Festas e Festividades na História | Em Tempo de Histórias | 2022

Festas juninas Imagens Ministerio do TurismoAgencia Brasil
Festas juninas | Imagens: Ministério do Turismo/Agência Brasil

As festas e festejos de muitos e diferentes tipos, encontrados em todas as sociedades, são práticas que constituem o cotidiano das pessoas e grupos enquanto linguagem e experiência, como podemos observar em registros histórico desde os períodos mais remotos. Através dessas manifestações, os sujeitos se comunicam e fazem circular suas percepções de mundo, constroem sociabilidades e experimentam sensibilidades. Nesta perspectiva, os estudos de festas e festejos dedicam-se a pensar também o implícito, o simbólico, os elementos que compõem imaginários de quem festeja e representações do que é festejado. Isso perpassa a historicização de quem festeja e de como e onde se festeja. Conforme Maria Clementina Cunha (2001), pensar as festividades não é algo que reduz aos eventos em si, mas das pessoas que festejam. As diferenças e antagonismos se encontram, pensados em termos de classes sociais, etnicidade e/ou relações de gênero. Isso significa que não há suspensão dos conflitos.

Nas palavras de Bakhtin (2013), trata-se da teatralização da vida ao reverso; é o mesmo mundo que se comemora, com a diferença de que isto acontece em modo festivo. Assim, numa mirada bakhtiniana, a festa revela inúmeras formas e manifestações, deixando transparecer os desejos e anseios dos sujeitos, inclusive – e sobretudo – aqueles que não emergem nos dias considerados normais. Assim, reunimos trabalhos que pensam essas comemorações numa concepção de história social da festa, que pode ser considerada um modo de fazer história social, como uma sinédoque da sociedade. Tratase assim, de uma aproximação de lente, para que a festa possa falar não apenas por si mesma, pelos eventos de sua extensão e duração, como também de tudo que recapitula, densifica e expõe, em linguagem que pode ir do lúdico ao fúnebre, do cívico ao revolucionário, do respeitoso ao irreverente, havendo interseções e oscilações entre a predominância de um polo ou outro desses binômios. Em alguns estudos de fôlego, como o de Ladurie (2002), isto resulta muito nítido. Leia Mais

História do Tempo Presente: itinerários, dilemas e perspectivas de investigação | Em Tempo de Histórias | 2021

Detalhe de Capa de Em Tempo de Historias
[Protestos no Congresso Nacional]. Detalhe de Capa de Em Tempo de Histórias v. 1, n. 39, 2021

A História do Tempo Presente emerge das incertezas e durezas de um tempo próximo, com feridas abertas a serem tratadas. Um passado que ainda não está acabado e no qual os sujeitos históricos são um “ainda aí”. Defini-la pode causar dissensos e confusões: consiste numa concepção teórica, muitas vezes confundida com um recorte temporal. As pesquisas históricas dedicadas ao estudo de eventos temporalmente próximos ao presente de produção do historiador/a são, em algumas oportunidades, interpretadas equivocadamente, como se tal proximidade qualificasse por si só um estudo inscrito no âmbito da História do Tempo Presente.

Como concepção historiográfica, a História do Tempo Presente está relacionada à forma como lidamos com o tempo e estabelecemos relações temporais mediadas por operações próprias do mundo pós-guerra: as memórias, seus usos e abusos; os testemunhos vivos de um passado-presente; os monumentos e homenagens públicas; as mídias e as comemorações. Essa perspectiva está associada à intenção de compreender os diversos passados que, de alguma maneira, ainda se fazem presentes. Compartilhamos, assim, a perspectiva apresentada pelo historiador François Dosse, para quem a singularidade do tempo presente reside “na não contemporaneidade do contemporâneo” (DOSSE, 2012, p. 6), em um passado que ainda circula pelos labirintos das temporalidades e que segue pulsante na atualidade. Leia Mais

Ditaduras latino-americanas no século XX: corrupção, violência e meio ambiente | Em Tempo de Histórias | 2021

A proposta fundamental deste dossiê centra-se na análise das relações entre as ditaduras latino-americanas e o meio ambiente. Essa perspectiva serviria de catalisador para as diferentes dimensões que compõem a complexa história das ditaduras militares que assolaram a América Latina na segunda metade do século XX. Tais ditaduras impuseram modelos econômicos liberais agressivos que moldaram para sempre a região em termos socioculturais.

Pois bem, o poderoso imaginário neoliberal, que acabou desenhando cidades, áreas rurais e demais territórios, produziu e continua a produzir muitas tensões nas sociedades onde está presente. Assim, o aumento da violência, corrupção, desigualdade e marginalização acaba causando grande impacto ambiental. Essa perspectiva se faz necessária em razão do progressivo interesse das sociedades latino-americanas por seu passado autoritário, tanto por parte de grupos sociais que – cada vez mais representados na política institucional – buscam valorizá-lo, quanto por setores que percebem no estudo da história recente uma fonte de significados para compreender o momento atual. A ascensão do autoritarismo na América Latina em geral, e no Brasil em particular, está sendo acompanhado por duas grandes crises ambientais: a acelerada destruição dos biomas e da biodiversidade e a pandemia gerada pelo coronavírus. Ambas estão associadas a modelos de produção e consumo que, paulatinamente, mostram-se perversos e autodestrutivos. Leia Mais

História e Cinema / Em Tempo de Histórias / 2020

Apresentação

O dossiê História e Cinema reúne trabalhos que tematizam o cinema com base em diferentes aportes teórico-metodológicos, buscando pensar o filme como documento histórico que deve ser interrogado a partir da especificidade da linguagem cinematográfica, da história do cinema, das tradições cinematográficas e do contexto histórico e cultural de produção, assim como das formas de circulação e consumo das imagens. Assim, o dossiê contém artigos que investigam a circulação de memórias hegemônicas ou subterrâneas, do imaginário social e político em diferentes gêneros, ficção ou documentário, animação ou série televisiva, e em diferentes suportes, películas ou digital. Também apresenta pesquisas que situam as discussões sobre a historiografia do cinema e o mercado cinematográfico.

Organizamos o dossiê em séries temáticas, buscando aproximar os trabalhos a partir de temas ou metodologias de abordagem comuns. A primeira série de artigos versa sobre as questões que envolvem o debate sobre as relações étnico-raciais, com destaque para o racismo e a produção de imagens estereotipadas das subjetividades constituídas na diáspora africana, seja no cinema brasileiro, seja no cinema estadunidense. Como contraponto a essas imagens, o artigo A Colonialidade e a Emancipação no filme Emitai de Sembène Ousmane (Senegal, Anos 1970), de autoria de Vinícius Pinto Gomes, analisa o filme Emitai (1971), dirigido por Sembène Ousmane, a partir de um diálogo com os estudos pós-coloniais e decoloniais, buscando uma perspectiva africana sobre as lutas contra a dominação colonial em África. Além do filme, o autor apresenta um rico corpus documental constituído por entrevistas do diretor e cartazes do filme produzidos em diferentes países. Renata Barbosa Melo do Nascimento analisa As representações do continente africano no cinema através dos filmes Hotel Ruanda (2004) e O último Rei da Escócia (2006), ancorada nos estudos decoloniais, buscando apreender as confluências entre as obras quanto às imagens e lugares atribuídos às populações do continente africano e desvendando conexões históricas e culturais na produção de imagens eurocêntricas estereotipadas sobre o continente africano.

Vanessa de Araújo Andrade, no artigo E o Vento Levou: cinema, racismo e silenciamento sobre a abolição da escravatura na Guerra Civil dos Estados Unidos, analisa a intertextualidade entre o livro que deu origem ao filme clássico de 1939, os silêncios sobre o tema da abolição da escravatura nos EUA e a questão racial advinda da libertação dos escravizados. O artigo de Leonardo Bentes Rodrigues, Colonialismo como laboratório: “A Batalha de Argel” e a tortura como projeto de controle político, problematiza a relação do cinema com o processo de descolonização através do filme do diretor Gilles Pontecorvo de 1965, traçando vínculos entre as experiências de tortura nas colônias francesas e a consolidação de seu uso como controle político nos regimes autoritários na segunda metade do século XX. A circulação de memórias sobre o movimento negro estadunidense é analisada em El movimiento negro estadounidense y las batallas por la memoria: una mirada desde The Boondokcs, das autoras Tereza Maria Spyer Dulci e Vania Macarena Alvarado Sadivia. Partindo da premissa de que os produtos audiovisuais são lugares privilegiados para as “batalhas da memória”, as autoras analisam os principais marcos do movimento negro estadunidense e a criação e recriação de memórias presentes no quadrinho The Boondokcs (1996), e na série de animação The Boondokcs (2006), do criador Aaron McGruder.

Nessa primeira série, também encontramos os trabalhos de ensino e pesquisa realizados a partir do cinema brasileiro. O artigo Cinema, história e educação: racismo e ensino de História em O Assalto ao Trem Pagador, dos autores Jairo Carvalho do Nascimento e Genilson Ferreira da Silva, analisa o filme O Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, em duas perspectivas: buscando evidenciar e problematizar questões raciais presentes no filme e sua relação com o seu contexto de produção, bem como apresentar as possibilidades pedagógicas para o ensino de História no Ensino Médio em cumprimento à lei 10639. O artigo O filme Quilombo: uma outra história negra, de Rafael Garcia Madalen Eiras, analisa o filme Quilombo (1984), do diretor Carlos Diegues, relacionando o tratamento da escravidão no filme, a história do cinema brasileiro nos anos 1970/80, a revisão historiográfica sobre a história da escravidão e as questões pautadas pelo movimento negro no contexto da redemocratização brasileira.

Bárbara Brognoli Donini, em O filme que sai do armário: o Cinema Lésbico a partir da obra de Adelia Sampaio, analisa o longa de ficção Amor Maldito (1984), da cineasta afrobrasileira Adelia Sampaio que versa sobre o amor lésbico, como marco na criação de um Cinema Lésbico no Brasil.

Fechando a série, o trabalho de Janailson Macêdo Luiz, Estou aqui fazendo um filme: relações étnico-raciais e lutas pela memória em Osvaldão (2014), aborda o documentário dos diretores Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella e André Lorenz Michiles, que narra a história de Osvaldo Orlando da Costa, um dos mais conhecidos personagens da Guerrilha do Araguaia (1972–1974). O autor problematiza as representações sobre a história de vida do guerrilheiro e a tematização das relações raciais, situando o filme nos debates historiográficos mais recentes sobre o regime militar e a questão racial.

A segunda série temática trata das relações entre cinema e memória e cinema e propaganda em regimes autoritários, por meio da ficção, do documentário, do cinejornal e do filme de propaganda. Vinícius Alexandre Rocha Piassi, em Hoje (2011) e Trago Comigo (2016): imagens da estranha alteridade do passado, analisa filmes da cineasta Tata Amaral que problematizam o passado autoritário da ditadura militar e o prolongamento de traumas no presente democrático. Vinícius Viana Juchem, no artigo Cinema na ditadura militar: uma análise do filme A freira e a tortura (1984), aborda o filme dirigido por Ozualdo R. Candeias, relacionando a produção cinematográfica da Boca do Lixo e o seu gênero mais famoso, a pornochanchada, e os atos de censura da ditadura militar. Beatriz Costa Barreto e Marília Romero Campos, em O que pode o cinema? História e política em Cabra marcado para morrer (1984) de Eduardo Coutinho, examinam a potência do cinema e a sua relação com a história, a política e a memória.

Andrei Chirilã, em O documentário Dzi Croquettes (2009) e a construção de uma memória marginal, do subterrâneo e do esquecimento sobre a contracultura na ditadura civil-militar no Brasil, aborda o documentário da diretora Tatiana Issa como elemento de resgate de uma memória na historiografia da contracultura na década de 1970, e como esta memória monumentalizada ignora os elementos conjunturais que permitiram a criação do Dzi Croquettes, além de, anacronicamente, construir o grupo teatral como a origem do movimento homossexual no Brasil.

Isadora Dutra de Freitas, no artigo Cinejornalismo em perspectiva histórica: trajetória e usos políticos no Brasil, analisa os usos políticos dos cinejornais em diferentes contextos históricos: Estado Novo a partir do Cinejornal Brasileiro, o período democrático e o Cinejornal Bandeirante da Tela, e os cinejornais da ditadura militar.

Alvaro Eduardo Trigueiro Americano e Letícia Barbosa Torres Americano, em Disciplina e ordem nas telas do Cine Jornal Brasileiro: os “sócios” do poder no Estado Novo, investigam a relação entre as Forças Armadas e o Estado Novo através da propaganda política nas edições do Cinejornal Brasileiro (1938-1946). Rebecca Ferreira Dias, em Perseguidos pela Nação, exaltados pelo Cinema: o comunismo em A Revolução de Maio, identifica as representações do comunismo no filme A Revolução de Maio, dirigido por António Lopes Ribeiro – o cineasta do Estado Novo português – e lançado em 1937.

Na terceira série, encontramos trabalhos que problematizam a relação entre cinema e cidade a partir da análise de documentários e cinejornais. Leila Saads, em Cinema e memória urbana: documentário Estrutural e narrativas sobre a consolidação da Cidade Estrutural – DF, tece narrativas possíveis sobre a formação da Cidade Estrutural a partir do diálogo entre o filme de Webson Dias, lançado em 2016, e a produção acadêmica sobre essa ocupação urbana, para compreender as disputas políticas e territoriais representadas no documentário e as imagens de cidade que emergem a partir dessas representações. Cristiane de Assis Portela e Anna Lorena Morais Silva, em Enunciando Contra-Hegemonias: Narrativas Candangas de Vaqueiros Voadores, analisam a narrativa do documentário Romance do Vaqueiro Voador, de Manfredo Caldas (2007), que rememora a construção de Brasília sob a perspectiva de trabalhadores que a edificaram. A película é baseada em poema-cordel homônimo, de autoria de João Bosco Bezerra Bonfim, e pode ser entendida como um contraponto aos discursos tornados hegemônicos nas narrativas sobre o Distrito Federal.

Alisson Oliveira Soares de Santana e Luís Vitor Castro Júnior, em Corpo- Cidade: uma análise do Filme “Um Crime Na Rua”, de Olney São Paulo, discutem o curta-metragem Um Crime na Rua (1955), de Olney São Paulo, gravado no centro da cidade de Feira de Santana, Bahia, refletindo sobre as experiências e as diversas manifestações dos corpos no espaço urbano. Vinícius da Cunha Bisterço, em Utopia e destruição, ruína e progresso: a condição de marginalidade social no filme A Margem (1967), de Ozualdo Candeias, problematiza a construção da experiência dos marginalizados no filme e sua perspectiva crítica acerca do processo de modernização da cidade de São Paulo intensificado a partir dos anos 1950.

Na quarta série apresentamos os trabalhos que propõem uma reflexão sobre a narrativa cinematográfica e a narrativa histórica. Yuri Leonardo Rosa Stelmach e Lúcio Geller Junior, no artigo O príncipe e o poeta: o passado russo e transcaucásio pelas lentes de Sergei Eisenstein e Parajanov, abordam os filmes produzidos na União Soviética, Alexander Nevsky (1938), de Sergei Eisenstein, e A Cor da Romã (1969), de Sergei Parajanov, e discutem como os passados russo e transcaucásio são construídos pelos cineastas e como tais narrativas se aproximam da escrita histórica. Vanda Fortuna Serafim e Gabriella Bertrami Vieira, em Filmar é escutar: história, documentário e a escuta sensível da alteridade em Santo forte (1999), relacionam as práticas do cinema documentário e a prática historiográfica a partir dos conceitos de “alteridade” e “sensibilidade”, discutidos por Sandra Pesavento e François Hartog. Bruno José Yashinishi, no artigo A relação Cinema-História: fundamentos teóricos e metodológicos, procura elucidar a possível relação entre narrativa histórica e narrativa cinematográfica, compreendendo que ambas são capazes de organizar o conhecimento e a consciência histórica.

Barbara Mangueira do Nascimento, em Imagem, montagem e história em Videogramas de uma Revolução de Harun Farocki e Andrei Ujică, propõe a análise do filme Videogramas de uma Revolução (1992), de Harun Farocki e Andrei Ujică, a partir da relação entre imagem, montagem e história, e da problematização das noções de tempo histórico.

A quinta série de artigos é composta por trabalhos que tratam o sertão como um tema recorrente na história do cinema brasileiro. Marcelo Fidelis Kockel, em História, sertão e devir-sensível em Cinema, aspirinas e urubus, propõe analisar as construções discursivas sobre o sertão, a história e o devir-sensível dos personagens que aparecem ao longo do filme Cinema, aspirinas e urubus (2005), do diretor Marcelo Gomes. O autor compreende o filme como o próprio acontecimento, singular na sua materialidade sensível, modulada, e não um enunciado de reconhecimento sobre algo que lhe antecede.

A partir de outra perspectiva teórica, Diogo Cavalcanti Velasco, em Áridos Movies: o encontro da metodologia de Pierre Sorlin com o cinema sertanejo nordestino autóctone, examina como, nos anos 2000, novas correntes de representação cinematográfica, em especial o grupo de cineastas do Nordeste, Marcelo Gomes, Lírio Ferreira, Paulo Caldas e Karim Ainouz, passam a produzir novas asserções sobre o sertão, ressignificando-o de acordo com um mundo contemporâneo globalizado, característico daquele contexto histórico. Daniel Ferreira da Silva, em O minimalismo absurdo na animação Morte e Vida Severina de Afonso Serpa, analisa a estética minimalista do Teatro do Absurdo empregada para transformar a peça-poema Morte e Vida Severina em animação cinematográfica 3D, focando em elementos sonoros e cores monocromáticas que universalizam o sertão através do sentimento de espanto, da sensação de silêncio e vazio e de uma monotonia existencial.

A sexta série é constituída por trabalhos que privilegiam a análise da música e da intertextualidade presente em diferentes gêneros. Hellen Silvia Marques Gonçalves, em O Jazz como Elemento Catalisador da Tragédia Grega, segundo Friedrich Nietzsche, no Filme Crise (1945) de Ingmar Bergman, analisa a música como elemento narrativo de destaque no filme do cineasta sueco. Felipe Nascimento de Araujo, em A Música Antiga como elemento narrativo no cinema: uma análise dos coros gregos em Electra, a Vingadora (1962) e Hércules (1997) da Disney, aborda o uso das performances musicais antigas através dos coros gregos como elemento narrativo no cinema em gêneros distintos, relacionando tais obras ao seu contexto social de produção. Franco Santos Alves da Silva, em Pink Floyd – The Wall: uma distopia do auto isolamento no longametragem de 1982, analisa a intertextualidade entre o disco The Wall (1979) e o filme Pink Floyd The Wall (1982), com destaque para o papel fundamental da música na construção de uma narrativa distópica.

A sétima série trata das possibilidades pedagógicas do cinema na formação de professores e na História Pública. Luis Fernando Cerri e Rosângela Maria Silva Petuba, em A operação do filme na formação de professores de História: uma experiência em licenciatura na UEPG (2016-2018), apresentam a experiência de formação de professores por meio da análise histórica e didática de filmes fundamentada nos métodos ativos e na abordagem dos filmes como fontes históricas a serem estudadas por professores e aluno. Josias José Freire Júnior, em História pública e cultura histórica na produção audiovisual contemporânea, problematiza significados das narrativas audiovisuais veiculadas pela série televisiva Guia Politicamente Incorreto (2017), em articulação com as discussões da História Pública, da didática histórica e da cultura histórica.

A oitava série é composta por trabalhos que tematizam a elaboração da memória e do passado a partir do estudo comparado entre filmes. Yuri Barbosa Resende, em Oscar Wilde vai ao cinema: a construção da imagem do dândi em ‘Wilde’ (1997) e ‘Velvet Goldmine’ (1998), discute a construção da imagem de Oscar Wilde realizada por dois filmes de gêneros distintos: a cinebiografia ‘Wilde’ (1997) e o drama musical ‘Velvet Goldmine’ (1998). Monaliza Caetano dos Santos, em Um vácuo construído sobre um vazio”: cinema alemão oriental e o conflito geracional a respeito do passado, analisa as tensões entre pais e filhos, na Alemanha Oriental, em torno da colaboração com o nazismo na Segunda Guerra Mundial, representadas em dois filmes produzidos na Alemanha Oriental, em 1968 e 1971. Andreza Santos Cruz Maynard, em Luta honrosa ou infernal? A Segunda Guerra Mundial a partir dos filmes KV-1: Almas de ferro (2018) e A Passagem (2019), analisa como um filme russo e um filme italiano recentes abordam a Segunda Guerra Mundial, observando como constroem a participação dos seus respectivos países de origem no conflito.

Na nona série, temos trabalhos que tratam da construção do feminino em um filme épico e em um filme bíblico. Ramiro Paim Trindade Junior, em Conservadorismo no Cinema dos anos 1980: análise do Filme “Excalibur, a Espada do Poder”, discute as representações dos(as) protagonistas no filme Excalibur, a Espada do Poder (1981), relacionando as construções negativas das protagonistas femininas ao conservadorismo estadunidense vigente no contexto de produção do filme. Talita Von Gilsa, em Maria Madalena no cinema: os filmes épicos bíblicos e a cinebiografia de 2018, analisa a representação de Maria Madalena nos filmes épicos bíblicos, O Rei dos Reis (1961) e A Maior História de Todos os Tempos (1965) e na cinebiografia Maria Madalena (2018), dirigida por Garth Davis.

A décima série versa sobre pesquisas que investigam o mundo do trabalho e as lutas políticas no século XX, e na contemporaneidade. Maurício Knevitz e Alexandre Moroso Guilhão, em Anarquismo, conciliação e conflito em La Patagonia Rebelde (1974), propõem um debate sobre o filme La Patagonia Rebelde (1974), dirigido por Héctor Olivera, baseado em um livro de Osvaldo Bayer, articulando as lutas dos trabalhadores no contexto histórico de produção do filme e os estudos sobre o anarcossindicalismo na Argentina. Cíntia Medina e Adriano Parra, em O fetiche da tecno-produtividade digital em Ken Loach: a uberização do trabalho no filme Você não estava aqui, procuram traçar de modo crítico o atual cenário de uberização do trabalho em curso a partir da estética e narrativa do diretor Ken Loach no filme Você não estava aqui (2018).

A décima primeira série reúne trabalhos que tratam do debate teórico sobre a historiografia do cinema, sobre o mercado cinematográfico e as leis de incentivo, e a análise da atuação do cineasta e as condições de produção em contexto histórico específico. Vanessa Helena Montenegro Brito, em El “giro historiográfico” en los estudios sobre el cine: rupturas y continuidades, apresenta um estudo comparativo entre o desenvolvimento da historiografia do cinema anglo-nórdico e a historiografia do cinema na América Latina e alguns trabalhos sobre os diversos caminhos e linhas de pesquisa em voga na mais recente historiografia do cinema na América Latina. Renata Santos Maia e Fernando Rodrigues Oliveira, em Antes e além das telas: economia e mercado cinematográfico em países da América Latina, analisam as relações econômicas e o funcionamento do mercado audiovisual com destaque para o mercado de distribuição de filmes e as disputas desiguais entre o cinema latino-americano e a indústria de Hollywood. Rosiel do Nascimento Mendonça e Sérgio Ivan Gil Braga, em Glauber Rocha e a autonomia relativa do campo artístico: o caso do documentário “Amazonas, Amazonas” (1966), discutem as relações entre o artista engajado politicamente e os poderes instituídos através do estudo da passagem de Glauber Rocha pelo Amazonas visando a realização de um documentário sob encomenda.

Assim, o dossiê cumpre o objetivo de apresentar a potência do campo de investigação História e Cinema.

Profa. Dra. Angela Aparecida Teles

Organizadora

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Relações raciais nas diásporas africanas em perspectiva interseccional / Em Tempo de Histórias / 2020

Apresentação

O dossiê Dinâmicas das relações raciais nas diásporas africanas em perspectiva interseccional reúne trabalhos que abordam temas relacionados às dinâmicas interseccionais de relações de raça nas diásporas africanas nos diferentes espaços e níveis de sociabilidade. Frantz Fanon aponta que “o racismo é uma chaga da humanidade. Mas é preciso que não nos contentemos com essa frase. É preciso procurar incansavelmente as repercussões do racismo em todos os níveis de sociabilidade” (FANON, 1980, p. 40). Para esse autor, a superação do racismo somente ocorrerá no momento em que se experimentar um processo de descolonização a partir de uma práxis anticolonial e emancipadora que envolva tanto os aspectos objetivos quanto os subjetivos da existência humana.

É nesse sentido que os artigos aqui selecionados para comporem o dossiê apresentam um campo fértil de debate no âmbito das relações raciais, com estudos e análises que tem como enfoque trabalhos que dialogam entre si e que permite a nós, leitores/as, importantes reflexões. Tais artigos têm em suas bases pressupostos teóricos que partem de outros “locais de saberes”, que não o continente europeu, de lugares que possibilitam a demolição dos muros historicamente construídos do patriarcalismo branco heteronormativo, para estimular um “descolonizar de mentes” (HOOKS, 1995) e a construção de pontes para novas epistemes.

Sendo assim, agrupamos os artigos por série, respeitando suas propostas de discussões e reflexões. A primeira série contém artigos que buscam desvelar, por meio de diferentes temas, metodologias e fontes de análise, os aspectos religiosos que dialogam diretamente com questões étnico-raciais. O artigo que abre as propostas de reflexão é intitulado As irmandades negras na encruzilhada do “sincretismo”: leituras sobre o Catolicismo e as religiosidades afro-baianas nos séculos XIX e XX, de autoria de Mariana de Mesquita Santos, que objetiva apresentar aos/às leitores/as uma nova forma de se interpretar as religiosidades afro-baianas, numa tentativa de desconstrução de antigos discursos e análises calcados em interpretações preconceituosas e racistas em torno dessa religiosidade. Ainda dentro da mesma abordagem, o artigo de Jaciely Soares da Silva e Admilson Eustáquio Prates discute e apresenta o Ponto Cantado de Umbanda como fonte para o ensino de História, como também propõe, a partir da música, o debater sobre a religiosidade de matriz africana no espaço da sala de aula. Por fim, o artigo Congo, Congado, Congadas: tradição cultural afro-brasileira de resistência ao racismo e discriminação e os tempos de diásporas e escravidão, de Jeremias Brasileiro da Silva, discorre sobre questões inerentes à prática da Congada no município de Uberlândia-MG, problematizando como a permanência do racismo perpassa relações sociais, culturais e religiosas, nas relações de lazer, de trabalho e de poder.

Na segunda série, apresentamos um conjunto de artigos que tem como debate central o discurso de pensadores que, em tempos e espaços diferentes, abordam a presença negra no Brasil. Para iniciarmos, o artigo A política da morte nos projetos abolicionistas de Andrade Corvo e Joaquim Nabuco, de autoria de Gabriel Felipe Silva Bem, propôs discutir, a partir de leituras desses abolicionistas, como seus discursos carregavam um ideal colonial que perpassava o pressuposto de um projeto de eliminação de indivíduos negros em prol de uma idealização de um modelo de sociedade. Ainda seguindo uma linha de análise de pensadores, o artigo intitulado Raça: uma ferramenta de poder na construção das identidades e o pensamento de Geraldo Rocha, de Erica Naiara Ribeiro Borges e José Francisco dos Santos, problematiza esses escritos colocando-os no campo de análise da construção da identidade pós colonial no Brasil mediado por um discurso positivo de mestiçagem que, em tese, apresentava o apagamento de negros e mestiços na formação da sociedade.

A terceira série de artigos é composta por textos entrelaçados pela cultura negra nos Estados Unidos da América e no Brasil. O primeiro artigo desta série é Ideários Estéticos Afro-Atlânticos e Decolonialidade: Um estudo de caso em Jean-Michel Basquiat, de autoria de Hélio Ricardo Marino Rainho, no qual sugere um estudo sobre as proposições do artista afro-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) para problematizar o campo artístico hegemonicamente branco, ao mesmo tempo em que coloca em debate o apagamento, a invisibilidade e o primitivismo a legados artísticos afro-atlânticos. No artigo seguinte, Black Arts Movement: “Expressar a verdade a partir dos oprimidos ou opressores?”, do autor João Gabriel do Nascimento Nganga, é proposto um debate sobre o Black Arts Movement que surgiu em meados de 1960, nos Estados Unidos da América, com o intuito de estabelecer e consolidar a presença e vozes negras nas artes, em especial, no teatro e na literatura, tendo a África e suas diásporas como ponto de partida para a inserção nessas artes de referenciais simbólicos ignorados. O terceiro artigo desta série, O Rap negro na cidade planejada: A música negra das periferias do Distrito Federal, de autoria de Eliane Cristina Brito de Oliveira, coloca em debate os espaços destinados aos negros e brancos na cidade de Brasília-DF e a relevância do RAP como resistência e importante aliado na construção da identidade negra da juventude das periferias do Distrito Federal. Em sequência, temos o artigo, A Autoavaliação e Autodefinição de Carolina Maria de Jesus na obra Quarto de Despejo: diário de uma favelada, da autora Cristiane da Rosa Elias, que analisa a obra “Quarto de Despejo” de 1960 de Carolina Maria de Jesus a partir de uma visão interseccional proposta pelo feminismo negro com o intuito de perceber como o olhar oposicional se faz presente na obra de Carolina de Jesus e como essa é uma das representações de mulheres negras nesse contexto histórico Os artigos selecionados para a quarta série trouxeram para o debate a mulher negra com suas diferentes experiências históricas e sociais. Iniciamos com o artigo intitulado Pelas ruas da cidade: cotidiano e trabalho de mulheres negras em Belém (1888-1900), autoria de David Durval Jesus Vieira, que aborda a experiência da mulher no pós-abolição da escravidão atravessada por enfrentamentos relacionados ao racismo e às questões de gênero, em meio ao momento histórico de crescimento econômico e remodelação que a cidade vivenciava. Já o artigo Raça, gênero e maternidade: as mulheres escravizadas na proposta de emancipação gradual de José Bonifácio, de Caroline Passarini Sousa, a partir de uma minuciosa leitura da Representação a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura”, escrita por José Bonifácio em 1823, coloca no centro de leitura a mulher negra escravizada numa proposta de compreender qual o seu lugar no projeto de sociedade do século XIX. O artigo Mulheres escravizadas e relacionamentos afetivos: pensando projetos amorosos e as masculinidades negras a partir da interseccionalidade (Cachoeira do Sul, século XIX), da autora Marina Camilo Haack, problematiza um tema ainda muito recente dentro dos estudos sobre a escravidão, que são os relacionamentos afetivos entre escravizados, no entanto a autora paira seu olhar detalhadamente nos espaços afetivos sobretudo das mulheres. O artigo Parda Liberta que Vive do Ofício de Meretriz: Gênero, raça e sexualidade em Goiás no século XIX, de Murilo Borges da Silva, propõe analisar como as práticas discursivas e não discursivas, legitimadas por relações de saber e poder, produziram historicamente corpos femininos negros, sendo que tais discursos entonavam em uma maior vigilância e controle sobre as mulheres negras e pobres, com o objetivo de torna-las dóceis, úteis e ordeiras. Por último, o artigo intitulado Corpos Fragmentados: a representação da raça e do corpo da mulher africana nos Cadernos Coloniais (1935-1941), de Rannyelle Rocha Teixeira, traz como proposta de análise as imagens e os textos sobre como a raça e os corpos femininos das mulheres africanas eram representados nesses cadernos, os quais estavam intimamente relacionados às manobras e estratégias de poder em prol do projeto colonialista português.

Na quinta série de artigos, os textos têm como tema central a educação. O artigo que abre esta série é o Relações étnico-raciais e integração curricular no ensino das Ciências Humanas, de autoria de Guilherme Babo Sedlacek e Rodolfo Denk Neto, que abordam a temática da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena a partir da produção de material didático, de modo transversal e interseccional, nesta área para cursos de ensino médio técnico. No segundo artigo, temos o texto Ensino de História sob um olhar interseccional: considerações sobre relatos de estudantes negras do Sul do Pará, da autora Andreia Costa Souza e do autor Dernival Venâncio Ramos Júnior, que partem das discussões resultantes de uma pesquisa de mestrado no campo do Ensino de História, que teve estudantes negras como protagonistas, no qual o objetivo foi refletir sobre os sistemas de discriminação e opressão que estruturam a condição histórica da mulher negra, além de visibilizar vivências de estudantes negras a partir da perspectiva interseccional, para, assim, permitir uma maior aproximação da realidade das estudantes, a fim de criar futuras e novas narrativas na prática pedagógica do Ensino de História. Na sequência, o artigo Cenário de uma Educação Étnico-Racial em movimento para o Século XXI: ações afirmativas ou medidas compensatórias?, de autoria de Cairo Mohamad Ibrahim Katrib e Tadeu Pereira dos Santos, aborda as ações afirmativas, no tocante à inclusão e permanência dos ingressantes na educação superior, e problematiza os dados produzidos por órgãos públicos como Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE), a Agência Brasil, o Ministério da Educação (MEC) e a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES). O quarto artigo, Movimentos políticos negros no Atlântico: análise de uma oficina pedagógica sob uma perspectiva antirracista e decolonial, da autora Clara Marques Souza, a partir de um aporte teórico decolonial, analisa a experiência da aplicação de uma oficina pedagógica de história no ensino básico, em duas turmas de oitavo ano do Ensino Fundamental II, sobre três movimentos políticos majoritariamente negros no Atlântico: a Conjuração Baiana (1798), a Revolução Haitiana (1791-1804) e a Conspiração de Aponte (1812). Em seguida, temos o artigo O que pode a cultura material enquanto fonte para o estudo da história afro-brasileira e africana nas escolas? Por um ensino de História pluriepistêmico, de autoria de Clarissa Adjuto Ulhoa, que defende que a cultura material, ao ser escolhida como fonte para o ensino da história e da cultura afrobrasileira e africana, tem o potencial de contribuir para práticas pautadas em pluriepistemologias. Em seguida, temos o artigo Os impactos da lei 10.639/03 nos cursos de Licenciatura em Letras da Universidade Federal de Catalão, das autoras Maria Helena de Paula e Carolina Faleiros Felício, que discute a aplicação da Lei 10.639/03 nos cursos de Licenciatura em Letras da Universidade Federal de Catalão, a partir da análise do Projeto Pedagógico dos cursos e dos horários semestrais de oferta de disciplinas, nos últimos dez anos. Fechando esta série de artigos, temos o texto O jogo Mancala como estratégia pedagógica Etnomatemática: relato de uma experiência numa turma de 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Elídio Duque no município de Salinas-MG, de autoria de Adriana Lúcia Brandão Diogenes e Graziele Santos Ferreira, que, em seu artigo, faz uma abordagem entre as características étnico-raciais com os conceitos matemáticos, procurando iniciar uma modificação do pensamento eurocêntrico no contexto escolar em que esse trabalho foi realizado, bem como olhar para a ciência matemática para além de números e cálculos, no qual buscou-se fazer um paralelo entre os conceitos matemáticos e a questão étnico-racial, demanda necessária em função da implementação da Lei 10.639/03.

A sexta série de artigos se inicia com o texto As famílias cativas capixabas entre 1850-1871: um comparativo entre as Regiões Sul e Central da província, de autoria de Laryssa da Silva Machado e Lucas da Silva Machado, que analisam a composição das famílias cativas do Espírito Santo entre os anos de 1850 e 1871, datas marcadas pela promulgação das leis abolicionistas Eusébio de Queirós e Lei do Ventre Livre. Em seguida, temos o artigo Decifrando as fugas escravas: narrativas, senhores e fujões na cidade do Rio de Janeiro (1840-1850), da autora Fernanda Cristina Puchinelli Ferreira, que aborda a fuga de escravizados, no sentido de analisar os significados e sentidos que uma fuga tinha para os escravizados, senhores outros segmentos sociais. O terceiro artigo, “Vá bater naquele negro que eu garanto”: marcadores raciais na Bahia (1940 – 1960), de autoria de Diego Lino Silva e Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira, versa sobre a trajetória de populações negras na Bahia entre as décadas de 1940 e 1960, tomando como referência a região de Feira de Santana, no qual utilizam processos criminais para debater os indicadores do uso e negação da cor preta como instrumento de criminalização ou aceitação dos sujeitos pesquisados.

A sétima e última série de artigos selecionados contribuem com a discussão em torno do preconceito do racismo histórico e socialmente construído no Brasil. Para tanto, o artigo intitulado As desvantagens de ser invisível: uma reflexão sobre o racismo no Brasil, de Daiara Suellen Gabriel de Ávila, aborda como a diáspora africana e a escravidão nas Américas alicerçou a construção e manutenção do racismo estrutural. Nesse sentido, a autora propôs apresentar tanto as diversas faces do racismo durante a escravidão e no pósemancipação, como também as estratégias usadas pelos mesmos para manterem não só a humanidade diante do sistema, mas também a cultura viva, ainda que de forma modificada. Já o artigo A invisibilidade dos negros na história de Gramado/RS: levantamento preliminar, autoria de Alex Juarez Müller e Raimundo Nonato Wanderley de Souza Cavalcante, debatem sobre a quase inexistência de registros acerca da presença negra no Sul do Brasil, e, na busca construir uma história que rompa com essa invisibilidade da e na História, os autores recorrem a lugares de memória, livros de memorialistas, fotografias e paisagens nunca tentativa de trazer para o tempo presente material que possa problematizar a efetiva presença e importância afro-brasileira na formação tanto no Sul, como também do Brasil. O artigo intitulado Um feriado a Zumbi: a tentativa de reconhecimento do 20 de Novembro em Porto Alegre (2001-2003), de José Augusto Zorzi, traz como foco de problematização o dia 20 de Novembro, e como essa data, ao ser projetada como feriado municipal, desencadeou uma série de debates e disputas políticas que evidenciaram dois blocos de discussão: o poder das agências negras e os limites políticos e ideológicos para o reconhecimento. Na sequência, o artigo intitulado As ações afirmativas e o sistema de costas raciais: resgate histórico ou reparação das desigualdades sociais?, de Ana Amélia Aquino Brito, propôs analisar a utilização de políticas de ação afirmativa para implementação de cotas raciais, tendo como ponto de problematização e questionamento se as cotas se referem a um resgate histórico das injustiças cometidas aos afrodescendentes pelo passado escravista ou se trata-se da reparação das desigualdades sociais dos grupos minoritários de negros, pardos e afrodescendentes. Por último, o artigo Apontamentos sobre o apagamento da população negra no relatório da Comissão Nacional da Verdade – 2014, autoria de Tairane Ribeiro da Silva, traz para a discussão o processo de apagamento da população negra durante a ditadura-militar no Brasil. A autora, além de apresentar qual a situação em que tais indivíduos viviam no período, propõe também dar visibilidade aos mesmo abordando seus perfis, atuação profissional e organizações políticas as quais participavam.

Portanto esse dossiê agrega uma série de proposta de discussão que tem como objetivo problematizar as Dinâmicas das relações raciais nas diásporas africanas, com investigações, perspectivas de abordagem teórica e metodológica múltipla e diversificada.

A leitura dos artigos nos apresenta tanto a necessidade de romper e desnaturalizar o racismo, como também indica novos caminhos para o entendimento do tema. Boa leitura!

Prof. Dr. João Gabriel do Nascimento Nganga

Profa. Dra. Jaciely Soares da Silva

Organizadores

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Regime de Vargas / Em Tempo de Histórias / 2018

Apresentação

Investigar a respeito do governo de Getúlio Vargas é um grande desafio para os pesquisadores. Em apenas 18 anos, somados os dois períodos em que ele esteve no comando do país – de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954 –, o Brasil passou por um verdadeiro turbilhão de mudanças políticas, econômicas e culturais.

Nesse período, inferior a duas décadas, passamos por uma revolução que depôs um presidente e evitou a posse de um candidato eleito, assistimos a uma guerra civil, estivemos diante de tentativas de tomada do poder tanto pela extrema esquerda quanto pela extrema direita, participamos de uma guerra mundial, observamos o crescimento da música popular, vivemos a conquista de novos direitos trabalhistas e acompanhamos uma crise que culminaria no suicídio de Vargas. E estes são apenas alguns dos fatos mais significativos.

Getúlio Vargas, talvez o governante mais marcante da história do Brasil, até hoje desperta dúvidas, simpatias e críticas. Criou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), modernizou a economia brasileira, promoveu transformações urbanas e estabeleceu um novo modelo na relação entre político e trabalhador que conceitualmente recebeu o nome de populismo e, posteriormente, de trabalhismo. Além disso, perseguiu e prendeu milhares de brasileiros, implementou uma ditadura e não teve nenhuma pena de qualquer um que se mostrasse contrário ou representasse uma ameaça aos seus planos de permanecer no poder.

Ao longo de sua trajetória, Vargas fez muitos amigos e inimigos. E muitas vezes amigos que se tornaram inimigos e vice-versa. Pedro Ernesto Baptista, revolucionário de 1930, amigo e médico pessoal, acabou acusado de ser comunista e terminou preso por mais de um ano, sendo obrigado a encerrar seu mandato como prefeito da cidade do Rio de Janeiro. João Neves da Fontoura, companheiro de Vargas em 1930, passou a líder da oposição em 1934 e depois voltou a apoiá-lo na ocasião do golpe de 1937. Flores da Cunha, conterrâneo do presidente e também participante de 1930, passou a principal inimigo do presidente entre 1935 a 1937, fugindo do país poucas semanas antes do início da ditadura. Tais exemplos servem para demonstrar a fluidez das relações políticas e a enormidade de mudanças que ocorreram no cenário nacional de ano a ano, o que força o pesquisador a examinar com atenção, sensibilidade e de forma detalhista esse importante período de nossa história.

É necessário estudar a figura de Getúlio Vargas e todas as nuances nacionais e regionais dos vários momentos de seu governo com senso crítico e tomando o máximo de cuidado a fim de manter o distanciamento tão importante à pesquisa histórica. Algumas armadilhas devem ser evitadas como, por exemplo, a naturalização do uso da expressão “República Velha”, criada pelo governo Vargas para desvalorizar o passado, mas que lamentavelmente ainda é usada em alguns estudos historiográficos. Da mesma forma, a visão de Vargas como “doador” das leis trabalhistas é uma aceitação passiva do discurso criado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), apagando todo o passado de lutas históricas dos trabalhadores que culminou na pressão sobre o Estado para o atendimento das reivindicações das ruas.

Outro ponto interessante nos estudos sobre Vargas é o abrandamento que algumas vezes se faz da ditadura vivida entre 1937 e 1945, período tão violento e repressor quanto a Ditadura Civil-Militar de 1964. É imprescindível lembrar que muitas práticas de tortura e o arcabouço jurídico utilizado no tempo de Vargas foi aproveitado pelos militares na ditadura seguinte, inclusive com a participação de personagens em comum, como Francisco Campos, central na ditadura estadonovista e um dos redatores dos atos institucionais 1 e 2, respectivamente em 1964 e 1965.

Dentro desse vasto campo de investigações se insere este dossiê temático da Revista Em Tempo de Histórias, composto por artigos que tratam de diversos vieses do período Vargas e que, consequentemente, traz importante colaboração para a historiografia brasileira. Em Carnaval é política: a criação da Federação Carnavalesca de Pernambuco (1930-1950), Rosana Maria dos Santos mostra a interferência da elite no carnaval popular recifense de modo a transformá-lo de acordo com os interesses da alta sociedade pernambucana. A intervenção e regulação estatal da cultura popular é um traço marcante do governo Vargas, seja na esfera federal ou por meio da ação dos governadores estaduais, o que realça a pertinência do texto.

Já Mayra Coan Lago, em Conflitos e pedidos de terra nas cartas dos trabalhadores para Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón, analisa a correspondência enviada pelos trabalhadores para os líderes brasileiro e argentino pedindo doação de terras e a intermediação deles em conflitos pela posse das mesmas, mostrando muito sobre o imaginário político da época e a relação estabelecida entre líder político e população.

Em O Distrito Federal e a Guerra de 1932: a construção de um front interno pelo Governo Provisório, Felipe Castanho Ribeiro procura analisar a mobilização do Governo Provisório durante a Guerra de 1932. Para isso, o autor recorreu ao conceito de front interno conforme o entendimento do historiador Roney Cytrynowicz. Neste sentido, o historiador apresenta a hipótese de que o Governo Provisório precisou mobilizar diferentes setores da sociedade com o intuito de assegurar a sua vitória diante do movimento militar irrompido no estado de São Paulo. Cabe ressaltar que a cidade do Rio de Janeiro, enquanto sede administrativa e política do país, serviu como uma vitrine para o resto da nação e que por isso o Governo de Getúlio Vargas precisou garantir a manutenção da ordem, conquistar o apoio da população carioca e consequentemente auferir a sua legitimação. A imprensa, censurada durante a guerra, foi um importante meio de comunicação do governo durante o conflito e foi amplamente utilizada para alcançar os seus objetivos.

No artigo A criação de uma Diplomacia Anticomunista no governo Vargas, em 1937, Maria Nepomuceno estuda a formação de uma agência anticomunista, no momento que precedeu à implantação do Estado Novo, envolvendo um serviço de inteligência na América Latina que objetivava a cooperação supranacional para monitoramento das conexões dos comunistas brasileiros além das fronteiras do país. O anticomunismo, essencial para o fortalecimento do Poder Executivo em dezembro de 1935 e, depois, para o golpe de 10 de novembro de 1937, foi um aspecto importante e que se manteve vivo durante todo o primeiro governo Vargas.

Daniela Teles da Silva, no texto Eugenia, saúde e trabalho durante a Era Vargas, traz dois aspectos centrais do período: a questão sanitária, que ia além do cuidado com a saúde a partir da construção de hospitais e casas de saúde, se expandindo para a discussão eugênica, que suscitou acalorado debate entre especialistas desde finais do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Além da eugenia, os ideais sanitaristas e higienistas também tiveram a atenção do Estado durante o governo Vargas, a fim de atingir a meta de uma sociedade saudável, apta ao trabalho e que levaria o país ao desenvolvimento.

Em A aproximação luso-brasileira nos tempos do Estado Novo e a Revista Atlântico (1942-1945), Guilherme Nercolini Miranda estuda as relações internacionais entre Brasil e Portugal a partir da Revista Luso-brasileira, criada no contexto da Segunda Guerra Mundial. Miranda analisa os discursos que permeavam as relações entre os dois países e mostra a participação dos intelectuais brasileiros e portugueses no estabelecimento dessa diplomacia.

O Estado Novo por Getúlio Vargas: a verdadeira democracia é a democracia social?, de Claudio Alcantara Meireles Junior, traz a importante questão de como Getúlio Vargas, em seus discursos, conseguiu justificar a aparente contradição de querer estabelecer uma democracia social e, ao mesmo tempo, manter um governo ditatorial. A ideia de democracia social, representada pelo ganho de direitos trabalhistas, foi colocada como mais importante do que a democracia liberal, que não se adequaria à realidade do país e que seria improdutiva no que tange aos avanços sociais e econômicos, segundo o presidente.

André Barbosa Fraga, em O segredo das asas: a colaboração fílmica do INCE para a construção de uma mentalidade aeronáutica durante o governo Vargas, analisa o filme O segredo das asas, produzido em 1944 pelo Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). No contexto da criação do Ministério da Aeronáutica, a película fez parte de um projeto governamental de construção de uma mentalidade aeronáutica, de modo a incentivar o engajamento de pilotos comerciais e militares e o consequente desenvolvimento da aviação no Brasil.

Encerrando o dossiê, Thiago Fidélis escreve Samuel Wainer: entre Diretrizes e Ultima Hora, que discute parte da trajetória do importante jornalista, que tivera fechada sua revista Diretrizes durante a ditadura, mas que a partir de uma entrevista realizada com Vargas, em 1949, cada vez mais se aproximou do político gaúcho. Wainer fundou, em 1951, o famoso jornal A Última hora, que seria o principal periódico de apoio a Getúlio Vargas durante seu governo democrático, de 1951 a 1954, rivalizando com jornais de oposição como o Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda.

Agradeço à equipe da Revista Em Tempo de Histórias pelo convite para organizar esse importante dossiê e os parabenizo por todo o esforço em prol do desenvolvimento desse valioso periódico científico, o que demanda muita dedicação e trabalho árduo diário. Desejo a todos uma boa leitura e que os textos que aqui estão sejam objeto de reflexão e possam fomentar novos debates, assim como contribuir para a difusão do conhecimento científico sobre esse que é um dos mais importantes períodos da história do Brasil, o governo de Getúlio Vargas.

Thiago Cavaliere Mourelle – Doutor em História Social (UFF). Supervisor da Equipe de Pesquisa do Arquivo Nacional. Editor-científico da Revista Acervo – Arquivo Nacional. Professor associado do Núcleo de História Contemporânea (NEC/UFF). Coordenador e Professor de História – Educafro. E-mails para contato: [email protected][email protected]; .

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Olhares sobre Brasil / Em Tempo de Histórias / 2017

Apresentação

Com grande satisfação e alegria o corpo editorial de “Em Tempo de Histórias” publica mais um número de nossa revista eletrônica, o número 31. Essa edição contém 6 artigos e uma nota de pesquisa. Quatro desses artigos compõe o dossiê intitulado Olhares sobre o Brasil com temas bem variados, assim como o nosso Brasil profundo. Além do dossiê, apresentamos dois artigos de temática livre e uma nota de pesquisa com provocações teóricas e metodológicas para a História.

O objetivo desse dossiê, Olhares sobre o Brasil, foi abordar as múltiplas e interdisciplinares interpretações sobre a realidade brasileira mediante diversas abordagens e perspectivas, bem como temas diversos como: saúde, música, direito e ocupação do espaço brasileiro.

Iniciando esses olhares sobre a história do nosso país, Vanessa de Jesus Queiroz, em “Saúde Pública em mau estado: a carne para consumo nos debates sobre higiene pública na Gazeta Médica da Bahia na década de 1860” aborda higiene pública como o conjunto de normas sanitárias que devem ser seguidas em nome da manutenção do bem comum, mensurado pela ausência de doenças e problemas causados por fugas a tais normas. Nesse sentido, tal tema aparece como campo necessário e direto da saúde pública. A autora demonstra como a elaboração, bem como a execução e a manutenção das regras da higiene, ensejam um campo ora conflituoso, ora pactual, de debates que envolvem diversas parcelas sociais, das quais destaca imprensa médica e classe médica na Bahia, bem como as diversas relações envolvendo órgãos fiscalizadores, governo e população geral, numa complexa rede relacional que conseguimos identificar nas entrelinhas do jornal médico em questão.

Na sequência, em “Fotografando a geringonça sem freio: breve investigação sobre as transformações da música em Brasília desde os anos 80”, André Luiz Fernandes Cunha, inspirado na imagem de uma carroça futurista, criada pela banda Feijão de Bandido em 2001, nos apresenta a cena musical em Brasília dos anos 80 até a atualidade considerando sua natureza arcaica e moderna, global e local simultaneamente. Para isso, o autor se utilizou de alguns conceitos desenvolvidos por Stuart Hall no livro A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, como hibridismo, nomadismo e multiculturalismo.

Em seguida, para provocar mais debates no campo da História do Direito, Alberto de Moraes Papaléo Paes, em “Uma historiografia crítica do jusnaturalismo no Brasil- um ensaio preliminar”, reacende o debate sobre o Direito Natural no Brasil a partir de uma revisão crítica das fontes históricas do Direito. Para tanto, o autor retrocede à análise daquilo que Antônio Paim denomina de segunda escolástica portuguesa e suas influências: a) na cultura filosófica brasileira e; b) na concepção jurídica de Direito. Além disso, Papaléo Paes contextualiza a obra de Tomás Antônio Gonzaga intitulada de Tratado de Direito Natural a fim de construir um desenho teórico do naturalismo no Brasil. Assim, busca demonstrar o cenário em que se travou a discussão inicial que pressupõe a afirmação do Direito Natural no Brasil.

Para fechar o dossiê, mas iniciar mais debates acerca da ocupação do espaço em nosso país, Andressa Batista Farias em “Contexto sócio-histórico e econômico no Norte de Mato Grosso-caso de Sinop: a expansão da fronteira agrícola” busca compreender a percepção de sujeitos em relação ao processo de colonização e ocupação das terras na região norte mato-grossense, mais especificamente na cidade de Sinop, em Mato Grosso, inserida na Amazônia Legal, e, assim, apreender as relações de poder e dominância, ambientais e econômicas, históricas e sociais, sobre o processo de colonização ocorrido na região a partir da década de 1970. Para isso, a autora baseou-se nos construtos teóricos pautados nas discussões pertinentes aos contextos econômicos, sociais, ambientais e histórico de ocupação do município de Sinop. Utilizando-se de análise crítica da realidade social e de pesquisa de campo, como entrevistas semiestruturadas, Batista Farias apresenta uma reflexão sobre a influência da expansão da fronteira agrícola, sobre o contexto sócio-histórico e econômico no espaço local. Para tal, foram entrevistados 02 sujeitos, dentre eles um agricultor e um morador antigo da cidade, que estiveram presentes desde o início do processo de colonização. Dessa forma, a autora apresenta as contradições e ambiguidades trazidas pela produção da cultura da soja na região.

Por sua vez, com temática livre, mas com provocações teóricas e metodológicas ao ofício do historiador, apresentamos dois artigos de jovens historiadores. Em “Simpatia, alteridade e compreensão no ofício do historiador”, Rodrigo Nunes do Nascimento, a partir da análise do uso do conceito de epokhé e simpatia (sympathie) por Henri-Irénée Marrou em “De la connaissance historique” (Do conhecimento histórico), busca entender a necessidade da simpatia e da alteridade na abordagem das fontes e do passado pelo historiador como um dos requisitos fundamentais para o alcance da compreensão (Verstehen) e do conhecimento históricos.

Por sua vez, João Francisco Schramm, em “Por uma teoria da História pela História: sobre o fetiche do distanciamento”, nos apresenta um debate intenso e repleto de polêmicas da nossa disciplina História com as demais ciências. O autor demonstra como o surgimento e abandono de modas e de modelos teóricos alienígenas à História são tratados muitas vezes pela historiografia como algo trivial, havendo na maior parte das pesquisas apenas exposição dos debates da época, ao expor as correntes teóricas anteriores e as que mais tarde vieram se firmar no novo cenário epistemológico. Para João Francisco Schramm, tais modelos teóricos, tão logo configurados como a moda de uma época, revelam problemas maiores, ainda não assumidos pela História, que demonstram o estado de experimentalismo, sujeição e dependência a que a disciplina esteve sujeita durante o século XX. Ao fazer se submeter às modas teóricas e às repentinas mudanças de outras disciplinas, a História durante o século XX (especialmente na França e em consequência no Brasil), acabou por assumir questões epistemológicas que estão na raiz do próprio surgimento das ciências sociais, quando esta defendia a criação de um método semelhante ao das ciências da natureza, a que pudesse desvelar leis gerais que regem o comportamento humano. Nesse sentido, o autor oferece uma crítica à ideia corrente de “distanciamento”, que poderia trazer às ciências sociais modelos teóricos e sistemas de interpretações que tornariam supérfluos a singularidade do conhecimento histórico ou mesmo a empiria. Para isso, o artigo discute o lugar não somente da História, mas das ciências humanas, quanto a seu objeto específico de estudo em relação às ciências naturais, ao destacar diferenças relevantes entre objetos culturais e objetos naturais.

Por fim, publicamos como nota de pesquisa o texto “O uso de imagens na história: transformações do espaço urbano de Tefé a partir de sua iconografia (1960-1980) de Fabielle Ribeiro Esperança, resultado de pesquisas realizadas na seção de documentação da Rádio Educação Rural de Tefé. A historiadora tem como objeto central analisar as transformações do espaço urbano na cidade de Tefé, em Amazonas, entre as décadas de 1960 a 1980, pautando-se no uso de ferramentas analíticas oferecidas pela História Social em suas múltiplas formas. A pesquisadora demonstra como o uso de imagens, bem como a tentativa de ampliação de pesquisas sobre as modificações do tecido urbano nas cidades do interior da Amazônia, vem ampliando as possibilidades de pesquisas, bem como a utilização de novas fontes. Nesse contexto, a questão que se coloca é: como à luz da História Social e dos estudos sobre cidade podemos compreender as transformações do espaço urbano no interior do Amazonas a partir do uso de imagens?

Por fim, nós, da equipe editorial, agradecemos a colaboração de nossos colegas historiadores e desejamos a todos uma boa leitura, reflexiva, crítica e prazerosa. Afinal de contas, são tempos de histórias.

Rafael Nascimento Gomes

Conselho Editorial

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Américas: fronteiras, identidades e conexões / Em Tempo de Histórias / 2016

Apresentação

O intuito do dossiê Pensando as Américas: fronteiras, identidades e conexões, foi motivar o diálogo sobre a história do continente inspirado nos novos métodos e abordagens que têm alimentado a área nos últimos anos, por exemplo, ao incorporar novos métodos que procuram observar seus processos históricos em perspectiva global, e que contam com os aportes metodológicos das histórias cruzadas e transnacionais, entre outras.

Três artigos têm como horizonte temporal os agitados anos que vão desde final do século XVIII até o final do século XIX nas Américas lusa e espanhola. O primeiro deles, “As ideias de América, América Latina, latino-americano e o Ensino da História”, escrito por Wilian Carlos Cipriani Barom, propõe um entendimento processual da identidade latino-americana, a partir da demonstração provisória dos interesses que estiveram envolvidos nos contextos de criação, apropriação e ressignificação das ideias de América, América Latina e latino-americano, ao longo do século XIX.

O segundo artigo, “A coroa e a Fé: os pilares da sociedade Sollicitudo Omnium Ecclesiarum – à luz da carência de orientação gerada pela Independências da América”, de Rebeka Leite Costa, foca nas relações entre a ordem dos jesuítas com Santa Sé entre o final do século XVIII e o início do século XIX, que marca o auge da crise institucional e existencial da que fosse o braço mais importante na evangelização do continente desde os alvores da colonização europeia até o advento da monarquia bourbônica.

O terceiro artigo, “O Brasil e o Prata: instabilidade e equilíbrio”, de José Viegas Filho, traça o denso panorama da política do Império brasileiro no Rio da Prata desde as lutas dos anos de 1820 até o fim da Guerra da Tríplice Aliança. O autor argumenta que a hipótese simplificada de que as disputas do Prata consistiram essencialmente em uma polarização entre o Brasil e a Argentina oculta a existência de fortes dissenções internas em cada um dos três países do Atlântico Sul.

Já o quarto artigo do dossiê, “O passado da conquista da América nas canções do festival folclórico de Parintins”, de Lucas da Mota Farias, analisa a cultura histórica sobre a conquista da América difundida nas letras de duas canções – A Conquista e Continente Perdido –, entoadas pela Associação Folclórica Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins em 1998.

No marco da história política contemporânea do Brasil contamos com três contribuições: “O espectro político liberal dos atores da Constituinte de 1823”, de Cecília Siqueira Cordeiro; “Trânsitos políticos e intelectuais da geração 1870: um novo olhar sobre o movimento e sua relação com o repertório europeu”, de Bruno Gontyjo do Couto; e “Promessas de futuro na brecha do tempo: O momento constitucional brasileiro de 1987/1988 como produtor de um regime próprio de historicidade”, de Eduardo Ubaldo Barbosa.

Os três artigos restantes podem ser enquadrados na história do disciplinamento social, na história urbana e na teoria da história, respectivamente. Eles são: “Edificante e temerário: dimensões e ambiguidades do trabalho prisional no Recife oitocentista”, de Aurélio de Moura Britto; “O processo de urbanização da cidade de São Paulo e o Movimento Popular de Arte em São Miguel Paulista”, de Valdemir Camargo Bueno; e “A escrita de si em The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood: limites e possibilidades na relação entre narrativas ficcionais e a ciência histórica”, de Isabela Gomes Parucker.

Nós do conselho editorial agradecemos a todos os autores e autoras que submeteram contribuições para esse número e os docentes que gentilmente participaram da sua avaliação. Acreditamos que em conjunturas de bruscas mudanças políticas em que se veem ameaçadas diversas conquistas coletivas, como a que estamos atravessando atualmente, o desafio da história continua a ser oferecer pautas de sentido em meio às “carências de orientação”, contribuir a ressignificar o passado de formas novas e coerentes com as demandas e lutas do presente, e potenciar assim novos horizontes de futuro.

Boa leitura!

Juan David Figueroa Cancino

Conselho Editorial

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Variações em torno da Modernidade / Em Tempo de Histórias / 2015

Apresentação

É com satisfação que apresento o dossiê – Variações em torno da modernidade. Os artigos resultam de trabalhos de alunos do curso de graduação em História da Universidade de Brasília, apresentados na disciplina História Moderna. Após o término do curso, em 2012, propus aos alunos que aprofundassem o trabalho, sob minha orientação, como participantes do grupo de pesquisa do CNPQ Tradição e Modernidade. Diante do entusiasmo, passamos a nos reunir regularmente para discussões conjuntas e aprofundamento das pesquisas. Desse trabalho, dois resultaram em monografias de graduação e um em pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Iniciação Científica. As reuniões propiciaram um contato produtivo entre alunos da graduação e da pós-graduação.

Além da disciplina obrigatória História Moderna, esses alunos cursaram disciplinas optativas da área, por mim oferecidas, e atuaram como monitores. Ao longo de dois anos, o desenvolvimento intelectual dos alunos foi significativo. E para mim, o acompanhamento dos seus trabalhos foi uma experiência gratificante.

Finalmente, diante de amadurecimento dos textos, pensei ser estimulante para os alunos a publicação do resultado das suas pesquisas. Atualmente, alguns desses alunos estão cursando a Pós-Graduação na Universidade de Brasília outros se preparam para o ingresso neste ano.

Os textos apresentados inserem-se na área de História Intelectual e tratam da diversidade de ideias desenvolvidas na Europa moderna. Todos apresentam uma reflexão baseada na historiografia recente sobre os temas tratados, suscitando novas questões e desdobramentos. A preocupação com o contexto histórico de produção dos autores examinados caracteriza uma opção metodológica no âmbito da reflexão sobre ideias.

Os textos de Eduardo Ubaldo Barbosa – O momento Burke. Notas para a história de um Iluminismo contrarevolucionário –, e o de Pedro Henrique Soares Santos – Adam Smith e a sociedade comercial -, dialogam criticamente com determinadas correntes historiográficas e examinam o pensamento dos autores em seus respectivos contextos histórico-intelectual.

Pedro Eduardo Batista Ferreira da Silva, no artigo James Harrington e a tradição republicana na Inglaterra do século XVII, recupera a tradição republicana inglesa no século XVII.

José Lourenço de Sant’Anna Filho no artigo Inimigos da Luz examina o pensamento do editor do jornal pernambucano A Voz da Religião, padre Tavares da Gama, identificando-o como um representante do pensamento antifilosófico no Brasil oitocentista.

Finalmente, Guilherme Domingues Gonçales, no artigo Iluminismo nos livros didáticos brasileiros, analisa o tema Iluminismo nos livros didáticos brasileiros e sugere o distanciamento dos conteúdos presentes nos livros didáticos em relação às pesquisas acadêmicas.

Dra. Tereza Cristina Kirshner

Universidade de Brasília

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Gênero e Sexualidade / Em Tempo de Histórias / 2014

Apresentação

Entre nós, cotidianamente, faz-se presentes questões de gênero e sexualidade. Debates acerca dos discursos construídos e instituídos sobre os papeis desempenhados na nossa sociedade a partir das ideias de gênero e sexualidade, estão, cada vez mais, presentes de forma múltipla e diferenciada, e são discutidas, rotineiramente, em jornais, artigos, revistas e demais meios midiáticos, fazendo-se, assim, um tema de amplo debate tanto no meio social quanto acadêmico.

Entre os historiadores, os debates sobre o papel desempenhado pelas relações de gênero expandiram-se e ganharam força mediante a sua abertura para novos objetos e temas de pesquisa, o que se deu a partir das análises interdisciplinares que têm ganhado espaço nas últimas décadas. Compreender e analisar os diversos discursos construídos sobre o gênero e a sexualidade, permite aos pesquisadores observar as experiências históricas sob novos olhares e questionamentos, inserindo, de vez, as questões de gênero, em toda sua complexidade, dentro do métier do historiador atual.

Este novo número da Em Tempo de Histórias apresenta o Dossiê Temático “Gênero e Sexualidade”, o qual tem por objetivo problematizar as relações entre os debates acerca de gênero, sexualidade e historiografia. Busca-se, neste sentido, ampliar os horizontes de análise do historiador, dirigindo o seu olhar para um dos temas mais suscitados na sociedade contemporânea, apreendendo-se, assim, a correlação tão necessária entre estas três áreas do saber. Neste sentido, este Dossiê traz contribuições significativas que apresentam e discutem as imbricações entre questões de gênero e pesquisa histórica, abarcando interesses e temas de pesquisas atuais.

Dentre os artigos que compõem este Dossiê são abordados debates que envolvem as discussões sobre gênero e o discurso literário, a exemplo do artigo de Márcia Medeiros e Tânia Zimmermann, ou ainda, os debates voltados para a questão de gênero, tomando-se por base dados iconográficos, como no artigo de Humberto Araújo. Estão ainda presentes outras discussões, como a análise das práticas sociais e culturais, a partir das questões de gênero, nos movimentos artísticos da década de 1960 no Brasil, conforme apresentada por Andrea Beatriz Wozniak- Giménez, e a interessante relação entre gênero e história oral presente no artigo de Ilsyane do Rocio Kmitta e André Cândido da Silva. É bastante ampla e significativa a multiplicidade de questões presentes em outros artigos deste Dossiê, os quais perpassam o diálogo com a historiografia política, intelectual e cultural em suas diversas questões e possibilidades.

Este novo número apresenta também uma seção livre de artigos. Nesta seção são apresentados trabalhos com temáticas variadas, os quais abrangem diferentes temas de pesquisa e questionamentos. Questões relevantes como as suscitadas nos debates sobre os discursos construídos acerca da independência do Brasil e o ensino de história nas escolas, a título de exemplo, são apresentadas e debatidas no artigo de Joyce Karla Pereira. Portanto, este novo número traz aos leitores uma plêiade de artigos que, em seu conjunto e variedade, busca fomentar e enriquecer os debates historiográficos em voga na Academia nos últimos tempos, colaborando com o desenvolvimento de novos temas de pesquisa na área.

Aproveitamos para agradecer àqueles que contribuíram para este novo número de Em Tempo de Histórias. Desejamos uma boa e instigante leitura!

Diogo D’Angelo de Araujo Roriz

Walkíria Oliveira Silva

Universidade de Brasília

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África e Brasil – diáspora escravidão e heranças / Em Tempo de Histórias / 2013

Apresentação

Neste ano de 2013 completou dez anos a Lei 10.639 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas instituições públicas e privadas de nível fundamental e médio. Esta data histórica tem sido comemorada com balanços diversos a respeito dos resultados e perspectivas da lei. Especialistas no assunto e acadêmicos têm discutido sobre o tema com o propósito de realizar outras pesquisas contribuindo para uma maior reflexão sobre a história da África e da diáspora em diferentes sociedades ao longo do tempo. Todas essas discussões realizadas em congressos, seminários, mesas redondas, produziram os mais diversos tipos e meios de publicações. Portanto, é com grande expectativa que a revista Em Tempo de Histórias, na sua 22º. edição, contribui para essa temática ao apresentar o dossiê África e Brasil – diáspora, escravidão e heranças.

A edição conta com uma entrevista com o historiador João José Reis, professor titular de História da UFBA, sobre as relações África e Brasil tecidas nos últimos anos na área de História, abordando aspectos de nível mais profundo de uma herança africana no Brasil. Além disso, o dossiê conta com dois artigos que abordam a temática do ensino de história, que são eles: Percurso da lei 10639/03 e o ensino de história e cultura africana no Brasil: antecedentes, desdobramentos e caminhos, Maurício Silva e Márcia M. Pereira e Dos hominídeos ao homo sapiens: as pesquisas sobre a cor da pele e a utilização de suas informações no ensino da História da África como uma alternativa à desconstrução de mitos raciais, Márcio Paim.

As outras publicações do dossiê percorrem caminhos diferentes, mas que contribuem para uma discussão mais ampla das questões relativas ao tema da revista. Em Sob os signos do poder: a cultura objetificada das joias de crioulas afro-brasileiras, de Amanda Gatinho Teixeira, discute-se a questão da produção de joias por crioulos no período colonial brasileiro. Temos também a contribuição de Elaine Falheiros ao analisar a trajetória de um africano liberto e deportado para seu lugar de origem em: Luis Xavier de Jesus: o “lugar social” de Africanos Libertos na Bahia do século XIX .

O artigo A mídia ruandesa no genocídio de 1994: a relação entre tutsis, Inkotanyis e a Frente Patriótica Ruandesa, de Danilo Ferreira da Fonseca, realiza um estudo midiático contemporâneo sobre o genocídio Ruandês. Já a pesquisa Por uma antropologia do negro: O diálogo convergente entre Arthur Ramos e Dante de Laytano, Maurício Lopes Lima analisa a imagem do negro na perspectiva desses dois autores. Em As influências das ideologias do trabalhismo, da negritude e da democracia racial nas demandas por educação da população negra brasileira, Arilson dos Santos Gomes, propõe uma discussão sobre os desdobramentos das políticas educacionais de inclusão na década 1930.

Os artigos do Dossiê são acompanhados por outros cinco de temática livre, que destacam temas de relevado interesse em sua especificidade e que contribuem para a diversidade da revista.

Transferências e circulações culturais: Alemanha e França na tradição literária e política do século XIX brasileiro, de Aruanã Antonio dos Passos e Alexandro Neundorf, é o primeiro texto de temática livre. Neste trabalho os autores abordam a trajetória de duas escolas literárias, o condoreirismo da Escola de Recife e o simbolismo, que guardam em si um projeto cultural fundamentado no caráter da nação próprio à efervescência da crise e declínio do Império no Brasil. Os autores ponderam que ambas “escolas” buscaram na França e na Alemanha os referenciais do quais apropriaram conceitos adequando-os a realidade do Brasil, o que justifica a ideia de transferências e circulações culturais.

O artigo, O Tribunal de Nuremberg como um Ícone da Justiça de Transição: Aspectos Históricos da Responsabilização Política e do Quadro Ideológico dos Direitos Humanos, Elitza Bachvarova analisa alguns aspectos dos Tribunais de Nuremberg e de Tóquio, ao fim da Segunda Guerra Mundial. O objetivo da autora é retomar polêmicas que surgiram na época, compreender o impacto de tais questões no contexto político internacional do pós-guerra e analisar os principais referenciais políticos que surgiram e os dilemas da responsabilização política que definem a busca por políticas democráticas desde a época desses marcos históricos.

Em Planadores e Dirigíveis: os primeiros resultados práticos para o sucesso do vôo controlado, Suâmi Abdella Santos realiza um estudo sobre pioneiros da aviação que não conseguiram construir máquinas voadoras práticas, mas serviram de apoio para que outros inventores pudessem obter êxito na construção dos seus aparelhos voadores.

No texto Os direitos humanos (re)conquistados no Brasil, desde a década de 1970 Marcos Evandro Cardoso Santi analisa as lutas de reconquista de um regime democrático e dos direitos a ele associados a partir dos anos 1970 no Brasil. Santi apresenta uma breve introdução sobre a perda da democracia brasileira na década de 1964 para que se compreenda a importância do processo de (re)conquista dos direitos humanos e da democracia brasileira. Constata que a trajetória histórica peculiar da redemocratização brasileira explica em grande parte os próprios impasses atualmente constatados para que os direitos humanos sejam mais efetivamente observados no País.

O corpo editorial da revista Em tempos de história convida a todos os leitores a uma boa leitura!

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O Ensino de História | Em Tempo de Histórias | 2012

Os desafios que envolvem, contemporaneamente, pensar a história e seu ensino constituem o nexo em torno do qual foi organizado o presente dossiê “O Ensino de História” da Revista “Em Tempo de Histórias”, com artigos de pesquisadores de instituições do Brasil e de Portugal.

A concepção de que a história é plural, assim, como o passado que narra, e de que não é possível reduzi-lo a uma única forma e conteúdo, tampouco seu ensino, norteou a concepção do dossiê. Os artigos que integram são leituras produzidas por historiadores/as de diferentes lugares de fala e encerram, naquilo que incluem e excluem, uma localização e um modo de inteligibilidade diante do tema ensino de história. Objeto, esse, que apesar e por conta de sua permanente e familiar presença em nosso fazer cotidiano, sempre nos escapa. Com efeito, tal como uma indecifrável esfinge que nos afronta e nos confronta, somos por ele cotidianamente interpelados e convocados, por um “dever de ofício”, a pensar e repensar nossas práticas docentes no esforço de responder a três questões primeiras: por que ensinar história? quais histórias ensinar? como ensiná-las? Leia Mais

História e Direitos Humanos | Em Tempo de Histórias | 2012

O diálogo intelectual, quando fundado em postura reflexiva é sempre instigante e desafiador. Orientada por essa perspectiva, para apresentar o dossiê História e Direitos Humanos, da Revista Em Tempo de Histórias, dos estudantes do Programa de Pós-Graduação em História da UnB, recorrerei à interlocução, sempre estimulante, com a cientista política Maria Vitória Benevides, que tem se dedicado nos últimos anos a estudos sobre cidadania e direitos humanos.

No que diz respeito aos direitos humanos, sólida compreensão sobre suas características nucleares têm orientado as reflexões de Benevides. São elas: historicidade, universalidade e dignidade da pessoa. Às três acrescenta a qualidade de serem os direitos humanos naturais e, portanto, diferenciados dos direitos da cidadania, que são inscritos em sociedades específicas e orientados por opções políticas e ideológicas. Leia Mais

Discutindo a História: escrita e métodos | Em Tempo de Histórias | 2010

O destaque, nos jornais matutinos, para os estudos sobre o carro elétrico não tarda em ser substituído por novas manchetes. As eleições presidenciais e o embargo econômico ao Irã dividem espaços na televisão com as chamadas publicitárias, McDonald‘s, I‘m lovin‘s it. Em um simples deslocamento pelo centro da cidade, a sucessão de imagens captadas pelo observador aponta o excesso informativo e a velocidade do tempo vivido. Na dinâmica seletiva da memória, a efemeridade dos fatos não encontra acolhimento, e o próprio cotidiano apenas conduz o indivíduo em sua vida de desacontecimentos.

Ireneo Funes, o personagem memorioso de Jorge Luís Borges, apresenta-se como o avesso da condição apresentada, mas, tampouco, é aquilo desejado. Esquecimentos e lembranças compõem a historicidade humana, são categorias que alicerçam as identidades. Enquanto que um passado desventurado pode produzir traumas sobre o presente, são de vivências alegres que se formam as saudades. De um ou de outro modo, a experiência constrói-se tão somente quando o vivido (social ou individual) passa a ser internalizado. Qual a relação, portanto, entre o tempo social e aquilo que uma sociedade ou um grupo julga digno de registro, de memória, de internalização e de orientação das práticas? Leia Mais

História e Linguagens | Em Tempo de Histórias | 2011

Os estudos culturais vêm crescendo cada vez mais no âmbito da História, por ser o terreno da cultura capaz de contar histórias, representar passados e revelar sujeitos, colocando-nos em contato com as mudanças e permanências no tempo, matéria prima para a pesquisa histórica. A partir da leitura de diferentes linguagens como imagens, sons e escritas literárias, cinema, dentre outras construídas no passado, sociedades são descortinadas, sujeitos apresentados e mudanças percebidas, na medida em que essas linguagens são criações humanas, logo se tornam lugares privilegiados para quem pretende entender dinâmicas socioculturais.

As mudanças ocorridas nos últimos anos na historiografia possibilitaram o aumento considerável na quantidade e na variedade de fontes a serem levadas em consideração, a fim de entender os sujeitos no mundo, pois com base em estudos das formas e circunstâncias dessas criações humanas, o historiador busca entender as concepções de “mundo” dos sujeitos, tudo isso representado nas diversas formas de linguagens, que se apresentam as manifestações culturais. Segundo Certeau, a partir do lugar de que falamos é que se realizam as leituras das fontes, “mas o gesto que liga as ‘idéias’ aos lugares é, precisamente, um gesto de historiador. Compreender para ele é analisar os gestos de produções localizáveis, o material que cada método instaurou inicialmente segundo seus critérios de pertinência” (CERTEAU: 2002; 65). As manifestações culturais estão carregadas de memórias, gestos, ideias que revelam formas de pensar o mundo, assim como as sociedades. Leia Mais

Marcos Vinícius de Macedo Cysneiros / Em Tempo de Histórias / 2010

Apresentação

A tese de doutorado de Marcus Vinícius de Macedo Cysneiros ficou inacabada, devido a sua partida precoce em janeiro de 2010, no trágico terremoto que assolou o Haiti onde se encontrava em missão de paz como representante da ONU. No entanto, sua pesquisa já estava em estágio avançado, porém ainda em fase de produção escrita. A qualidade e a importância de seu trabalho validam sua publicação póstuma, ainda que fragmentariamente, como um incentivo a outros pesquisadores a se aventurarem pela história da rica cultura islâmica a nós não totalmente desvendada.

Marcus chegou ao PPG-HIS em 2007, cumpriu todos os créditos, assistiu às aulas dos seminários, onde fez grandes amizades, deixou profundas saudades entre professores e alunos. Sua morte provocou forte emoção entre nós, não só pela perda do excelente aluno instigante que era, mas pela pessoa gentil e generosa que marcou a memória dos que tiveram contatos com ele.

Seu projeto de tese inicial, que tinha como objeto os Malês, na região da Bahia e no litoral da África Ocidental, foi modificado a partir de longas discussões com a orientandora e outros especialistas. Sua busca por delimitar e equacionar o seu objeto de estudo incluiu conversas com o professor João José Reis da Universidade Federal da Bahia, o grande estudioso sobre os povos Malês e os constantes contatos que manteve com o professor Rogério Ribas, da Universidade Federal Fluminense, que é um reconhecido especialista do tema Islã e Inquisição. Além disso, a apreensão de conhecimentos mais amplos sobre o mundo Islâmico africano influenciou bastante a mudança do objeto de estudo.

Marcus tinha como maior paixão e desejo acadêmico o aprofundamento na cultural do Islã. Para isso estudava o árabe, esforçava-se para obter bibliografia e fontes primárias sobre o seu tema, o Islã negro. Nessa trajetória, foi por curto tempo para Lisboa, fez pesquisas no Arquivo da Torre do Tombo, onde se encantou com a documentação sobre os mouros, no vasto e rico acervo dos tribunais da Inquisição portuguesa.

Este dossiê apresenta os textos produzidos por Marcus, que foram resultados de trabalhos apresentados em final de cursos nos Seminários no PPG-HIS e da preparação dos capítulos para o Exame de Qualificação, que seria realizada logo após seu retorno do Haiti.

Dos professores, alunos, colegas, amigos e coordenação do PPG-HIS

Brasília, 2011

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Cultura e Poder | Em Tempo de Histórias | 2008

A Revista Em Tempo de Histórias apresenta em sua 13ª edição um dossiê cujos termos, cultura e poder, foram substancialmente ressignificados na segunda metade do século XX, ampliando o alcance dos usos possíveis e das perspectivas acerca das realidades históricas. A partir disso, pode-se questionar o que é cultura e/ ou poder? Ou, melhor, quais relações não são culturais ou permeadas de poder? A fim de estabelecer um norteador que perpasse artigos tão distintos entre si, é possível compreender a relação entre cultura e poder, nesta edição, enquanto construções humanas marcadas pela dinamicidade e tentativas mútuas de influência, controle e também pelos mecanismos de resistência e subterfúgios culturais. Conscientes do caráter polissêmico dos termos, não foi objetivo do dossiê adotar noções fixas e definitivas dos mesmos, mas, acima de tudo, apresentar interpretações historicamente constituídas em que as relações entre poder e cultura estivessem imbricadas. Leia Mais

Em Tempo de Histórias | UnB | 2002

Em tempo de Historias UnB

Em Tempo de Histórias (Brasília, 2002-) é uma revista editada pelo corpo discente do Programa de Pós-Graduação em História da UnB. Publicada desde 2002, está abrigada no Portal de Periódicos Acadêmicos da Universidade de Brasília e disponibiliza suas edições on-line, com acesso livre e gratuito.

A revista não cobra taxas de autores/as para realizar avaliação, edição e publicação de seus textos. Seus objetivos são os seguintes:

a) divulgar os resultados parciais e/ou finais obtidos com projetos de pesquisa na área de História;

b) fomentar o debate de questões teórico-metodológicas referentes à História;

c) publicar matérias de Ciências Sociais, Artes e áreas afins que promovam o diálogo com a História;

d) divulgar publicações, comentários, entrevistas e documentos concernentes à pesquisa em História.

Periodicidade semestral

Acesso livre

ISSN 2316-1191

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