler o artigo “As narrativas históricas gráficas como expressão da aprendizagem histórica de jovens estudantes do ensino médio – perspectivas da educação histórica”. O autor enfoca aspectos da expressão da consciência histórica de jovens estudantes de ensino médio tomando como objeto de análise suas narrativas históricas gráficas. No texto, Fronza indaga-se se os conceitos de intersubjetividade e verdade, ligados à identidade histórica dos jovens, interferem na orientação de sentido no tempo.

Em “Práticas de escrita escolar no ensino de História: indícios de significação do tempo em manuscritos escolares”, Maria Lima analisa aspectos expressivos e contextuais de um manuscrito escolar de uma aluna de 6º ano, cuja produção é, socialmente, considerada insuficiente do ponto de vista de uma escrita convencional. A autora privilegia o enfoque dos aspectos expressivos e contextuais com a intenção de identificar as marcas que fortalecem a hipótese de que os sentidos ali instituídos remetem a movimentos de exclusão social apoiados em formações discursivas relacionadas a processos de silenciamento empreendidos por práticas que se utilizam da escrita e da História para doutrinar, mais do que para formar.

Maria Aparecida Leopoldino apresenta-nos o artigo “A leitura de textos literários no ensino de história escolar: entrelaçando percursos metodológicos para o trato com os conceitos de tempo e espaço”. A partir de uma abordagem focada no conceito de tempo e espaço em diálogo com literatura contextualizada no ensino de História nos anos iniciais de escolaridade, a autora realiza um exercício de leitura que se constitui em proposta teórico-metodológica que favorece a desnaturalização dos heróis e a crítica às datas comemorativas.

No artigo “Enseñanza de la Historia y enfoque narrativo”, Virginia Cuesta analisa narrativas históricas produzidas por crianças e jovens do “nível secundário” no contexto de aulas de História em que privilegiou o uso didático da empatia histórica. Sua análise é fundamentada no enfoque narrativo preconizado por Gerome Bruner, e nos aportes de Kieran Egan no concernente às relações entre o poder da imaginação no ensino e o pensamento narrativo. Mobiliza também referenciais da Crítica Literária para pensar o aspecto processual da produção de narrativas históricas pelos alunos, reforçando a ideia de que as práticas de ensino de História pressupõem um trabalho comprometido com a escrita.

Fechando o Dossiê, Ana Zavala aborda em seu texto “Pensar ‘teóricamente’ la práctica de la enseñanza de la Historia” o que significa falar em teorização da prática de ensino. Confronta, para isso, os dois modos de teorização, o acadêmico e o realizado pelos professores na sala de aula da Educação Básica. A autora nega a contradição entre teoria e prática, pensando sua complementaridade e potencialidades, destacando que há uma teoria guiando a prática concebida pelos próprios praticantes, sejam eles os professores, sejam os pesquisadores que investigam as práticas docentes.

Na seção Entrevista, convidamos você leitor a uma conversa instigante com o prof. Dr. Gonzalo de Amézola, docente da Universidade Nacional de La Plata (UNLP). O diálogo norteou-se, inicialmente, pelas reflexões em torno do que chamou de esquizohistoria, termo mobilizado no contexto de suas reflexões sobre as relações entre o conhecimento histórico acadêmico e o escolar em uma perspectiva histórica. Além disso, o prof. Amézola apresenta um panorama histórico do processo de constituição da disciplina escolar de História na Argentina, destacando como uma tradição de memorismo e nacionalismo, que marcam a prática docente naquele país até a atualidade, foi instaurada ao longo dos séculos XIX e XX na História ensinada, em uma perspectiva cada vez mais autoritária.

Na terceira seção, Falando de História Hoje, podemos ler o artigo intitulado “A teoria da história de Jörn Rüsen no Brasil e seus principais comentadores”, escrito por Wilian Carlos Cipriani Barom. Nesse artigo, pautando-se numa revisão da literatura produzida no Brasil, o autor busca identificar as principais contribuições da teoria de Rüsen para a história e seu ensino, de acordo com a opinião de pesquisadores e comentadores nacionais. Utiliza-se de uma amostragem de 34 artigos publicados em revistas e anais eletrônicos de eventos dedicados às áreas de História e Educação.

A quarta seção, E-storia, é composta por dois artigos. No primeiro, intitulado “Ensino de História e tecnologias digitais: trabalhando com oficinas pedagógicas”, Marcella Albaine Farias da Costa discorre sobre possibilidades de trabalho com / sobre tecnologias digitais a partir de sua própria experiência ao desenvolver atividades com oficinas pedagógicas. Reflete sobre as diferenças entre as estratégias propostas e uma atividade dita “tradicional”, defendendo o ponto de vista que as fixam enquanto espaço e tempo de formação e pesquisa

Em seguida, Joelci Mora Silva e Sônia da Cunha Urt, no texto “Professores de História e a internet nas escolas: concepções e caminhos”, discorrem sobre a inserção das redes sociais on-line no fazer docente assumindo como principais objetivos o estudo e a reflexão acerca dos caminhos do ensino de História em sua interlocução com o uso escolar da internet.

Na seção História Hoje na sala de aula somos instigados pelo artigo do professor Décio Gatti Júnior intitulado “Uma experiência de formação de professores em torno do conhecimento histórico-educacional na Universidade Federal de Uberlândia”. O texto traz uma reflexão sobre sua experiência de ensino da disciplina História da Educação em cursos de formação de professores entre 1994 e 2014. Destacando os esforços de construção de um programa disciplinar ajustado aos interesses dos alunos e que se conjugue aos propósitos formativos, o autor fornece subsídios para pensarmos a importância da permanência da disciplina nos cursos de licenciatura.

Na seção Resenha, Isabelle de Lacerda Nascentes e Sérgio Armando Diniz Guerra Filho apresentam-nos o livro Pesquisa em Ensino de História: entre desafios epistemológicos e apostas políticas, organizado por Ana Maria Monteiro, dentre outros autores. Ressaltam que o propósito central das discussões converge para o enfrentamento dos dilemas político-institucionais ligados ao reconhecimento e valorização do potencial da escola pública como lócus privilegiado de difusão e democratização de bens culturais, incluindo o conhecimento científico. Destacam ainda que os autores assumem um desafio epistemológico, articulando campos distintos e mobilizando discursos da historiografia, das teorias do currículo, da didática e da pedagogia que construam sentido e legitimidade para o ensino da disciplina de História.

Célia Santana Silva convida à leitura do livro Ensino de História: usos do passado, memória e mídia, organizado por Helenice Rocha, Marcelo Magalhães, Jaime Ribeiro e Alessandra Ciambarella. De acordo com ela, os autores apresentam reflexões sobre o uso social da História e suas interfaces entre o ensino de história e a circulação social da história nas diversas esferas de produção, além de considerações acerca dos usos do passado em diferentes mídias. Ressalta como os textos contribuem para a ampliação de diálogos e olhares com e para a história pública, ou seja, as histórias que são produzidas para e além dos muros da escola.

Na seção Artigos leremos três textos de caráter distinto.

Maria Aparecida da Silva Cabral é autora do artigo “O Currículo Mínimo, o Ensino de História e o Sistema Estadual de Avaliação no Estado do Rio de Janeiro: reflexões sobre os processos de ensino e aprendizagem na escola básica”. A autora analisa o processo de implementação, a partir de 2012, do Currículo Mínimo proposto pela Secretaria de Educação e Cultura estadual, enfocando o impacto dessa política educacional no cotidiano escolar, especificamente, nas aulas de História do Ensino Fundamental II.

Marta Ferreira, em “Os cadernos diários nos cotidianos do Ilè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá”, convida-nos a conhecer as redes educativas construídas nesse terreiro de candomblé por meio da leitura dos ìtàn (histórias de òrìṣà) como narrativa histórica que dá sentido à religião, bem como dos cadernos / diários de crianças e adolescentes candomblecistas, que registram por escrito o aprendido nos cotidianos desse terreiro.

Por fim, o texto “Conexões entre escola e universidade: o Pibid e as estratégias de residência docente” assinado pelos professores da área de Ensino de História do Departamento de Ensino e Currículo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Fernando Seffner, Carla Beatriz Meinerz, Carmem Zeli de Vargas Gil, Caroline Pacievitch e Nilton Mullet Pereira. Os autores apresentam reflexões produzidas no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) desenvolvido com alunos do Curso de História da UFRGS.

Os debates tecidos neste volume não se fecham em si, mas abrem possibilidades outras, pois apresentam diferentes questões, algumas em seu processo embrionário e outras com uma trajetória mais consolidada. Nosso desafio, nesse sentido, é provocar no leitor um desassossego e um exercício de contrapalavra. Para isso, lançamos um convite aos graduandos, professores, pesquisadores e a comunidade mais ampla ao exercício de olhar com mais atenção ao comum e cotidiano e ao exótico e excepcional, pois trazemos uma incompletude e um inacabamento estruturante próprio desse processo de diálogo entre dois campos fecundos – ensino de História e Linguagem – que apresentam muitos desafios a serem enfrentados futuramente.

Maria Aparecida Lima dos Santos – Doutora em Educação. Docente do curso de Pedagogia, Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Membro do Grupo de Pesquisas Oficinas da História, sediado na UERJ. Campo Grande, MS, Brasil. E-mail: [email protected].

Patrícia Bastos de Azevedo – Doutora em Educação. Professora da área de Ensino de História, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Nova Iguaçu, RJ, Brasil. E- mail: [email protected].

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Memória, Narrativa, Política / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2010

Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. (Ítalo Calvino. Seis propostas para o próximo milênio)

A revista CLIO apresenta o dossiê “Memória, Narrativa, Política. ” que reúne artigos de historiadores e historiadoras do Brasil e demais países da América Latina, numa contribuição à análise da historiografia e suas relações com a memória, problematizando a narrativa e a cultura. Os percursos realizados contemplam diferentes espacialidades e temporalidades, com abordagens teóricas e metodológicas múltiplas, o que torna esse número da revista Clio – Série Histórica – um caleidoscópio de narrativas e análises históricas. Os textos, ao dialogarem com um amplo leque de fontes documentais, projetam significativas contribuições ao debate metodológico acerca das práticas historiográficas. Práticas estas que enfrentam o desafio de transformar palavras, inscrições e os mais diversos registros em relatos escritos.

Com base na leitura dos títulos dos artigos selecionados, é possível ter uma primeira percepção do campo documental e metodológico constitutivo da escrita histórica deste número da revista CLIO: 1. A botija do Rio Formoso e outras histórias. Profa. Maria do Socorro Cipriano. 2. La función de la oralidad a través de los mitos y leyendas. Su papel en la construcción de la pertenencia cultural en pueblos aborígenes Nicaraos y Chorotegas. Profa. Ligia Madrigal Mendieta. 3. Palavras Afiadas: memórias e representações africanistas na escrita de Carolina Maria de Jesus. Prof. Élio Chaves Flores. 4. Imprensa e Imagens: a construção de representações do Piauí e de Teresina através de jornais diários na década de 1970. Prof. Francisco Alcides do Nascimento.5. Quimera amazônica: mecenato e colecionismo em Belém do Pará, 1890-1910. Prof. Aldrin Moura de Figueiredo. 6. Memoria y Cultura obrera. Profa. Mariana Mastrángelo.7. La Idea de “La Determinación” em R. Williams y los Orígenes Del movimiento de derechos humanos de Tucumán. Prof. Rubén Isidoro Kotler. 8. “Era como una droga escucharlo a Perón”. Recordando la militancia treinta años más tarde (1955 a 1976). Prof. Pablo Pozzi. 9. Historiografia & Narrativa: do arquivo ao texto. Profa. Regina B. Guimarães Neto. 10. Travessias e desafios. Prof. Antonio Torres Montenegro. 11. A esposa-espírito Nambiquara. Profa. Anna Ribeiro F. M. Costa. 12. Júlio Bello: um homem velho fala sobre as velhices que viu e viveu. Prof. Alarcon Agra do Ó.

Ao reunir esta série de autores tivemos como critério definir a presença de historiadores e historiadoras que operam criticamente no fazer de suas pesquisas e procedimentos de análise, sem, contudo, instaurarmos princípios ou conceitualizações apriorísticas, que os classificam ou encerram em determinadas posições teóricas. Entendemos que o conjunto de textos, aqui apresentados, longe de projetar dicotomias teóricas e polêmicas que esvaziam o discurso historiográfico e fixam procedimentos desligados das práticas de pesquisa, insere-se em relações mais complexas. Aquelas que se estabelecem entre relato histórico, fontes documentais e proposições metodológicas. Portanto, nossa preocupação e interesse nos direcionam a refletir acerca dos processos de leitura como ato criativo na construção dos relatos e na produção da escrita, em sua historicidade, aos quais se associam os debates sobre o conceito de memória, cultura e narrativa.

Também incluímos neste número quatro artigos que, embora não estejam incluídos no Dossiê, assinalam uma significativa pesquisa documental associada a narrativas em que as problemáticas metodológicas se revelam no próprio percurso escriturístico. São eles: 13. Artífices de cor do Recife: dos privilégios corporativos à tentativa de controle da escolarização dos ofícios – décadas de 1840 E 1850 – Marcelo Mac Cord. 14. Crias do abandono, filhos da ordem. Assistência, poder e resistência no Colégio dos Órfãos de Pernambuco. (1835 a 1875) – Alcileide Cabral Nascimento e Gabriel Navarro Barros. 15. Os conceitos de “modo de produção” e “determinismo” – revisitando as diversas discussões no âmbito do Materialismo Histórico – José D’Assunção Barros. 16. Pajés, demônios e canibais: representações acerca do indígena americano na iconografia européia do século XVI. – Rodrigo Luiz Simas de Aguiar e Aline Maria Müller.

Há muitas inter-relações entre os textos deste número da revista Clio e neles se delineia um amplo espectro de abordagens, com destaque para o foco nas pesquisas realizadas. Sem pautar por uma exposição linear de assuntos ou temas, em espaços e tempos diversos, as contribuições destes autores nos levam a paragens desconhecidas. Desejamos que por meio de aproximações e diferenças o movimento da leitura destes artigos seja um convite para novas e instigantes viagens.

Para finalizar, queremos agradecer aos historiadores e historiadoras que enviaram seus artigos e, dessa forma, nos possibilitaram organizar mais este número da Revista Clio – Série Histórica –.

Professora Doutora Regina Beatriz Guimarães Neto.

Professor Doutor Antonio Torres Montenegro.


GUIMARÃES NETO, Regina Beatriz; MONTENEGRO, Antonio Torres. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.28, n.1, jan / jun, 2010. Acessar publicação original [DR]

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Memória, Narrativa, Política / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2010

Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. (Ítalo Calvino. Seis propostas para o próximo milênio)

A revista CLIO apresenta o dossiê “Memória, Narrativa, Política. ” que reúne artigos de historiadores e historiadoras do Brasil e demais países da América Latina, numa contribuição à análise da historiografia e suas relações com a memória, problematizando a narrativa e a cultura. Os percursos realizados contemplam diferentes espacialidades e temporalidades, com abordagens teóricas e metodológicas múltiplas, o que torna esse número da revista Clio – Série Histórica – um caleidoscópio de narrativas e análises históricas. Os textos, ao dialogarem com um amplo leque de fontes documentais, projetam significativas contribuições ao debate metodológico acerca das práticas historiográficas. Práticas estas que enfrentam o desafio de transformar palavras, inscrições e os mais diversos registros em relatos escritos.

Com base na leitura dos títulos dos artigos selecionados, é possível ter uma primeira percepção do campo documental e metodológico constitutivo da escrita histórica deste número da revista CLIO: 1. A botija do Rio Formoso e outras histórias. Profa. Maria do Socorro Cipriano. 2. La función de la oralidad a través de los mitos y leyendas. Su papel en la construcción de la pertenencia cultural en pueblos aborígenes Nicaraos y Chorotegas. Profa. Ligia Madrigal Mendieta. 3. Palavras Afiadas: memórias e representações africanistas na escrita de Carolina Maria de Jesus. Prof. Élio Chaves Flores. 4. Imprensa e Imagens: a construção de representações do Piauí e de Teresina através de jornais diários na década de 1970. Prof. Francisco Alcides do Nascimento.5. Quimera amazônica: mecenato e colecionismo em Belém do Pará, 1890-1910. Prof. Aldrin Moura de Figueiredo. 6. Memoria y Cultura obrera. Profa. Mariana Mastrángelo.7. La Idea de “La Determinación” em R. Williams y los Orígenes Del movimiento de derechos humanos de Tucumán. Prof. Rubén Isidoro Kotler. 8. “Era como una droga escucharlo a Perón”. Recordando la militancia treinta años más tarde (1955 a 1976). Prof. Pablo Pozzi. 9. Historiografia & Narrativa: do arquivo ao texto. Profa. Regina B. Guimarães Neto. 10. Travessias e desafios. Prof. Antonio Torres Montenegro. 11. A esposa-espírito Nambiquara. Profa. Anna Ribeiro F. M. Costa. 12. Júlio Bello: um homem velho fala sobre as velhices que viu e viveu. Prof. Alarcon Agra do Ó.

Ao reunir esta série de autores tivemos como critério definir a presença de historiadores e historiadoras que operam criticamente no fazer de suas pesquisas e procedimentos de análise, sem, contudo, instaurarmos princípios ou conceitualizações apriorísticas, que os classificam ou encerram em determinadas posições teóricas. Entendemos que o conjunto de textos, aqui apresentados, longe de projetar dicotomias teóricas e polêmicas que esvaziam o discurso historiográfico e fixam procedimentos desligados das práticas de pesquisa, insere-se em relações mais complexas. Aquelas que se estabelecem entre relato histórico, fontes documentais e proposições metodológicas. Portanto, nossa preocupação e interesse nos direcionam a refletir acerca dos processos de leitura como ato criativo na construção dos relatos e na produção da escrita, em sua historicidade, aos quais se associam os debates sobre o conceito de memória, cultura e narrativa.

Também incluímos neste número quatro artigos que, embora não estejam incluídos no Dossiê, assinalam uma significativa pesquisa documental associada a narrativas em que as problemáticas metodológicas se revelam no próprio percurso escriturístico. São eles: 13. Artífices de cor do Recife: dos privilégios corporativos à tentativa de controle da escolarização dos ofícios – décadas de 1840 E 1850 – Marcelo Mac Cord. 14. Crias do abandono, filhos da ordem. Assistência, poder e resistência no Colégio dos Órfãos de Pernambuco. (1835 a 1875) – Alcileide Cabral Nascimento e Gabriel Navarro Barros. 15. Os conceitos de “modo de produção” e “determinismo” – revisitando as diversas discussões no âmbito do Materialismo Histórico – José D’Assunção Barros. 16. Pajés, demônios e canibais: representações acerca do indígena americano na iconografia européia do século XVI. – Rodrigo Luiz Simas de Aguiar e Aline Maria Müller.

Há muitas inter-relações entre os textos deste número da revista Clio e neles se delineia um amplo espectro de abordagens, com destaque para o foco nas pesquisas realizadas. Sem pautar por uma exposição linear de assuntos ou temas, em espaços e tempos diversos, as contribuições destes autores nos levam a paragens desconhecidas. Desejamos que por meio de aproximações e diferenças o movimento da leitura destes artigos seja um convite para novas e instigantes viagens.

Para finalizar, queremos agradecer aos historiadores e historiadoras que enviaram seus artigos e, dessa forma, nos possibilitaram organizar mais este número da Revista Clio – Série Histórica –.

Professora Doutora Regina Beatriz Guimarães Neto.

Professor Doutor Antonio Torres Montenegro.


NETO, Regina Beatriz Guimarães; MONTENEGRO, Antonio Torres. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.28, n.1, jan / jun, 2010. Acessar publicação original [DR]

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Memória, Narrativa, Política / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2010

Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. (Ítalo Calvino. Seis propostas para o próximo milênio)

A revista CLIO apresenta o dossiê “Memória, Narrativa, Política. ” que reúne artigos de historiadores e historiadoras do Brasil e demais países da América Latina, numa contribuição à análise da historiografia e suas relações com a memória, problematizando a narrativa e a cultura. Os percursos realizados contemplam diferentes espacialidades e temporalidades, com abordagens teóricas e metodológicas múltiplas, o que torna esse número da revista Clio – Série Histórica – um caleidoscópio de narrativas e análises históricas. Os textos, ao dialogarem com um amplo leque de fontes documentais, projetam significativas contribuições ao debate metodológico acerca das práticas historiográficas. Práticas estas que enfrentam o desafio de transformar palavras, inscrições e os mais diversos registros em relatos escritos.

Com base na leitura dos títulos dos artigos selecionados, é possível ter uma primeira percepção do campo documental e metodológico constitutivo da escrita histórica deste número da revista CLIO: 1. A botija do Rio Formoso e outras histórias. Profa. Maria do Socorro Cipriano. 2. La función de la oralidad a través de los mitos y leyendas. Su papel en la construcción de la pertenencia cultural en pueblos aborígenes Nicaraos y Chorotegas. Profa. Ligia Madrigal Mendieta. 3. Palavras Afiadas: memórias e representações africanistas na escrita de Carolina Maria de Jesus. Prof. Élio Chaves Flores. 4. Imprensa e Imagens: a construção de representações do Piauí e de Teresina através de jornais diários na década de 1970. Prof. Francisco Alcides do Nascimento.5. Quimera amazônica: mecenato e colecionismo em Belém do Pará, 1890-1910. Prof. Aldrin Moura de Figueiredo. 6. Memoria y Cultura obrera. Profa. Mariana Mastrángelo.7. La Idea de “La Determinación” em R. Williams y los Orígenes Del movimiento de derechos humanos de Tucumán. Prof. Rubén Isidoro Kotler. 8. “Era como una droga escucharlo a Perón”. Recordando la militancia treinta años más tarde (1955 a 1976). Prof. Pablo Pozzi. 9. Historiografia & Narrativa: do arquivo ao texto. Profa. Regina B. Guimarães Neto. 10. Travessias e desafios. Prof. Antonio Torres Montenegro. 11. A esposa-espírito Nambiquara. Profa. Anna Ribeiro F. M. Costa. 12. Júlio Bello: um homem velho fala sobre as velhices que viu e viveu. Prof. Alarcon Agra do Ó.

Ao reunir esta série de autores tivemos como critério definir a presença de historiadores e historiadoras que operam criticamente no fazer de suas pesquisas e procedimentos de análise, sem, contudo, instaurarmos princípios ou conceitualizações apriorísticas, que os classificam ou encerram em determinadas posições teóricas. Entendemos que o conjunto de textos, aqui apresentados, longe de projetar dicotomias teóricas e polêmicas que esvaziam o discurso historiográfico e fixam procedimentos desligados das práticas de pesquisa, insere-se em relações mais complexas. Aquelas que se estabelecem entre relato histórico, fontes documentais e proposições metodológicas. Portanto, nossa preocupação e interesse nos direcionam a refletir acerca dos processos de leitura como ato criativo na construção dos relatos e na produção da escrita, em sua historicidade, aos quais se associam os debates sobre o conceito de memória, cultura e narrativa.

Também incluímos neste número quatro artigos que, embora não estejam incluídos no Dossiê, assinalam uma significativa pesquisa documental associada a narrativas em que as problemáticas metodológicas se revelam no próprio percurso escriturístico. São eles: 13. Artífices de cor do Recife: dos privilégios corporativos à tentativa de controle da escolarização dos ofícios – décadas de 1840 E 1850 – Marcelo Mac Cord. 14. Crias do abandono, filhos da ordem. Assistência, poder e resistência no Colégio dos Órfãos de Pernambuco. (1835 a 1875) – Alcileide Cabral Nascimento e Gabriel Navarro Barros. 15. Os conceitos de “modo de produção” e “determinismo” – revisitando as diversas discussões no âmbito do Materialismo Histórico – José D’Assunção Barros. 16. Pajés, demônios e canibais: representações acerca do indígena americano na iconografia européia do século XVI. – Rodrigo Luiz Simas de Aguiar e Aline Maria Müller.

Há muitas inter-relações entre os textos deste número da revista Clio e neles se delineia um amplo espectro de abordagens, com destaque para o foco nas pesquisas realizadas. Sem pautar por uma exposição linear de assuntos ou temas, em espaços e tempos diversos, as contribuições destes autores nos levam a paragens desconhecidas. Desejamos que por meio de aproximações e diferenças o movimento da leitura destes artigos seja um convite para novas e instigantes viagens.

Para finalizar, queremos agradecer aos historiadores e historiadoras que enviaram seus artigos e, dessa forma, nos possibilitaram organizar mais este número da Revista Clio – Série Histórica –.

Professora Doutora Regina Beatriz Guimarães Neto.

Professor Doutor Antonio Torres Montenegro.


NETO, Regina Beatriz Guimarães; MONTENEGRO, Antonio Torres. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.28, n.1, jan / jun, 2010. Acessar publicação original [DR]

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História, narrativa e viagem /Canoa do Tempo / 2009-2010

A revista Canoa do Tempo, em seu terceiro volume, tem como elemento central de seus diversos artigos as relações estabelecidas entre as representações textuais e as realidades históricas, trazendo assim à superfície o papel decisivo das maneiras de conceber e perceber o mundo em toda e qualquer experiência humana. A historicidade dos termos envolvidos nessas relações poderá ser apreendida, por sua vez, através da diversidade dos tempos e dos espaços em que os artigos oferecidos ao leitor revelam a sua presença.

As concepções de mundo formuladas pelas sociedades ao longo do tempo constituem, evidentemente, uma das dimensões de seu imaginário, cujas relações com as imagens são evidentes. Assim, o texto de abertura de nossa Canoa do Tempo reproduz uma conferência de Jean-Claude Schmitt, um dos mais importantes medievalistas contemporâneos, em que são analisadas as maneiras pelas quais certos manuscritos medievais representaram a história e o tempo em suas miniaturas.

Os relatos de viagem, fonte privilegiada nos estudos de nosso dossiê, pertencem a outra categoria discursiva propícia para a prospecção das representações da realidade histórica, tema que se coloca sob diversas formas nos artigos aqui publicados. Nos relatos abordados no artigo de Maria Eugênia Bertarelli a própria noção de realidade parece desaparecer diante do objeto narrado, o além. Ela retorna, porém, no texto de Auxiliomar Ugarte que, em outro espaço e tempo, o da Amazônia do século XVI, expõe as interferências do imaginário herdado na apreensão de uma realidade desconhecida. No texto de Lígia Ferreira, o imaginário, agora sob a forma da busca do Eldorado, retorna como fator impulsionador da trágica expedição de Pedro de Úrsua, enquanto Beatriz Bíssio revela e analisa os elementos propulsores das viagens no contexto árabe-islâmico medieval. Carla de Oliveira Lima encerra este dossiê abordando a narrativa do viajante inglês Alfred Russel Wallace, tomando como fio condutor o impacto transformador de suas viagens pelos rios Amazonas e Negro.

A seção de artigos abre com uma análise do cruzamento de gêneros nas tragédias de Sêneca, onde o latinista José Eduardo Lohner mostra como a atenção aos aspectos formais de um texto é essencial para a apreensão de seus significados. A mesma atenção para com a construção discursiva está na base do artigo de Marina Soares, sobre um tratado erótico proveniente do universo árabe-islâmico medieval, e no de Edmar Checon, acerca das Histórias do bispo Gregório de Tours, texto fundamental para o estudo da Gália merovíngia.

O rico universo de possibilidades oferecidas pelos textos narrativos para uma abordagem renovada da História Política evidencia-se nos artigos de Miriam Cabral e Roberto Fabri, ambos dedicados à construção da imagem da dinastia de Avis. Para uma edição que privilegiou as narrativas e os relatos de viagem, nada mais natural do que terminar pelo texto de Lenora Mendes, que parte do contexto medieval ibérico, atravessa o Atlântico e vem reencontrar no nordeste brasileiro temas e motivos provenientes de suas canções.

Aos leitores dessa Canoa, desejamos uma boa viagem.

Sínval Carlos Mello Gonçalves –  Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas.

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[DR]

 

Tempo e Narrativa / História Oral / 2003

Este número é o primeiro publicado pela Diretoria da Associação Brasileira de História Oral, presidida pela Professora Verena Alberti, eleita em maio de 2002, durante o VI Encontro Nacional de História Oral, realizado em São Paulo. Vários trabalhos apresentados nessa ocasião integram este volume.

O dossiê Tempo e Narrativa expressa bem as tendências atuais dos estudos sobre oralidade, veiculadas nos pronunciamentos de Lucilia de Almeida Neves Delgado, Lourdes Roca, Richard Cándida Smith e Robert Perks.

O tema da violência, abordado por vários autores, desenrola-se em torno de uma concepção de Brasil como um território em formação, com espaços de exclusão, onde é exercida a mais feroz dominação por grupos políticos e econômicos, contaminando o conjunto das relações sociais. Nessa perspectiva desenvolvem-se os artigos de Dácia Ibiapina da Silva e Rodrigo Patto Sá Motta, que tratam das memórias de vítimas da repressão política sob a ditadura militar e, em contraponto, a análise de José Miguel Arias Neto sobre a entrevista concedida em 1968 por João Cândido, personagem da Revolta dos Marinheiros de 1910.

Igualmente presentes estão pesquisas sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores rurais para ter acesso à propriedade da terra: David José Caume investiga problemas pertinentes aos assentamentos enquanto Maria Christina Siqueira de Souza Campos e Paulo Henrique Lunardelo exploram as contingências da vida de imigrantes portugueses no labor agrícola.

O desafio representado pela interpretação das fontes audiovisuais é enfrentado na resenha que Cássia Denise Gonçalves fez sobre livro de Boris Kossoy.

Comitê editorial

São Paulo, maio de 2003


Palavras do Comitê Editorial. História Oral. Rio de Janeiro, v.6, p. 2003. Acessar publicação original [DR]

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Narrativa e Narradores / História Oral / 2001

A diretoria da ABHO eleita para o biênio de 2000-2002 no dia 26 de novembro de 1999, quando do V Encontro Nacional de História Oral, realizado em Belo Horizonte (UFMG), e empossada no dia 25 de maio de 2000, por ocasião do Seminário de Pesquisas promovido pelo Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU) da Universidade de São Paulo, tem como pontos centrais de sua proposta programática fortalecer as relações entre os Núcleos Regionais e a Diretoria Executiva, apoiando suas iniciativas, bem como priorizar a edição e distribuição da Revista de História Oral, direcionando recursos da Associação para tal fim.

Esses princípios orientaram a publicação do Nº 4 da Revista História Oral, na medida em que divulga trabalhos apresentados nos Encontros Regionais da ABHO, promovidos pelos Núcleos das Regiões Centro-Oeste e Sul, dirigidos respectivamente por Nancy Alessio e Ieda Gutfreind.

Abrindo nossa matéria, encontram-se artigos integrantes do dossiê Narrativa e Narradores, da autoria de Olgária Matos, Antonio Torres Montenegro, Yonne Grossi e Amauri Carlos Ferreira, nos quais questões fundamentais para os oralistas são discutidas em seus aspectos teórico-metodológicos e empíricos. Longe de apresentarem um modelo analítico único, sugerem diferentes perspectivas de enfoque do tema, enriquecendo as possibilidades de reflexão sobre a construção narrativa e seus múltiplos significados.

Os artigos seguintes são representativos da pluralidade de objetos sobre os quais se debruça a história oral: Márcia Mansor D´Alessio interroga importantes historiadores franceses como Michel Vovelle, Madeleine Réberioux e Pierre Vilar sobre os rumos atuais da historiografia; Dora Schwarsztein e Alistair Thomson mergulham no penoso universo das memórias traumáticas; Maria Aparecida Silva explora o sonho recorrente de migrantes mineiros sobre a posse da terra e Sara Alonso, ao estudar os Tembé, é surpreendida por condições e compromissos éticos impostos à pesquisadora pelos grupos pesquisados, fazendo-a meditar sobre as implicações de tal código para o trabalho do antropólogo.

As entrevistas com Mercedes Vilanova e Marieta de Moraes Ferreira expressam os vínculos políticos da ABHO com a Associação Internacional de História Oral e o reconhecimento da produção brasileira nesse campo do conhecimento. Conduzidas pelos entrevistadores Marco Aurélio Santana e Verena Alberti, as presidentes da primeira diretoria da AIHO e a da atual gestão relatam os primeiros passos da instituição, revelando, em linguagem coloquial, o percurso intelectual que trilharam.

Encerram o volume duas resenhas sobre obras de interesse para os leitores. Lucília de Almeida Neves Delgado detém-se na análise de Para abrir as Ciências Sociais, trabalho coletivo de renomados autores que sugere a interdisciplinariedade como método, e Yara Aun Khoury comenta o livro Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo, de Teresa Pires do Rio Caldeira.

Comitê Editorial


Palavras do Comitê Editorial. História Oral. Rio de Janeiro, v.4, p.7-8, 2001. Acessar publicação original [DR]

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