Formação historiadora no Brasil: Proteger a verdade neotomista e difundir a erudição docente | Itamar Freitas

FREITAS Itamar difundir a erudição docente

Pouco sabemos a respeito, mas os italianos foram protagonistas das primeiras iniciativas propedêuticas que resultaram em manual de História, no Brasil, na segunda e terceira décadas do século XX. Isso vale para impressos formativos no ensino superior (veremos adiante). No que diz respeito às obras de síntese sobre a nação que encarnaram as primeiras “formas históricas”, as experiências datam de 100 anos antes e estiveram sob a orientação de intelectuais de Portugal, França, Inglaterra e Alemanha, na primeira metade do século XIX.

Nessas Histórias do Brasil, o presente e o passado do Reino Unido de Portugal (1808) e do país independente (1822) estiveram em jogo, sendo várias as tentativas de compendiar uma memória nacional. Algumas estavam alinhadas à História da Casa de Bragança enquanto outras serviram aos projetos comerciais dos alemães,[1] dos Estados francês e inglês ou aos radicais parlamentares nacionalistas brasileiros, [2] explicitando também as primeiras problematizações epistemológicas do século XIX. No mesmo período, houve também uma iniciativa inglesa, marcada pela idealização do passado medieval que estabelecia direta relação “entre superstição, gótico, antiquariato, catolicismo, Península Ibérica e Brasil.”[3] Leia Mais

A operação historiográfica (Excertos) | Michel de Certeau

CETEAU Michel de difundir a erudição docente
Michel de Certeau | Foto: Collège de France / books & ideas

Esclarecimento

Na seleção dos trechos deste fichamento  eu não me preocupei com as marcas do tempo, do lugar e das circunstâncias que interferiram na produção de Michel de Certeau. Meu objetivo foi recortar orientações teóricas gerais empregadas hoje, entre historiadores brasileiros, quase meio século depois de publicada A Escrita da História, onde está inclusa “A operação historiográfica” e que serão retomadas, na terceira unidade, como orientação para o aprendizado da crítica historiográfica.


1. O que fabrica o historiador quando “faz história”? Para quem trabalha? Que produz? Interrompendo sua deambulação erudita pelas salas dos arquivos, por um instante ele se desprende do estudo monumental que o classificará entre seus pares, e, saindo para a rua, ele se pergunta: O que é esta profissão? […]

2. Encarar a história como uma operação será tentar, de maneira necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da “realidade” da qual trata, e que essa realidade pode ser apropriada “enquanto atividade humana”, “enquanto prática”.4 Nesta perspectiva, gostaria de mostrar que a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas “científicas”5 e de uma escrita. Essa análise das premissas, das quais o discurso não fala, permitirá dar contornos precisos às leis silenciosas que organizam o espaço produzido como texto. A escrita histórica se constrói em função de uma instituição cuja organização parece inverter: com efeito, obedece a regras próprias que exigem ser examinadas por elas mesmas. […]

3. UM LUGAR SOCIAL

4. Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócioeconômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração que circunscrito por determinações próprias: uma profissão liberal, um posto de observação ou de ensino, uma categoria de letrados, etc. Ela está, pois, submetida a imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. [Pg. 066] É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se organizam. […]

5. Os historiadores na sociedade.

6. Segundo uma concepção bastante tradicional na intelligentsia francesa, desde o elitismo do século XVIII, convencionou-se que não se introduzirá na teoria o que se faz na prática. Assim, falar-se-á de “métodos” mas sem o impudor de evocar seu valor de iniciação a um grupo (é preciso aprender ou praticar os “bons” métodos para ser introduzido no grupo), ou sua relação com uma força social (os métodos são meios graças aos quais se protege, se diferencia e se manifesta o poder de um corpo de mestres e de letrados). Estes “métodos” esboçam um comportamento institucional e as leis de um meio. Nem por isso deixam de ser científicos. Supor uma antinomia entre uma análise social da ciência e sua interpretação em termos de história das idéias, é a falsidade daqueles que acreditam que a ciência é “autônoma” e que, a título desta dicotomia, consideram como não pertinente a análise de determinações sociais, e como estranhas ou acessórias as imposições que ela desvenda. […]

7. O que permite e o que proíbe: o lugar.

8. Antes de saber o que a história diz de uma sociedade, é necessário saber como funciona dentro dela. Esta instituição se inscreve num complexo [Pg. 076] que lhe permite apenas um tipo de produção e lhe proíbe outros. Tal é a dupla função do lugar. Ele torna possíveis certas pesquisas em função de conjunturas e problemáticas comuns. Mas torna outras impossíveis; exclui do discurso aquilo que é sua condição num momento dado; representa o papel de uma censura com relação aos postulados presentes (sociais, econômicos, políticos) na analise. […]

9. UMA PRÁTICA.

10. O estabelecimento das fontes ou a redistribuição do espaço.

11. Em história, tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em “documentos” certos objetos distribuídos de outra maneira. Esta nova distribuição cultural é o primeiro trabalho. Na realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto. Este gesto consiste em “isolar” um corpo, como se faz em física, e em “desfigurar” as coisas para constituí-las como peças que preencham lacunas de um conjunto, proposto a priori. Ele forma a “coleção”. Constitui as coisas em um “sistema marginal”, como diz Jean Baudrillard;48 ele as exila da prática para as estabelecer como objetos “abstratos” de um saber. Longe de aceitar os “dados”, ele os constitui. O material é criado por ações combinadas, que o recortam no universo do uso, que vão procurá-lo também fora das fronteiras do uso, e que o destinam a um reemprego coerente. E o vestígio dos atos que modificam uma ordem recebida e uma visão social.49 Instauradora de signos, expostos a tratamentos específicos, esta ruptura não é, pois, nem apenas nem primordialmente, o efeito de um “olhar”. É necessário aí uma operação técnica. […]

12. Fazer surgir diferenças: do modelo ao desvio.

13. A utilização das técnicas atuais de informação leva o historiador a separar aquilo que, em seu trabalho, até hoje esteve ligado: a construção de objetos de pesquisa e, portanto, das unidades de compreensão; a acumulação dos “dados” (informação secundária, ou material refinado) e sua arrumação em lugares onde possam ser classificados e deslocados;60 a exploração é viabilizada através das diversas operações de que este material é susceptível. […]

14. Nesta linha o trabalho teórico se desempenha, propriamente falando, na relação entre os pólos extremos da operação inteira: por um lado, a construção dos modelos; por outro lado, a atribuição de uma significabilidade aos resultados obtidos ao final das combinações informáticas. A forma mais visível desta relação consiste, finalmente, em tomar pertinentes diferenças adequadas às unidades formais precedentemente construídas; em descobrir o heterogêneo que seja tecnicamente utilizável. A “interpretação” antiga se torna, em função do material produzido pela constituição de séries e de suas combinações, a evidenciação dos desvios relativos quanto aos modelos. […]

15. O trabalho sobre o limite.

16. Esta estratégia da prática histórica prepara-a para uma teorização mais de acordo com as possibilidades oferecidas pelas ciências da informação. Parece que ela especifica, cada vez mais, não apenas os métodos, mas a função da história no conjunto das ciências atuais. Com efeito, seus métodos não mais consistem em buscar objetos “autênticos” para o conhecimento; seu papel social não é mais (exceto na literatura especular, dita de vulgarização) o de prover a sociedade de representações globais de sua gênese.. A história não mais ocupa, como no século XIX, este lugar central, organizado por uma epistemologia que, perdendo a realidade como substância ontológica, buscou reencontrá-la como força histórica, Zeitgeist, [Pg. 087] e escondendo-se na interioridade do corpo social. Ela não tem mais a função totalizante que consistia em substituir a filosofia no seu- papel de expressar o sentido. […]

17. [A história, hoje, ] intervém à maneira de uma experimentação crítica dos modelos sociológicos, econômicos, psicológicos ou culturais. Diz-se que utiliza um “instrumental emprestado” (P. Vilar). É verdade. Mais precisamente, testa esse instrumental através de sua transferência para terrenos diferentes, da mesma forma que se testa um carro esporte, fazendo-o funcionar em pistas de corrida, em velocidades e condições que excedam suas normas. A história se toma um lugar de “controle” onde se exerce uma “função de falsificação.70. Nela podem ser evidenciados os limites de significabilidade relativos aos “modelos” que são “experimentados”, um de cada vez, pela história, em campos estranhos ao de sua elaboração. […]

18. Crítica e história.

19. Há cem anos este conhecimento representava uma sociedade a maneira de uma meditação-compilação de todo o seu devir. É verdade que a história era fragmentada numa pluralidade de histórias (biológicas, econômicas, lingüísticas, etc.).81 Mas, entre estas positividades despedaçadas, como entre os ciclos diferenciados que a Atualmente o conhecimento histórico é julgado mais por sua capacidade de medir exatamente os desvios – não apenas quantitativos (curvas de população, de salários ou de publicações), mas qualitativos (diferenças estruturais) – com relação às construções formais presentes. Em outros termos, conclui com aquilo que era a forma do incipit nos relatos históricos antigos: “Outrora não era como hoje.” A -representação – mise en scène literária – não é “histórica” senão quando articulada com um lugar social da operação científica e quando institucional e tecnicamente ligada a uma prática do desvio; com relação aos modelos culturais ou teóricos contemporâneos. Não existe relato histórico no qual não esteja explicitada a relação com um corpo social e com [Pg. 093] uma instituição de saber. Ainda é necessário que exista aí “representação”. O espaço de uma figuração deve ser composto.[…]

20. UMA ESCRITA

21. A representação – mise en scène literária – não é “histórica” senão quando articulada com um lugar social da operação científica e quando institucional e tecnicamente ligada a uma prática do desvio; com relação aos modelos culturais ou teóricos contemporâneos. Não existe relato histórico no qual não esteja explicitada a relação com um corpo social e com [Pg. 093] uma instituição de saber. Ainda é necessário que exista aí “representação”. O espaço de uma figuração deve ser composto. Mesmo se deixarmos de lado tudo aquilo que se refere a uma análise estrutural do discurso histórico,85 resta encarar a operação que faz passar da prática investigadora à escrita. […]

22. A primeira imposição do discurso consiste em prescrever como início aquilo que na realidade é um ponto de chegada, ou mesmo um ponto de fuga da pesquisa. Enquanto esta dá os seus primeiros passos na atualidade do lugar social, e do aparelho institucional ou conceitual, determinados ambos, a exposição segue uma ordem cronológica., Toma o mais anterior como ponto de partida. Tomando-se um texto, a história obedece a uma segunda imposição. A prioridade que a prática dá a uma tática de desvio, com relação à base fornecida pelos modelos, parece contradita pelo fechamento do livro ou do artigo. Enquanto a pesquisa é interminável, o texto deve ter um fim, e esta estrutura de parada chega até a introdução, já organizada pelo dever de terminar. Também o conjunto se apresenta como uma arquitetura estável de elementos, de regras e de conceitos históricos que constituem sistema entre si e cuja coerência vem de uma unidade designada pelo próprio nome do autor. Finalmente, paia atar-se a alguns exemplos, a representação escriturária é “plena”; preenche ou oblitera as lacunas que constituem, ao contrário, o próprio princípio da pesquisa, sempre aguçada pela falta.[…]

23. Dito de outra maneira, através de um conjunto de figuras de relatos e de nomes próprios, toma presente aquilo que a prática percebe como seu limite, como exceção ou como diferença, como passa. Por estes poucos traços – a inversão da ordem, o encerramento do texto, a substituição de um trabalho de lacuna por uma presença de sentido – pode-se medir a “servidão” que o discurso impõe à pesquisa.[…]

24. O lugar do morto e o lugar do leitor.

25. No texto o passado ocupa o lugar do assunto-rei. Uma conversão escriturária se operou. Lá, onde a pesquisa efetuou uma crítica dos modelos presentes, a escrita construiu um “túmulo”119 para o morto. O lugar feito para o passado joga, pois, aqui e lá, com dois tipos de operação, uma técnica outra escriturária. É apenas através desta diferença de funcionamento [Pg. 107] que pode ser reencontrada uma analogia entre as duas posições do passado – na técnica de pesquisa e na representação do texto.[…]

26. A escrita não fala do passado senão para enterrá-lo. Ela é um túmulo no duplo sentido de que, através do mesmo texto, ela honra e elimina. Aqui a linguagem tem como função introduzir no dizer aquilo que não se faz mais. Ela exorciza a morte e a coloca no relato, que substitui pedagogicamente alguma coisa que o leitor deve crer e fazer. Este processo se repete em muitas outras formas não-científicas, desde o elogio fúnebre, na rua, até o enterro. Porém, diferentemente de outros “túmulos” artísticos ou sociais, a recondução do “morto” ou do passado, num lugar simbólico, articula-se, aqui, com o trabalho que visa a criar, no presente, um lugar (passado ou futuro) a preencher, um “dever-fazer”. A escrita acumula o produto deste trabalho. Através dele, libera o presente sem ter que nomeá-lo. Assim, pode-se dizer que ela faz mortos para que os vivos existam. Mais exatamente, ela recebe os mortos, feitos por uma mudança social, a fim de que seja marcado o espaço aberto por este passado e para que, no entanto, permaneça possível articular o que surge com o que desaparece. Nomear os ausentes da casa e introduzi-los na linguagem escriturária é liberar o apartamento para os vivos, através de um ato de comunicação, que combina a ausência dos vivos na linguagem com a ausência dos mortos na casa. Desta maneira, uma sociedade se dá um presente graças a uma escrita histórica. A instauração literária deste espaço reúne, então, o trabalho que a prática histórica efetuou. […]


Referências

CETEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. Tradução de Maria de
Lourdes Menezes ;*revisão técnica [de] Arno Vogel.

Voltar ao programa do curso Historiografia Brasileira

História | Temístocles Cezar

CEZAR Temistocles 2 difundir a erudição docente
Temístocles Cezar (esquerda), Renata Gomes e Cesar Guazzelli | Foto: Renata Gomes

Esclarecimentos

Originalmente, o texto de Temístocles Cezar não possui as subdivisões apresentadas abaixo. Procedemos desta maneira para facilitar a realização da tarefa desta unidade que é a extração dos significados de Historiografia e Historiografia Brasileira.

Boa leitura!


1. [Antiguidade clássica]

2. A história tem uma longa história. No Canto VIII da Odisseia, Homero narra o episódio em que Ulisses desembarca, náufrago e solitário, na terra dos feácios. No banquete oferecido em sua homenagem, o herói grego escuta o poeta (aedo) Demódoco contar sua própria história: aquela do cavalo de madeira e da queda de Troia. Ulisses considerou a narrativa de Demódoco tão precisa que, emocionado, lhe disse: “Demódoco, acima, sim, de todos os mortais te louvo; ou a Musa te ensinou, filha de Zeus, ou Apolo, pois muito em ordem o fado dos aqueus cantas, quanto fizeram e sofreram e quanto suportaram, como se, em parte, estivesses presente ou o ouvisses de outro”.

3. Embora o poeta não tivesse participado do conflito, muito menos visto, posto que era cego, sua narrativa parecia, paradoxalmente, a de uma testemunha ocular. Ulisses, além de personagem, é também aquele que atesta a veracidade dos fatos. Ele é a prova de que aquilo realmente aconteceu. Nesta cena primitiva, que não passa de uma metáfora da origem da história, percebemos quatro noções – tempo (Odisseia), escrita (Homero), memória (Demódoco), verdade (Ulisses) – que acompanham a história até nossos dias.

4. Mesmo que a autoria dos poemas homéricos e sua datação permaneçam envoltas em mistérios, é certo que a palavra história, nestes primeiros tempos, designava antes um estado de espírito e um tipo de procedimento do que um domínio particular de conhecimento. Atividades intelectuais como o estudo médico ou a investigação do tipo judiciário serviam-se da palavra história, formada a partir do verbo grego historieîn, por sua vez derivado de hístor – que remete etimologicamente a ideîn – “ver” – e a (w)oida – “saber”. Até hoje, o verbo faz parte do universo semântico dos dois campos, sendo normal o médico ou o juiz solicitar o histórico, respectivamente, do paciente, da vítima e do réu. O que em determinado momento ocorreu foi uma transformação que converteu o verbo em substantivo identitário que passou a designar a história e, em seguida, a atividade dos historiadores.

5. Heródoto (V a.C.), considerado por Cícero o pai da história, é aquele que historia, isto, escrevia para que “os acontecimentos provocados pelos homens, com o tempo, não sejam apagados, nem as obras grandes e admiráveis, trazidas à luz tanto pelos gregos quanto pelos bárbaros, se tornem sem fama”.

6. Tucídides, pouco depois, escreveu sobre a guerra entre peloponésios e atenienses a partir de indícios de tal modo que não erraria quem considerasse que essas coisas aconteceram como expus, não acreditando em como os poetas as cantaram, adornando-os para torná-las maiores, nem em como os logógrafos [leia-se aqui Heródoto] as compuseram, para serem mais atraentes para o auditório, em vez de mais verdadeiras, já que é impossível comprová-las e a maior parte delas, sob a ação do tempo, acabou forçosamente por tornar-se fábula que não merece fé.

7. Para ambos, a história ajuda a memória a evitar o esquecimento. E tanto em um como no outro, uma ideia de imparcialidade se faz presente. Além disso, nestes primeiros tempos, na ausência de arquivos, no sentido moderno da palavra, umas das principais premissas metodológicas para se registrar os acontecimentos históricos era por meio da visão.

8. [Medievo]

9. Não chega a surpreender, portanto, que a obra de Tucídides – História da guerra do Peloponeso – seja uma história do tempo presente na qual ele participou, logo, a viu. Em 55 a.C., Cícero, em sua obra Do orador, resume, desse modo, as variações em torno da história que lhe antecederam: testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis. Testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado.

10. A fórmula adquiriu, simultaneamente, reputação, cuja longevidade nos atinge, e uma versão sintética: história mestra da vida. Logo, um conhecimento útil que deveria ser ensinado. Em 165 de nossa era, logo após as obras fundamentais de Políbio, que universaliza a ideia de história (203 a.C.-120 a.C.) e de Plutarco (46-120), que a aproxima do gênero biográfico, Luciano de Samósata afirmava em um tratado, único do gênero que chegou até nós, intitulado Como se deve escrever a história, a seguinte passagem:

11. assim deve ser para mim o historiador: sem medo, incorruptível, livre, amigo da franqueza e da verdade; alguém que não admita nem omita nada por ódio ou por amizade; que a ninguém poupe, nem respeite, nem humilhe; que seja juiz equânime, benevolente com todos até o ponto de não dar a um mais que o devido; apátrida, autônomo, sem rei, não se preocupando com o que achará este ou aquele, mas dizendo o que se passou.

12. Além dessa defesa da isenção, desde suas origens gregas, a história obedeceu a uma dupla exigência. Por um lado, ela deveria explicar os principais eventos (notadamente as guerras) por meio da identificação de causas, o que exigia do historiador uma narração coerente que colocasse em ordem aquilo que foi pesquisado e pensado.

13. Por outro lado, para que a análise fosse bem recebida e aprendida, era necessário que ela fosse capaz de trazer consigo a adesão do leitor ou do auditório, ou seja, que fosse capaz de convencê- lo. A relação entre a produção textual e seus efeitos foi sintetizada pela retórica latina por meio da seguinte fórmula: evidentia in narratione.

14. A primeira preocupação (evidência) provinha da esfera da observação medical; enquanto a segunda (narratio, narrativa), da eloquência judiciária.

15. [Renascença]

16. O legado dos antigos não foi, entretanto, uma herança intelectual transmitida de maneira consensual, retilínea e evolutiva. Por exemplo, quando os humanistas renascentistas se empregaram em restaurar a validade dos modelos greco-romanos, temos, muitas vezes, a impressão de que se tratou apenas de um movimento de reabilitação de uma herança cultural. Mais do que isso, foi uma escolha consciente, uma opção entre outras possíveis, de autores e obras.

17. Nesse sentido, não podemos esquecer que parte não negligenciável da cultura clássica foi preservada em língua árabe durante a Idade Média e retraduzida na Renascença. Por esta época, encontramos o trabalho que se convencionou denominar o texto fundador da crítica histórica das fontes, o trabalho do humanista Lorenzo Valla (1407-1457), Sobre a doação de Constantino, a ele atribuída e mentirosa, publicado em 1442.

18. Valla desmontou o argumento de que o constitutum Constantini (decreto de Constantino), documento amplamente conhecido no medievo, segundo o qual o imperador Constantino (306-337), no século IV, após se converter ao cristianismo, teria doado ao papa Silvestre I, em sinal de gratidão por este lhe ter curado milagrosamente da lepra, um terço do império romano. Valla, por meio de recursos de ordem psicológica, política e filológica, provou que o texto era do século VIII (concebido nas dependências da chancelaria pontifícia para fornecer uma base pseudolegal às pretensões papais ao poder temporal).

19. Valla abriu espaço para a aparição de De re diplomatica (Sobre a diplomacia) de Jean Mabillon (1681), que segundo Marc Bloch fundou, na prática, a moderna crítica histórica dos documentos. Essa alteração no método histórico foi aprofundada no que se chamou de a era dos antiquários no século XVIII. O antiquário, essa figura gêmea do historiador, fixou normas e colocou na ordem do dia problemas metodológicos estruturais para a história como saber organizado, entre os quais as questões como a da autenticidade documental (a distinção entre fontes primárias e secundárias e a utilidade de testemunhos não escritos, por exemplo), dos modelos narrativos da história ou ainda problemas teóricos como a distinção entre a organização e a interpretação dos fatos.

20. [Ilustração]

21. Ora mestra da vida, ora história dos príncipes, ora sinônimo de tradição e memória (fundamento das leis consuetudinárias, por exemplo), ou simples ramo da retórica, a história, mesmo amparada em princípios teóricos (a busca da verdade) e metodológicos (o método crítico), foi confrontada, ainda neste século, com a filosofia da história de Voltaire que fixou uma série de proposições que, de certa forma, prenuncia os paradigmas do que seria a história no século XIX.

22. Em seu Dicionário filosófico, de 1764, a história foi definida como “narração de fatos considerados verdadeiros, ao contrário da fábula, narração de fatos considerados falsos”. Essa concepção formal e didática de história relacionava-se com a ideia de que a narrativa histórica devia preocupar-se menos com as revoluções do trono do que com o destino do gênero humano, tendo por base a história dos costumes, entendida como a tentativa de recuperar o passado dos povos, da civilização e da cultura.

23. Os historiadores cientistas do século XIX foram herdeiros dessa história filosófica. Nesse contexto, a concepção da história como mestra da vida passa a ser questionada, pois se a experiência mostrava que o aprendizado histórico poderia tornar as pessoas mais inteligente, ao mesmo tempo, era difícil explicar por que essa mesma experiência não era suficiente para impedir que certos acontecimentos que pareciam esgotados voltassem a se reproduzir, apesar do ensinamento da história.

24. A principal hipótese é a de que as críticas à velha fórmula encontraram amparo em um movimento intelectual que reorganizou a temporalidade. Passado e futuro adquiriram outra fisionomia e um novo conceito de história surgiu. A Revolução Francesa foi, simultaneamente, a condição e a fiadora desse novo conceito de história que a tornou um singular coletivo. Ou seja, um conceito que sintetizava a variedade de noções esparsas que significavam a história e lhe retirou a pluralidade (não mais histórias, mas a história).

25. Essa modificação coincidiu com outras singularizações histórica e linguística de conceitos de movimento que reagiram ao antigo regime, como o de liberdade (não mais liberdades), o de justiça (não mais justiças), o de progresso (não mais progressos) e, finalmente, o de revolução (revolução que significa a Revolução Francesa e seus desdobramentos, e não mais revoluções).

26. Assim, em 1824, o jovem Leopold von Ranke, no prefácio a sua História dos povos românicos e germânicos, situava-se na junção desta alteração paradigmática ao afirmar que: “atribui-se à história a tarefa de apontar para o passado, de instruir o mundo contemporâneo para proveito da posteridade; o presente trabalho não aspira a uma tarefa tão elevada, pretendendo apenas mostrar como as coisas realmente aconteceram”.

26. Antes dele, em 1821, em uma conferência intitulada A tarefa do historiador, Wilhelm von Humboldt havia definido a missão da história nos mesmos termos, que por sua vez faziam eco a Luciano: mostrar como as coisas realmente aconteceram. Era isso que se devia ensinar, sendo as consequências desse aprendizado desvinculadas do trabalho do historiador. A história era vista, nessa perspectiva, como conhecimento do passado e o historiador um homem de letras sem compromissos (ou decepcionado) com uma propedêutica política decorrente do seu ofício.

28. Na medida em que a história assumiu o progresso como ordem do tempo, ela também admitiu a unicidade e singularidade dos acontecimentos, tendo por princípio a ideia inovadora de que os homens faziam a história, principalmente, a história da nação. Por conseguinte, a educação baseada no exemplo pretérito perdia consistência. Se havia um aprendizado, era o de que, como pensava Hegel, os homens não se instruem com o saber histórico: “em geral se aconselha a governantes, estadistas e povos a aprenderem a partir das experiências da história. Mas o que a experiência e a história ensinam é que os povos e governos até agora jamais aprenderam a partir da história, muito menos agiram segundo as suas lições”.

29. Se o passado e o futuro não mais coincidiam, então a possibilidade da repetição histórica perdia significado, ficando a experiência que se realiza (a história em movimento) restrita a seu tempo e o futuro aberto a uma infinidade de possibilidades, o que vem sendo chamado de regime de historicidade moderno.

30. Karl Marx o sintetizou com beleza e maestria no 18 Brumário: “A revolução do século XIX não pode tirar poesia do passado e sim do futuro”. De certa forma, houve uma reabilitação dos ensinamentos da história, apenas o fluxo se inverteu: o aprendizado e os exemplos não vêm mais do passado, mas do futuro que ainda não se realizou. Paralelamente a esse movimento político e filosófico, a história vai aprimorando seus padrões científicos rumo à disciplinarização.

31. [Cientificismo]

32. São exemplares as contribuições de Johann Gustav Droysen, em seus cursos proferidos entre 1857 a 1882, na Universidade de Berlim e na França, Fustel de Coulanges, Gabriel Monod, fundador da “escola metódica”, e, em 1898, a publicação de uma Introdução aos estudos históricos de autoria dos medievalistas Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos, que definiram critérios do que era a história, como deveria ser pesquisada, escrita e ensinada.

33. Houve, contudo, críticas a esse processo de cientifização da história, sobretudo à utilidade da história (Friedrich Nietzsche), à sua capacidade de ser transmitida (Walter Benjamin) e mesmo ao seu poder inebriante e entorpecedor (Paul Valéry). Em todo caso, a história adentrou o século XX como uma ciência respeitável.

34. Em 1929, os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre fundaram em Estrasburgo a revista dos Annales, que se torna o nome e a identidade de um movimento historiográfico cujo objetivo era o de renovar os estudos históricos. A Annales era marcada por um estilo de reflexão mais direto, mais irônico, produto inevitável da abertura de suas concepções teóricas, entre as quais a dilatação da noção de fonte histórica, destituindo a preponderância do documento escrito e sustentando a ideia de que os fatos históricos eram construções do historiador.

35. Após a II Guerra Mundial, o movimento em torno dos Annales consolidou-se sob o domínio do historiador Fernand Braudel. A partir de 1968, essa “nova história”, como se tornou conhecida, aumentou a popularidade da história fruto justamente da sua ampliação temática e de formas inabituais de tratar objetos, problemas e campos de estudos já conhecidos.

36. O clima, o livro, a língua, o inconsciente, o mito, o medo, o imaginário, as representações, as mulheres, a infância, os jovens, o corpo, a sexualidade, a morte, a loucura, a prisão, a opinião pública, o filme, a festa etc. tornaram-se temas de pesquisa e de ensino com legitimidade acadêmica. Some-se a essa multiplicação de objetos a emergência da “micro-história” e de uma história cultural renovada e os famosos “retornos”: do acontecimento, da biografia, do político, da narrativa.

36. Essas novas perspectivas abrem o caminho para a ressurgência da história do tempo presente, signo da cultura histórica contemporânea, que adquiriu respeito no campo historiográfico, sobretudo a partir do Instituto de História do Tempo Presente, fundado em Paris, em 1978. Em sua configuração mais recente, já em pleno regime de historicidade presentista (no qual o tempo presente é o centro da história), à história do tempo presente foram associados temas tais como a identidade (nacional, étnica, religiosa etc.), dever de memória, o patrimônio e a figura da testemunha e do juiz, a responsabilidade do historiador, a questão do acesso aos arquivos e as comemorações, a ética, o pós-colonialismo, o cosmopolitismo, os traumas e os animais. Tais propostas de pesquisa e de ensino da história têm em comum a tentativa de restaurar uma conexão mais direta e imediata com o passado ou com algum aspecto central da experiência humana.

38. Essas formas de história desdobraram-se e passaram a ocupar um imenso espaço não apenas físico (o livro, a sala de aula, o cinema etc.), mas também o virtual (notadamente os debates em torno da história pública, da história de gênero, da história das minorias, da história ambiental etc.).

39. [Cientificismo no Brasil]

40. A historiografia brasileira não ficou alheia aos movimentos desta história da história mais global. Enquanto no século XVIII a história no Brasil baseava-se em academias literárias ou em iniciativas individuais, próximas da crônica antiquária e/ou erudita, no século XIX ela integrou-se ao ponto de vista nacionalista. A história da nação brasileira passou a ser o objetivo central dos letrados do período. Oscilando entre uma escrita romântica e científica, a história era escrita sob a égide dos procedimentos que se queriam modernos: fontes originais, objetividade e imparcialidade do historiador.

41. A fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, tornou-se o local institucional de produção desta historiografia nacional, pelo menos até 1889. Em 1854 e 1857, foi publicada a primeira História geral do Brasil escrita nestes moldes por um brasileiro, Francisco Adolfo de Varnhagen (a produção que lhe antecede, History of Brazil, era a do inglês Robert Southey, publicada na Inglaterra entre 1810 e 1819).

42. A virada do século foi marcada por um conjunto de obras sem vínculos estreitos com o IHGB, como as de Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha, que exploravam, com acuidade, erudição e inteligência, outras alternativas historiográficas, bem como as obras interpretativas e especulativas sobre o Brasil, como as de Gilberto Freire (Casa-grande & senzala, 1933), Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil, 1936) e Caio Prado Júnior (Formação do Brasil contemporâneo, 1942).

43. A historiografia brasileira, enfim, acompanhou o desenvolvimento das tendências internacionais da história como disciplina, ora com mais subserviência teórica e metodológica, ora mais independente. A institucionalização dos cursos de história a partir dos anos 1930 e a criação dos programas de pós-graduação no Brasil nos anos 1970 e 1980 consolidaram a história como campo de pesquisa e como disciplina de ensino.

44. A historiografia brasileira é hoje, pelos seus temas e por sua autorreflexão, uma das mais inclusivas e combativas sem perder em conteúdo teórico e pedagógico: a história da escravidão, do racismo, de gênero, a história da historiografia e os estudos voltados ao ensino são exemplos notórios.


45. CEZAR, Temístocles. História. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de. Dicionário do Ensino de História. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2020.

Voltar ao programa do curso Historiografia Brasileira

Historiografia Brasileira

A CASA É DE VOCÊS!

Colegas, este Ambiente Virtual de Aprendizagem armazena e distribui o material a ser lido, produzido e avaliado, relativo às unidades do curso de Historiografia Brasileira, ofertado pela Universidade Regional do Cariri.

O curso culminará com a produção de uma resenha sobre um livro de História, segundo os princípios de crítica experimentados durante as atividades e construída em dupla.

As dúvidas sobre as leituras e os exercícios devem ser dirimidas no início das aulas síncronas correspondentes ou mediante mensagem escrita na janela "comentários", situada ao final de cada postagem deste curso. A partir de hoje (22/10/2021), darei respostas diariamente pelo mesmo expediente (a janela "comentários").

Bom trabalho!

 


EMENTA

Diferença entre os conceitos de história, conhecimento histórico e historiografia; elementos da operação historiográfica; visão panorâmica sobre a história da produção historiográfica no Brasil; análise historiográfica de um texto.

 


METAS DO CURSO

Tomando como base a ementa prescrita pela URCA, este curso tem por meta:

  1. Discutir a diferença entre os conceitos de história, conhecimento histórico e historiografia;
  2. analisar os elementos que compõem a operação historiográfica;
  3. oferecer uma visão panorâmica sobre a história da produção historiográfica no Brasil;
  4. ensinar a fazer a análise historiográfica de um texto.

 


EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM

Ao final deste curso, espero que vocês tenham adquirido uma visão esquemática de projetos clássicos e alternativos de narrar a história da Historiografia brasileira, como também a elaborar a crítica de livros de história, partindo de critérios pré-estabelecidos.

 


METODOLOGIA

Apesar das limitações impostas pela Pandemia do Covid-19, este curso será ministrado por meio de métodos ativos. Isso significa dizer que vocês produzem (leem, respondem a testes, questionam, escrevem e expõem oralmente) antes, durante e/ou depois das reuniões síncronas.

A listagem das atividades, com recursos e orientações, estão disponíveis aqui no blog enquanto durar o curso, ou seja, de 22/09 a 10/10/2021.

 


AVALIAÇÃO

O curso é estruturado em avaliação diagnóstica (antes dos encontros síncronos), avaliação formativa (durante os encontros síncronos) e avaliação para aquisição dos créditos (após os encontros assíncronos).

A primeira é efetuada a distância e versa sobre a matéria prescrita pela ementa produzida pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Consta de um formulário de questões objetivas, preenchido individualmente de modo assíncrono.

A segunda é efetuada sincronamente, pelo professor, mediante comentários e questionamentos diretos.

A terceira é a única que resulta em "nota". É produzida em duplas e se constitui da escolha, leitura e produção de uma resenha como mecanismo de aplicação de elementos da crítica historiográfica prescrita pela ementa. A avaliação e a atribuição de nota é colaborativa, ou seja, todos os alunos avaliam todas as resenhas a partir de uma rubrica (critérios de avaliação) produzida pelo professor e disponível aos alunos a partir de hoje (22/09/2021).

 


ATIVIDADES/CALENDÁRIO

  1. QUARTA-FEIRA/QUINTA-FEIRA (22 e 23/09/2021) - Avaliação diagnóstica sobre o objeto do curso: Historiografia Brasileira.
  2. SEXTA-FEIRA (24/09/2021) - História, Ciência da História, Historiografia Brasileira.
  3. SÁBADO (25/09/2021) - Visão panorâmica da História da produção historiográfica no Brasil e Elementos de crítica historiográfica
  4. DOMINGO (26/09/2021) - Aplicação dos elementos de crítica historiográfica.
  5. DE SEGUNDA-FEIRA (27/09) até DOMINGO (10/10/2021) - Avaliação final (produção de uma resenha em duplas).

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

FREITAS, Itamar. Uma introdução ao método histórico (1870-1930). Aracaju: Criação, 2021.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Estudos sobre a escrita da História. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2006.

IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: Capítulos de historiografia brasileira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000.

KOSELLECK, Reinhart et al. O conceito de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

MALERBA, Jurandir (Org). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.

NICODEMO, Thiago Lima; SANTOS, Pedro Afonso Cristóvão dos; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Uma introdução à história da Historiografia brasileira (1870-1970). Rio de Janeiro: FGV Editora, 2010. (E-book).

RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil. 3ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1978.

 

Introdução às interpretações do Brasil | Fernando Novais

Instituto de Economia da Unicamp, 03 mai. 20219.

Unidade 2 – Problemas de aprendizagem

Última atualização - 11/11/2021, às  11h37h.


BEM-VINDOS!

Colegas, esta a página armazena e distribui o material a ser lido, produzido e avaliado, relativo à segunda unidade do nosso curso de Avaliação Educacional.

Esta se inicia com a problematização de dificuldades de aprendizagem dos alunos da rede pública estadual sergipana e culmina com a produção de uma revisão da literatura sobre questões de avaliação em Língua Portuguesa ou em História, nos anos iniciais, construída em grupo.

Relembro que as dúvidas sobre as leituras e os exercícios devem ser dirimidas no início das aulas síncronas correspondentes ou mediante escrita na janela "comentários" (abaixo).

Sigam as orientações e prestem atenção ao calendário.

Bom trabalho!

 


EXPECTATIVAS

Objetivo desta unidade é viabilizar o desenvolvimento das habilidades de problematização da realidade, investigação sobre o conhecimento acadêmico relativo a demandas sociais reais e auxiliar à resolução de problemas reais de avaliação da aprendizagem em Língua Portuguesa ou em História, no terceiro, quarto e quinto anos do Ensino Fundamental.

Espero que, ao final da unidade, vocês estejam capacitados a discutir as causas de determinado problema de aprendizagem enfrentado pelos alunos sergipanos dos anos iniciais, empregando conhecimentos tácitos e conhecimentos especializados, colhidos em artigos em periódicos científicos, livros, capítulos de livros, teses ou dissertações.


ATIVIDADE VIII

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 29/09/2021 | SEXTA-FEIRA 01/10/2021 | Síncrona - 2h.

Objetivo - Identificar problemas de aprendizagem a serem enfrentados coletivamente.

Princípio de aprendizagem - A submissão do professor às testagens que formula e aplica favorece à sua compreensão sobre eventuais problemas que os alunos poderão enfrentar na resolução dos mesmos.

Ação 1 - Acompanhem a preleção do professor sobre a necessidade de alinhar a avaliação educacional aos problemas de aprendizagem efetivos, diagnosticados na rede pública de ensino.

Ação 2 - Empregando o aplicativo Google Formulários, respondam ao teste diagnóstico sobre aprendizagens históricas para o 5o ano do Ensino Fundamental.

Ação 3 - Escrevam e comuniquem oralmente sobre as dificuldades enfrentadas na resolução dos itens de prova.

Ação 4 - Escolham e comuniquem o problema de aprendizagem relacionado ao ensino da Língua Portuguesa ou da História, entre os alunos do 5o. ano do Ensino Fundamental, a ser identificado e enfrentado, durante a terceira unidade, mediante sequência didática e construção de testes.

Recursos - Sala de aula virtual - meet.google.com/msm-exof-zoe | Texto "Fato e Opinião", de Itamar Freitas

EXCEPCIONALMENTE, A AULA DESTA SEXTA COMEÇARÁ ÀS 20H. 

Acesse aqui o Formulário de prova sobre a diferenciação entre fato e opinião. Poste sua posição individual até 01/09 às 23h59.

Formulário de identificação dos problemas de aprendizagem a serem enfrentados coletivamentePoste a posição do grupo até 08/10 às 23h59.

 


ATIVIDADE IX

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 06/10/2021 e SEXTA-FEIRA 08/10/2021 | Síncrona - 4h.

Objetivo - Ler e fichar artigos de revistas especializadas que tratam do problema de aprendizagem selecionado pelo grupo e fichar o resultado da leitura em resumos simplificados na quantidade de um resumo para cada membro do grupo.

Princípio de aprendizagem - Aprender investigando é mais prazeroso e estimulante que receber proposições fechadas do professor ou do compêndio.

Ação 1 - Usando o índice de "objetos de dossiês" e os "sumários" de periódicos, façam um levantamento bibliográfico (construam listas de artigos com respectivos links) que potencial ou efetivamente ofereçam uma resposta ao problema de pesquisa estabelecido pelo grupo. Iniciem a busca pelo acervo do Blog. Se for necessário, avancem para outras bases de dados, como Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e o Google Acadêmico.

Ação 2 - Leiam artigos selecionados, fichando as principais ideias por meio de um resumo simplificado.

Ação 3 - Postem os fichamentos realizados durante a atividade no formulário disponibilizado abaixo (Recursos).

Recursos - Recursos - Sala de aula virtual - meet.google.com/msm-exof-zoe Inventário de objetos e dossiê | Inventário de objetos de resenha | Filtro na lateral deste post para buscar sumários de revista | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES  | Google Acadêmico | Modelo de  resumo simplificado 

 


ATIVIDADE X

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 13/10/2021 e SEXTA-FEIRA 15/10/2021 | Síncrona - 4h.

Objetivo - Finalizar o trabalho de classificação e agrupamento de resumos e postar o texto da revisão da literatura nos formulário específico disponível abaixo (Recursos).

Princípio de aprendizagem - Compor e decompor textos autorais reforça as habilidades abstratas de análise e de síntese e desenvolve a habilidade de metacognição (saber como melhor se faz melhor alguma coisa mediante autoavaliação).

Ação 1 - Empregando os resumos simplificados sobre os artigos lidos, identifiquem os tipos predominantes de informação e estabeleçam ordens para a sua exposição.

Recursos - Sala de aula virtual - meet.google.com/msm-exof-zoe | Inventário de objetos e dossiê | Inventário de objetos de resenha | Filtro na lateral deste post para buscar sumários de revista | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES  | Google Acadêmico | Modelo de  resumo simplificado |  Modelo de revisão da literatura |

  • TURMA DA QUARTA - Postar revisão da literatura até terça-feira (26/10/2021).
  • TURMA DA SEXTA - Postar revisão da literatura  até quinta-feira (28/10/2021).

ATIVIDADE XI

Data/hora/modalidade - QUARTA-FEIRA 20/10/2021 | SEXTA-FEIRA 22/10/2021 | Assíncrona - 4h.

Objetivo - Ler e fichar artigos de revistas especializadas que tratam do problema de aprendizagem selecionado pelo grupo.

Princípio de aprendizagem - Aprender investigando é mais prazeroso e estimulante que receber proposições fechadas do professor ou do compêndio.

Ação 1 - Usando o índice de "objetos de dossiês" e os "sumários" de periódicos, façam um levantamento bibliográfico (construam listas de artigos com respectivos links) que potencial ou efetivamente ofereçam uma resposta ao problema de pesquisa estabelecido pelo grupo. Iniciem a busca pelo acervo do Blog. Se for necessário, avancem para outras bases de dados, como Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e o Google Acadêmico.

Ação 2 - Leiam artigos selecionados, fichando as principais ideias por meio de um resumo simplificado.

Recursos - Inventário de objetos e dossiê | Inventário de objetos de resenha | Filtro na lateral deste post para buscar sumários de revista | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES  | Google Acadêmico | Modelo de  resumo simplificado |  Modelo de revisão da literatura | Formulário para postagem da revisão da literatura.


ATIVIDADE XII

Data | hora | modalidade | duração - QUARTA-FEIRA 27/10/2021 | SEXTA-FEIRA 29/10/2021 | Assíncrona | 4h

Objetivo - Submeter a revisão de literatura à avaliação dos colegas.

Princípio de aprendizagem - A avaliação entre pares reforça o compromisso ético dos que avaliam, no sentido de julgarem mediante critérios previamente acordados e, simultaneamente, amplia a responsabilidade dos que são avaliados em relação ao que produzem e publicam.

Ação 1 - Avaliar por escrito, via formulário eletrônico, a revisão da literatura produzida por cada grupo.

Recursos - Sala de aula virtual e formulários de avaliação das revisões da literatura.


Avaliem aqui o texto de Daniele, Keilla, Luiza e Larissa

 

Avaliem aqui o texto de Felipe, Inajá, Gabriele e Ketlen.

Avaliem aqui o texto de Adria, Mirelle, Taislene e Williany.

Avaliem aqui o texto de Bruna, Carla, Laís, Tabatha e Tauam.

Avaliem aqui o texto de Marcia, Andressa, Clarisse e Flávia.

Avaliem aqui o texto de Lana, Lorena, Eliane e Gildeane.

Avaliem aqui o texto de Kerollyn, Raimundo, Rebeca e Talissa.

Avaliem aqui o texto de Brenda, Ivana, Thais e Yasmim.

Avaliem aqui o texto de Ana Paula, Karina, Larissa e Luara.

Avaliem aqui o texto de Ailton, Louyse, Lucileide e Karine

Avaliem aqui o texto de Crislane, Izabel, Madalena e Renata

  •  

Avaliem aqui o texto de Deyvid, Jéssica, Lucas e Micaela

Avaliem aqui o texto de Isabela, Larissa, Lourena e Maria Verônica.

Avaliem aqui o texto de Flávia, Gleiciane, Marina e Zaiane.

Avaliem aqui o texto de Ana Regina, Andrielle, Denise e Wendy

Avaliem aqui o texto de Inara, Milena, Nívea e Ricardo

Avaliem aqui o texto de Lorenne, Rosaline, Ariadeni e Ketlhyn

Avaliem aqui o texto de Elizandra, Iara, Misael e Rafaela

 


QUEM JÁ ENCERROU TODOS OS TRABALHOS DA UNIDADE II, JÁ PODE DAR INÍCIO ÀS TAREFAS DA UNIDADE III. CLIQUE AQUI

3. Avaliação da Aprendizagem

Educação não é mercadoria2
Educação não é mercadoria | Foto e informação: UNE

Atualizado em 17/12/2021, 17h57.


BEM-VINDOS!

Colegas, esta é a página que armazena e distribui o material a ser lido, produzido e avaliado, relativo à terceira unidade do nosso curso de Avaliação Educacional.

Esta unidade culminará com a produção de uma sequência didática, acompanhada de instrumento(s) de avaliação, relacionados aos problemas de aprendizagem em Língua Portuguesa ou em História, nos anos iniciais, construída em grupo.

Relembro que as dúvidas sobre as leituras e os exercícios devem ser dirimidas no início das aulas síncronas correspondentes ou mediante escrita na janela "comentários" (abaixo). Sigam as orientações e prestem atenção ao calendário.

Bom trabalho!

 


EXPECTATIVAS

Objetivo desta unidade é viabilizar o desenvolvimento da produção instrumentos de avaliação da aprendizagem alinhados a sequências didáticas elaboradas a partir de problemas reais (contextualizados).

Espero que, ao final da unidade, vocês estejam capacitados a produzir uma sequência didática acompanhada de respectivo(s) instrumento(s) de avaliação, aplicáveis a situações didáticas relativas ao ensino de Língua Portuguesa ou de História, destinada aos anos iniciais do Ensino Fundamental.


ATIVIDADE I

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 03 NOVEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 05 NOVEMBRO 2021 | ASSÍNCRONA - 4h.

Objetivo - Conhecer estrutura retórica e unidades de informação de uma sequência didática.

Princípio de aprendizagem - O conhecimento da estrutura da matéria propicia aprendizagens mais duradouras (J. Bruner).

Ação 1 - Ler e discutir em grupo o texto: "Uma estrutura retórica para sequências didáticas"

Ação 2 - Esboçar elementos básicos de uma sequência didática, partindo do problema de aprendizagem selecionado e das experiências colhidas com a revisão da literatura.

Recursos - Texto "Construindo expectativas de aprendizagem e sequências didáticas".  


ATIVIDADE II

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 10 NOVEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 12 NOVEMBRO 2021 | SÍNCRONA - 2h.

Objetivo - Relembrar estrutura retórica e unidades de informação de uma sequência didática e construir um exemplar do gênero para submetê-la à avaliação colaborativa.

Princípio de aprendizagem - A percepção da utilidade da matéria propicia aprendizagens mais prazerosas e duradouras (J. Dewey).

Ação 1 - Tirar dúvidas sobre a estrutura e a aplicação de estruturas de sequências didáticas em problemas reais de aprendizagem e avaliação.

Ação 2 - Submeter, voluntariamente, à correção e à avaliação colaborativa dos colegas, os primeiros esboços de sequências didáticas produzidos na aula anterior.

Recursos - Sala de aula virtual | Texto "Construindo expectativas de aprendizagem e sequências didáticas". 


ATIVIDADE III

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 17 NOVEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 19 NOVEMBRO 2021 | ASSÍNCRONA - 4h.

Objetivo - Conhecer funções da avaliação da aprendizagem e  estruturas retóricas de itens de prova e de escalas de pontuação.

Ação 1 - Ler, discutir em grupo o texto: "Construindo instrumentos de avaliação"

Ação 2 - Esboçar prova com exemplares do gênero  para a submissão da avaliação colaborativa.

Princípio de aprendizagem - A percepção da utilidade da matéria propicia aprendizagens mais prazerosas e duradouras (J. Dewey).

Recursos - Texto "Construindo instrumentos de avaliação"

 


ATIVIDADE IV

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 24 NOVEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 26 NOVEMBRO 2021 | SÍNCRONA - 2h.

Objetivo - Construir uma prova com exemplares do gênero para a submissão de avaliação colaborativa.

Princípio de aprendizagem - A percepção da utilidade da matéria propicia aprendizagens mais prazerosas e duradouras (J. Dewey).

Ação 1 - Submeter, voluntariamente, à correção e à avaliação colaborativa dos colegas, os primeiros esboços do instrumento de avaliação.

Recursos - Sala de aula virtual  | Texto "Construindo instrumentos de avaliação"

 


ATIVIDADE V

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 01 DEZEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 03 DEZEMBRO 2021 | SÍNCRONA - 2h.

Objetivo - Construir uma prova com exemplares do gênero para a submissão de avaliação colaborativa.

Princípio de aprendizagem - A percepção da utilidade da matéria propicia aprendizagens mais prazerosas e duradouras (J. Dewey).

Ação 1 - Submeter, voluntariamente, à correção e à avaliação colaborativa dos colegas, os primeiros esboços do instrumento de avaliação.

Recursos - Sala de aula virtual | https://meet.google.com/otu-yfgn-wum | Texto "Construindo instrumentos de avaliação"

 

TURMA DA QUARTA - Postar a sequência didática acompanhada do instrumento de avaliação, até 07 de dezembro de 2021.

TURMA DA SEXTA - Postar a sequência didática acompanhada do instrumento de avaliação, até 09 de dezembro de 2021. 

 


ATIVIDADE VI - TURMA DA QUARTA

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 08 DEZEMBRO 2021 | ASSÍNCRONA - 4h.

Objetivo - Realizar a autoavaliação da sequência de didática do próprio grupo, postar a sequência didática do próprio grupo e  avaliar de modo colaborativo as sequências didáticas e instrumentos de avaliação dos demais grupos da turma.

Princípio de aprendizagem - A avaliação colaborativa e a autoavaliação desenvolvem habilidades metacognitivas.

Recursos

Formulário fazer a autoavaliação e para postar a sequência e o instrumento de avaliação do seu grupo.

 

Arquivos de sequências e formulários para a avaliação de todos os grupos por todos os grupos.

Baixar sequência didática de Felipe Gabriele Inaja e Ketlenn

Avaliar sequência didática de Felipe Gabriele Inaja e Ketlenn

 

Baixar sequência didática de Marcia Andresa Clarice e Flávia---

Avaliar sequência didática e Marcia Andresa Clarice e Flávia

 

Baixar sequência didática de Taislaene Mirielle Williany e Adria

Avaliar sequência didática de Taislaene Mirielle Williany e Adria

 

Baixar sequência didática de Danielle Keilla Luiza e Larissa

Avaliar sequência didática de Danielle Keila Luiza e Larissa

 

Baixar sequência didática de Eliane Gildeane Lanna e Lorena

Avaliar sequência didática de Eliane Gildeane Lanna e Lorena

 

Baixar sequência didática de Raimundo Kerollyn Rebeca e Thalissa

Avaliar sequência didática de Raimundo Kerollyn Rebeca e Thalissa

 

Baixar sequência didática de Ana Karina Larissa e Luara

Avaliar sequência didática de Ana Karina Larissa e Luara

 

Baixar sequência didática de Bruna Carla Laís Tabatha e Tauam

Avaliar sequência didática de Bruna Carla Laís Tabatha e Tauam

 

Baixar sequência didática de Lucileide Louyse Karine e Ailton

Avaliar sequência didática de Lucileide Louyse Karine e Ailton

 

Baixar sequência didática de Crislane Izabel Madalena e Renata

Avaliar sequência didática de Crislane Izabel Madalena e Renata

 

Informar a nota obtida pelo grupo


ATIVIDADE VI - TURMA DA SEXTA

Data | hora | modalidade - SEXTA-FEIRA 10 de DEZEMBRO 2021 | ASSÍNCRONA - 4h.

Objetivo - Realizar a autoavaliação da sequência de didática do próprio grupo, postar a sequência didática do próprio grupo e  avaliar de modo colaborativo as sequências didáticas e instrumentos de avaliação dos demais grupos da turma.

Princípio de aprendizagem - A avaliação colaborativa e a autoavaliação desenvolvem habilidades metacognitivas.

Recursos

Formulário fazer a autoavaliação e para postar a sequência e o instrumento de avaliação do seu grupo.

 

Arquivos de sequências e formulários para a avaliação de todos os grupos por todos os grupos.

 

Baixar sequência didática de Ketlhyn Ariadeni Lorenne Rosaline

Avaliar sequência didática de Ketlhyn Ariadeni Lorenne Rosaline

 

Baixar sequência didática de Inara Milena Nívea e Ricardo

Avaliar sequência didática de Inara Milena Nívea e Ricardo

 

Baixar sequência didática de Ana Regina Andrielli Denise e Wendy

Avaliar sequência didática de Ana Regina Andrielli Denise e Wendy

 

Baixar sequência didática de Deyvid Jéssica Lucas e Micaela

Avaliar sequência didática de Deyvid Jéssica Lucas e Mecaela

 

Baixar sequência didática de Elizandra Iara Misael e Rafaela

Avaliar sequência didática de Elizandra Iara Misael e Rafaela

 

Baixar sequência didática de Cleberton Douglas Evellyn e Jamyle

Avaliar sequência didática de Cleberton Douglas Evellyn e Jamyle

 

Baixar sequência didática de Isabela Larissa Lourena e Maria Verônica

Avaliar sequência didática de Isabela Larissa Lourena e Maria Verônica

 

Baixar sequência didática de Flávia Gleiciane Marina e Zaiane

Avaliar sequência didática de Flávia Gleiciane Marina e Zaiane

 

Informar a nota obtida pelo grupo

 

 

PENDÊNCIAS DA UNIDADE II

Avaliar revisão da literatura de Cleberton, Douglas, Evellyn e Jamile


ENCERRAMENTO

Data | hora | modalidade - QUARTA-FEIRA 15 DEZEMBRO 2021 | SEXTA-FEIRA 17 DEZEMBRO 2021 | SÍNCRONA - 4h.

Link - https://meet.google.com/imf-fsxq-yaq

Objetivo - Resolução de pendências de avaliações e notas das três unidades. Quem não tem pendências já está de férias. Não precisa comparecer.

Estruturas retóricas modelares

ORIENTAÇÕES DE LEITURA E FICHAMENTO PARA REVISÕES DA LITERATURA

Colegas,

Vocês já produziram um perfil da literatura que tangencia ou foca no seu problema central de pesquisa. O passo seguinte é aprofundar revisão, fazendo leituras integrais do material selecionado.

Devemos lembrar que os artigos, dissertações e tesses são longos textos que guardam a mesma estrutura nuclear: questão, argumento e referências.

Assim, todo o trabalho de leitura que vocês vão fazer se resume a encontrar o objetivo central do texto e encontrar a resposta central do texto.

O objetivo central pode estar no título do trabalho, no prefácio, no sumário na apresentação ou na introdução. A resposta central deve estar nas conclusões ou considerações finais.

O objetivo central é estruturado em verbos. Se ele não estiver presente de modo explícito, localize a pergunta central do trabalho e a transforme em objetivo.

A resposta central é estruturada em verbos. É uma declaração afirmativa ou negativa, ou que deixa a questão em aberto. Ela deve ser um argumento, ou seja, uma declaração composta por uma frase conclusiva (afirmação ou negação sobre algo) e por uma frase evidencial (as razões pelas quais o leitor deve acreditar na frase conclusiva).

Uma forma racional e eficaz de encontrar objetivos e respostas centrais é seguindo estes passos:

  1. Leia os elementos pré-textuais e a introdução.
  2. Grife objetivo central.
  3. Leia a conclusão ou considerações finais.
  4. Grife a resposta central (argumento)
  5. Compare o objetivo e a resposta.
  6. Se o autor cumpriu o objetivo, leia os capítulos para listar as vidências.
  7. Se o autor não cumpriu o objetivo, leia os capítulos para listara falta de evidências.
  8. Se o autor cumpriu parcialmente o objetivo, leia os capítulos para listar os argumentos acompanhados de evidência e os argumentos que carecem de evidências.

Estas orientações valem para o conhecimento geral do trabalho. mas a sua leitura pode ganhar outra orientação se a sua preocupação for bastante localizada.

Você pode encontrar anotar a pergunta a resposta e se fixar sobre as formas ou o uso das formas de justificar o trabalho, os conceitos, as fontes, as técnicas ou técnicas de investigação, ou o plano de composição da narrativa.

Escolhido o ponto a aprofundar, mãos à obra.

 

ORIENTAÇÕES PARA O PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO FICHADA

 

De posse das sentenças colhidas junto aos trabalhos, disponham o material em listas, antecedidas por perguntas ou temas que as classifiquem. Essa tipificação somente você pode fazer.

Pode começar das mais gerais às mais específicas em relação ao seu problema de pesquisa, das mais antigas às mais recentes, das mais distantes espacialmente às mais próximas ao seu objeto. No modelo de redação abaixo vocês encontrarão outros modos de classificar o material.

Repetindo: organize os argumentos coletados em listas, como neste exemplo:

Quais relações os pesquisadores estabelecem entre crenças epistemológicas e ensino de História?

As implicações giram em torno de: 1) possibilidades gerais de obter conhecimento do passado, 2) o papel do historiador na aquisição de conhecimento e 3) a natureza e o uso de evidências e justificativas classificam os três primeiros. (McCrum, 2013, p.x).

Crenças epistemológicas em estreita conexão com os três tipos ideais de posições histórico-teóricas: 1) o positivista e 2) a teoria histórica cética e 3) a posição do construtivismo narrativo como mediador. (Nitsche, 2016, p.x).

Há conexões entre as crenças epistemológicas dos alunos e seu desempenho acadêmico. (Cano, 2005, p.x).

Os alunos com crenças epistemológicas elaboradas foram mais abertos a múltiplas perspectivas e conexões entre diferentes ideias. (Bondy et al., 2007, p.x).

Há indícios de correlações entre dimensões individuais e úteis de conhecimento em alunos (sobretudo na certeza e simplicidade do conhecimento) e sua capacidade de pensar criticamente, selecionar e aplicar metas de competência e entender textos com conteúdo conflitante. (Bråten e Strømsø, 2006, p.x).

Há uma conexão entre as crenças epistemológicas dos professores e seus hábitos de ensino (Muis, 2004, p.x; Yang, Chang e Hsu, 2008, p.x).

Os alunos com crenças mais úteis eram mais propensos a se envolver em atividades de aprendizagem mais criativas e orientadas para a pesquisa. (Tsai e Liang, 2009, px.).

Professores com crenças epistemológicas sofisticadas eram mais propensos a adotar abordagens de ensino. (Brownlee, 2011, px.).

Depois de listar os argumentos, vocês inserem comparam, agrupam, suprimem repetições (incorporando referências ao mesmo argumento) e inserem os operadores argumentativos, de modo a dar sentido ao texto. E ele vai ficar assim:

Crenças epistemológicas e ensino de História

Não há uma única solução certa nem um caminho fixo para uma solução, mas várias possibilidades aceitáveis ​​dependendo da perspectiva, ponto de vista e tarefa. Em uma revisão de 2013 da literatura sobre a natureza da história por McCrum, as discussões giraram em torno das 1) possibilidades gerais de obter conhecimento do passado, 2) o papel do historiador na aquisição de conhecimento e 3) a natureza e o uso de evidências e justificativas classificam os três primeiros.

Como todos esses pontos se sobrepõem constantemente às considerações apresentadas no primeiro capítulo, Nitsche (2016) coloca as crenças epistemológicas em estreita conexão com os três tipos ideais de posições histórico-teóricas: 1) o positivista e 2) a teoria histórica cética e 3) a posição do construtivismo narrativo como mediador.

Estudos já sugeriram que crenças mais úteis estão relacionadas ao uso significativo de estratégias de aprendizagem e aos resultados de aprendizagem de um indivíduo. Cano (2005), por exemplo, foi capaz de identificar conexões entre as crenças epistemológicas dos alunos e seu desempenho acadêmico. Em Bondy et al. (2007), alunos com crenças epistemológicas elaboradas foram mais abertos a múltiplas perspectivas e conexões entre diferentes ideias. Bråten e Strømsø (2006) também encontraram indícios de correlações entre dimensões individuais e úteis de conhecimento em alunos (sobretudo na certeza e simplicidade do conhecimento) e sua capacidade de pensar criticamente, selecionar e aplicar metas de competência e entender textos com conteúdo conflitante.

Além disso, vários estudos foram capazes de mostrar uma conexão entre as crenças epistemológicas dos professores e seus hábitos de ensino (por exemplo, Muis, 2004 ou Yang, Chang e Hsu, 2008). Tsai e Liang (2009) observaram que os alunos com crenças mais úteis eram mais propensos a se envolver em atividades de aprendizagem mais criativas e orientadas para a pesquisa. Brownlee (2011) descobriu que professores com crenças epistemológicas sofisticadas eram mais propensos a adotar abordagens de ensino construtivistas centradas no aluno, enquanto professores com crenças menos elaboradas eram mais propensos a usar práticas centradas no professor e menos ativadoras do aluno. No entanto, as avaliações dos professores e as aulas efetivamente realizadas podem divergir entre si.

Fonte: Excertos colhidos em Pleyer (2022. p.199 – 222).

Encerrado o trabalho de listagem, agrupamento, reagrupamento e construção de blocos, vocês já estão prontos para formalizarem o texto da revisão da literatura, segundo o modelo que se segue.

 

 


ORIENTAÇÕES PARA A ESCRITA DO TEXTO REVISÃO DA LITERATURA

 

[Título: Subtítulo (tempo/espaço)]

[Nome da autoria]

[Filiação institucional]

[Endereço eletrônico da autoria]

 

Introdução

Neste texto, revisamos a literatura especializada sobre o/a [anuncia o tema], buscando subsídios para responder à seguinte questão: [anuncia a questão do seu projeto de pesquisa]. O trabalho principal do qual este artigo faz parte, é a dissertação de mestrado intitulada [anuncia o título provisório da sua dissertação], desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação [anuncia o nome do programa], sediado na Universidade [anuncia o nome da universidade por extenso e sigla], no biênio [anuncia o ano inicial e o ano final do mestrado].

O levantamento foi efetuado entre [mês e ano iniciais do trabalho] e [mês e ano finais do trabalho]. Fizemos consultas na base de dados [anuncia as plataformas, sites bancos de dados etc.], selecionando textos sob os seguintes critérios: teses e dissertações, publicadas entre [ano inicial de publicação] e [ano final de publicação], produzidos nas áreas de [área científica, domínio acadêmico etc.] e selecionados a partir da presença dos de [lista as palavras-chave que orientaram a busca] como descritores fundamentais.

 

Resultados

Encontramos [quantidade absoluta] trabalhos que tratam de questões relacionadas ao [tema]. Cerca de [quantidade absoluta/relativa] foram publicados na forma de [gênero]. O restante, [quantidade absoluta/relativa] ganha a forma de [gênero].

No que diz respeito ao [problema principal que orientou esta revisão da literatura], dividimos estes textos entre os que [anuncia um tipo ou classe] e os que [anuncia outro tipo ou classe] OU / dividimos estes textos entre os que foram publicados em [anuncia distribuição espacial], enquanto dos demais [anuncia distribuição espacial] OU / dividimos estes textos entre os publicados até [anuncia distribuição temporal] e os que foram publicados em [anuncia distribuição temporal] OU / dividimos estes textos entre os que abordam objetos to tipo [uma natureza ou circunstância de objeto] e os que focam em [outra natureza ou circunstância de objeto] OU / dividimos estes textos entre os que focam parcialmente o problema [anuncia distribuição por proximidade com o problema] e os que focam de maneira direta.

Os textos que [tipo/espaço/tempo/nível de proximidade] entendem que o problema é causado por [anuncia a causa].

Baseados em pressupostos [anuncia conceitos, princípios ou teorias que fundamentam a solução ao problema], afirmam que a melhor alternativa está em [anuncia os procedimentos a serem tomados e/ou as habilidades, conhecimentos, valores e atitudes a serem desenvolvidos e/ou estimulados].

Sobre os textos que [tipo/espaço/tempo/nível de proximidade], constatamos que eles entendem que o problema é causado por [anuncia a causa].

O resultados de pesquisas deste tipo estão fundamentados no princípio de que [anuncia conceitos, princípios ou teorias que fundamentam a solução ao problema]. Eles afirmam que a saída para [anuncia o problema] é  [anuncia os procedimentos a serem tomados e/ou as habilidades, conhecimentos, valores e atitudes a serem desenvolvidos e/ou estimulados].

 

Discussão

Pelo que descrevemos acima, podemos constatar que as teses e dissertações são dominantemente [possuem ou não possuem relevância social?], abordando questões como [destaca e exemplifica]. O texto de [nome autora], por exemplo, enfrenta o problema de modo original [descreve a originalidade ou outra virtude].

No que diz respeito aos objetos, notamos a [anuncia as presenças dominantes], exemplificáveis em trabalhos de [anuncia autor e trabalho]. Por outro lado, percebemos que o tema da [anuncia o tema/problema] foi pouco explorado pelos trabalhos.

Em termos teóricos, os trabalhos apresentam [variações ou homogeneidades?] que [enriquecem ou empobrecem o campo?}. Um exemplo da [riqueza ou probreza] dos textos está em [nome do autor e do trabalho]. Ele [descreve a originalidade ou outra virtude].

Em termos procedimentais, os trabalhos apresentam [variações ou homogeneidades?] que [enriquecem ou empobrecem o campo?}. Neste sentido, destacamos o [nome do autor e do trabalho] que explora com [descreve a originalidade ou outra virtude].

No que diz respeito às contribuições destes resultados para a construção da nossa pesquisa, constatamos que os textos de [nome/s do/s autor e do trabalho/s] são bastante úteis porque podem [anuncia o que vai incorporar do trabalho lido].

Já o/s texto/s de [anuncia o nome do autor e título do trabalho] podem ser relevantes sob o ponto de vista [anuncia o aspecto do trabalho que vai ajudar você a responder à sua questão de pesquisa].

 

Conclusões

Com base no que acabamos de relatar, estamos convictos que a literatura especializada oferece subsídios para que enfrentemos o problema da [anuncia o problema] com o emprego de [anuncia os procedimentos, conhecimentos etc.] OU/ Com base no que acabamos de relatar, estamos convictos de que a literatura especializada ainda não oferece subsídios claros para que enfrentemos o problema da [anuncia o problema]. Esse fato nos induz a experimentar a [anuncia procedimentos, conhecimentos etc.], baseados em nossa experiência prática e em analogias com as situações parciais de aprendizagem que foram apresentadas na literatura especializada.

 

Fontes

 

Referências

...


1. ESTRUTURA RETÓRICA DO RESUMO SIMPLIFICADO*

NOME, Prenome. Título do artigo. Revista, cidade, volume, número, número das páginas, meses, ano.

O artigo investiga se [apresente a questão ou o objetivo do autor]. Com base em [apresente conceitos, princípios ou teorias que fundamentam o trabalho ao autor], e trabalhando sobre [apresente as fontes de pesquisa empregadas na investigação], o autor conclui que [anuncie a resposta do autor à questão e/ou objetivo anunciada no início do resumo]

(*) Tente não ultrapassar as 150 palavras, inclusas as referências bibliográficas do artigo.

O Ensino Médio na BNCC

Campus VIII da Uneb Eunapolis Foto Divulgacao difundir a erudição docente
Campus VIII da Uneb – Eunápolis/BA | Foto: Divulgação

Colegas de Eunápolis, e de outros lugares que nos acompanham, boa tarde.* Agradeço inicialmente aos promotores do evento pelo convite. Agradeço à professora Joceneide Cunha por ter indicado o meu nome. Por fim, gostaria de me solidarizar com a grande profissional Célia que perdeu os pais para esse flagelo que é a Covid 19.

O tema da fala foi uma demanda da organização. O Ensino Médio na BNCC. Digo isso para evitar a clássica informação de que não sou especialista. E não sou. Mas gosto quando os organizadores pautam o tema. Isso me obriga a estudar, sempre. E foi o que fiz, principalmente, de ontem para hoje.

Mas por que estudar de ontem para hoje? Para alinhar a minha fala às falas de Natália Allem e de Geovani Silva. Peso sempre que quem nos ouve e/ou nos vê deve tirar o máximo de proveito do evento.

Natália fez o histórico do Ensino Médio no Brasil e apresentou questões sobre a repercussão do Ensino Integrado nas licenciaturas e no Ensino Técnico. Questiono: deve  ser integral apenas para as famílias de elite? Pode engessar as licenciaturas?

Geovane historicizou as propostas de ensino Integral e de ensino médio integral no Brasil recente. Distinguiu integral de integrado e apresentou os princípios e questões que ele acredita deverem pautar as discussões sobre a BNCC: que conteúdos prescrever, considerando os novos itinerários formativos? Que outras possibilidades formativas podem ser implantadas para prover o ensino integral?

Nesta breve fala, dou prosseguimento aos temas desenvolvidos por Geovane e Natália, tocando em dois assuntos: a cronologia da BNCC e descrição do Ensino Médio na BNCC. Encerro questionando os colegas sobre o que fazer diante do quadro descrito: Se é essa BNCC do Ensino Médio que temos, o que com elas poderemos fazer?

Uma cronologia da BNCC do Ensino médio

A trajetória do assunto Ensino Médio na BNCC pode ser distribuída em cinco períodos. O primeiro se inicia em abril de 2015, quando a construção da BNCC é atribuída à Secretaria de Assuntos Estratégicos. Naquela época, A BNCC era ainda a “Pátria Educadora” e o EM seria focado em capacidades aprendíveis em rede federal de ensino.

Em setembro de 2015 se inicia um novo tempo. O EM já matéria da BNCC do MEC, produzida por 116 especialistas em sua primeira versão nasce a BNCC do governo Dilma.

Em maio de 2016, o governo Temer lança a segunda versão da BNCC. O EM também estava presente, dentro da nova estrutura que tomou o documento, como veremos no quadro a seguir.

Em agosto do mesmo ano, é lançada a terceira versão da BNCC. Aí, o EM não está presente. A decisão de por o EM em base separada partiu da SEB, que atendia à demandas do Concede e da Undime. A BNCC concorria com os projetos de reforma que tramitavam no parlamento e com o programa Ensino Médio Inovador, do MEC

Em abril do ano seguinte (2008), o governo lança a BNCC/EM. Ela já está formatada de acordo com a lei da Reforma do Ensino Médio (abril).

Três meses depois, (julho de 2018), o governo resolve modificar a BNCC/EM, depois de críticas de conselheiros do CNE. As principais críticas vieram do sociólogo César Callegari e da Folha de São Paulo.

Em dezembro de 2018, por fim, o MEC homologa a BNCC/EM.

Arquitetura da informação

Por essa cronologia, pode parecer que tivemos duas BNCC integrais e uma somente para o Ensino Fundamental e outra para o Ensino Médio. Mas essa conta é enganosa. Não sei ao certo quantas versões foram publicadas até hoje. O próprio governo Temer publicou duas versões da BNCC do Ensino Médio no espaço de 24 horas. Mas fiquemos com essas três que apresento no quadro.

O quadro caracteriza o EM na BNCC, como solicitado pelos organizadores. Mas eu priorizei a arquitetura da informação e algumas categorias: integração e progressão metas.

Ensino Medio na BNCC difundir a erudição docente

Percepções de estudiosos sobre a BNCC

Todos conhecemos o teor predominante das críticas à BNCC e ao lugar do EM na BNCC. Destaco as avaliações de entidades corporativas como a ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação), a ANPEd  (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e a ABdC (Associação Brasileira de Currículo). Eles apontaram três malefícios da Reforma do Ensino Médio (Temer): “elaboração de políticas públicas por MP; formação de professores e profissionais com notório saber, flexibilização curricular; e reforma e privatização da educação.” (Costa; Silva, 2019, P.12).

Sobre a BNCC/EM, as mesmas entidades a consideraram “autoritária” na elaboração, eurocêntrica, etnocêntrica, “reducionista” e patronizada, um atentado à diversidade cultural, e indutora da privatização da educação pública. (Costa; Silva, 2019, P.16-18). Ela retira a autonomia dos professores, no que diz respeito ao alinhamento de currículos sobre a rubrica “nacional” (propensa ao autoritarismo e ao populismo) e a “expropriação da autonomia intelectual” docente (Silva, 2020, p.155-157). Ela apresenta problemas e desafios para as redes, desafios de gestão de pessoal (nova distribuição da carga horária docente), de planejamento administrativo (matrícula e enturmação em virtude dos novos itinerários formativos), de infra estrutura (novos espaços) e de produção do material didático. (Ferreira et. al, 2020, p.218).

A BNCC é também considerada uma vítima de algo muito pior: a Reforma do Ensino Médio. Essa Reforma, segundo César Callegari, ameaça a Base: transforma as disciplinas em áreas, (sobram Matemática e Língua Portuguesa), determina 60% da carga horária das escolas aos conteúdos da BNCC e cria cinco itinerários formativos, restringindo as “opções de aprofundamento”.

Os especialistas em ensino disciplinar também apontam outro rol de defeitos. Para exemplificar, cito o caso da História. Em [setembro de 2016] a Associação Nacional de História lançou um Abaixo-Assinado solicitando a “permanência da História no currículo escolar em todos os níveis” ou protestando contra a exclusão da “obrigatoriedade da disciplina História” no Ensino Médio.

A intensão era boa (como a de todos que estão no inferno), mas nascia equivocada porque a “disciplina História” não era “componente curricular obrigatório” no Ensino Médio. Ao menos não na LDBN. Na Lei, apenas “Artes visuais, a dança, a música e o teatro” ou simplesmente “Artes” e, também, Educação Física e a “exibição de filmes de produção nacional” (2014) foram considerados “componentes curriculares” obrigatórios.

Na LDB (reformada pela lei 13.415), palavra “História” é usada como: 1. “O ensino da História do Brasil” que considera as “diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (Art. 23, VI, § 4º) 2. Obrigatoriedade do “estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”, “História da África e dos africanos” nos estabelecimentos do Ensino Médio e do Fundamental, público e privados (Art. 26A). Entre Medida provisória n. 746, de 22 de setembro de 2016, a Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017 e o lançamento da Base Nacional Comum Curricular não há, portanto, exclusão do componente curricular História do currículo do Ensino Médio.

Que fazer? (Considerações finais)

Observando atentamente a crítica dos generalistas eu questiono: não foram essas mesmas críticas atribuídas às versões primeira e segunda da BNCC? Não há algo estranho acontecendo quando os qualificativos de autoritário, solapador da autonomia docente são atribuídos à versão produzida por mais de uma centena de especialistas e à versão produzida por um comitê gestor? Quando os mesmos qualificativos são atribuídos a uma BNCC produzida por um governo eleito e uma BNCC produzida sob efeito de medida provisória, no seio de um comitê gestor?

Com a atual nomenclatura e as brechas da legislação em termos de “aprendizagens fundamentais”, História poderia entrar sob as rubricas que traduzem a mais comum ideia de conteúdo: “aquilo que se ensina”. Aquilo que se ensina é tipificado como “componente curricular”, “estudos e práticas”, “itinerários formativos”, “direitos e objetivos de aprendizagem” ou “habilidades específicas”.

Como componente curricular ou ensino, a História não está na Medida Provisória, na LDB, nem da BNCC para o Ensino Médio. Na BNCC, penas Língua Portuguesa e Matemática são componentes (e de modo dúbio – na LDB só há “ensino de” LP e M).[i] A História não foi inserida como “estudos e práticas”, a exemplo da Educação Física, Arte, Sociologia e Filosofia” (LDB, Art. 35-A, § 2). Também não é itinerário formativo, como já sabemos.[ii]

Outra forma de figurar na BNCC é sob a rubrica de “direitos e objetos de aprendizagem”. Para o Ensino Médio, eles simplesmente são não prescritos.

O mesmo percebemos com a rubrica “objetos de conhecimento”. Os legisladores entenderam que o Ensino médio, mesmo em relação ao ensino de Língua Portuguesa e Matemática, não cabe prescrever “objetos de aprendizagem”.

Restam, por fim, as competências e habilidades.[iii] As competências são mais amplas e as habilidades mais detalhadas. A BNCC para o ensino fundamental contempla as duas e justifica essa diferença porque o currículo é montado sobre componentes curriculares. Na BNCC do ensino médio não há mais componentes curriculares. Isso significa que as competências se referem diretamente às Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Mas a História está lá, principalmente nas competências 01 e 05. São essas sentenças que vão fundamentar o enunciado de cada objeto de aprendizagem “histórica”, ou seja, o currículo mínimo de História está nas habilidades que realizam as competências 1, 3 e 6.

A partir deste ano (e até 2010), os currículos do Ensino Médio de todas as redes serão modificados. E eles terão a cara dos elaboradores. Isso significa, paradoxalmente, AUTONOMIA total e irrestrita dos Estados, dentro das 1800 horas que lhes cabem ocupar (1800 horas serão ocupadas com a BNCC). É tudo o que os formadores de opinião exigiam do governo do PT. Agora conheceremos, efetivamente, o interesse dos técnicos e dos professores das redes em relação ao ensino de História. Agora veremos o real poder dos professores-historiadores de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, que rotularam a “BNCC de Dilma” como “A nova face do autoritarismo” (R. Vainfas), “descambando pela ideologia” (J. Ribeiro). Com a experiência que acumulamos, podemos aventar três possibilidades:

  1. Os currículos de História manterão as mazelas identificadas pelos especialistas (enciclopedismo, quadripartidarismo, ênfase na história política, eurocentrismo etc.);
  2. Os currículos de História serão os mais variados do planeta – da extrema-direita separatista do interior gaúcho à centro esquerda de Rio Branco;
  3. O ensino de História pode ter reduzido o seu espaço ou até desaparecer de algumas redes. Em qualquer das hipóteses não se poderá maia alegar que o responsável pelas mudanças foi o bolivarianismo do PT.

Para concluir, fica o alerta: se vocês concordam que História é saber das Humanidades e que as Humanidades têm alguma função social, participem ativamente da elaboração dos currículos do ensino médio.

Notas

[i] E a inclusão de “novos componentes curriculares de caráter obrigatório na BNCC”, segundo a LDB, dependerá da aprovação do Conselho Nacional de Educação e homologação do Ministro da Educação (Art. 26 § 10).

[ii] “Linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica profissional” (Art. 36). Curioso dessa formação é ver o lugar das ciências humanas nesse currículo. Numa hipotética situação onde determinada escola optasse por distribuir equitativamente as 1800 horas reservadas à BNCC (60% das 3000 do ensino médio), veríamos que as humanidades estão em franca ascensão. Quem perdeu com a BNCC foram as ciências naturais. O problema é que as humanidades privilegiadas são as do século XVI ao XVIII, ou seja, as línguas e literaturas. Se a História mantivesse a função exercida naquele tempo (auxiliar à gramática, tradução e retórica), estaríamos no topo. Como nos autonomizamos, a História está fora desse benefício.

[iii] Sintaticamente, competência e habilidade são a mesma coisa: uma sentença constituída por verbos, substantivos e expressões contextualizadoras que informam “as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares.”

(*) Fala proferida em agosto de 2020, no Campus de Eunápolis, da Universidade Estadual da Bahia.

Teoria da História em Marc Bloch: excertos | Itamar Freitas

O texto de Marc Bloch que analisamos neste curso é exceção em termos de público por resultar de uma fala aos alunos do “Lycée d’Amiens”, onde trabalhava como professor do secundário. Critique historique et critique du témoignage” (Crítica histórica e crítica de testemunho – 1914) foi apresentada em uma solenidade de entrega de prêmios. As teses, contudo, foram conservadas na póstuma Apologia pela História ou sobre o ofício do historiador (Apologie pour l’histoire ou métier d’historien – 1949): o objeto do seu trabalho é o passado; sem fontes não há conhecimento sobre o passado; e a verdade do historiador é obtida com o “método crítico”. Mas há diferenças em relação à Apologia (além das dimensões do texto, é claro). Uma está no autoreconhecimento como “professor de História” e “historiador”:

Meus caros amigos, como vocês sabem, eu sou professor de história. O passado constitui a matéria de meu ensino. Eu narro a vocês batalhas às quais não assisti, descrevo-lhes monumentos desaparecidos bem antes do meu nascimento, falo de homens que jamais vi. E meu caso é o de todos os historiadores. Nós não temos dos acontecimentos de outrora um conhecimento imediato e pessoal, comparável, por exemplo, àquele que seu professor de Física tem da eletricidade. Sobre os acontecimentos, sabemos somente o que as narrativas dos homens queos testemunharam revelam. Quando essas narrativas nos faltam, nossa ignorância é completa e sem remédio. (Bloch, [1914] 2019, p.57).

Outra diferença está na exemplificação e na finalidade. Bloch preenche os seus argumentos com acontecimentos e narrativas, provavelmente, curriculares. Mas abusa das alegorias, metáforas, analogias, envolvendo juiz de instrução, jurado, operação matemática simples e conflito de trânsito com a intenção de demonstrar que o método serve à vida prática. É um antídoto ao “espírito de maledicência” e ao “espírito de desconfiança”, ou seja (como diríamos a respeito da crítica documental nos séculos XVII e XVIII), é o bom senso entre o dogmatismo e o ceticismo. Isso significa dizer que os liceanos, municiados do método crítico, evitarão “acusar de mentira o amigo que se confunde” e a aceitar “uma causa rapidamente julgada”, sem submetê-la a “um novo exame” (Bloch, 2019, p.67).

Ele não se demora em demonstrar o ceticismo. Mas explicita a proveniência do dogmatismo: as pessoas tendem a acreditar imediatamente naquilo que lhe chega aos olhos e ouvidos. Esse diagnóstico e o respectivo remédio, contudo, não é remetido às palavras dos seus mestres Langlois e Seignobos (ação instintiva), nem ao cético Descartes (dúvida metódica) que se ocuparam da mesma discussão. Ele recupera Tucídides (o prejuízo da verdade diante da opinião), afirmando que o homem “é naturalmente preguiçoso”. (Bloch, 2019, p.58-59). As operações de método que prescreve também já eram de domínio público naquele 1914. O (1) “recolher”, (2) o “comparar” e o (3) “pesar testemunhos” (Bloch, 2019, p.67).

Não estavam formalmente distantes, por exemplo, do que afirmava outro noviço professor de História, na Estônia, no longínquo 1868. Referimo-nos a W. Maurenbrecher, que recebeu a habilitação em Bonn (1867) e foi professor na Universidade de Dorpat (1868), Königsberg (1969), Bonn (1877) e em Leipzig (1884) (Berg, 1968, p.233). No seu primeiro emprego docente (Dorpat), Maurenbrecher apresentou em preleção as suas estratégias de ensino para o curso de História Geral, publicados um ano depois com o título: Sobre o método e a tarefa da pesquisa histórica (Ueber die Methode und Aufgabe der historischen Forschung – 1868). No texto, ele disseminava as “leis” ou os “princípios” do “historiador científico”, reunidas em seu tempo de formação com Leopold von Ranke (1795-1886) e Heinrich Karl Ludolf von Sybel (1817-1895), nas Universidades de Berlin e de Munique. Suas proposições (ele dizia não obedecerem a um cânone) prescreviam as operações de (1) “encontrar as fontes” e “determinar os fatos” mediante “crítica”, (2) “concebê-los” e “julgá-los” segundo “leis eternas da ordem moral do mundo” (Maurenbrecher, 1868, p.25, p.28). […]


Voltar para o programa de “Teoria da História (URCA)”

Teoria da História | Charles Seignobos

Em 1898, na França, Langlois e Seignobos publicavam suas teorias sobre investigação e interpretação, separadamente, usando um conhecido metodólogo como alvo. Tratava-se do já comentado jesuíta C. Smedt. Ele teria apresentado regras imprecisas e ingênuas sobre crítica de fontes, além de reservar espaço para o exame dos “milagres”. Não era, enfim, um “tratado metódico” (Seignobos, 1887, p.2; Langlois, 1888, p.618; Langlois; Seignobos, 1998, p.134, p.170). As críticas foram registradas por Seignobos, na Revue Philosophique de la France et de l’Étranger (1887) e por Langlois na Bibliothéque de l’École des Chartes (1888). Os dois textos, um de ensino de “ciências auxiliares da História da Idade Média” e outro sobre “as condições psicológicas do conhecimento em História” constituiriam a espinha dorsal do mais citado impresso francês na matéria: Introdução aos Estudos Históricos (Introduction aux études historiques – 1898). Observem o título do artigo (originado de uma conferência na Sorbonne) e verão que a locução “História da Idade Média” foi designada apenas “História”, transformada em etapa analítica do método. A parte sintética do “método” ficava a cargo do citado artigo de Seignobos (Seignobos, 1887, p.1).

Langlois e Seignobos (principalmente Seignobos) estavam preocupados com a transposição “do método histórico” para o ensino de História nas escolas secundárias. Os apêndices da Introdução contêm um projeto de reforma para as faculdades de Filosofia e Letras e, também, uma Teoria para o ensino de História nos liceus franceses. O elemento textual, contudo, privilegiou o exame das “condições e os procedimentos”, do “caráter” e dos “limites do conhecimento em história”. Era um “ensaio sobre o método das ciências históricas” para combater o autodidatismo e esclarecer aos trabalhadores da História sobre o método da sua ciência (Langlois; Seignobos, 1992, p.1, 21-22). Ele afirmava que a tarefa bem poderia já estar cumprida com o Lehrbuch de Bernheim (1894), mas, havia problemas nesse livro que justificam a escrita de um novo manual. Para os franceses, Bernheim tratava muito de Metafísica e pouco de questões práticas (certamente, um exagero de Seignobos). Era pouco original e restringia-se aos especialistas e escrito em língua alemã. O público da Introdução era constituído, principalmente, por jovens candidatos a um emprego estatal como professores de História nos liceus (Langlois; Seignobos, 1992, p.24-25).

Após a publicação da Introdução, Langlois fez avançar o seu projeto de bibliografia histórica e Seignobos simplificou sua teoria da compreensão histórica. Durante três anos, ele ministrou aulas no Collège Libre des Sciences Sociales e publicou os resultados no livro O método histórico aplicado às Ciências Sociais (La méthode historique appliquée aux sciences sociales – 1901). O texto era endereçado aos especialistas das Ciências Sociais e da História, embora o próprio autor acreditasse que o maior interesse viria dos primeiros (e com muita razão). O objetivo estava explícito no título (Seignobos, 1901, p. i-ii). Implicitamente, porém, queria controlar as emergentes Ciências Sociais. Não se tratava, pois, da oferta de uma simples ferramenta (o método histórico), e sim, da elaboração de uma Teoria (no sentido Droyseano), ou seja, das questões, o objeto, o método e os limites do conhecimento das Ciências Sociais. Aplicada integralmente, a lição de Seignobos transportaria as Ciências Sociais do âmbito do positivismo/naturalismo ao mundo das representações subjetivas.

Vejamos, agora, um excerto que sintetiza sua Teoria, transcrito da sua obra mais conhecida, escrita em parceria com Charles-Victor Langlois: Introdução aos estudos históricos (1898).

“CAPÍTULO I

Condições Gerais do Conhecimento Histórico [p.65]

Já dissemos que a história é feita com documentos e que os documentos são traços de eventos passados. Este é o lugar para indicar as consequências de esta declaração e nesta definição.

Os fatos podem ser conhecidos empiricamente apenas de duas maneiras: diretamente, se forem observados enquanto estão acontecendo, ou indiretamente, estudando os traços que restam. Um evento como um terremoto, por exemplo: eu tenho consciência direta se eu testemunho o fenômeno. Por outro lado, tenho consciência indiretamente, se, sem experimentá-lo, vejo os efeitos materiais que ele deixou (rachaduras, paredes destruídas). Se esses efeitos forem apagados, leio a descrição escrita por alguém que viu o fenômeno ou experimentou os seus efeitos. Mas a característica dos “fatos históricos” deve ser conhecida apenas indiretamente, de acordo com traços. O conhecimento histórico é, em essência, conhecimento indireto. O método da ciência histórica deve, portanto, diferir radicalmente do das ciências diretas, isto é, de todas as outras ciências, exceto a Geologia, que se baseia na observação direta. A ciência histórica não é de todo, não importa o que se tenha dito, uma ciência da observação.

Os fatos passados ​​nos são conhecidos apenas pelos traços que foram preservados. Esses traços, chamados documentos, o historiador observa diretamente, é verdade. Porém, depois disso ele não tem mais nada a observar. Procede, então, pelo raciocínio, para tentar concluir, o mais corretamente possível, os traços dos fatos. O documento é o ponto de partida; o passado é o ponto de chegada. Entre esse ponto de partida e esse ponto de chegada, devemos cruzar uma série complexa de raciocínios, encadeados entre si, onde as chances de erro são inúmeras; o menor erro, cometido no início, pela manhã ou no final do trabalho, pode viciar todas as conclusões. O “método histórico”, ou indireto, é visivelmente inferior ao método de observação direta; mas os historiadores não têm escolha: é o único a alcançar fatos passados, e será visto mais tarde como ele pode, apesar dessas condições defeituosas, levar ao conhecimento científico.

A análise detalhada do raciocínio que leva do reconhecimento material dos documentos ao conhecimento dos fatos é uma das partes principais da Metodologia Histórica. Este é o domínio da crítica.

Os sete capítulos seguintes são dedicados a ele. Vamos tentar esboçar primeiro, muito brevemente, as linhas gerais e as grandes divisões.

  1. Dois tipos de documentos podem ser distinguidos. Às vezes, o fato passado deixou um rastro material (um monumento, um objeto fabricado). Às vezes, e na maioria dos casos, o traço do fato é psicológico: é uma descrição ou um relacionamento escrito. O primeiro caso é muito mais simples que o segundo. Existe, de fato, uma relação fixa entre certas impressões materiais e suas causas, e essa relação, determinada pelas leis da física, é bem conhecida. O traço psicológico, pelo contrário, é puramente simbólico: não existe. Não é o fato em si; não é nem a impressão imediata do fato na mente da testemunha; é apenas um sinal convencional da impressão produzida pelo fato na mente da testemunha. Documentos escritos, portanto, não têm valor por si mesmos, como documentos materiais; eles têm valor apenas como sinais de operações psicológicas, complicadas e difíceis de desvendar. A grande maioria dos documentos que fornecem ao historiador o ponto de partida de seu raciocínio são, em suma, apenas traços de operações psicológicas.

Dito isto, para concluir de um documento escrito o fato causal distante, ou seja, para conhecer a relação que vincula esse documento a esse fato, é necessário reconstruir toda a série de causas intermediárias que produz o documento. É necessário representar toda a cadeia de atos praticados pelo autor do documento, desde o fato observado por ele até o manuscrito (ou o impresso) que temos hoje sob os olhos. Essa cadeia é tomada na direção oposta, começando com a inspeção do manuscrito (ou impressão) para chegar ao fato antigo. Esses são o objetivo e o curso da análise crítica.

Primeiro, observamos o documento. É o que era quando foi produzido? Não foi danificado desde então? Estamos procurando como ele estava determinando a procedência. Esse primeiro grupo de pesquisas anteriores, que trata de redação, idioma, formas, fontes, etc., é o campo específico da CRÍTICA EXTERNA ou dos estudos críticos. Depois dessa operação, intervém a CRÍTICA INTERNA: funciona, por meio de raciocínios por analogia dos quais os principais são emprestados da psicologia geral, para representar os estados psicológicos vivenciados pelo autor do documento. Sabendo o que o autor do documento disse, alguém se pergunta: (1) O que ele quis dizer? (2) Ele acreditava no que disse? (3) Ele estava fundamentado para acreditar no que acreditava? Nesta última fase, o documento volta ao ponto semelhante a uma das operações científicas pelas quais toda a ciência objetiva está constituída: torna-se uma observação; resta apenas trabalhar de acordo com o método objetivo da ciência. Todo documento tem valor exatamente na medida em que, depois de ter sido estudado em sua gênese, é reduzido a uma observação bem feita.

  1. Duas conclusões emergem do exposto: a extrema complexidade e a necessidade absoluta de crítica histórica.

Comparado a outros estudiosos, o historiador se encontra em uma situação muito infeliz. Não só nunca é dado a ele, como ao químico, observar os fatos diretamente; mas é muito raro que os documentos que ele é obrigado a usar sejam observações precisas. Não possui esses relatórios de observações cientificamente estabelecidos que, nas ciências constituídas, podem substituir as observações diretas. Ele está na condição de um químico que conheceria uma série de experimentos apenas pelos relatórios de seu técnico de laboratório. Assim, o historiador é obrigado a tirar proveito de relatórios muito grosseiros, dos quais nenhum estudioso ficaria satisfeito.

Tanto mais necessárias são as precauções a serem tomadas ao usar esses documentos, que são os únicos materiais da ciência histórica: é obviamente importante eliminar aqueles que não têm valor e distinguir em outros o que é corretamente observado. Tanto mais necessárias são, ao mesmo tempo, as advertências sobre esse assunto, de que a inclinação natural da mente humana é não tomar precauções e prosseguir naqueles assuntos em que a precisão mais exata seria indispensável, confusa.”

Fonte: LANGLOIS, Charles-Victor; SEIGNOBOS, Charles. Introduction aux études historiques. Paris: sn., 1898.


Voltar para o programa de “Teoria da História (URCA)”

Teorias da História em Leopold von Ranke | Itamar Freitas

Textos de Ranke estão presentes em qualquer coletânea de Teoria da História que explore o século XIX, mas não somente porque os nossos teóricos do período 1870-1940, a exemplo de Karl Lamprecht e Ernst Bernheim, requisitaram-no, respectivamente, como concorrente e como autoridade fundadora de Teoria. Justificativas brasileiras recentes que elegeram, por exemplo, “O conceito de História universal” (1831) como peça representativa de Teoria da História enfatizam a sua notoriedade de “maior historiador do século XIX” (BENTIVOGLIO, 2010, p.137) ou consideram tal adjetivação como empecilho à compreensão do seu “legado e importância efetivos” (DA MATTA, 2010, p.189). O texto é escolhido também por comportar testemunhos sobre a “meta da história” e as “qualidades do historiador” (BENTIVOGLIO, 2010, p.139-140) ou sobre a transição do seu pensamento entre a indistinção história-processo / história-disciplina, típica da primeira metade do século XVIII, e a significação de história-disciplina, consolidada no termo Geschichte, no século XIX. “O conceito de história universal”, por fim, é traduzido e comentado para negar a adjetivação de “historiador positivista” (BENTIVOGLIO, 2010, p.137) ou a consideração do trabalho de Ranke como “arquétipo” a “perpetuar ou a questionar” (DA MATTA, 2010, p.189).

Nas coletâneas dedicadas especificamente ao trabalho de Ranke, as justificativas são repetidas em maior detalhe. Seus editores oferecem uma visão de conjunto do trabalho do historiador, enfatizando as “concepções”, os seus “princípios” e “métodos de trabalho” (RANKE, 1979, p.7). Outros comentadores se esmeram na correção da “imagem de Ranke” como um historiador “hostil à teoria”, explorando o seu papel de “adaptador do método crítico aos estudos históricos” e a prevalência da sua concepção de Estado na historiografia alemã da primeira metade do século XX (IGGERS, 2011, posição [540]).

Nas duas situações acima descritas (exposição de texto isolado ou conjunto de textos autorais), os comentadores esboçam sínteses que são contraditadas pelos documentos que eles mesmos transcrevem, demonstrando que as tentativas de didatização ou o esforço taxonômico dos editores e críticos de Ranke, em geral, obscurece a diversidade de concepções de História em sua condição de processo e também de ciência. É o que podemos perceber quando comparamos algumas descrições de concepção de História nos textos de Ranke e as concepções apresentadas por seus comentadores no que diz respeito, por exemplo, às ideias de método e de objeto (quadro 1).

E isso acontece porque as demandas diferenciadas, durante longeva carreira, originaram diferentes modos de teorizar e, consequentemente, diferentes resultados em termos de proposição, sobretudo de “método”, elemento acerca do qual é bastante lembrado como contribuidor destacado. Entre 1824, marco do conhecido prefácio à História dos povos latinos e germânicos, e 1880, ano da última versão em vida de sua História Universal, Ranke consumiu grande parte da sua vida acadêmica na definição de coisas designadas como “História da Humanidade” e “História universal”. Mesmo quando escrevia (sobre) e definia “povos latinos”, “povos germânicos”, “grandes potências”, “Europa”, “épocas”, “os grandes acontecimentos” que marcaram as relações exteriores de diferentes Estados, “Inglaterra” e “França”, exemplos destacados de extrapolação da experiência de Estado e povo para além das particularidades nacionais, era a coisa História Universal que Ranke estava a inventar.

Ocorre que tais iniciativas de teorização – a apresentação de um conjunto de proposições relativas aos fins da “ciência da História Universal” ou simplesmente da “ciência Histórica”, a definição da coisa “História Universal” e o estabelecimento de methodus para a descoberta dos secretos caminhos para a sua realização – nem sempre foram condicionadas pelos mesmos atos, materiais ou situações. Seguindo a ordem cronológica dos seus escritos mais traduzidos, percebemos que os antagonismos expressos nas sentenças definidoras de História revelam diferentes personagens e motivações. Em 1824, vamos encontrá-lo fazendo oposição à história Magistra Vitae e às ideias “cristandade geral”, “unidade da Europa” e “cristandade latina” (p.38). Este antagonismo é o gerador da famosa assertiva do prólogo à História dos povos latinos e germânicos: “apenas contar o que efetivamente aconteceu”. Em 1831, a oposição se dá em relação à Filosofia especulativa de Hegel e à compreensão unilateral da Ciência da História como Arte (p.203), disposta na Ideia de História Universal. No ano 1833, a queixa se dirige aos Iluministas (p.69) que caracterizaram a época moderna como como o tempo da desintegração das instituições medievais e da instauração das instituições democráticas e das liberdades (p.95-96). Esse esforço politicamente conservador e revisionista da historiografia do seu tempo está exposto em um artigo: “As grandes potências”. Em 1836, como anuncia o título da conferência – “Sobre as relações e distinções entre História e Política” –, a oposição de Ranke se dirige aos que confundem a natureza da [Ciência Política] e a natureza da Ciência Histórica. Mas em 1852, os reparos apresentados em prefácio são endereçados aos escritores contemporâneos que narram o período XVI/XVII da França (Guerras civis e monarquia na França no século XVI e XVII: Uma história da França, sobretudo durante esse período), focando partes da História nacional ou a vida de personagens privados.

 

Quadro 1 – Fins e métodos na teorização de Leopold von Ranke sobre História

Ano / Proposições de fins Proposições de methodus
1824 / Demonstrar que as nações latinas e germânicas formam uma unidade (37) Caminhos” – empregar memórias, diários…, memoriais de embaixadores e relatos diretos de testemunhos presenciais e indicar literatura secundária em rodapé; “Método” – criticar narrativas; “Forma”/ “Leis” – expor rigorosamente os fatos, a unidade e da trajetória dos acontecimentos [e em] “ideais”, centrando-se “nos fatos, em sua compreensibilidade, unidade e plenitude” (38-39)
1831 / “Promover a síntese das forças espirituais atuantes na poesia e na Filosofia. Ater-se à realidade, ao passado, ao finito e ao particular (que incorpora Deus) (205-206) Princípio” – dedicar-se ao estudo do concreto (além do abstrato nele contido); “Exigências para a pesquisa histórica” – manifestar amor à verdade, investigar a partir de documentos, interessar-se pelo universal (ciência, política, arte etc.), fundamentar-se [idealmente] no nexo causal, ser apartidário e compreender a totalidade (208-213)
1833 / “Repassar” os resultados” de um período de 150 anos e orientar a ação em termos de Ciência Histórica [e da Ciência Política] no século XIX (69) [Tarefa do historiador] – Demonstrar que a HU é guiada por “energias morais” (religião e o direito); escrever a história da própria nacionalidade, frente à ameaça de imposição de outra nacionalidade (promover a “harmonia” universal mediante a “independência” nacional) (97)
1836 / Estabelecer os limites entre as ciências da Política e da História, convergências, divergências e diferenças entre as mesmas.

 

Objetivo/Tarefa” – reunir fatos, organizá-los, compreendê-los criticamente; observar causas, premissas, resultados e efeitos dos eventos, distinguindo intensões e erros; esboçar uma imagem da natureza (investigando as “metas” e “leis eternas”), apresentar sucessão nítida e precisa dos eventos (em sua cor e forma); “Tarefa” – extrair dos eventos a natureza do Estado e dar a compreendê-los; “Objetivo” da HU – fornecer compreensão dos séculos e monarquias
1852 / Narrar a História da França, considerando-a por sua importância para a História nacional e a História Universal (relativas ao Estado e a Igreja). [Tarefa] – examinar a “verdade dos fatos” mediante documentação original (correspondência, atos e legislação) que determinam a “convicção histórica” do pesquisador; apresentar uma “visão da natureza objetiva dos grandes fatos, baseando-se em relatos originais”, em oposição aos antigos e modernos mestres da narrativa.
1854 / Demarcar ponto de partida e conceitos fundamentais (progresso e ideias diretoras) da História Universal e caracterizar a ideia de “época” [Procedimentos] do historiador – “fixar-se no modo de viver e de pensar dos homens de um determinado período”; observar “a diferença entre as distintas épocas para compreender a necessidade interior de sua conexão e sucessão” (59); “Missão do historiador” – desvendar as grandes tendências dos séculos e desenvolver a grande História da humanidade” (60)
1859 / Narrar a história da Inglaterra nos séculos XVI e XVII, considerando sua “influência no desenvolvimento da humanidade” [Trabalho] – investigar fontes originais, compreender evento como um todo político e religioso, visualizar esse todo na História Universal; empregar fontes originais, comparar fontes e representações independentes com as fontes nativas; Dever – comunicar “nova visão do conhecido ou informações adicionais aos fatos”.
1860s / Caracterizar as investigações do universal (humanidade) e do particular (local, país, pessoa, evento, instituição ou época). [Dever do historiador] – investigar as “forças efetivas que estão por trás dos acontecimentos e perceber a sua conexão geral”;

Requisitos da pesquisa” – criticar fontes, conceber objetivamente, elaborar ampla síntese; relacionar visões geral e particular

1880 / Definir “História Universal” e tornar científico o tratamento dos eventos da História Universal Tarefa – “reconhecer a conexão entre as coisas, traçar a sequência dos grandes eventos que ligam todas as nações e controlam seus destinos”; “investigar e compreender” a vida da humanidade e as “peculiaridades das mais proeminentes nações”; Princípios – “investigação crítica” e “síntese inteligente”.

Fonte: Produzido pelo autor, a partir de Ranke, 1979, 2010, 2011.

Em 1854, na conferência “As épocas na história”, Hegel e (agora) os hegelianos são os personagens criticados (p.57). Ranke deixa nítida a sua oposição ao desenvolvimento lógico-dialético da ideia, configurado em progresso que, para ele, era somente aplicável ao mundo natural/material (p.61-62). Em 1859, Ranke volta a escrever história nacional. Desta vez, sobre a Inglaterra. A oposição, contudo, diferentemente daquela anunciada em relação aos [historiadores franceses], se dirige aos ingleses que privilegiam o estilo (harmonia e simpatia) em detrimento do emprego de fontes originais ou que escrevem “por ódio ou amizade”, para a “defesa ou o ataque” (História da Inglaterra, sobretudo do século XVII). Na década de 1860, em manuscrito, Ranke novamente volta à carga contra Hegel, criticando a ideia de unidade (necessária) preconizada por um “sistema filosófico” como fundamento para a unidade da história (processo). História é simultaneamente liberdade (humana) e necessidade (força [direito e religião ou Estados e reinos?]). E em 1880, por fim, no prefácio da História Universal, Ranke se opõe aos que limitam a ideia de História Universal à experiência dos “quatro grandes impérios do mundo” ou de uma simples coleção de histórias nacionais.

Em virtude das coisas às quais se empenha em inventar, como também das demandas de ocasião e dos constrangimentos materiais aos quais seus textos são submetidos, Ranke apresenta diferentes proposições que são transcritas nas coletâneas de Teoria como exemplares das suas concepções de História e, sobretudo, de uma suposta ideia de método, decisiva para o caráter científico da matéria. Assim, quando o seu discurso visa (em oposição a Hegel) demarcar o objeto e os conceitos fundamentais da escrita para a História Universal, o caminho prescrito é traduzido como “missão do historiador” e consiste em observar e distinguir épocas. Quando visa distinguir Ciência Histórica de Ciência Política, a “tarefa” da História “segue o exemplo das ciências naturais”: esboçar uma imagem da natureza, estruturada em “metas” e “leis” que governariam o mundo. Quando visa designar uma escrita da história inglesa ao modo científico (em oposição às unilaterais história-Arte e história político-partidária) as proposições significadoras da palavra “história” reúnem deveres apontados por ocasião da oposição a Hegel e à escrita politicamente engajada. Nesse caso, os requisitos da “pesquisa” seriam a “crítica” e a “síntese” e/ou a “exatidão na pesquisa” e a universalidade da “visão”. Quando visa, por fim, designar “História Universal (em oposição à unilateral história-Arte e à história especulativa de Hegel), as proposições que justificam/realizam a Ciência Histórica ganham a forma de “princípio” (o concreto, além do abstrato), desdobrados em “exigências para a pesquisa histórica”: os já citados “investigação documental” e “interesse universal”, acrescidos do “amor à verdade”. 


Conclusões

Lembrando os argumentos apresentados até aqui, reafirmamos uma outra possibilidade formular introduções à Teoria da História, ampliando ao máximo a definição dessa expressão, focada em termos ideais típicos de objeto e método ou propósitos e caminhos. Com ela, podemos asseverar que os autores não escreveram Teorias exclusivamente para especular sobre o curso e o fim da humanidade ou, ainda, transformar, defender ou legitimar finalidades, objetos, questões e métodos de investigação e de escrita da História como ciência. Ao menos no período comentado por Megil, historiadores se engajaram na representação de processos em níveis local, nacional e mundial na representação de trajetórias de vidas e na descrição e caracterização de épocas, artefatos e níveis de experiência humana e acontecimentos, a exemplo da Revolução Francesa, das lutas por independência nacional e do movimento transnacional provocado pelas Revoluções de 1848. Essas diferentes situações comunicativas resultam no emprego de diferentes elementos de teoria e, ainda, de distintos significados empregados para esses elementos.

Com as referências aos textos de Ranke, por fim, quisemos demonstrar essas variações, determinadas por particulares situações comunicativas e injunções materiais que envolveram a produção e a publicação dos seus textos. Nada impede, contudo que coletemos e façamos sínteses de proposições extraídas de diferentes situações. Nesse caso, o que se impõe para nós é o dever de indicá-las, situando-as na obra de Ranke. Esse procedimento pode evitar que apontemos indevidas contradições ou incompletudes nas formulações teóricas de Ranke e, o que é mais grave: que infiramos (em comparações e classificações) a partir de apenas um desses textos que Ranke, por exemplo, teria continuado a Teoria da História Iluminista, teria originado a Teoria da História Historicista, a Teoria Positivista da História ou, ainda, que determinado teórico deva ser classificado como tal pelo fato de fundamentar sua teoria em determinada passagem de um desses textos de Ranke, sem que tenhamos definido a priori os significados das nossas ideias de iluminismo, historicismo e de positivismo. 


Referências

BARROS, José D’Assunção. Teoria e formação do historiador. Petrópolis: Vozes, 2017.

BEISER, Frederick C. Hegel and Ranke: A Re-examination. In: Frederick C. Beiser. In: HOULGATE, Stephen Houlgate; BAUR, Michael Baur. A Companion to Hegel. Malden: Blackwell, 2011. p.332-350.

BENTIVOGLIO, Julio. Leopold von Ranke. In: MALERBA, Jurandir (org.). Lições de História: O caminho da ciência no longo século XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS; Rio de Janeiro: FGV, 2010. p.133-141.

BERGER, Stefan. History writing and constructions of national space: the long dominance of the national in modern European historiographies. In: CARRETERO, Mario; BERGER, Stefan; GREVER, Maria (ed.). Palgrave Handbook of Research in Historical Culture and Education. London: Palgrave-Macmillan, 2017. p.39-57.

DA MATA, Sérgio. Leopold von Ranke (1759-1886). In.: MARTINS, Estevão de Rezende (org.). A História pensada: Teoria e método na Historiografia europeia do século XIX. São Paulo: Contexto, 2010. p.187-201.

FICO, Carlos; POLITO, Ronald. A História no Brasil (1980-1898): elementos para uma avaliação historiográfica. Ouro Preto: UFOP, 1992.

FICO, Carlos; POLITO, Ronald. A historiografia brasileira nos últimos 20 anos: tentativa de avaliação crítica. Vária História, Belo Horizonte, n. 13, Jun. p.147-163, 1994.

FULBROOK, Mary. Historical theory. London: Routledge, 2002.

HILL, Adrew. William Adam. In: Dictionary of Unitarian and Universalist Biography, an on-line resource of the Unitarian Universalist History & Heritage Society. Disponível em< http://uudb.org/articles/williamadam.html> Capturado em 4 ago. 2019.

KANT, Immanuel. Sobre a expressão corrente: isto pode ser correto na teoria, mas nada vale na prática (1793). Tradução de Artur Morão. [Covilhã:] LusoSofia, sd.

LAMBERT, Peter. The professionalization and institutionalization of history. In: BERGER, Stefan; FELDNER, Heiko; PASSMORE, Kevin. Writing History – theory & practice. London: Arnold, 2003.  p.42-57.

LINGELBACH, Gabriele; RUDOLPH, Harriet. Geschichte als Wissesnschaft. In: Geschichte Studieren – Eine praxisorientierte Einführung für Historiker von der Immatrikulation bis zum Berufseinstieg. [Heidelberg]: Sozialwissenschaften, 2005. p.163-177.

MALERBA, Jurandir. Lições de História: da história científica à crítia da razão metódica no limiar do século XX. Rio de Janeiro: FGV; Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.

MEGILL, Allan. Teoria da História CA. 1870-1940: objetividade e antinomias da História em um tempo de crrise existencial. In: MALERBA, Jurandir. Lições de História: da história científica à crítia da razão metódica no limiar do século XX. Rio de Janeiro: FGV; Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. p.11-37.

PANDEL, Hans-Jürgen. Geschichtstheorie: Eine Historik für Schülerinnen und Schüler – aber auch für ihre Lehrer. Schwalbach, Wochenschau, 2017.

PAUL, Herman. What is historical theory? In: Key issues in historical theory. New York: Routledge, 2015. p.1-16.

RANKE, Leopold von. Historia de los pueblos latinos y germanicos – de 1494 a 1535. In: Pueblos y estados en la historia moderna (Con un estudio de G. P. Gooch). México: Fondo de Cultura Económica, 1997. p.37-66.

RANKE, Leopold von. O conceito de História Universal (1831). In.: MARTINS, Estevão de Rezende (org.). A História pensada: Teoria e método na Historiografia europeia do século XIX. São Paulo: Contexto, 2010. p.202-225.

RANKE, Leopold von. Pueblos y estados en la historia moderna. México: Fondo de Cultura Econõmica, 1979.

RANKE, Leopold von. The theory and practice of History. London: Routledge, 2011. (Editado e comentado por Georg G. Iggers e traduzido por Wilma A. Iggers).

REIS, José Carlos. O lugar central da teoria-metodologia na cultura histórica. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

RODRIGUES, José Honório. Metodo, teoria, historiografia e pesquisa, disciplinas universitarias. In: Teoria da História do Brasil: Introdução metodológica. 5ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978. p.431-456.

STUHR, Peter Feddersen. Der Untergang der Naturstaaten: Dargestellt in Briefen über Niebuhr’s Römische Geschichte. Berlin: Salfeld, 1812.

WEBER, Max. The Methodology of the Social Sciences. Illinois: The Free Press of Glencoe, 1949.


Voltar para o programa de “Teoria da História (URCA)”

O conteúdo substantivo e dialética na História Universal de Hegel | Itamar Freitas

Se a Ideia de História de um ponto de vista Cosmopolita, de Kant, incorporava elementos da Crítica da razão pura e as Lições de História Universal, de Hegel estavam apoiadas em princípios da sua Lógica e na sua Fenomenologia do espírito, é também importante registrar que não há consenso entre os especialistas de que a narrativa da História Universal hegeliana espelhasse a ideia de conhecer dialético (a história da consciência pensando a si e por si mesma), ou seja, que a escrita da História Universal (dos chineses aos germânicos) fosse a reprodução da auto-constituição do conceito, ou seja, da trajetória do saber-certeza ao saber absoluto.[1] Teshale Tibebu, contudo, afirma que o estabelecimento e a hieraquização entre as faculdades do conhecer (sensação, compreensão e razão), princípio básico da Fenomenologia, estaria diretamente relacionada à hieraquização das raças e à consequente criação do eurocentrismo. Ao compreender a representação do mundo concreto hegeliano (sociedade e natureza) como a expressão do movimento da consciência, o historiador etíope, radicado nos EUA, denuncia o eurocentrismo desse sistema mundo, demonstrando que o filósofo classificou os africanos, asiáticos e os europeus, respectiva e progressivamente, como povos das sensibilidades, povos da compreensão e povos da razão.[2]

E não parou por aí. O esquematismo lógico de Hegel, segundo Tibebu, fundamentou a classificação dos continentes africano e asiático como exemplos desviantes (contrários) de relevo: homogêneo o primeiro e heterogêneo e sem mediação, o segundo. O continente europeu, ao contrário, era a correção e a harmonia (síntese): possuía terras altas e terras baixas equilibradas por mediações [passagens, rios etc.]. [3] Embora denote ambiguidade (o físico determinando o espiritual ou o espiritual determinando o físico?), Hegel afirma que as marcas do terreno foram transferidas para as formas de organização política (o despotismo entre os africanos e a liberdade para todos, garantida por leis, entre os europeus), mediante as etapas de realização (dialética) da consciência: universalização, particularização e singularização. Assim, seguindo esse processo dialético de constituição do objeto Mundo, Hegel sentencia que os africanos não teriam avançado além da universalização (identidade de raça africana) devido à uniformidade do terreno em que habitavam. Os mongóis (asiáticos), sob fortes contrastes de relevo, teriam constituído apenas algumas nações. Quanto aos caucasianos (europeus), com seu terreno variado e equilibrado, seriam os únicos a migrar da universalização (identidade de raça) à particularização (diferenciação entre nações) e desta à singularização (o gozo da liberdade individual sob a organização de um Estado moderno).[4] O esquematismo também se dava em termos estéticos. Adotando modelos grego de beleza, Hegel interpretava o nariz afilado do caucasiano como indicador de “intelecto perspicaz” e o nariz largo do africano como indicador de “estupidêz”.[5]

A hierarquização hegeliana das raças, povos e continentes também valia para o interior da Europa, onde os Eslavos eram considerados povos inferiores aos germânicos e mais aparentados com os asiáticos.[6] A hierarquização valia, ainda, para os povos do mundo recém descoberto. A América do Norte era próspera, em relação à América do Sul (incluindo o México). A religião protestante, a ocupação por colonização e a liberdade civil, segundo Hegel, explicavam a [riqueza] do Norte, enquanto a religião católica, a ocupação por conquista e saque e a dominação militar (com revoltas constantes) caracterizavam e explicavam a inferioridade das repúblicas sul-americanas.[7]

Nas Lições de História Universal, em síntese, Hegel reforçou a supremacia europeia quando distribuiu historicidade aos povos segundo as determinações mesológicas e jurídicas anunciadas acima. Na figura 1, podemos acompanhar a representação desse atributo, onde o espaço entre as linhas paralelas horizontais corresponde à região propícia à experiência da liberdade e os espaços entre as paralelas verticais, lidos da esquerda para a direita, correspondem, respectivamente, ao futuro, presente, passado e à situação atemporal. Segundo tal distribuição, o “Velho mundo” mediterrâneo/greco-romano fôra “palco da História”, o “Velho Mundo” germânico era “palco da História”, a “América” [EUA] seria esse mesmo palco e o [Novo Mundo], constituído pela África, [Ásia] e América do Sul, estariam desprovidos de historicidade.

Historia Universal Hegel difundir a erudição docente

Figura 1. Historicidade e territorialidade na História Universal de J. F. W. Hegel (1820-1830).

Fonte: Produzido pelo autor a partir de Hegel (2005).

Até aqui, oferecemos uma síntese do conteúdo substantivo, [8] ou seja, do objeto pensado como realidade, quando submetido prioritariamente aos princípios lógicos de representação do passado. Agora, é tempo de destacar a originalidade de Hegel em relação à Ideia de Kant, explorando as proposições de fins e as proposições de método para a escrita da História. […] 


Métodos e dialéticas

Conhecemos em largos traços a “divisão” (periodização) [9] e o “fundamento” geográfico da História Universal. Mas deixamos para o final a demonstração dos vários usos da dialética na construção daquele texto. Vamos explorar essa resposta, sob o ponto de vista dos conteúdos substantivos porque ela nos ajuda a entender as variações de objeto e propósito dos escritores quando anunciam Teorias da História e fornecem uma base para a comparação dos próximos teóricos explorados adiantee, como K. Marx, João Ribeiro e Karl Lamprecht.

O termo “dialética” (derivado de diálogo) é empregado em diferentes situações, gerando significações distintas na obra de Hegel.[10] Para o que nos interessa neste livro (e como sugere Nicola Abbagnano), é bastante retermos, em primeiro lugar, uma definição ideal-típica para o termo: “processo resultante do conflito ou da oposição entre dois princípios, dois momentos ou duas atividades quaisquer”. Em seguida, devemos buscar os significados e as relações estabelecidas entre esses “princípios”, “momentos” ou “atividades”[11] nos próprios textos de Hegel.

Nos textos que examinamos até aqui, as proposições de methodus variam em designação e definição, entre outras razões, por causa dos propósitos de cada escrito. Na Fenomenologia do Espírito (1812-1816), onde o propósito é captar os fins e os meios do desenvolvimento da consciência (p.11, 69), o methodus é compreender a experiência da consciência como um “movimento dialético” (71), explorando as sucessivas oposições: certeza sensível, percepção e entendimento (na primeira parte) e etnicidade, cultural e moralidade (na segunda parte) ou no interior de cada uma dessas partes, como ocorre na descrição da “liberdade da consciência de si” (Estoicismo, Ceticismo e Consciência infeliz). Nos Princípios da Filosofia do Direito, cujo propósito, já vimos, é definir o objeto desta ciência, o methodus empregado é abordar o conceito como desenvolvimento a partir de si mesmo. Essa orientação deve ser seguida para a abordagem da “vontade livre” (personalidade, moralidade subjetiva, moralidade objetiva) (35) e para o “Espírito Universal” (personalidade, moralidade subjetiva, moralidade objetiva e conciliação moralidade subjetiva/moralidade objetiva) (312).

São essas mesmas fases (ou princípios) que Hegel emprega na construção de sua História Universal. Cada povo histórico é portador de um desses princípios ou fases de desenvolvimento dialético (310). Contudo, os usos da palavra são raros.

As referências diretas – traduzidas por estágios, gradações, seriações e transformações – não encerram os empregos da dialética. A demonstração dos usos desse modo de conhecer, isto é, da mobilização de coisas que apresentam a dinâmica dialética ou o resultado dialético estão dispersos em quase todos os capítulos de modo tópico, em forma de elementos antagônicos dispostos em díades ou tríades, sendo estas também integráveis em sequências cronológicas. Um exemplo dos conflitos geofísicos, morais e étnicos, apresentados em díades, está na descrição do “espírito” grego, comparável, segundo Hegel, ao desenvolvimento dos vegetais: nada de calma e homogeneidade. A planta “só vive por meio da atividade antitética da luz, do ar e da água.” (p.192).

Quadro 1 – Demonstrações da Dialética na Filosofia da História de Wilhelm G. F. Hegel (I) 


Categorias Textos Dialética
Natureza

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Moralidade objetiva

 

 

Conflito

 

 

 

Os elementos do espírito grego

[…] O país em questão é uma terra que se espalha pelo mar de diversas maneiras; em uma série de ilhas e em uma terra firme que por si já apresenta semelhanças com uma ilha. Só por meio de uma estreita faixa de terra é que o Peloponeso se liga à terra; toda a Grécia é recortada várias vezes por baías. Tudo está retalhado em pequenas partes e ao mesmo tempo interligado pelo mar. Encontramos nesse país montanhas, pequenas planícies, vales e rios. Lá não existe nenhum grande rio, e nenhuma planície simples; o solo é diversificadamente constituído por montanhas e rios, de tal forma que nenhuma massa grandiosa aparece. Não encontramos aqui a exibição de grandiosidade física oriental; nenhum rio como o Ganges ou o Indo – em cujas planícies um povo entregue à monotonia não é estimulado a nenhuma mudança, porque seu horizonte sempre mostra a mesma forma –, mas sim aquela dispersão e diversidade que correspondem totalmente à diversidade dos povos gregos e à agilidade do seu espírito.

Este é o caráter elementar do espírito dos gregos que dá a entender a origem da cultura deles a partir de individualidades independentes; uma situação na qual cada um se mantém por conta própria, não estando unido desde o início por laços naturais, patriarcais; uma condição segundo a qual eles se associam por outro meio – pela lei e pelo costume, com a sanção do espírito, pois a nação grega é o resultado de um processo de crescimento. Na origem de sua unidade nacional está a própria divisão, o estranhamento interno, o elemento principal que deve ser considerado. A primeira fase da superação disso determina o primeiro período da cultura grega, e só por meio de tal estranhamento e de tal superação é que surgiu o belo e livre espírito grego. (Hegel, 1992, p.191-192).

 

 

 

 

 

Oposição de características geofísicas

 

 

 

 

 

 

 

Oposição de características morais

 

Oposição de características étnicas

 

 

 

Bom exemplo de conflito disposto em tríade (figura 2) está também no interior de um acontecimento, como a Guerra do Peloponeso, e na participação de um personagem, o filósofo Sócrates e na importância da Filosofia.

Por fim (figura 3), a dinâmica e o resultado dialéticos são apresentados em tríades progressivas, onde Hegel faz uso dos mesmos personagens, explorando diferentes acontecimentos na experiência de cada um. Os primeiros povos históricos, já vimos, são os Persas, os Gregos e os Romanos. Eles formam uma sequência (uma tríade) progressiva no que diz respeito à realização da liberdade. Em um momento da narrativa, Hegel aplica o mesmo modelo de desenvolvimento para cada um deles, sobretudo os gregos e os romanos. Assim, cada um deles teria passado pelos estágios da formação (unificação de povos), da autonomia política (expansão) e da decadência (desorganização interna). (p.189-190).

Em outra passagem, os mesmos povos são encaixados em outro modelo, onde cada um deles representa um princípio (estágio): o império persa e a sua unidade religiosa corresponde ao “Reino do Pai”, o mundo grego e a sua unidade jurídica corresponde ao “Reino do Filho” e o mundo romano, mediante a unidade universal entre Estado e religião (sustentados em conceitos) correspondem ao “Reindo do Espírito”.

Quadro 1 – Demonstrações da Dialética na Filosofia da História de Wilhelm G. F. Hegel (III) 


Categorias Textos Dialética
 

 

Pensamento-

realidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensamento/

realidade

 

 

A Guerra do Peloponeso

Na beleza, como princípio dos gregos, a unidade concreta do espírito estava ligada à realidade, à pátria, à família, etc. Nessa unidade, ainda não estava compreendida nenhuma posição definida no âmbito do espírito, e o pensamento que surgiu acima dessa unidade ainda tinha o arbitrário como traço determinante. […]

Foi em Sócrates que, no início da Guerra do Peloponeso, o princípio da interioridade, da independência absoluta do pensamento em si, obteve uma livre manifestação. Ele ensinou que o homem deve se descobrir e reconhecer em si mesmo o que é justo e bom, e que e isso, segundo a natureza do justo e do bom, seria universal. Sócrates ficou célebre com o mestre da moralidade; antes de mais nada, ele é o inventor da moral. Os gregos possuíram a moralidade objetiva; mas do que virtudes morais, deveres, etc., era isso que Sócrates queria ensinar. O homem moral não é aquele que apenas almeja e faz o que é justo, não é o homem inocente, mas sim aquele que tem consciência dos seus atos.

Sócrates colocou o sujeito como algo decisivo em oposição à pátria e aos costumes, pelo fato de que ele deixou ao juízo e à convicção a determinação da ação humana, tornando-se o oráculo no sentido grego. Dizia ele que teria dentro de si um [xxx] que o aconselhava sobre o que deveria fazer e lhe revelava o que era útil para os seus amigos. Com o nascimento do mundo interior da subjetividade, surgiu o rompimento com a realidade. Mesmo que o próprio Sócrates tenha cumprido seus deveres como cidadão, para ele não era esse Estado e sua religião, mas o mundo do pensamento, a verdadeira pátria. Questiona-se agora se existem deuses e o que eles são. Platão, discípulo de Sócrates, expulsou de seu Estado Homero e Hesíodo, os autores da representação religiosa dos gregos, pois ele exigia uma representação mais sublime, que admitisse o pensamento daquilo que deve ser venerado como Deus. Muitos cidadãos retiraram-se da vida prática e dos negócios públicos para viver o mundo ideal. O princípio de Sócrates comprovou-se revolucionário perante o Estado de Atenas, pois a característica desse Estado é que o costume constitui a sua forma, ou seja, a inseparabilidade do pensamento da vida real. Se Sócrates instiga seus amigos para a meditação, o diálogo é sempre negativo, isto é, ele os conscientiza de que eles não sabem o que é justo. Se agora ele é condenado à morte, porque enuncia o princípio do qual tem que se aproximar, encontram-se aí, ao mesmo tempo, uma justiça sublime – o povo ateniense condenou o seu inimigo absoluto – como também o fato mais trágico que os atenienses vivenciaram: o que eles condenaram em Sócrates já estava bastante enraizado neles, devendo eles, assim, ser igualmente julgados culpados ou inocentes. Foi com esse sentimento que consideraram os acusadores de Sócrates, declarando-o inocente. Em Atenas, desenvolveu-se cada vez mais esse sublime princípio, que era o próprio declínio da existência e da substância do Estado ateniense:  o espírito tinha tendência a se auto-satisfazer, a refletir.  (Hegel, 1999, p.228-229).

 

 

 

Antes de Sócrates e da Guerra do Peloponeso, a realidade constitui o pensamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com Sócrates, o pensamento ganha autonomia em relação à realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois de Sócrates, o pensamento autônomo [provoca a decadência da realidade [Estado] ateniense.

Periodização da História dos Povos Germânicos segundo Wilhelm G. F. Hegel


1º Período 2º Período 3º Período
Surgimento das nações germânicas no império romano (até Carlos Magno) Autonomia da Igreja para si como teocracia e autonomia do Estado para si como monarquia feudal (governo de Carlos Magno) Surgimento da consciência do direito de si mesmo pelo restabelecimento da liberdade cristã (governo de Carlos V)

 

3.1 A eclosão da Reforma (que surge da decadência da Igreja e prega que o homem está determinado por si mesmo a ser livre)

3.2 A instituição do Estado moderno (a transformação dos direitos das dinastias em funções estatais

3.3. Vitória das leis da natureza contra as superstições e da ideia de que o direito e a moralidade são fundamentados na vontade humana (interna) e não apenas no mandamento de Deus (imposição externa)

Fonte: Hegel (1999, p.292-294, p.343, p.361-362)

Uma outra possibilidade de uso da dialética está demonstrada na periodização de um indivíduo histórico – os Povos Germânicos. Observem que Hegel apresenta os conflitos em tríades, nos modos horizontal (em duração secular) e horizontal (em duração conjuntural). No modo horizontal, os estágios correspondem ao surgimento, autonomia da Igreja e a autonomia do Direito. De modo vertical, ele estabelece os estagios pelos quais os germânicos chegaram ao que são no tempo em que escreve a História Universal, o que vem a ser a síntese de todo o processo de realização da liberdade. Aqui podemos perceber os empregos anteriores em um único cenário: unificação e autonomia (com excessão da decadência) e tese, antítese e síntese (ou a realização do espírito de liberdade). […] 


Fontes

HEGEL, Filosofía de la historia. 2ed. Barcelona: Zeus, 1971.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopedia de las Ciências Filosóficas en compendio para uso de sus classes (1830). Madrid: Alianza, 2005.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopedia Filosófica para los últimos cursos de bachillerato (1808/1811). Tradução de Manuel Jiménez Redondo. Valéncia: Museu Valencià de la Illustració i de la Modernittat, 2007.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Filosofia da História. 2ed. Brasília: Editora da UnB, 1999.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo:  Martins Fontes, 1997.

HEGEL, Georg Wlhelm Friedrich. Acerca de la enseñanza de la filosofia en los Gimnasios – Informe al ministerio del Culto, la Enseñanza y la Sanidad del reino de Prusia. In: Escritos pedagógicos. Tradução e introdução de Arsenio Ginzo. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. p.146-154.

HEGEL, Georg Wlhelm Friedrich. Discurso del 14 de septiembre de 1810. In: Escritos pedagógicos. Tradução e introdução de Arsenio Ginzo. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. p.86-100.

HEGEL, Georg Wlhelm Friedrich. Discurso del 29 de septiembre de 1809. In: Escritos pedagógicos. Tradução e introdução de Arsenio Ginzo. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. p.73-85.


Notas

[1] Por um lado, o espírito teria passado, presente e futuro no seu processo de autodesenvolvimento, constituindo, portanto, uma temporalidade. Por outro, a fenomenologia (um saber sobre o saber da consciência ou a história do desenvolvimento da consciência, desde o tempo das cavernas ao tempo da ciência), não coincidiria com a História do Mundo. Para Jean Hypollitte, na primeira parte da Fenomenologia do Espírito (que trata da consciência, autocosciência e razão), os fatos e períodos históricos são usados como ilustração e exemplos. Na parte posterior (que trata do Espírito, Religião e Saber absoluto), há coincidências (cidade antiga, Revolução Francesa), mas há muitas lacunas (como o Renascimento) e afirmações discutíveis sobre Reforma e Revolução Francesa. Hyppolitte (1974, p.35-37). José Carlos Reis reconhece a divergência sobre a relação entre dialética e História do mundo no conjunto da obra de Hegel: elas seriam independentes (dialética como método de conhecimento da verdade e História como vir a ser da experiência alemã e europeia na Idade Moderna) ou seriam elementos intercomplementares (a dialética como o método para compreensão da realidade presente alemã)? Reis (2011, p.59, p.64-65).

[2] Tibebu (2011, posição 40-45).

[3] Tibebu (2011, posição 1247).

[4] Tibebu (2011, posição 1282, 1409, 1447).

[5] Tibebu (2011, posição 1524).

[6] “Hegel articula a supremacia branca em tres níveis: Caucasianos são superiores aos aos não caucasianos; caucasianos europeus são superiores a caucasianos não europeus; e caucasianos europeus germânicos são superiores a caucasianos europeus não germânicos.” Tibebu (2011, posição 1468).

[7] Hegel (1971, p.107-108).

[8] Não encontramos comentários sobre suas posições acerca do ensino de História que indicassem se o seu pensamento sobre o componente curricular seguiria ao pé da letra o seu pensamento como filósofo especulativo, ao ponto de orientar o currículo do ensino secundário com suas ideias sobre o processo histórico. Nos escritos pedagógicos, série de discursos, cartas e relatórios que produziu como Reitor do Ginásio de Nuremberg e nos relatórios sobre ensino, remetidos ao Ministério do Culto, Ensino e Saúde da Prússia, ele concorda com o caráter secundário da História (e da Álgebra, Geometria, Geografia, Fisiografia e as Ciências Filosóficas) diante do aprendizado das línguas, literaturas e gramáticas do [grego] e do latim. (Hegel, [1809] 1991, p.84). Registra a doação de uma coleção de moedas, segundo ele, de utilidade ao ensino de História (Hegel, [1810] 1991, p.91) e informa a insuficiência dos candidatos, em História, que desejam frequentar a Universidade (Hegel, [1822] 1991, p.147), e denota ser o conteúdo básico do secundário que dirigia “a leitura dos antigos historiadores” (Hegel, [1810] 1991, p.172).

[9] Hegel sugere divisões em várias etapas: três, quatro ou mais períodos. Aqui, optamos pela indicação do percurso da liberdade. Hegel, 1999, p.93.

[10] “É muito importante o papel desempenhado pela dialéctica no sistema de Hegel. Contudo, são consideráveis as dificuldades para compreender o significado preciso da dialéctica neste filósofo. Com efeito, dialéctica significa, em Hegel, para já, um momento negativo de qualquer realidade. Dir-se-á que, por ser realidade total de carácter dialéctico—em virtude da prévia identidade entre a realidade e a razão, identidade que faz do método dialéctico a própria forma em que a realidade se desenvolve –, esse carácter afecta o mais positivo dela. [A dialéctica não é] a forma de toda a realidade, mas aquilo que lhe permite alcançar o carácter verdadeiramente positivo.” Mora (1978, p.72). Grifos nossos.

[11] Abbagnano (2014, p.315).


Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

BEISER, Frederick C. Hegel’s historicism. In: BEISER, Frederick C. (ed.). The Cambridge Companion to Hegel. Cambridge: Cambridge University, 1999. p.270-300.

BEISER, Frederick C. Trials and tribations of Clio. In: After Hegel – German philosophy 1840-1900. Princeton: Princeton University, 2014.p.133-157.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1978.

PINKARD, Terry. Does History make sense? Hegel on the historical schapes of justice. Cambridge: Harvard University, 2017.

PINKARD, Terry. Hegel – A biography. Cambridge: Cambridge University, 2000.

TIBEBU, Teshale. Hegel and the third World: The making of eurocentism in Word History. Syracuse: Syracuse University Press, 2011.

TOEWS, John Edward. Hegelianism – The path toward dialectical humanism, 1805-1841. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

STERN, Robert. Hegel contra Kant. In: Hegel, Kant and the structure of the object. London: Routledge, 1990. p.31-41.

 


Voltar para o programa de “Teoria da História (URCA)”

O que é Teoria da História? | Itamar Freitas

Ministrando cursos de pós-graduação, sou frequentemente questionado sobre títulos que eu indicaria para a leitura, em situações de formação continuada, acerca de Teoria e Método da História. Veiculados em livros e escritos ou organizados por autores brasileiros, os títulos desse tipo não chegariam a duas dezenas. No ano passado, reuni metade representativa desse conjunto e encarei a tarefa de resenhá-los como indicação de leitura de formação básica.

Não alimento a esperança de que os alunos adotem de imediato a compreensão historicista como estratégia de conhecimento da matéria, ou seja, que ao invés de questionar “o que é Teoria da História” (como ironicamente intitulei essa seção) interroguem sobre “o que vem sendo ou o que as pessoas tem dito, ao longo do tempo, sobre o que deveria ser Teoria da História”. Mas, continuo insistindo na estratégia que pode ser bem-sucedida a longo prazo, na carreira de cada profissional.

Nos dois textos que se seguem demonstro essa minha intenção. No primeiro, produzido em maio de 208, exploro diacronicamente algumas relações entre Teoria da História e Método Histórico, tal como são apresentadas em manuais brasileiros de formação de historiadores. No segundo, produzido em novembro de 2018, acrescento algumas referências de historiadores estrangeiros (abonados no Brasil) sobre a mesma matéria de modo comparado e apresento a urgência de abordamos uma definição operatória de Teoria da História. Uma definição operatória não prescreve o “ser” da Teoria da História”. Ela apenas oferece uma definição, limitando tal significação à determinada situação, auxiliando qualquer interessado na efetivação da sua respectiva pesquisa.

Darei por cumprida a empreitada dessa escrita se vocês se sentirem estimulados a refletir sobre as questões anunciadas ao final de cada texto.

Boa leitura!


Teoria da História e Método Histórico em manuais brasileiros

Neste texto, exploramos os significados Teoria da História e de Método Histórico quando postos em relação as duas conhecidas locuções em manuais produzidos com este fim. Como se trata de indicação de litura básica, evitamos a (fundamental) crítica ideológica sobre os impressos e o inventário de limitações ou contradições dos textos que seguem expostos em ordem cronológica de publicação.

Tomemos por suposto que a cientificidade da história deva ser justificada pela emergência do “método histórico”, presente em, praticamente, todos os livros didáticos de História para a escolarização básica em circulação na última década e positivado ou parcialmente negado nos manuais de Teoria da História destinados aos jovens universitários, publicados nos últimos 50 anos: que relações podemos capturar entre essas duas expressões? Qual o lugar “do Método Histórico” na “Teoria da História”? O que os autores querem significar ao escreverem “Teoria da História” e “Método Histórico” em seus manuais propedêuticos? Qual a contribuição dessas possíveis respostas para a formação continuada do professor de História? Tentemos recolher indícios para as respostas diacronicamente e a partir de títulos da literatura nacional especializada, publicada em livro.

Na década de 60 do século XX, dois manuais de Teoria da História disputavam espaço entre os poucos universitários de História, futuros, advogados, professores secundários de História, jornalistas e diplomatas que passavam por faculdades de Filosofia, Ciências, Letras ou Economia. De um lado estava José Piragibe da Fonseca,[1] que estruturou o seu Manual de Teoria da História em duas disciplinas da Filosofia: Metafísica e Lógica – ambas realizavam a Teoria da História stricto senso. A Metafísica professada era a “concepção católica da História”.[2] A Lógica, método de obtenção da “verdade” (para o ensino superior), seguia, de perto, mas não exclusivamente, as operações de heurística, análise e síntese de Langlois e Seignobos.[3] José Honório Rodrigues,[4] por seu turno, já não mais se ocupava de Filosofia especulativa da História, quando publicou a sua Teoria da História do Brasil. Ele preferiu discutir a “natureza da verdade histórica” e os “meios para descobri-la”, ou seja, “a técnica ou o método histórico”. Essa segunda parte da Teoria reproduzia as operações da heurística, análise e síntese, colhidas junto aos manuais de metodologia e de Introdução à História de Ernst Bernheim, Wilhelm Bauer e C. Langlois e C. Seignobos.[5]

Nos anos 70, duas concepções concomitantes tomariam distância da Teoria da História como objeto da (ou mesmo sinônimo de) Filosofia da História. Uma é prescritiva e tem caráter totalizante. Outra é apenas sugestiva e problematiza a existência de algo como “a Ciência”, a partir da qual muitos historiadores costumavam construir seus argumentos em defesa do caráter científico da História. A visão prescritiva foi divulgada por Ciro Flamarion Cardoso e Héctor Pérez Brignoli[6] que declaram não fazer um livro de “Teoria ou de Filosofia da História.[7] De fato, seu impresso ganhou o título: Os métodos da História. Com essa rubrica, Cardoso e Brignoli tomaram distância dos não citados manuais de Rodrigues e Piragibe, qualificados, indiretamente, como positivistas e anacrônicos. Tal crítica, herdada de Henry-Irinée Marrou e de Lucien Febvre, principalmente, deixa vazar para nós os autores descartados por Brignoli e Cardoso (os puros empiristas da crítica histórica de Langlois e Seignobos) e, também, os seus prováveis parceiros (os autores que seguiam a “escola francesa” de Marc Bloch e Lucien Febvre, dominantes entre as décadas 30 e 60 do século passado). O compromisso entre a “escola francesa” e o “marxismo” promoveria, segundo os autores, a renovação das visões de História na América Latina. Seria, agora, uma História nomotética, no interior das ciências Humanas (J. Piaget), dotada de novos campos de interesse e novos conceitos.[8] Novos métodos – quantitativos, estatísticos e comparativos –, por fim, selariam a configuração da nova ciência da História, sob o “progresso” atingido pelas Ciências Sociais, notadamente, a História Econômica, História demográfica e à História Social.

Em paralelo ao trabalho de Cardoso e Brignoli, Maria Beatriz Nizza Silva[9] divulgou a sua visão sugestiva da História na coletânea Teoria da História, que reunia mais de uma dezena de autores estrangeiros. Silva não define teoria, mas deixa indícios do seu entendimento: trata-se do estudo que reflete sobre a cientificidade da História. Teoria, portanto, ganha a forma de epistemologia. A discussão sobre “método”, a “técnica”, “Tecnologia” e “metodologia”, entretanto, está distribuída nas três partes do impresso, abordando, por exemplo: unicidade do método (1a parte), método da história serial (2a parte) e metodologia como “lógica do processo científico” que atravessa várias disciplinas científicas[10] (3a. Parte). A motivação de Silva é idêntica à motivação de Piragibe: combater o ceticismo em relação à cientificidade (e, consequentemente, à validade da Ciência da História para a vida prática). O distanciamento a ser estabelecido, ainda que marginalmente citado, se estabelece em relação à Literatura (velha inimiga do século XIX).[11] Mas a resposta à questão, segundo a autora (acompanhando as desconfianças do Michel Foucault da Arqueologia), deve ser mediada por outros parâmetros: 1. a  discussão do significado de ciência (A ciência em abstrato ou à ciência sob o modelo da Física?); 2. a sua tipificação de ciência (Ciências nomotéticas ou ideográficas?); 3. a natureza do objeto (critérios de historicidade, ênfase no evento ou ênfase na série); e 4. as definições de conceito, teoria e paradigma (principalmente, na Sociologia e na História Econômica).[12]

Uma década e meia depois, a mediação da “Epistemologia Histórica” (ou Filosofia Analítica da História) é reforçada com o livro Paradigmas do estudo da História – os modelos de compreensão da ciência histórica no pensamento contemporâneo (1991), de Francisco Ricardo Rüdiger.[13] Para ele, Epistemologia é o estudo da “estrutura lógica e conceitual” da produção do conhecimento histórico. Seu outro nome é “Metodologia”. Teoria da História e Filosofia da História tratam da interpretação do processo histórico, com a diferença que a Teoria o faz hipoteticamente e com base na empiria e a Filosofia procede ontologicamente, ou seja, determina “o sentido geral da História”, independentemente da empiria.[14] Rüdiger tenta enxergar a floresta de possibilidades de produção do conhecimento histórico e não as árvores. Situa-se em uma espécie de mirante, não se deixando (ao menos teoricamente) pautar por nenhum paradigma (ou modelo epistemológico de compreensão). Tal condição lhe possibilita classificar: 1. os três paradigmas fundamentais, emergentes na segunda metade do século XIX: o historicismo (G. Droysen, W. Dilthey), o positivismo (J. B. Buchez, S. Mill, D. Xenopol, H. Berr, Teggart) e o historicismo positivista (C. Langlois, C. Seignobos, E. Bernheim e W. Bauer); e 2. os paradigmas de compromisso com a ciência (K. Marx e M. Weber) e o que nada espera de tal ciência – o presentismo (B. Croce).[15]

Ao final da mesma década, duas coletâneas são lançadas para orientar professores e noviços atordoados, por exemplo, com a queda do Muro de Berlim, o fim do socialismo real da União Soviética, o anúncio do “fim da história” e o sucesso ou “a moda” da “nova história” no Brasil (eventos aparentemente apocalípticos). Uma das respostas à crise, segundo, Jurandir Malerba, seria o aprimoramento teórico das investigações centradas nos novos temas da nouvelle histoire, em suas interações com a Antropologia e, também, na ampliação do conhecimento sobre o labour history da Inglaterra.[16] Explícito no título, mas ausente na apresentação, o termo “método” está disperso nos artigos da coletânea, sem preocupação doutrinária, como nesse exemplo que discute as relações entre Antropologia e História:

Coloca-se aqui também um problema metodológico para o investigador ao lidar com as ‘teorias nativas’ ou se quisermos usar um termo mais familiar aos historiadores, as versões dos agentes de época, no que se convencionou chamar de “análises de discurso”. Sejam frutos de explicações e conceitos dos grupos estudados, sejam discursos produzidos com diferentes objetivos e enfoques, cabe refletir sobre a relação entre as representações aí mobilizadas e a construção da análise pelo investigador. Tomar essas representações da forma como veiculadas pelos que delas partilham leva a assumir suas próprias concepções como explicativas do que se observa, como aponta Mauss para o caso do dom. Construir uma nova versão, cunhada sob os cânones dos métodos científicos, ou para usar o termo consagrado por Geertz, propor-se a interpretar seus significados, implica desconstruir este ‘ponto de vista nativo’ através do contraste com as práticas observadas e mesmo com uma possível divergência de interpretações locais.”[17]

Método ou metodologia, portanto, é discussão do plano epistemológico. Já a Teoria, por sua vez, é matéria dispersa em “tópicos” dos quais Malerba seleciona os “itens clássicos” (fontes, espaço, tempo, estrutura/sujeito) e “as “entradas à questão da cultura e adjacências” (mito, imaginário, representação, narrativa e história da historiografia brasileira).[18]

Na coletânea de Malerba, observamos que a Teoria se ocupa de questões relativas aos paradigmas de compromisso ou das soluções à disputa entre as alternativas historicista e positivista apresentadas por Rüdiger. Marxismo inglês, nova história estão em confronto. Não sem razão, um dos mais respeitados representantes do marxismo no Brasil é o homenageado de Malerba na dedicatória da obra. É também esse mestre – Ciro Flamarion Cardoso –, quem vai oferecer a resposta, digamos, fluminense ao referido atordoamento de meados dos anos 90. Ele coordena coletânea intitulada Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia.[19] Mas não trabalha sozinho. Divide o espaço com vários autores fiéis ao paradigma rival, coordenados por Ronaldo Vainfas, empenhado defensor da nova histórica cultural. A Teoria está no subtítulo e ocupa, formalmente, dois terços da obra: 1) territórios do historiador (econômico, social, político, ideias, mentalidades, cultural); 2) objetos e problemas (nas áreas de história agrária, urbana, das paisagens empresarial, da família, demografia, cotidiano e vida privada, mulheres, sexualidade, etnia, religiões e religiosidades). A Teoria aparece explicitamente na descrição do marxismo – “teoria marxista do conhecimento” (p.5) e da “tendência” dos Annales (até 1969) que juntas constituem o “paradigma iluminista” ou “moderno” – opositor do historicismo de Collingwood, Croce… e do seu “método hermenêutico” (p.3). A metodologia, referida no título, recebe o mesmo tratamento reservado na coletânea de Malerba. Os autores, entretanto, deixam fugir a seguinte informação: a parte três “é uma seção, por assim dizer, prática” (p.vi), que orienta sobre “novos métodos”, “novas fontes”, “novos instrumentos de pesquisa” e (ironicamente), “modelos teóricos”. (p.vii).

A última coletânea do gênero foi lançada quase imediatamente após o impresso de Cardoso e Vainfas. Em Questões de teoria e metodologia da História (2000),[20] não há inventário de teorias. Em um dos textos, Carlos Fico aponta maior preocupação dos historiadores da década de 90 com a reflexão sobre o saber, a exposição de quadros teóricos, algo bem diferente dos anos 80, quando a teoria era demonizada como Filosofia da História e, também, como tentativa de a História ser considerada uma ciência.[21] Por vias diferentes das de Cardoso, mas chegando ao mesmo ponto, J. C. Reis inventaria as “macroteorias que orientaram a reflexão e a ação históricas do século XVIII ao XX”: o “projeto moderno” iluminista e o projeto “pós-moderno” (estruturalista e pós-estruturalista).[22]“Método” não figura como objeto específico em texto algum. Está disperso como relato de experiência na execução de uma pesquisa ou no planejamento de um programa de Teoria e Metodologia da História para alunos de graduação ou, ainda, revisão da literatura – a renovação da ideia de documento e investigação com a genealogia de Foucault.[23] Método também referido como “abordagem metodológica”, sinônimo de “especialidade” – História econômica, História cultural etc.[24]

O mais recente manual do gênero foi produzido por José D’Assunção Barros.[25] Ele define Teoria é como “modo de ver as coisas” e a remete a conceitos, campos (correntes e paradigmas):[26] positivismo, historicismo e materialismo histórico. Teoria é um “conjunto de proposições ligadas logicamente entre si e que possuem referentes em comum” (Bunge). Teoria da História difere de Filosofia da História. Para o autor, a primeira seria produzida coletivamente, demonstrando maior preocupação com a realidade e as fontes e com “menor carga de especulação filosófica”, enquanto a segunda nasceria e se encerraria no âmbito do seu criador individual, ocupando-se dominantemente do sentido e com maior “carga de especulação filosófica.”[27] Metodologia, por fim, é vista como “modo de fazer algo” que remete a métodos e técnicas e operações de delimitação do tema e constituição das fontes.[28] Para Barros, a principal diferença entre o historicismo e o positivismo está no fato de o segundo pregar a unicidade do método entre ciências humanas e ciências naturais e o primeiro defender a singularidade dos métodos de cada uma das ciências.

Depois dessa breve revisão dos modos de abordar Teoria e Método nos manuais de Teoria da História, você já se sente capaz de responder às questões iniciais? O que os autores querem significar quando grafam “Teoria da História” e “Método Histórico”? Qual o lugar do Método Histórico na Teoria da História? Aliás, o que vocês pensam ser o definidor da história como saber científico? Qual a contribuição dessas possíveis respostas para a formação continuada do professor de História?


Sobre os significados de “Teoria da História”

 O que os nossos contemporâneos produtores de livros-tese e de coletâneas sobre a matéria querem significar com o emprego dessa categoria?

A resposta aponta dispersão. Teoria da história é concebida como uma hipótese ou uma proposta de intervenção sobre os fatores e a mudança na experiência de determinado país ou do mundo;[29] um tipo-ideal que viabiliza a análise da obra histórica;[30] uma disciplina universitária fundamental à formação do profissional de História;[31] um campo de estudos sobre a realidade e o pensamento histórico e o uso que as pessoas fazem do seu passado;[32] e uma ciência sobre a Ciência da História.[33] E a dispersão aumenta quando questionamos aos estudiosos de Teoria da História sobre as coisas que privilegiam. Eles respondem: conceitos, matrizes, temas, questões, objetos, regras de pesquisa, métodos, critérios de validação, critérios de cientificidade, formas de representação, funções da história na vida prática, pensamento sobre o domínio,[34] especulação sobre o processo histórico, história da Historiografia e relação da História com outros domínios.

Em alguns casos, esses objetos reinam sozinhos, como métodos,[35] princípios ou fundamentos que constituem “a problemática epistemológica da História”.[36] Também isolados ou agrupados, no mesmo campo semântico, são referidos os conceitos, as concepções, as ideias ou matrizes,[37] em oposição ao “empirismo rústico”,[38] às “técnicas”,[39] à “Filosofia da História, à Epistemologia e à Metodologia”[40] ou associados aos domínios da Epistemologia, Lógica ou Ética.[41] Na maioria das iniciativas, entretanto, formam díades e tríades, explicitando novos domínios e revelando o caráter compósito da coisa designada. Assim, Teoria da História é realizada mediante conceitos / temas,[42] conceitos/história da historiografia,[43] método / temas, método / premissas,[44] especulação sobre o processo histórico / função na vida prática,[45] desafios / relação com outros domínios / estabelecimento de fronteiras,[46] critérios de cientificidade / objetos / problemas[47] e recursos de Erudição / Filosofia / Literatura.[48] Os textos que excedem a três objetos assumem os modelos e as matrizes como configuradores da Teoria da História. Esse é o caso muito particular de H. White,[49] que apresenta uma matriz para a obra histórica e outra correlata para a concepção de história dos autores analisados. São também os casos de J. Rüsen[50] e de W. Blanke,[51] que partem das ideias de “revolução científica” e “paradigma”, de T. Kuhn, e montam conjuntos semelhantes de objetos para a Teoria da História. Isso é o que conhecemos sobre a matéria no nosso tempo.

Quem lê os “teóricos” do século XIX não tem dificuldade de notar a semelhança na dispersão interna da configuração dos objetos e de estruturas de exposição de Teoria da História, no passado distante e no passado recente, mesmo considerando a institucionalização da Teoria da História, hoje, configurada como domínio de pesquisa, disciplina acadêmica e objeto exclusivo de Revistas, Associações e de congressos científicos (algo não generalizado na passagem do século XIX para o século XX). Sendo bem sensatos, deveríamos (mesmo hoje) conceber “teoria da História” apenas como reflexões sobre o “que fabrica o historiador quando faz história.[52] Contudo, tentando fugir à incômoda imprecisão dessa definição, vamos sedimentando proposições que convergem para um uma espécie de senso comum de que a Teoria da História é algo que completa 150 anos: “a Teoria da História é objeto disciplinar da formação de historiadores, desde que os cursos de licenciatura em História foram instituídos na Europa e nas Américas”; “a Teoria da História nasce em meados do século XIX, quando os historiadores desenvolvem sistematicamente a reflexão sobre a natureza do seu domínio”; “as teorias da História são originárias da Alemanha e da França”; “as teorias da História são um gênero designado pela palavra Historik”; “as teorias da História foram codificadas em tratados epistêmicos”; e, ainda, “a Teoria da História legitima a Ciência da História mediante a exclusão de domínios como a Retórica, a Filosofia e a Sociologia”. Para fazer frente a esse senso comum (e minimizar o estranhamento provocado pelas semelhanças entre objetos e configurações de discursos sobre o tema, no passado e no presente), é necessário pensar as classificações como resultante da maior ou menor ênfase atribuída a determinado critério e evitar unilateralidade da escala (macro).

Se nos afastarmos das proposições básicas de cada Teoria, pondo os olhos nos objetos, por exemplo (como sugerimos nesse exercício de experimentação do passado, efetuado entre o primeiro e o segundo parágrafo desta conclusão), perceberemos que os teóricos da História enfrentam os mesmos macroproblemas há 150 anos: a natureza de uma suposta capacidade humana de conhecer, as definições de realidade e de conhecimento sobre a realidade.[53] Apenas recentemente a relevância desses temas tem sido problematizada, sobretudo com as incipientes tentativas de historicização das ciências a partir de perspectivas não antropologizantes.[54] Sem esse exercício de alternância de escalas (permanecendo apenas em dimensão macro e desprezando as situações comunicativas sob as quais os escritores prescrevem as suas teorias), dificilmente poderemos formular juízos sobre Teoria da História em termos transnacionais diacrônicos para o período em análise (como teses sobre transnacionalização ou expansão do “modelo alemão” ou “modelo francês” de historiografia).

Em perspectiva sincrônica a dificuldade ainda é maior. Os exemplos bem-sucedidos de tipos ideais para o exame de iniciativas que tomam distância da transposição de modelos são de caráter nacional e, portanto, inadequados ao exame em escala continental ou mundial, por exemplo, quando importados integralmente.[55] Os tipos, apesar de construtos intelectuais, sabemos bem, são elaborados com elementos da experiência a ser analisada. Se quisermos, por exemplo, examinar as mudanças em termos de Teoria da História (sempre em significado ideal-típico),[56] teremos que considerar elementos do lugar (dos domínios, das comunidades linguageiras etc.). [57] Desprezando-os, correremos sempre o risco de concluir, pejorativamente, que os escritores de teorias de tal país foram “ecléticos”, “compiladores” ou usuários de “literatura de segunda classe” (quando encontramos, exatamente – ainda que não consideremos negativamente – essas mesmas características em muitos clássicos textos estrangeiros).

Depois dessas considerações demasiadamente abstratas, chegou a hora de pensarmos nos nossos problemas e objetos de pesquisa. O que queremos designar como quadro teórico do nosso projeto de pesquisa? De que maneira comunicar o que entendemos ser a Ciências Histórica e o que poderíamos elencar como elementos da mesma pelos quais o nosso projeto de investigação se orienta?


Notas

[1] Fonseca era professor de “propedêutica da História” na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, desde 1946. O manual foi destinado aos futuros professores de História e, também, aos jornalistas, advogados, legisladores e diplomatas, todos formadores de opinião pública. Faz relações de difícil compreensão, dado o esforço para somar verdades extraídas da crítica histórica e do desígnio da Providência.

[2] Fonseca, 1967, p.42, p.101.

[3] Piragibe cumpria, assim, uma demanda comum aos cursos de História de São Paulo, na década anterior. Há depoimentos de Jean Glenisson e de Jean Van den Besselaar de que os alunos de Introdução à História, na Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade de Filosofia e Letras, ansiavam por preleções sobre Filosofia Especulativa da História.

[4] Rodrigues escreve para estudantes universitários de História e para professores da escola secundária. A primeira versão é fruto do aprendizado em cursos de metodologia da História nos EUA, com Charles W. Cole e Henry S. Commager. As notas de aula e, também, do curso que escreveu para o curso de aperfeiçoamento em História do Brasil, demandado pelo Instituto Rio Branco. Sua ideia era “mostrar como se investiga, como se manejam as fontes, como se aplicam os métodos e a crítica, como se doutrina e interpreta o material colhido e criticado, na tentativa de recriar o passado numa composição ou síntese histórica.” Rodrigues, 1967, p.15-16.

[5] Rodrigues, 1967 p.441-442.

[6] Cardoso e Brignole dedicaram o livro aos alunos de História e Ciências Sociais e, também, aos professores formados na “visão positivista e anacrônica da História” (crítica histórica e ciências auxiliares de Langlois e Seignobos – negativismo importado de Febvre e Marrou. (Cardoso, 1977, p.15-16). Eles identificam pontos comuns entre o marxismo (Marx) e a “escola francesa” (Febvre e Bloch): história total (não somente a política), estrutura, evolução distinta dos níveis da estrutura, história total (síntese explicativa) e engajamento do historiador com os problemas do seu entorno. Cardoso, 1977, p.478-479.

[7] Cardoso; Brignoli, 1997, p.41

[8] Cardoso; Brignoli, 1997, p.15-16, p.41-42.

[9] Beatriz Silva, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de São Paulo, destinou sua coletânea ao “futuro historiador” e ao “pesquisador que nunca se preocupou com os problemas teóricos da sua prática” (Silva, 1976, p.7). São três as novidades: a tradução de textos completos (até então, os manuais de teoria e método sintetizavam posições), o entendimento de teoria da História como Epistemologia, e a inclusão de “não historiadores” entre os teóricos e a qualificação de Michel Foucault como “historiador”. A autora, contudo, não se posiciona a respeito, além da descrição acima.

[10] Como pensa R. Merton

[11] Silva, 1976, p.7-8.

[12] Silva, 1976, p.5.

[13] Na década de 1990, Rüdiger era professor da Pontifícia Universidade Católica e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Parece estar no meio do fogo cruzado entre cientificistas e pós-modernos, em relação à História. Busca sair da situação, enxergando a floresta, mas lamenta o afastamento dos historiadores em relação às questões filosóficas e epistemológicas que explicam a sua prática (Rüdiger, 1991, p.189-190).

[14] Essa exposição bem mais didática foi publicada seis anos após o livro, em formato de artigo, intitulado “Propedêutica à Teoria da História. Rüdiger, 1997, p.155-156.

[15] Para a segunda metade do século XX, Rüdiger apresenta três soluções epistemológicas que tentam dar respostas à oposição entre positivismo e historicismo: o materialismo dialético, o neo-historicismo e o paradigma crítico-dialético. Rüdiger, 1991, p.147-148.

[16] Malerba, 1996, p.11-14.

[17] Lima e Vianna, 1996, p.142.

[18] Malerba, 1996, p.12.

[19] A coletânea reúne textos de professores da UFF e da UFRJ e foi destinada aos alunos de graduação e pós-graduação em História, alunos de ciências sociais e docentes do ensino médio. Trata-se de uma versão do antigo “Os métodos da História”, com autoria ampliada. Mas a ênfase na mudança de métodos como fator de renovação no ofício do historiador na América Latina desaparece. Com a generalizada crise da razão histórica pós queda do muro e socialismo real etc., Cardoso tenta conciliar “paradigmas rivais” naquele período: paradigma moderno ou iluminista vs. paradigma pós-moderno ou irracionalista.

[20] O livro reúne as falas de professores universitários de uma dezena de instituições, durante evento sobre teoria e metodologia, promovido pelo programa de Pós-Graduação em História da UFRGS.

[21] Fico, 2000, p.29.

[22] Reis, 2000, p.182-183.

[23] Rago, 2000, p.44-45.

[24] Fico, 2000, p.30-31.

[25] Barros é professor universitário (UFRRJ/UFRJ) e escreveu para iniciantes na Ciência da História. Obra em cinco volumes, o primeiro é dedicado aos conceitos básicos de Teoria da História. Ele acredita que existe “a ciência”, caracterizada como “um conhecimento a ser produzido sistematicamente, com rigor metodológico”. Embora fale, às vezes, em “várias ciências”, refere-se a “posturas metodológicas que se singularizam nas várias ciências: a observação e a experimentação” (Barros, 2013, p.81). É incoerente com a posição anterior, quanto remete às “condições de possibilidade” e, também, quando usa a expressão “pensamento ocidental”. Outro problema está na frágil diferenciação entre teoria da História (positivismo, historicismo e materialismo histórico) e Filosofia da História (Voltaire, Kant, Hegel).

[26] Barros, 2013, p.68-69.

[27] Barros, 2013, p.106, p.126.

[28] Barros, 2013, p.68-69.

[29] Zhao, 2015, p.29; Heller, [1981] 1993, p.337-339.

[30] White, 1975, p.18.

[31] Rodrigues, 1969, p.440, p.444.

[32] Paul, 2015, p.14.

[33] Rüsen, 2015b, p.31-32.

[34] Megill, 2013.

[35] Método dialético, método genealógico e método hermenêutico em sequência. (Reis, 2011, p.23, p.25).

[36] Rüdger, 1991, p.11.

[37] Vainfas, 2010, p.7-9; Lopes, 2007, p.16-17.

[38] Fico, 2000, p.36-37.

[39] Guazzelli, 2000, p.11.

[40] Malerba, 2010, p.11.

[41] Reis, 2010, p.14; Wehling, 1994, p.98-99, p.101.

[42] Em composições como temas / ideias e temas / questões. (Malerba, 1996, p.14; Lopes; Munhoz, 2010, p.11-12).

[43] Dosse, [2010] 2012, p.2.

[44] Koselleck, 2006, p.112-115; Bentivoglio; Avelar, 2016, p.8-9.

[45] Martins, 2010, p.8-10.

[46] Vasconcelos, 2005, p.25, p.235-136.

[47] Silva, 1976, p.8, p.10, p.15.

[48] Dosse, 2010, p.21

[49] O objeto da teoria é a “estrutura típico-ideal da obra histórica” (p. 20). Toda obra histórica é estruturada em níveis de conceptualiação (crónica, estória, modo de elaboração de enredo, modo de argumentação e modo de implicação ideológica) no relacionamento entre dois fatos para responder “o que aconteceu?”, “como:” e “por que aconteceu?” Quanto o historiador trabalha com a “estória” concluída ou relaciona “estórias”, buscando responder “o que significa isso?” ele é classificável em três possibilidades: os tipos de elaboração de enredo (tragédia, comédia…), a argumentação nomológica e a implicação ideológica. (White, 1975, p.121-23).

[50] Na última versão portuguesa da sua Teoria da História, Rüsen define teoria da História como uma ciência sobre a ciência da história – uma metateoria (em alemão é Historik e em língua inglesa é metahistory). “Teorias são formas de saber com um alto grau de generalização enquanto proposições de fatos particulares” (p.31). Para Rüsen, o historiador faz história e o teórico da história diz como se faz história. (p.32). Essa versão apresenta ligeiras modificações em relação aos modelos empregados por Blanke e ao que empregou, junto a Blanke e Feischer, em 1984: carências/perspectiva de interpretação/conteúdos experienciais/forma historiográfica/motivação para a ação. (Rüsen, 2015b, p.31-36.

[51] Historik é o gênero de teoria da História. O termo indica “as reflexões que os historiadores fazem acerca da escrita da história, pesquisa da história e [história da] historiografia”. (p.331). Droysen é um modelo exemplar do gênero. Os livros de Histork de Chladenius, Gervinus, Burckhardt e Droysen (de teoria da História) “explicam sistematicamente os princípios metodológicos da pesquisa histórica; discutem a singularidade e função da historiografia; definem seu assunto, a história e assim por diante.” Blanke classifica os livros de Historik em tradições: “humanístico-retórica”, “auxiliar enciclopédica”, “histórico-filosófica” e “epistemológica ou histórica”. (Blanke; Fleischer; Rüsen, 1984, p. 335-336, p.339-340). Uma década depois, Blanke publicou sua tese de doutorado, onde expõe o modelo analítico de Teoria (que significa, consequentemente, a sua ideia de teoria): matriz disciplinar. Essa categoria, identificadora de uma obra de Historik, é composta por cinco elementos: função de orientação, interesse, teoria, método e forma de representação. (Blanke, 1991, p.29, p.37).

[52] De Certeau, 1982, p.65.

[53] É curioso, por exemplo, que as definições de dois professores de Teoria da História e também produtores de manuais sobre a matéria sejam tão semelhantes, apesar da distância temporal e cultural que os separa: José Honório Rodrigues, então professor do Instituto Rio Branco, em 1969, e Herman Paul, professor da Universidade de Leiden (Holanda), em 2015. O que difere nos dois enunciados dos dois escritores é a preocupação de Paul com os usos que as pessoas fazem do passado (Paul, 2015, p.14). No restante, são as questões do processo e do conhecimento sobre o processo que predominam: “Os problemas da interpretação do processo histórico, da natureza do conhecimento histórico, das explicações, das leis, das relações da história e das ciências sociais, dos problemas da convicção histórica, do julgamento histórico, da aceitação ou não da causalidade, entendida em termos físicos, das definições conceituais de fenômenos históricos gerais, constituem a temática da teoria da história como disciplina universitária.” (Rodrigues, 1960, p.144).

[54] Ver sobre o tema o recente trabalho de Victor Nascimento (2016) que recupera a possibilidade por meio da análise de parte da obra de Michel Foucault.

[55] As teses de C. Charbonell e de W. Blanke (teoria iluminista, historicista e da ciência social), respectivamente sobre a França e a Alemanha são inadequados ao exame em escala continental ou mundial, por exemplo, quando exportados integralmente. Do mesmo modo, são inadequados ao exame do nacional, quando transpostos da Alemanha, da França ou dos Estados Unidos para o Brasil. É algo óbvio, mas necessário repetir.

[56] A exemplo do que fez D. Lingelbach, quando examinou “Profissionalização” e “Institucionalização” entre França, Alemanha e Estados Unidos.

[57] Para o caso brasileiro, por exemplo, com os discursos de Silvio Romero, Capistrano de Abeu, Euclides da Cunha.


Referências

BARROS, José D’Assunção Barros. Teoria da História. V. 1 (Princípios e conceitos fundamentais) 3ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

BENTIVOGLIO, Julio; AVELAR, Alexandre de Sá. Prefácio. In: Afirmação da história como ciência no século XX: DE Arlette Farge a Robert Mandrou. Ppetrópolis: Vozes, 2016. p.7-10.

BENTIVOGLIO, Julio; LOPES, Marcos Antônio. Prefácio. In: A constituição da história como ciência: de Ranke a Braudel. Petrópolis: Vozes, 2013. p.7-12.

BLANKE, Horst Walter. Historiographiegeschichte als Historik. Sttugart: Cannstatt, 1991.

BLANKE, Horst Walter; FLEISCHER, Dirk; RÜSEN, Jörn. Theory of history in historical lectures: the german tradition of Historik, 1750-1900. History and Theory, v. 23, n.3, p.331-356, 1984.

CARDOSO, Ciro Flamarion; BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os métodos da História: Introdução aos problemas, métodos e técnicas da história demográfica, econômica e social. 6ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. [Primeira edição – 1977].

CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (org.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

DOSSE, François. A história. São Paulo: Editora da Unesp, 2012. [Primeira edição em francês – 2010].

DOSSE, François. História e historiadores no século XIX. In: MALERBA, Jurandir. Lições de história:; o caminho da ciência no longo século XIX. Rio de Janeiro: Editora da FGV; Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2010. p.15-31.

FICO, Carlos. Algumas anotações sobre historiografia, teoria e método no Brasil dos anos 1990. In: GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos et al (org.). Questões de teoria e metodologia da História. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.27-71.

FONSECA, Roberto Piragibe. Manual da Teoria da História: Metafísica e Lógica da História. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1967.

GARDINER, Patrick. Teorias da História. 6 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. Primeira edição em inglês – 1959.

GOMES, Angela Maria de Castro. A reflexão teórico-metodológica dos historiadores brasileiros contribuições para pensar a nossa história. In: GUAZZELLI, Cesar A. B. et. al. Questões de teoria e metodologia da história. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.9-16.

GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos et al (org.). Questões de teoria e metodologia da História. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.

GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos et. al. Introdução. In: Questões de teoria e metodologia da história. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.9-16.

GUTFREIND, Ieda. Ensino de teoria e metodologia nos cursos de História. In: GUAZZELLI, Cesar A. B. et. al. Questões de teoria e metodologia da história. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.99-104.

HELLER, Agnes. Uma teoria da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993. [Primeira edição em inglês – 1981].

JAEGER, Friedrich; RÜSEN, Jörn. Strategien der Grundlagenreflexion: Die Historik. In: Geschichte des Historismus. Müchen: C. H. Beck, 1992. p.53-66.

KOSELLECK, Reinhart. Teoria da história dos conceitos e teoria da história social. In: Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora da PUC-RIO, 2006. p.114-118.

LIMA, Antônio Carlos de Souza; VIANNA, Adriana de Resende Barreto. História, Antropologia e relações de poder – algumas considerações em torno de saberes e fazeres sobre o social. In: MALERBA, Jurandir (org.). A velha história – Teoria, Método e Historiografia. Campinas: Papirus, 1996. p.127-152.

LOPES, Marcos Antônio (org). Apresentação. In: Ideias de História: tradição e inovação de Maquiavel a Herder. Londrina: Eduel, 2007. p.11-18.

LOPES, Marcos Antônio; MUNHOZ, Sidnei J. Apresentação. In: Historiadores do nosso tempo. São Paulo: Alameda, 2010. p.11-12.

MALERBA, Jurandir (org.). A velha história – Teoria, Método e Historiografia. Campinas: Papirus, 1996.

MALERBA, Jurandir. Apresentação. In: A velha história: teoria, método e historiografia. Campinas: Papirus, 1996.

MALERBA, Jurandir. Prefácio. Lições de história: o caminho da ciência no longo século XIX. Rio de Janeiro: Editora da FGV; Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2010. p.7-14.

MARTINS, Estevão de Rezende. Introdução: o renascimento da história como ciência. In: A História pensada: Teoria e método na historiografia europeia do século XIX. São Paulo: Contexto, 2010. p.7-14.

MEGIL, Allan. Teoria da história CA. 1870-1940: objetividade e antinomias da história em um tempo de crise existencial. In: MALERBA, Jurandir (org.) Lições de História: da história científica à crítica da razão metódica no limiar do século XX. Rio de Janeiro: Editora da FGV; Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 2013. p.11-37.

NADEL, George H. Philosophy of history before historicism. History and Theory, v.3, n.3, p.291-315, 1964.

PAUL, Herman. What is historical theory? In: Key issues in historical theory. New York: Routledge, 2015. p.1-16.

RAGO, Margareth. Pensar diferentemente a História, viver femininamente o presente. In: GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos et al (org.). Questões de teoria e metodologia da História. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.41-58.

REIS, José Carlos. Da “história global” à “história em migalhas”: o que se ganha, o que se perde? In: GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos et al (org.). Questões de teoria e metodologia da História. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. p.177-208.

REIS, José Carlos. Filosofia e história: antagonismo ou afinidade profunda: In:; História da “consciência histórica” ocidental contemporânea – Hegel, Nietzsche, Ricoeur. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p.23.

REIS, José Carlos. Teoria e História. Tempo histórico, história do pensamento histórico ocidental e pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2012.

RODRIGUES, José Honório. Método, teoria, historiografia e pesquisa, disciplinas universitárias. In: Teoria da História do Brasil: introdução metodológica. 3ed. São Paulo: CIA Editora Nacional, 1969. 431-456.

RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: Introdução Metodológica. 3ed. São Paulo: 1969. [Primeira edição – 1949].

RÜDIGER, Francisco Ricardo. Paradigmas do estudo da História: os modelos de compreensão da ciência histórica no pensamento contemporâneo. Porto Alegre: IEL/IGEL, 1991.

RÜDIGER, Francisco Ricardo. Paradigmas do estudo da história: os modelos de compreensão da ciência histórica no pensaamento contemporâneo. Porto Alegre: IEL/IGEL, 1991.

RÜDIGER, Francisco Ricardo. Propedêutica à Teoria da História. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 23, n. 1, p.155-159, jun. 1997.

RÜSEN, Jörn. O que é a teoria da história? In: Teoria da História – Uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora da UFPR, 2015. p.31-36.

SILVA, Maria Beatriz Nizza (org.). Teoria da História. São Paulo: Cultrix, 1976.

SILVA, Maria Beatriz Nizza. Introdução. In: Teoria da história. São Paulo: Cultrix, 1976. p.7-21.

VAINFAS, Ronaldo. Prefácio. In: LOPES, Marcos Antônio; MUNHOZ, Sidnei J. (orgs). Historiadores do nosso tempo. São Paulo: Alameda, 2010. p.7-9.

VASCONCELOS, José Antonio. Quem tem medo de teoria? A ameaça do pós-modernismo na historiografia americana. São Paulo: FAPESP; Anablume, 2005.

WEHLING, Arno. Filosofia, metodologia e teoria da história: uma delimitaçção pelas respectivas origens. In: A invenção da história: estudos sobre o historicismo. Niteroi: Editora da UFF, 1994. p.93-109

WHITE, Hayden. Metahistory: the historical imaginatio in nineteenth-century Europe. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1975.

ZHAO, Dingxin. The confucian-legalist state: a new theory of chinese history. Oxford: Oxford University Press, 2015.


Voltar para o programa de “Teoria da História (URCA)”

Programa do Curso de Teoria da História (URCA)

Objetivo

Seguindo o objetivo geral da Especialização em História do Brasil, este curso de Teoria da História tem por meta rememorar e, em alguns casos, aprofundar conhecimentos de Filosofia da História, Epistemologia da História e Metodologia da História e ampliar habilidades de investigação e escrita da História, exigidas na construção das monografias necessárias à obtenção do correspondente grau.


Calendário e conteúdo

Sexta-feira à noite (29/11/2019)

  • Avaliação diagnóstica Link
  • Definições de Teoria da História – Preleção
  • Teorias da história como campo e conjunto de proposições dependentes de situações comunicativas Link

Sábado pela manhã (30/11/2019)

  • Teorias da História em G. Hegel Link
  • Teorias da História em L. von Ranke Link

Sábado à tarde (30/11/2019)

  • Teorias da História em C. Seignobos Link
  • Teorias da História em M. Bloch Link

Domingo (31/11/2019)

  • Teorias da História em J. Rüsen Link
  • Avaliação final Link

Metodologia

  • Preleção dialogada
  • Leitura silenciosa individual
  • Leitura coletiva e discussão de textos

Recursos

  • Relatos de experiência
  • Projeção de slides
  • Textos impressos fornecidos no início das atividades.

Avaliação

  • Avaliação diagnóstica Link
  • Autoavaliação Link

Bibliografia básica (Listada ao final de cada texto indicado como leitura em sala).


Universidade Regional do Cariri (URCA)

Crato-CE

29 de novembro de 2019.

Sobre o componente curricular História na BNCC | Renato Janine Ribeiro

Renato Janine Ribeiro Imagem Wikipedia difundir a erudição docente
Renato Janine Ribeiro | Imagem: Wikipédia

A base nacional comum. Não sou mais responsável por ela, mas preciso esclarecer um fato sobre a base de História. Primeiríssimo de tudo, deixei claro como água que o texto inteiro da Base que foi divulgado NAO era um documento oficial do MEC, mas uma proposta elaborada a convite dele. Portanto, quem o quiser criticar que o faça, mas sem atribuí-lo ao MEC. Banal, isso.

Mas o fato é que o documento de História tem falhas. Tanto assim que retardei sua publicação e solicitei ao grupo que o elaborou que o refizesse. Mas eles mudaram pouca coisa. Mesmo assim, com o enfático alerta de que não era um documento oficial, acabei autorizando sua publicação.

O que eu pensava para a base comum em História era que ela tratasse da história do Brasil e do mundo, sendo que esta não se deveria limitar ao Ocidente e seus precursores, mas incluir – desde a Antiguidade – a Ásia, bem como a África e a América pré-colombiana. Primeiro de tudo, uma história não eurocêntrica.

Segundo, uma história que não se concentrasse, como era costume muito, muito tempo atrás, nos reis e grandes homens, mas tratasse de tudo o que a disciplina foi estudando nas últimas décadas – mentalidades, economia, rebeliões, cultura.

O documento entregue, porém, na sua primeira versão ignorava quase por completo o que não fosse Brasil e África. Pedi que o revissem. Pedi ao FNDE os livros didáticos mais solicitados. Examinei-os. Vi que começavam geralmente no 6.o ano do Fundamental com a Antiguidade, mas nunca se confinavam às “raízes do Ocidente” e sim iam para os outros continentes etc. etc. Não se bastavam nos reis, mas mostravam rebeliões, divergências etc. Eles me pareceram muito razoáveis.

Mas o grupo que elaborava a base não entendia assim. Não havia sequência histórica. Queriam partir do presente para ver o passado. No caso do Brasil, p ex, propunham a certa altura estudar revoluções com participação de escravos ou índios. E deixavam de lado a Inconfidência Mineira! Certamente, porque o espírito dela era bem pouco abolicionista. Solicitei expressamente que ela fosse incluída. Você pode até discordar dos inconfidentes, criticá-los, mas tem que conhecê-los.

Não havia, na proposta, uma história do mundo. Quando muito, no ensino médio, uma visão brasilcêntrico das relações com outros continentes.

Mesmo assim, disse, acabei aceitando que fosse publicada. Mas determinei que alguns dos melhores historiadores brasileiros fossem chamados para discuti-la. Um dos convidados, só para se ter ideia da grandeza dos seus nomes, é Boris Fausto. E as discussões que estão surgindo, algumas delas com críticas duras, deverão ser levadas em devida conta. Aliás, ontem mesmo se reuniu uma equipe de matemáticos para discutir essa área – incluindo, claro, um representante do IMPA. O Secretário Palácios procurou os melhores pesquisadores para essa discussão, que virá junto com todas as outras discussões.

Desculpem-me tratar de assunto que já não me compete. Mas eu o dirigi, e por tudo o que sei o Ministro Mercadante e o secretario Palácios evitarão qualquer viés ideológico neste tema e em outros.

Finalmente: na transmissão do cargo, ontem, deixei claro que pretendia, da base de História, que desse um ensinamento crítico, “mas sem descambar para a ideologia”. É direito de todo jovem saber o trajeto histórico do mundo. Precisa aprender sobre a Renascença, as revoluções, muita coisa. Mas não há uma interpretação única de nenhum desses fenômenos. E é esta diversidade que a educação democrática e de qualidade deve garantir.

Disponível em<https://www.facebook.com/renato.janineribeiro/posts/1170416659639795> Capturado em 14 abr. 2018.

Base Nacional Curricular Comum – Caminhos percorridos, desafios a enfrentar [Excertos] | Margarida Oliveira e Itamar Freitas

Claudia Ricci Imagem Pensando a Educacao difundir a erudição docente
Claudia Ricci | Imagem: Pensando a Educação

[…] Em julho de 2015, no Simpósio Nacional da ANPUH, realizado em Florianópolis, a comunidade de historiadores foi impactada pela notícia da confecção de duas bases nacionais curriculares, na sua parte comum. Uma era efetivada pelo MEC e, outra, pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. Em ambas, atuavam filiados e militantes da Associação Nacional de História ANPUH-BR. A iniciativa da SAE, no que diz respeito à área de história, era coordenada pela professora Circe Bittencourt (PUC-SP). A BNCC do MEC estava sob a liderança da professora Claudia Ricci (UFMG). Havia, agora, dois partidos da história para o mesmo trabalho, envolvendo interesses de Minas Gerais e de São Paulo.

A inusitada notícia da participação de historiadores da ANPUH na construção de duas prescrições nacionais dentro do mesmo governo foi debatida em mesa redonda, intitulada “Ensino de História e currículos escolares: perspectivas e desafios contemporâneos”[1] e causou ainda mais perplexidade na plateia, porque a direção da ANPUH até então não havia se pronunciado sobre o tema. Nem mesmo a grande maioria dos membros do Grupo de Trabalho “Ensino de História” da ANPUH nacional, tinha clareza sobre a presença de historiadores nas iniciativas da SAE e do MEC.

Da primeira proposta de BNCC pouco se sabe, além do fato de ter gerado um documento, hoje, em mãos da própria Circe Bittencourt e do seu parceiro na empreitada, o professor Paulo Melo (UFPR), o partido que sucumbiu junto à extinção da SAE. Da proposta do MEC – do partido que ganhou “mas não levou” –, existem centenas de comentários formais, gerados em diversos fóruns de diferentes áreas da história e fora dela. É provável que, entre os mais densos inventários, estão o sitio do Laboratório do Ensino de História do Recôncavo da Bahia (https://www3.ufrb.edu.br/lehrb) e os portais da ANPUH (http://site.anpuh.org/) e da BNCC (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/) – que registrou passo a passo as operações do MEC, desde agosto de 2015[2]. Neste mês, em Belo Horizonte, foram discutidos, entre outros temas, os modelos produzidos por centenas de propostas curriculares municipais e estaduais, sob a coordenação dos professores (Minas Gerais, 2015).

Minas, portanto, estava no comando da organização da BNCC não apenas para o componente história. Detinha os postos de Secretário de Educação Básica do MEC, professor Manuel Palacios e da Coordenadora dos trabalhos de redação da BNCC – professora Hilda Micarello. A equipe da área de história, como as demais, foi constituída por indicações do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME). Sob o critério de reunir professores de história e também gestores de secretarias estaduais e municipais da educação, foram convidados os docentes Tatiana Garíglio Clark Xavier (MG/Consed), Maria da Guia de Oliveira Medeiros (RN/Undime), Leila Soares de Souza Perussolo (RR/Undime), Marinelma Costa Meireles (MA/Consed), Rilma Suely de Souza Melo (PB/Undime), Reginaldo Gomes da Silva (AP/Consed) Antônio Daniel Marinho Ribeiro (AL/Consed). Quanto aos professores formadores, a própria Claudia Ricci (2015, p.289-90) detalha os procedimentos de escolha:

[…] Na equipe de História, já estavam os especialistas, professores de universidade, professor Giovani Jose da Silva da Universidade Federal do Amapá e o professor Leandro Mendes Rocha da Universidade Federal de Goiás. Como assessora, tive a prerrogativa de compor a equipe convidando professores universitários, pesquisadores da área. Fiz vários convites – alguns aceitos, outros não. Convidei os professores Marcos Silva, da USP, pesquisador de Ensino de História e assessor da Proposta Curricular da CENP/SP na década de oitenta, e a professora Sandra Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina, pesquisadora do campo Ensino de História, especialmente dos anos iniciais do ensino fundamental […]. A professora Sandra, depois, decidiu não permanecer. Na época, eu estava conversando muito com o professor Paulo Melo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, porque a gente tinha acabado de organizar o dossiê sobre formação de professores de História e pedi ajuda na indicação de pesquisadores. Foi quando ele me disse que estava, junto com a professora Circe Bittencourt (USP), escrevendo a Base Curricular para o secretário Mangabeira Unger da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

Entre os finais dos meses de julho e setembro de 2015, essa equipe trabalhou guiada por alguns objetivos defendidos pela maioria e, como ressaltamos na introdução, em alguma medida, contraditórios. O grupo pensava a BNCC como prescrição da LDB (não apenas do PNE) que poderia estabelecer direitos básicos de aprendizagem para todos, em uma sociedade há muito excludente. Ela viria somar-se às recentes iniciativas de acesso ao livro, merenda, fardamento, transporte.

A equipe também defendia a prescrição de conteúdos reconhecíveis pelo aluno como úteis em sua vida prática, fundamentados na produção científica, mas a ela não redutível, posto que a comunidade escolar também produzia saberes. A parte comum da Base deveria ser suficientemente ampla para contemplar a diversidade nacional e, simultaneamente, garantir a equidade de direitos. Essa mesma parte deveria pôr um freio à expansão ilimitada de conteúdo substantivo e problematizar a consolidada mística colonizadora no currículo – daremos exemplos adiante. Esses princípios identificavam os membros de um partido. Mas, no interior da equipe, havia várias divisões, em grande parte marcadas por preferências em termos de conteúdo substantivo – maior ou menor inserção da experiência da Oceania, das questões indígenas na América Latina, do tempo presente etc. – e, em menor grau, a respeito de ideias de progressão, que implicavam noções divergentes sobre as finalidades dos ensinos fundamental e médio.

A composição plural, em termos de experiências, a natureza contraditória dos objetivos para o ensino de história e o exercício de construção coletiva – exposição de ideias, debate e voto – não oferecia nenhuma garantia de que o processo seria harmonioso. E não foi. A primeira versão estava impregnada de incongruências, como ocorre, em geral, em processos desse tipo. Além disso, a ausência de um projeto-piloto – uma tarefa executável pela comissão central –, estabelecendo um conjunto mínimo de categorias demonstrou-se um obstáculo desnecessário. É possível que a comissão central tenha pensado – como a equipe de história pensou – em valorizar o processo de construção coletiva e deixar surgir, do debate, as definições sobre os sentidos de “base curricular” (prescritiva ou sugestiva), a sintaxe e a quantidade dos objetos de aprendizagem, a ideia de progressão da aprendizagem e as conexões entre as áreas do saber, por exemplo.

Se foi essa a intenção, tal iniciativa revelou-se desastrosa, pois esse tipo de decisão é praticamente impossível de ser concebida em reuniões com mais de 100 especialistas. A própria equipe de história achou por bem elencar essas e outras categorias em um projeto estruturante de BNCC para depois atuar na sua especialidade. Assim mesmo, o documento foi a público com muitas imperfeições, algumas delas, inclusive, de autoria não reconhecida pelo grupo – a integração da “economia por ciclos”, por exemplo. Contudo, importava o processo e a consequente resposta dos professores, alunos e pais de alunos, principalmente, que forneceriam à equipe os limites de eventuais mudanças promovidas pela segunda versão da BNCC, fundamentadas em pesquisas recentes sobre ensino de história.

Surpreendentemente, a primeira versão de história foi censurada de imediato, não pelos principais futuros usuários, mas pelo Ministro da Educação, professor Renato Janine Ribeiro (USP). Ele estranhou “a ausência de conteúdos canônicos”. Dialogando com a história que ele e todos nós aprendemos na escola, faltavam as nossas chamadas origens greco-romanas e a conformação do nosso modo de pensar com a sociedade medieval e o cristianismo (Ribeiro, 2015). A proposta estaria muito “vermelha” naquele momento em que o Congresso ameaçava a Presidente Dilma Roussef com a possibilidade de abertura do pedido de impeachment. Por isso, a história foi a única ausente na primeira versão da BNCC (15/09/2015), gerando uma série de boatos, como: “vão extinguir a história dos currículos no Brasil”.

O ministro estava equivocado. Esses temas estavam presentes na proposta, somente não obedeciam à sequência linear que a escola brasileira popularizou. A Alemanha, Itália, Espanha, França e Inglaterra, por exemplo, tiveram, e ainda têm, motivos de sobra para ampliar retroativamente o seu estoque de passado e buscar seus mitos fundadores na língua, direito, religião, por exemplo, dos povos gregos, romanos, celtas, germanos, francos entre outros. Essa é uma posição fundamentada em pesquisa acadêmica. O Brasil não. A sequência mantida desde o início do século XIX, nos cursos secundários, e consolidada com a nacionalização do ensino primário deveria ser repensada naquele momento. Em síntese, a equipe desautorizava a abordagem da história do Brasil como resultado – exclusivo – dessa sequência porque reconhecia a diversidade brasileira como resultante da inter-relação de culturas e também como dominação de umas sobre as outras. Seus agentes eram sujeitos criadores de passado, daí a opção de partir sempre da sociedade brasileira, como ela se vê e se relaciona com outras sociedades, ampliando a problematização dessas relações na medida em que os alunos avançassem para o ensino fundamental II e ensino médio. Essa estratégia poderia auxiliar na formação de pessoas que conhecessem os interesses e as contradições que constituem esses sistemas de vida chamados de “sociedade brasileira” e “mundo globalizado”.

As explicações foram fornecidas ao ministro que, ainda assim, solicitou mudanças na proposta. A equipe de História, por sua vez, entendeu que deveria respeitar o processo democrático, os vários estudos que resultaram da versão, as discussões e as negociações efetivados e nada modificar na primeira versão do documento. Ao sair do ministério, o professor Janine Ribeiro tornou públicas as suas posições e também os conhecimentos sobre o que deveria ser uma proposta curricular para o ensino de história:

[…] O que eu pensava para a base comum em História era que ela tratasse da história do Brasil e do mundo sendo que esta não se deveria limitar ao Ocidente e seus precursores, mas incluir, desde a Antiguidade – a Ásia, bem como a África e a América pré-colombiana. Primeiro de tudo, uma história não eurocêntrica. […] Não havia, na proposta, uma história do mundo. Quando muito, no ensino médio, uma visão brasilcêntrico das relações com outros continentes.

Mesmo assim, disse, acabei aceitando que fosse publicada. Mas determinei que alguns dos melhores historiadores brasileiros fossem chamados para discuti-la. Um dos convidados só para se ter uma ideia da grandeza dos seus nomes, é Boris Fausto. E as discussões que estão surgindo, algumas delas com críticas duras, deverão ser levadas em devida conta. […] (Ribeiro, 2015).

Em 23/10/2015, a primeira versão da BNCC de História foi publicada. Aproximadamente trinta mil sugestões chegaram ao MEC. Todas foram lidas, analisadas e justificadas a sua inserção ou o seu descarte – em parte ou no todo. Além da audiência pública pela internet, reuniões com entidades, sindicatos, instituições acadêmicas foram promovidas com a participação dos membros da equipe em vários estados. O MEC também solicitou pareceres a professores universitários, pesquisadores do ensino de História e em outras áreas, inclusive, História Antiga e Medieval. Ao mesmo tempo, dezenas de cartas, manifestos, moções foram redigidas por associações, fóruns e também por iniciativa individual de historiadores, sociólogos, jornalistas, entre outros. Uma nota resumida – mas que dá ideia dos diferentes pontos de vista sobre o documento – foi publicada pelo Portal G1, destacando as divergências entre os historiadores e a posição da ANPUH-SP:

[…] De acordo com a professora Circe Maria Fernandes Bittencourt, presidente da Associação Nacional de História – Seção São Paulo (ANPUH-SP), grupos regionais da entidade tem se reunido para analisar a BNCC e devem fechar propostas em um segundo Circe, o grupo está focado em contribuir com a sua reestruturação e não propriamente com seus eixos. “A gente entende que ela está mal estruturada. Não estamos combatendo os princípios”, afirma Circe Bittencourt.

Apesar das polêmicas, o momento é de otimismo. “É um momento oportuno, queremos que o ensino de história tenha uma mudança”, afirma Circe.

Segundo ela, o diálogo com o MEC tem sido produtivo e recentemente a pasta aceitou a inclusão de representantes da ANPUH na equipe responsável por redigir a proposta de história para a BNCC. “Esperamos que haja uma aceitação”, afirma Circe. (G1, 2016).

Diante da mobilização em torno da BNCC, a ANPUH-BR anunciou em nota que a “entidade não foi convidada formalmente pelo MEC para integrar os debates em andamento, nem instada a se manifestar sobre o texto proposto para o ensino de História”. No documento, solicitou que o secretário de Educação Básica, Manoel Palacios, ampliasse “o prazo” para a discussão da primeira versão e o grupo de “especialistas visando incluir as diferentes subáreas da História.” (ANPUH, 04/12/2015).

A ampliação do prazo foi negada pelo secretário em 17/02/2016, mas a ampliação do número de especialistas, indicados pela ANPUH foi aceita sem reservas. Ocorre que os professores indicados não quiseram se incorporar à equipe. Alegaram prazo exíguo – uma vez que deveriam iniciar naquele mesmo dia –, desconhecimento de teoria pedagógica, discordâncias conceituais e, o mais irônico, ilegitimidade como representantes da ANPUH.

Em dois dias de reuniões com a equipe da BNCC, os indicados pela AHPUH tomaram ciência das intenções, obstáculos e procedimentos futuros –as respostas às milhares de sugestões colhidas no portal, inclusive – e as ideias gerais do que seria a segunda versão. Os professores também redigiram (com a equipe da BNCC) uma “carta de intensões” na qual o MEC se comprometia com metas inerentemente contraditórias e substantivamente lacunares: 1) não reforçar “as dicotomias tradicionais entre pesquisadores de Ensino de História e de outras áreas da historiografia”; 2) ressaltar “a temporalidade como eixo central do conhecimento histórico, não se resumindo à cronologia, periodização e linearidade”; 3) manter “a ênfase em História do Brasil”, mas evitar “que outras experiências e temporalidades [fossem] estudadas somente pela perspectiva nacional brasileira”; 4) afirmar “a necessidade dos estudos da História Europeia, inclusive quando [fossem] necessárias as conexões para o entendimento da História do Brasil, assegurando a manutenção da crítica ao eurocentrismo”; 5) contemplar “os conteúdos de História Antiga e Medieval”; 6) contemplar “as conexões e ou confrontos inter/entre os espaços europeus e americanos”; 7) contemplar os “elementos formadores da contemporaneidade”; e 8) expressar “uma revisão do tema da cidadania com base nas críticas e sugestões recebidas”.

Infelizmente, nesse documento estava sintetizada a participação direta da maior e mais representativa entidade de profissionais de História do Brasil. Listadas as ações de cada membro da equipe que assinou a primeira versão da base comum de história, bem como as ações junto à entidade, é fácil constatar a intimidade com o tema da prescrição curricular e o nível de engajamento político junto à referida instituição. Contudo, esses elementos não foram suficientes para que a diretoria da ANPUH-BR ou o GT de Ensino de História considerassem que assim estavam representados – indicando, por sua vez, representantes de áreas específicas (Antiga, América, Brasil) que representaram a instituição recusando a legitimidade reivindicada pela ANPUH-BR e considerada pelo MEC. Ambos os partidos sentiram-se vitoriosos: o da SEB, que concedeu espaço à ANPUH-BR, e a ANPUH-BR que emparedou o MEC, mas não se envolveu na construção da nova versão da BNCC.

O prazo final estabelecido para a divulgação da segunda versão da parte comum da Base era junho de 2016. A equipe de história respondeu às tarefas solicitadas pela comissão central. Os ataques ao texto escrito como primeira proposta continuaram, mas as respostas eram fornecidas pela professora Claudia Ricci. Essa foi a maneira que a equipe encontrou para não polarizar a discussão e receber o maior número de contribuições possíveis.

As críticas radicais e de conteúdo conservador, embora fossem grosseiras, não afligiam a equipe que reconhecia os posicionamentos autoritários. O que os incomodava eram os ataques do campo das forças ditas progressistas e de acadêmicos que, a despeito de tratarem de modo preconceituoso os sujeitos atuantes nas escolas da educação básica, arregimentaram todas as forças da forma que acharam conveniente para uma defesa corporativista – dos domínios de pesquisa histórica, não necessariamente ocupadas com a lógica e responsável função social da história na universidade pública que é formar os professores que trabalharão no ensino de história da escolarização básica.

Um possível fim desse capítulo da BNCC foi a demissão de parte da equipe. Pressionada, principalmente, pela ANPUH-BR e demais instituições satélites, por ela não dominadas, a Secretaria da Educação Básica encomendou outro projeto de prescrição para a história a duas renomadas professoras da USP, protegidas pelo sigilo do Secretário de Educação Básica e a Coordenadora dos trabalhos da BNCC. A equipe não aceitou referendar a proposta. A SEB, então, solicitou a dois professores de Minas Gerais a confecção de outro projeto de BNCC para história e o apresentou à equipe de história, para que a mesma a avaliasse. A equipe concluiu que a proposta retroagia às prescrições do ensino de história do início dos anos 1990 e estruturava-se a partir de livros didáticos, invertendo a lógica do processo.

Como última tentativa de produzir uma proposta de base (em segunda versão) alinhada aos resultados mais consensuais da pesquisa sobre ensino de história (inclusão, ampliação de direitos, balizada pelas possibilidades de ruptura fornecidas pelas contribuições ao portal), a coordenadora da equipe reuniu pesquisadores do ensino de história e representante da SEB para relatar o estado da segunda versão. Na mesma reunião, informou sobre as posições da ANPUH-BR e da SEB: não demitir a equipe de história e convencê-la a assinar outros dois projetos. Horas depois da reunião, os pesquisadores convidados remeteram o seguinte comunicado à SEB sem qualquer referência aos jogos internos que demonstravam a intervenção da direção nacional da ANPUH e os mais altos escalões da SEB.

Prezados,

Em função de nossa participação na reunião do dia 12 de abril último, em Brasília, para apresentação da segunda versão da BNCC, componente curricular História, e atendendo à necessidade de nosso parecer sobre o documento então apresentado, consideramos, em conjunto, que:

 – o documento, mesmo que entendido como uma versão preliminar, continua com uma série de problemas, a maior parte deles já exposta anteriormente em nossos pareceres.

 – a manutenção das linhas centrais do documento anterior não foram considerados na produção do novo documento.

 – essa segunda versão apresentada, ou mesmo sua versão preliminar – incluindo as mudanças vistas como inaceitáveis para o ensino médio –foi considerada ainda não adequada à proposta curricular para uma base nacional curricular de História.

Atenciosamente,

Helenice Rocha  profa. Adjunta da UERJ/UFP

Marcelo Magalhães -Prof. Associado da UNIRIO

Martha Abreu – profa. Titular da UFF.

Em 03/05/2016, a segunda versão da BNCC-História foi publicada sem as assinaturas de parte da equipe – incluindo a sua coordenadora. No anúncio oficial, coberto pela TVNBR (2016), entre as três características destacadas do documento pelo novo ministro da Educação, Aloísio Mercadante, uma tratava de história, denunciando, outra vez, a iniciativa de harmonizar Estado e corporações de historiadores: “valorizar a história clássica, considerando as contribuições dos povos indígenas e africanos”. […]

[1] Sob a coordenação do professor Mauro Coelho (UFPA), palestraram: Ana Maria Monteiro (UFRJ), Circe Bitencourt (USP/PUC/SP) e Giovani José da Silva (UNIFAP).

[2] Ressaltamos que, desde janeiro de 2015, uma equipe já trabalhava na estrutura da BNCC do MEC cujo representante da área de história era o professor Carlos Augusto Lima Ferreira (UEFS) (Santos e Costa, 2006, p.288-9).

Referências

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de ; FREITAS, Itamar. Base Nacional Curricular Comum: caminhos percorridos, desafios a enfrentar. In: CAVALCANTI, E.; ARAÚJO, R. I. S.; CABRAL, G. G.; OLIVEIRA, M. M. D.. (Org.). História: demandas e desafios do tempo presente. Produção acadêmica, ensino de História e formação docente. 1ed.São Luís: Editora da UFPE; Editora da UFMA, 2018, v. 1, p. 49-63.