Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens | História Oral | 2019

Travessias, “SERTÃO” e Águas Amazônicas

Aquilo era a tristonha travessia, pois então era preciso”.

Guimarães Rosa

Os organizadores do dossiê Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens, não poderiam deixar, em estilo de apresentação, de prestar uma discreta, mas justa homenagem à professora, pesquisadora e, acima de tudo, Amiga, Jerusa Pires Ferreira, que fez a sua travessia, pelo testemunho de pessoas queridas ali presentes, em 21 de abril de uma tarde triste, com céu limpo rumo ao Orum. Pelo contexto, imaginamos também a presença viva dos sons dos tambores. Leia Mais

Memórias em narrativas orais: história oral e oralidades sob os dilemas da cultura  / Escritas / 2017

Memórias hostis: O rumor de vozes em escritos

“Morta” sob condições degradantes em um campo de trabalhos “correcionais” (Vtoraïa Rechka) aos redores da cidade de Vladivostok, extremo oriente da então URSS, a voz de Ossip Mandesltam (1891-1938) – poeta e ativista político – é memória em projeção graças à Nadejda Mandelstam, a esposa, e acima de tudo um diário orgânico desse “acervo” político-poético, permitido à publicação, a partir dos anos 60. Pelo trânsito de séries ou pela oralidade na busca de outros “corpos”, Mandelstam nos faz auscultar os ruídos subterrâneos de suas histórias e poéticas revolucionárias.

Sob o diapasão de Paulo Bezerra, “O Rumor do Tempo e Viagem à Armênia”, escrito originalmente em 1925 e publicado no Brasil em 2000, testemunha a voz se fazendo escritura. Mandelstam (2000, p.92), em relatos autobiográficos, erige força perlocutória ao “tramar” críticas sócio-políticas por sua radicalidade discreta: “Não quero falar de mim, mas seguir de perto o século, o rumor e a germinação do tempo. Minha memória é hostil a tudo que é pessoal. Se dependesse de mim, eu me limitaria a franzir o cenho ao recordar o passado […] repito, minha memória não é amorosa, mas hostil, e não trabalha a reprodução, mas o descarte do passado. ” Leia Mais

Deslocamentos, Oralidades e Intolerâncias / Revista Trilhas da História / 2013

A Revista Trilhas da História chega ao quarto número mantendo ininterruptamente a periodicidade semestral. A quantidade e a qualidade dos textos recebidos, e a diversidade de instituições de pesquisa de que se originam os autores, demonstram o acerto do quadro docente e discente do Curso de História do CPTL / UFMS em lançar o periódico no segundo semestre de 2011, mesmo diante das adversidades do trabalho em uma instituição federal periférica.

A Revista agora está indexada na base Latindex, o que permite vislumbrar a inscrição no sistema de avaliação de periódicos Qualis / CAPES. As trilhas percorridas até aqui reforçam os objetivos iniciais da Revista de ser um espaço aberto às contribuições de pesquisadores experientes no ofício da História e áreas afins que contribuem na seção “artigos”, como também lugar em que alunos da graduação possam apresentar os caminhos iniciais de suas pesquisas na seção “ensaios”, se expondo para a crítica, algo necessário para o ensino-aprendizagem na graduação.

Os artigos e ensaios deste quarto número, inscritos no dossiê “Deslocamentos, Oralidades e Intolerâncias”, abrangem um longo período histórico, do século XVI à atualidade, bem como diversos problemas de pesquisa: gênero, religiosidade, história indígena, cotidiano, microhistória, história das ideias, economia, cultura, e fontes para a História.

O artigo de Wallas Lima e Edson Silva “Intolerância e sexualidade: a Inquisição em Pernambuco Colonial (1593-1595)” analisa o tema da sexualidade a partir de relatos de homens e mulheres acusados de sodomia e fornicação na capitania de Pernambuco. A análise dos autores coloca em evidência as relações da Igreja e a população colonial.

Em “Hierarquias, fortunas e artigos importados em Belém (1840-1870)”, as autoras Mábia Sales e Leila Mourão apresentam uma análise instigante que transita entre a economia e a cultura, a vida pública e a privada, o micro e o macro. A partir dos inventários do Centro de Memórias da Amazônia, as autoras analisam a circulação de mercadorias e de cultura, entre a Europa e o Pará, e a composição da riqueza de parte da elite da cidade portuária de Belém no XIX.

O texto de André Rego “Deslocamentos espaciais de índios nas aldeias e vilas indígenas da Bahia do século XIX” aborda o deslocamento de núcleos indígenas pressionados pela configuração fundiária e a demanda pela mão de obra. O estudo demonstra que a forma da relação com as comunidades indígenas no Império seguia os preceitos do que regia a legislação da Colônia.

No artigo “Capoeira, do crime à legalização: uma história de resistência da cultura popular” os autores Albert Cordeiro e Nazaré Carvalho apresentam uma história da capoeira no Brasil, com base na pesquisa bibliográfica. A narrativa histórica compreende a manifestação da capoeira na Bahia, no Rio de Janeiro e no Pará, desde a colônia ao início do século XX, quando a prática é legalizada pelo Estado.

Priscilla Silveira em “„Doces memórias…‟: produção de doces na Usina Oiteirinhos em Sergipe durante a trajetória de Dona Baby (1954-1968)”, destaca as doces delícias da culinária pernambucana e sergipana por meio de um estudo da oralidade. Trata-se de uma história da alimentação, da tradição alimentar, a partir da história de vida de uma personagem nordestina.

No artigo “A presença batista em Mato Grosso” Ademar Silva narra uma história da Igreja Batista em Mato Grosso, especialmente a migração de batistas para o sul do estado, em vinculação com São Paulo, entre as décadas de 1910 e 1940. Importa ao autor, também, compreender a imposição da moral religiosa batista às mulheres.

Em “De volta para o princípio: ensaio sobre o resgatar identitário” o geógrafo Júlio Ribeiro apresenta uma discussão teórica da identidade do ser socioespacial. No interior de uma tradição teórica testada de longa data, o autor trava embate com as certezas da mundialização e do capital, colocando a questão da identidade / neo(des)identidade no lugar de polêmica que o conceito requer.

Diovana Thiago propõe uma reflexão sobre o saber científico nas ciências humanas, com destaque para a História. A autora concentra-se na crítica ao método tomado como formatador e limitador do exercício do pensamento, especialmente para a ciência História, e na necessidade de o discurso do historiador se abrir para além da área, para fora do domínio acadêmico.

O artigo de Rubens Correa “Parâmetros teóricos e políticoinstitucionais das independências no mundo hispano-americano” apresenta a história da historiografia do processo de independência dos estados hispanoamericanos. O autor aponta para as abordagens da Nova História Política que compreendem os movimentos de independência a partir das dinâmicas políticas internas às colônias, na relação com a metrópole.

A seção dos graduandos, “ensaios”, inicia com o texto de Iara Silva, “Cristianização da Nova Terra: os jesuítas e a catequese na Colônia”. A autora parte de documentos reproduzidos no todo ou em partes pela historiografia, para estudar a catequização dos povos originários e colonos por parte da Companhia de Jesus, na América Portuguesa.

Rogério de Paula em “Breves considerações sobre a agropecuária e o mercado interno de víveres na América Portuguesa (séculos XVII e XVIII)” apresenta um ensaio de história econômica conjugado à história demográfica, com o objetivo de compreender o comércio de víveres e a produção de gêneros de subsistência na colônia.

No ensaio “Estudos migratórios: as fontes orais e a busca de uma epistemologia histórica”, Nelson de Lima Junior discute a metodologia da história oral e a sua contribuição para o estudo da migração.

A seção “resenhas” traz a apresentação construída pela graduanda Rejane Rodrigues da obra de Elciene Azevedo “O direito dos escravos: lutas jurídicas e abolicionismo na província de São Paulo”, da Editora da UNICAMP. O livro contribui para se entender o processo que envolve a luta abolicionista em São Paulo nas últimas décadas do século XIX.

Na sequência, o graduando Charles Asssi apresenta a coletânea de textos organizada por Mirian Claudia Lourenção Simonetti “Assentamentos rurais e cidadania: a construção de novos espaços de vida”, das Editoras Cultura Acadêmica e Oficina Universitária. Trata-se de obra coletiva que traz estudos acerca dos movimentos sociais, da reforma agrária e de assentamentos rurais, na perspectiva da Geografia, da História, da Sociologia, da Economia e da Agronomia.

O professor Geraldo Menezes Neto, da Rede de Educação de BelémPA, destaca o livro de Mark Curran “Retrato do Brasil em cordel”, publicado pela Ateliê Editorial. O livro é um estudo fora do âmbito acadêmico que contribui para se entender a história desta manifestação literária popular.

Por fim, a seção “fontes” traz o texto da graduanda Mariely Sousa intitulado “Gregório de Matos: uma análise da Bahia e da América Portuguesa por meio de suas poesias”. A autora compreende a literatura como fonte para a História, para tanto discorre sobre a obra de Gregório de Matos, contextualizando-a na América Portuguesa, especificamente na Bahia de fins do século XVII.

Vitor Oliveira

Inverno de 2013.


OLIVEIRA, Vitor. Apresentação. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.2, n.4, jan. / jun., 2013. Acessar publicação original [DR]

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História e Oralidades / Sæculum / 2008

Chegamos ao número 18, de Sæculum, revista do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UFPB com o dossiê História e Oralidades. A importância dos depoimentos e das memórias nas discussões de história do tempo presente e os importantes aspectos subjetivos que demarcam e problematizam o papel do indivíduo na história, por si só justificam o presente dossiê.

Desafiando a supremacia do documento escrito, os documentos orais afirmaram sua legitimidade como fonte subjetiva, sempre atualizada pelas ressignificações inerentes aos trabalhos da memória, marca da seletividade, das escolhas individuais e, simultaneamente de dimensões coletivas. Entre as memórias e histórias, Mnemosine e Clio são as musas-guia da humanidade em sua viagem pelo reino de Cronos que, entre palavras e silêncios, delimita o tempo das gerações. Na busca de nossos mortos perseguimos os rastros de memórias inscritas em velhas cartas, depoimentos, fotografias de álbuns de família. Constituímo-nos, como seres históricos, também por suas biografias, nossas genealogias; também por suas memórias, nossa herança coletiva. E é a partir desses substratos que o historiador estrutura seu ofício buscando escapar aos grilhões da memória, libertando-se do absolutismo de seus excessos, de sua exacerbada subjetividade, aplicando a elas, sem desconsiderar a riqueza de seus conteúdos, outros padrões de inteligibilidade, o trabalho do método, a operação historiográfica.

Este dossiê traz os artigos de Antônio Torres Montenegro, Ricardo Santhiago, Severino Cabral Filho, Maria Ivonilde Mendonça Targino, Edson Silva, Janaina Cardoso de Mello e Ricardo da Silva Santos, Regina Maria Rodrigues Behar e Cláudia Engler Cury, artigos que se voltam para reflexões teóricas e estudos aplicados, a partir da pluralidade de dimensões e abordagens da memória e dos depoimentos orais em relação com as mais diversas problemáticas históricas. O dossiê inclui também uma conversa com Antonio Torres Montenegro, inaugurando a sessão de entrevistas da Sæculum que, a partir do presente número, publicará depoimentos de renomados historiadores especialistas nos temas de seus dossiês.

A Sæculum número 18 publica também outros quatro artigos de temas livres, em diversos domínios da história: Ronaldo Amaral, com artigo sobre a cristianização do campo na antiguidade tardia hispânica; André Figueiredo Rodrigues escreve sobre a estrutura agrária e produção de açúcar nas fazendas de dois importantes participantes da Inconfidência Mineira; Cristiano Luis Christillino disserta a propósito das lutas de resistência dos ervateiros do Vale do Taquai na segunda metade do século XIX; e Leandro Pereira Gonçalves volta-se para a obra literária de Plínio Salgado em busca dos elementos da ideologia integralista presentes na mesma. Este número conta ainda com resenha de importante obra de François Dosse, elaborada por Francismar Alex Lopes de Carvalho. Assim, apresentamos Sæculum 18 desejando a todos(as) uma boa leitura.

Os Editores.


Equipe Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.18, 2008. Acessar publicação original [DR]

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História e Oralidades  |  SÆCULUM – Revista de História  | 2008

Prezado (a) Leitor(a),

Chegamos ao número 18, de Sæculum, revista do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UFPB com o dossiê História e Oralidades. A importância dos depoimentos e das memórias nas discussões de história do tempo presente e os importantes aspectos subjetivos que demarcam e problematizam o papel do indivíduo na história, por si só justificam o presente dossiê.

Desafiando a supremacia do documento escrito, os documentos orais afirmaram sua legitimidade como fonte subjetiva, sempre atualizada pelas ressignificações inerentes aos trabalhos da memória, marca da seletividade, das escolhas individuais e, simultaneamente de dimensões coletivas. Entre as memórias e histórias, Mnemosine e Clio são as musas-guia da humanidade em sua viagem pelo reino de Cronos que, entre palavras e silêncios, delimita o tempo das gerações. Na busca de nossos mortos perseguimos os rastros de memórias inscritas em velhas cartas, depoimentos, fotografias de álbuns de família. Constituímo-nos, como seres históricos, também por suas biografias, nossas genealogias; também por suas memórias, nossa herança coletiva. E é a partir desses substratos que o historiador estrutura seu ofício buscando escapar aos grilhões da memória, libertando-se do absolutismo de seus excessos, de sua exacerbada subjetividade, aplicando a elas, sem desconsiderar a riqueza de seus conteúdos, outros padrões de inteligibilidade, o trabalho do método, a operação historiográfica. Leia Mais