Povos e culturas da região Amazônica: imigração, trabalho e luta | Outras Fronteiras | 2021

Itacoatiara AM Imagem Rede AmazonicaG1
Itacoatiara – AM | Imagem: Rede Amazônica/G1

O dom de despertar no passado as centelhas de esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. 2

O momento atual é crucial para aprofundar o conhecimento sobre a Amazônia e refletir acerca do seu processo histórico através das muitas concepções teóricas à disposição. Como pensála de outro modo em História? Dos estudos culturais com enfoque nos inúmeros povos, etnias e identidades ali engendradas, aos estudos sociais e econômicos que compreendem a expansão das frentes pioneiras, os processos migratórios, as formas de exploração sob a égide e inserção do capitalismo predatório e rudimentar, é preciso abarcar outras possibilidades. O presente e o futuro requerem para a Amazônia estudos históricos do tempo presente, da história do clima, da história ambiental…

A partir do golpe de 1964 no Brasil, a expansão da fronteira Amazônica se processou dentro de uma lógica singular mediada pelo Estado por meio da Doutrina de Segurança Nacional, onde o Poder Público se colocou como mediador dos interesses da grande empresa privada e do capital internacional, no intuito de promover um crescimento econômico rápido e a qualquer preço. De acordo com Berta Becker,3 para realizar seu projeto, o Estado impôs uma nova malha técnico-política que incorpora as tendências expansionistas e transformadoras já existentes nas sociedades próximas dos grandes centros políticos e econômicos na Amazônia, por meio das concepções ideológicas trazidas pelos milhares de migrantes que chegavam à região a partir dos projetos de colonização autoritários. Na fronteira, desenvolveu-se um jogo simbólico denso e dramático da nação com seus propósitos. É preciso compreender e conhecer objetivamente a fronteira para além das concepções ideológicas simplificadoras do processo autoritário de ocupação, que é incapaz de captar a magnitude e a complexidade em curso na sociedade brasileira. Mais que uma definição geográfica, a fronteira é uma categoria histórica. De acordo com José de Souza Martins, a história contemporânea da fronteira no Brasil é marcada pelas lutas étnicas e sociais. Neste sentido, a Fronteira é eminentemente o lugar da alteridade. É o local de descoberta do outro e do desencontro. Desencontro de povos que vivem em regimes de temporalidade diferentes.4 Leia Mais

Imigração e relações interétnicas / História – Debates e Tendências / 2014

Em cada momento histórico, fatores específicos particulares foram / são propulsores dos movimentos migratórios, sejam eles internos ou internacionais, mas têm por finalidade última a busca dos migrantes por encontrar melhores condições de sobrevivência para si e os seus. Os impactos provocados pela migração manifestam-se tanto no local de partida quanto no local de chegada e somente são perceptíveis a posteriori. Para o sociólogo Abdelmalek Sayad, é a disponibilidade de trabalho que atrai os e / imigrantes, e é a ausência deste que os relega à condição de não ser e, logo, à condição de dispensáveis, responsabilizados pelos problemas sociais. Assim, o e / imigrante vive em uma constante situação de atração e expulsão.

O e / imigrante é o mesmo e o outro; só surge na sociedade que assim o denomina ao transpor suas fronteiras. A migração coloca em contato direto ou indireto grupos étnicos distintos, em uma relação de alteridade, bem como populações de um mesmo grupo étnico e nacionalidade, mas procedentes de regiões diversas, realocados em um novo espaço. Conforme Fredrik Barth, esse mosaico de origens implica na seleção e (re)atualização de elementos de diferenciação, delimitando e reforçando a fronteira étnica, quando em contato com o outro; todavia, essas fronteiras são diluídas e mutáveis. Para Jeffrey Lesser, a identidade do sujeito é situacional, visto que os grupos étnicos constroem uma identidade homogênea e coesa, que é externalizada, mas internamente elaboram múltiplas identidades, sejam sociais, religiosas, econômicas, políticas, culturais. Leia Mais

Imigração, memória e identidade / Ágora / 2014

Neste dossiê, intitulado Imigração, memória e identidade, pretende-se discutir a imigração, a memória e a identidade a partir de perspectivas múltiplas. Neste sentido, Beatriz Vitar traz para o debate a importância das recordações e das vivências familiares e coletivas como elementos forjadores da identidade de um grupo. Para tal, utiliza o testemunho de um descendente de granadino assentado na Argentina. Leslie Nancy Hernández Nova analisa os sentimentos de pertencimento de diferentes gerações peruanas na Europa, com recorte nos mais jovens. Menara Lube Guizardi e Alejandro Garces propõem um estudo que vise compreender a migração nas nações andinas – Peru, Bolívia e Chile – numa dimensão macrossocial, económica e política. Maria Catarina C. Zanini reflete sobre alguns aspectos de cidadãos brasileiros, descendentes de imigrantes italianos, cuja cidadania italiana é legitimada pelo Estado italiano e a complexidade e os distanciamentos existentes entre o reconhecimento de direito e a cidadania de fato na Itália. Luis Fernando Beneduzi, partindo da trajetória de um brasileiro descendente de trentinos, residente na cidade de Trento (Itália), analisa este percurso ponderando sobre a interligação entre a realidade presente e a memória do passado vivido. Filipo Carpi Girão e Maria Cristina Dadalto partem de testemunhos de jovens integrantes de um grupo de dança folclórica italiana no estado do Espírito Santo, para buscar entender como se dá o aprendizado e a reconstrução das tradições a partir da dança. Edenize Ponzo Peres apresenta os resultados de um estudo de sociolinguística com descendentes de imigrantes vênetos residentes na comunidade de Araguaia, zona rural do município de Marechal Floriano, Estado do Espírito Santo. Assim, avalia que, se a identidade do falante para com os seus antepassados é importante para a manutenção de uma língua minoritária, o fator identidade não conseguiu superar a pressão da cultura majoritária, culminando no desaparecimento do vêneto.

Maria Cristina Dadalto –  Organizadora.

Acessar publicação original desta apresentação

Acessar dossiê

[DR]

Imigração / Revista Maracanan / 2010

Imigrante ou estrangeiro? Aparentando uma sinonímia tão naturalizada, esses conceitos envolvem representações distanciadas, impregnadas de capitais simbólicos que implicam relações diferenciadas entre o eu e o outro. Nesse sentido, caberia perguntar: em que circunstâncias o imigrante torna-se estrangeiro? Ou melhor, que injunções colocam-se como condutoras da opção por uma ou outra palavra? Por que o indivíduo que se vê como imigrante tende a ser visto como estrangeiro no olhar do “outro”? Como é enxergado aquele que parte? Estaríamos nós, estudiosos dos fenômenos e-imigratórios, atentos a estas questões?

Há cerca de vinte anos, falando em nome dos historiadores, ainda que focado na história das relações internacionais, Duroselle manifestava o desejo de que fossem empreendidos “estudos históricos com uma grande amplitude sobre o conceito, sobre as palavras que representaram ou representam, sobre os comportamentos infinitamente variáveis que suscitam a existência do ‘estrangeiro”.1

Para o autor, amigo ou inimigo, o estrangeiro é, inevitavelmente, “um homem diferente”, “com comportamento estranho, até imprevisível”. Dessa forma, cabe a ele introduzir “o aleatório”, visto representar a diferença, embora “não toda a diferença e nem sempre as mesmas diferenças”.2 Como desdobramento

… todos os casos de relações internacionais compreendem um elemento interno, em que os meios são conhecidos, e um elemento aleatório, que é a reação ao estrangeiro. Nenhuma teoria das relações internacionais é possível se não se determinam as combinações, infinitamente variadas, entre a hierarquia e o aleatório.3

A partir das últimas décadas do milênio, os estudos sobre os movimentos migratórios impuseram-se, de forma cada vez mais visível, no campo da História. Hoje, vários congressos da área vem abordando a temática, incluindo em sua programação simpósios que a contemplam sob ângulos e abordagens variadas: fluxos, legislação, trabalho, cotidiano, gênero, processos de assimilação ou estranhamento e tantas outras possibilidades.

Complexo e interdisciplinar por excelência, o tema das migrações, efetivamente, para muito além do campo da demografia, impôs-se no mundo acadêmico, refletindo um tempo no qual os deslocamentos humanos, por causas variadas, tornam presente a preocupação dos diferentes governos com o “outro” fixado em suas fronteiras, transformado, muitas vezes, em “bode expiatório” das crises enfrentadas.

Os estudos sobre a dialética travada entre emigração e imigração, cada vez mais, vem sendo assumidos por redes internacionais de pesquisadores, cuja contribuição tem sido reescrever o passado, desmistificando – ou pelo menos relativizando – algumas verdades consagradas. Tanto nos países de partida quanto nos de chegada, as pressões existentes clamam por olhares que se voltem para o passado, na busca da compreensão de um fenômeno que, decididamente, vem marcando a contemporaneidade, desde que os processos de mundialização tornaram o mundo menor,4 eliminando “universos encravados”.5

Em seu sexto número, a Maracanan propõe, como dossiê, o tema da imigração, contemplando a dialética inevitável entre o emigrar e o imigrar, com a publicação de artigos que, certamente, tornar-se-ão importantes referenciais para todos aqueles que se debrucem sobre a temática, escritos por pesquisadores de reconhecimento internacional.

Nas páginas da Maracanan o leitor travará contato não só com imigrantes galegos, italianos, japoneses e judeus, mas também com abordagens que priorizam análises historiográficas; políticas e-imigratórias; relações entre história e memória; recortes de gênero; movimento operário e anarquismo; imigração e modernização, em artigos nos quais a dialética entre o particular e o coletivo encontra-se sempre presente. Em última instância, as reflexões apresentadas ao leitor abrem perspectivas, consolidam informações e, acima de tudo, reconduzem olhares sobre o passado – próximo ou distante – e sobre o presente.

Xosé Manuel Seixas, referência obrigatória para os estudiosos da emigração galega, brinda-nos com seu conhecimento e erudição fazendo-nos melhor conhecer o estado da arte dos estudos emigratórios na Espanha. Os espanhóis também são o destaque do artigo de Marília Cánovas, que analisa sua presença na Santos da Belle Epoque.

Ruy Farias e Érica Sarmieto focam suas análises, especificamente, na imigração galega. O primeiro, apresenta-nos um olhar sobre galegas na cidade de Buenos Aires do segundo pós-guerra; a segunda, destaca, no drama urbano, o movimento anarquista, colocando foco sobre os mais radicais, em especial os padeiros.

No tocante aos estudos sobre a presença italiana no ultramar, o primeiro destaque deve ser dado ao instigante artigo de Vittorio Capelli. Focando sua análise na imigração italiana dirigida para a Amazônia e para o nordeste brasileiro, esse renomado historiador alarga nossa visão a respeito da presença estrangeira em terras brasileiras. Outro artigo sobre italianos no Brasil é o de Syrléa Marques Pereira, que interrelaciona história e memória no sentido de destacar a presença feminina no contexto imigratório.

Outros trabalhos privilegiam japoneses e judeus como atores do urbano, descatando sua atuação no mercado de trabalho. No tocante aos japoneses, Mariléia Inoue analisa o caso da imigração seletiva que acompanhou a criação da Ishikawajima do Brasil. No caso dos judeus, a análise cabe a Andréa Telo da Corte, que ilumina a atuação dos prestamistas naquela que era, então, a capital fluminense: Niterói.

Os lugares de memória no tocante à imigração são analisados por Eloisa Capovilla Ramos, que tece comparações entre as hospedarias de imigrantes de São Paulo e Buenos Aires, propondo novas reflexões sobre a imigração na América latina.

A qualidade das reflexões que compõem este número da Maracanan deve-se ao trabalho competente e comprometido da professora Érica Sarmiento, responsável pelo número, que liderou todo o trabalho de convite e contato com os pesquisadores.

Notas

  1. Jean-Baptiste Duroselle. Todo Império perecerá. Teoria das Relações Internacionais. [Trad]. Brasília: Ed. UNC / Imprensa Oficial, 2000, p. 49.
  2. Id. Ibidem, p. 50.
  3. Id. Ibidem, p. 59.
  4. A idéia de “mundo menor” foi defendida por Barraclough.ao analisar o impacto do progresso científico e tecnológico da chamada Segunda Revolução Industrial. Cf. Geoffrey Barraclough. Introdução à história contemporânea. [Trad.]. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976
  5. A expressão pertence a Pierre Chaunu. Cf. Conquista e exploração de novos mundos, século XVI. [Trad]. São Paulo: Pioneira / EDUSP, 1984.

Lená Medeiros de Menezes – Coordenadora do Laboratório de Estudos da Imigração e Estrangeiros (LABIMI)


MENEZES, Lená Medeiros de. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, v.6, n.6, 2010. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

A

Brasil-Alemanha: Imigração, Cidadania e Cooperação / Textos de História / 2008

Apresentação

Os temas imigração, cidadania e cooperação entre povos e nações vêm adquirindo renovada relevância na historiografia acompanhando a tendência de outras disciplinas como a sociologia, a antropologia e a geografia, em primeira linha em face das novas dimensões colocadas por esses fenômenos em um mundo globalizado.

O presente número da revista Textos de História enfoca esses três temas a partir do aspecto bilateral teuto-brasileiro; melhor dizendo, do ângulo brasileiro sobre a imigração alemã, a luta pela cidadania desses imigrantes e seus descendentes na terra receptora e da cooperação no sentido Alemanha- Brasil.

Alemães no Brasil aportaram desde Cabral, haja vista o piloto Mestre João. Não obstante, os textos do presente Dossiê tratam, preponderantemente, da emigração alemã no período que corresponde à grande onda migratória na época da revolução industrial do século XIX.

Os anos de 1840 a 1890 correlacionam-se à aludida fase da migração em massa motivada por busca de melhores condições de vida, fuga de anos de fome, revoluções, mecanização do campo. Tudo isso em um contexto marcado pelas novas condições de deslocamento proporcionadas pelas novas tecnologias nos meios de transporte de massa – navios a vapor fabricados com placas de aço, trens de ferro que transportavam os migrantes para os portos de embarque ou para o interior dos países de destino. Não obstante, outras experiências que extrapolam esse período são também abordadas.

Os fluxos migratórios dirigiam-se majoritariamente aos Estados do Sul, mas, em pequena escala, espalharam-se por pontos de praticamente todo o território brasileiro, em especial, nas cidades portuárias.

Facetas dessa imigração são abordadas por Mercedes Gassen Kothe, que mostra a situação que os imigrantes alemães encontraram em São Paulo, nas fazendas de café e nos núcleos coloniais nas primeiras décadas da Primeira República.

A tentativa de assentar imigrantes alemães no sul da Bahia, nos anos 1920, é tema narrado por Albene Miriam Menezes em uma abordagem fundamentada no contexto histórico da questão migratória no mundo do pós Primeira Guerra Mundial e das especificidades daquele Estado.

A inserção desses imigrantes e seus descendentes nas respectivas comunidades possui características diferenciadas na dependência direta do desenvolvimento econômico, social e político das regiões nas quais se localizavam os seus núcleos populacionais.

Desse modo, a luta pela construção da cidadania encontra-se, assim, diretamente condicionada à uma gama multifacetada de vetores formais, legais, políticos, sociais econômicos e autárquicos.

Aspectos desse processo são tratados no texto de Ryan de Sousa Oliveira, que traz reflexão sobre o exercício da cidadania política entre os teutobrasileiros no Rio Grande do Sul, ao longo do século XIX, e busca contribuir para o debate de algumas questões controversas sobre o processo de integração do grupo dos teuto-brasileiros no jogo político brasileiro. Silvana Krause avalia a diversidade do comportamento político das zonas coloniais alemãs no sul do Brasil sob uma perspectiva histórica, além de fazer uma reflexão sobre identidade étnica e como esta se relaciona e se situa em outras esferas da construção de identidades.

E por fim, René Gertz analisa a possível influência positiva e negativa da presença de descendentes de alemães no Brasil sobre as relações com a Alemanha, no decorrer do tempo. Essa abordagem estende-se da segunda metade do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, compreendendo também a tentativa de verificar como esse tema foi visto pela historiografia pertinente.

Outra dimensão desses entrelaçamentos teuto-brasileiros é a da cooperação, que por si só tem largo escopo; ela pode ser identificada, por exemplo, no âmbito das próprias comunidades de alemães e seus descendentes.

Sem embargo, ao longo dos dois séculos em tela, a cooperação adquire muitos aspectos. Nesse sentido, as diferentes modalidades de cooperação da Alemanha com o Brasil ocorrem ao longo do período, desde o envio de livros didáticos, instrumentos musicais e implementos agrícolas até excursões de cientistas para observar as lavoras brasileiras e propor soluções para alguns de seus problemas. Essa cooperação dá-se tanto no nível dos atores sociais como dos governos. No campo do saber, a exemplo das áreas filosófica, jurídica, técnica, artística e científica, observa-se uma clara influência alemã no Brasil.

Assim, Cláudia de Rezende Machado de Araújo analisa a influência do direito alemão no direito brasileiro. Fato esse observável desde o tempo colonial, haja vista a influência daquele nas Ordenações portuguesas. Destaque é dado para a influência do constitucionalismo alemão, em particular da Constituição da República de Weimar (1919), sobre as Constituições brasileiras de 1935 e 1988.

Por seu turno, Marina Helena Silva aborda a situação do Brasil na conjuntura econômica internacional, no período anterior à Segunda Guerra Mundial, demonstrando sua inter-relação com o mercado interno e baiano.

Trazendo para o debate aspectos dos dias atuais, Carla Miranda enfoca o tema da cooperação técnica entre os dois países; seu estudo identifica uma mudança nessa cooperação a qual, a partir da década de 1980, volta a centrar a cooperação técnica à capacitação para o desenvolvimento, partindo de uma dimensão político-estratégica alemã.

Além das reflexões explicitadas nos textos, uma das contribuições subjacentes, até onde os estudos aqui apresentados podem permitir, vem a ser a identificação da necessidade de enfoques desses temas em uma perspectiva comparada. Certamente, o cotejamento da problematização dos temas em uma dimensão de reciprocidade aprofundaria a abordagem dos mesmos. Ilustrativamente, o tema da cidadania urge estudos que abordem os problemas a ele relacionados tanto no Brasil, país de destino dos migrantes, como na Alemanha, terra de origem do fluxo migratório.

Desse modo, o presente dossiê, longe de esgotar os assuntos tratados, pretende de alguma forma contribuir com informações e abordagens específicas para o debate na seara histórica acerca da imigração, cidadania e cooperação entre povos e países de um modo geral e mais especificamente ao que reporta os aspectos relacionados com os alemães e seus descendentes no Brasil, assim como ao que se consubstancia no contexto da cooperação entre o Brasil e a Alemanha, particularmente ao que diz respeito à faceta da cooperação técnica.

A todas as autoras e autores o agradecimento cordial da Textos de História e particularmente da organizadora do presente dossiê, com a esperança de que suas contribuições possam animar o debate acadêmico, mesmo que de forma pontual, e ser útil de alguma forma para o leitor interessado em História.

Albene Miriam F. Menezes

Organizadora

Acessar dossiê

Colonização e Imigração / História Unisinos / 2007

O Programa de Pós-Graduação em História comemora 20 anos. Para celebrar esta trajetória de duas décadas em que o Programa conquistou o reconhecimento da comunidade de historiadores, a revista História Unisinos dedicará os volumes deste ano de 2007 a artigos que contemplem temas relativos às suas três linhas de pesquisa.

Este primeiro volume é dedicado à linha de pesquisa Colonização e Imigração na América Latina. Assim, o dossiê, que leva o nome Colonização e Imigração, reúne sete artigos de pesquisadores das mais diversas instituições (nacionais e estrangeira) e abrange uma vasta gama de assuntos que, vinculados à temática central, apresentam abordagens inovadoras.

A abrir o volume, temos o artigo de Jorge Fernandes Alves, docente da Universidade do Porto (Portugal), que focaliza a temática da emigração portuguesa, revisitando autores clássicos do século XIX que refletiram sobre o crescimento do fluxo emigratório que, na época, se dirigia quase que exclusivamente ao Brasil. Jorge Alves adota uma perspectiva da arqueologia do discurso para tratar a questão.

Ainda em torno da temática das migrações, mas a partir da perspectiva do país de acolhimento, temos os demais artigos. Começamos com os de Sergio Nadalin e de Maria Luiza Andreazza, ambos docentes da Universidade Federal do Paraná.

Se Jorge Alves opta pela análise da arqueologia do discurso, Sergio Nadalin se vale da lingüística para analisar a dialética dos nomes numa comunidade imigrante. Desenvolve uma discussão teórico-metodológica em torno da análise da “nominação” e como ela pode contribuir para a compreensão da dinâmica das fronteiras étnicas edificadas pelo grupo imigrante analisado e seus descendentes.

Por sua vez, Maria Luiza Andreazza aborda uma temática que tem recebido a atenção dos historiadores nos últimos anos. Analisa o impacto da imigração no sistema familiar através do estudo dos ucranianos que se radicaram em Antonio Olinto (Paraná). A autora parte do pressuposto de que o sistema familiar expressa uma opção coletiva e, como tal, conforma forte traço cultural cuja estabilidade não é, necessariamente, ameaçada pela imigração.

O artigo de Maria Catarina Chitolina Zanini, docente da Universidade Federal de Santa Maria, vem mostrar a riqueza do diálogo que se estabelece quando especialistas das Ciências Sociais, especificamente da Antropologia Social, voltam sua atenção para a análise dos processos de construção de memórias e identidades étnicas. A autora apresenta suas reflexões sobre esta temática, a partir de uma pesquisa etnográfica realizada entre 1997 e 2001, no Rio Grande do Sul.

Paulo César Possamai, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, também apresenta uma contribuição que se volta para a análise da imigração no estado gaúcho. O autor analisa o processo de construção da identidade ítalosul-rio-grandense entre 1875 e 1918, através da utilização de memórias e cartas de imigrantes e agentes consulares italianos no Brasil.

Fechando o conjunto de artigos dedicado à questão da emigração / imigração, temos o artigo de Rosane Siqueira Teixeira, doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Federal de São Carlos (SP). A autora apresenta algumas reflexões preliminares sobre uma associação de socorro mútuo e beneficência fundada por imigrantes italianos na cidade de Araraquara, interior de São Paulo e que também funcionou como centro de filiação ao Partido Nacional Fascista.

O dossiê Colonização e Imigração apresenta um artigo que focaliza a temática da colonização. A contribuição de Ana Paula Wagner, doutoranda da Universidade Federal do Paraná, analisa a administração da África Oriental Portuguesa na segunda metade do século XVIII através do estudo da região de Moçambique. A autora sublinha as diferentes realidades encontradas no âmbito da administração do Império Português, perspectiva que vem sendo valorizada pela recente produção historiográfica sobre o período colonial, que aposta numa história comparada e integrada do espaço imperial luso.

A sessão de artigos, por sua vez, reúne duas contribuições. Eliane Lucia Colussi, docente da Universidade de Passo Fundo, analisa aspectos da história política do Rio Grande do Sul a partir do uso de práticas de violência no período da República Velha. O cenário onde se desenvolve seu estudo é o município de São Borja. Avançando para o último quartel do século XX, temos a contribuição de Everton Rodrigo Santos, professor do Centro Universitário Feevale e da Universidade Luterana do Brasil (RS), que analisa a temática da ideologia e dominação na transição democrática no Brasil, entre 1974 e 1989, no âmbito da Escola Superior de Guerra (ESG).

Ainda encontramos, nesse volume, a sessão “Notas de Pesquisa”. Nela, reunimos resenhas de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em História, sendo três de autoria dos professores que integram a linha de pesquisa Colonização e Imigração na América Latina e o último, da pesquisadora Imgart Grützmann, que fez seu pós-doutorado na UNISINOS.

A idéia deste conjunto de Notas de Pesquisa é mostrar, a um público especializado mais amplo, os diversos projetos em andamento no Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos.

Martin N. Dreher discute seu projeto que gira em torno da figura de Jacobina Mentz Maurer. Karl Monsma apresenta sua pesquisa sobre identidades, desigualdade e conflito entre imigrantes e negros no interior de São Paulo nos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX. Temos ainda, as notas de pesquisa sobre o projeto voltado para o estudo da imigração portuguesa para o Brasil, a partir do caso do Núcleo Colonial da Nova Lousã, desenvolvido por Ana Silvia Volpi Scott.

Por fim, publicamos a resenha que José Pedro Cabral Cabrera elaborou sobre a obra da A. Garcé e J. Yaffé, La era progresista.

Resta-me apenas congratular o Programa de Pós-Graduação em História pelos seus 20 anos e agradecer à minha colega Heloísa Reichel a oportunidade de poder ter colaborado na organização deste volume.

Ana Silvia Volpi Scott


SCOTT, Ana Silvia Volpi. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.11, n.1., janeiro / abril, 2007. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê