Fontes históricas: significados, tipificações e usos

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Source, place where water flows, source | Imagem: IF/IA-Midjourney (2023)

 

Nascente, lugar de onde brota a água, fonte:[1] esse é sentido etimológico comum às línguas alemã, francesa, italiana, espanhola e portuguesa para a palavra “fonte” e, por esse motivo, vamos empregá-lo em nossas atividades a partir de hoje.

No período 1860-1930, tempo da transnacionalização de algo chamado profissionalidade do historiador, o método histórico – conjunto de princípios e práticas que medeiam a investigação sobre o passado – estava assentado sobre quatro elementos típico-ideais: pergunta histórica, heurística, análise e síntese.

A pergunta histórica, obviamente, anunciava uma questão formulada pelo historiador. A análise era a operação responsável pela crítica das fontes, crítica e estabelecimentos dos fatos.

A síntese, às vezes tomava a forma de simples narrativa. Em alguns autores limitava-se ao agrupamento de fatos por semelhança (tempo, espaço, nível de experiência humana, duração etc.) e a sua respectiva ordenação.

Quanto à heurística, era entendida como arte ou o conjunto de atividades envolvidas na busca e organização das fontes.  Com esse último elemento todos os manuais propedêuticos consultados concordaram.[2] Segundo seus autores – indivíduos corresponsáveis pela construção de uma comunidade internacional de historiadores –, quase[3] todo juízo sobre o passado assentava-se em fontes.

Significados

Autores que escreveram em língua alemã empregaram fontes [Quellen] ou material histórico [historiches Material].[4] Francófonos usaram materiais históricos [matériaux historiques], testemunho [témoingnage], documento [document] e fonte [source].

Os estadunidenses foram mais econômicos que os franceses: usaram fontes [source] e material histórico [historical material], mas não menos que os ingleses e os italianos, que reconheceram, respectivamente, evidência [evidence] e documento [documentí] como étimos principais.

Documenti” segue o curso das águas germano-francófonas. Quanto ao termo evidência o sentido é destoante: significa dar-se a ver. Assim, o que está em jogo, ao referir-se a evidencia, são os indícios e sinais.[5]

Os últimos autores que consultamos, os que es escreveram em português e espanhol, também variaram pouco. Eles grafaram fontes [fuentes], material histórico [material histórico] e testemunha ao designarem as “coisas” a partir das quais apoiamo-nos para inferir, concluir, explicar ou simplesmente descrever o acontecido.

Tipificações

Se os sentidos de fonte foram convergentes – fontes/nascente etc. –, as classificações destoaram.

Sabemos que os manuais de métodos foram publicados simultaneamente em vários lugares do mundo. Contudo, os seus públicos – futuros professores de história do ensino secundário, paleógrafos ou professores de faculdades de filosofia –, bem como os objetos de pesquisa dos seus autores – a vida de Alexandre “O Grande”, a história da civilização universal, as ideias que mobilizaram a Revolução Francesa, por exemplo – resultaram na ênfase e, até, da especialização de alguns desses autores em determinado tipo de fonte: biografias, sínteses de histórias nacionais, relatos sobre as guerras greco-persas etc. Consequentemente, as preferências e escolhas em termos de fonte e seus respectivos tratamentos variaram bastante, gerando numerosos esquemas de classificação.

Os critérios dominantes, divulgados desde meados do século XIX, privilegiaram o suporte do testemunho e a intencionalidade da testemunha. Esses parâmetros foram apresentados de modo isolado ou combinado.

Alemães, em geral, dividiram as fontes em restos [Überreste] e monumentos [Denkmäler] ou restos e tradição [Berichte], produzidos com ou sem intenção de serem lembrados pelos pósteros.

Idêntica divisão – um recibo (resto) ou uma moeda (monumento) – foi ressignificada pelos franceses sob os tipos traço material [trace matérielle] e traço psicológico [traces psychologique] ou objeto de observação direta (uma espada) e objeto de observação indireta (um assassinato).

Aí estão os mais empregados modos de tipificar fontes. Mas vamos encontrar tipos que obedecem, novamente, repetimos, às demandas de cada pesquisador e aos modos pelos quais esses pesquisadores entendem o ato de conhecer – mais ou menos estético, racional, ético, lógico e psicológico e assim por diante.

Um jesuíta que escreve a história da igreja, por exemplo, pode classificar as fontes como públicas (sob a autoridade do papado) ou privadas (sob a corrupção do pecador). Um historiador da guerra pode tipificá-las como fontes vistas (iconográficas) e ouvidas (orais). Outro pode, ainda, dividi-las em testemunho in loco, visto, sentido e ouvido no calor da hora (fontes primárias), testemunho gerado a partir de testemunhos sobre o visto, sentido e ouvido no calor da hora (fontes secundárias) ou testemunho resultante da interpretação de cronistas e historiadores (fontes terciárias).

Aqui chegamos a um limite tênue. Artefatos construídos a partir da interpretação de depoimentos coetâneos podem ser considerados fontes – é o caso das “autoridades” sobre guerras do mundo antigo – ou serem alçados à categoria de literatura (bibliografia) especializada – as obras de síntese sobre a história de determinado país ou os dicionários biobibliográficos, por exemplo. Tomar a decisão de incluir uma ou outra como fonte ou literatura, portanto, vai depender do ponto de vista e, obviamente, do objeto da investigação.

Evidentemente, o grande salto da pesquisa histórica no século XIX foi a atitude de depositar “autoridade” na refutabilidade do testemunho e de forma comparada, ao contrário de atribuir absoluta confiança à palavra autorizada de um cronista-historiador canônico. O pressuposto, porém, não mudou: sempre se deve concluir a partir de algo exterior ao à fala do historiador.

Usos

Acima afirmamos que as fontes são “coisas” a partir das quais nos apoiamos para inferir, concluir, explicar ou simplesmente descrever o acontecido. Esse princípio foi admitido como elemento de profissionalidade para diferenciar narrativas sobre acontecimentos intencionalmente inventados de narrativas sobre acontecimentos creditados como realmente existidos.

Esta explicação, contudo, é superficial e apenas dá conta de uma estratégia de inserção no mundo dito científico do século XIX. O ato de empregar fontes está relacionado à vida prática – que excede a preocupação acadêmica: demonstrar, provar, dar fé, enfim, fazer crer.

As fontes são instrumentos de convencimento e de persuasão, ou seja, são “coisas” que empregamos para modificar ou confirmar o pensamento de alguém e até levar esse alguém a agir da maneira como nós intencionamos.[6]

Se estivermos predispostos a acreditar que a existência dos humanos foi marcada pela capacidade de simbolizar e, consequentemente, de atribuir valor, diferenciar-se, defender pontos de vista, persuadir e convencer – independentemente do tempo, lugar e das circunstâncias nas quais viveram – estaremos, certamente, convictos de que a capacidade de reunir fontes e de interrogar sobre as fontes envolvidas nos atos comunicativos deve ser estimulada e expandida desde a tenra idade. Ela é um pressuposto da convivência democrática.

Claro que algumas liturgias religiosas, a oferta de grandes somas de dinheiro obtido ilegalmente ou mesmo a presença de um grupo de pessoas apontando armas para as nossas cabeças podem ser muito mais eficazes na tentativa de modificação das nossas vontades e ações. Mas o convencimento e a persuasão mediante fontes históricas podem abalar os mais fanáticos, autoritários e falaciosos discursos com os quais convivemos cotidianamente.[7]

É por isso, entre outras razões, que vários especialistas no ensino de história orientam o permanente trabalho de busca e de avaliação das fontes dos discursos emitidos por nossos interlocutores, entre os quais estão: os clássicos autores de livros didáticos de história, os diretores dos filmes históricos, os bloggers desmemoriados os detentores de mandato que costumam dizer “a história provará” e, principalmente, os âncoras dos telejornais que se arvoram a contar a história do tempo presente: “hoje foi um dia histórico para o atletismo brasileiro!”

O hábito de avaliar a pertinência da informação, a validade dos argumentos e a possibilidade de modificar ou consolidar as nossas posições depende diretamente da sistemática interrogação do que nos chega aos sentidos.

Assim, afirmar a partir de fontes – um dos primeiros princípios do método histórico –, codificado pelos manuais de propedêuticos à profissionalidade historiadora – pode colaborar na tentativa de convencer a alguns colegas e alunos de que não há indivíduo desinteressado, sociedade homogênea e Estado neutro.

É a partir da crítica e do debate que podemos, por exemplo, concluir que não pode haver, legalmente, algo como uma “escola sem partido”.[8] De onde os defensores dessa ideia retiram os argumentos para propagandear tal iniciativa? Quais foram as suas fontes, o que estão querendo dizer com seus testemunhos e por que afirmam que é possível uma “escola sem partido”? Vamos investigar?

Às fontes, portanto!!![9]

Notas

[1] Fuente – Lugar donde brota una corriente de agua / Principio u origen de uma cosa (SENAS, 2001 p.597); Source – Something or someone that causes or produces something, or is the origin of it (Cambridge, 2000, p.826); Quelle – chafariz, nascente, fonte /fonte, origem. (Dicionário…, 2012, p.540, v.1; p. 812v.2).

[2] ADAMS (1884), ALTAMIRA (1895), BAITANI (1904), BAUER (1926), BERNHEIM (1907), BERR (1911), BOURDEAU (1888), DROYSEN (1882), DUDEZERT e BRÉHIER (1908), FIGUEIREDO (1920), FLING (1889), FONSECA (1953), FREEMAN (1886), ISOLDI (1932), LACOMBE (1884), LANGLOIS e SEIGNOBOS (1898), MARSELLI (1873), MEINSTER (1913), MOELLER (1887), MONOD (1909), MORTET e MORTET (1894), SEIGNOBOS (1901), SMEDT (1883), TARDIF (1883) e VINCENT (1911).

[3] Dizemos “quase todos” porque podemos preencher algumas lacunas por meio de hipóteses em vários níveis de possibilidade e probabilidade.

[4] Droysen (1888, p.14) é o único entre os quatro germanófonos que reserva sentido específico para Quellen: material intencionalmente produzido para servir de lembrança  “[was von derselben in die Vorstellungen der Menschen übergegangen und zum Zweck der Erinnerung überliefert ist (Quellen)]”. Nos demais, essa característica é apenas uma possibilidade, ou seja, pode haver fonte não intencional.

[5] Em língua inglesa, evidence é empregado em situações jurídicas, judiciais e médicas como “sinal, “marca”, “prova”, e “testemunho”. Algo diferente do emprego cartesiano – “intuição, visão completa , que fornece a certeza de um conhecimento claro e distinto” – e também do uso aristotélico – visão verdadeira (HARTOOG, 2013, p.12-13).

[6] Há farta literatura sobre a temática. Sugerimos, entretanto, os clássicos trabalhos sobre retórica que convergem sobre a função desta: PERELMAN (2014, p.20-21) e ARISTÓTELES (2013, p.44-45).

[7] Aqui, evidentemente, nos afastamos da crítica simplista que acusa ingênuos noviços historiadores brasileiros, da segunda metade do século passado, supostamente centrados em dois paradigmas herdados do século XIX: “a História como a ciência da reconstituição do passado e o documento impresso e/ou manuscrito como a fonte fidedigna, inquestionável, das informações obtidas.” (SAMARA; TUPY, 2007, p.17). Um bom antídoto a essa má vontade com o século XIX está no já clássico “História e análise de textos”: “Há historiadores que crêem ser a atitude hermenêutica – de que se fala tanto hoje em dia – algo recente. Ledo engano! Já o venerável manual de Langlois e Signobos, que data dos últimos anos do século XIX, criticava os que liam os textos ‘com a preocupação de neles encontrar informações diretas, sem o cuidado de recriar mentalmente as operações que se deveriam ter processado no espírito do autor’”. (CARDOSO; VAINFAS, 1977, p.375).

[8] Escola Sem Partido – por uma lei contra o abuso da liberdade de ensinar. Disponível em: http://www.programaescolasempartido.org/. Capturado em 18 ago. 2016.

[9] Referências: ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: EDIPRO, 2011; HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica, 2013; CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. História e análise de textos. In: Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p.375-399. PERELMAN, Chaïm. Tratado da argumentação: a nova retórica. 3ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. SAMARA, Eni de Mesquita; tupy, Ismênia S. Silveira T. História e documento e metodologia de pesquisa. 2ed. Belo Horizonte, Autêntica, 2010.


Para citar este texto

FREITAS, Itamar. As fontes históricas e os seus usos. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 09 maio 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/a-cursos/as-fontes-historicas-e-os-seus-usos/>.

El oficio del historiador: Reflexiones metodológicas en torno a las fuentes | Yobenj Chicangana-Bayona, María Cristina Pérez Pérez e Ana María Rodríguez Sierra

Yobenj Chicangana Bayona fontes históricas
Yobenj Chicangana-Bayona | Foto: Museo Colonial

El oficio del historiador fontes históricasEl oficio del historiador. Reflexiones metodológicas en torno a las fuentes es un volumen colectivo en donde se reúnen textos que abordan diferentes temáticas y periodos, convocados por la misma premisa: reflexionar sobre las implicaciones, potencialidades y limitaciones del uso de fuentes primarias de diverso tipo en la investigación histórica. Se trata de una obra de corte metodológico e historiográfi­co, que sin duda aportará a la discusión sobre la práctica de la disciplina histórica en Colombia, en la línea de otros trabajos aparecidos recientemente.[1]

En la introducción, las editoras Yobenj Chicangana-Bayona,[2] María Cristina Pérez Pérez [3] y Ana María Rodríguez Sierra [4] llaman la atención sobre la necesidad e importancia de reflexionar pausadamente en torno a la materia prima de nuestro trabajo: las fuentes, ya que muchas veces las presuponemos y naturalizamos sin cuestionarlas, así como a menudo sucede con nuestras decisiones metodológicas. De allí la relevancia de tener presentes los desafíos, las dificultades, los cuidados, las maneras de búsqueda, selección y organización que implica el trabajo documental en la investigación histórica. Su propuesta es, entonces, presentar una compilación de experiencias de investigación a partir de las cuales los autores desarrollan reflexiones derivadas de su trabajo empírico con diversos tipos de archivos y documentos. “Son once artículos en los que se reflexiona sobre la importancia de las fuentes para el oficio del historiador, por medio del análisis del potencial significativo de estas y su tratamiento metodológico en el estudio de casos particulares” (p. x). Leia Mais

Diálogos Makii de Francisco Alves de Souza: manuscrito de uma congregação católica de africanos Mina, 1786 | Mariza de Carvalho Soares

A publicação de fontes históricas não é algo muito comum no mercado editorial brasileiro. Neste sentido, é mais do que bem-vinda esta narrativa sobre uma congregação religiosa católica formada por africanos que originalmente vieram para o Brasil escravizados do Golfo do Benim (atual Togo, Benim e Nigéria). Este documento, guardado na seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, foi apresentado ao público através do trabalho de Mariza de Carvalho Soares, uma das mais destacadas africanistas em atividade no Brasil. Partes dele tinham sido exploradas em trabalhos anteriores da pesquisadora, mas somente agora uma edição crítica do documento, com notas explicativas, veio a lume.

Antes deste livro, a autora já havia publicado Devotos da cor, obra que trata da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia no Rio de Janeiro durante o século XVIII (SOARES, 2000). Ademais, ela também organizou um livro sobre a diáspora da Costa da Mina para o Rio de Janeiro (SOARES, 2007). Em outras palavras, é uma conhecedora desta região africana e da diáspora no Brasil dos povos desta área (conhecida pelos linguistas como “área dos gbe-falantes”). A iniciativa contou com o apoio da Chão, editora nova no mercado e que já tinha publicado documentos sobre Jovita Feitosa, uma voluntária para a Guerra do Paraguai, com comentários de José Murilo de Carvalho (CARVALHO, 2019). Leia Mais

Le fonti della storia tra ricerca e didattica – BORGHI (I-DCSGH)

BORGHI, B. Le fonti della storia tra ricerca e didattica. Bolonia: Pátron, 2009. Resenha de: BELLATTI, Ilaria. Íber – Didáctica de las Ciencias Sociales, Geografía e Historia, n.73, p.112-114, abr., 2013.

La doctora Beatrice Borghi es investigadora de historia medieval y docente en la facultad de ciencia de la educación de la Universidad de Bolonia. Desde el 2003 se encarga de coordinar la Festa della Storia, iniciativa dirigida a promover eventos y manifestaciones ciudadanas para la puesta en común del patrimonio cultural e histórico de la ciudad de Bolonia. Autora de numerosos libros y ensayos, Le fonti della storia tra ricerca e didattica, aún no traducido al español, es un estudio fruto de la actividad académica y de la experiencia docente adquirida tras muchos años dedicados a la formación inicial y permanente de profesorado de la escuela primaria.

Este estudio pretende un diálogo entre investigación científica y didáctica. Va dirigido a los maestros de primaria que buscan alternativas didácticas a metodologías obsoletas o que necesitan soluciones prácticas a los nuevos retos de la escuela activa. Es así que la doctora Borghi nos adentra en los mecanismos más eficaces para la elaboración de estrategias concretas que resuelvan, de forma práctica, las aspiraciones pedagógicas actuales.

El libro consta de introducción y cinco capítulos. Comienza con una serie de consideraciones generales sobre la importancia de las fuentes en el trabajo del historiador, destacando el papel que juega el patrimonio, y concluye con un decálogo sobre cómo tratarlas didácticamente.

Evidencia su potencial formativo en la convicción de que enseñar a pensar históricamente permite obtener mejores resultados en el aprendizaje del alumnado. Para ejemplificar los esquemas propuestos, comparte con el lector las experiencias prácticas realizadas en una escuela de primaria.

En el capítulo de introducción el doctor Rolando Dondarini, también profesor de la Universidad de Bolonia, ubica el discurso teórico de la autora sobre el uso de las fuentes en la enseñanza de la historia en el debate epistemológico actual. El trabajo de la doctora Borghi parte de la idea de que la didáctica, en cuanto a ciencia aplicada, se vincula a la disciplina de referencia, y por tanto está condicionada por las mismas metodologías.

En el primer capítulo, la doctora Borghi utiliza una serie de ejemplos para contextualizar cómo han sido utilizadas las fuentes en diferentes épocas y etapas historiográficas. Nos parece muy acertada la visión según la cual el trabajo de observación e interpretación que promueve el uso de las fuentes en el aula induce a la depuración de estereotipos, prejuicios y ambigüedades que influencian nuestra percepción sobre los otros, y permite reflexionar sobre lo que significa, hoy más que nunca, educar a niños y a jóvenes en la historia.

En el segundo capítulo, la autora reflexiona sobre la importancia de la relación entre investigación histórica e investigación didáctica.

Ofrece un esquema orientador sobre cómo se organiza la búsqueda de la consulta bibliográfica y documental, y sintetiza los pasos a seguir para realizar una investigación histórica en el aula. Siguen una serie de ejemplos sobre cómo realizar las primeras investigaciones en la educación primaria, y finalmente clasifica las fuentes por su potencialidad educativa, convirtiendo el aula en un laboratorio. Se concluye el capítulo con una experiencia, conducida en dos clases de la provincia de Bolonia, para comprender el tiempo y el ritmo histórico a partir de ex – periencias personales del pasado.

En el tercer capítulo, resume las propuestas hechas en los capítulos anteriores y ofrece una propuesta de lectura y de análisis según las finalidades didácticas y los criterios de aprendizaje. Ofrece estrategias para trabajar la causa y el efecto desarrollando competencias emocionales.

El cuarto capítulo está enteramente dedicado a cómo trabajar el patrimonio cultural en el aula, a partir de experiencias didácticas que dinamizan y favorecen la interiorización del saber histórico. Para la autora, acercar al alumnado a los vestigios del pasado podría ser una manera para devolver un sentimiento de pertenencia al vacío provocado por el nihilismo homogeneizante de la globalización. Aquí también se dan ejemplos pilotados en el aula sobre cómo trabajar el entorno y las ventajas de sensibilizar a los infantes al medio.

La autora, en el quinto capítulo, confecciona fichas, esquemas y programaciones, según finalidades didácticas específicas, utilizando diferentes tipos de fuentes. La que propone es una metodología activa y participativa que permite superar la monotonía del aprendizaje ligado al manual de texto. La doctora Borghi, a parte de ofrecer una metodología, avanza en la posibilidad de hacer del aprendizaje de la historia una vivencia y una experiencia profunda, desarrollando la sensibilidad del alumnado a partir de la propia historia personal. También se describen los resultados de actividades reales realizadas con discentes y se analiza cómo trabajar las fuentes iconográficas y cinematográficas. La parte final del texto es muy interesante ya que ofrece estrategias y recursos para trabajar la historia actual a través de las fuentes orales.

Para ello sintetiza los objetivos y los instrumentos según una metodología por proyecto y bloques temáticos. Pero la autora advierte que aunque las fuentes no pueden sustituir el conocimiento, permiten dar una visión de la historia en constante transformación, además de favorecer la socialización de los menores en su entorno ambiental y ciudadano en el desarrollo de competencias y actitudes sociales. Así pues, utilizar metodologías por descubrimiento, tal como sugiere la doctora Borghi, permite un enfoque de la disciplina histórica más multicausal.

Concluimos que entre los estudios similares, el de la doctora Borghi destaca por su practicidad, ofreciendo recursos, ejemplos y estrategias, a parte de la teoría, que sirven de guía para el profesorado y facilita su programación. Por lo tanto, consideramos este texto un manual para potenciar el aprendizaje y la adquisición de instrumentos culturales necesarios para asimilar las competencias funcionales y saberes, haciendo de la enseñanza un reto apasionante y creativo.

Ilaria Bellatti

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Capítulos de História: o trabalho com fontes / Marcela L. Guimarães

Verificamos, nos últimos anos, um notável crescimento da produção acadêmica brasileira que se dedica ao estudo da teoria da história, a saber, como devemos pensar e escrever sobre os acontecimentos do passado. De fato, nossa disciplina possui a qualidade da renovação: teorias, metodologias e técnicas diferentes estão sempre surgindo, tendo em vista que cada novo momento histórico ocasiona uma nova dinâmica no campo intelectual. No entanto, notamos que grande parte desses trabalhos apresentam uma narrativa densa e uma linguagem excessivamente técnica, o que acaba restringindo o público leitor de tais obras. Dessa forma, muitos estudantes e professores, que não sejam propriamente dito “especialistas” na área, veem-se privados de grande parte desse importante conhecimento à disciplina histórica. Porém, interessantes inovações no campo da escrita estão surgindo e alterando gradualmente esse panorama. Uma obra que, nesse sentido, contribui para alargar o campo de recepção da teoria da historiografia, mantendo o nível de excelência da escrita e pensamento acadêmicos, é Capítulos de História: o trabalho com fontes (2012), de Marcella Lopes Guimarães. Graduada e Mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná, a autora apresenta, ao longo dos cinco capítulos de sua obra, uma série de orientações, do ponto de vista teórico e metodológico, para aqueles que desejam analisar fontes e iniciar uma pesquisa histórica.

O capítulo inicial da obra intitula-se Do Livro de cozinha da infanta D. Maria de Portugal às receitas eletrônicas: o sabor e saber no tempo, momento em que a autora ressalta o fato da cultura alimentar de uma época ser um importante objeto de investigação para os historiadores, pois é um indicio revelador dos costumes, práticas e preferências dos homens e mulheres do passado. No sentido de exemplificar tal questão, Guimarães recorre a uma documentação do século XVI, o Livro de cozinha da infanta D. Maria de Portugal, apontando que os ingredientes e temperos de tais receitas podem ser considerados indicativos dos sabores buscados pela sociedade daquela época. Como um dos seus exemplos, a autora aponta que, na receita da “Galinha Mourisca”, presente no livro da referida infanta “(…) sobressaem os temperos, em especial a hortelã, bastante apreciada entre os muçulmanos” (GUIMARÃES, 2012, p.28). Paralelamente à sua observação do passado, a autora provoca o leitor a avaliar os gostos e as sensações do seu próprio presente, o qual se faz marcar de modo intenso pela cultura alimentar do fast /slow food.

O capítulo seguinte, O que revelam nossos álbuns de família?, instiga o leitor a observar atentamente as fotografias que possui em casa, as quais devem ser consideradas também reveladoras fontes históricas. Para Guimarães, os registros fotográficos (e as artes visuais) imprimem a passagem do tempo e podem assinalar o fluxo de mudanças nos comportamentos e ações das pessoas; pois, para a autora, “Os primeiros fotógrafos tiveram de confrontar desafios científicos dos quais hoje estamos libertos” (GUIMARÃES, 2012, p.49). Como exemplo, a autora apresenta uma série de fotos, dentre as quais está o registro da neve em Curitiba, em 1975 – um acontecimento singular.

No terceiro capítulo da obra, Crônicas de jornal e crônicas régias: a transformação de um gênero histórico, Guimarães coloca em seu foco de análise o modelo narrativo cronístico. Em sua reflexão, a autora volta-se para a Idade Média com o intuito de apontar a transformação que as crônicas literárias atuais demonstram em relação às crônicas históricas medievais. Como exemplo do passado, Guimarães apresenta uma crônica composta no século XIV intitulada Crónica del rey D. Pedro y del rey D. Henrique su hermano hijos del rey D. Alfonso onceno, escrita por Pero Lopez de Ayala (1332-1407). Uma obra como essa, cuja característica principal era a narrativa organizada por datas, deve ser vista, segundo a autora, como um importante resquício para se analisar as atitudes mentais do passado. Ora, para Guimarães, o homem é o espectador das transformações históricas: “É irresistível muitas vezes apontar para o que nos aproxima, para as continuidades e para as analogias que provariam que o homem é o mesmo, no caso da crônica, o narrador como espectador do mundo” (GUIMARÃES, 2012, p.85).

O caráter interdisciplinar atribuído pela autora a sua obra está claramente presente no quarto capítulo, História e Literatura: um debate desde Aristóteles, no qual se faz indicar como a História e a Literatura travam um embate entre o verdadeiro e o verossímil (possível). Para essa discussão, Guimarães tem por apoio a obra Arte Poética, de Aristóteles, autor que atribui uma perspectiva universal para a Literatura e particular à História. Guimarães demonstra que a escrita historiográfica modificou-se sensivelmente ao longo do tempo – de Heródoto até os dias de hoje -, e que nela podemos perceber uma vinculação direta para com a Literatura. Conforme suas próprias palavras, “A Literatura exercita possibilidades, como previra o estagirita” (GUIMARÃES, 2012, p.119). Como exemplo para a discussão dessa questão, a autora apresenta uma reflexão tendo por base o livro do escritor português José Saramago, História do cerco de Lisboa, de 1989, o qual possui duas partes definidas: a histórica e a fictícia. Com relação a essa obra de Saramago, Guimarães ressalta justamente a contribuição da ação literária no sentido de estimular a problematização da História.

No quinto e último capítulo da obra, Notas sobre possibilidades de trabalho com fontes não escritas, Guimarães ressalta que a investigação histórica, em sua escolha documental, deve continuar cada vez mais se utilizando da cultura material na busca de informações sobre o passado. De fato, Guimarães chama a nossa atenção para a grande quantidade de fontes materiais que temos à nossa volta, espalhadas por nossos centros urbanos. Museus, praças, monumentos, prédios históricos são locais que, por sua historicidade, devem ser frequentados e analisados pelo historiador. Como exemplos nesse sentido, Guimarães traz imagens do Alcácer de Sevilha e da Mesquita Catedral de Córdoba (arquiteturas situadas na atual Espanha), monumentos que, por sua beleza, suscitam nosso interesse e estimulam nosso desejo pelo conhecimento do passado. Portanto, para a autora, “Inúmeras são hoje as possibilidades de trabalho histórico quando convocamos a cultura material, ou seja, quando convocamos os vestígios materiais, concretos, com os quais os grupos humanos fizeram sua vida” (GUIMARÃES, 2012, p.143).

A leitura de Capítulos de História: o trabalho com fontes, competente trabalho da historiadora Marcella Lopes Guimarães, é uma experiência que instiga o público leitor a querer investigar sobre o passado, uma tarefa que se torna possível graças ao recurso às diversas categorias de fontes históricas que dispomos perto de nós: seja dentro de casa (utensílios/livros antigos e álbuns de fotografia da família) ou no espaço público de nossa cidade (museus e monumentos). Guimarães realiza o paralelo passado/presente ao longo de toda sua obra, demonstrando que a fonte motivadora para o estudo do historiador são as questões de seu próprio tempo, seguindo, dessa forma, a importante perspectiva de Marc Bloch. Todas as ideias da autora são apresentadas em uma narrativa muito agradável; ademais, no canto lateral das páginas, foram colocados pequenos textos explanativos sobre determinados termos ou acontecimentos/pessoas que foram mencionados. Nesse sentido, a obra ganha em valor didático. E é provavelmente pensando nisso que a autora apresenta, ao final de cada capítulo, sugestões de atividades a serem desenvolvidas pelos professores de História junto aos seus alunos. Portanto, para todos aqueles que demonstram interesse pela investigação e conhecimento do presente e do passado, acadêmicos ou não, a obra de Marcella Lopes Guimarães é uma considerável recomendação, pois ela cumpre muito bem com seu papel de estimular a crítica e a reflexão no público leitor da atualidade.

Elaine Cristina Senko – Doutoranda PPGH-PR. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected].


GUIMARÃES, Marcella Lopes. Capítulos de História: o trabalho com fontes. Curitiba: Aymará Educação, 2012. p.175. Resenha de: SENKO, Elaine Cristina. Reflexões sobre a Escrita, Metodologia e Teoria da História. Outros Tempos, São Luís, v.9, n.14, p.240-243, 2012. Acessar publicação original. [IF].

El Hilo y las Huellas. Lo verdadero, lo falso, lo ficticio | Carlo Ginzburg

El libro de Carlo Ginzburg debe ser considerado un referente para los investigadores y estudiosos de la historia. Su grandeza reside en una valiosa teoría interpretativa para el oficio del historiador y una manera de pensar la vida cotidiana. Sus 492 páginas representan un compendio de ensayos con temas muy diversos unidos por el relato (hilo) y la búsqueda permanente de las zonas opacas de documentos (huellas). Su importancia está en exponer las múltiples relaciones entre la verdad histórica, lo falso; lo real y lo ficticio como categorías que se entrelazan y retroalimentan. Porque “lo verdadero es un punto de llegada, no un punto de partida” (p.18). Enfrentando de manera categórica el escepticismo y relativismo posmoderno. En la presentación del libro, Ginzburg, se define como un seguidor de Bloch. En cuanto le interesan los relatos escritos (memorias) de personajes “santos” de la Edad Media, que dejan dilucidar la mentalidad o subjetividad de quien registra la información. Asimismo, su pasión por leer a contrapelo (W. Benjamin) los textos. Es decir, aquellas voces no controladas o que están fuera de la intención del autor (p.13:14). Esto sería lo opaco, las huellas de los textos y pequeños fragmentos que se van uniendo durante el proceso de la investigación. Leia Mais

Guia de fontes manuscritas para a história do Brasil conservadas na Espanha – MARTÍNEZ (RIHGB)

MARTÍNEZ, Elda E. González. Guia de fontes manuscritas para a história do Brasil conservadas na Espanha. Estudo introdutório por Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Madri: Fundação Mapfre Tavera; Ministério da Cultura do Brasil, 2002. 702p. Resenha de MARIZ, Vasco. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v.165, n.424, p.361-363, jul./set., 2004.

Vasco Mariz – Sócio emérito do IHGB.

Acesso apenas pelo link original

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Guia de Fontes para a História Franco-Brasileira: Brasil Colônia, Vice-Reino e Reino Unido – acervos de manuscritos em arquivos franceses – MACHADO (RIHGB)

MACHADO, Marco Antonio Gonçalves (org.). Guia de Fontes para a História Franco-Brasileira: Brasil Colônia, Vice-Reino e Reino Unido – acervos de manuscritos em arquivos franceses. Apresentação: Francisco Corrêa Weffort; estudo introdutório: Vasco Mariz. Recife: L. Dantas Silva: Brasília: MinC; Banco Santos, 2002. Resenha de: KNAUSS, Paulo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v.164, n.419, p.291-293, abr./jun., 2003.

Paulo Knauss – Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense e autor do livro Rio de Janeiro da pacificação: franceses e portugueses na disputa colonial.

Acesso apenas pelo link original

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Expedição Langsdorff: acervo e fontes histórica | Boris Komissarov

O livro de Boris Komissarov se propõe a fazer uma apresentação, em língua portuguesa, das fontes disponíveis na Rússia sobre a Expedição Langsdorff, que percorreu o Brasil de 1822 a 1829 a serviço do império russo. Trata-se, essencialmente, do vasto material produzido pela expedição ao longo dos quase 17 mil quilômetros palmilhados pelo chefe do grupo, o barão Georg Heinrich von Langsdorff, então ministro plenipotenciário da Rússia no Brasil, e demais participantes: Nester Rubtsov (cartógrafo), Hercule Florence, Adrien Taunay e Moritz Rugendas (desenhistas), Ludwig Riedel (botânico) e Edouard Ménétriès (zoólogo e antropólogo).

De início, cabe elogiar a iniciativa do autor, da Associação Internacional de Estudos Langsdorff e da Editora da Unesp, ao tornarem disponíveis dados preciosos e por largo tempo desconhecidos dos pesquisadores brasileiros em função mesmo da história do acervo. Infelizmente, esse tipo de instrumento de pesquisa ainda é pouco freqüente entre nós. Leia Mais

Los Enigmas de Tarteso – ALVAR; BLÁZQUEZ (PR)

ALVAR, J.; BLÁZQUEZ, J. M. (Eds.). Los Enigmas de Tarteso. Madrid: 303p. Ediciones Cátedra. Historia/Serie Menor. 1993. 303p. Resenha de: VIVANCOS, Alejandro Egea. Panta Rei – Revista de Ciencia Y Didáctica de la Historia, Murcia, n.1, p.108-111, 1995.

Alejandro Egea Vivancos

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Fuentes para la historia del trabajo en el Reino de Chile, 1546-1810 | Álvaro Jara e Sonia Pinto

Resenhista

Luz María Méndez Beltrán – Universidad de Chile.


Referências desta Resenha

JARA, Álvaro; PINTO, Sonia. Fuentes para la historia del trabajo en el Reino de Chile, 1546-1810. 2 tomos. Santiago de Chile: Editorial Andrés Bello, 1982-1983. Resenha de: BELTRÁN, Luz María Méndez. Cuadernos de Historia. Santiago, n.4, p. 200-202, julio, 1984.

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Estilo y peleografía de los documentos chilenos (Siglos XVI-XVII) | Ricardo José Morales

Resenhista

Sonia Pinto Vallejos – Universidad de Chile.

Referências desta Resenha

Morales, Ricardo José. Estilo y peleografía de los documentos chilenos (Siglos XVI-XVII). Resenha de: VALLEJOS, Sonia Pinto. Cuadernos de Historia. Santiago, n.2, p. 169-170, julio, 1982.

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