As ciências e as independências do Brasil | Revista Brasileira de História da Ciência | 2022

Detalhe do cartaz do Seminario Internacional Ciencias saude ambiente independencias do Brasil Imagem Agencia FIOCRUZ de Noticias
Detalhe do cartaz do Seminário Internacional “Ciências, saúde, ambiente: independências do Brasil?” | Imagem: Agência FIOCRUZ de Notícias

No bicentenário  da  independência  do  Brasil,  a  Revista  Brasileira  de  História  da  Ciência  pretende contribuir com interpretações sobre as influências das ciências e da tecnologia nos processos  de  construção  histórica  do  Brasil  independente  e  de  suas  identidades  nacionais  através da publicação deste dossiê temático. Em processo de longa duração, delimitamos as interpretações sobre as “independências’’ do Brasil desde a reforma pombalina da Universidade de Coimbra e a fundação da Academia das Ciências de Lisboa, na década de 1770, até fins do Império brasileiro, quando algumas práticas e instituições científicas se fortaleceram.

A busca de novos sentidos sobre as ciências no Brasil encontra respaldo em recentes abordagens historiográficas. Antigos temas já muito explorados, como as viagens científicas, têm sido ressignificados nos últimos anos. Este é o caso da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira,  que  percorreu  vasto  território  colonial  entre  Belém  e  Cuiabá  de  1783  a  1792. Apesar do  reconhecimento  de  historiadores  desde  o  século  XIX  sobre  a  vasta  produção  de coleções   e relatos,   as   práticas   e   o   cotidiano   da   viagem   foram   negligenciados   ou questionados  por  muito tempo   devido   à   ausência   de   publicações   dos   resultados   da  viagem.   A   extrema   valorização  acadêmica  sobre  as  publicações  científicas  se  coaduna  com uma  dissociação  anacrônica  entre teoria  e  prática,  o  que  teria  levado  à  construção  de  um imaginário  de  uma  ciência  puramente utilitarista,  e  por  isso,  foi  considerada  de  menor relevância  em  grande  parte  da  historiografia  que reforçou  constantemente  as  ausências  de atividade científica no período colonial e a situação de atraso em relação ao norte global. No  artigo  “Vidas  e  saberes  em  trânsito:  os  indígenas  preparadores  Cipriano  de  Souza  e José da  Silva  e  a  Viagem  Filosófica  na  Amazônia  colonial  portuguesa  (1783-1798)”, Gabriela Berthou de   Almeida   traz   novos   significados   sobre   as   práticas   em   viagem,   especialmente  através  da  atuação dos “práticos”, denominação concernente à participação dos indígenas na preparação de coleções. Leia Mais

A História da Ciência para uma Educação em Ciências do futuro/Revista Brasileira de História da Ciência/2022

A história da ciência, como prática de escrever o passado das ciências, é presente desde muito tempo, na própria prática científica (Videira, 2007), bem como na educação sobre a ciência (Hodson, 2014). Sua institucionalização enquanto campo de estudo autônomo dentro da educação em ciências, entretanto, é muito mais recente e pode ser remontada à fundação do International History, Philosophy and Science Teaching Group (IHPST) e a revista Science & Education no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 (Hodson, 2014). Leia Mais

Dimensões Transnacionais da Cultura Técnica: Engenheiros, Arquitetos e Construtores na América do Sul, 1860-1945 / Revista Brasileira de História da Ciência / 2018

Os artigos deste número compõem o dossiê temático “Dimensões Transnacionais da Cultura Técnica: Engenheiros, Arquitetos e Construtores na América do Sul, 1860-1945”, cuja motivação primeira foi discutir a constituição de um campo disciplinar tecnológico composto por engenheiros, arquitetos e construtores, tomados, privilegiadamente, a partir de uma perspectiva de interação internacional ou transnacional.

Os marcos temporais tratam do período abrangido pela II Revolução Industrial, época considerada pela historiografia como de grande consolidação dos processos técnicos e que grandes alterações trouxeram aos modos de vida, uma vez que impactaram territórios, da micro à macro- escala.

Estas três categorias profissionais entraram em embates entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, requisitando reconhecimentos sociais e impondo limites de ações, uns sobre os outros, de forma a garantir a constituição de grupos privilegiados, em que o discurso técnico e a cientificização de suas ações alijassem outros grupos, vistos como concorrentes de práxis, em nome de uma certa modernidade.

O leitor verá, neste dossiê, que o empoderamento dessas categorias profissionais no período estudado se deu ao mesmo tempo em que se tratou de modernizar cidades, desenvolvendo linguajar acessível que explicasse ao público em geral enormes mudanças territoriais que esses negócios perpetravam; procurou-se tirar o máximo proveito econômico e simbólico dos empreendimentos, constituindo e reconstituindo novas oligarquias econômicas e familiares; envidou-se alianças locais mas sempre levando em conta interesses internacionais. O internacional mais uma vez não se explica sem uma rede local interessada e vice-versa.

Evidentemente que a visada global que este dossiê apresenta somente foi possível porque vários colegas se dispuseram a reagir a uma chamada de trabalhos sobre o tema por nós organizada, no início de 2018, contribuindo com seus originais. É somente lendo lado a lado esses trabalhos que essas hipóteses se cristalizam.

Agradecendo imensamente àqueles que enviaram seus originais e aos pareceristas que fizeram leituras cuidadosas desses trabalhos, desejamos uma boa leitura a todos que acompanham a Revista Brasileira de História da Ciência.

Rogério Monteiro de Siqueira – Universidade de São Paulo. EACH-USP

Fernando Atique – Universidade Federal de São Paulo. EFLCH-UNIFESP

Rodrigo Booth – Universidad de Chile. FAU-UChile


SIQUEIRA, Rogério Monteiro de; ATIQUE, Fernando; BOOTH, Rodrigo. Apresentação. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, jan. / jun., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Estudos Sociais da Ciência / Revista Brasileira de História da Ciência / 2013

Introdução [1]

O presente dossiê reúne artigos especialmente elaborados e redigidos em torno da questão – certamente necessária para alguns deles – relativa às interações entre science studies e filosofia da ciência, de um lado, e história da ciência de outro. Não nos parece incorreto afirmar que essas interações já foram mais fortes e isto num passado nem tão longínquo assim. Ainda na década de 1990, falava-se, em não poucos lugares, da necessidade de estreitarem os laços entre as diferentes disciplinas das chamadas ciências humanas de modo a que se produzisse uma imagem mais adequada, fiel ou mesmo verdadeira da ciência. Em favor dessa postura positiva, podemos mencionar os muitos resultados obidos por historiadores, sociólogos e filósofos, como Bruno Latour, Lorraine Daston, Ian Hacking, Peter Galison, Dominique Pestre, Mario Biagioli, entre muitos e muitos outros. Na virada do século XX para o XXI, contudo, esses discursos se enfraqueceram a ponto de serem, nos dias que correm, minoritários, praticamente inaudíveis.

Contrariamente ao que apregoa o “espírito” dos science studies, ocorreu um forte movimento de disciplinarização naquelas ciências que anteriormente se dedicavam à defesa de uma ciência organizada em torno de uma prática local. Essa disciplinarização levou, como já afirmado, a uma diminuição nos diálogos interdisciplinares. Esse quadro parecenos, por várias razões, inadequado e mesmo perigoso. A autossuficiência disciplinar é um mal a ser sempre evitado, principalmente quando ele pode descambar para atitudes regulatórias e, consequentemente, favoráveis à endogenia e ao insulamento.

Preocupados com essa disciplinarização, ou ainda, excessiva especialização, resolvemos organizar um dossiê que defendesse, por meio de argumentos e exemplos concretos, a posição favorável ao diálogo. A escolha pela Revista Brasileira de História da Ciência pareceu-nos óbvia, tendo em vista a sua natureza, bem como a prática da sociedade por ela responsável: a Sociedade Brasileira de História da Ciência. Tanto uma quanto outra, e desde os seus primórdios, se constituíram em torno de práticas interdisciplinares, atraindo e acolhendo profissionais e estudantes das mais diferentes áreas do conhecimento.

Os artigos aqui reunidos possuem, quase todos, uma “queda” para a filosofia. Em parte, isso se explica pelo fato de os seus autores atuarem principalmente nessa área. Mas não só por isso. Também a filosofia sofre de um certo isolamento. A sua presença numa revista de história da ciência, esperamos nós, deverá se prestar para a recuperação da atenção e do interesse dos filósofos por essa área do conhecimento, tal como já foi o caso. Traço comum a todos esses artigos encontra-se na sua caracterização da filosofia da ciência como sendo um domínio necessitado e desejoso de interação, seja com a ciência, seja com as suas parceiras das humanidades.

O artigo de abertura, escrito por James McGuire e Barbara Tuchanska, defende uma concepção de filosofia da ciência elaborada em torno da noção de entendimento contextual, a qual possibilitaria o recurso à forma de vida como elemento essencial para a compreensão da prática científica.

No segundo trabalho, Kenneth R. Camargo Jr. preocupa-se em analisar e descrever, tomando Kuhn como ponto de partida mas também fazendo uso de outras perspectivas teóricas, as práticas médicas, de modo a poder elaborar um modelo epistemológico adequado para o saber biomédico.

Em seguida, André Luís de Oliveira Mendonça critica, mostrando a sua inconsistência e donde o seu malogro, a tentativa de Joseph Rouse de deslegitimizar o projeto de legitimação da ciência. Ainda que Rouse tenha fracassado no seu objetivo maior, Mendonça acredita que suas ideias podem ser inspiradoras para todos aqueles que recusam divisões de todo e qualquer tipo, renovando, inclusive, a nova história da ciência presente, mas não apenas, no interior dos science studies.

Também recorrendo a Kuhn e a Rouse, Leticia Minhot discute os fundamentos da psicanálise freudiana tal como o próprio Freud os apresentou e empregou. Uma das suas conclusões aponta para a presença das matrizes disciplinares kuhnianas na obra de Freud.

O quinto artigo, de Cristina de Amorim Machado e Bruno Cava, assume uma identidade que se poderia classificar como prática, na medida em que pretende, recorrendo aos science studies, compreender a prática científica feita no Brasil. O recurso aos science studies se dá aqui de forma completa, ou seja, recuperando uma tendência presente entre os “pais fundadores” desse campo de pesquisa de que a compreensão da ciência deveria levar à sua avaliação crítica, perpetrada com o fim de aperfeiçoá-la e melhorá-la.

Finalmente, o último artigo descreve e discute “as ligações dissimuladas de caráter militar das expedições científicas organizadas pelo National Bureau of Standards e pela National Geographic Society para a observação do eclipse total do Sol de 20 de maio de 1947, em Bocaiuva (MG).” Em que pese o interesse pelo fenômeno astronômico, Heráclio Tavares afirma, baseando-se em documentos que encontrou em arquivos norte-americanos, que entre os autênticos objetivos dessas expedições científicas os militares eram os que de fato contavam, especificamente aqueles voltados para o aperfeiçoamento dos sistemas de controle de mísseis intercontinentais.

Antes de passarmos a palavra aos autores dos artigos aqui coligidos, permitimo-nos algumas observações históricas sobre os science studies. Estas palavras podem ser lidas como uma espécie de abertura ao dossiê.

A ciência é um dos muitos saberes produzidos pela humanidade, certamente o de maior prestígio na atualidade. Há controvérsias sobre uma série de questões, mas ninguém constestaria que ela é um produto coletivo, feito por pessoas reunidas em instituições científicas e que compartilham instrumentos, teorias, visões de mundo, metodologias, valores etc. Tendo em vista esse caráter social da ciência, uma das premissas dos science studies é justamente a prática científica.

Os science studies são estudos nos quais é possível perceber o predomínio de abordagens históricas, sociológicas e filosóficas sobre as ciências naturais, sobre as ciências da saúde e sobre as inúmeras “aplicações” tecnológicas “extraídas” destas mesmas ciências. As ciências são tomadas como práticas locais, condicionadas social, material e culturalmente, que também atuam no contexto social em que se encontram. As relações entre ciência e sociedade ganham uma dimensão de destaque. Os autores dos science studies pretendem sensibilizar os cientistas para as questões sociais e também aproximar a ciência do grande público, o chamado público leigo. Vejamos, de modo breve e superficial, como surgem os science studies no contexto da Filosofia da Ciência do século passado e no seu encontro com a História e a Sociologia da Ciência.

Grosso modo, a Filosofia da Ciência é inaugurada como disciplina acadêmica na Viena do fim da década de 1920. A principal preocupação, tanto dos positivistas lógicos do Círculo de Viena quanto de Karl Popper, era com o método científico, concebido como universal, atemporal e principal traço distintivo da ciência. Apesar de discordarem quanto ao método – indutivo para os primeiros e hipotético-dedutivo para o segundo –, podemos tomá-los como representantes de um modelo normativo-demarcacionista de Filosofia da Ciência.

Após algumas décadas de grande influência – principalmente em países anglo-saxões – a partir dos anos 1960, a insuficiência disciplinar desse modelo foi detectada por autores como N. R. Hanson, Thomas Kuhn, Imre Lakatos e Paul Feyerabend. Eles criticavam o positivismo lógico e o racionalismo crítico, que propunham critérios de demarcação muito estritos e puramente metodológicos entre os domínios científico e não-científico. Em resposta a esses modelos, Lakatos e Kuhn propuseram modelos orientados historicamente, e Feyerabend rompeu completamente com a ideia de critérios absolutos de cientificidade e de que o conhecimento científico era superior ou melhor que outros sistemas de pensamento. Pluralista teórico, metodológico e epistemológico, aproximou-se do relativismo, autodenominou-se anarquista e dadaísta, e preocupou-se com a relação entre ciência e democracia.

Ao longo das duas décadas seguintes, as relações entre filosofia, história e sociologia da ciência foram se modificando, às vezes com aproximações teóricas e institucionais, às vezes com afastamentos. A partir dos anos 1980, num movimento interdisciplinar, alguns autores começam a falar em science studies, agregando as três disciplinas, embora pendendo às vezes mais para um lado ou para outro. Há algumas características comuns que podemos identificar – foco na prática científica, concepção de ciência desunificada, relação entre ciência e sociedade etc. –, bem como questionamentos que se podem fazer – em que se diferenciam de outras correntes? – como veremos em alguma medida nos artigos que se seguem.

Um dado importante para definir um novo campo de pesquisa, além da formação de grupos de pesquisa, programas de pós-graduação e realização de eventos, é o material bibliográfico. Os science studies já contam com uma produção considerável, com textos e autores que podemos considerar clássicos. Muitos deles já foram citados e ainda aparecerão nas páginas que se seguem.

Nota

1. Agradecemos a acolhida das editoras da Revista Brasileira de História da Ciência.

Antonio Augusto Passos Videira – UERJ, CNPq.

Cristina de Amorim Machado – UEM.


VIDEIRA, Antonio Augusto Passos; MACHADO, Cristina de Amorim. Introdução. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, jul. / dez., 2013. Acessar publicação original [DR]

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Ciências, natureza e território / Revista Brasileira de História da Ciência / 2012

O marco zero deste dossiê foi o 12° Seminário Nacional de História da Ciência, organizado pela Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) em novembro de 2010. O evento, que ocorreu paralelamente ao 7º Congresso Latino-Americano de História da Ciência e da Tecnologia, foi realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia. Nessa ocasião, nós, responsáveis por este dossiê, organizamos o simpósio Ciências, Natureza e Território. O encontro possibilitou amplo debate acadêmico entre pesquisadores de diferentes instituições do Brasil. Seus resultados nos pareceram tão satisfatórios, sobretudo em relação à diversificação regional da sua composição e à qualidade dos trabalhos apresentados, que, então, surgiu a ideia da organização de um número de periódico científico dedicado à temática.

A Revista Brasileira de História da Ciência pareceu-nos, desde sempre, o espaço mais adequado para abrigar tal iniciativa, uma vez que foi na SBHC que esse grupo nasceu. Consideramos também que a Revista, por ser um importante espaço de intercâmbio profissional na área, contribuirá decerto para o fortalecimento desse campo de atuação e pesquisa no Brasil. Nós já nos reunimos novamente, em julho de 2011, no âmbito do XXVI Simpósio Nacional de História, organizado pela ANPUH, e voltaremos a nos encontrar em setembro de 2012, na USP, para o 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Este número expressa, assim, a constituição e a consolidação de rede de pesquisadores dedicados a temas afins, alguns ainda em formação nas suas pós-graduações e cuja produção esperamos divulgar ao público brasileiro agora.

A edição resulta de pesquisas originais dedicadas a compreender a importância das atividades e saberes científicos para as políticas públicas de inventário da natureza e ocupação de territórios nacionais nos séculos XIX e XX. Trata-se, pois, da análise de conteúdos relevantes da própria história da constituição de alguns Estados Nacionais da América Latina, como Argentina e Colômbia, mas, sobretudo, do Brasil. O leitor verá, por meio de diferentes enfoques e variados conjuntos documentais, que esses objetos de estudo têm sido contemplados na Geografia, na Literatura, História das Ciências e História Ambiental. Esses campos possuem poucas oportunidades de diálogo, e este volume, ao reunir trabalhos dessas diferentes áreas, pretende estimular o debate interdisciplinar sobre tais temas, em suas diferentes inter-relações e abordagens.

O dossiê está composto de doze artigos orientados por três eixos temáticos: 1) viagens e expedições científicas em articulação com a atuação profissional e a produção intelectual de agentes do conhecimento da natureza e da ocupação do território, como militares, engenheiros, literatos e cientistas; 2) as relações entre Ciência e projetos estatais de civilização, modernização e construção de infraestrutura de transportes e comunicações e 3) a história da constituição de saberes e problemáticas científicas referentes ao estudo dos recursos naturais e humanos de territórios nacionais, como Cartografia e Geografia; Medicina, doenças e populações; Botânica, Agronomia e História Natural; ambiente, meio físico e práticas de exploração e conservação da natureza.

María Silvia Di Liscia e Federico Martocci, em De la abundancia a la desesperación: viajes y representaciones sobre los recursos naturales en el interior argentino (La Pampa, ca. 1880-1940), examinam, na produção de naturalistas, viajantes e cientistas, a história da constituição do imaginário relativo à preservação da natureza do Pampa argentino, sobretudo no que se refere à problematização dos seus usos para a produção agrícola.

Lucía Duque Muñoz, em Vasos comunicantes entre cartografía e historia en el Mapa de la república de la Nueva Granada (1847) de Joaquín Acosta, explora as relações entre Geografia Física, História e Cartografia na construção de um dos primeiros mapas do período nacional colombiano. A história da elaboração da carta nacional também é analisada no artigo Circunstâncias da Cartografia no Brasil oitocentista e a necessidade de uma Carta Geral do Império, de Bruno Capilé e Moema de Rezende Vergara.

Atividades de conhecimento do mundo natural para o povoamento do território brasileiro no século XIX é o tema do artigo de Fabíula Sevilha de Souza, intitulado Natureza, ocupação territorial e vias de comunicação de Goiás nos relatos de viagens do século XIX. Fabíula elegeu relatos de viajantes estrangeiros de passagem pelo Planalto Central brasileiro no oitocentos para a análise da sua visão de natureza como recurso a ser explorado em proveito da felicidade dos homens e sua civilização.

A articulação entre projetos civilizatórios e a história da ideia de natureza também é acessada em O Doutor Benignus: A origem do homem na concepção de natureza de Emílio Zaluar de Ricardo Waizbort. O autor, ao enfatizar as relações entre Ciência e Literatura no século XIX brasileiro, demonstra que, na obra literária de Zaluar, o darwinismo, como repertório intelectual, ocupou papel central no desenvolvimento do tema central do livro: a origem do homem no Brasil e a transformação da espécie humana na Terra.

Os processos de institucionalização da Ciência e o conhecimento do território foram fatores concomitantes e complementares na história recente do Brasil, e essa, exatamente, é uma das premissas a guiar os artigos de André Vasques Vital, Visões do Alto Madeira: Comissão Rondon, malária e política em Santo Antônio do Madeira (1910-1915), e de Patrícia Marinho Aranha, Levantamentos territoriais e construção de saberes geográficos na Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas (1907-1915). Os autores abordam as contribuições da Medicina e da Geografia para iniciativas estatais de exploração territorial e obras de construção de infraestrutura de comunicações no país, no caso vertente para a Comissão Rondon. Nas interpretações de André e Patrícia também podemos verificar a riqueza dos usos de relatórios de comissões exploradoras, cadernetas de campo, imprensa e diários de viajantes como fontes para historiadores da ciência.

O artigo Um jardim para a ciência: o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (1915-1931), de Ingrid Fonseca Casazza, examina a produção científica de botânicos nas primeiras décadas da República brasileira. Vanessa Pereira da Silva e Mello, em A Sociedade Nacional de Agricultura em revista: divulgação científica e uso racional da natureza em A lavoura (1897-1926), discute a propaganda da conservação dos recursos naturais brasileiros junto a pequenos, médios e grandes lavradores do país. Ambas as autoras enfatizam o protagonismo do Estado brasileiro na promoção e difusão de atividades científicas, com destaque para a atuação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), e refletem sobre o conhecimento da natureza nacional e o utilitarismo dos saberes científicos na sua associação com os projetos modernizantes da República para o país.

A história da modernização brasileira na sua relação com a pauta dos usos da natureza como recurso econômico também é o tema dos artigos de Jó Klanovicz, Corrigir os erros da natureza: húbris, conhecimento agronômico e produção de maçãs no sul do Brasil, e de Claiton Marcio da Silva, De um Dust Bowl paulista à busca de fertilidade no Cerrado: a trajetória do IRI Research Institute (IRI) e as pesquisas em ciências do solo no Brasil (1951-1963). Transformações de paisagens agrícolas e mudanças ambientais em grandes áreas de diferentes regiões brasileiras, a partir de meados do século XX e em função dos usos da ciência para a remodelação de processos tidos como “naturais”, são igualmente abordadas nesses artigos.

Em Os norte-americanos na missão à Amazônia, em 1923, de Luciene Pereira Carris Cardoso e Alda Heizer, as relações entre Ciência, política e ambiente são examinadas para a compreensão de importante capítulo da história da economia da borracha na região amazônica. Articulada a temas candentes da atualidade, como o da preservação ambiental, a análise de Cardoso e Heizer contribui para a reflexão da importância de comissões de exploração e expedições de naturalistas para a realização de estudos de Ecologia das regiões percorridas.

O número traz ainda notícia sobre Razón Cartográfica, site para trocas profissionais e intercâmbio acadêmico entre interessados e especialistas na História da Cartografia e da Geografia na América Latina. A rede é apresentada no dossiê por Sebastián Díaz Ángel e David Ramírez Palácios.

Gostaríamos, por fim, de agradecer às editoras da RBHC, Heloisa Gesteira e Silvia Figueirôa, por terem acolhido a nossa iniciativa, e também aos autores, pela seriedade com que contribuíram para a elaboração deste volume. Esperamos que este número, ao contemplar diferentes períodos e regiões, personagens e saberes científicos, conjuntos documentais e abordagens, estimule a interpretação interdisciplinar sobre – região –, ‘natureza’, – paisagem – espaço – e – território –. Que ele seja também apenas a primeira expressão do nosso entusiasmo com a troca intelectual, e motivo para novas parcerias acadêmicas, na forma de estudos comparativos, muitos outros artigos e eventos em comum.

Dominichi Miranda de Sá – Casa de Oswaldo Cruz. Fiocruz

Moema de Rezende Vergara – Museu de Astronomia e Ciências Afins. MAST

Organizadoras


SÁ, Dominichi Miranda de; VERGARA, Moema de Rezende. Apresentação. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Circulação e conformações de saberes no Império português, séculos XVI-XIX / Revista Brasileira de História da Ciência / 2011

Porque os Portugueses, que navegam muita parte do mundo, onde vão nam procurão de saber senam como farão milhor suas mercadorias […] Não são curiosos de saber as cousas que ha na terra, e, se as sabem, nam dizem a quem lhas traz que lhe amostre o arvore, e, se o vêem, nam o compárão a outro arvore nosso, nem proguntao se dá frol ou fruto, e que tal he.

Esta sentença foi estampada em 1563, em Goa, por ninguém menos que Garcia de Orta em seus Colóquios dos simples e drogas he cousas mediçinais da Índia. O conde de Ficalho, editor de Orta para a Academia das Ciências de Lisboa em fins do século XIX, houve por bem reforçar o veredito, anotando no pé da página um comentário seco sobre essa passagem: “Reflexão perfeitamente sentida, e que ainda hoje tem cabimento”. Esse desinteresse, essa falta de curiosidade a respeito das “cousas que há na terra” são parte fundamental da legenda negra que envolveu – e ainda envolve – muito do que já se disse sobre os projetos coloniais dos impérios ibéricos. Os próprios portugueses não fizeram pouca coisa para disseminá-la, e a narrativa da decadência, da superstição religiosa e da irracionalidade se estabeleceu com toda força na época do reformismo ilustrado, acompanhando todo o século XIX e as primeiras décadas do XX.

No Estado Novo salazarista, esboçou-se uma reação. A singularidade da experiência colonial portuguesa foi louvada em múltiplos cantos; sua capacidade de adaptação, seu estar no mundo eminentemente prático e tolerante, sua missão civilizacional foram glorificados. De maneira paradoxal, no entanto, a produção de saberes sobre o Império permaneceu vista como uma excepcionalidade – excepcionalidade de gênios, bem entendido, homens como o próprio Orta, Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro ou Pedro Nunes, em torno dos quais se construiu uma tradição triunfalista e patriótica. Curiosamente, as primeiras reações a essa historiografia, que se começam a esboçar nos estertores do Império Colonial cinco décadas atrás, mantiveram a condição de exceção desses homens do século XVI, e acabaram por reforçar, de certa maneira, a parcela da legenda negra que afirmava que, por centenas de anos, os portugueses sustentaram um Império sobre o qual não se interessaram intelectualmente. Sentença ainda mais forte quando se comparava à experiência do colonialismo neerlandês, francês e inglês do período.

Esse movimento, afastado dos imperativos de certo lusotropicalismo e de ideologias congêneres, teve a salutar consequência de nos chamar a atenção para o papel fundacional da violência e do racismo na conformação da empreitada imperial lusitana por mais de quatrocentos anos, até bem entrado o século XX. Em lugar das narrativas da tolerância e da civilização, temos hoje a consciência aguda do lugar central ocupado pela força bruta em todo esse processo. Terá então Orta sido vindicado, estabelecendo-se que os portugueses só se interessaram por comerciar (inclusive com seres humanos como mercadorias)? Os últimos anos têm indicado que não.

A consciência da lógica econômica e da prática brutal tem convivido com uma percepção cada vez mais consolidada de que instrumentos intelectuais de controle dos espaços, de suas gentes e de sua natureza também foram largamente empregados pelos portugueses, em seu próprio território europeu e em todas as conquistas ultramarinas. Ao contrário do que denunciaram Orta e sucessivas gerações de portugueses, eles foram sim muito curiosos das terras que encontraram, e não só em casos excepcionais. Assim, o estudo da formação de corpos de saberes necessários à constituição da ordem imperial, envolvendo práticas e conhecimentos administrativos, tecnológicos, demográficos e de inventário da natureza, ocupa hoje lugar central no programa de investigação de muitos historiadores da ciência, mas não apenas.

De fato, até meados do século XVII, Portugal tinha sob seu controle a maior e mais extensa rede mundial de portos marítimos e entrepostos comerciais, indo da América do Sul ao Japão, passando pelas duas costas da África, pela Índia e por diversos pontos da Ásia Meridional. Entre os mecanismos de controle dos domínios ultramarinos, a produção de saberes sobre os lugares e sobre os povos teve um lugar de destaque desde os primórdios da expansão marítima e esteve presente no colonialismo até a primeira metade do século XX. Mesmo após a entrada em cena de potências imperiais concorrentes, cosmógrafos, matemáticos, engenheiros, naturalistas, médicos e geógrafos a serviço de Portugal estavam espalhados pelo mundo todo, ao lado de outros agentes sociais como mercadores, missionários, marinheiros, administradores e colonos. Esses atores estiveram envolvidos, desde o século XV, nos mais variados processos de coleta, organização e troca de informações, na forma de saberes sobre o mundo natural e o território, organização social, práticas religiosas, matéria médica e muito mais. Os diversos produtos deste imenso inventário, bem como seus meios de produção, circularam, de forma manuscrita ou impressa, em livros, cartas, memórias, roteiros, mapas e imagens, ou ainda se materializaram em instrumentos e outros artefatos.

A circulação de informações e saberes sobre o Império, dentro dele e através das suas fronteiras, interessa-nos especialmente aqui. Primeiro, cabe investigar as diferentes modalidades em que os próprios saberes se organizaram, sem projetar no passado categorias disciplinares modernas. Como, por exemplo, não desconsiderar o impacto da circulação de informações em forma manuscrita e não impressa durante a Época Moderna. Essas modalidades devem ser estabelecidas tendo-se em vista seu lugar na estrutura das lógicas imperiais que se sucederam e às vezes coexistiram, e devem ser pensadas em situações históricas concretas. A dimensão complementar é o estudo do conteúdo desses corpos de conhecimento, os usos que lhes foram dados e seu estatuto comparativamente a saberes da mesma natureza produzidos por outros atores. É então que se impõe a análise das formas de circulação: público, suportes materiais, obstáculos e alcance. Os hitoriadores das ciências têm reconhecido cada vez mais que a circulação é um processo ativo em que o conhecimento é muitas vezes transformado, ressignificado e “universalizado”, a partir de sua ancoragem sempre local na incepção. As ciências modernas, longe de serem uma dádiva de algumas pessoas e instituições da Europa Ocidental ao mundo, são fruto de processos circulatórios em diversas escalas – e a do Império Português é forçosamente uma delas.

Os artigos aqui reunidos pretendem, a partir de casos específicos, analisar saberes, ciências e práticas culturais que deram lastro aos processos imperiais de controle e transmissão a longa distância, tais como evidenciados nas formas de intercâmbio, nos objetos e nos mecanismos de visibilidade e comunicação empregados na circulação do conhecimento sobre o Império Português, ao longo de alguns séculos de sua existência. Outro eixo de reflexão é a própria relação entre os saberes e o modelo imperial português, com atenção especial aos processos de coleta, formalização e disseminação do conhecimento adquirido nas possessões ultramarinas e no Reino. Investigam ainda quais os aspectos relevantes da interação entre “eruditos” e comunidades ou informantes locais, quais eram os mecanismos de difusão e legitimação do conhecimento construído em situações de contato cultural e quais os efeitos da competição e colaboração intra- e inter-imperiais na conformação dos saberes em circulação.

Abrimos o dossiê com o artigo de Lorelai Kury, A ciência útil em O patriota (Rio de Janeiro, 1813-1814). O texto nos convida a refletir sobre as caracterísitcas do Ilumismo luso-brasileiro, sobretudo no que diz respeito ao papel da imprensa na difusão não apenas das ideias, mas também como meio de propagar as novas formas de aproveitamento dos recursos naturais e as inovações técnicas que deveriam auxiliar o trabalho. Visto como um movimento reformador, o Iluminismo, conforme apresentado por Lorelai Kury, “centrou suas propostas na racionalização do uso da terra, na busca de produtos agrícolas e de origem animal alternativos, na descrição e quantificação das populações e suas atividades, na listagem, classificação e utilização dos chamados três reinos da natureza.”.

Tema caro à historiografia das ciências e da tecnologia no Brasil e em Portugal, as Viagens Filosóficas, ocorridas durante a Ilustração, são aqui tratadas por Ermelinda Moutinho Pataca do ponto de vista de sua estruturação, teórica e prática, explorando as etapas de preparação, execução e sistematização dos dados coletados nos vários pontos do Império, processo fomentado pelo Estado e organizado a partir de instituições situadas em Lisboa, em especial o Real Museu e Jardim Botânico do Real Palácio da Ajuda. Em seu artigo, “Coletar, preparar, remeter, transportar – práticas de História Natural nas viagens filosóficas portuguesas (1777-1808)”, a autora nos mostrou como, embora os resultados não tenham sido publicados, o empreendimento não pode ser considerado um “fracasso”, uma vez que as “práticas”, “técnicas” e “representações” resultantes de todo o processo, inclusive a formação de uma rede de informações que surgiu durante a preparação e realização das viagens científicas no Império português.

O artigo seguinte, Censura e mercê: os pedidos de leitura e posse de livros proibidos em Portugal no século XVIII, traz uma contribuição que pode nos levar a novas interpretações sobre a Ilustração luso-brasileira, momento bastante estudado por historiadores da Ciência e da Tecnologia entre nós. Ao analisar os pedidos de licença enviados por homens públicos, professores e clérigos aos órgãos censores de Portugal, Cláudio DeNipoti e Thais Nivea de Lima e Fonseca nos mostram como esta elite letrada tinha acesso à posse de livros que tratavam de temas “perigosos” escritos pelos filósofos ilustrados de várias partes da Europa que constavam nas listas das leituras proibidas, demonstando, assim, como havia circulação de saberes e ideias, ainda que com acesso restrito, obedecendo à lógica do privilégio da sociedade do Antigo Regime. Entre os livros, havia obras e temas importantes da cultura científica da Ilustração.

Fechamos este dossiê com o texto de Thomás Haddad que nos leva ao período anterior ao Iluminismo e ao Império português observado pelo holandês Jan Huygen van Linschoten (c. 1563-1611), em seu livro Itinerário, publicado em 1596. O livro, além de conter roteiros de viagem, ficou famoso por tratar dos portugueses no Oriente. Além de uma apresentação sumária dos conteúdos tradicionais do “conhecimento colonial” que se constitui junto com a expansão europeia, Thomás Haddad explora, sobretudo, os aspectos de uma “etnografia implícita”, refletindo sobre o tema da miscigenação, tão caro à compreensão do império português e visto com olhos críticos pelo observador batavo.

Por tudo isto, vemos o conjunto de artigos aqui publicados não como ponto de chegada, mas, sobretudo, como estímulo a novas pesquisas e questionamentos que se atenham ao papel da produção de saberes articulados ao processo de expansão portuguesa desde os seus primórdios. Acreditamos que historiadores da ciência podem contribuir ainda muito para o estabelecimento de novas investigações sobre esta temática.

Heloisa Meireles Gesteira – Museu de Astronomia e Ciências Afins. MCTI PPGHIS-UNIRIO.

Thomás A. S. Haddad – Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. EACH / USP


GESTEIRA, Heloisa Meireles; HADDAD, Thomás A. S. Apresentação. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Engenheiros e Engenharia no Brasil / Revista Brasileira de História da Ciência / 2010

Já está bem consolidada a imagem do século XIX como aquele do entusiasmo pelo progresso alicerçado na ciência e na tecnologia. De início, a partir do século XVIII, os engenheiros atuaram largamente na esfera militar, na demarcação de fronteiras, na cartografia e na construção de fortificações, assim como nos levantamentos científicos relacionados à História Natural, dada a centralidade estratégica desse campo do conhecimento para a estabilidade econômica e política dos Estados nacionais. Nas primeiras décadas do século XIX a participação nas obras civis é digna de nota, e crescerá rumo às atividades industriais. Esse vasto leque de atribuições teve como denominador comum os processos de produção de saberes e de objetos técnicos, e de organização e controle do trabalho coletivo em suas várias etapas.1 Os engenheiros se mostraram, a um só tempo, não apenas os iniciadores de numerosas mudanças técnicas, mas também os organizadores e administradores dos novos sistemas técnicos, garantindo sua continuidade e correta implantação.2

No Brasil, o quadro geral não foi, grosso modo, diferente, mas as balizas da economia agroexportadora e escravista definiram seus contornos. Mesmo assim, como afirmou Pedro Marinho, organizador do presente Dossiê, “aos poucos, o século XIX passava a ser também o século dos engenheiros”3. Na transição para o século XX, no nível político, situa-se o apogeu do processo de consolidação do Estado oligárquico.4 No nível social, constituía-se uma sociedade predominantemente urbanizada e burguesa, e as classes médias e as elites acreditavam que, por fim, atingiam o que tanto almejavam, isto é, o “nível de civilização” dos países avançados, pois se acreditava que, da mesma forma que os seres vivos, as sociedades evoluíam na direção do progresso crescente. A avaliação de uma determinada sociedade, nas suas condições atuais e possibilidades futuras, dava-se no marco da comparação desta com os padrões ocidentais do que se considerava “progresso” e “civilização”. No Brasil do século XIX, particularmente na segunda metade, havia a percepção de que essas mudanças estavam em processo no Ocidente e urgia o ingresso na modernidade. Como aponta Pesavento,5 as elites intelectuais brasileiras entendiam o progresso técnico-científico não somente como “algo de que se ouvia falar”, mas sim como um objetivo que o país “deveria perseguir, para atingir o status de moderno”. Assistia-se à crescente influência dos engenheiros e seu “saber instrumental”, validando-se seu conhecimento como “discurso competente”, em oposição aos bacharéis e seu “saber ornamental”.

Os projetos modernizadores que circularam então nessa transição, implantados total ou parcialmente, requisitaram engenheiros das mais diversas formações, fosse para obras de saneamento, reorganização urbana, construção de novas cidades (como Belo Horizonte, por exemplo), fosse para intervenções no ambiente natural, como obras contra secas, estradas, levantamentos de recursos naturais (vide os trabalhos das Comissões Geográficas e Geológicas de São Paulo e de Minas Gerais, ou o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil), dentre outros. Engenheiros que bem encarnavam, junto com os médicos, o papel de “missionários do progresso”, como já os chamou, acertadamente, Kropf:6 “O debate sobre a remodelação da cidade do Rio de Janeiro foi um espaço privilegiado para que os engenheiros produzissem para si a identidade de grupo social diretamente comprometido com o projeto de modernização nacional […]. Significava acima de tudo um poderoso instrumento para que construíssem e reivindicassem perante a sociedade o papel de agentes legítimos do que consideravam uma nova ordem, tida como representativa dos ideais do progresso e da modernidade.”

Reverberando esse movimento, coube aos engenheiros brasileiros, como aponta Cury,7 “continuar a definir, de maneira cada vez mais clara e objetiva, a legitimidade de suas atribuições enquanto corpo destacado de profissionais especializados. Somente através dessa identidade determinada tornou-se- lhes possível reivindicar o reconhecimento social e político para suas aspirações, e garantir a apropriação de seu capital cultural específico”. Complementarmente, as conclusões de Cerasoli8 sustentam que os engenheiros brasileiros, “ávidos por produzir grandes e eficazes transformações direcionadas ao progresso intelectual e material, sustentados por conhecimentos científicos e por suas convicções político-ideológicas”, colocaram-se à frente dos grupos concretamente promotores do cientificismo e do progressismo típico desse momento histórico. E continua: “A ‘ilustre e operosa classe’ […] seria capaz de transformar os conhecimentos matemáticos e físicos em resultados práticos para a sociedade, conquistando o conforto e o bem-estar da população. […] Parece-nos interessante observar a insistência dos próprios engenheiros em se auto proclamarem portadores dos mais elevados conhecimentos da civilização, indispensáveis ao alcance do progresso – discurso recorrente desde as últimas décadas do século XIX no Brasil – e promotores do bem comum para a nação.”

Como síntese do que foi dito acima, poderíamos reproduzir as palavras de Simone Fadel9 sobre o engenheiro Fábio Hostílio de Moraes Rego – exemplar singular a resumir todo um coletivo: “percebe-se que Moraes Rego pauta sua prática profissional pela crença de que o conhecimento científico pode e deve contribuir para o aprimoramento da sociedade. […] é a trajetória do profissional em busca de caminhos de intervenção na realidade através da ‘racionalidade’ conferida pelo saber científico. Essa intervenção ‘racional’, diferente de outras possíveis, conferia legitimidade à sua prática e às suas propostas”.

Apesar da indiscutível presença social e política na vida brasileira, a engenharia e os engenheiros no Brasil ainda carecem de maior investigação histórica – independentemente de os compararmos aos médicos e à Medicina, de longe uma temática melhor coberta. Este Dossiê, portanto, tem o duplo papel de contribuir para a veiculação de pesquisas recentes sobre diferentes aspectos da História da Engenharia e dos engenheiros, um largo campo de pesquisa continua em aberto, assim como o de inaugurar um novo tipo de formato na Revista da SBHC, agrupando artigos de uma mesma temática de forma intencional.

Os quatro textos aqui apresentados dialogam e se completam em suas especificidades, abordando dos finais do século XIX até a primeira metade do século XX. Todos demonstram, com muita clareza, a articulação inextricável, e até vital para a categoria e para o campo disciplinar das engenharias, entre saberes técnicos e ação política – muitas vezes, político-partidária, como no caso do rodoviarismo investigado por Dilma Andrade de Paula, quando deputados-engenheiros, ou engenheiros-deputados, defenderam com veemência o modelo das estradas de rodagem em complementação ou detrimento das ferrovias. Nas palavras de conclusão de seu artigo, Sônia Regina de Mendonça reforça a “a relação entre Saber, Poder e Reprodução Social no caso das instituições do Rio de Janeiro estudadas”.

Maria Letícia Corrêa, por sua vez, expõe essa relação através da trajetória de Luiz Rafael Vieira Souto (1849- 1922), “fortemente amparada por uma dupla inscrição na sociedade política e na sociedade civil. […] são consideradas intervenções de Vieira Souto no debate sobre os temas de política econômica no contexto da campanha em prol do fomento da produção nacional, conduzida por associações da sociedade civil como o Centro Industrial do Brasil e a Sociedade Nacional de Agricultura, bem como sua atuação como professor da cadeira de Economia Política na Escola Politécnica” – tema, aliás, ainda muito pouco abordado e que a autora traz à tona com propriedade e detalhes. Há outros engenheiros, além dos indicados por Maria Letícia, que se inscrevem na vertente que articula economia política, engenharia e desenvolvimento, como Luiz Betim Paes Leme,10 e que estão a merecer a devida atenção de pesquisadores que adentrem essa seara.

No artigo de Pedro Marinho, é na criação da Inspetoria Geral das Estradas de Ferro, conduzida pelo grupo dirigente do Clube de Engenharia a partir de 1882, que fica visível que “as ações políticas já não passavam unicamente pelos tradicionais partidos políticos. O processo de formação do bloco no poder no Brasil, que se elaborava por disputas entre as diferentes frações – lutando cada qual pela prevalência de seus interesses particulares – comportava cada vez mais porta-vozes e agências em conflito”.

Outro ponto de interesse levantado pelos textos toca o papel das associações e entidades de classe. Sônia Regina de Mendonça, ao analisar a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB), mostra que “cada uma delas correspondeu a demandas de setores de grandes proprietários rurais organizados […]. A disputa entre ambas as associações se intensificaria ao concretizar-se, em 1909, uma antiga reivindicação da SNA no enfrentamento da chamada ‘crise agrícola nacional’: a recriação do Ministério da Agricultura, extinto em fins do Império. Isso porque ambas as instituições almejavam inscrever seus quadros junto à nova agência de Estado […]. Divergências à parte, entretanto, as duas entidades patronais convergiam ao eleger o agente tido por capaz de intervir em prol da superação da ‘crise’: o agrônomo.” Já o Clube de Engenharia opta por intervir e criar uma nova instituição: uma agência geral das estradas de ferro no Brasil, a Inspetoria Geral das Estradas de Ferro. Empreendimento levado a cabo por meio de Congresso e Exposição específicos, acabou por demonstrar que “a capacidade de organizar uma agência e principalmente dirigi-la era o que diferenciava o Clube de Engenharia de outras associações contemporâneas, e foi um dos motivos que garantiu àquele Grupo Dirigente ultrapassar a crise hegemônica do bloco histórico Imperial”. No caso do movimento rodoviarista, Dilma de Paula demonstra que o consenso em torno da defesa das estradas de rodagem não prescindiu das associações; ao contrário, “fortaleceu-se por meio de diferentes ‘aparelhos’: jornais, revistas, instituições de ensino e associações diversas, agregando engenheiros, economistas, políticos, legisladores, empresários etc., que defendiam a opção rodoviária, supostamente mais adaptada às características do país”. Mesmo com o foco no indivíduo não se perdem de vista as instituições e associações, posto que as trajetórias pessoais e profissionais nelas se constroem, ao mesmo tempo que ajudam a construí-las. Isso fica claro no artigo de Mª Letícia Corrêa, quando “são consideradas intervenções de Vieira Souto no debate sobre os temas de política econômica no contexto da campanha em prol do fomento da produção nacional, conduzida por associações da sociedade civil como o Centro Industrial do Brasil e a Sociedade Nacional de Agricultura, bem como sua atuação como professor da cadeira de Economia Política na Escola Politécnica”.

Muitos outros aspectos poderiam ser aqui levantados e, certamente, novas questões surgirão aos leitores a partir do encontro com esses textos que, sem dúvida, trazem uma contribuição significativa à História das Ciências e da Tecnologia no Brasil.

Notas

  1. GRELON, André. Emergence and growth of the engineering profession in Europe in the 19th and early 20th century. In: GOUJON, Ph.; DUBREIL, B. H. (Eds.) Technology and ethics: a European quest for responsible engineering. Leuven, Peters, 2001, p. 75-99.
  2. Ibid.
  3. MARINHO, Pedro Eduardo Mesquita de Monteiro. Engenharia imperial: o Instituto Politécnico Brasileiro (1862-1880). Niterói: Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense (Mestrado em História), 278p., 2002, p. 18.
  4. Martins, Luciano. Pouvoir et développement économique: formation et évolution des structures politiques au Brésil. Paris: Ed. Anthropos, 1976.
  5. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições Universais: espetáculos da modernidade no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 62-63
  6. KROPF, Simone Petraglia. Sonho da razão, alegoria da ordem: o discurso dos engenheiros sobre a cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. In: HERSCHMANN, Micael; KROPF, Simone Petraglia; NUNES Clarice (Orgs.). Missionários do progresso: médicos, engenheiros e educadores no Rio de Janeiro, 1870 -1937. Rio de Janeiro: Diadorim, 1996, p. 69-154.
  7. CURY, Vânia Maria. Engenheiros e empresários: o Clube de Engenharia na gestão de Paulo de Frontin (1903-1933). (Doutorado em História). Instituto de Ciências Humanas Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 357p., 2000.
  8. CERASOLI, Josiane. A Grande Cruzada: os engenheiros e as engenharias de poder na Primeira República. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Unicamp (Dissertação de Mestrado), 1998, p. 21.
  9. FADEL, Simone. Meio ambiente, saneamento e engenharia no período do Império à Primeira República: Fábio Hostílio de Moraes Rego e a Comissão Federal de Saneamento da Baixada Fluminense. (Doutorado em História). Depto. de História / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 216p., 2006, p. 26.
  10. FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. Os irmãos [Paes] Leme: Luiz (1881- 1943) e Alberto (1883-1938) Betim Paes Leme, engenheiros nas primeiras décadas do século XX. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (Orgs.). Ciência, civilização e República nos trópicos. Rio de Janeiro: Mauad X / FAPERJ, 2010, p. 357-73.

Silvia F. de M. Figueirôa – Instituto de Geociências / UNICAMP. E-mail: [email protected]


FIGUEIRÔA, Silvia F. de M. Apresentação. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência em Portugal / Revista Brasileira de História da Ciência / 2009

Este número da Revista Brasileira de História da Ciência traz uma novidade importante com relação aos seus números anteriores, a saber: a publicação de um dossiê temático. No presente caso, trata-se de um conjunto de três artigos sobre temas diferentes, guardando eles um ponto em comum: o de discutirem aspectos do desenvolvimento científico e tecnológico em Portugal. Em outras palavras, trata-se de um dossiê com enfoque na recente produção historiográfica portuguesa.

Como deve ser conhecido por todos aqueles que se interessam e / ou atuam no domínio da história da ciência, essa área vem passando, desde a última década do século XX, por um intenso processo de renovação e ampliação temática e em seus quadros de investigadores profissionais. A recente decisão do governo português de oferecer um apoio à História da Ciência, questão que foi debatida em congresso em meados deste ano, é um sinal positivo de que essa área do conhecimento já alcançou uma certa visibilidade acadêmica, sem deixar de mencionar a inserção internacional que também é crescente.

Também é sabido que a história da ciência não é um tema que apareceu há pouco tempo no cenário científico-universitário de Portugal. O interesse e a produção de historiadores portugueses, ou que se interessam por questões ligadas àquele país, são antigas, podendo-se mencionar os nomes de Joaquim de Carvalho, Luís de Albuquerque e Joaquim Bensaúde como exemplos significativos da produção portuguesa. Além de serem relevantes no cenário lusitano, os três nomes acima, aos quais poderiam ser acrescidos muitos outros, têm uma outra característica importante: seus artigos e livros discutiram questões relativas aos descobrimentos náuticos portugueses.

Como é de se esperar, tendo em vista o lugar periférico de que Portugal desfrutou durante longo período de tempo no cenário intelectual e político mundial, a produção historiográfica portuguesa dedicou-se, e muito, a tentar compreender as razões que impediram a penetração no país das ideias modernizadoras da chamada Revolução Científica da Época Moderna. Associada ao declínio econômico vivido pelo país e à força exercida pelo catolicismo, prevaleceu a tese de que Portugal, além de atrasado sob o ponto de vista científico, seria um exemplo de que a ciência não poderia ser praticada em ambientes culturais com essas características. Aceitou-se a tese de que Portugal, a partir de meados do século XVII, e até muito recentemente, tivesse sido como um deserto de ideias e instituições científicas e acadêmicas.

Hoje em dia, pode-se dizer que a conclusão do parágrafo acima é errada. Para que sua inexatidão pudesse ser afirmada e disseminada, foi preciso que em Portugal, como também no Brasil, se abandonassem certos padrões de análise historiográfica mais afeitos ao universo europeu e anglo-saxão. Em outras, certamente rápidas, palavras, foi preciso que a história da ciência fosse percebida como algo mais do que a mera descrição das hipóteses verdadeiras. A ciência se caracteriza por ser uma prática específica e não apenas por ser “produtora” de um certo tipo de conhecimento.

A atual produção historiográfica portuguesa não se limita a estudar eventos diretamente relativos à ciência e à tecnologia no país. É possível encontrar temas ligados à química quântica do século XX, à física clássica no século XIX e à mecânica quântica também no século XX. Ao lado da diversificação temática, já se pode verificar a presença de alguns poucos centros de investigação inteiramente dedicados à história e à filosofia da ciência, ainda que se possa lamentar o fato de que haja pouca interação entre eles – que são relativamente bem distribuídos pelo país. Com o passar do tempo, é de se imaginar que aumente essa interação, o que resultaria em benefícios para todos.

Os três artigos que compõem esse dossiê são um exemplo significativo das recentes mudanças no cenário português em história da ciência. Mas, antes de passarmos a uma breve descrição do seu conteúdo, gostaria de mencionar que, pelo menos desde a década de 1990, Portugal e Brasil têm fortalecido os seus laços de investigação em história da ciência. Penso que o exemplo mais relevante desse fortalecimento é constituído pelos três encontros luso-brasileiros ocorridos em Évora (2000) e no Rio de Janeiro (2003 e 2009). Além disso, pesquisadores dos dois países já atuam em conjunto produzindo livros e artigos sobre o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Os autores dos artigos desse dossiê já possuem larga trajetória no cenário da história da ciência, sendo, inclusive, bem conhecidos da comunidade brasileira. Um deles (Luís Miguel Carolino) trabalhou durante dois períodos no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MCT). Os outros autores são nossos frequentes visitantes, o que mostra o interesse que têm em preservar os laços com o Brasil.

O artigo de Carolino, presentemente no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, será o primeiro analisado. Tendo por título “Cristoforo Borri e o impacto da nova astronomia em Portugal no século XVII”, o seu objetivo consiste em entender o papel desempenhado por Cristoforo Borri no cenário da ideias cosmológicas nesse país. Para isso, acentua-se a análise das teses e concepções que Borri apresentou em seu texto sobre a nova astronomia. Sinalizando a maturidade alcançada pelos historiadores portugueses, Carolino discute criticamente a historiografia existente, mostrando as suas limitações, ao mesmo tempo em que apresenta e sugere saídas renovadoras para pensar a ciência e o conhecimento em Portugal no século XVII.

O segundo texto – “A vida privada e o carácter do físico João Jacinto de Magalhães (1722-1790)” – é escrito por pessoa com visível presença no contexto acadêmico português, o físico de origem Manuel Fernandes-Thomaz – pertencente aos quadros da Universidade de Aveiro, que chegou a desempenhar importante papel no cenário português de ciência e tecnologia. Em seu trabalho, Fernandes-Thomaz retoma o assunto sobre o qual ele mesmo já tinha se pronunciado, além de ter sido muito debatido e comentado por outros historiadores, a saber: a vida e a obra de João Jacinto de Magalhães, filósofo natural português que acabou seus dias longe de seu país de origem. É objetivo de Fernandes-Thomaz discutir a historiografia conhecida sobre o seu “objeto” de estudo, revisando-a e corrigindo-a quando necessário.

O terceiro e último texto, resultado da colaboração de três investigadores, trata de um tema ainda pouco explorado não somente em Portugal, mas em muitos outros sítios: a ciência forense. Assim, esse artigo não é apenas importante por se tratar de uma colaboração, prática ainda pouco comum entre os historiadores da ciência, mas também por chamar a nossa atenção para um tema ausente do nosso campo de visão e análise. Em “António da Costa Simões e a génese da química forense em Portugal”, António José Leonardo, Décio Ruivo Martins e Carlos Fiolhais – todos da Universidade de Coimbra – partem da valorização de uma fonte ainda pouco usada, a revista O Instituto, para mostrar como António da Costa Simões, médico e professor da faculdade de Medicina, inovou no campo da detecção de substâncias tóxicas. Além das contribuições de Costa Simões, atenta-se para a decisiva transformação perpetrada por Macedo Pinto, igualmente médico, e que foi o responsável pela organização de um laboratório químico devidamente equipado.

São três os séculos (XVII, XVIII e XIX) focados pelos trabalhos presentes nesse dossiê. Se quisesse arriscar uma característica comum a eles, creio que diria que é a capacidade de mostrar, contra uma historiografia ainda dominante, que havia em Portugal, mesmo naqueles momentos vistos e entendidos como críticos, uma rica e interessante circulação de ideias, pessoas e visões de mundo. Como ex-editor da RBHC e profundamente interessado nos rumos da história da ciência em Portugal, é com muita satisfação que saúdo a decisão da atual editoria em nos dar a conhecer alguns dos mais recentes produtos da historiografia portuguesa. Que esse dossiê contribua para a criação de novos laços entre os nossos países, bem como para o fortalecimento e a consolidação dos atualmente existentes.

Antonio Augusto Passos Videira – Departamento de Filosofia / IFCH. Universidade do Estado Rio do Janeiro.


VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. Introdução. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, jul. / dez., 2009. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência | SBHC | [1984]

Historia da Ciencia sbhc

A missão da Revista Brasileira de História da Ciência (Rio de Janeiro, [1984]-)é divulgar trabalhos originais e de qualidade na área de História da Ciência e da Tecnologia, reconhecendo a importância de sua articulação com os campos da Filosofia, Sociologia e Ensino de Ciências, no intuito de aprimorar o conhecimento, complementar trabalhos, estimular e contribuir para a consolidação das atividades de pesquisa e ensino pós-graduado na área.

[Periodicidade semestral].

[Acesso livre].

ISSN: 2176-3275

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