Pesquisa e Práticas do Ensino de História / Caderno de História / 2006

É com prazer que faço a apresentação deste Cadernos de História publicado pelo Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História e pela Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Posso afirmar que este exemplar é estruturado em três momentos bem distintos com enfoques e temáticas que não se distanciam entre si. Elas se entrecruzam e se complementam, como se pode observar na própria apresentação. A História Local é identificada na primeira parte, onde é tratada a História da Educação em Uberlândia. Na segunda parte, a História da Educação é complementada nos textos referentes a educação no momento contemporâneo e, finalmente, na terceira parte – Dossiê “Pesquisa e Práticas do Ensino de História”, os autores se debruçaram sobre a formação docente, as práticas pedagógicas e os sujeitos históricos, fazendo um recorte a respeito do Ensino de História na atualidade.

No primeiro momento há uma série de artigos sobre História da Educação e o uso de fontes primárias como Actas da Câmara Municipal e jornais. Estes artigos têm um locus comum – a cidade de Uberlândia, antiga Uberabinha, no período de transição entre os finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Época marcada, em nossa História, pela afirmação do ideário positivista da ordem, do progresso e a construção de uma cidadania nacional. Outra marca deste período foi o desenvolvimento de Uberlândia sobre o manto do progresso e da modernidade. No artigo Educação e Progresso: evidências oficiais em Uberabinha de 1911, os autores Guilherme, Carvalho e Neto tiveram a preocupação de investigar o ideal de ordem e progresso, na administração de Uberabinha no inicio do século passado, e utilizaram como referencial de investigação e análise a aplicação de verbas públicas na educação. Há que se destacar que tais ideais de ordem e progresso que compunham o ideário positivista constituíam as metas a serem alcançadas pelas nações naquele período. Para desenvolver os seus estudos os autores consultaram fontes primárias como actas da Câmara Municipal.

O texto Representações do Ensino Rural em Uberabinha – 1888 a 1930, escrito por Ribeiro, Silveira e Inácio Filho, caracteriza-se por apresentar os passos de uma pesquisa referente ao Ensino Rural em Uberabinha, em um período de transição entre a permanência dos valores rurais para os valores de uma vida e educação urbanas. Este processo acontece sob a influência das idéias de modernidade e progresso.

Araújo e Souza, ao escreverem o texto Imprensa e Educação na Primeira República: Uberabinha, 1888-1930, tiveram a preocupação, ao investigar na imprensa local as questões educacionais, de evidenciar a importância da imprensa como fonte de pesquisa e análise.

No texto A forma(ta)ção da Cidadania: os debates em torno da Educação em Uberabinha, MG (1892-1920), o autor Ching, pesquisando fontes primárias como as Atas da Câmara Municipal e os jornais da época, teve a preocupação de refletir a respeito da formação e da formatação que era dada, através da educação, ao conceito de cidadania.

Outra particularidade deste caderno é o conjunto de textos que se seguem, cuja marca é a reflexão política sobre os desafios presentes na educação contemporânea, como a intolerância, a formação de atitudes democráticas nas aulas de História e, sobretudo, as dificuldades de inclusão social dos sujeitos com deficiências físicas e mentais.

As autoras Peres e Inácio, no texto Intolerância à alteridade na conquista da América Latina: enfoque da questão nos livros didáticos, refletiram a respeito de atitudes de intolerância que expressam a não aceitação do outro, ao não reconhecimento das diferenças. A intolerância com relação ao diferente marcou as atitudes dos conquistadores da América e tem marcado na contemporaneidade aquele que não é o nosso espelho. O propósito deste artigo é refletir sobre estas questões no interior da sala de aula.

Qual Cidadania? Que Democracia? são questionamentos que Jeanne Silva faz para discutir e analisar a função do Ensino de História na formação da democracia no Brasil. A autora analisa os obstáculos presentes nas salas de aula de História, o deterioramento das relações sociais e a resignificação, na atualidade, dos conceitos de cidadania e democracia.

O texto Educação do Campo: Novas Abordagens Pedagógicas, escrito por Pombo, chama-nos a atenção para a importância da Educação do Campo, no interior do Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL), em um Pré-Assentamento na Fazenda Tangará. Esta educação baseia-se em uma prática pedagógica que se caracteriza pela diversidade, pelo idealismo e, sobretudo, pelo desafio.

Willian Vaz de Oliveira, no texto Educação Especial e Inclusão Escolar no Brasil: entre teorias e práticas, discute a construção das políticas educacionais públicas relativas a educação especial e a inclusão escolar. Mostra a importância da Constituição federal de 1988 e da LDB de 1996, no processo de promoção de uma educação direcionada as pessoas portadoras de necessidades especiais e considera, também, o distanciamento existente entre a teoria e a prática, evidenciando as dificuldades da inclusão, na escola e na sociedade, dos sujeitos “portadores” de necessidades especiais.

Para ampliar os estudos sobre linguagens alternativas para o ensino de História e outras fontes de investigação, os autores Ferreira e Ventura no texto Ensino de História e a informática educacional: alguumas possibilidades, evidenciam possibilidades do uso da Informática no ensino de História.

O próximo conjunto de textos que compõem este Caderno de História foi denominado apropriadamente, pelos organizadores, de Dossiê: “Pesquisas e Práticas do Ensino de História”, porque tem como ponto central de reflexão o ensino de história. Foram focalizados neste dossiê a prática docente, a formação de professores, a memória docente, a sala de aula como campo de pesquisa, os livros didáticos, a música, a literatura e o rádio como linguagens alternativas no ensino de História.

O texto – Profissão Docente: Representações e práticas educativas nas primeiras séries do Ensino Fundamental, escrito por Oliveira, é uma reflexão sobre as práticas escolares de profissionais que atuam nas primeiras séries do ensino fundamental. Neste artigo, a autora assinala a importância dos conceitos de cultura e de representações sociais para se compreender e analisar as práticas pedagógicas neste segmento de ensino.

O estágio supervisionado como campo de pesquisa: As narrativas escolares sobre o conhecimento histórico, de Cainelli, evidencia a importância da prática da pesquisa nas disciplinas Metodologia do Ensino de História e do Estágio Supervisionado. A autora organizou uma investigação para conhecer a natureza dos conhecimentos sobre a História dos alunos do ensino fundamental, tendo como objetivo identificar os conceitos adquiridos e como interpretam textos históricos. Os dados obtidos subsidiaram os estágios dos licenciados.

Franco, no artigo: Os Livros Didáticos de História para séries iniciais do Ensino fundamental (PNLD/2004) e as Representações de Pluralidade Cultural, contextualiza a pluralidade cultural presentes nas reflexões historiográficas e educacionais, assim como nos documentos oficiais ( PNLD e PCNs) produzidos pelos órgãos gestores da política educacional. Concomitante a esta reflexão, a autora se ocupa em analisar as representações de pluralidade cultural veiculadas em dois livros didáticos de História destinados ao primeiro segmento do Ensino Fundamental, distribuídos pelo PNLD/2004.

Música e Radiofonia: uma experiência interdisciplinar de prática de ensino é um artigo de Noadia Munhoz e Rodrigo de Paula Morais. Este texto é resultante de pesquisas feitas na Prática de Ensino e Estágio Supervisionado dos cursos de Pedagogia e História. Teve como objetivo mostrar a importância do uso de linguagens alternativas para o ensino de História, como a música e o rádio, além de evidenciar a necessidade de se aplicar, na escola, projetos interdisciplinares.

O texto de Paim – Rememorações dos professores de História em relação às Práticas de Ensino desenvolvidas na graduação, é o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi recuperar memórias e experiências, através de depoimentos orais, do fazer-se professor (a) de História. Neste artigo, ele recupera as rememorações dos professores na forma de estágio docente.

Paula e Motta apresentam-nos no texto intitulado Literatura de Cordel – uma porta para o Brasil Real, um estudo sobre o uso de uma outra linguagem alternativa para o ensino de História que é a Literatura de Cordel. Esta prática pedagógica foi vivenciada pelos alunos de uma 8ª série e objetivou o trabalho com as habilidades operatórias como interpretação, compreensão e assimilação importantes para compreensão do conhecimento histórico.

Finalmente, quero agradecer o convite recebido para fazer a apresentação deste número, destacar a riqueza deste Cadernos de História pela variedade temática e diversidade de autores, e desejar aos leitores muitas reflexões a partir das leituras feitas.

Ernesta Zamboni –  Professora da F.E – UNICAMP.


ZAMBONI, Ernesta. Apresentação. Caderno de História. Uberlândia, v.14, n.1, set. 2005 / set. 2006, 2006. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Ensino de História e Saberes Históricos |  SÆCULUM – Revista de História  | 2006

Entregamos ao leitor o segundo número do ano de 2006, honrando nosso compromisso de organização de dois Dossiês: o primeiro, sobre História e Região, e este, sobre Ensino de História e Saberes Históricos. Dessa forma, as publicações da Sæculum neste ano contemplaram reflexões acerca das duas linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba cuja área de concentração é História e Cultura Histórica. Leia Mais

Ensino de História / Tempo / 2006

O dossiê “Ensino de História” foi concebido a partir da crescente importância que as discussões em relação ao tema vêm assumindo nos meios acadêmicos brasileiros e, conseqüentemente, da ampliação de pesquisas nesta área em várias partes do país, embora o número de trabalhos publicados seja ainda bastante restrito. O espaço conquistado na Associação Nacional de História (ANPUH) com a publicação, em 1983, da coletânea Repensando a História, organizada por Marcos Silva, vem-se tornando cada vez mais significativo.

Neste sentido, cabe destacar a importância dos debates e das reflexões que têm tido lugar nos Encontros Nacionais “Perspectivas do Ensino de História” e “Pesquisadores em Ensino de História”. Também podemos mencionar os núcleos e os laboratórios dedicados à área de ensino de História existentes em todo o país. Entre estes, ressaltem-se, por exemplo, o Laboratório de Ensino de História do Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina e o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, que, além de promoverem uma série de atividades de ensino, pesquisa e extensão, são responsáveis pela publicação de periódicos especializados.1

Na Universidade Federal Fluminense, o Laboratório de Ensino de História, ligado à Faculdade de Educação, possui uma atuação bastante expressiva na área, através do desenvolvimento de projetos de pesquisa e de extensão e da realização de seminários, onde se discutem, desde meados dos anos 1990, questões fundamentais relacionadas ao aprender / ensinar história.2 É importante mencionar, ainda, a inserção de discussões sobre o ensino de História nos eventos e nas publicações3 patrocinados pelo Núcleo de Pesquisas em História Cultural (NUPEHC-UFF) nos últimos anos.

Mais recentemente, o campo de conhecimento dedicado ao ensino de História ganhou um espaço no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba, através da linha de pesquisa “Ensino de História e Saberes Históricos”. Por fim, cabe referir a existência do Grupo de Pesquisa “Oficinas de História”, que, sediado na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, reúne professores / pesquisadores de outras instituições (PUC-RJ, UFRJ, UFF, UFPA), interessados em investigar as concepções e as práticas do ensino de história e refletir sobre elas.

Todos os exemplos aqui apresentados denotam, sem dúvida, sinais de mudanças importantes que, de um lado, indicam um crescente questionamento da perspectiva preconceituosa em relação ao ensino de História e, de outro, apontam o paulatino movimento de professores dos departamentos de história das licenciaturas, no sentido de assumirem a responsabilidade, ao lado dos professores das faculdades ou dos departamentos de educação, na formação de profissionais da área de ensino.

Contudo, é também inquestionável que tais mudanças se vêm operando em ritmo bastante lento e, muitas vezes, de forma muito restrita. Entre as inúmeras dificuldades, é preciso mencionar, primeiramente, a permanência, nos meios universitários, de convicções que hierarquizam pesquisa e ensino, sendo atribuído à primeira o papel de criar / produzir o conhecimento, que caberá ao segundo reproduzir. O ato de ensinar é visto, assim, como mera repetição dos saberes de referência – no nosso caso, a história – por meio de uma linguagem didática e, portanto, simplificada, quase sempre distorcida.

No que se refere a este aspecto, são absolutamente fundamentais as reflexões desenvolvidas pelo Professor Ilmar Rohloff de Mattos no artigo que abre o presente dossiê, intitulado “‘Mas não somente assim!’ Leitores, autores, aulas como texto e o ensino-aprendizagem de História”. Trata-se de uma verdadeira Aula Texto – expressão cunhada pelo próprio autor – que nos conduz a refletir mais profundamente sobre a sala de aula, onde alunos e professores encenam / vivem o processo ensino-aprendizagem, como lugar de produção / criação de conhecimento.

Mas qual seria o papel da formação de professores na construção de um sentido para ensinar / aprender História na educação básica? Este é o assunto central do artigo da Professora Flávia Eloisa Caimi, “Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensino, aprendizagem e formação de professores de História”. Tendo como referência a definição de saber docente, dada por Maurice Tardif, Claude Lessard e Louise Lahye,4 a autora defende a necessidade da “formação do professor reflexivo e investigador da sua prática e dos contextos escolares”.

Constituintes do saber docente, do currículo e do programa são, portanto, lidos e reconstruídos / ressignificados pelos professores em suas reflexões e práticas cotidianas. É dentro desta perspectiva que a Professora Lana Mara de Castro Siman, no artigo “Um programa de História num contexto de mudanças sociopolíticas e paradigmáticas: a voz dos professores”, se propõe a analisar as relações entre “mudança de programa, mudança paradigmática e embates sociopolíticos no ensino de História no Brasil”, a partir do exemplo do programa de História implementado pelo governo do Estado de Minas Gerais, em 1987.

A postura dos professores diante das propostas de mudança curricular é também objeto das preocupações do artigo de Marcelo de Souza Magalhães, intitulado “Apontamentos para pensar o ensino de História hoje: reformas curriculares, Ensino Médio e formação do professor”. Trata-se de uma reflexão interessante e provocativa sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, a partir de um breve esboço da trajetória do Ensino Médio no Brasil. As questões suscitadas pela análise do autor servem para iluminar a problemática da formação do professor de História.

O ensino de História e a formação do professor são também o viés da análise desenvolvida por Elio Chaves Flores no artigo “Etnicidade e ensino de História: a matriz cultural africana”. Partindo da hipótese de que “as estruturas curriculares dos cursos de História reproduzem para a educação básica o cânone da mestiçagem”, o autor realiza um estudo das relações entre a pesquisa e o ensino acadêmicos de História e a recente legislação sobre a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, cujos resultados são de grande relevância.

Finalmente, no artigo do Professor Marcos Silva, “Além das coisas e do imediato: cultura material, História imediata e ensino de História”, encontramos novamente a preocupação com os Parâmetros Curriculares Nacionais e, ainda, com as relações entre as pesquisas acadêmicas e o ensino de História. Trata-se de refletir sobre as possibilidades de aprender / ensinar História através das “experiências ligadas à materialidade da Cultura”, bem como das interseções vivas entre passado e presente no âmbito da História imediata.

A viabilização de um dossiê sobre ensino de História na Revista Tempo representa sem dúvida um passo fundamental no sentido de valorizar esta dimensão essencial do conhecimento histórico, ampliando o espaço de seu reconhecimento no mundo acadêmico.5 Tal iniciativa contribui para colocar em xeque posturas que supervalorizam a pesquisa em detrimento do ensino – concebendo-os equivocadamente como elementos dissociáveis. Com esta iniciativa, esperamos, pois, contribuir para que haja o reconhecimento de que o saber docente produz conhecimentos específicos tão legítimos e essenciais quanto os criados nas instituições de pesquisa – fadados, aliás, a uma circulação restrita e estéril, se não chegassem às salas de aula recriados por saberes docentes que, antes de tudo, lhes conferem sentido para além dos muros da academia.

Notas

1. No caso do primeiro, a Revista História e Ensinoe, do segundo, os Cadernos Labepeh.
2. A Revista Ensino de Históriaé uma publicação do LEH-UFF. A iniciativa de criar um espaço especialmente dedicado à área de ensino de história no Departamento de História da UFF, através do Laboratório de Educação em História (LEHIS), infelizmente não teve sucesso.
3. Martha Abreu e Rachel Soihet (orgs.), Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia, Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003; e Rachel Soihet, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa (orgs.), Culturas políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história, Rio de Janeiro, Mauad, 2005.
4. Estes autores definem o saber docente como um saber específico e original, que reúne de forma complexa “os saberes das disciplinas, os saberes curriculares, os saberes profissionais (compreendendo as ciências da educação e a pedagogia) e os da experiência” (Tardif, M., Lessard, C. e Lahaye, L., “Os professores face ao saber. Esboço de uma problemática do saber docente”, Teoria & Educação, no 4, Porto Alegre, 1991, p. 216).
5. Este fato torna-se ainda mais expressivo num momento em que alguns importantes periódicos de História se negam explicitamente a receber contribuições no âmbito do ensino de História.

Magali Gouveia Engel – Professora do Departamento de História da UFF e do Departamento de Ciências Humanas da UERJ / FFP. E-mail: [email protected]


ENGEL, Magali Gouveia. Apresentação. Tempo. Niterói, v.11, n.21, jun., 2006. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Ensino de História e Saberes Históricos / Sæculum / 2006

Entregamos ao leitor o segundo número do ano de 2006, honrando nosso compromisso de organização de dois Dossiês: o primeiro, sobre História e Região, e este, sobre Ensino de História e Saberes Históricos. Dessa forma, as publicações da Sæculum neste ano contemplaram reflexões acerca das duas linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba cuja área de concentração é História e Cultura Histórica.

Este Dossiê apresenta nove artigos que não têm a pretensão de esgotar os temas e análises sobre Ensino de História e Saberes Históricos, mas pautar futuras pesquisas e permitir novos olhares sobre o campo de pesquisa. Rosa Godoy Silveira problematiza o ensino de História, apontando como nele se elidem o estudo e o debate sobre os conflitos presentes nas sociedades, na medida em que o conhecimento histórico é ministrado como um dado e não como uma construção; Geraldina Maria da Silva e Marlene de Oliveira discutem a prática pedagógica da história e da geografia, a violência simbólica produzida por essa prática e a urgência de repensá-la como construção de cidadania plena; Francisco Chaves Bezerra discute a criação, estadualização e federalização do Ensino Superior na Paraíba e recupera o debate historiográfico no Brasil e na Paraíba referente ao tema, refletindo sobre o projeto de educação de nível superior que foi pensado e executado em todo país a partir da década de 1930; Rosana Ulhôa Botelho descreve uma pesquisa associada à prática pedagógica em que alunos de História, dentre outros cursos de uma instituição de ensino superior de Brasília, participaram como “fonte da pesquisa” e, ao mesmo tempo, como analistas do material produzido sobre a questão da adoção de “cotas” para estudantes afro-descendentes em universidades brasileiras; Vilma de Lurdes Barbosa se propõe a refletir especificamente sobre aspectos relativos ao ensino de história e de história local, na perspectiva de enfocar a sua aplicabilidade e significado para professores e alunos; Helenice Aparecida Bastos Rocha apresenta resultados de pesquisa sobre o ensino de história na escola em que se investiga a relação entre a linguagem e o conteúdo específico, ou conhecimento histórico escolar, problematizada a partir de uma abordagem discursiva e de inspiração etnográfica; Andreza Oliveira Andrade discute como o ensino de história, por meio das verdades e representações veiculadas pelo currículo escolar e pelos livros didáticos, contribui para a construção e reafirmação cotidianas das hierarquias sócio-culturais de gênero; Marcos Antônio Caixeta Rassi e Selva Guimarães Fonseca analisam os impactos da formação inicial de professores de história nas práticas desenvolvidas no ensino fundamental e médio, o modo como os saberes iniciais foram sendo apreendidos e como, ao longo das experiências docentes, foram articulando-se às práticas e metamorfoseando-se. Finalmente, Emerson Dionísio G. de Oliveira reflete acerca do ensino da história a partir dos conceitos de “leitura” redefinidos pelas novas mídias, em particular sobre os trânsitos de informações e os “lugares” de saber.

Além do Dossiê Ensino de História e Saberes Históricos este número apresenta artigos de Serioja R. C. Mariano, que analisa os motins militares na década de 1820 na Paraíba, inserindo-os em um quadro mais amplo de construção do Estado Nacional, sem deixar de apontar as especificidades locais; de Pierre Normando Gomes da Silva e Marcello Bulhões Martins, onde os autores analisam a obra A Educação Nacional (1890), de José Veríssimo, com o intuito de vistoriar o cotidiano social e as proposições pedagógicas de acepção de educação e de corpo que marcaram a formação do sentimento nacional e a cultura pedagógica que daí surgiram; Lourenço Conceição Gomes, por sua vez, traz uma interessante discussão comparativa entre as fortalezas de Natal, no Rio Grande do Norte, e da Ribeira Grande, em Cabo Verde, analisando o sentido simbólico de cada uma delas para a conquista e controle da colônia; Tatyana de Amaral Maia mostra, com base na correspondência pessoal, o entrelaçamento das vidas de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Darcy Ribeiro. Concluindo ainda temos a resenha assinada por Regina Célia Gonçalves, que esmiúça o livro Operários de uma vinha estéril, de Charlotte Castelnau-L’Estoile, obra que analisa competentemente a atuação da Companhia de Jesus no Brasil Colonial.

Diversos temas, diversos objetos, enfoques também diversos. Sæculum marca sua posição editorial de dar voz e espaço aos pesquisadores do campo da História, esperando que os textos aqui publicados suscitem profícuos debates. À leitura, então…


Equipe Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.15, 2006. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

Ensino de História das Américas no Brasil e na América Hispânica | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2005

A Associação Nacional de Pesquisadores de História Latino-Americana e Caribenha (ANPHLAC), ao disponibilizar na mídia eletrônica o quarto número de sua revista, dá continuidade ao seu propósito de divulgar as pesquisas em História da América Latina e do Caribe que se realizam no Brasil e estimular o intercâmbio entre pesquisadores, professores e outros estudiosos da área.

Este número apresenta um dossiê sobre o Ensino de História das Américas no Brasil e na América Hispânica, no âmbito das escolas e universidades. A escolha do tema visa contribuir para a reflexão sobre as concepções que vêm norteando políticas educacionais, recortes curriculares, manuais didáticos e práticas docentes relativos a esse domínio da história. Espera, ao mesmo tempo, sugerir caminhos acadêmicos e educacionais que assegurem maior centralidade a um campo do conhecimento que, cultural e politicamente, repercute nas formas de inserção brasileira no continente. Leia Mais

Saberes históricos e pedagógicos / Revista Brasileira de História / 2004

A presente edição da RBH, mais uma vez, comporta um dossiê a propósito de saberes históricos e pedagógicos. No número 46, de 2003, fizemos um comentário que merece aqui reprodução: “Apenas considerando o início dos anos 90 e os dias atuais, isto é, 32 números editados, a RBH publicou principalmente dossiês de teoria de história ou historiografia, cerca de 25% do total — o que atesta vivamente que o ofício do historiador, seus métodos e dificuldades, apresentam-se como a preocupação mais constante da comunidade”.

É possível que tal preocupação com as questões teóricas decorra da tentativa de administrar a mais recôndita aspiração do historiador: a de lidar positivamente com a imprevisibilidade do conhecimento. O futuro não está compreendido pelo passado, e essa indeterminação angustia aquele a quem, por profissão, cabe confrontar o conhecimento adquirido com o devir. Toda e qualquer comunidade humana toma decisões sobre o seu futuro, e não o faz optativamente. Somos todos obrigados, para o bem e para o mal, a optar. Daí o lugar especial destinado à imaginação nos estudos históricos. É pelo trabalho simultâneo da imaginação e da razão que o historiador encontra motivos para a refutação de sua instabilidade de princípio.

Procedendo dessa forma, isto é, publicando sucessivos dossiês sobre questões teóricas da disciplina, a RBH tem aberto freqüentemente espaço para a aventura do saber, lidando sempre com o entender e o ensinar a história. Neste número, como em outros precedentes, contamos com a parceria de eficientes e inspirados autores para discutir aspectos teórico-metodológicos da historiografia contemporânea, que se constituem, muitas vezes, em impasses da nossa ciência. Os três primeiros artigos do presente número da RBH, a seu modo, avaliam os ditos impasses. Norberto Guarinello abre o volume discutindo conceitos como tempo histórico, estrutura e ação, a partir da perspectiva do tempo cotidiano. Numa leitura que pode se constituir em diálogo e contraponto ao artigo anterior, Carlos Zacarias, em “A dialética em questão”, busca demonstrar que uma determinada tradição marxista nunca deixou de promover sínteses essenciais ao método dialético. Em “Testemunho, juízo político e história”, Fernando Kolleritz analisa as propriedades características do gênero testemunhal, descrevendo as situações ideológicas que presidiram a recepção de depoimentos sobre os campos de concentração nazistas e comunistas.

Ocupando um espaço privilegiado, seguem-se sete artigos nos quais o tema do ensino de história constitui a preocupação primordial. Claudefranklin Santos e Terezinha Alves de Oliva recuperam e analisam um livro de leitura, o Através do Brasil, que, procurando fortalecer a identidade nacional, sintetizou um ideal pedagógico brasileiro do início do século XX. Cuidando de tema semelhante, Sonia Miranda e Tania de Luca, em “O livro didático de história hoje”, constroem uma breve radiografia do livro didático contemporâneo e apontam algumas temáticas centrais que têm ocupado o cenário relativo ao saber histórico escolar. Lucia Guimarães aborda o IV Congresso de História Nacional, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 1949, com o intuito de avaliar a sua contribuição à historiografia nacional. Laerthe Abreu Jr. analisa o caderno de recortes sobre educação do Diario Official do Estado de São Paulo, nos anos 30 e 40 do século XX. Sua intenção é mostrar indícios das práticas escolares que aparecem e se destacam em meio aos textos sobre aspectos legais da educação. A tentativa de construção de um Código disciplinar para a História no Brasil é o assunto privilegiado por Maria A. Schmidt, em artigo que põe em foco a obra didática de Jonathas Serrano (1855-1944), professor de História do Colégio Pedro II. Luiz Cerri, em “Saberes históricos diante da avaliação do ensino”, trata da influência que o ENEM exerceu, como prática avaliativa privilegiada durante o anterior governo federal, na organização do currículo do Ensino Médio. E, ainda dentro da seção destinada ao conhecimento pedagógico, Paulo Martinez estuda questões ambientais presentes no conhecimento histórico escolar.

Além desses, mais três artigos, versando sobre temáticas externas ao dossiê, completam a presente edição. São eles: “Almas em busca da salvação: sensibilidade barroca no discurso jesuítico (século XVII)”, de Eliane Fleck; “Mediações entre a fidalguia portuguesa e o Marquês de Pombal: o exemplo da Casa de Lavradio”, de Fabiano V. dos Santos; e “O caráter religioso e profano das festas populares: Corumbá, passagem do século XIX para o XX”, de João Carlos de Souza.

Fiel à sua tradição, portanto, a RBH abre espaço para uma aliança entre a imaginação e a razão histórica. Mas o faz esquivando-se do perigo de tomar por real o que é produto da imaginação. O caminho para o desfazimento da aludida confusão parece estar contido na separação entre duas formas de imaginação, e na escolha daquela que, procedendo por hipóteses as quais ela se esforça para validar, afasta imediatamente as conclusões em diametral oposição à experiência vivida.

Assim, a atividade científica em história — para a qual a RBH pretende se constituir em veículo de divulgação — é o protótipo da imaginação cotidianamente confrontada pela experiência. E, em nosso caso, essa experiência nos vem pelo profícuo relacionamento entre nossos autores e nossos leitores.

Conselho Editorial


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.24, n.48, 2004. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Ensino de História / História (Unesp) / 2004

O volume 23 da revista História, que ora apresentamos, reuniu os números 1 e 2 em decorrência de dificuldades financeiras enfrentadas pela comissão editorial no biênio.

Nele oferecemos aos leitores o dossiê Ensino de História que reúne artigos de pesquisadores especializados na temática e indicadores dos avanços que vêm sendo feitos na área. Desta maneira pretende-se contribuir para a reflexão acerca de aspectos fundamentais do trabalho com a disciplina no ensino fundamental e médio e neste sentido o diálogo com os professores adquire relevo.

Os artigos de Maria Aparecida Leopoldino Tursi de Toledo e Elaine Rodrigues problematizam a História da disciplina apontando continuidades e rupturas que marcaram o campo do seu ensino no que diz respeito aos conteúdos trabalhados , tendo como referentes o ensino de Educação Moral e Cívica e o Projeto Político-Pedagógico do Estado do Paraná. Apontam também para relações entre História e memória presentes no tratamento metodológico dos conteúdos que constituem o saber escolar.

O livro didático de História, sua produção e difusão constituem o objeto da pesquisa de Célia Cristina de Figueiredo Cassiano. Neste artigo, aspectos da circulação anteriores à sua entrada nas escolas desvendam políticas públicas para o livro didático no Brasil e apontam processos que interferem no currículo de História implantados em escolas públicas da cidade de São Paulo.

Os artigos de Vitória Rodrigues e Silva e Dislane Zerbinatti trazem relatos de experiências e sugestões aos professores sobre a prática de ensino da disciplina, desenvolvendo estratégias de aprimoramento da indispensável competência leitora de alunos do ensino básico. Uma proposta de abordagem de textos literários do ponto de vista da historiografia avalia limites e possibilidades da análise da literatura como fonte documental a ser trabalhada em sala de aula.

Completam este volume artigos que apresentam aspectos relevantes do debate historiográfico sobre história política e cultura política a partir de diferentes espaços e realidades do continente americano. Inicialmente o trabalho de Elizabeth Cancelli questiona o modo como desde a modernidade, matizes diferentes de pensamento político perpetuaram a construção de representações centradas nas idéias de pesadelo, exotismo e sonho, configurando a América como lugar de estranhamento.

A cultura política do Uruguai e seus desdobramentos em termos de organização político-partidária constitui o cerne das reflexões do instigante artigo de José Rilla que aborda a tradição antipartidarista e suas implicações em termos de formação da cidadania naquele país.

Carlos Antonio A . Rojas, em seu artigo sobre as transformações no pensamento histórico ocidental analisa o significado da revolução cultural de 1968 e aponta conexões entre este evento de ruptura e a historiografia.

O estudo de Eda Góes apresenta resultados de pesquisa sobre a chamada transição política das últimas décadas no Brasil, tendo como universo analítico o cotidiano das instituições penitenciárias no Estado de São Paulo, especialmente os desdobramentos do debate acerca dos direitos humanos.

Martin N. Dreher traça um perfil biográfico de Hermann Gottlieb Dohms tendo como fios condutor da narrativa a inserção de comunidades de descendentes de alemães luteranos no Rio Grande do Sul, entre os fins do século XIX e o Estado Novo. A partir dessa temática o artigo aponta para questões que atingem a vida de imigrantes num contexto marcado pelo totalitarismo.

Ainda abordando a política, o artigo de Ivan Esperança Rocha trata da relação entre dominadores e dominados na Palestina do século I a partir do testemunho de Flávio Josefo sobre a guerra entre judeus e romanos e a crise interna que envolveu diferentes interesses de grupos judaicos.

Comissão Editorial


Comissão Editorial. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.23, n.1-2, 2004. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

Ensino de História: Novos Problemas / Revista Brasileira de História / 1998

Revista Brasileira de História oferece aos seus leitores dois dossiês neste número. O primeiro, proposto pelo Conselho Editorial, centra-se no ensino de história. Justamente no momento em que os profissionais da área defrontam-se com parâmetros e diretrizes que trazem no seu bojo propostas de redefinição dos conteúdos, objetivos e métodos; e com uma realidade que obriga a repensar as noções de tempo, espaço e memória, a reflexão a respeito do saber e do fazer histórico assumem caráter de urgência.

Os três artigos iniciais articulam-se em torno do tema currículo. Maria Stephanou discute a noção de conteúdo curricular e analisa os currículos oficiais da disciplina. Evidencia que, longe de se tratar de uma questão técnica ou formal, o discurso curricular não apenas elege alguns objetos e exclui outros, mas também envolve a produção de sensibilidades, formas de compreender e interpretar, constituindo-se em importante instrumento no processo de formação da consciência social. Maria Martins e Claudia Ricci, voltam-se para uma experiência concreta: a mudança curricular paulista iniciada na década de 1980. As polêmicas que envolveram a proposta de história e os conflitos no interior da CENP são discutidos por Martins, que se vale de depoimentos orais daqueles que estiveram diretamente envolvidos na elaboração da reforma. Já Ricci dirige sua atenção para os professores, perscrutando nas suas falas os sentimentos, desejos, esperanças, necessidades e expectativas que possuíam em relação às mudanças em curso.

Com Ernesta Zamboni, alcançamos o próprio espaço da sala de aula. Os materiais didáticos disponíveis para serem utilizados com os alunos na produção do conhecimento histórico – filme, vídeos educativos, fotografias, gravuras, pinturas, contos infantis, documentos, livros paradidáticos – são analisados pela autora, que alerta para a especificidade da linguagem de cada um deles.

A importância estratégica atribuída ao ensino de história é evidenciada nos textos de Katia Abud, Luis Fernando Cerri, Maria das Graças Almeida e Newton Dângelo, que se atêm sobretudo à Era Vargas. Os programas da disciplina e os manuais escolares do período atestam, de acordo com Abud, uma concepção pragmática que pretendia difundir o sentimento nacional brasileiro, alicerçado na irmandade de raça, língua e religião. Entretanto, a construção de uma história nacional envolve uma complexa dinâmica, como bem lembra Cerri, que discute os embates em torno da incorporação – ou não – das versões regionais, tomando por mote o discurso da paulistanidade, que teve na escola um de seus meios privilegiados de difusão.

O projeto pedagógico pernambucano proposto durante o Estado Novo, seus princípios norteadores e a concepção de educação enquanto ferramenta para a regeneração do Estado e importante aliada contra o que se qualificava de desordem, são abordados por Almeida, que também chama a atenção para as exonerações e aposentadorias forçadas, estratégias utilizadas para silenciar vozes dissonantes. No âmbito das iniciativas que perseguiam a regeneração nacional, estava a radiodifusão educativa, tema de Dângelo. O autor revisita projetos, relatórios, publicações e alguns programas da época, que objetivavam consagrar uma memória histórica oficial.

O segundo dossiê, Do Império do Brasil ao Império de Portugal, foi organizado com base nas contribuições enviadas ao Conselho Editorial. Um conjunto significativo de texto abordava as redes de poder e pertencimento que vinculavam a metrópole portuguesa e sua colônia na América. A semelhança temática permitiu enfeixá-los num todo articulado. O artigo de Russell-Wood discute, a partir de uma ampla perspectiva cronológica, a noção de centro-periferia, enfatizando estas redes de poder e seus significados, as negociações e tensões envolvidas, esmiuçando como a metrópole se enraizava no além-mar, e alertando para as contrapartidas.

Os trabalhos de Maria Fernanda Bicalho, Maria de Fátima Gouvêa e Iara Lis Carvalho e Souza analisam a atuação da Câmara, principalmente seu sentido político. O papel da Câmara do Rio de Janeiro durante os setecentos, época em que a região assume a hegemonia política no centro-sul do Brasil, é tratada por Bicalho, que relaciona a prática desta instituição aos conceitos políticos que sustentavam o Império Português. Gouvêa empreende um breve e necessário balanço historiográfico, atentando para a composição social do Senado da Câmara do Rio de Janeiro em fins do século XVIII e início do seguinte, estudando a formação desta elite. Carvalho e Souza, por sua vez, flagra a desmontagem desta arquitetura de poder. Concentrando-se na atuação das Câmaras no início de 1820, a autora esclarece a forma pela qual estas acabam por estabelecer um pacto social com D. Pedro, que nelas fundava sua real soberania.

Ilana Blaj, ao concentrar sua atenção na São Paulo colonial, lança luz a respeito da formação de uma elite local, suas relações familiares, modos de enriquecimento. Sob este aspecto, seu texto encontra parentesco com as contribuição de Marcus de Carvalho, que aborda a história das lutas em Pernambuco, a conformação das elites locais, as descensões familiares que vão definindo uma dada noção de independência.

O último artigo do dossiê, de Maria de Lourdes Lyra, detêm-se nos escritos de Frei Caneca e aponta para um problema novo e radical no Brasil do início dos oitocentos, isto é: de que maneira se concebe a pátria, como vem enviesada pela idéia de nação, como vai ganhando força e sentido políticos.

Ao longo dos anos, a Revista Brasileira de História ganhou projeção nacional, tendo publicado artigos que enriquecem nossa cultura historiográfica, alargam os horizontes desta produção, contribuem para redefinir seus sentidos. Se, por um lado, este fato expressa tanto a vitalidade da pesquisa histórica brasileira quanto o reconhecimento da RBH na comunidade científica; por outro, a grande quantidade de artigos que a revista tem recebido ocasionou um desmesurado aumento no número de páginas, colocando um novo desafio para o Conselho Editorial, ainda mais agravado pela diminuição das verbas provenientes das agências financiadoras.

O Conselho manifesta seus agradecimentos à artista plástica Regina Silveira, que permitiu a reprodução de sua obra na nossa capa; à ANPUH Nacional, Núcleo Regional de Minas Gerais e FAPESP, que viabilizaram os recursos financeiros para a publicação deste número. A edição também contou com a decisiva colaboração do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação Instituto Franciscano de Antropologia da Universidade São Francisco.

Conselho Editorial.


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.18, n.36, 1998. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Memória, história, historiografia: ensino de história / Revista Brasileira de História / 1992-1993

[Memória, história, historiografia: ensino de história]. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.13, n.25-26, set 1992 / ago., 1993. Acessar dossiê [DR]

 

História em quadro-negro: escola, ensino e aprendizagem / Revista Brasileira de História / 1989-1990

SILVA, Marcos A. da. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.10, n.19, set. 1989 / fev., 1990. Acesso apenas pelo link original [DR]

Acessar dossiê