Imagens Interditas: censura e criação artística no espaço ibérico contemporâneo | Diálogos | 2022

Detalhe de capa do Diccionario del Franquismo
Detalhe de capa do Diccionario del Franquismo (2019), de Manuel Vazquez Montalban (Autor) e Miguel Brieva (Ilustrador)

O presente dossiê resulta do primeiro Congresso Internacional Imagens Interditas. Cinema e literatura no espaço ibérico – séculos XX e XXI, que decorreu a 12, 13 e 14 de Abril de 2021, numa organização do CEComp – Centro de Estudos Comparatistas (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), em colaboração com o IHA – Instituto de História da Arte (Universidade NOVA de Lisboa) e o CHAM – Centro de Humanidades (Universidade NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores).

O evento contou com 33 comunicações de 38 participantes de 15 universidades (Universidade de Lisboa, Universidade NOVA de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Minho, Universidade Lusíada, UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia, Universidade de Brasília, University of the Western Cape, Université Sorbonne Nouvelle Paris 3, Université Paris Nanterre, Universidad de Alcalá, Universitat Pompeu Fabra, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidad de Málaga e Universidade de Bergen) de seis países (Portugal, Espanha, Brasil, França, Noruega e África do Sul). Contámos ainda com comunicações de um editor e de um realizador de cinema. As duas conferências plenárias do evento foram proferidas por Ana Cabrera (Universidade NOVA de Lisboa) e Josefina Martinez Alvarez (UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia). Leia Mais

Cultura e imágenes en los siglos XIX y XX latinoamericanos  | Claves – Revista de Historia | 2021

En la contratapa de los libros de la colección Picturing History (entre ellos el ya clásico Eyewitnessing. The Uses of Images as Historical Evidence, de Peter Burke), lanzada en 1995 por Reaktion Books, los editores presentaban la serie como «una nueva forma de escribir historia en la que las imágenes constituyen una parte integral […] poniendo de relieve su capacidad como herramienta activa de negociación, parodia y resistencia, como espacio en el que la historia se hace, se pone en marcha y se registra». 1 Tal expresión de optimismo, no en las imágenes per se, sino en nuestra capacidad para utilizarlas, estaba justificada en tanto la disciplina parecía superar décadas de actitudes refractarias. Esa desconfianza – cuando no franco desinterés- por parte de los historiadores profesionales hizo que, durante mucho tiempo, el análisis histórico de las imágenes haya sido emprendido o bien por fuera o bien en los márgenes de una disciplina mayormente abocada a la historia política. Leia Mais

Os destinos das democracias nas imagens | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2020

Com recuos e progressos, reconhecemos que a história da democracia é a história da inclusão de mais sujeitos, daí que o ideal seja a realização da universalidade concreta dos projetos de emancipação.

DUNKER, 2020, p. 117.

As democracias, em âmbito global, têm sido achacadas neste início do século XXI, especialmente nesta década que agora se encerra. Não que ela não tenha passado por crises anteriores. Uma questão que se coloque, talvez, é a que, tendo sido brutalmente alvejada anteriormente, nós, como coletividade, tivéssemos aprendido alguma lição e nos tornamos capazes de afastar outros ataques a ela. Esse foi um pensamento enganoso, caso tenha de fato existido. Não há que se falar em democracia ideal, mas em democracias possíveis, seus limites e os modos de ampliação de sua efetividade. Christian Dunker, no ensaio “Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático”, citado acima e presente na obra Democracia em risco?, publicada pela Companhia das Letras em 2019, indica seu ponto ideal, expressado na inclusão e na emancipação.

Mas, as democracias contemporâneas têm estado, por vezes, “em vertigem”. Se tomarmos o modelo iluminista de democracia e tentarmos aplicá-lo na análise das atuais experiências é possível que haja larga inadequação. Qual será a elasticidade do conceito? É provável que seja aquela dada pela materialidade da experiência histórica da democracia ou pela capacidade de imaginá-la, o que nos leva ao seu aspecto inclusivo. Por isso, o presente dossiê trata das democracias, ou seja, das experiências sociais experimentadas, materializadas, utópicas e distópicas, de organização social e dos modos de convivência coletiva na contemporaneidade. A produção imagética e a leitura de imagens neste mesmo momento histórico têm sido estruturantes das sociedades, considerando sua existência nacional, fronteiriça, diaspórica e global. As imagens também têm sido utilizadas para forjar as democracias, em medida parecida de seu uso para ataca-las. O dito “uma imagem vale mais que mil palavras” tem sido apropriado em sua literalidade para usos políticos e representacionais, dotando-as de um valor, por vezes, excessivo, e, em outras, minando seu possível valor. As imagens participam, assim, das disputas da democracia, em cada experiência dela sobre a qual pudermos nos debruçar e observar. Leia Mais

A cidade e suas imagens / Revista Maracanan / 2020

A definição de “cidade” e “imagem” não é tarefa epistemológica simples e o cruzamento das apreensões já propostas pode levar a um labirinto tão desafiador quanto atraente. São duas coordenadas complexas, cujas relações desenham planos intrincados, exigindo uma abordagem multidisciplinar. O que define uma cidade? Seu tamanho, suas formas, suas funções, seu contingente populacional? Suas redes de cultura? O que é uma imagem e quanta informação ou material sensível cabe numa tela, num quadro, num muro?

Os coordenadores deste dossiê, pesquisando diferentes temas, se formaram a partir dessas miradas sobre a cidade e suas imagens, expressas nas suas teses de doutoramento. Amanda Danelli Costa investigou as reformas urbanas e a modernidade carioca a partir das obras, literária e fotográfica, de João do Rio e Augusto Malta. Enquanto o cronista elaborava interpretações e representações do Rio de Janeiro, disputando a narrativa moderna da cidade nos periódicos; Augusto Malta inventariava as transformações da urbes, assentado em uma tradição ilustrada, tanto do ponto de vista técnico quanto pela referência civilizadora vinculada ao urgente progresso material urbano.1

Carlos Eduardo Pinto de Pinto abordou a representação da cidade do Rio de Janeiro pelo Cinema Novo entre 1955 e 1970, abarcando o surgimento das ideias que embasariam o movimento nos anos 1960, bem como suas mutações ao longo da década. A vinculação do Cinema Novo à vivência urbana carioca define um de seus perfis e fornece elementos para a elaboração de imaginários sociais na e sobre a cidade. Capital federal até 1960, o Rio começou a década sendo transformado em Estado da Guanabara, depois de perder o posto de cabeça do país para Brasília. Ainda assim, a capitalidade foi o eixo norteador das obras analisadas, que mobilizam duas estratégias de representação: a oposição da modernidade urbana às mazelas sociais, caso de Rio, 40 graus, Cinco vezes favela e A grande cidade; ou a evocação da capitalidade em sua relação com os traços identitários da jovem classe média, como Os cafajestes, O desafio, Garota de Ipanema e Todas as mulheres do mundo. Através de agenciamentos diversos, os atores sociais abordados pela pesquisa – profissionais envolvidos nas produções dos filmes, críticos, teóricos, políticos e outros – se apropriaram das obras, pondo em disputa os imaginários urbanos e as práticas sociais.[2]

Viviane da Silva Araujo investigou como as transformações urbanas ocorridas em Buenos Aires e no Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o XX tornaram-se temas para fotógrafos locais e estrangeiros. Analisando as duas cidades comparativamente, a tese identifica na produção fotográfica algumas das tensões próprias à experiência da modernidade urbana latino-americana, onde o desejo de adequar-se a um modelo ideal de civilização não foi capaz de produzir uma sociedade ordenada segundo os preceitos do almejado progresso material e moral, mas experimentou uma realidade imprevista, original e complexa. Realidade esta que a fotografia não só captou, mas contribuiu para criar maneiras de imaginar, ver e sentir ambas as cidades em acelerado processo de transformação naquele período.[3]

Frequentemente, e desde há muito tempo, as urbes vêm sendo tematizadas por diferentes imagens [4] – dos registros cartográficos às mídias digitais, passando pelas artes plásticas, fotografia, cinema, TV, vídeo, grafite e pichação – produzindo representações que alargaram as possibilidades de interpretação e produção de sentidos sobre as cidades, vistas em perspectiva histórica. Desse modo, as cidades em ampliação e transformação foram largamente fixadas em imagens cada vez mais várias e complexas, um processo que não ficou de fora do conjunto de interesses dos historiadores.

Observadas a partir da modernidade, cidade e imagem também ensejaram reflexões sobre a subjetividade moderna e as novas formas de estar no mundo, interpretá-lo e representá-lo. [5] A invenção da fotografia, na primeira metade do século XIX, facilmente associada à consequente mudança do padrão de visualidade, só se efetivou como um invento possível em razão de uma transformação da própria subjetividade moderna na passagem do século XVIII para o XIX. [6] As grandes cidades, que enfrentaram o frenesi da revolução urbana oitocentista, foram os palcos principais para esse novo “observador de segunda ordem”. [7] Sujeitos e cidades eram, enfim, atravessados e traduzidos pelo registro da reprodutibilidade técnica.[8]

Movimento semelhante pode ser observado nas relações entre cidades e cinema, que tem interessado, sobretudo, à historiografia norte-americana e francesa. De modo geral, os americanos focam a importância simultânea da cidade e do cinema para a conformação da modernidade, enquanto os franceses privilegiam a representação do urbano pelos filmes.[9] Entre a produção francesa, cabe destacar, além das obras homônimas La ville au cinéma, também Visions urbaines, Cités-cinés, Ville et cinéma e Un nouvel art de voir la ville et de faire du cinéma. [10] Nessas obras, a maioria formada por reunião de artigos, é flagrante o recurso à interdisciplinaridade, havendo contribuição de historiadores, cineastas, críticos, cenógrafos, antropólogos, sociólogos, linguistas, comunicólogos, arquitetos e urbanistas. Por mais que sejam variadas as abordagens, todas confluem na crença de que os filmes urbanos não oferecem um acesso direto às cidades, sendo, ao contrário, considerados reinvenções destas, ao mesmo tempo em que constituem suas realidades.

Se por um lado observamos a multiplicação de pesquisas que tomavam os registros imagéticos, especialmente depois da criação da fotografia – e, mais tarde, do cinema – como fontes para a análise das transformações urbanas, dos códigos sociais e das sociabilidades, mais recentemente se tornaram frequentes os trabalhos que vão às cidades para compreenderem como diferentes grupos produzem registros variados no próprio corpo da urbes, criando imagens (pichações, grafites, estênceis) que revelam distintas urbanidades, relações de poder e apropriação possíveis.

A fotografia e o cinema também assumem relação forte e estreita com a memória, seja de indivíduos, grupos sociais ou de cidades. [11] Suas dinâmicas de recorte de um tempo e espaço, que sobrevive para além do momento do clique e da filmagem, contribuiu vivamente para que frequentemente assumam papel de gatilho ou ponto de partida para a memória. Aquilo que aqui chamamos de dinâmica própria da fotografia e o específico fílmico também se aproximam da maneira como a memória se organiza: seja em uma foto, em um filme, ou seja, com a memória, é impossível lembrar tudo ou colocar tudo dentro do quadrado. [12] Os três implicam seleção, esquecimento e tomadas de pontos de vista. [13]

Na Europa, abordagens dessa natureza foram iniciadas nos anos 1960, pela Nova História Urbana, tendo Richard Sennett como figura mais proeminente, e pela História da Arte, com destaque para Giulio Carlo Argan.[14] Como alternativa a abordagens que equacionam o objeto “cidade” a processos de urbanização (dimensões, formas, funcionalidades), tais enfoques privilegiam as cidades como objetos singulares, atuando como centro geradores de identidades. [15] Argan, por exemplo, defende que a cidade seja um acúmulo de bens culturais (incluindo-se as imagens) e não apenas “o produto das técnicas de construção [que] também concorrem para determinar a [sua] realidade visível”. [16]

O papel da cidade como o locus a partir do qual se imagina, projeta e se representa a experiência moderna e sua realidade visível também esteve no cerne da reflexão de estudiosos latino-americanos neste mesmo período. Em 1976, o historiador argentino José Luis Romero publica sua mais importante obra, cujo subtítulo, “as cidades e as ideias”, já expõe a permanente tensão entre a cidade real e a cidade imaginada. Tal argumento é desenvolvido mais tarde por pesquisadores como Adrián Gorelik, que adverte que a modernidade urbana experimentada na América Latina foi original e complexa e, se comparada às seculares cidades europeias, a cidade latino-americana não decorre dos processos de modernização, mas antecipa a eles, como um instrumento capaz de “criar” uma sociedade moderna.[17]

No Brasil, pesquisas que relacionam cidade, modernidade e imagem ganharam força a partir dos anos 1980, convivendo com uma produção – naquele momento, mais vasta – a respeito das relações entre cidade e literatura. Eram, na sua maioria, reflexões sobre registros fotográficos realizados nas primeiras décadas do século XX nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, resultados das pesquisas de mestrado e doutorado de Ana Maria Mauad, Maria Inez Turazzi, Vânia Carneiro de Carvalho e de Charles Monteiro. Desde então, multiplicaram-se os enfoques, com uma seleção variegada de urbes, tipos de imagens e recortes cronológicos.[18]

O encontro entre o urbano e o imagético por meio da análise de uma variedade de cidades, reais e imaginárias, e de imagens dos mais diferentes suportes, está presente nos 18 artigos e na entrevista que compõem a presente edição da Revista Maracanan. O número expressivo de submissões que atenderam à chamada nos alegrou, ao demonstrar a potencialidade do tema. Esperamos que a publicação deste dossiê contribua para o reconhecimento e a ampliação das abordagens e significados teórico-metodológicos a respeito das interfaces entre cidade e imagem.

A entrevista que abre o dossiê foi realizada ao longo de uma noite muito agradável na companhia (virtual) de Ana Maria Mauad. A pesquisadora e professora nos apresentou um vasto panorama a respeito das relações entre as cidades e suas imagens, centrando-se nos trabalhos sobre fotografia, tema da maioria de suas pesquisas, mas alcançando também outros suportes. O registro dessa conversa dá acesso a um vislumbre dos caminhos percorridos por uma das primeiras historiadoras, no Brasil, a se dedicar às relações entre história e imagem.

Entre os artigos que compõem o dossiê, a estereoscopia e o seu desenvolvimento no Brasil, entre 1850 e 1950, são apresentados por Maria Isabela Mendonça dos Santos a partir dos acervos de fotógrafos profissionais e amadores que produziram uma variedade de vistas de cidades brasileiras, contribuindo para a formação e divulgação de uma imagem do Brasil, exótica e civilizada, enquanto redimensionava a própria subjetividade moderna pelo olhar. A produção amadora de estereoscopias de Guilherme Antonio dos Santos por mais de cinquenta anos, resultando em um acervo particularmente extenso, é objeto de análise neste artigo que observa a produção de imagens sobre a cidade do Rio de Janeiro como artifícios da construção de uma paisagem ideal.

Em diálogo com o campo da história pública, Michel Kobelinski analisa pinturas, gravuras, fotografias e narrativas – entendidas aqui como lugares de memória – produzidas por Estanislau Schaette, Hermann Schiefelbein, Arthur Wischral e Hugo Hegenberg sobre a identidade teuto-brasileira e seus efeitos na sociedade paranaense na primeira metade do século XX. Essas obras são tomadas por seu caráter pedagógico que, além de educar sobre o passado, contribuiu para a aproximação com histórias plurais e ainda para a produção de vínculos coletivos.

O artigo de Samuel Oliveira aborda fotorreportagens que tematizam a favela publicadas na revista O Observador Econômico e Financeiro – especializada em análises econômicas e sociais e articulada ao projeto desenvolvimentista das décadas de 1940 e 1950. Em sua análise, demonstra como tais matérias reiteraram os estigmas da pobreza urbana e sua racialização por meio dos registros fotográficos das favelas cariocas e dos contrastes estabelecidos com o padrão de vida da classe média.

Em artigo que analisa a Primeira Exposição Fotográfica de Motivos Belorizontinos, ocorrida em 1953, fruto de uma parceria entre o Foto Clube de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo Horizonte, Lucas Mendes Menezes investiga relações entre fotografia amadora e poder público. Além da análise da composição visual de fotografias reproduzidas no catálogo desta exposição, o autor explora o olhar que os fotógrafos lançaram sobre a cidade – especialmente sobre os seus elementos arquitetônicos – assim como seus condicionamentos e espaços de atuação, entendendo a fotografia no conjunto das iniciativas culturais do período e suas interseções com o poder público.

Débora Bueno, Ricardo Freitas & Vania Fortuna investigam as fotografias de César Barreto, tomando-as como elementos constitutivos da memória urbanística da cidade do Rio de Janeiro. Fotógrafo oficial da “cidade olímpica”, coube a César Barreto documentar, entre 2011 e 2013, as reformas que a cidade enfrentava para abrigar os Jogos Olímpicos de 2016. As fotografias publicadas em um portal institucional eram peças imagéticas centrais no processo de valorização da marca-cidade, a fim de torná-la mais competitiva no concorrido mercado internacional de cidades globais. Mais do que registrar o processo de revitalização da zona portuária, como quem guarda as lembranças do que fora a cidade, as fotografias de César Barreto apontavam para o futuro olímpico do Rio de Janeiro, como destino incontornável da cidade maravilhosa.

Utilizando a metodologia de leitura da imagem da cidade de Kevin Lynch, Paulo Barata identifica o acúmulo de tempos desiguais presentes no centro comercial de Campo Grande, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, no século XXI. O autor nos convida a observar com detalhes como esta localidade outrora rural apresenta hoje uma paisagem tipicamente urbana.

A cultura midiática da Belle Époque carioca é desnudada por Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo Souza, que analisa como as crônicas literárias registraram novos modos de ver e narrar a cidade no contato com os novos aparatos e imagens – produzidas pelo cinema, pela imprensa e expostas em vitrines –, afetando a constituição e a percepção dos sujeitos modernos, expressas nas transformações das sociabilidades e sensibilidades das primeiras décadas do século XX. As crônicas de João do Rio, Olavo Bilac, Benjamin Costallat e Lima Barreto são, neste artigo, exemplos da renovação representativa e da alteração na estrutura de percepção dos sujeitos modernos, revelando a tensão entre o imaginário literário e o imaginário técnico.

Wolney Vianna Malafaia aborda o Rio de Janeiro a partir da oferta de condições materiais e intelectuais para a formação do Cinema Novo brasileiro. Embora aponte alguns traços de representação da cidade em dada filmografia cinemanovista, a proposta principal do autor é pensar a cidade como catalisadora do movimento cinematográfico, ao longo dos anos 1960. Por meio do levantamento de instituições e redes de sociabilidade, o trabalho demonstra o quanto aquela, que até há pouco tinha sido capital do Brasil, seguiu exercendo funções associadas à capitalidade.

Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior analisa o filme Notas para uma Oréstia Africana (Appunti per un’Orestiade Africana, Pier Paolo Pasolini, 1969), com vistas a compreender a construção visual das paisagens urbanas e naturais de alguns países africanos no documentário do diretor italiano. Para o enfrentamento do específico fílmico, o autor mobiliza a iconologia, a narratologia histórica e a abordagem filmológica, problematizando o estatuto sócio-histórico das imagens, evidenciando os mecanismos empregados na construção do filme e cruzando os resultados com os escritos sobre cinema.

Mauro Amoroso & Gustavo Romano propõem uma abordagem heurística do modo como o Jornal do Brasil (JB) e o filme Cidade de Deus (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002) narraram eventos relacionados à “guerra” da Cidade de Deus, conflitos entre traficantes ocorridos na virada da década de 1970 para a de 1980. Em suas análises, os autores levam em consideração a especificidade da linguagem de cada veículo, bem como os diferentes contextos históricos, elencando os elementos constitutivos de cada modo de “ler” ou “ver” os eventos.

Fabio Allan Mendes Ramalho assume perspectiva benjaminiana ao analisar os corpos em perambulação por espaços urbanos, tomados como lugares de encontro afetivo e desejo (homo)erótico. Por meio da análise de três filmes de Marcelo Caetano – Bailão (2009), Na sua companhia (2011) e Corpo elétrico (2017) –, o autor demonstra como a linguagem cinematográfica é capaz de reelaborar, mais do que registrar, a materialidade urbana em consonância com a vivência sexual e afetiva das personagens.

Leonardo Perdigão Leite & Pedro Jorge Lo Duca Vasconcelos investigam novas práticas museais e museológicas na cidade do Rio de Janeiro – o Museu de Favela Pavão-Pavãozinho Cantagalo, a Galeria Providência e o Museu Nami – observando como essas iniciativas se baseiam em visões não ortodoxas de patrimônio, memória e museu. Tais experiências produzem alternativas aos modelos tradicionais e consagrados, apoiadas em uma museologia social, comunitária, popular, informal ou progressista, contribuindo para a construção de outros modos de expressão a partir da subjetivação (reveladas através de grafites, estênceis, murais, painéis) de grupos subalternizados, no lugar de promover a cristalização de identidades.

O grafite é tematizado por Ivânia dos Santos Neves que toma o aniversário de 400 anos de Belém como um período favorável para a reflexão sobre os discursos que forjaram a história oficial da cidade, uma história escrita pelo colonizador, como de tantas cidades latino-americanas, mas que exibe suas fraturas quando movimentos indígenas e outros enunciadores artístico-culturais conquistam espaço na dinâmica de contar a história. Ao contrapor o frontal da Basílica de Nazaré e a escultura de bronze de um indígena de um bairro nobre de Belém e os grafites de artistas locais que retomam a memória indígena em suas produções e visibilizam a pluralidade étnica da cidade, a autora mostra como o grafite visibiliza a presença indígena silenciada no patrimônio oficial.

Ana Paula Alves Ribeiro propõe uma abordagem etnográfica da peça teatral In_Trânsito, encenada pela Cia. Marginal e com direção de Isabel Penoni e Joana Levi, entre 2013 e 2014. Trata-se de uma performance site-specific, partindo da Central do Brasil e estendendo-se por paisagens urbanas fruídas ao longo do percurso ferroviário. O registro da vivência dos múltiplos estímulos propiciados pela experiência, com ênfase nos elementos visuais, permite à autora pensar o Rio de Janeiro em um biênio marcado pelas lutas urbanas manifestadas, entre outras possibilidades, no artivismo (ativismo político executado por meio de ações artísticas).

A sessão de artigos livres também traz trabalhos que abordam o tema da cidade e de suas representações. Propostos para além da análise de suportes imagéticos propriamente ditos, são estudos que igualmente colaboram para ampliar o conhecimento sobre a elaboração de imaginários urbanos e de imagens ideais das cidades em distintos espaços e momentos históricos.

Nesse bojo, o Rio de Janeiro, cidade a partir da qual a Revista Maracanan se comunica com o mundo acadêmico, teve sua gênese marcada por uma disputa de ideais de cidade, o que resultou em tensões em torno da sua dupla fundação, francesa e portuguesa. Apesar da crise que o Estado moderno impôs às individualidades e às cidades-republicanas, a projeção das utopias levadas a frente significava uma resistência do próprio ideal de cidade moderna, de modo que “a noção de utopia qualificava criticamente o desempenho dos homens na cidade projetando-a para fora do espaço real”. [19]

Assim, chegamos ao entendimento de que a cidade, além de recorrentemente aparecer como tema de interesse dos homens de letras desde as fundações das primeiras cidades latino-americanas, significava para eles o lugar primordial – e também inescapável – no qual viveriam a experiência da modernidade, de tal forma que era a partir dessa dupla referência (cidade / modernidade) que eles se constituíram como sujeitos no mundo e, por conseguinte, refletiram sobre a modernidade na cidade. [20] Nesse sentido, como já apontado acima, a experiência moderna nas cidades latino-americanas foi o trampolim para que se produzissem as condições de modernização desses espaços, de suas relações sociais e políticas, bem como de suas representações, de modo que “a modernidade se impôs como parte de uma política deliberada para conduzir à modernização, e nessa política a cidade foi o objeto privilegiado”. [21]

Fabrina Magalhães Pinto apresenta uma leitura da Laudatio de Leonardo Bruni no quattrocento, observando em particular os debates acerca dos ideais republicanos de liberdade, autogoverno e cidadania, neste que é um dos principais elogios da cidade de Florença no período. Entre os séculos XII e XV, Florença, como lócus privilegiado da ação do homem renascentista, experimentou a construção paulatina de um ideal de cidade, fosse no âmbito arquitetônico, político ou das instituições. Nesse momento se conjugaram ambições republicanas com a construção de uma imagem ideal de cidade, onde justiça, racionalidade e liberdade estariam em destaque.

Andréa Cristina de Barros Queiroz nos apresenta o panorama da construção da “República de Ipanema”, como um lugar de vanguarda no Rio de Janeiro, durante os anos 1960. A imagem de cidade maravilhosa fora atualizada por uma boemia-literária a partir das sociabilidades vividas em diferentes espaços de encontro no bairro de Ipanema, como os bares e a praia. Além disso, atribuiu-se ao bairro a condição de polo difusor de uma série de movimentos políticos, sociais e culturais que ocuparam a cena de oposição aos anos de ditadura civil-militar.

A imagem da cidade de Brasília lida como cidade utópica e ícone do desenvolvimentismo brasileiro nos anos 1950 e 1960 ainda se apresenta como a imagem hegemônica da capital federal. No entanto, Lucía Tennina revela-nos a construção de novas miradas sobre a cidade e a partir dela nos saraus das periferias. Espaços contra-hegemônicos, os saraus exploram temas e tensões que transbordam das margens dos enquadramentos apaziguados do Plano Piloto. O cartão postal, expressão da imagem desejável, é a metáfora escolhida para nos falar das pluralidades que não cabem em uma história única.

Hércules da Silva Xavier Ferreira, Luana Campos & Pedro Clerot analisam uma série de grafites e uma escultura que evocam as imagens de três jovens assassinados no Rio de Janeiro em 1998, 2005 e 2017 nas proximidades do túnel Santa Bárbara, que conformaram o que os autores definem como “polígono da violência” ou “circuito da dor”. A criação desses memoriais permite que os transeuntes, moradores ou não da cidade, vejam e sejam afetados pelo conhecimento dessas histórias, ao mesmo tempo em que ressignificam o sofrimento e conformam espaços de resiliência.

Esperamos que a leitura dos artigos deste número da Revista Maracanan contribua para a ampliação de debates e pesquisas interessadas no cruzamento das cidades e suas imagens. Fazemos votos de que o contato com esses textos seja tão instigante e prazeroso para os leitores da revista quanto foi para nós.

Notas

  1. COSTA, Amanda Danelli. Cidade, reformas urbanas e modernidade: o Rio de Janeiro em diálogo com João do Rio e Augusto Malta. 2011. Tese (Doutorado em História Social da Cultura) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
  2. PINTO, Carlos Eduardo Pinto de. Imaginar a cidade real: o Cinema Novo e a representação da modernidade urbana carioca (1955-1970). 2013. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ).
  3. ARAUJO, Viviane da Silva. Fragmentos urbanos da modernidade: a fotografia em Buenos Aires e no Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o XX. 2013. Tese (Doutorado em História Social da Cultura) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
  4. SONTAG, Susan. Sobre a fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
  5. CRARY, Richard. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
  6. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
  7. GUMBRECHT, Han Ulrich. Modernização dos sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998.
  8. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: L&PM, 2013.
  9. CHARNEY, Leo; SCHWARTZ, Vanessa R. (orgs.). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
  10. JOUSSE, Thierry; PAQUOT, Thierry (dir.). La ville au cinéma: encyclopédie. Paris: Cahiers du Cinéma, 2005; BARILLET, Julie; et al. La ville au cinéma. Arras: Artois Presses Université, 2005; NINEY, François (dir.). Visions urbaines: villes d’Europe a l’ecran. Paris: Éd. Centre Pompidou, 1994; Cités-cinés. Paris: Éd. Ramsay et La Grande Halle; La Villete, 1997. [édité à l’occasion de l’exposition Cités-Cinés]; Espaces et Societes, Paris, L’Harmattan, 86 – “Ville et cinéma”, 1996.
  11. PINTO, Carlos Eduardo Pinto de. Câmera-arma: a representação das funções sociais da fotografia em Os cafajestes (Ruy Guerra, 1962). Revista Brasileira de História da Mídia, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 151- 158, jul.-dez. 2013.
  12. PINTO, Carlos Eduardo Pinto de. Relatos fantasmas: os filmes históricos cinemanovistas e a política cultural da ditadura civil-militar nos anos 1970. REBECA – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, São Paulo, v. 2, n. 1, jan.-jun. 2013.
  13. COSTA, Amanda Danelli. Augusto Malta e a fotografia da alma dos kiosques cariocas. Acervo, Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, v. 32, n. 2, p. 117-132, maio-ago. 2019.
  14. SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1999; ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
  15. SILVA, Luís Octávio da. História urbana: uma revisão da literatura epistemológica em inglês. EURE, Santiago, v. 28, n. 83, maio 2002.
  16. ARGAN, Giulio Carlo. História da arte… Op. cit., p. 75
  17. ROMERO, José Luís. América Latina: as cidades e as ideias. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2009; GORELIK, Adrián. Ciudad, modernidad, modernización. Universitas Humanística, Bogotá, Pontificia Universidad Javeriana, n. 56, jun. 2003.
  18. MAUAD, Ana Maria. Sob o signo da imagem: a produção da fotografia e o controle dos códigos de representação social, na cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX. 1990. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ); TURAZZI, Maria Inez. As artes do ofício: fotografia e memória da engenharia no século XIX. 1998. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Do indivíduo ao tipo: as imagens da (des)igualdade nos álbuns fotográficos da cidade de São Paulo na década de 1950. 1995. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo; MONTEIRO, Charles. A inscrição da modernidade no espaço urbano de Porto Alegre. 1992. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
  19. RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins. América Renascentista- um ensaio: as experiências modernas no espaço da Baía de Guanabara – a dupla fundação da cidade do Rio de Janeiro: entre utopias e ideais. MORUS, Campinas (SP), UNICAMP, v. 3, p. 213-242, 2006.
  20. COSTA, Amanda Danelli. A produção de guias de viagem por intelectuais brasileiros: um ensaio. In: MARAFON, Glaucio; FACCIOLI, Marina; SÁNCHEZ, Meylin Alvarado. Patrimônio, território e turismo no Brasil, Costa Rica e Itália. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2020.
  21. GORELIK, Adrián. Ciudad, modernidad, modernización. Op. cit., p. 13. Tradução nossa. No original: “la modernidad se impuso como parte de una política deliberada para conducir a la modernización, y en esa política la ciudad fue el objeto privilegiado”.

Referências

ARAUJO, Viviane da Silva. Fragmentos urbanos da modernidade: a fotografia em Buenos Aires e no Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o XX. 2013. Tese (Doutorado em História Social da Cultura) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BARILLET, Julie; et al. La ville au cinéma. Arras: Artois Presses Université, 2005.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: L&PM, 2013.

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Amanda Danelli Costa – Professora Adjunta do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Campus Teresópolis. Doutora e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] Orcid iD: https: / / orcid.org / 0000-0002-6845-4733  Lattes: http: / / lattes.cnpq.br / 1855259803755979

Carlos Eduardo Pinto de Pinto – Professor Adjunto do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atuando na graduação e no Programa de Pós-graduação em História. Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense; Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduado em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] Orcid iD: https: / / orcid.org / 0000-0001-7448-2565 Lattes: http: / / lattes.cnpq.br / 2703751377441692

Viviane da Silva Araujo – Professora Adjunta do Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Doutora e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; graduada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] Orcid iD: https: / / orcid.org / 0000-0001-7378-0210 Lattes: http: / / lattes.cnpq.br / 5388549060655237


COSTA, Amanda Danelli; PINTO, Carlos Eduardo Pinto de; ARAUJO, Viviane da Silva. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.24, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens | História Oral | 2019

Travessias, “SERTÃO” e Águas Amazônicas

Aquilo era a tristonha travessia, pois então era preciso”.

Guimarães Rosa

Os organizadores do dossiê Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens, não poderiam deixar, em estilo de apresentação, de prestar uma discreta, mas justa homenagem à professora, pesquisadora e, acima de tudo, Amiga, Jerusa Pires Ferreira, que fez a sua travessia, pelo testemunho de pessoas queridas ali presentes, em 21 de abril de uma tarde triste, com céu limpo rumo ao Orum. Pelo contexto, imaginamos também a presença viva dos sons dos tambores. Leia Mais

História e imagens: visões dos processos sociais / História – Debates e Tendências / 2019

Neste número da revista História – Debates e tendências, apresentamos o dossiê “História e imagens: visões dos processos sociais”, no qual vários especialistas abordam o tema história a partir da perspectiva da utilização da imagem, seja fotografia, história em quadrinhos / charges, desenhos, pintura, arte urbana, como instrumento emergente para entender diversos processos sociais pretéritos ou contemporâneos. Conforme Didi-Huberman (2015), frente a uma imagem, o passado segue se reconfigurando constantemente, e a imagem só se torna fonte de reflexão a partir de uma construção da memória.

Assim, a dinâmica lógica de toda construção humana é mobilizada a múltiplas maneiras de ver e sentir a memória, como estrutura sociocoletiva (CANDAU, 2012; HALBWACHS, 1976); mas as múltiplas visões dessa memória vinculam-se também com os lugares (NORA, 1984), agindo como ferramenta alternativa para a conscientização a respeito de situações conflituosas, abrindo espaço para uma nova forma de crítica social, reafirmação de situações culturais e identitárias. Também rompem com velhos paradigmas sobre a abordagem do estudo da História, desde criação, aproximações estéticas da arte e diversas narrativas culturais ao longo do tempo. Leia Mais

Tempo Presente, história oral e imagens / Territórios & Fronteiras / 2019

Este dossiê da revista T&F reúne artigos que apresentam reflexões de historiadores e historiadoras que lidam com a “história oral” e com a linguagem visual, sejam elas vestígios visuais como imagens fotográficas ou imagens narrativas que dependem do testemunho escrito e da memória e que, por isso mesmo, não deixam de se articular com os documentos escritos. Os artigos contemplam temas das pesquisas desenvolvidas pelas autoras e autores e nos oferecem debates metodológicos sobre o corpus documental utilizado como referência. Destacam-se, nessa linha, a metodologia que escolhem e valorizam passagens das entrevistas orais, temáticas ou histórias de vida, e das imagens visuais, como fotografias, assim como de outros documentos que registram eventos significativos na vida dos entrevistados e dos acontecimentos analisados. Do tecido narrativo que constitui o texto dos artigos emergem histórias, trançadas como experiências pela memória e testemunhos.

Não poderíamos deixar de assinalar, que há um especial interesse em vários artigos do dossiê em explorar algumas possibilidades de análise do tempo presente e instigar os leitores ao diálogo. Ao debaterem questões que não se circunscrevem apenas à especificidade dos temas abordados, oferecem uma rica contribuição para a análise da história recente do Brasil, em especial, eventos relacionados à memória da ditadura militar e dos movimentos sociais e políticos do período da redemocratização do país.

O dossiê abriga temas, pesquisas e abordagens historiográficas bastante diversas e inovadoras. Assim, suscitam leituras e reflexões que se apresentam imprescindíveis à produção do conhecimento histórico. Nessa trilha, o artigo “Uma garota propaganda para o império: o caso de Rosinha na Exposição do Porto de 1934”, de Franco Santos Alves da Silva, apresenta um estudo acerca da relação entre etnia e gênero no contexto específico da 1ª Exposição Colonial Portuguesa de 1934, através da análise de imagens fotográficas. Argumenta o autor que a utilização da fotografia e de outras imagens visuais não deve ter cunho ilustrativo. Em seu texto, as imagens são indiciárias, possibilitam múltiplos olhares e provocam estranhamentos, já que trazem “à baila imagens que eram elas mesmas inseridas e produzidas em uma conjuntura que gerava e perpetuava as relações de gênero / colonialismo / etnia durante o recém reformulado projeto colonialista do Estado Novo Português”.

Em seu artigo, “O futuro do passado no tempo presente: memórias e narrativas amazônicas nas encruzilhadas do tempo”, Erinaldo Cavalcanti utiliza relatos de memória para refletir sobre a história do tempo presente. Neste escopo, analisa entrevistas orais com trabalhadores e trabalhadoras rurais, afetados pela experiência da Guerrilha do Araguaia, realizadas na cidade de Xambioá / TO, para o projeto de pesquisa “História Oral e Narrativas Amazônicas”. Sublinha a importância da memória histórica numa dimensão política. As reflexões sobre tempo, memória e história são, segundo o autor, imprescindíveis à escrita dos relatos orais na produção textual.

O artigo de Pablo Porfírio, “Memória de imagens de trabalhadores rurais: marchas das Ligas Camponesas, Pernambuco, 1960”, com base nas fotografias produzidas no início dos anos 1960, focaliza as manifestações políticas de trabalhadores rurais, integrantes das Ligas Camponesas, em Pernambuco. Reflete com acuidade a produção das imagens, de forma a apreender discursos e práticas que criminalizam as ações dos trabalhadores e, sobretudo, nos discursos oficiais e na imprensa, desqualificam as iniciativas de resistência. Para o autor, as fotografias analisadas constituem “uma memória de imagens que oferece novas narrativas sobre o Golpe-civil militar de 1964”.

Em “Imagens depois da catástrofe: outras memórias do desenvolvimento no Vale do São Francisco”, Elson de Assis Rabelo se detém sobre as imagens visuais produzidas em desenhos do artista juazeirense Antônio Carlos Coelho de Assis. As imagens dão acesso a camadas diferentes de temporalidade e de experiências de espaço do rio São Francisco, nos anos 1980. Além disso, aparecem implicadas às práticas de cunho desenvolvimentista direcionadas para o “interior do Brasil”, especialmente aquelas que se baseavam na agricultura irrigada das zonas semiáridas e na exploração do rio São Francisco como recurso natural. O autor dialoga, também, com outros vestígios documentais, como notícias de jornal e o material produzido pelo Movimento de Defesa do São Francisco, que lutava contra a degradação ambiental daqueles espaços. Pauta-se pelo diálogo entre as memórias individuais e o cenário político do período, a partir do recorte sobre as manifestações artísticas e a preservação do meio ambiente.

Os irmãos Daniel e Guilherme dos Santos Fernandes, iniciam seu texto, “Imagens e palavras na escritura da narrativa etnofotográfica: notações metodológicas”, destacando o uso de imagens nas pesquisas antropológicas, especialmente na obra Balinese Character (1942), e os trabalhos pioneiros no Brasil no uso das imagens fotográficas a partir das expedições do Marechal Rondon. Para os autores deste artigo, a antropologia visual e a utilização de uma narrativa etnofotográfica -sem desmerecer o risco da subjetividade na escolha de imagens no registro imagético pelos etnógrafos -possibilitam o registro de uma realidade que ultrapassa os traços culturais isolados e potencializam a memória singular da cultura como discurso narrativo.

O artigo “História e acontecimento: imagens narrativas no relato oral de uma liderança dos trabalhadores rurais de Rondon do Pará”, de Regina Beatriz Guimarães Neto e Airton dos Reis Pereira, utiliza o relato oral de memória de uma líder rural, Maria Joel da Costa (Joelma), que descreve a violência cometida contra os trabalhadores rurais no Pará, em especial, o assassinato do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará. O testemunho é social e estabelece relações com outras experiências, além disso, ao elaborar o “relato de si”, a narrativa testemunhal se torna indiciária. Para a autora e o autor, as imagens narrativas presentes nos relatos orais, em especial no testemunho de Joelma, são inseparáveis de sua dimensão visual e ressignificam, no fluxo da narrativa, os acontecimentos históricos.

Já Gerardo Necoechea Gracia, em seu artigo, “De enfermedades, historias y lecturas: imágenes narrativas de cultura obrera”, seleciona passagens de uma entrevista realizada a uma mulher que recorda sua infância em um povoado mineiro do norte de México. Analisadas, em detalhe, as imagens narrativas que emergem do relato o ajudam a refletir sobre a cultura da classe trabalhadora e suas transformações. Neste texto, o autor indaga sobre o significado e a importância das imagens narrativas para a compreensão dos relatos orais, que convertem imagens em recordações comunicáveis, em narrativas.

Em “Uma leitura sobre as novas configurações migratórias: análise no / do tempo presente em narrativas orais e de jornais”, os autores Leandro Baller e Jorge Pagliarini Junior tecem importantes considerações e análises sobre “migrações” para áreas de fronteira, sobretudo sobre os movimentos de retorno. Tomaram como base duas pesquisas que problematizam as migrações do Sul do Brasil, particularmente do Paraná, para o Paraguai e, em outra direção, para a Amazônia. Apresentam reflexões sobre a memória e narrativa, na configuração social das migrações no tempo presente.

No artigo, “Realismo maravilhoso e circularidade cultural: crença no invisível atordoa o pensamento? (Região Bragantina-PA)”, Ipojucan Dias Campos e Danilo Gustavo Silveira expõem diferentes narrativas de universitários da UFPA, em Bragança e Capanema, a respeito de histórias de “lendas”, “folclores”, “superstições”, “crendices”. Enredos que misturam a vida real, o trabalho e o cotidiano, com o imaginário e o extraordinário do sobrenatural e na interface entre as culturas “popular” e “erudita.

Nas páginas escritas por Magno Michell Marçal Braga e César Martins de Souza, em seu artigo “Transamazônica: terra, trabalho e sonhos”, que se alimentaram de diferentes fontes documentais, narrativas e fotografias, os autores nos apresentam as narrativas de alguns migrantes que se fixaram em terras amazônicas, além de discursos oficiais a respeito da construção da rodovia Transamazônica. Diante de uma produção discursiva e imagética, celebrativa dos feitos governamentais, justificava-se a ocupação humana e econômica da região amazônica, através da transposição de populações do Nordeste e do Sul do Brasil.

Em “Exorcizando o Passado: experiências de trabalhadores migrantes escravizados na Fazenda Brasil Verde / PA”, Cristiana Costa Rocha narra a trajetória de trabalhadores rurais migrantes do Piauí contratados pelo “gato” Meladinho para trabalhar no sul do Pará. Dois são os personagens principais do trabalho de Cristiana, José Pitanga e Luiz Sincinato, escravizados, no ano 2000, na fazenda Brasil Verde, fazenda que entre meados da década de 1980 até o ano 2000 foi alvo de sucessivas denúncias em relação ao uso de trabalho escravo.

No último texto do dossiê, “Da assistência patronal à disciplina da vida e trabalho operário: narrativas, imagens e denúncias do passado”, Marcelo Góes Tavares, usa como fonte principal Memória da vida e do trabalho, documentário dirigido e produzido por Celso Brandão, e, também, relatos de memórias de operários têxteis alagoanos. Por meio de alguns fotogramas e relatos orais o autor tece uma rica paisagem polissémica sobre as políticas de assistência, gestão do trabalho, sobrevivência e resistência, tendo como cenário principal a vila operária de Fernão Velho e a Fábrica Carmen, nomeada até 1943 de Companhia União Mercantil.

Agradecemos imensamente a dedicação dos autores e autoras que compuseram este dossiê. Tivemos o privilégio de contar com um grupo de historiadoras e historiadores de enorme rigor e profissionalismo. Nesse sentido, não se furtaram em atender as sugestões críticas dos pareceristas, enriquecendo os textos e contribuindo de forma decisiva para novas abordagens historiográficas. Em “tempos difíceis” a nossa melhor resistência política é o rico diálogo em nossa área de conhecimento e no campo interdisciplinar: “tudo o que nos alenta, renova nossas forças!

Pere Petit – Graduação em Geografia e História pela Universitat de Barcelona. Mestrado em História de América Contemporânea pela Universidad Central de Venezuela. Doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Pós-doutorado na Universidad de Salamanca-Espanha. Docente dos Programas de Pósgraduação em História Social da Amazônia (Belém / UFPA), Linguagens e Saberes na Amazônia (Bragança / UFPA) e História (Marabá / Unifesspa). Presidente da Associação Brasileira de História Oral (ABHO). E-mail: [email protected]

Regina Beatriz Guimarães Neto – Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (1996). É professora Adjunto IV do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected]


PETIT, Pere; GUIMARÃES NETO, Regina Beatriz. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.12, n.1, jan / jul, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Moda e indumentária: entre imagens e artefatos/Acervo/2018

A elaboração de um dossiê permite uma reflexão importante acerca da área, da atuação profissional, da pesquisa. Da chamada para submissões à publicação dos trabalhos aprovados, há uma série de eventos que vão se sobrepondo à ideia inicial do dossiê e dão vida própria ao formato que os leitores têm em mãos. Nesse sentido, a experiência de editar esse material para publicação numa revista como a Acervo foi muito enriquecedora, apresentando também alguns desafios que nos transformaram pessoal e profissionalmente. Leia Mais

Imagens, narrativas e currículos | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2017

O dossiê Imagens, narrativas e currículos inscreve-se em uma rede de pesquisa e possibilita diversas reflexões, cujo produto resultante viria a ser algo múltiplo. Admitimos este fato, há muito tempo, já que entendemos – ao contrário do que nos ensinaram a maioria dos movimentos de pensamento acerca de escolas1 – existir uma intensa relação entre os muitos “dentrofora”2 das escolas, possibilitada pelos movimentos cotidianos que os “praticantes-pensantes” (OLIVEIRA, 2012)3 fazem.

Trabalhando com a ideia de que todos nós formamos inúmeras redes educativas – todas de “práticasteorias”4 – entendemos que os múltiplos “conhecimentossignificações” que nelas são criados, são relacionados e referidos a todos os “espaçostempos” dessas mesmas, pelas tantas “idasvindas” que fazemos entre elas.

Nos “espaçostempos” escolares, assim, estão presentes inúmeros currículos ocupados por inúmeros “artefatos culturais” que se transformam em curriculares, com os processos pedagógicos aí desenvolvidos. Nestes encontramos: artefatos materiais – cadeiras, mesas, lousas, calendários, chamadas, janela climática, quadros diversos; produções externas de normatização, como leis de ensino, normas administrativas ou decisões da equipe de direção das regionais de ensino; crenças pedagógicas – teorias didáticas e curriculares, métodos de ensino, formas de trabalhar e estudar; artefatos tecnológicos – televisão, vídeos, instrumentos musicais etc. Aí estão também os corpos e as mentes daqueles que “habitam” esses “espaçostempos”, fazendo-os seus: estudantes, docentes, pessoal administrativo e funcional, responsáveis pelos estudantes, comunidade local etc. O conjunto desses artefatos materiais, ideológicos e teóricos, somado aos seres humanos que os reproduzem e produzem outros “conhecimentossignificações” com eles, e que circulam diferentemente nos processos pedagógicos em cada escola, formam aquilo que chamamos de “currículos”. Esses “espaçostempos” são, desse modo, com tudo o que neles circula, artefatos curriculares, também. Todo este conjunto de seres humanos, produtos e criações das relações de uns com os outros, adquire significados múltiplos e complexos nos processos educativos, exatamente porque seus diferentes “usos”, na repetição, permitem que apareçam diferentes tecnologias de uso e a criação de “conhecimentossignificações” diversos. Leia Mais

Imagens, história e ciência / Domínios da Imagem / 2016

As reflexões acerca do uso de imagem na escrita e no ensino de História ganharam corpo nos últimos anos no Brasil. As representações iconográficas e audiovisuais não apenas ilustram o trabalho do historiador, mas também são objetos de análise em suas narrativas. Nas ciências, a fronteira entre a fidedignidade do que é representado e as concepções artísticas são tênues. A representação de uma planta feita por um naturalista oitocentista ou as imagens captadas por telescópios orbitais no século XXI exemplificam bem a questão, pois em ambos os casos elas são ao mesmo tempo representação e arte, pois o ato de vulgarizar ou divulgar o conhecimento científico congrega tanto o ato da investigação racional quanto certa liberdade artística. Nesse sentido, a proposta desse dossiê é reunir trabalhos que reflitam, explorem ou tomem como objeto a relação entre os usos da imagem na História da Ciência.

Este dossiê apresenta três frentes associadas: história, imagem e ciência. Delas decorrem outras ramificações que transversalmente abordam o eixo temático básico do presente. Abordagens plurais colaboraram para o alargamento da proposta temática, pois contemplou historiadores do político, da arte, da ciência, da literatura, bem como arquitetos, artistas plásticos, antropólogos e biólogos, o que dá multiplicidade e multidisciplinaridade a esta proposta.

Transitando pelo pluriverso da História das Ciências dois artigos abordam questões até hoje pouco aprofundadas na área. Em As primeiras imagens ocidentais da anatomia do útero humano, Vera Cecilia Machline discute um tema caro aos historiadores da Ciência. Afirma que coube à escola liderada por Aristóteles (384-322 a.E.C.) não só os primeiros estudos anatômicos de animais realizados no Ocidente, mas também as primeiras representações visuais a respeito. De acordo com a historiadora, há muito perdidas, sabe-se da existência dessas imagens mercê referências a ’Ανατοµαί (i.e., Esquemas anatômicos) em obras aristotélicas analisando sob diferentes ângulos a multiplicidade do reino animal. Compensando essa irreparável perda, desde o Renascimento ensaiou-se reconstituições de tais ’Ανατοµαί, com base nas descrições verbais nessas obras. Isto se aplica até ao útero de certos animais, incluindo o do ente humano, descrito no início do Livro II da História dos animais. Diante disso, será enfocado a reconstituição algo anacrônica de D’Arcy W. Thompson (1860-1948), bem como a ilustração do útero num manuscrito de c. 850, possivelmente inspirada na descrição presente no tratado ginecológico composto por Sorano de Éfeso (fl. 98-c. 129).

A ampliação do uso da imagem pelas descrições científicas e, especialmente, em sua vulgarização para um público amplo por meio da imprensa periódica é objeto do texto Representações, vulgarização e imagética científicas na imprensa da Corte fluminense do século XIX, do historiador Cesar Agenor Fernandes da Silva, que tenta compreender as nuances e os contornos da vulgarização científica e seu papel no projeto civilizatório para o Brasil veiculado pela imprensa periódica. A questão discutida nesse artigo gira exatamente em torno da difusão dos saberes científicos e as imagens associadas a essa veiculação por meio das publicações periódicas do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX. Um dos pontos centrais é justamente descrever como o conhecimento técnico-científico e, sobretudo, o uso público da razão tiveram papel fundamental no projeto de civilização dos homens de letras que viviam no Brasil. Além disso, coloca-se em perspectiva a possibilidade de se pensar possíveis impactos nas representações sobre o mundo pelos brasileiros que tinham contato com essas publicações.

Na interface entre a criação imagético/psíquica e a percepção filosófica, o texto de Elly Rozo Ferrari retoma essa discussão sobre outro prisma. Em Deslocamentos das narrativas viajantes: as fotografias de Mário de Andrade no processo de construção de conceitos da exposição Id: retratos contemporâneos, a artista plástica apresenta o ato fotográfico moderno nas fotografias de Mário de Andrade, pertencentes ao Arquivo do IEB-USP, como gerador de propostas conceituais a fim de discutir a imagem na contemporaneidade em relação à construção de identidades atualizadas neste processo de curadoria. Nesse sentido, analisa a intervenção na concepção fotográfica a partir das narrativas visuais apresentadas sem a intervenção legendada de textos e, a partir dessas relações, discute as representações presentes nesses retratos fotográficos contemporâneos que remetam à estereotipia, à banalização dos registros que, segundo autora, inundam ferozmente os espaços escolares e de cultura.

O espectro desse dossiê é necessariamente amplo, o que possibilita textos de gramaturas bastante diferentes. Em uma seara pouco discutida no âmbito da história da ciência, e mesmo da história política, o texto de Rodrigo Christofoletti apresenta a percepção sui generis do movimento integralista brasileiro sobre Ciência. Em A Enciclopédia do Integralismo frente à Educação, Estética e Poética: ciências da mente e do corpo, o historiador afirma que a tríade essencial do integralismo (Deus, Pátria, Família) teve um corolário bastante divulgado pelo movimento: uma sui generis concepção de ciência, que englobava experiências ligadas à Educação, à Estética e à Poética. Buscava-se com este tripé publicizar a crença integralista de que “o terreno fértil do protagonismo só seria fertilizado por meio do conhecimento, da beleza e da palavra em todos os seus sentidos!”. A ideia de que o binômio ciência/educação sempre foi um dos pilares da civilização era levada à risca pelo movimento integralista. Tal premissa alertava para o fato de que “o acúmulo de conhecimento não se bastava em si, e que era necessário uma educação que rompesse as fronteiras do intelecto, tornando-se o conceito do binômio ciência/educação algo polissêmico”. Este texto analisará as concepções negativas de ciência propaladas pelo integralismo no seu mais importante compêndio a Enciclopédia do Integralismo, publicado de 1957 a 1961.

Outra abordagem trabalhada neste dossiê é construída por textos que transitam pela fronteira entre arquitetura e suas representações imagéticas. O texto Experimentações gráfico-espaciais na confluência dos estudos do Imaginário e das representações da Arquitetura, da dupla Artur S. Rozestraten e Paula Brazão Gerencer, investiga, sob uma perspectiva crítica e experimental, instrumentos metodológicos e fundamentos conceituais advindos do campo de estudos do Imaginário quanto às suas possibilidades de interação com temas e modos de operar próprios do universo das representações da Arquitetura. Além da fundamentação conceitual em Gilbert Durand (1921-2012) e no universo iconográfico do ‘Recueil et Parallèle des édifices de tout genre, ancien et modernes’ de Jean-Nicolas-Louis Durand (1760-1834), o texto toma como base experiências construtivas, ensaios como inter-relações visuais entre imagens, estimuladas pelo Atlas Mnemosyne de Aby Warburg (1866-1929). Tais estudos têm a intenção de sondar novas potencialidades das articulações entre imagens, no plano e no espaço, como ferramenta de investigação e construção de conhecimento.

Em contraste com o texto de Machline que abriu o dossiê, o artigo apresentado pela antropóloga Priscila Enrique de Oliveira aborda as políticas públicas de saúde do Sistema de Proteção ao índio. Ideias, escopetas e bacilos: políticas de saúde do SPI e os diálogos com as populações indígenas do Brasil discute primeiramente como as políticas de saúde do SPI (Serviço de Proteção ao Índio, 1910-1967) foram pensadas, articuladas, colocadas em prática a partir de suas ligações com as políticas e ideais nacionais de civilização e progresso, bem como os pressupostos científicos vigentes no período. Analisa como as sociedades indígenas receberam e responderam a estas ações, enfocando particularmente as diferentes narrativas e lógicas culturais que perpassavam o contato, os diálogos e mediações frente à inserção das ideias de saneamento, higienização, medicalização e cura.

As análises expressas neste dossiê pretendem contribuir para o aprofundamento e a visibilidade de concepções e posicionamentos comprometidos com a ética científica e o respeito à diversidade intelectual. Esperamos que, em tempos de fragilidades éticas, como o que vivemos atualmente, os fundamentos que unem história, imagem e ciência possam ajudar a construir uma sociedade mais sábia de si mesma, e por isso, mais apta a enfrentar mudanças e crises.

Cesar Agenor Fernandes da Silva

Rodrigo Christofoletti


CHRISTOFOLETTI, Rodrigo; SILVA, Cesar Agenor Fernandes da. Apresentação. Domínios da Imagem, Londrina, v. 10, n. 19, jul/dez, 2016. Acessar publicação original [DR]

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América Colonial em imagens / Domínios da Imagem / 2015

Os editores da Domínios da Imagem têm o prazer de apresentar aos leitores o resultado desta edição número 17 da Revista. Nela, estão os oito artigos que compõem o Dossiê “América Colonial em imagens”, além de outros cinco artigos e uma resenha. Uma fértil edição, em especial no que toca aos interessados na história da América Latina, tanto em seu contexto colonial, quanto oitocentista e contemporâneo.

O desafio de fazer um dossiê sobre imagens da – e na – América no período colonial foi estimulante e recompensador. Desde o início, a proposta apontava para as vastas possibilidades de recortes e abordagens e, acreditamos, elas estão de fato bem refletidas nesta coletânea. Os estudos de América Colonial têm crescido visivelmente no Brasil, mas a produção ainda segue em menor escala se compararmos com os estudos contemporâneos. De qualquer forma, associações de pesquisadores e redes de laboratórios de pesquisa se multiplicaram nos últimos anos para agregar e reunir os envolvidos com a temática colonial na América. Nesse sentido, ao par dos congressos e simpósios, tão oportunos ao encontro e ao debate acadêmicos, a publicação de um dossiê também serve, sobretudo, para congregar os pesquisadores e apresentar novos trabalhos e diferentes perspectivas.

É este o espírito deste dossiê: agregar diversos trabalhos de pesquisa, de temporalidades e espacialidades distintas. O importante fio condutor é a imagem, em suas múltiplas dimensões, da América Colonial. O ícone pictórico ou escultórico, a cartografia, a gravura ou o retrato, foram imagens que muito circularam pelo continente americano e pela Europa, num tempo de encontros culturais, marcado pelas traduções e mestiçagens; e num tempo de descobertas, refletido nos mapas que redefiniam as representações do mundo, e nos desenhos de fauna e flora de uma natureza surpreendente, pintada, muitas vezes, de modo nada despretensioso.

O primeiro artigo, de Flavia Galli Tatsch, discute exatamente a circularidade de imagens. Neste caso, apresenta a forma como gravuras flamengas serviram de modelo para obras de artistas do território do ViceReino do Peru, especialmente nos séculos XVI e XVII. Os exemplos americanos apresentados, inspirados em gravuras flamengas, fiéis representantes de tradições temáticas e técnicas europeias, revelam como estas imagens – fundamentais na conformação de um repertório iconográfico para os artistas locais – escapavam, e muito, de uma mera reprodução ou imitação. As imagens em solo americano ganhavam novas interpretações e traduções conforme as mais diversas variáveis, como os patrocinadores, o público ou os espaços onde seriam expostas. Legitimados nos modelos, incorporavam traços da criatividade e inventividade locais.

Ainda na temática da circulação e na busca de modelos para composição de material imagético, podemos situar o artigo de Andréa Doré, que analisa a representação da América num dos mapas murais de Willem Jansz Blaeu, de 1608. A análise percorre o universo de fontes utilizado pelo artista, mostrando a recorrência e credibilidade de diversos relatos sobre a América no cenário europeu. Como parte da rica escola cartográfica holandesa dos séculos XVI e XVII, o mapa em questão é problematizado também em suas escolhas, seleções e hierarquizações na representação de nativos e cidades do continente americano.

O texto a seguir, de Jorge Victor de Araújo Souza, discute diversas representações imagéticas da América no período do Renascimento europeu. A análise, especialmente de frontispícios e gravuras de livros, discute as noções de reciprocidade e dádiva como forma de explicitar as hierarquias nas maneiras pelas quais a América foi representada. O autor compreende o tema como uma “tópica”, na qual pode-se perceber o papel do continente americano no contexto dos impérios coloniais e também desvelar um universo de expectativas, imagens pré-concebidas, experiências e práticas que pautaram as relações entre a Europa e América entre os séculos XV e XVIII.

O quarto artigo do dossiê traz o trabalho de Jacqueline Ahlert sobre a presença de um complexo universo de representações imagéticas no espaço missioneiro dos jesuítas da Província do Paraguai. A análise percorre a larga temporalidade desta presença, e a organização do espaço, para refletir sobre as formas de produção de esculturas, pinturas, estampas e medalhas pelos artesãos indígenas – quase sempre anônimos – que trabalhavam nas oficinas sob inspiração dos mestres jesuítas. O texto discute as mediações e traduções sofridas pelas representações da iconografia cristã no contexto das missões e problematiza a articulação destas imagens no espaço e nos seus usos e sentidos.

Já no contexto da América Portuguesa, e na temporalidade da transição da Monarquia Hispânica, temos o texto de Kalina Vanderlei Silva, que se debruça sobre as imagens – textuais e visuais – construídas na segunda metade do século XVII sobre o Governador Geral do Brasil e Conde de Alegrete, Matias de Albuquerque. Na análise deste personagem que transitou da lealdade aos Habsburgo ao juramento aos Bragança, o trabalho busca revelar as conexões existentes entre as elites açucareiras do Nordeste brasileiro com o cenário cortesão ibérico. A composição do modelo de herói fidalgo, perfeitamente ajustado ao período, torna-se um dos terrenos ideais nos quais a autora trafega para mostrar como a construção de retratos discursivos e iconográficos tinha forte sentido legitimador para estas elites americanas.

Ao avançarmos pelo século XVIII, temos o artigo de Juan Ricardo Rey-Márquez, que apresenta uma análise do uso do desenho na Expedição Botânica do Novo Reino de Granada, comandada por José Celestino Mutis. Para tanto, o autor discute o conceito de representação no contexto da ilustração e das viagens de exploração naturalista. A força e a importância da representação visual da flora são problematizadas de forma a colocar em perspectiva os debates sobre a capacidade destas imagens ajudarem no conhecimento efetivo da natureza. As escolhas e posições de Mutis são explicitadas no texto, mostrando inclusive a necessidade de complementaridade entre o visual e o escrito no processo de conhecimento da realidade desenhada.

O período setecentista tem ainda dois artigos analíticos sobre a riquíssima realidade imagética das Minas Gerais. Kellen Cristina Silva apresenta um estudo iconográfico da pintura do teto da igreja de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Prados. A imagem – aqui vista como encarnação dos medos e temores, no contexto de um certo imaginário religioso ibérico e também mestiço – é analisada numa operação comparativa com a obra teatral de Ariano Suassuna e a cinematográfica de Guel Arraes, para refletir sobre permanências da mentalidade devocional, do medo da morte e da concepção de Juízo.

O artigo de Tércio Veloso discute a formação das cidades coloniais na América portuguesa e analisa o caso da cidade de Mariana, erguida no contexto da mineração do ouro no atual estado de Minas Gerais. O autor cruza o riquíssimo debate historiográfico sobre as cidades coloniais na América, com duas representações iconográficas produzidas no século XVIII, especificamente duas “plantas” urbanas. O trabalho busca compreender como as cidades se movimentam e respondem muito mais às questões e anseios locais do que a determinações ou projetos apriorísticos.

Terminado o dossiê sobre o período colonial, ainda permanecemos, contudo, em território latino-americano. O artigo de Bruno Pereira de Lima Aranha analisa relatos de viagem produzidos pelos argentinos Juan Bautista Ambrosetti e Florencio de Basaldúa, que partiram de Buenos Aires em direção ao território de Missiones, no nordeste argentino, no final do século XIX. O texto faz uma discussão sobre as representações iconográficas da natureza regional e as relações que estas possuíam com a construção dos símbolos de identidade nacional argentina, colocando em perspectiva os ideais de natureza e civilização.

Já o século XX latino-americano surge no artigo de Júlia Glaciela da Silva Oliveira, que discute o chamado “artivimo urbano” no palco das lutas políticas feministas de Brasil, Argentina e Bolívia. A militância através das múltiplas possibilidades artísticas e das performances em diversos cenários, é analisada numa perspectiva comparativa e inserida nas profundas discussões identitárias inauguradas pelos movimentos sociais no final do século XX.

Ainda na seção “Artigos Gerais”, temos textos que tratam das imagens em diversos contextos culturais. O artigo de Thiago Costa problematiza o pitoresco como modelo artístico específico, envolvido numa longa e múltipla construção estética e teórica. O texto mostra como o pitoresco caiu no gosto oitocentista e o papel fundamental que o pastor anglicano William Gilpin teve em sua difusão e formatação desde o século XVIII.

O artigo de Marta Cordeiro apresenta o corpo como uma construção imagética, muitas vezes deslocado da realidade, e inspirado nos exemplos das celebridades reiteradamente divulgados através da mídia. Visualizam-se as relações entre espectador e imagem e as projeções dos indivíduos sobre os modelos das celebridades.

O último artigo, de Luiz Gustavo Soares Silva, discute as relações entre as representações do período medieval e a cultura da mídia através do estudo de caso do videogame Assassin´s Creed, lançado em 2007. O autor utiliza teorias do cinema para resgatar o diálogo entre a representação histórica e o contexto de produção.

Para fechar esta edição, temos a resenha de Amanda Cieslak Kapp e Tiago Bonato, sobre o livro de Mauricio Nieto Olarte (Las máquinas del império y el reino de Dios, 2013), e o papel da comunicação, em sentido amplo, na estruturação dos impérios globais ibéricos.

As imagens e suas formas de análise constituem foco central da Revista. Neste número, o leitor pode conhecer mais a fundo o papel fundamental jogado pela imagética nas relações sociais, políticas e culturais nas Américas nos períodos colonial e independente, bem como apreender sua importância nas diversas instâncias, das artes às mídias, em contextos os mais variados, da época moderna à contemporaneidade.

Esperamos que a diversidade de temas e abordagens agrade ao leitor!

José Carlos Vilardaga – Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de História da América na UNIFEST.


VILARDAGA, José Carlos. Apresentação. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17, jan/jun, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Escritos e Imagens do Mundo Luso-Brasileiro (séculos XIII-XVIII) / História (Unesp) / 2015

História (São Paulo), principal periódico editado pelos Programas de Pós-Graduação em História da UNESP de Franca e Assis, apresenta aos seus leitores uma nova edição (volume 34, número 1). Além de uma entrevista gentilmente concedida pela medievalista francesa Adeline Rucquoi, que se destacou como diretora de pesquisa do Centre de Recherches Historiques de L’École des Hautes Études en Sciences Sociales e que apresenta uma reflexão sobre sua trajetória como medievalista e sobre o estado dos estudos em história medieval na França atual, o número traz um instigante conjunto de textos dedicados à árdua tarefa de compreender a edificação, entre os séculos XIII e XVIII, de dois mundos que, ao longo de suas histórias, estiveram em vários aspectos fundidos ou, ao menos, articulados.

Resultado da colaboração de historiadores portugueses e brasileiros, o dossiê Escritos e Imagens do Mundo Luso-Brasileiro (séculos XIII-XVIII) conta com estudos que abordam aspectos políticos, sociais e culturais das sociedades portuguesa e brasileira e contemplam desde instrumentos administrativos até formas de saber partilhados ao longo dos séculos em questão. Da configuração do mundo urbano vista a partir de textos produzidos por órgãos e poderes administrativos portugueses dos séculos XIII ao XV, passando por outras facetas institucionais – como os instrumentos legais de justiça, a corregedoria do reino português, a centralização do poder, as medidas preventivas e as práticas terapêuticas – e pelo universo das crenças religiosas e políticas, o dossiê invade o terreno dos escritos e das imagens e sua força nos diálogos atlânticos.

Na seção de artigos de temática livre, o leitor deparar-se-á com diversos estudos sobre temas políticos e intelectuais. Entre os principais pontos abordados destacam-se: a difusão da propaganda fascista no Estado de São Paulo e suas consequências nas relações diplomáticas entre o governo brasileiro e Mussolini, entre as décadas de 20 e 40 do século XX; a peculiar interpretação do Estado Novo, realizada nos anos 40 pelo ideólogo e editor da revista Cultura Política, Almir de Andrade; e o estudo do Carimbó, “expressão típica da musicalidade cabocla do Pará e da Amazônia”. Ilustram ainda a seção análises sobre: as crenças e temores de homens e mulheres das Minas Gerais do século XVIII, as relações políticas entre o governador paranaense Ney Braga e o presidente João Goulart como pano de fundo do “golpe civil-militar de 1964” no Paraná; a relação entre a apropriação da terra e a criação de porcos na área da chamada Floresta Ombrófila Mista; e, finalmente, sobre a reforma da instrução pública colocada em prática nos anos 20 do século passado. O presente número da História (São Paulo), dando continuidade à sua proposta de difundir não apenas artigos originais, traz ainda sua já tradicional seção de resenhas.

O Conselho Editorial da História (São Paulo) gostaria, por fim, de agradecer ao CNPq e à Pró-Reitoria de Pesquisa da UNESP pelos suportes financeiros concedidos e, em especial, à Professora Livre-Docente Susani Silveira Lemos França, pesquisadora do PPG-História da UNESP de Franca, pelo empenho dedicado à publicação bilíngue do dossiê que nomeia esta edição.

José Carlos Barreiro – UNESP – Campus de Assis

Ricardo Alexandre Ferreira – UNESP – Campus de Franca 


BARREIRO, José Carlos; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.34, n.1, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Imagens dos Novos Mundos na Cultura Ocidental / História (Unesp) / 2012

É com votos de uma leitura agradável e instrutiva que tornamos público o volume 31, número 2, da revista História São Paulo), publicação semestral editada pelos Programas de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista, UNESP. A revista, neste número, tem como tema Imagens dos Novos Mundos na Cultura Ocidental, um tema que poderíamos denominar clássico na historiografia mundial e que assinala já um contributo bastante significativo dos historiadores de língua portuguesa. Prova disso são os artigos que vinculamos no dossiê deste número, todos resultados de pesquisas consolidadas, com reconhecido impacto na área.

Ao percorrer o periódico, o leitor, de saída, conhecerá nuances da trajetória intelectual de um importante estudioso do Império Marítimo Português, o pesquisador americano Timothy Coates, que gentilmente nos concedeu uma entrevista. Mas não só. O leitor poderá, também, aprender um pouco mais sobre as apropriações filosóficas e jurídicas que os “sábios” do Velho Mundo fizeram das narrativas da França Antártica ou sobre os mecanismos de produção do saber relativos aos “novos mundos” que alicerçaram a construção dos impérios coloniais ibéricos. Poderá, ainda, avaliar o papel da ilustração lusitana nas suas práticas imperiais; inteirar-se da obra de um “quase ilustrado” da América portuguesa, o padre Manuel Ribeiro Rocha; tomar contato com uma análise crítica dos modelos explicativos da economia colonial; deslocar-se ligeiramente para a África e familiarizar-se com alguns aspectos relativos à colonização inglesa do Rio Níger; e, por fim, ser apresentado aos vestígios que deixou na imprensa francesa a passagem de D. Pedro I por Paris, depois de sua abdicação.

Na seção de artigos de temática livre, seção, como destacamos no número anterior, fundamental numa revista que pretende oferecer um panorama amplo da produção historiográfica contemporânea, os temas são variados, ainda que notadamente concentrados no século XX e na América Latina. Abre a seção, é verdade, um estudo sobre Isidoro de Sevilha, seguindo-lhe um outro dedicado a um homem de negócios brasileiro do Oitocentos, Saturnino Braga. Daí em diante, porém, predominam os ensaios sobre a América Latina no último século, sobre alguns de seus aspectos políticos, culturais e econômicos.

Para concluir, e liberar o leitor, gostaríamos de salientar que a revista História (São Paulo), no início do primeiro semestre de 2013, inaugurará um novo sitena Internet, siteque, além de outros serviços, oferecerá aos leitores a coleção completa do periódico em formato digital e a edição bilíngue dos dossiês publicados a partir deste volume 31, número 2. No tocante à seção Resenhas, é objetivo da revista, como já salientamos no número anterior, tornar-se um pólo de divulgação de obras recém-publicadas na área de história – no Brasil e no exterior. Todavia, temos deparado com enorme dificuldade para captar material junto aos pesquisadores da área. Reiteramos, pois, o convite aos resenhistas e comunicamos aos autores que os editores da revista terão enorme prazer em receber obras recém publicadas para análise e divulgação.

Os editores


Editores. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.31, n.2, 2012. Acessar publicação original [DR]

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História, espaço e imagens / Revista Espacialidades / 2010

Em 2010 o terceiro volume da Espacialidades foi publicado com o dossiê “História, espaço e imagens”, dialogando os mais diversos usos das imagens nas pesquisas históricas.

O volume contou com 6 artigos e uma resenha crítica. O principal tema abordado foi a cidade e o urbano, a partir de análises que tomam as imagens como fontes fundamentais para o estudo dessas espacialidades.

Roneilson da Silva Santos – Mestrando em História – UFRN.


SANTOS, Roneilson da Silva. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.3, n. 02, 2010. Acessar publicação original [DR]

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Entre séculos: Imagens de Arte e Cultura Visual | ArtCultura | 2010

Os textos aqui reunidos versam sobre produção, circulação e recepção de obras artísticas visando contribuir com olhar problematizado a partir das imagens de arte na discussão sobre a cultura visual de fins do século XIX e início do XX. Pensar entresséculos permite alargar as faixas cronológicas tradicionalmente propostas pela historiografia, permite mesclar diferentes documentos consultados pelos autores e transpor marcos temporais esta – belecidos nos arquivos e nos compêndios da história, da cultura e da arte.

São apresentadas, neste minidossiê, diferentes categorias de imagens artísticas e de documentos, em assuntos como pintura, arquitetura, ensino artístico e objetos decorativos, com relevantes contribuições ao debate atual no campo da visualidade. Vale ressaltar o interesse das áreas de história e de arte nas abordagens visuais seja para alargar seus conhecimentos específicos, como no tratamento de material visual enquanto documento e/ou objeto de estudo, seja para provocar o diálogo com outras áreas do conhecimento e levar seus saberes particulares a outros domínios. Leia Mais

Imagens da modernidade: arte, fotografia e tecnologia / Estudos Ibero-Americanos / 2005

O presente número da revista Estudos Ibero-Americanos tem em vista publicar uma série de ensaios que focalizam as “Imagens da modernidade: arte, fotografia e tecnologia”. Os autores analisam a imagem a partir de diferentes olhares, considerando a modernidade, as ideologias do modernismo, as práticas culturais e os avanços científicos e tecnológicos como fios condutores dos processos de interpretação das mesmas. Como esses ensaios são efetuadas por historiadores da arte e da cultura, as imagens são tratadas não apenas por suas representações enquanto fenômenos positivos, mas levando em conta os seus aspectos estéticos e os diálogos que os artistas estabelecem entre si ou entre distintas categorias artísticas, em diferentes momentos históricos. Os diálogos entre pintores ou destes com fotógrafos e a cultura visual em geral fornecem também outros subsídios para a interpretação das imagens e suscitam novas questões. Fora esses aspectos de caráter metodológico assinalados, os estudiosos têm ainda o objetivo de considerar a espacialidade e a temporalidade da imagem, fazendo conexões com fenômenos próprios ao momento em que ela foi concebida e com outros tempos históricos com os quais ela se relaciona.

A imagem na arte moderna exige do historiador um longo processo de reflexão a respeito das questões internas e externas à mesma, visto que essa é resultante de múltiplos saberes, nos quais se confrontam, de forma interdependente, diferentes campos de conhecimento, o imaginário do artista, a cultura visual e as práticas próprias da sociedade em que ele vive. As imagens da modernidade são fecundas, pois evidenciam as suas mudanças de estatuto, bem como expressam as teorias com as quais elas são produzidas. Com isto, elas são resultantes do cruzamento de vários domínios do saber do mundo moderno, associados à memória, ao imaginário, à sensibilidade, às convicções pessoais e práticas culturais.

A inserção da fotografia no elenco de ensaios tem a finalidade de explicitar a sua importância na contemporaneidade, o impacto tecnológico exercido e a construção de novas percepções de mundo que esta evidencia, sobretudo, a partir da sua produção mecânica no século XIX e, mais recentemente, com a imagem numérica. Com isto, visa-se destacar a importância da cultura visual como fator significativo a ser considerado no processo de interpretação da imagem pelo historiador. Conforme Jean-Claude Schimit, todas as imagens interessam ao pesquisador, pois todas têm razão de ser, exprimem e comunicam sentidos, são dotadas de valores simbólicos e se prestam aos mais distintos usos.1

Este número da revista apresenta ensaios mais teóricos relativos à tradição / modernidade das imagens pictórica e fotográfica e a outros estudos que se pautam em análises de casos, que se estendem da pintura à arquitetura. Eles fogem das metodologias tradicionais da História da Arte, que trabalhou durante muito tempo com abordagens idealista, formalista e positiva, trazendo novos enfoques e problemáticas, bem como da História Cultural que identificou a imagem enquanto documento visual enquanto representação do real.

Nota

1. POIRRER, Philippe. Les enjeux de l’histoire culturelle. Paris: Seuil, 2004. p. 310.

Maria Lúcia Bastos Kern – Professora Doutora.

Cláudia Musa Fay – Professora Doutora.

Coordenadoras


KERN, Maria Lúcia Bastos; FAY, Cláudia Musa. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v.31, n.2, dez., 2005. Acessar publicação original [DR]

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O povo brasileiro: imagens e representações / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2001

A Revista CLIO – de pesquisa histórica, a partir deste número, introduz algumas modificações: circulará com um Dossiê, e duas seções: Artigos e Resenhas.

O dossiê intitulado O POVO BRASILEIRO: imagens e representações, trata das ações de resistência de brasileiros, qualificados como homens de cor, camponeses enlouquecidos, curandeiros, cangaceiros, enfim, a “vilíssima canalha”.

Estes trabalhos são o resultado de pesquisas que sugerem a resistência como resposta à marginalização, sofrida por grande parte da população brasileira. Estes estudos, também apresentam as proposições que acompanhavam os movimentos de rebeldia.

Ubiratam de Castro de Araújo mostra como a “política dos homens de cor”, na Bahia, construiu uma rede abrangente com diversos segmentos sociais, que, se não chegou a ter completo êxito, contribuiu para identificar insatisfações nos grupos médios da população, nos negros mestiços de Salvador e nos desertores.

Kalina Wanderlei faz uma reflexão acerca do imaginário que a sociedade urbana da zona açucareira construiu sobre aqueles que compunham as tropas da Coroa portuguesa. Um texto escrito em parceria entre Alexandre Alves e Francisco Lima tem caráter mais especulativo – O que foi feito da escrava Leocádia? Contudo, fez-se uma leitura da forma como os proprietários, através das leis, se relacionavam com’ um “bem semovente”. O fato da escrava ser incluída no inventário dos bens e retalhada juridicamente, mas, não de fato, prova a complexidade da escravidão em uma sociedade supostamente liberal e de como os “furos” da lei podem representar alguma forma de resistência.

Mais tragédia, mais resistência. A da comunidade camponesa igualitária do Sítio do Caldeirão, artigo assinado por Tarcísio Marcos Alves; o trabalho de Elise Jasmin sobre o cangaço. A autora discute a presença de Lampião como “entrave a um projeto de nação unida e civilizada”.

Fechando o dossiê, o professor Carlos Miranda aborda a forma como através das noções de policia médica, medicina urbana e medicina da força de trabalho, o Estado se opôs às práticas dos curandeiros.

Na seção Artigos há dois que tratam da região sertaneja – História da Família de Erivaldo Fagundes Neves, no interior da Bahia e Bumba-Meu-Boi, uma representação social do sertão nordestino, centrado no Piauí, de Tanya Maria Pires Brandão.

Outros três se preocupam com questões sócio-urbanas. O que se refere ao Rio de Janeiro: Cultura e Cidade nos anos 1960-1970, assinado por Cléia Schiavo Weyrauch; Políticas Assistenciais no Recife (1935-1945) escrito por Ricardo Pinto de Medeiros, e o artigo sobre A Ponte Suspensa de Caxangá assinado por Paulo Martin Souto Maior. O último artigo dessa seção discute o conceito de História em Paul Veyne e está assinado por José Jorge Siqueira.

Finalizando esse número apresentamos duas resenhas de dois livros: Rompendo o Silêncio: uma fenomenologia feminista do mal, de Ivone Gebara – autora da resenha, Maria de Fátima Guimarães e Sobre o Tempo, de Norbert Elias, autor da resenha, Antônio Paulo Rezende.

Agradeço a todos os colaboradores que contribuíram para a edição deste número, que é dedicado ao professor Dr. Marco Antônio de Oliveira Paes, falecido este ano.

Socorro Ferraz

Editora


BARBOSA, Maria do Socorro Ferraz. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.19, n.1, jan / dez, 2001. Acessar publicação original [DR]

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O povo brasileiro: imagens e representações / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2001

A Revista CLIO – de pesquisa histórica, a partir deste número, introduz algumas modificações: circulará com um Dossiê, e duas seções: Artigos e Resenhas.

O dossiê intitulado O POVO BRASILEIRO: imagens e representações, trata das ações de resistência de brasileiros, qualificados como homens de cor, camponeses enlouquecidos, curandeiros, cangaceiros, enfim, a “vilíssima canalha”.

Estes trabalhos são o resultado de pesquisas que sugerem a resistência como resposta à marginalização, sofrida por grande parte da população brasileira. Estes estudos, também apresentam as proposições que acompanhavam os movimentos de rebeldia.

Ubiratam de Castro de Araújo mostra como a “política dos homens de cor”, na Bahia, construiu uma rede abrangente com diversos segmentos sociais, que, se não chegou a ter completo êxito, contribuiu para identificar insatisfações nos grupos médios da população, nos negros mestiços de Salvador e nos desertores.

Kalina Wanderlei faz uma reflexão acerca do imaginário que a sociedade urbana da zona açucareira construiu sobre aqueles que compunham as tropas da Coroa portuguesa. Um texto escrito em parceria entre Alexandre Alves e Francisco Lima tem caráter mais especulativo – O que foi feito da escrava Leocádia? Contudo, fez-se uma leitura da forma como os proprietários, através das leis, se relacionavam com’ um “bem semovente”. O fato da escrava ser incluída no inventário dos bens e retalhada juridicamente, mas, não de fato, prova a complexidade da escravidão em uma sociedade supostamente liberal e de como os “furos” da lei podem representar alguma forma de resistência.

Mais tragédia, mais resistência. A da comunidade camponesa igualitária do Sítio do Caldeirão, artigo assinado por Tarcísio Marcos Alves; o trabalho de Elise Jasmin sobre o cangaço. A autora discute a presença de Lampião como “entrave a um projeto de nação unida e civilizada”.

Fechando o dossiê, o professor Carlos Miranda aborda a forma como através das noções de policia médica, medicina urbana e medicina da força de trabalho, o Estado se opôs às práticas dos curandeiros.

Na seção Artigos há dois que tratam da região sertaneja – História da Família de Erivaldo Fagundes Neves, no interior da Bahia e Bumba-Meu-Boi, uma representação social do sertão nordestino, centrado no Piauí, de Tanya Maria Pires Brandão.

Outros três se preocupam com questões sócio-urbanas. O que se refere ao Rio de Janeiro: Cultura e Cidade nos anos 1960-1970, assinado por Cléia Schiavo Weyrauch; Políticas Assistenciais no Recife (1935-1945) escrito por Ricardo Pinto de Medeiros, e o artigo sobre A Ponte Suspensa de Caxangá assinado por Paulo Martin Souto Maior. O último artigo dessa seção discute o conceito de História em Paul Veyne e está assinado por José Jorge Siqueira.

Finalizando esse número apresentamos duas resenhas de dois livros: Rompendo o Silêncio: uma fenomenologia feminista do mal, de Ivone Gebara – autora da resenha, Maria de Fátima Guimarães e Sobre o Tempo, de Norbert Elias, autor da resenha, Antônio Paulo Rezende.

Agradeço a todos os colaboradores que contribuíram para a edição deste número, que é dedicado ao professor Dr. Marco Antônio de Oliveira Paes, falecido este ano.

Socorro Ferraz

Editora

BARBOSA, Maria do Socorro Ferraz. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.19, n.1, jan / dez, 2001. Acessar publicação original [DR]

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