Teoria da história e história da historiografia / Revista de História da UEG / 2021

Apresentamos mais uma edição da Revista de História da UEG. Este é um volume especial, pois se trata do décimo volume lançado desde o início da revista. Ao longo dos últimos anos temos nos dedicado com afinco à tentativa de consolidar a Revista de História como um importante canal de publicação e veiculação da pesquisa histórica no país, o que temos conseguido fazer com sucesso. Julgamos que a Revista cresceu muito nestes anos de existência, o que pode ser percebido pela quantidade de artigos que temos recebido e pelo nível e qualidade dos textos publicados, de autores(as) de todas as partes do país, o que sempre foi nosso objetivo principal.

Nesta edição trazemos um importante dossiê sobre “Teoria da História e História da Historiografia”, que procura refletir sobre os conceitos teóricos da pesquisa histórica, assim como a história da historiografia, não só nacional como da historiografia clássica. Segundo os professores que idealizaram o dossiê [1]: “o presente dossiê reuniu trabalhos que abordam as diferentes perspectivas de produção e circulação do conhecimento histórico. A História, enquanto disciplina, reflete sobre seus fundamentos teóricos e epistemológicos conectada com suas formas de organização curricular e modalidades de intervenção na sociedade. Portanto, foram acolhidas questões relativas aos conceitos, métodos, objetos e sujeitos envolvidos na escrita da história, da mesma maneira que reflexões sobre instituições de pesquisa, divulgação e ensino de História de modo geral.

O intuito maior é contribuir para a reflexão urgente sobre os diferentes modos de fazer História e se relacionar com ela em diferentes épocas e contextos. Diante disso, além dos enfoques que incidem na escrita da história, como as relações e tensões entre história e verdade, história e memória, história e representação, história e ficção, história e temporalidades, abrimos espaço para debates em torno do papel social do historiador, dos horizontes de divulgação da história ensejadas pela história pública, pela história do tempo presente ou pela relevância interseccional dos conceitos de raça, classe e gênero na escrita e recepção da história enfatizados pelas teorias feministas, giro decolonial e o pensamento afrodiaspórico, entre outros”.

Desejamos a todos(as) uma ótima leitura!

Nota

1. O presente dossiê foi idealizado por Ana Lorym Soares (UFJ) e Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos (UEG), que avaliaram grande parte dos artigos submetidos, e foi finalizado e organizado pelo Conselho Editorial da Revista de História da UEG


Conselho Editorial. Editorial. Revista de História da UEG, Morrinhos – GO, v.10, n.1, 2021. Acessar publicação original [DR]

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A teoria da história e a história da historiografia ante os desafios contemporâneos: saber histórico, comprometimento ético e ativismos políticos / Revista Trilhas da História / 2020

O dossiê “A teoria da história e a história da historiografia ante os desafios contemporâneos: saber histórico, comprometimento ético e ativismos políticos” surgiu a partir da ação conjunta do GT Nacional de Teoria da História e História da Historiografia da Associação Nacional de História – ANPUH, do Fórum de Teoria da História e História da Historiografia – FTHHH e do grupo de pesquisa Teoria da História e História da Historiografia no Brasil (UFMS), que reúnem pesquisadores de todas as regiões do país e de diversas instituições e níveis de ensino que refletem sobre a teoria da história e a história da historiografia como aspectos substanciais da produção do conhecimento histórico. Um dos propósitos que articulam esses grupos é contribuir para o fortalecimento dessa área de pesquisa não só nos meios acadêmicos, propondo agendas e debates, mas também procurando estabelecer a importância da aproximação desses historiadores com a sociedade e as demandas do tempo presente, ampliando com isso o horizonte de legitimidade social da disciplina e daquelas áreas de pesquisa.

Portanto, esse dossiê, em grande medida, se apresenta como um retrato dessas discussões. No conjunto de textos que se segue o leitor encontrará um debate sobre os múltiplos sentidos atribuídos a pesquisa e a escrita da história, pensada como um processo contínuo de construção, reconstrução e recepção do conhecimento histórico, produzido com base em critérios epistemológicos, teóricos, metodológicos, políticos, estéticos e historiográficos, mas sem perder de vista as suas responsabilidades éticas de atuar como lugar produtor de respostas possíveis para as demandas sociais e políticas de um dado período e lugar, que é sempre o presente a partir do qual o historiador perscruta o passado, visando dentre outras coisas entendimento e orientação.

O artigo que abre a discussão intitulado Rupturas na continuidade histórica e ação política: diálogos entre Hannah Arendt e Walter Benjamin de autoria de Mariana Amaral Fogueral apresenta um debate profícuo e atual sobre a produção do conhecimento histórico a partir das leituras de Hannah Arendt e Walter Benjamin, pensando essa produção a partir dos conceitos de experiência, tradição e narrativa e estabelecendo-a como horizonte político qualificado para reivindicar a intervenção direta em questões práticas do tempo presente, oferecendo um superávit cognitivo capaz de restaurar as expectativas no potencial humano, de produzir futuros menos sombrios e obscuros que o nosso presente.

Outro texto que investe nessa atualização do sentido histórico é Pós-Modernismo e Teoria da História: o relativismo revisitado, de Manoel Gustavo de Souza Neto. Nele o autor analisa o papel da linguagem na História dialogando com dois autores tidos como pós-modernos – Hayden White e J.F.Lyotard – para questionar o sentido corrente de algumas interpretações que reduzem o pós-modernismo a equiparação direta e rasa dos estatutos epistemológicos da História e da Literatura. Com essa proposta, o autor defende a primazia deste debate para a compreensão de uma necessária conciliação entre os critérios científicos da pesquisa histórica com a dimensão poética, atualizando estes autores com base em questões que já estavam sinalizadas para a pesquisa histórica desde o historicismo.

Ainda nessa senda de debate sobre representação e epistemologia histórica, o texto Emergentismo e representância: o debate historiográfico entre White e Ricoeur, de autoria de Dagmar Manieri, apresenta um debate que atualiza o sentido de objetividade histórica ao fazer uma leitura de White que ao mesmo tempo em que rebate algumas de suas proposições, incorpora outros de seus argumentos pensando-os e relacionando-os às discussões da epistemologia da história produzida por Paul Ricoeur.

Aprofundando e diversificando essas reflexões sobre a escrita da história a partir do eixo objetividade e narrativa o texto A subjetividade neoliberal contemporânea versus histórias baseadas na alteridade: identificação narrativa, linguagem e escrita da história de autoria de João Camilo Grazziotin Portal coloca como uma questão premente reconhecer que a disciplina histórica, tradicionalmente, afastou a imaginação e a subjetividade de sua narrativa, baseada numa preocupação com a verdade. Nesse sentido, o autor defende com base num diálogo com Judith Butler e Christian Dunker que a história precisa assumir seu papel de produção de corpos e inserir artifícios imaginativos e mnemônicos a partir de novas linguagens e problemáticas, principalmente se quiser alcançar públicos mais amplos que o dos pares.

Refletindo sobre subjetividade, alteridade e escrita da história, o texto Interseccionalidade como categoria de análise na Revista Estudos Feministas (1992-2019), de autoria de Janai Lopes Harin apresenta a historicização da apropriação desta categoria nos trabalhos deste periódico tão significativo para os estudos de gênero e a teoria feminista no Brasil. Para além de uma história das apropriações e usos de uma categoria de análise histórica, o texto também apresenta uma reflexão historiográfica, sobre o lugar e a importância das revistas especializadas na produção da pesquisa histórica no Brasil.

Tendo como mote analítico as categorias imaginação, estética, narrativa e performatividade o texto Paul Gilroy e a Black Britain: a figuração-performativa da narrativa e a escrita antirracista da história, de autoria de Gabriel Gonzaga apresenta uma contextualização do pensamento do autor através de um esforço de definição do seu conceito de diáspora, para inquirir sobre a possibilidade de identificar uma historiografia antirracista em sua obra e como esta pode ser mobilizada para o enfrentamento político de tais questões no presente.

A relação entre tempo presente e produção historiográfica é colocada em primeiro plano pelo texto O que a COVID-19 tem a dizer aos historiadores? Uma breve reflexão sobre o presente e o futuro historiográfico, de autoria de Marlon Ferreira dos Reis. Nele o autor professa a importância da teoria da história e dos historiadores profissionais colocarem a crise político-ambiental, escancarada pela pandemia, como um tema central das análises históricas objetivando formas de enfrentamento das fake news, dos diversos negacionismos e do anticientificismo de uma maneira geral, o que no atual contexto de pandemia no Brasil têm atingido as ciências como um todo, colocando em cheque a legitimidade social do conhecimento científico e sua capacidade de dar respostas a crises como essa que vivemos.

Na mesma trilha de pensamento do texto anterior, mas desbravando outros espaços históricos e geográficos, o texto Pensando o papel social do historiador a partir da publicação do Manifesto de Historiadores no Chile (1998-1999) assinado por Lays Correa da Silva coloca como problema central a questão ética que evolve o trabalho nos historiadores no seu fazer historiográfico. Essa análise da experiência professada no manifesto dos historiadores chilenos contra os usos públicos do passado ditatorial do Chile que tentavam enaltecê-lo ou oferecer uma leitura laudatória tem muito a dizer numa perspectiva comparativa sobre as demandas postas aos historiadores brasileiros diante de um governo que trabalha para monumentalizar o passado, fazendo tabua rasa da violência, flertando com a morte na medida que além de elogiar a tortura e torturadores publicamente, nada faz para impedir a proliferação de uma doença que já matou mais de 60 mil pessoas e segue contando…

O texto A cultura brasileira na síntese de Fernando de Azevedo de autoria de Wilson de Sousa Gomes retoma e aprofunda uma discussão corrente na historiografia brasileira de pensar os debates acerca da interpretação do Brasil e da formação nacional por meio da análise da obra de um dos seus maiores expoentes. Esse olhar para o passado mediado pela fonte, carrega um desejo fecundo e manifesto de pensar a sociedade brasileira contemporânea por meio da compreensão da historicidade de suas mazelas.

O texto (In)Confiabilidade da Memória como Introdução à Interpretação Temporal da Lembrança: um diálogo com Aleida Assmann, de autoria de Rodrigo Tavares Godoi, propõe um diálogo crítico com a autora alemã pela via de uma hermenêutica da memória estruturada no pensamento de Henri Bergson. O diálogo com a autora é mediado por um esforço reflexivo de pensar a tensão entre experiência e historicidade. A ênfase do texto recai na reflexão da memória a partir de uma dimensão retórica que se vincula há algumas ideias de história trabalhadas pela historiografia.

Como nos faz lembrar o histórico e o título da Revista Trilhas da História: “trilhas são frestas costumeiramente abertas em lugares ditos ermos, quando buscamos construir novos caminhos ou mesmo encurtar aqueles já existentes”. Elas se desenham pelo percurso de muitos passos e na tentativa de romper com as vias oficiais que se instauram. Nesse sentido, esse conjunto de textos aqui reunidos, seguindo uma orientação proposta pelo dossiê, se propuseram a apresentar a partir de suas experiências de pesquisa trilhas possíveis que podem ser percorridas e pavimentadas por outras pesquisas no futuro.

Boa leitura a tod@s, estamos certos de que será apenas percorrendo as trilhas do conhecimento que poderemos desbravar um amanhã menos tenebroso, mais humano e sustentável.

Luiz Carlos Bento – Professor Doutor (UFMS / CPTL)

Wagner Geminiano dos Santos – Professor Doutor (Redes municipais de ensino de São J. C. Grande e Água Preta – PE)

Organizadores do dossiê


BENTO, Luiz Carlos; SANTOS, Wagner Geminiano dos. Apresentação. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.9, n.18, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Teoria da História e História da Historiografia na América Latina e no Caribe / História da Historiografia / 2018

La constitución de la historia como disciplina en América Latina y el Caribe durante los siglos XIX y XX coincidió con el proceso de emergencia y consolidación de los Estados nacionales a los que proveyó de relatos e interpretaciones sobre sus orígenes, su evolución, sus rasgos particulares y su identidad. De ese modo, las narrativas históricas tomaron a la nación como principal escala de análisis y, mucho más importante aún, como sujeto protagónico de los procesos históricos.

Hasta mediados del siglo XX, y aunque con importantes diferencias regionales, la historiografía de los países latinoamericanos se desarrolló en buena medida por fuera de los sistemas universitarios. Los historiadores eran en general políticos, funcionarios, escritores, médicos o abogados, que podían estar ligados o no a instituciones como las academias de historia, los institutos históricos o las sociedades de estudios históricos. Después de la Segunda Guerra Mundial, y sobre todo a partir de la década de 1960, las universidades comenzaron a concentrar la producción de conocimiento histórico. Tributaria de una tradición local de ensayismo crítico, y enriquecida por el contacto con la historia social marxista y annaliste -contacto que en parte se debió al exilio provocado por las dictaduras militares-, la historiografía latinoamericana fue entonces objeto de una notable renovación teórico-metodológica que promovió la incorporación de nuevos temas, problemas y abordajes. En ese sentido se destaca la consideración de América Latina y el Caribe como un espacio con una historia común que era pensada con categorías como dependencia, desarrollo, modernización o formación económico-social. Sin embargo, y a diferencia de lo sucedido con otras disciplinas como la filosofía, la sociología o la economía, esta caracterización no fue una condición suficiente para que la historiografía produjera interpretaciones y narraciones de conjunto capaces de trascender la suma de casos nacionales. Leia Mais

Hayden White: reflexões contemporâneas | ArtCultura | 2018

Poucos autores foram paradoxalmente tão mal lidos e tão necessários para a historiografia quanto Hayden White (1928-2018). O norte-americano, durante sua carreira de mais de cinco décadas, soube, talvez como ninguém, provocar intelectualmente os historiadores e historiadoras de modos diversos: de suas asseverações sobre o caráter ficcional do discurso historiográfico às suas críticas ao que ele chamou de “anodinia ideológica” da disciplina, passando por suas teorizações seminais sobre os eventos modernistas de nossa era, White fez da polêmica uma arte; não a controvérsia vazia, contudo, que visa somente fechar discussões, mas a provocação como uma forma de armar a imaginação e o intelecto contra as diversas forças que nos dominam, consciente e inconscientemente. Para ele, as disparadas incisivas contra a historiografia disciplinada não eram mais do que uma maneira de se tentar chamar a atenção de seus colegas aos “problemas peculiares de seu tempo” e à possibilidade de que, em nossa modernidade tardia, a história havia se transformado mais em um problema do que uma solução – o pesadelo do qual já nos falava Joyce e de que, ao fim e ao cabo, desejamos escapar. Leia Mais

Teoria da história e história da historiografia: debates e desafios no século XXI / Canoa do Tempo / 2018

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso. [1]

A imagem do anjo da história interpretada por Benjamin nas teses Sobre o Conceito de História (1940) ainda representa não apenas o fardo, mas também uma série de desafios que o século XXI tem apresentado aos historiadores. Para Benjamin, a produção de conhecimento histórico é vibrante e reverbera em direção ao passado a partir das reivindicações feitas no presente. Nesse sentido, a rememoração e a redenção são conceitos chave para a teoria da história benjaminiana e, ambos, apresentam um convite para se pensar sobre o papel fundamental da história para a formação integral dos cidadãos em uma democracia republicana.

Em um contexto fortemente marcado pelo refluxo das utopias, a perspectiva teórica benjaminiana inscreve, assim, o campo da Teoria da História em uma perspectiva social e política porque necessária e fundamental para a problematização da produção do conhecimento histórico, permitindo que personagens e questões consideradas mortas e enterradas possam ser compreendidas, reivindicadas e reinseridas no contexto contemporâneo. Como hóspedes efêmeros do tempo, Benjamin nos convida a desenvolver um comportamento crítico em relação à ingênua perspectiva implantada pela noção de progresso. Essa postura conservadora adotada por positivistas e alguns historicistas recusava abordar as reivindicações e lutas de resistência empreendidas por pessoas comuns. Sendo assim, as atividades culturais e políticas cotidianas permaneciam abandonadas por clivagens conceituais enrijecidas e presas a formulações teóricas cientificistas e, ingenuamente, empiristas. Como pensarmos outra história?

A escrita da história: viradas de século, viradas teóricas

A batalha conduzida por Benjamin tampouco foi concluída, perspectivas empiristas continuam fascinando uma parcela considerável de historiadores que, nesse início de século, acreditam e trabalham arduamente na proposição de um cientificismo ironicamente sustentado por projetos políticos ultraconservadores. É exatamente porque os embates pela escrita da história se adensam novamente que os historiadores progressistas devem estar atentos às diferentes facetas assumidas pelas lutas de resistência propostas pelos trabalhadores ao longo da história, uma vez que, propositalmente, foram abandonadas pela historiografia escrita pelos vencedores e seus herdeiros. Quando investigadas e interpeladas pelos historiadores, defende Benjamin, as práticas de resistência empreendidas no passado podem se tornar “centelhas de esperança” para as sociedades contemporâneas. Exercida criticamente, a história pode transformar reivindicações populares aniquiladas no passado em centelhas capazes de contagiar as novas gerações em um “tempo saturado de agoras”.

Ao invés de ser tomada como um círculo vicioso tal qual “as contas de um rosário” – com começo, meio e fim já previamente definidos –, a história ganha na proposta teórica de Benjamin um contorno ativo no qual interessa reconstruir o passado em diálogo franco e aberto com a elaboração do tempo presente e também de novas perspectivas para o futuro. De maneira geral, verificamos continuidade desse problema levantado por Benjamin na constatação trazida pelo historiador britânico Eric Hobsbawm, muito cabível perante a proposta apresentada nesse dossiê:

A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. [2]

Podemos recuar ao ano de 1874 para nos vincularmos ao chamado “mal-estar da história”, situação que guarda paralelos, por exemplo, com os ataques sofridos pela disciplina nos últimos anos no Brasil. Desde Nietzsche contamos com a possibilidade de um posicionamento moderno que se situa como que, em uma metáfora espacial, em situação de fronteira: aquela posição em que é possível se ver como Outro, “de fora”. Nietzsche criticou a modernidade historicista com tal olhar, ao apresentar sua conhecida II Consideração Intempestiva.  [3] Nesse mesmo horizonte, porém em uma perspectiva temporal, o conceito de contemporâneo guarda o significado igualmente atribuído pelo filósofo alemão ao adjetivo “intempestivo” (fora do tempo, anacrônico). Agamben afirmaria, nesta mesma direção:

Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual; mas, exatamente por isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e apreender o seu tempo. [4]

Trata-se, efetivamente, de outra relação com o tempo, tanto mais ética. Era isso que Benjamin reivindicava. Passado e futuro articulados a partir dos dilemas do presente. Um compromisso com os mortos, firmado com o olhar voltado a um futuro possível, mais humano e justo. É sobre um tempo, o nosso, igualmente saturado de “agoras”, que nos fala o historiador François Hartog. Em hipótese de trabalho já significativamente discutida e criticada, ele aponta para o predomínio de uma dimensão presentista em nossa experiência de tempo contemporânea. A perspectiva inaugurada pelo “presentismo” teria consolidado socialmente, para este autor, uma percepção do tempo muito diferente daquela proposta por Benjamin. O presente teria se expandido tanto em direção ao passado quanto rumo ao futuro, ao ponto de grande parte das pessoas já não guardarem qualquer conexão mais profunda com as diferenças marcadas em outras temporalidades. Em outras palavras, o presente teria se tornado onipresente, comprometendo a capacidade das pessoas de estabelecerem relações temporais. [5] Se a hipótese do historiador francês é discutível, como complemento e meio de torná-la mais complexa, podemos considerar as transformações nas experiências humanas após o avanço das novas tecnologias. [6] No entanto, é também Hartog quem situa a historiografia em outro momento epistemológico. Considerando as transformações políticas e sociais bem como as mudanças no interior da própria disciplina, sobretudo, após a década de 1970, percebe-se que a história ingressou em outro momento, definido por Hartog como “movimento reflexivo”.  [7] A partir dessa fase, houve a aproximação, entre os historiadores, dos termos epistemologia e historiografia. Envolvidos com novos problemas, abordagens e objetos, os profissionais da área passaram a enfrentar indagações colocadas pelos diferentes contextos históricos e historiográficos.

Ainda que estejamos falando de um movimento reflexivo com mais de quatro décadas de duração, a atualidade da discussão confirma-se, por exemplo, no atual debate pertinente ao ensino de história. Da ampla discussão filosófica acerca do conceito de tempo e suas variantes (cujas obras do filósofo alemão Martin Heidgger e do filósofo francês Paul Ricoeur aparecem como algumas das mais conhecidas e significativas que cobrem o século XX, guardadas as suas diferenças), na modernidade, história e ensino de história permaneceram, em certa medida, desconectadas no que se refere àquela discussão conceitual. [8] Embora o diálogo das teorias da história com a filosofia, de maneira geral, e com a epistemologia, em particular, tenha se desenvolvido, a pluralidade e complexidades dos debates acerca das temporalidades apenas tangenciaram as discussões didático-pedagógicas da história apreendida como ensino. Diante disso, no caso brasileiro, tem havido esforço por parte de uma nova geração de historiadores no sentido de integrar a história ensinada às investigações epistemológicas. Fernando de Araújo Penna é um dos pesquisadores mais atentos e propositivos, neste aspecto. Penna, dentre as muitas frentes de sua atuação na pesquisa, no ensino e, sobretudo, na extensão que visa ao debate acerca do papel social do historiador, critica fortemente certa acepção dominante sobre o que é a epistemologia da história. Segundo Penna, a “operação historiográfica”, clássica noção desenvolvida por Michel de Certeau, em A escrita da história (1975), não considera as dimensões pedagógicas e sociais do conhecimento histórico. [9] Ainda de acordo com o pesquisador, inclusive a releitura da concepção, levada a cabo por Ricoeur, não supera o problema básico de entender os termos “epistemologia da história” como restrito à produção do conhecimento, excluindo qualquer consideração relativa à função social desse conhecimento e ao seu ensino: “o objetivo primordial da História pode até não ser o ensino escolar, mas ignorar esse aspecto constituiria uma limitação prejudicial”. [10]

Os imperativos de uma cultura histórica e mesmo de uma consciência dita histórica atribuem às categorias que circundam o conceito de tempo e que o torna inteligível papel central (por exemplo: sentido, processo, experiência, orientação, narrativa, memória, etc.). [11] Muitas dessas categorias, como se pode perceber, não pertencem exclusivamente ao conhecimento histórico. Elas fazem parte de diversas áreas e saberes e, sobremaneira, ao espaço público, ao âmbito político. Jörn Rüsen, historiador alemão, tem insistido na necessidade dos historiadores prestarem atenção nas dimensões práticas do saber que produzem. Em Rüsen, percebemos certo movimento na direção de examinar o problema da cultura histórica articulando as noções de consciência histórica e de ensino de história. Em alguma medida, é o que Penna tem chamado a atenção dos historiadores brasileiros: “o diálogo entre uma Epistemologia da História voltada para a produção do saber e uma Didática preocupada com a transposição e o ensino desses saberes é inquestionavelmente profícuo para ambos os campos de pesquisa. [12]

Os autores presentes nesse dossiê trazem, a partir de diferentes perspectivas, outros exemplos de como os historiadores trabalham com suas fontes e constroem suas interpretações do e no tempo, e, também, entre temporalidades diferentes, contribuindo com algumas respostas possíveis aos problemas que nos cercam atualmente. Todos, no entanto, são unânimes em criticar a tese de que caberia ao conhecimento histórico apenas uma avaliação objetiva e neutra de fatos ocorridos. Afinal, para quê, para quem e porquê investir esforços na formação em teoria da história? Em que medida as teorias da história podem contribuir para uma reflexão mais apurada da história e, por sua vez, para um combate concreto contra as discriminações, para a conquista de uma democracia econômica e social e uma emancipação efetiva dos sujeitos históricos?

Questões como estas demonstram que não somente a produção e a divulgação das pesquisas são essenciais, mas é preciso ainda que a teoria da história faça parte do trabalho dos professores nas salas de aula da educação básica. Um programa educacional que vise à conquista de autonomia por parte dos alunos e compreenda-os enquanto sujeitos históricos protagonistas em seu próprio tempo, não pode ignorar as problematizações conduzidas pela teoria da história. A tão comentada autonomia só pode ser conquistada concretamente, como afirma Saviani ao apresentar as fundamentações teóricas da Pedagogia Histórico-Crítica, se o aluno compreender como os conhecimentos são produzidos, inclusive o histórico, e quais são os meandros do processo de sua confecção, os ingredientes teóricos e as questões políticas implicadas nesse trabalho reflexivo. [13]

Para Michel Löwy, o materialismo de Benjamin estava preocupado em reabrir cada presente como um portal para a tomada de decisões, sendo o historiador um “apanhador de centelhas de esperanças”. [14] Uma das premissas que motivou a organização do presente dossiê foi justamente a possibilidade de fomentar o debate em torno de pesquisas no campo da teoria da história empreendidas hoje que, imbuídas do desafio de perscrutar o passado, também permitam aos leitores palmilhar a seara da produção do conhecimento histórico e compreender o quanto o manejo dessas questões é fundamental para o entendimento de como a própria história é escrita.

Possíveis respostas

O dossiê apresentado por esta breve reflexão teórica e historiográfica, assim, traz uma série original de artigos que contribui em grande medida para as reflexões próprias ao campo de conhecimento compreendido pela teoria da história, inscrevendo Canoa do Tempo em um manancial nacional de debates. Nesse sentido, o presente dossiê apresenta artigos que estão empenhados em demonstrar como a epistemologia da história é base fundamental e necessária para a compreensão dos processos de produção do conhecimento histórico e da formação dos historiadores e professores de história. A teoria permitiu aos autores a abordagem de objetos variados, demonstrando como os historiadores, em meio a diferentes perspectivas, desenvolvem um raciocínio próprio ao seu ofício e responsável pela análise das ações e suas personagens no tempo.

Patrícia Marciano de Assis discute em seu texto a concepção de Estado no âmbito de obras específicas dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari. A proposta diferenciada a partir da qual ambos sugerem possibilidades alternativas de apropriações da história como recurso para exame das condições de acesso ao conhecimento são exploradas pela autora bem como situa sua leitura da perspectiva micropolítica. Segundo Assis, ao abrirem mão do ponto de vista tradicional, que prima pela representação, em nome de outro, calcado na diferença, Deleuze e Guattari nos trazem possibilidades variadas para pensarmos não apenas o Estado, mas todos os mecanismos que o fazem existir (com vistas para sua transformação).

O artigo de Diego José Fernandes Freire é fruto de um estudo que procurou investigar a produção historiográfica no Brasil com ênfase na década de 1970, evidenciando aspectos relativos à sua historicidade. Trata-se de um ensaio teórico que tem o mérito de reivindicar a importância desse período da historiografia brasileira como essencial para a compreensão de um contexto no qual os historiadores acadêmicos – em processo de profissionalização – passaram a produzir propostas teóricas que rivalizavam com outras perspectivas já existentes. O artigo demonstra como a historiografia acadêmica, inclusive aquela produzida no Departamento de História da USP, passou a construir a legitimação de suas pesquisas a partir da crítica aos modelos de reflexão historiográfica praticados anteriormente, evidenciando, contudo, que essa estratégia indicava também a existência de disputas intelectuais que iam muito além das questões teóricas.

O estudo de Júlio Ferro Silva da Cunha Nascimento enfrenta corajosamente um tema ainda muito tangenciado pela historiografia, qual seja: a militância e o protagonismo político e intelectual de pessoas transexuais, trangêneros e travestis. Apenas recentemente nossa área tem voltado sua atenção aos problemas de gênero e, infelizmente, ainda há preconceitos que acabam por subestimar tais discussões, de central relevância acadêmica e política. A área de Teoria e História da Historiografia tem assumido, ainda que timidamente, o compromisso perante o que é trazido no artigo de Nascimento, mas ainda há longo caminho a ser trilhado. Nesse sentido, o texto constitui marca significativa em um dossiê que pretende apontar para discussões relevantes a serem ampliadas neste século.

A contribuição de Jacson Schwengber parte do conceito de crítica desenvolvido pelo filósofo francês Michel Foucault para pensar formas alternativas de se examinar a modernidade. Partindo de uma interessante discussão acerca da ideia de crise na história, o historiador explora a questão para encaminhar aquilo que tanto Foucault como o historiador alemão Reinhart Koselleck ajudaram a explicar: a ideia de crise está ligada à certa forma a partir da qual o mundo moderno percebe e se relaciona com as mudanças temporais desde os seus primórdios. Pierre Bayle é tomado como fio condutor para problematizar e compreender tal hipótese a partir de olhares que nos são contemporâneos.

Eduardo Antonio Estevam Santos traz importante contribuição ao presente dossiê, tendo em vista que parte do diálogo com intelectuais africanos para confrontar a questão da exclusão da história africana pela historiografia europeia ocidental. Ao explorar o conceito de razão etnográfica, o historiador demonstra como o discurso científico europeu, no século XIX, impossibilitou a construção de historiografias africanas ao deslocar todas as suas diversidades para além das fronteiras do que poderia ser (re)conhecido dentro do rígido e unitário estatuto daquele discurso. A análise parte de um exame do historicismo europeu, particularmente alemão, para, em seguida, explorá-lo por meio de investigações de estudiosos africanos. Santos demonstra, ainda, que havia historiadores africanos desde o século XIX, mas o avanço do historicismo, no decorrer do século, acabou por impor determinada perspectiva que tornou a África e os africanos invisíveis, constatação que tem exigido e merece profundas reflexões nos dias de hoje.

O trabalho de Rafael Terra Dall’agnol é fruto de um estudo que procurou compreender o papel que a biografia desempenhou no regime de escrita da história no Brasil oitocentista, quando funcionava como importante modo de elaboração de experiências do passado. Trata-se de um ensaio cujo objetivo principal é investigar como Pereira da Silva utilizou a biografia para empreender a escrita da obra Plutarco Brasileiro. O texto tem ainda o mérito de passar em revista à biografia como problema historiográfico. Nesse sentido, discute-se como a história biográfica tem como um dos aspectos positivos compreender melhor a relação entre história e biografia, destacando ainda como o projeto biográfico proposto por Barbosa para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), possuía particularidades ligadas ao seu contexto histórico. O artigo apresenta, assim, uma contribuição significativa para o debate e a reflexão em torno da teoria do conhecimento histórico, em particular, para o desenvolvimento de uma leitura crítica em relação ao modo como os chamados “grandes homens” da história eram parte essencial dos projetos biográficos presentes no âmbito do IHGB. Em particular, a reflexão sobre o papel conferido à biografia de narrar a história da nação, permite compreender como ela e a história se encontravam e se confundiam para defender que o passado deveria ensinar através dos “grandes homens” e de seus feitos.

Fernando Cauduro Pureza convida os historiadores “a entrarem numa festa que não foram convidados e, de forma crítica, serem os ‘desmancha-prazeres’ que vão questionar justamente os jogos eletrônicos e suas narrativas a partir de seu métier”. O artigo é fruto de um estudo que procurou compreender as representações produzidas em narrativas históricas “gameficadas”, dedicando atenção especial para o modo como alguns games que tratam de temas históricos naturalizam a passagem do feudalismo para o capitalismo e as próprias relações capitalistas de produção. Ao partir dos games enquanto fonte para discutir a invisibilidade pública existente em torno da origem do capitalismo, Pureza apresenta os meandros de uma problematização fundamental para a teoria marxista da história: a historicidade do próprio sistema capitalista. Trata-se de um ensaio que tem o mérito de reivindicar, ainda, uma ampliação do espaço de discussão e intervenção pública a ser realizada pela ação dos historiadores.

Rogério Lopes Pinheiro de Carvalho propõe um artigo desafiador que instiga os historiadores a pensarem a teoria marxista da história tendo como base seu valor heurístico. Ao mesmo tempo, o autor critica aqueles que consideram o materialismo histórico um procedimento metodológico estéril, denunciando a superficialidade e os interesses nitidamente políticos de algumas proposições que procuram anular o seu potencial teórico e interpretativo. Além disso, a preocupação de Carvalho tem por intuito revelar a articulação intrínseca existente entre os pressupostos epistemológicos e políticos presentes no materialismo histórico. Nesse sentido, o autor destaca a importância de se compreender o significado de conceitos chave para a teoria marxista da história, tais como o de crítica da economia política e o de totalidade. Através deste último, Carvalho enfatiza a importância de pensá-lo como uma “intensa relação entre economia, classe social e política”, capaz de permitir ao historiador investigar os fenômenos sociais a partir de suas raízes e contradições profundas. O grande mérito deste artigo está em demonstrar como o conceito de totalidade é central para o materialismo histórico e também primordial para a elaboração de uma história capaz de combater o avanço das práticas empiristas, explicitando o ultraconservadorismo que as sustentam.

Por fim, antes de desejarmos uma excelente leitura a todas e a todos, gostaríamos de ressaltar nossa satisfação com o resultado do trabalho coletivo que se apresenta neste número de Canoa do Tempo. A reunião de textos que concretiza o dossiê que se segue chama a atenção pela pluralidade temática, institucional e regional. Há artigos de pesquisadores das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul, o que garante uma abrangência e uma abertura sem iguais para a área de Teoria e História da Historiografia. Além disso, evidencia o crescimento da área em regiões diversas e distantes dos conhecidos centros especializados do País. É seguro afirmar que temos muito a ganhar, coletivamente, com essa dinâmica de produção que, ao mesmo tempo em que dialoga com pesquisas de ponta – nacionais e internacionais –, traz, pouco a pouco, os anseios e projetos particulares de diferentes espaços à vista da comunidade historiadora brasileira. Com votos de continuidade nessas aproximações, desejamos ótima leitura!

Notas

1 Tese IX “Sobre o conceito de história” de Walter Benjamin. Ver: LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio – uma leitura das teses “sobre o conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.

2. HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 13.

3. NIETZSCHE, Friedrich. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Tradução de Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

4. AGAMBEN, Giogio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009, p. 58-59.

5. HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiência do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

6. PEREIRA, Mateus; ARAUJO, Valdei. Reconfigurações do tempo histórico: presentismo, atualismo e solidão na modernidade digital. Revista UFMG, Belo Horizonte, vol. 23, n. 1 e 2, p. 270-297, jan./dez. 2016.

7. HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

8. HEIDEGGER, Martin. Temporalidade e historicidade. In: Ser e Tempo. Tradução revisada de Márcia Sá Cavalcante Schuback. Volume Único. Petrópolis: Vozes, 2006; RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2007.

9. CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

10. PENNA, Fernando de Araújo. A relevância da didática para uma epistemologia da história. In: MONTEIRO, Ana Maria et. all. (Orgs.). Pesquisa em ensino de história: entre desafios epistemológicas e apostas políticas. Rio de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2014, p. 51.

11. RÜSEN, Jörn. O que é a teoria da história? In: Teoria da história: uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora UFPR, 2015.

12. PENNA, Fernando. Op. cit., p. 51.

13. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica – primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2005.

14. LÖWY, Michael. Op. cit..

Referências

AGAMBEN, Giogio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política: ensaio sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 222-232.

CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiência do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

HEIDEGGER, Martin. Temporalidade e historicidade. In: Ser e Tempo. Tradução revisada de Márcia Sá Cavalcante Schuback. Volume Único. Petrópolis: Vozes, 2006.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio – uma leitura das teses “sobre o conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.

NIETZSCHE, Friedrich. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Tradução de Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

PENNA, Fernando de Araújo. A relevância da didática para uma epistemologia da história. In: MONTEIRO, Ana Maria et. all. (Orgs.). Pesquisa em ensino de história: entre desafios epistemológicas e apostas políticas. Rio de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2014, p. 41-52.

PEREIRA, Mateus; ARAUJO, Valdei. Reconfigurações do tempo histórico: presentismo, atualismo e solidão na modernidade digital. Revista UFMG, Belo Horizonte, vol. 23, n. 1 e 2, p. 270-297, jan./dez. 2016.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2007.

RÜSEN, Jörn. O que é a teoria da história? In: Teoria da história: uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora UFPR, 2015.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica – primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2005.

Evandro Santos – Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor de Teoria da História no Departamento de História do Centro de Ensino Superior do Seridó – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES-UFRN).

Glauber Cícero Ferreira Biazo – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Teoria da História no Departamento de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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Historiografia na América Espanhola / História da Historiografia / 2011

O dossiê Historiografia na América Espanhola pretende diminuir a distância entre os pesquisadores de história da América brasileiros e as áreas dedicadas aos estudos historiográficos no país. Esta distância já vem sendo superada em alguns países americanos de fala espanhola, com destaque para a Argentina e o México, onde os estudos de historiografia e cultura histórica hispano- -americanas ganharam grande desenvolvimento nas últimas décadas graças aos trabalhos de Elias José Palti, Enrique Florescano, Fabio Wasserman, Natalio Botana, entre muitos outros. No Brasil ainda precisamos investir bastante na consolidação dessa área de pesquisa. Estudos comparativos entre a historiografia brasileira e a hispano-americana ainda são raros. Ainda mais incomuns são as aproximações destas com a produção norte-americana. No entanto, acreditamos que tal diálogo traria novas e interessantes perspectivas sobre a própria historiografia brasileira, vista agora no quadro de um contexto continental que enfrenta muitas questões e dilemas em comum. Os trabalhos aqui reunidos são um passo para essa aproximação, trazendo para um periódico não especializado em história da América um conjunto de problemáticas que vem sendo discutido nos países hispano-americanos.

Em entrevista concedida durante uma passagem pelo Brasil, o historiador equatoriano Jorge Cañizares-Esguerra, que vem se destacando nos últimos anos com um erudito e original conjunto de trabalhos sobre a história cultural da América Colonial, fala sobre uma série de possibilidades de redefinição de nossa compreensão da experiência colonial hispano-americana e propõe alternativas para estudos comparativos com a da América do Norte, como o realizado por ele no livro Puritan conquistadors. Cañizares-Esguerra defende, entre outras sugestões, a necessidade de repensar certas visões da história latino-americana que oscilam entre o quase exclusivamente trágico e o folclórico, visões que marcaram muito a visão dos públicos norte-americano e europeu sobre o continente. No mesmo sentido, questiona a oposição centro-periferia, defendendo a originalidade da produção intelectual hispano-americana do período colonial, como no caso dos debates sobre a escrita da história no século XVIII, estudadas no seu livro How to write the history of the New World. Leia Mais

A história da historiografia e os estudos clássicos / História da Historiografia / 2010

O dossiê intitulado “A história da historiografia e os estudos clássicos” congrega seis artigos de pesquisadores que têm se debruçado sobre a escrita da História na Antiguidade Clássica, em seus mais diversos temas e formas. Em todos, é perceptível como nossos paradigmas atuais de investigação têm orientado nossos olhares em direção a um passado que, por vezes, parece tão distante no tempo e no espaço, mas que de nós se aproxima pelas temáticas abordadas, pelos conceitos utilizados e pelo modo como os documentos, com as mais variadas naturezas e apresentados nos mais diversos suportes, têm sido relidos de forma crítica.

No artigo dos professores Pedro Paulo Abreu Funari e José Geraldo Costa Grillo (Unicamp), tem-se um painel de como a historiografia acerca das atividades bélicas na Grécia Antiga se alterou ao longo do tempo, por meio da passagem de um modelo narrativo baseado nos relatos de batalhas para uma abordagem histórico-cultural. A guerra deixou de ser vista apenas como negócio de Estados e passou a ser encarada como uma prática cultural, plena de símbolos e insígnias, pela análise de documentos textuais e arqueológicos, resgatados da cultura material do povo grego antigo. Leia Mais

Outros tempos, outros lugares: a história sob o olhar dos viajantes / Aedos / 2008

Criar um periódico científico era um antigo anseio dos alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 2007, um grupo de estudantes dedicou-se à tarefa, planejando dar origem a uma publicação impressa, meta que esbarrou principalmente em obstáculos financeiros. Com o ingresso das turmas de Mestrado e Doutorado de 2008, as discussões relacionadas à revista avançaram no sentido de publicá-la eletronicamente. Para além das questões burocráticas, pensar o perfil da publicação foi sem dúvida o maior desafio, enfrentado em inúmeras e exaustivas reuniões. Alguns colegas que participaram dessa importante etapa não continuaram no grupo que deu seguimento ao trabalho. Mas muitas de suas ideias, de uma maneira ou outra, contribuíram para efetivarmos o projeto. Somos gratos a eles, bem como à Coordenação do PPG em História da UFRGS, que, na pessoa do Professor Dr. José Rivair Macedo, não poupou forças para que todo o empenho para criar a revista discente não esmorecesse. Desde a criação oficial de Aedos, em 2 de julho de 2008, numa assembléia aberta a professores e alunos do Programa e que contou com a participação de muitos colegas, viemos constituindo extenso, diversificado e qualificado corpo de avaliadores, a quem agradecemos imensamente por aceitarem integrar nosso Conselho Consultivo.

Aos poucos e tanto quanto possível, buscamos conquistar espaço acadêmico. O sítio eletrônico da Revista, no ar desde 3 de setembro de 2008, já conta com mais de 1.500 acessos no país e no exterior. A expectativa de tentar aproximar o debate historiográfico de um público mais amplo, por sua vez, foi atendida com a divulgação da chamada de artigos para o segundo número no jornal Correio do Povo (edição de 26 de janeiro de 2009). E acreditamos que um dos desdobramentos de tal preocupação com publicidade é a diversidade institucional dos autores presentes neste primeiro número, quase todos estudantes de programas de pós-graduação, detalhe revelador do sucesso obtido por Aedos em um de seus principais objetivos: aproximar mestrandos e doutorandos e lhes propiciar um espaço para discussão.

Neste número inaugural, Aedos apresenta o dossiê temático Outros tempos, outros lugares: a história sob o olhar dos viajantes. A ideia do tema apresenta-se interessante para o debate sobre os relatos de viagem como indícios de realidades históricas distintas, bem como para uma análise da produção historiográfica derivada dos mesmos. A grande diversidade de realidades e períodos históricos, bem como a potencialidade das discussões que caracterizam o tema, fica bastante evidente nos cinco artigos que integram o Dossiê. Esses textos apresentam a grande relevância dos relatos de viajantes como fonte para a pesquisa histórica, desde que considerados a posição do narrador, o público para quem produz e todo o complexo de percepções que norteia as suas descrições. Os textos abarcam um período histórico de mais de cinco séculos, evidenciando importantes aspectos da história / História do continente africano e de três países da América do Sul – Brasil, Argentina e Uruguai.

Os três primeiros artigos inserem-se num período de produção de um grande volume de informações, por parte das metrópoles europeias, acerca de suas colônias. Nesse “descobrimento” do “novo mundo”, o Império Português voltava sua atenção para o território africano e brasileiro. O primeiro artigo, intitulado “Evidências de História nos Relatos de Viajantes sobre a África Pré-Colonial”, esclarece algumas questões epistemológicas relativas aos relatos de viagem enquanto fonte para o estudo da História da África pré-colonial. Já o texto “Todas as Letras são oriundas do Rei: Inter Universitas Et Collegium” aborda os diferentes contextos de produção intelectual sobre o Brasil e evidencia os interesses políticos da monarquia portuguesa no incentivo à essa produção. E, com o objetivo de entender a imagem que se queria projetar da capital colonial do Brasil, em “O Rio sob Schematas: as representações de Thomas Ender”, suas obras são analisadas a fim de refletir sobre suas representações, esquematas e registros históricos.

Os dois últimos textos do Dossiê referenciam a importância dos relatos de viajantes na produção historiográfica da Argentina e do Uruguai. Em “Relatos de Viajeros e Historiografía: paisage rural y sociedad urbana en el Buenos Aires de la primera mitad del siglo XIX”, analisa-se como as imagens dos viajantes europeus que percorrem o espaço da campanha na primeira metade do séc. XIX são tomadas como ponto de partida indiscutível na construção de um estereótipo historiográfico que contrapõe a cidade e o campo. E o artigo “Tradición y modernidad en América Latina. Carlos Real de Azúa y sus análisis de relatos de viajes por Uruguay”, examina como o intelectual uruguaio Carlos Real de Azúa (1916-1977) utiliza e interpreta os relatos de viagem sobre o Uruguai, considerando o contexto de produção desse autor e o seu posicionamento crítico num ponto central da sua obra: as vinculações complexas entre “tradición-modernidad”.

O trabalho “Antióquia e a Fome: dois imperadores romanos entre a sanguinolência e a sátira”, é o primeiro da seção de artigos variados. Ele trata da relação entre dois imperadores romanos – Galo e Juliano – com os cidadãos e a política da cidade de Antióquia. A partir das escolhas religiosas de cada um dos dois irmãos que ascenderam ao cargo, este artigo desenha os desejos populares da cidade no século IV d.C. Já “Um Mundo às Avessas: relações de poder e dominação entre os operários gaúchos na Primeira República (1917-1919)” examina as relações de dominação e de poder entre os operários gaúchos na Primeira República (1917-1919), problematizando a relação entre grevistas e trabalhadores não engajados. “Será o populismo um conceito operacional? Notas para o debate”, por sua vez, faz uma reflexão teórica acerca do potencial analítico do conceito de “populismo” para o período de 1945-1964 da história brasileira, realizando um balanço de textos clássicos e contemporâneos em historiografia e teoria social, historicizando, assim, os diversos significados e usos do conceito.

“Economia, discurso e poder: os bastidores políticos do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)”, busca levantar hipóteses sobre a estratégia de crescimento no período do governo Geisel, analisa o ambiente político, a retórica e o cenário internacional. Já “Acordo Nuclear Brasil-Alemanha Federal de 1975: o desafio brasileiro na estratégia de soberania internacional” investiga, a partir do acordo, as questões de tecnologia nuclear correlacionadas à política externa brasileira no período da Ditadura Militar. As relações entre memória, história e antropologia são abordadas no artigo “Nos porões da Glória: uma reflexão sobre arquivos pessoais, Teixeirinha e alguns cruzamentos entre História e Antropologia” a partir do acervo desse cantor gaúcho. E “Escravidão contemporânea no Brasil: a trajetória histórica de um debate teórico-metodológica e político (1985-2003)” nos brinda com uma análise dos diferentes aspectos da discussão sobre a existência de modalidades de trabalho escravo no Brasil contemporâneo, incluindo as discussões políticas que permeiam o debate e as interferências na legislação federal sobre o tema.

Além dessas seções, já tradicionais, a edição aqui apresentada oferece uma outra, mais dinâmica, chamada Mesa Redonda, na qual projetamos expectativas de franco envolvimento dos leitores. Compõe-na o artigo do doutorando da Universidade de Princeton (Estados Unidos) Joseph Younger intitulado “Corredores de Comércio e Salas de Justiça: Lei, Coerção e Lealdade nas fronteiras do Rio da Prata”. O texto discute os usos, e abusos, da lei pelos fronteiriços da região do Prata, enfatizando as definições cambiantes de “lei” e “coerção” nestes espaços e a necessidade dos Estados centrais de se adaptarem a estes usos, sob o risco de perderem a lealdade de seus cidadãos. Mais do que divulgar as problematizações suscitadas pela pesquisa deste historiador norte-americano, o objetivo de apresentar seu trabalho na seção Mesa Redonda é convidar o público leitor a debater de maneira mais aberta sobre as novidades que sua investigação traz para a historiografia.

Na seção de entrevistas, apresentamos a conversa com o Professor Titular do Departamento de História da UNICAMP Sidney Chalhoub, realizada em maio de 2008 nas dependências da UFRGS. Nela, Chalhoub nos fala de seu trabalho, de uma forma geral, e sobre o objeto atual de seus estudos: Machado de Assis.

Por fim, contamos em nosso primeiro número com uma resenha de texto clássico, seção destinada a atender a demanda por resumos críticos de obras não necessariamente atuais que marcaram o debate historiográfico. O artigo de Michel Foucault sobre a questão da governamentalidade, publicado na Microfísica do Poder, é comentado pormenorizadamente, desvelando a leitura que ele faz tanto da obra de Maquiavel quanto da literatura antimaquiavélica para mostrar como a atual noção de governo se constrói a partir da conjugação dos dois modelos de governamentalidade propostos, a saber, o da “teoria da soberania” e o da “arte de governar”, articulando, a partir do século XVII, governo, população e economia.

E, assim, a revista eletrônica do Corpo Discente do PPG em História da UFRGS torna público seu primeiro número, esperando, verdadeiramente, proporcionar um espaço dinâmico e útil para historiadores e demais profissionais que, à semelhança desses que vos escrevem, têm compromisso com a construção e a divulgação do conhecimento histórico.

Conselho Editorial

Gestão 2008 / 2009


Conselho Editorial. Editorial. Aedos, Porto Alegre, v.1, n.1, 2008. Acessar publicação original [DR]

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História da Historiografia e Teoria da História / Locus – Revista de História / 2006

FERNANDES, Cássio da Silva. Apresentação. Locus – Revista de História. Juiz de Fora, v.12, n.1, 2006. Acesso apenas pelo link original [DR]

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