Navegando com o sucesso: lições de liderança, trabalho em equipe e capacidade de superar desafios – SCHÜRMANN (MB-P)

SCHÜRMANN, Vilfredo. Navegando com o sucesso: lições de liderança, trabalho em equipe e capacidade de superar desafios. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. 153p. Resenha de: SORENZUTTI, Patrícia Simon. A arte de velejar e o exercício da liderança. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

A temática da liderança perpassa a literatura desde o início do século XX e sua complexidade e aplicabilidade apresentam desafios após mais de um século de pesquisas.

É possível identificarmos que o conceito de liderança é diferenciado conforme cada autor que o desenvolve e aqui repousa a particularidade do livro “Navegando com o sucesso”.

Nele, o autor Vilfredo Schürmann faz um paralelo entre os desafios de velejar e o exercício da liderança demonstrando, na prática cotidiana a bordo do veleiro Aysso, como conduziu sua tripulação (equipe) numa desafiadora jornada marítima.

Ao longo das 153 páginas que compõem o livro, Schürmann narra de forma entusiasmada as duas circunavegações que realizou com sua família e demais tripulantes: a primeira que durou de 1984 até 1994 abrangendo 44 países; e a segunda, denominada Magalhães Global Adventure, que alcançou 19 países nos anos de 1997 até 2000, reeditando a rota do português Fernão de Magalhães. A tônica da narrativa perpassa uma analogia do veleiro, como uma empresa repleta de desafios e o mar bravio, como o mundo empresarial moderno, dinâmico e mutante. Ao descrever sua jornada marítima, Schürmann expõe como conduziu sua tripulação diante dos desafios impostos pela vida no mar e exerceu sua liderança, com maestria, equilibrando dois fatores apontados pelo autor como fundamentais: a capacidade de planejamento e a gestão das pessoas a bordo.

Ao seguirmos a narrativa do autor, empresário e economista com vasta experiência administrativa e gerencial, é possível identificarmos como ele transforma um sonho em projeto (o desejo de velejar pelos mares ao redor do planeta), seleciona uma boa equipe de trabalho (sua tripulação), executa cada fase do planejamento com organização, disciplina, treinamento e, principalmente, envolve toda a tripulação do Aysso em cada etapa (tanto os componentes da equipe de apoio logístico em terra quanto os membros a bordo do veleiro). Tais aspectos nos indicam como o planejamento, a supervisão e o monitoramento do trabalho, vinculados ao comprometimento da equipe, são fundamentais para o sucesso de qualquer trabalho.

O autor apresenta em seus relatos os desafios enfrentados em diversas áreas: econômica, logística, estrutural, mudanças da equipe e riscos como de morte, de acidente ou de ataques de piratas em determinados oceanos. Para todos os desafios a resposta engloba a identificação do risco, a tomada de decisão para resolver a situação, o bom treinamento dos tripulantes para lidar com o problema e, principalmente, a responsabilidade de todos a bordo. Dessa forma, Schürmann demonstra com sua experiência que o bom líder não é, necessariamente, o melhor ou o mais competente mas, sim, aquele que sabe muito bem, e estrategicamente, qual o seu papel e o de cada um na engrenagem do processo. Além disso, sua capacidade de comunicação clara e assertiva fica evidente em vários episódios descritos no livro.

Nesse sentido, os exemplos práticos do exercício da liderança apresentados por Vilfredo Schürmann, a bordo do veleiro Aysso, consistem numa abordagem precisa, entusiasmada e detalhada de atitudes concisas e coerentes por parte de um comandante, tendo como foco central o comprometimento da tripulação com todas as decisões tomadas.

Tais exemplos práticos, elencados no decorrer de sua obra, indicam uma proximidade de sua liderança a abordagens, entendidas conceitualmente, como democráticas (como definido pelo teórico Kurt Lewin), flexíveis e democráticas (tal como propõem Blake e Maouton na Teoria do Grid Gerencial) ou o quanto o líder consegue influenciar os liderados, como nos ensina a Teoria do Modelo de Participação do Líder, de Vroom e Yetton. Cabe ressaltar que outras aproximações teóricas são possíveis, pois um dos aspectos centrais da apresentação apaixonada de Schürmann sobre sua arte de transformar o sonho de velejar num projeto de vida autossustentável é o seu comprometimento, como líder, com as pessoas e com os processos.

Patrícia Simon Lorenzutti – CT (T) Marinha do Brasil

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Uma breve história do mundo – BLAINEY (MB-P)

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2009. 342 p. Resenha de: SURCIN, Gisele. Resenha de ALVES, Igor da Silva. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Das cavernas até a chegada à Lua, da invenção da escrita até a descoberta do átomo, do nascimento da humanidade na África até a colonização da América. Resumir a história da humanidade em um livro não deve ter sido tarefa fácil, mas, para Geoffrey Blainey, isso se concretizou em seu bestseller Uma Breve História do Mundo.

Para amantes da história e acadêmicos da área, o autor, talvez, não traga tanta novidade quanto a informações e passe “correndo” por assuntos tão importantes para a humanidade, como a formação da União Soviética e a divisão da Alemanha. Porém, para curiosos que desejam entender como se procedeu a evolução das civilizações, o bestseller trouxe uma interessante abordagem: fazer com que o leitor sinta-se em um filme, em que cada cena ou quadro mostra um capítulo da história do mundo. E é exatamente isso a que o livro se propõe: ser breve, em 342 páginas, em cada episódio histórico apresentado.

Uma Breve História do Mundo começa mostrando como o ser humano chegou a continentes tão distantes, habitando locais, por vezes, inabitáveis. O leitor passa a entender como o clima, o aumento do nível dos mares e a busca por alimentos facilitaram a emigração de diversos grupos. Percebe-se que a conquista sempre foi inata ao ser humano, e essa vontade de conquistar espaços e povos fez com que o homem buscasse construir meios de favorecer as longas viagens. Foi assim que as embarcações começaram a surgir, auxiliando a raça humana a percorrer os mares, como nos mostra o capítulo Maravilhoso Mar, o qual enfoca a importância das embarcações, como as galeras, as quais eram navios de guerra, usados na Antiguidade, movidos a remo e, geralmente, com auxílio de mão de obra escrava.

Esse fato, para os leitores com um conhecimento de mundo maior, inevitavelmente, trará à lembrança o filme Ben-Hur, cujo personagem principal, um mercador judeu, é escravizado e forçado a remar em uma galera romana, e a canção Cisne Branco, que cita a embarcação em dois trechos: “Linda galera que em noite apagada / Vai navegando num mar imenso” e “Sob um céu de anil / Minha galera / Também vai cruzando os mares”. Para o leitor mais informado, a leitura da primeira à última página trará várias conexões com as aulas de História da escola, com os livros já lidos e com a própria vivência de mundo.

Nessa obra, também há especial enfoque ao surgimento de cinco religiões ou povos: judaísmo, cristianismo, islamismo, hinduísmo e budismo. Num primeiro momento, o leitor pode questionar a atenção dada a essas religiões, que não se resume a um único capítulo, no entanto, posteriormente, o leitor entenderá que o surgimento de cada uma mudou radicalmente os rumos da sociedade. De forma rara na literatura mundial, o autor consegue mostrar o líder cristão por um olhar humano, evitando focar no Jesus sobrenatural: Cristo é descrito como um personagem histórico, de grande influência sobre seus seguidores, um verdadeiro líder carismático, o qual deixou um legado que influenciou a construção de um império: o Império Romano. Mesmo sendo de conhecimento de todos aqueles que frequentaram o ensino escolar mais básico, Blainey não poderia deixar de nos presentear com um capítulo sobre uma das civilizações mais importantes da história, trazendo alguns fatos básicos de conhecimento geral, mas também fatos não tão conhecidos assim. No capítulo A Ascenção de Roma, o livro nos mostra como essa sociedade lidava, por exemplo, com as questões políticas e com seu próprio exército.

A fim de facilitar o entendimento, a obra de Geoffrey Blainey utiliza desenhos de mapas como o apresentado no capítulo A Queda das Cartas do Baralho, que faz os leitores visualizarem as colônias europeias no Caribe e na América do Norte em meados do século XVIII. Essa inteligente estratégia torna a leitura mais agradável e transporta o leitor à época do acontecimento.

Por conseguinte, ao virar a última página de Uma Breve História do Mundo, a sensação é a de querer conhecer mais sobre cada fato narrado, e isso não é uma falha da obra, visto que a proposta é justamente a brevidade, sem ser superficial, e a análise feita de forma didática, podendo agradar aos leitores leigos e, até mesmo, aos catedráticos no assunto.

Gisele Surcin – Primeiro-Tenente da Marinha do Brasil

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O Príncipe – MAQUIAVEL (MB-P)

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 4ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. Resenha de: OLIVEIRA JÚNIOR, Airton Antônio de. Um Príncipe não tão maquiavélico. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Entre as diversas traduções e edições deste livro, o escolhido para este trabalho foi o da Editora WMF Martins Fontes, 4ª edição, de 2010, São Paulo, contém 197 páginas, traduzido por Maria Júlia Goldwasser, inclui Vida e Obra do autor, apêndice com paralelo entre Maquiavel e Marx, Notas Explicativas e Vocabulário de termos-chave de Maquiavel.  Um dos maiores livros da literatura política mundial, “O Príncipe” foi escrito em 1513 e publicado, pela primeira vez, em 1527. Maquiavel compreendia a tendência das coisas humanas, a inconstância das massas e a fragilidade das nações. Sem se prender a conceitos estabelecidos, estuda os diversos tipos de Estados, classifica-os por gêneros e estabelece leis, segundo as quais cada principado deve ser conquistado ou governado. Descreve, de maneira genérica, como o governante deve portar-se, de acordo com o cenário estabelecido.

Nos primeiros quatorze capítulos, Maquiavel classifica os principados em gêneros bem definidos, dividindo-os em hereditários e novos, explicitando como se dá a conquista em cada um: com exército próprio ou de outros, pelo fluxo de acontecimentos ou pelo conjunto de qualidades do governante. O autor procura não construir um Estado ideal, e sim ver os problemas reais, a realidade concreta das coisas. O livro é repleto de exemplos da Antiguidade e Idade Média, por exemplo, Moisés, Ciro, Rômulo, Teseu, Aníbal, porém, a maioria deles é contemporânea, como César Bórgia, Francesco Sforza e o Papa Júlio II. Tudo para comprovar seu ponto de vista.

Nos capítulos posteriores, o autor discorre sobre diversos aspectos relacionados a um príncipe. Comenta sobre as qualidades que um governante precisa ter e outras a evitar, o cuidado devido às finanças, à cobrança de impostos e à utilização desses recursos. Trata, também, da dicotomia “se é melhor ser amado  que temido ou melhor ser temido que amado”, afirmando que “os homens têm menos receio de ofender quem se faz amar, do que a quem se faz temer”. Para Maquiavel, é mais importante aparentar ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, a de fato possuir tais qualidades. Sua teoria é baseada no fato de que “… todos veem o que se aparenta, poucos sentem aquilo que realmente é; e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos.” Um príncipe deve evitar o desprezo e o ódio dos homens, manter o povo feliz, afastar-se de bajuladores e controlar seus secretários.

Nos três últimos capítulos, Maquiavel aborda a invasão da França na Itália, os motivos que levaram a perda de alguns estados. Defende a tese de que um governo novo tem suas ações mais observadas que um hereditário, e que os homens se interessam mais pelas coisas do presente do que pelas do passado. Para o autor, o fluxo dos acontecimentos não está predefinido, devendo-se preparar para tempos difíceis nos momentos calmos que os antecedem e coloca que é melhor ser impetuoso do que cauteloso. Tenta persuadir a retomada da Itália dos franceses apelando para o sentimento nacionalista e religioso.

Em “O Príncipe”, portanto, Maquiavel demostra que o fato de a Itália estar dividida em diversos governos tornou-a suscetível a constantes batalhas e que poderiam ser evitadas com sua unificação, sob um único soberano, naquele momento por Lorenzo II de Medici, neto de Lorenzo, o Magnífico. Para o autor, um príncipe que tenha uma visão que se afaste de um realismo estrito, que deixe de buscar a verdade efetiva das coisas, está fadado a conceber conclusões equivocadas, perigosas para sua nação. Em seu livro, ele cita que “sendo meu interesse escrever uma coisa útil para quem a escuta, parece-me conveniente seguir a verdade efetiva da coisa do que a imaginação sobre ela.” Quando um príncipe age, assim o faz para conservar o Estado. Se, ao analisarmos as ações dos governantes, entendermos que estamos diante de uma ação praticada não por escolha, mas por necessidade, fica sem sentido qualquer tentativa de impor limites éticos ou morais a tal conduta.

Airton Antônio de Oliveira Júnior – 2º Tenente da Marinha Brasileira.

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A incrível viagem de Shackleton, a saga do Endurance – LANSING (MB-P)

LANSING, Alfred. A incrível viagem de Shackleton, a saga do Endurance. 7° Edição. José Olimpo Editora. 1999. SP. 286p. Resenha de: SILVA, Ivan Castro da. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Fortitudine vincimus – “Vencemos pela Resistência”

Alfred Lansing foi um escritor americano nascido em Chicago, Illinois. O livro que se tornou um best-seller em 1959, narra à história real, mas que por diversas vezes nos remete a sensação da leitura de um roteiro de filme de ação/aventura, sobre a tentativa de cruzar o Pólo Sul por terra, pela Expedição Imperial Transantártica, liderada por Sir Ernest Shackleton e seus 27 tripulantes a bordo do navio Endurance, tal sentimento é possível pela riqueza de detalhes obtidos por meio de fotos, desenhos e, principalmente, pela transcrição das anotações contidas nos diários dos tripulantes e de seu Comandante.

Para contextualizarmo-nos no tempo, a história da tripulação do intrépido navio de madeira inglês, que conjugava propulsão a vela e motor, passa-se na segunda década do século XX, após a recente eclosão da Primeira Guerra Mundial. Em uma época onde a aventura e o ideal de conquista para alcançar a surpreendente marca da travessia, no mais inóspito e longínquo território do planeta, imperava mesmo sobre o conflito entre as nações europeias que se iniciava. Considerando os recursos tecnológicos tanto para navegação quanto para sobrevivência no frio extremo e conhecimento da região antártica, podemos potencializar ainda mais a dificuldade e importância da expedição.

O plano para a travessia contava com dois navios, o de apoio que atracaria em um extremo do continente, onde seriam distribuídas provisões ao longo do caminho a ser percorrido por terra, garantindo assim o retorno com segurança após o alcance do Pólo Sul, com isso o Endurance aportaria, pelo mar de Weddel, na baía de Vessel, onde Shackleton iniciaria sua caminhada por trenós cruzando o Pólo até chegar ao lado oposto, no estreito de MacMurdo. O Endurance ficou preso antes de atingir seu objetivo nas banquisas de gelo, sendo esmagado pela pressão exercida em seu casco, naufragando e levando a emblemática Union Jack para o fundo do mar de Weddel.

Longe de parecer uma nova história de fracasso do chefe da expedição, pois já tinha participado, sem sucesso, em duas expedições anteriores, a leitura nos mostra os atributos de líder de Sir Shackleton e uma notável obstinação em manter seus homens unidos e sem perder o foco principal, que naquele momento passou a ser a sobrevivência. Atributos que foram fundamentais para meses de resistência física e mental, que contariam ainda com uma incrível travessia, em um escaler a remo, por uma das regiões marítimas mais perigosas do globo, situada próxima a Passagem de Drake.

De forma sutil, sem colocar a narrativa da aventura em segundo plano, o autor nos mostra segundo as ações dos membros da expedição durante toda a saga, o quanto as características profissionais e pessoais influenciam uma equipe, não importando o -1- objetivo ou o momento em que se encontram. Apesar de não possuir este objetivo principal, vários trechos da leitura podem ser aproveitados para debates e discussões sobre alguns temas como liderança, formação de equipes e a maneira que os liderados observam seu líder em situações adversas.

Ivan Castro da Silva – 1º. Tenente da Marinha do Brasil

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O mal ronda a Terra: um tratado sobre as insatisfações do presente – JUDT (MB-P)

JUDT, Tony. O mal ronda a Terra: um tratado sobre as insatisfações do presente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 212 p. Resenha de: SANTOS, Pedro Hélio dos. O antagonismo do papel do governo – a sensação de mal-estar coletivo. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

O mal que ronda a terra foi a última obra do autor, escrita durante a doença que o levaria à morte. No título identifica que algo profundamente errado no modo como pensamos e vivemos hoje em dia. O autor realiza uma crítica ao individualismo contemporâneo e suas influências no campo da política econômica através das desregulamentações e do contínuo esvaziamento do espaço público promovido pela classe política nos últimos anos. Esse mal tem como pano de fundo um rompimento do contrato social que definiu a vida em sociedade tanto na Europa quanto na América, principalmente no pós-guerra. Os temas que permeiam os diversos capítulos de sua obra são: a escalada das desigualdades, tanto entre indivíduos quanto entre regiões; a redução da participação cívica; e a subordinação consentida da política e de outras dimensões da vida à economia.

Com o “culto do privado” a febre do novo liberalismo contaminou o mundo com grande velocidade e muitos fatores foram discutidos nesses momentos de crise. Esta visão politica demostrava vantagem na implantação, de forma sistemática, das privatizações, acrescentando a hipótese de ganho da iniciativa privada com a eficiência do serviço. Desta forma, o controle das empresas, sem dúvida, seriam conduzidas com uma visão de investimentos a longo prazo e preços eficientes, contudo na pratica tem sido bem diferente. “Ironicamente nas Parcerias Público- Privadas (PPP) inglesas de gestão de hospitais existia uma cláusula de resguardo que obrigava o governo a bancar prejuízos para evitar a descontinuidade dos serviços”.

O profundo sentimento de apreensão, ocorrida nas últimas três décadas do século passado e que se prorroga até os dias atuais em todos os países, em especial nos Estados Unidos e no Reino Unido, foi influenciado pelo aumento da desigualdade social. Sendo aqueles anos caracterizado por avanços sociais que haviam reduzido a desigualdade nos países abastados. Ela é nociva à confiança das pessoas, bem como gera um nível menor de bem-estar, inclusive para os mais ricos. O livro apresenta uma série de estatísticas que demonstram: quanto maior é a desigualdade menor é a mobilidade social e maiores são os problemas sociais, tais como: os homicídios e as incidências de doenças mentais. As incertezas, em torno da economia ou da governança, resultaram em surtos de pavor coletivo, que é outro fator responsável pela corrosão da confiança e das instituições, pois todos e quaisquer empreendimentos exigem confiança entre as partes.

A questão do sistema previdenciário é outro fato interessante tratado neste livro, que já a algum tempo, é objeto de grande preocupação dos países da Europa. A redução na quantidade de contribuintes e o elevado número de beneficiários, causado pelo aumento da faixa etária, que é um instrumento catalizador da inversão da pirâmide etária desses países, provocaram um grande desequilíbrio desse sistema. Ele cita o exemplo dos maquinistas na França, que devido as condições de vida precária e uma baixa perspectiva de vida no início do século XIX, possuíam altos salários e grandes benefícios para compensarem a situação daqueles profissionais. Com o avanço das questões sociais e trabalhistas, logo vieram as melhores condições de vida e a longevidade desses trabalhadores, estimulando o desequilíbrio no sistema previdenciário da rede ferroviária.

As crises econômicas dos anos 1980 e de 2008 apresentaram causas diferentes entre si e alteraram, de maneira significativa, o modo de vida contemporâneo. No fim dos anos 80, com a queda do Muro de Berlim, destacou-se o discurso hegemônico dado pelo Consenso de Washington, com as seguintes caracteristicas: estado mínimo com privatização de empresas estatais, monetarismo, redução de impostos, desregulamentação de atividades com incentivo à livre iniciativa, focalização de políticas sociais, etc. Por outro lado, defender a regulamentação de mercados e universalização de políticas sociais era algo classificado como “socializante”. Já a crise de 2008 mostrou o quanto o capitalismo pode ser perverso, segundo Judt, essa crise rompeu com o paradigma entre Estado e Mercado, pois exigiu Estados fortes e governos “intervencionistas” para evitar uma “quebradeira” geral como a ocorrida em 1929.

Na proporção que se avança na leitura dos capítulos, percebe-se que os contextos pesquisados pelo autor, nos países da Europa e dos Estados Unidos, revelavam-se como problemas universais, de um mundo cada vez mais globalizado e integrado nos modos políticos e econômicos, como o movimento de integração que surgiu na época da independência colonial. Portanto, os fatos vividos no Brasil, nas últimas décadas, foram reflexos das decisões emanadas dos países centrais. Além disso, ficou a tentativa de resgatar uma visão de mundo e dos valores da Social-Democracia (a liberdade, a igualdade, a justiça social e a solidariedade), a luta e a primazia do julgamento individual. Contudo, os governantes deveriam ser menos preocupados com a defesa do prestígio e do enriquecimento individual e mais engajados civicamente.

Tony Judt, nasceu em janeiro de 1948 em Londres, e faleceu, em 2010, em Nova York, nos últimos anos lecionava na Universidade dessa Cidade. Dentre suas principais obras constam os seguintes títulos: Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos; Reflexões sobre um Século Esquecido – 1901-2000; Passado Imperfeito: um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa; Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945.

Pedro Hélio dos Santos – 2º. Tenente da Marinha do Brasil

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Navegando com o sucesso: lições de liderança, trabalho em equipe e capacidade de superar desafios – SCHÜRMANN (MB-P)

 

SCHÜRMANN, Vilfredo. Navegando com o sucesso: lições de liderança, trabalho em equipe e capacidade de superar desafios. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. 153p. Resenha de: ANGELATS, Thaís de Souza Carvalho. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Vilfredo Schürmann, em seu livro Navegando com o Sucesso, traça um paralelo entre os desafios impostos pela navegação oceânica a bordo de um veleiro e os desafios encontrados na gestão de uma empresa. As semelhanças são traduzidas em metáforas com ensinamentos sobre o papel do capitão em relação à sua tripulação, a importância das relações interpessoais, a tranquilidade na tomada de decisões e no gerenciamento dos riscos, e o maior segredo para transformar sonhos em realidade: o planejamento.

Nos capítulos iniciais, Schürmann relata o início do sonho de ser a primeira família brasileira a dar a volta ao mundo, em um veleiro, com filhos pequenos a bordo. Para transformar a aventura em uma realidade, a família Schürmann planejou cada passo, desde a mudança para uma vila de pescadores para aprenderem sobre o mar, até a compra do primeiro veleiro e aulas de vela. Então, eles definiram que em dez anos suspenderiam para a primeira viagem de volta ao mundo.

Nos anos seguintes, compraram um veleiro maior, participaram de regatas no Brasil e no exterior, frequentaram aulas de navegação astronômica, leram livros sobre viagens transoceânicas e sobre os desafios das famílias que vivem em veleiros. Vilfredo Schürmann destaca que, durante todo o tempo, a gestão financeira foi fundamental, especialmente para uma viagem que, inicialmente estava prevista para durar três anos e terminou dez anos depois.

Em família, eles se tornaram empreendedores e, com as diversas atividades desempenhadas por todos, conseguiram equilibrar o orçamento e tornar a viagem autossustentável. Uma das melhores decisões foi começar a filmar as viagens, com o intuito de vender as imagens para canais de televisão interessados. Assim, a aventura deles ficou conhecida por todo o país.

Nos capítulos posteriores, o autor discorre sobre diversos aspectos relacionados à seleção da tripulação, relacionamento interpessoal, trabalho em equipe e liderança. Schürmann ressalta que, em um veleiro, os principais desafios não são as tempestades, mas sim o relacionamento entre as pessoas, em razão do espaço reduzido e do isolamento em travessias oceânicas. Destaca também que, em situações de conflito, cabe ao líder conduzir o diálogo para não afetar as relações interpessoais.

O autor segue fazendo o paralelo entre as tempestades enfrentadas em alto-mar e as turbulências de um mercado incerto, no qual as empresas estão inseridas. Só alcançarão o topo e permanecerão nele os que souberem se integrar à equipe e, assim, como em um veleiro em que o trabalho de um tripulante depende diretamente do trabalho do outro, nas equipes de sucesso não há lugar para egos inflados e atitudes que não sejam de colaboração. Para Schürmann, um líder precisa ter competência e capacidade de comunicação, além de ser ético e dinâmico. E, acima de tudo, um líder tem que saber trabalhar em equipe.

Nos capítulos finais, o autor destaca a importância das pessoas e departamentos se verem como parte do todo, não como células estanques, independentes. Em sua liderança, as inovações e iniciativas pessoais eram constantemente incentivadas para que cada um pudesse trabalhar explorando todo o seu potencial e o dos seus companheiros. O comprometimento com os objetivos do projeto sempre foi muito estimulado e recompensado por Vilfredo Schürmann, o líder da equipe.

Esse reconhecimento foi fundamental para motivar a tripulação, estimulando o crescimento individual e do grupo.

Em Navegando com o sucesso, portanto, Vilfredo Schürmann descreve que a bordo de um veleiro, o relacionamento entre as pessoas e os diferentes cenários são os principais desafios enfrentados. Para ter sucesso, um líder precisa se conhecer muito bem e aprender a entender o outro. Cabe ao capitão do barco, o comandante, a responsabilidade de conduzir os diálogos, analisar com a tripulação os meios para superarem as adversidades, mantendo-se sempre os objetivos alinhados e definidos. Por meio do sucesso de suas expedições, aprendeu que “não se pode mudar a direção dos ventos, mas se pode regular as velas para viver um sonho e realizar a felicidade”.

Thaís de Souza Carvalho Angelats – 1º. Tenente da Marinha do Brasil

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A viagem do Descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral – BUENO (MB-P)

BUENO, Eduardo. A viagem do Descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998 140p. Resenha de: SERAFIM, Márcia Pereira Franco. Um novo olhar sobre a História do Brasil. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Escrito pelo jornalista Eduardo Bueno com a consultoria do professor Ronaldo Vainfas, o primeiro volume da Coleção Terra Brasilis apresenta linguagem objetiva e de fácil compreensão. Em 140 páginas, o autor apresenta a História Marítima vivenciada pelos portugueses nos séculos XV e XVI e detalha, entre outras, a expedição comandada por Pedro Álvares Cabral.

Inicialmente é apresentado – de forma rápida, porém minuciosa – um compêndio de como a esquadra de Cabral avistou, no dia 22 de abril de 1.500, nas horas de véspera, a terra que seria posteriormente chamada de Brasil. São descritos os preparativos para a expedição incumbida pelo rei D. Manoel I e detalhes da esquadra comandada por Cabral, composta por 10 naus e 3 caravelas, tida como “um pedaço flutuante de Portugal” (p.18), “muito poderosa em armas e em gente luzidia” (p.19), com fortes influências do Cristianismo e que visava à travessia para a Índia e ao comércio de especiarias, além de tentar demonstrar o poderio militar de Portugal ao Samorim de Calicute, que havia desprezado a expedição anterior comandada por Vasco da Gama Embora a missão de Cabral fosse clara, nada o impedia de investigar os indícios da existência de terras a oeste dos Açores e da Madeira, percebidos por Vasco da Gama e tidos como “provas” pelos defensores da teoria da intencionalidade da descoberta do Brasil (p. 9).

Os capítulos seguintes trazem detalhes da História Marítima Portuguesa. No primeiro – “De Lisboa a Vera Cruz” – são abordados os aspectos da escolha dos capitães das embarcações e breve biografia; seus salários e direitos; do custeio da expedição pela iniciativa privada; das divisões da frota; da composição e da alimentação da tripulação; das características das naus, além das motivações para a decisão e a preparação da expedição de Cabral rumo as Índias.

Sabia-se que, para chegar até a Índia, a esquadra deveria realizar a manobra chamada de “volta do mar”. Ao empreender essa volta, Cabral seguiu as orientações de Vasco da Gama e abriu seu rumo para o sudoeste. Os ventos que o conduziam até a Ásia, o levaram a descobrir o Brasil. Neste ponto, fica claro o posicionamento favorável do autor à teoria da intencionalidade, ao defender que a existência da nova terra era prevista em Portugal desde meados do século XV.

Para compreender essa viagem é necessário analisar o processo expansionista dos portugueses. Assim, o segundo capítulo – “Portugal Conquista o Mundo” – traz, de forma ora sucinta, ora enfadonha, os fatos históricos afetos às ações portuguesas e, principalmente, à descoberta da rota marítima para as Índias por Vasco da Gama.

No terceiro e último capítulo – “A semana de Vera Cruz” – o autor vasculha os principais documentos da época e apresenta relatos dos 10 dias nos quais a esquadra de Cabral ficou aportada no Brasil, como as diferenças culturais e sociológicas existentes entre os indígenas e os portugueses. Retrata ainda as dificuldades de Cabral para chegar a Calicute e os desdobramentos desta chegada, além de seu regresso a Lisboa e o relato de outras expedições portuguesas, como a que levou Américo Vespúcio a batizar o novo continente e a selar os destinos do Brasil.

O apêndice aborda a tese de que a descoberta do Brasil teria sido por acaso. Em contrapartida, apresenta argumentos da intencionalidade do “achamento” de Cabral, entretanto, conclui que ambas as teses não puderam, e talvez jamais possam, ser definitivamente comprovadas. Expõe ainda que no ano de 1.920 surgiu a polêmica de que outros navegantes chegaram ao Brasil antes de Cabral, porém afirma que as consequências práticas dessas viagens foram irrelevantes para o descobrimento sociológico da Terra de Santa Cruz.

Conclui-se que esta não é uma obra que busque a discussão, mas que apresenta uma nova perspectiva sobre a História do descobrimento, mantendo-se fiel à versão oficial que considera os portugueses como navegadores audazes e reveladores dos caminhos para novas conquistas.

Acrescentando muito pouco sobre o contexto europeu da época e até mesmo sobre o processo expansionista da Espanha, principal rival de Portugal na “corrida ultramarina”, Eduardo Bueno considera indiscutível, no decorrer de toda a obra, a intencionalidade dos portugueses no descobrimento do Brasil, entretanto traz importantes dados para que inúmeras conclusões possam ser tomadas pelo leitor, uma vez que o próprio autor cita que “essa é uma questão aberta, e por assim ser só aumenta o seu fascínio” (p. 132).

Márcia Pereira Franco Serafim – CT (T) Marinha do Brasil

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Mar sem fim – KLINK (MB-P)

KLINK, Amyr. Mar sem fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.  271p. Resenha de: SANTOS, Caroline Bezerra. Um mar que não tem fim. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

“Navegar é preciso, viver não é preciso”.  A frase, muito utilizada por antigos navegadores, traz consigo uma confusão semântica entre precisão e necessidade. Em “Mar sem fim”, livro em que o navegador Amyr Klink descreve a experiência de circunavegar sozinho, ao longo de cinco meses, o continente Antártico, essa confusão se desfaz diante da narrativa doautor: a obra faz com que o leitor acompanhe com curiosidadea precisão de Amyr na arte de navegar, ao utlizar com destreza instrumentos e técnicas de navegação, e com atençãoa sua necessidade em viver desafios e se aperfeiçoarna arte de superá-los.

No primeiro capítulo, o autor descreve toda a preparação, tanto prática como emocional, para iniciar sua “volta ao mundo”. A bordo do Paratii, veleiro escolhido para conduzi-lo na aventura, Amyr se mostra consciente do desafio que está prestes a iniciar, dos contratempos que podem surgir e dos impactos psíquicos que a solidão pode desencadear. Contudo, oineditismo da experiência, a possibilidade de ser pioneiroe de saborear o estado de espírito que estar a  bordo lhe proporciona se transformam emmotores para se lançar com confiança e ousadia em sua expedição.

Ao longo da obra, o autor passa a descrever o dia-a-dia de sua viagem. Em sua primeira parada, na Ilha da Geórgia do Sul, Amyr relatacom deslumbramento a Terra que se anunciava no horizonte: “Mil vezes mais linda que qualquer foto que já havia visto da Ilha”, diz. Esse encantamento marca vários outros trechos do livro: quando se depara com o que chama de “Ilha Morta”, uma baleia que morreu naturalmente e flutuava no oceano, paradoxalmente sendo fonte de vida para vários outros seres daquela fauna; quando tenta traduzir as formas de cada geleira que se apresenta em seu percurso; quando se surpreende, mesmo sendo um navegador experiente, em aindase admirar com cada espelho d’água porporcionado pela beleza da noite no mar.

Em seu percurso de 360º em torno do continente Antártico, o mais curto e também o mais perigoso ao redor do planeta, Amyr se confronta com diversas situações que poderiam interromper precocemente seu projeto. Chuvas torrenciais, ventos cortantes conduzindo o veleiro em penosos ziguezagues, frio úmido, turnos de sono interrompidos a cada 30 minutos e a certeza de que, naquela empreitada, era o único operador de cada manobra e ação. Afinal, só podia contar com ele mesmo. E a cada superação, a certeza de que havia feito a melhor escolha: “um homem precisa viajar” -afirma.

O autor não deixa de mencionar a importância dos vínculos. A relação com a família, com os amigos da terra, ou com os amigos do mar, se mostram como um dos combustíveis que fazem seguir o Paratii. Amyr narra, no capítulo 14, sua passagem pela Estação Antártica Comandante Ferraz. Diante de uma série de percalços, inclusive de um incêndio enquanto o Paratii encontrava-se ancorado na Baía do Almirantado, a solidariedade e a presteza dos militares da Estaçãofaz com que o leitor entenda que, por mais que a viagem do navegador seja solitária, em momento algum o mesmo glorifica a solidão: o autor se entusiasma ao falar de hospitalidade, empatia e gratidão, e toma isso como valores importantes para vencer o que chama de “individualismo egocêtrico” dos tempos atuais.

Por fim, Amyrdescreve a volta para casa. Trata a saudade como um prêmio, e não como sofrimento após seu ato de bravura em realizar algo com que sempre sonhou. E é categórico emafirmar que tanto mar, ao invés de trazer separação, trouxe ainda mais união. Compartilhar sua experiência com a família e os amigos, constatandoque a Terra é mesmo redonda, é o que a fez ganhar um sentido especial: ‘De nada servem dias especiais ou conquistas se não for para serem compartilhados em casa”, diz.

Aleitura deste livro permite  repensar todas as amarras que impedem o homem de ir além em sua história pessoal, seja por medo ou por comodismo. Amyr tem uma postura empreendedora e determinada, sem deixar para trás valores que são fundamentais na empreitada que assume, inspirando o leitor a conduzir da melhor forma o rumo de sua viagem pela vida, com inteligência emocional para superar cada desafio que se impõe e com coragem para se lançar no desconhecido, a fim de se aprofundar no que move cada alma humana: suas aspirações.

Caroline Bezerra Santos – 1º. Tenente da Marinha do Brasil

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A Lei da Guerra: Direito Internacional e Conflito Armado – BAYERS (MB-P)

BAYERS, Michael. A Lei da Guerra: Direito Internacional e Conflito Armado. Rio de Janeiro: Record, 2007, 263 p. Resenha de: PINTO, Jairo Francisco. A Carta das Nações Unidas e a soberania dos Estados nacionais. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

A Lei da Guerra – Direito Internacional e Conflito Armado é uma obra que trata do nível de comprometimento legal exercido pelas nações envolvidas em conflito armado, menciona as fontes das leis do direito internacional e resgata conflitos pretéritos, a fim de demonstrar o funcionamento efetivo dessas leis.

Nesse contexto, a fim de garanti r a paz no mundo por meio do bom relacionamento entre os países; em outubro de 1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Naquele momento, após a segunda guerra mundial, com um saldo de milhões de mortos, representantes de cinquenta países reuniram-se em São Francisco, na Califórnia — EUA, e criaram uma nova Organização Internacional para, em suas palavras, “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”. (BAYERS, 2007, p.197) Essa obra, embora apresente um conteúdo bastante técnico e específico, apresenta linguagem completamente didática e de fácil entendimento tanto para os leigos .quanto para os profissionais do mundo jurídico. Assim, viabiliza aos seus leitores uma compreensão das leis que governam o uso da força nas questões internacionais, a partir de análises de acontecimentos históricos recentes no contexto da política e do direito globais.

Em uma abordagem com foco em estudos de caso citações de fatos inerentes à lei da guerra desde o século XIX até os dia atuais, BAYERS posiciona o leitor de modo a refletir e entender os motivos promotores da fragilidade experimentada pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, no que tange ao cumprimento de seu propósito maior: o dispositivo central da carta da ONU no artigo 2, parágrafo 4:

Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas”. (BAYERS, 2007, p.198 e 199)

Ao analisar vários conflitos armados ocorridos pós-criação da ONU, como Intervenções no Kosovo e no Afeganistão em 1999/2001 e a guerra no Iraque em 2003, envolvendo diretamente os Estados Unidos da América (EUA) e outras potências aliadas, verificam-se momentos recorrentes de violação da principal atribuição do CS: a autorização do emprego da força contra qualquer nação.

Diante disso, o mundo teve conhecimento de um festival de abusos que vão desde desrespeitos aos direitos de civis e de prisioneiros de guerra, até arranjos políticos para viabilizar a concretização dos objetivos da nação mais poderosa envolvida no conflito. Desse modo, chega-se à conclusão inequívoca de que o direito relativo ao uso da força é realmente politizado, como formulou muito bem o filósofo militar Cari. von Clausewitz, segundo o qual “a guerra é a continuação da política por o ut r os me io s ” . (BAYERS, 2007, p.12) Ainda nesse sentido, o autor sinaliza para a constante criação de doutrinas, por parte das grandes potências, versando sobre legítima defesa, intervenção humanitária, intervenção em defesa da democracia e legítima defesa preventiva, a fim de tentar justificar suas ações sem a autorização do CS.

Em síntese, o autor, com muita propriedade, argumenta acerca da inobservância do cumprimento às leis da guerra estabelecidas pela Carta da ONU. Isso demonstra que potências econômicas e militares intitulam-se JUÍZES DO MUNDO (grifo meu). Tudo para atender aos seus próprios interesses, principalmente os EUA que, com suas Forças militares estacionadas em mais de 140 países estão envolvidos, direta ou indiretamente, em praticamente todos os conflitos existentes no mundo.

Infere-se, então, que tais atitudes devem servir como subsídios a serem utilizados em qualquer estudo sobre Estratégia Nacional de Defesa , já que a prática da diplomacia é ignorada em muitos casos.

Jairo Francisco Pinto

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Uma breve história do século XX – BLAINEY (MB-P)

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. 2 ed. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2010. Resenha de: [Autoria não identificada]. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Em Uma breve história do século XX, o autor descreve de forma empolgante um período que ficou para a história. A primeira vista, a separação entre história mundial e a história do século XX, pode causar uma sensação desconfortável, mas esse foi o século com maior material humano e que exerce maior influência direta na vida cotidiana, tendo em vista que nele ocorreram duas guerras mundiais, a ascensão e queda dos países comunistas, a maior crise econômica mundial, o ressurgimento do Fundamentalismo Islâmico, a bipolarização do mundo, a luta pelos direitos femininos e o uso do petróleo como matriz energética predominante no mundo. Com toda a certeza, o século XX é um período fundamental para entender o mundo que nos cerca hoje. Para isso, o autor divide o livro em três partes para descrever todos estes eventos.

Na primeira parte ele conta sobre como foi o início do século, período em que havia um clima de otimismo na civilização ocidental em relação ao seu futuro. Esperava-se mais desse período do que jamais se havia esperado de outros. Tanto havia sido conquistado no século anterior, que parecia sensato acreditar que dali em diante os êxitos do mundo em muito superariam os desastres. A vida da população melhorava, a fome diminuía e a expectativa de vida começava a aumentar. Entretanto, os impérios europeus pareciam poderosos e continuavam ávidos por expansão.

Na segunda parte, o autor registra diversos acontecimentos importantes ocorridos durante o século XX. Como o aparecimento de inventores experientes, principalmente quando envolviam questões materiais, como armas e remédios, além das duas guerras mundiais que assolaram o mundo e a crise de 1929. Vários problemas atingiam as principais nações europeias no início do século XX. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colónias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas das Grandes Guerras.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia norte-americana estava em pleno desenvolvimento. As indústrias dos EUA produziam e exportavam em grandes quantidades, principalmente, para os países europeus. O resultado da Primeira Guerra Mundial foi consequência da produtividade industrial dos países envolvidos. Após a guerra o quadro não mudou, pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades, necessitando manter suas importações, principalmente dos EUA. A situação começou a mudar no final da década de 1920. Reconstruídas, as nações europeias diminuíram drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos, o mundo passou pelo momento mais negro do capitalismo mundial, a quebra da bolsa de Nova Iorque (1929).

A segunda parte do livro encerra com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflito que envolveu diretamente a quase totalidade dos países. Pode-se dizer que vários fatores influenciaram o início deste conflito que se iniciou na Europa e, rapidamente, espalhou-se pela África e Ásia. Entretanto, ressalta-se como fator mais importante o surgimento de governos totalitários com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha surgiu o nazismo, liderado por Hitler e que pretendia expandir o território Alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive reconquistando territórios perdidos na Primeira Guerra. Na Itália estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito Mussolini com poderes sem limites. Na Ásia, o Japão também possuía fortes desejos de expandir seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Estes três países, com objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo. Um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo.

2 A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, inicia-se a última parte do livro, aonde o autor descreve o início da nova ordem mundial, o mundo bipolarizado. As divisões das áreas geográficas de influência do bloco soviético e do bloco estadunidense. A bipolaridade regeu as relações internacionais e o mundo conheceu uma verdadeira revolução científica e tecnológica, fomentada pela competição entre as economias comunista e capitalista.

Além disso, o autor ainda apresenta na terceira parte do livro um panorama de alguns países de maneira mais isolada, como o caso da China que passou por sua Revolução sob o comando de Mao Tsé-Tung, tomando-se uma nova potência comunista. Conta sobre a Guerra Fria, a ordem bipolar permaneceu até a queda do bloco soviético, incapaz de manter sua economia com os altos gastos provenientes da corrida armamentista. Os momentos finais da ordem bipolar foram simbolizados pela queda do muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991). A hegemonia capitalista passa a dominar o mundo de fins de século XX. Além de contar sobre alguns fatos de cunho mais cultural, como a popularização do cinema, da televisão, do computador e das competições esportivas internacionais.

Autoria não identificada

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Amazônia Azul, o mar que nos pertence – VIDIGAL (MB-P)

VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. Amazônia Azul, o mar que nos pertence. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006. 305 p. Resenha de: VIEIRA, André Luis A. Recursos ilimitados, captação e uso complexos. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

O autor, na presente obra, tenta reunir o máximo de informações sobre o mar, para proporcionar ao leitor uma visão geral de como o Brasil o administra. Percebe-se que o objetivo principal do livro é fazer com que o leitor pense no mar não só como uma porção d’água, cujas paisagens aguçam a imaginação romântica dos casais, mas como um recurso que pode ser aproveitado, sustentavelmente explorado e, acima de tudo, respeitado.

O livro traz esclarecimentos sobre a importância da “Amazônia Azul” e seu relevante teor estratégico para o Brasil. Ao longo de seus capítulos, aborda aspectos sociais, políticos e técnicos e, por fim, apresenta uma visão bastante apurada sobre a necessidade de melhor uso da área marítima que, quando internacionalmente contar com os seus novos limites aceitos, pode pôr o Brasil em evidência positiva no cenário mundial.

O autor, nos primeiros capítulos do livro, faz questão de abordar conteúdo social e político, não obstante apresente informações técnicas. A beleza da obra reflete-se na capacidade que seus argumentos possuem em chamar a atenção para um amadurecimento da mentalidade marítima do leitor. Isto fica patente no primeiro capítulo, uma vez que retorna à antiguidade marítima e mostra como as civilizações desenvolveram-se com o uso do mar. Além disso, faz um apelo forçado, com vistas a criar reflexões sobre aquela mentalidade, que hoje é micro, mas que deveria ser macro. No segundo capítulo, apresenta aspectos políticos, no que se refere à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que estão em pauta e são de relevante interesse dos países costeiros.

Apresenta também as divisões geopolíticas da Amazônia Azul e importantes complementos e definições acerca dos parâmetros usados para tal. O Almirante Vidigal apresentou, de forma sucinta, alguns dos mecanismos usados para persuadir a aprovação do pleito de aumento da área marítima sob jurisdição brasileira, dentre eles, pode-se citar o Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC). A leitura atenta desses capítulos traz à tona a percepção de que o mar é nosso e devemos lutar por ele.

O conhecimento, o uso e a exploração do mar, abordados nos três capítulos seguintes, resumem seu complexo funcionamento, e seu obrigatório entendimento pelos países que dele dependem. Além disso, abordam também a importância das comunicações marítimas, vias pelas quais passam todas as riquezas não só do Brasil, como também de todo o mundo, os meios utilizados para transporte e as vertentes pouco exploradas economicamente, como turismo e lazer.

Ressalta-se o potencial econômico à disposição do Brasil em forma de recursos para a produção de energia, de sal, de água potável e de minerais, seguidos por uma infinita quantidade de alimentos e fármacos.

Toda essa riqueza precisa ser protegida, e isso fica claro nos argumentos apresentados nos capítulos 6, 7 e 8. A ação do homem, tanto local quanto global, põe em risco tudo o que a natureza criou e o mar não é exceção. O autor mostra como a degradação dos ecossistemas é agravada com tais ações. Em contrapartida, discorre sobre a evolução dos instrumentos utilizados para minimizar os efeitos nocivos causados pelo progresso e pela falta de respeito com o meio ambiente, como por exemplo a Convenção Internacional sobre a Responsabilidade Civil por Danos Causados pela Poluição de Óleo (CLC/69), além de outras Convenções, Tratados e Planos. Em certa parte, a obra sintetiza rapidamente a paulatina evolução da navegação, com o consequente aumento da segurança dos navegadores, e a Marinha como órgão gerenciador dos estabelecidos nas legislações diversas.

Especificamente, o capítulo 8 trata da defesa contra posições antagônicas aos interesses brasileiros na “Amazônia Azul”, evidencia o papel do poder naval do país, seus desafios e a manutenção da garantia dos direitos adquiridos. Este capítulo também contextualiza a Marinha como ator principal nos propósitos voltados para as atividades militares e para a diplomacia naval.

Em sua derradeira parte, são apresentadas propostas consistentes, baseadas no contido nos capítulos anteriores, de gerenciamento do citado ambiente marinho. Além disso, o autor deixa clara uma discordância, em certo grau, com as responsabilidades atribuídas à Marinha pelas Leis Complementares 97/1999 e 117/2004 e, com efeito, sugere uma reorganização dessas responsabilidades, por conta, entre outras, da situação orçamentária. A ideia central dessa passagem é a promoção de uma mobilização de todos os setores da sociedade, com vistas a consolidar o uso da “Amazônia Azul” de forma legal, integrada e garantida.

O futuro do país depende, em parte, de uma sólida e consistente gestão dos recursos marinhos. Ao escrever este livro, o autor tinha sempre essa afirmação implícita em sua mente. Seu posicionamento acerca do assunto denuncia sua paixão pelo mar e sua preocupação com os desdobramentos decorrentes das ações hoje adotadas. Talvez, essas páginas, consigam cumprir o objetivo tácito do Almirante Vidigal: aumentar o entendimento da sociedade no que se refere à importância do mar.

André Luis A. Vieira – 1º. Tenente da Marinha do Brasil

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Cem Dias Entre Céu e Mar – KLINK (MB-P)

KLINK, Amyr. Cem Dias Entre Céu e Mar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 264 p. Resenha de: PINTO, Marcela Martins da Serra Vilela. Uma travessia incomum: Da África ao litoral baiano. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Cem dias entre céu e mar é uma aventura instigante e curiosa, na qual Amyr Klink, personagem principal do livro, morador da cidade de Paraty e fascinado por navegação, conta em detalhes sobre a sua travessia num barco a remo pelo Atlântico Sul. E no porto de Luderitz, na Namíbia inicia a tão esperada viagem com destino ao litoral baiano.

Foi autorizado a deixar o porto de Luderitz em 10 de junho de 1984, porém a saga começou bem antes dessa data, com planejamento e estudo sobre o barco, preparação de alimentos, metodologia de trabalho e a busca sobre relatos anteriores de travessias semelhantes.

O mesmo conversou também com parceiros e amigos de longa data a respeito da melhor rota, dos detalhes técnicos do seu barco e do porto mais aconselhável, tanto na África como no Brasil. Além disso, aconteceram inúmeras coincidências positivas que proporcionam ainda mais confiança. E assim, munido de muitas informações e com a certeza de que estava pronto para o começo dessa missão, Amyr partiu No inicio, o mesmo passava incontáveis horas remando, até que não aguentasse mais, então pensou em estipular um número de horas fixas para remar e descansar, para que o dia pudesse render mais. Assim foi feito e constatado que os resultados alcançados eram melhores.

O mesmo remava por 8 horas, com intervalos, geralmente para beber água, fazer as refeições e descansar, mas nesse tempo ele também observava e conversava com os novos amigos mais próximos, as baleias, peixes, tartarugas e aves. Ainda tinham os tubarões, que não podiam ser considerados amigos, mas a presença era normalmente discreta e respeitosa.

Nem todos os dias eram apenas de tranquilidade e trabalho, mas em nenhum momento Amyr pensou em desistir. Mesmo com as tempestades, algumas falhas na comunicação e cálculos sem precisões, o mesmo foi forte para seguir até o seu objetivo. Dessa forma, ele conseguiu chegar bem e com o barco em boas condições até o litoral baiano, na “Praia da Espera’, onde encontrou com os pescadores e assim encerrou, de forma magnífica a sua missão.

De um modo geral, o livro conta sobre uma aventura, porém muito mais que isso, trata sobre a determinação, crescimento pessoal e profissional e mostra que é possível realizar um sonho mesmo quando quase todos ao seu redor dizem que você não vai conseguir. Com isso, o leitor sente-se parte da históna, disposto a enfrentar seus medos e com vontade de realizar os seus sonhos, por mais que pareçam impossíveis.

Marcela Martins da Serra Vilela Pinto – 1º Tenente da Marinha do Brasil

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Fatos da história naval – ALBUQUERQUE; FONSECA e SILVA (MB-P)

ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto; FONSECA e SILVA, Léo Fonseca. Fatos da história naval. 2.ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2006. 184p. Resenha de: [Autoria não identificada]. A importância do poder naval no curso da história. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

A importância do poder naval no curso da história Em Fatos da História Naval, os autores afirmam que “(…) no passado o uso correto do mar – incluindo o emprego eficaz do poder naval – determinou a prosperidade de nações”; permitindo, assim, um estudo mais profundo das atividades marítimas no curso da história, demonstrando a importância dessas atividades no desenvolvimento e na manutenção da soberania das civilizações.

Nos três primeiros capítulos é traçada uma narrativa da utilização dos mares e rios pelos povos da antiguidade, fosse para o comércio ou para o ataque e logística durante os combates. Passa pela utilização do mar Mediterrâneo pelos povos ocidentais, até a navegação pelo oceano Atlântico, iniciando as grandes navegações; demonstrando o processo de evolução das embarcações, a busca por novas fontes de riquezas, e a alternância no domínio dos mares, pois, o fato de Portugal ter sido o precursor nas grandes navegações, não garantiu a sua hegemonia permanente nas novas rotas comerciais e colônias conquistadas, apontando, assim, a importância do poder naval, que é parte do poder marítimo, na consecução e manutenção dos objetivos e da soberania dos estados.

Nos quatro últimos capítulos, verifica-se que países, com poder militar tradicionalmente terrestre, pode alcançar um excelente poderio naval. A França, por exemplo, combateu, embora sem sucesso, com a Inglaterra, potência tradicionalmente marítima, na “(…) Batalha de Trafalgar, em 1805, a mais célebre batalha naval da marinha de velas, quando a Inglaterra derrotou, no mar, as pretensões de Napoleão I”. Aborda a Revolução Industrial, mencionando a utilização de máquinas a vapor na propulsão dos navios, a criação de encouraçados com canhões cada vez mais potentes, o “(…) advento do submarino. Surgido já na Guerra da Revolução Americana (1776-1783)”, e usado nas duas Grandes Guerras Mundiais; evidenciando, assim, a constante busca por inovações e suas aplicações nos meios navais, como posteriormente, o surgimento do porta aviões, do submarino nuclear, posicionando as nações em patamares diferentes. Cita o Brasil, com seu extenso litoral, apontando o surgimento da sua esquadra, a fim de consolidar a proclamação da independência por D. Pedro I, em 1822, comandada por oficiais ingleses, como “(…) Cochrane, assistido por outros oficiais oriundos da Royal Navy, como Taylor e Grenfell.” Destaca a utilização de navios a vapor e encouraçados na Guerra do Paraguai, a participação nas duas Guerras Mundiais, o teatro de operações navais; demonstrando a necessidade de adequação dos meios para cada momento dos conflitos, a importância do poder naval no desenrolar dos fatos, a renovação dos meios navais no pós-guerra e o incentivo ao desenvolvimento da indústria naval.

A obra busca transmitir ao leitor a importância do poder naval nos conflitos ao longo da história da humanidade; que se faz necessário um desenvolvimento constante do país, e em especial, dos meios navais; que o fato de o Brasil possuir um litoral com cerca de 7.000 km, há de possuir os meios navais necessários para dissuadir qualquer intento contra a sua soberania. Sendo assim, Fatos da História Naval cumpre um papel, não apenas informativo, mas esclarecedor e incentivador do desenvolvimento e manutenção do poder naval, disponibilizando as informações necessárias para forjar uma consciência marítima nos cidadãos desta nação, com grande potencial, que é o Brasil.

Sem autoria identificada.

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Este barco lambem é seu: Práticas inovadoras de gestão que levaram o USS Benfold a ser o melhor navio de guerra da Marinha americana – ABRASHOFF (MB-P)

ABRASHOFF, D. Michael. Este barco lambem é seu: Práticas inovadoras de gestão que levaram o USS Benfold a ser o melhor navio de guerra da Marinha americana. Tradução de Henrique A. R. Monteiro. São Paulo: Editora Cultrix, 2006. 200p. Resenha de: CORDEIRO, Vinícius Matheus de Oliveira. A liderança como ferramenta para a vitória. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

A obra de D. Michael Abrashoff, oficial da Marinha Americana que comandou o contratorpedeiro USS “Benfold” de 1997 a 1999, mostra como aspectos de liderança e gestão são fundamentais para o sucesso da missão de uma organização e das pessoas que a compõem. Estando em um dos ambientes organizacionais mais complexos existentes, como um Navio de guerra pronto para ser utilizado em combate, o autor explica através de exemplos reais como foi possível vencer tal complexidade através da sua influência e liderança sobre os militares do navio, e como transformou cada pessoa de bordo em um profissional eficaz, comprometido e satisfeito.

O livro é organizado em doze capítulos, mais o prefácio, introdução, epílogo e agradecimentos. Bem didáticos, os capítulos se sucedem com um padrão cronológico muito ordenado de quando um profissional assume um cargo de chefia ou comando de um grupo de pessoas. Ele apresenta os aspectos da liderança desde o primeiro contato com os liderados e o seu desenvolvimento perante a organização e ao pessoal, mostrando um caminho o qual afirma ser uma receita para o sucesso do conjunto.

O primeiro aspecto que o leitor precisa se situar ao iniciar a leitura da obra é a sua opinião quanto ao conceito do que é ser líder em uma organização. O livro logo no início coloca seu leitor em um papel de “servidor”, em vez de “servido”, característica essa muito comum em organizações seja militar ou civil, no ordenamento da relação “lider-liderados” A primeira característica de liderança descrita na obra é a de que o papel do chefe não é somente se preocupar com o resultado do trabalho das pessoas, e sim se preocupar de como estão as pessoas perante o trabalho. O desafio de tomar cada pessoa da organização o mais comprometida possível com os objetivos da instituição é o verdadeiro papel do comandante ou chefe de uma partição de trabalho. Agindo desta forma e obtendo êxito ele torna-se um líder, e o sucesso e a vitória da organização nada mais é do que uma consequência Este comprometimento é descrito no livro através da frase: “Este barco também é seu”.

O exemplo e a preocupação constantes com os subordinados são as maiores características de um líder, segundo o autor. Conseguir enxergar a organização através dos olhos do funcionário do último nível hierárquico permite uma visão total dos cantos e arestas as quais são invisíveis por uma visão superior, gerando um amplo conhecimento dos problemas existentes e ações corretivas imediatas, tendo um efeito moral positivo sobre os liderados de maneira exponencial. A confiança nas pessoas, aliada a responsabilidade delegada e ao incremento da qualidade de vida e satisfação no trabalho são os ingredientes que geram uma felicidade coletiva. A aposta do autor, correta, visto os resultados alcançados durante o seu comando daquele Navio, e a de que se cada subordinado estiver feliz, entusiasmado, satisfeito, qualificado e confiante no seu comandante, o navio automaticamente não somente cumprirá a sua missão pura e simples, mas a cumprirá de forma excepcional e acima de todas as expectativas, gerando satisfações próprias do Navio e dos seus superiores hierárquicos. Isso ele conseguiu preocupando-se desde o nível de adestramento do marinheiro mais moderno do seu navio ao padrão dos gêneros alimentícios que eram comprados.

A liderança não visa o sucesso individual do líder. Ela é o meio pelo qual o líder influencia seus subordinados para que estes se comprometam ao máximo no cumprimento da missão organizacional, seja de um navio de guerra ou de uma empresa civil. A liderança preocupa-se com a realização individual de cada pessoa do sistema, sendo o auge deste processo a satisfação plena dos subordinados em trabalharem naquele local. Tendo-se atingido este estágio, através de ações de liderança e devida justiça, a vitória e o sucesso são certos e tangíveis. Assim, esta obra é recomendada para todos que exerçam cargos de comando militar ou chefias de repartições civis. A liderança não é o fim, e sim o meio para o cumprimento de qualquer missão.

Vinícius Matheus de Oliveira Cordeiro – Capitão Tenente da Marinha do Brasil

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História das Guerras – MAGNOLI (MB-P)

MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto. 2009, 478 p. Resenha de: NUNES, Renata dos Santos. A História das Guerras e Seu Reflexo nos Dias Atuais. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Esta obra coordenada por Demétrio Magnoli apresenta a história de várias guerras em ordem cronológica, sob a perspectiva de diversos autores convidados. De acordo com o autor, países e fronteiras não estiveram sempre onde estão e nem sempre existiram. São portanto, reflexos da história humana, reflexos de seus atos e decisões.

O livro apresenta uma linguagem acessível ao abordar quinze dos mais importantes conflitos da história, cada um abordado por um diferente autor, apresentando mapas com as estratégias dos combates, como as guerras napoleônicas, a guerra civil americana, as invasões bárbaras, dentre outras.

Pode-se depreender que ao comparar as guerras da antiguidade com as mais atuais, as estratégias não apresentaram grandes mudanças. É bem verdade que os recursos tecnológicos são outros, porém, a tecnologia não alterou significativamente as estratégias de campo.

A obra porém, não trata apenas dos conflitos. Para trazer um melhor entendimento para o contexto do conflito, há também a análise do contexto histórico, cultural e social da época em questão. Ela traz também com riqueza o perfil dos personagens envolvidos. Ao ler o livro é possível perceber que, ao passar dos anos, o estudo e conclusões sobre um conflito é usado para justificar novas estratégias de guerras, evitando-se cometer os mesmos erros de outrora, embora isso não fosse garantia de vitória.

Após conhecer os quinze capítulos narrados pelos autores, é possível afirmar que a guerra está ligada a história da humanidade, segundo o próprio autor: “Eis o reconhecimento da guerra como componente intrínseco da política, ou seja, como fenômeno normalna vida das sociedades e dos Estados e, portanto, suscetível à análise racional ”.

O livro mostra que os conflitos não implicaram apenas em mortes e sacrifícios. É bem verdade que eles foram responsáveis pelo avanço tecnológico, científico e da própria humanidade. Sendo importante lembrar, ainda, a mistura cultural a que algumas nações viramse obrigadas a vivenciar, como exemplo entre Grécia e Roma, quando os romanos entram em contato com os povos de origem grega, os quais marcaram profundamente sua cultura.

Magnoli sintetiza que a essência do homem não mudou, ao concluir que “é apenas realista reconhecer que não somos muito diferentes dos gregos de 25 séculos atrás ”. A despeito de cada guerra ser um fenômeno singular, elas dialogam umas com as outras e segundo Magnoli “é sempre uma expressão de cultura, uma expressão condensada das formas de pensar, produzir e consumir das sociedades”. Heródoto já disse: “A guerra é o pai de todas as coisas”. Essa afirmativa que antecede a Guerra do Peloponeso é coerente com a atual situação mundial que nos faz desacreditar em paz mundial.

Renata dos Santos Nunes – 1º. Tenente da Marinha do Brasil

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A estranha derrota – BLOCH (MB-P)

BLOCH, Marc. A estranha derrota. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. Resenha de: [Autoria não identificada]. O desmoronamento francês frente ao inimigo alemão no século XX. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

O autor desta obra, Marc Léopold Benjamin Bloch nasceu no dia 6 de julho de 1886 em Lyon, França. Estudou na Sorbonne, onde formou-se em História. Participou das duas grandes guerras do século XX. A frente dessas duas batalhas reuniu, com sua visão de historiador, memórias de guerra, transformadas em livro e publicadas após a sua morte. As obras de Marc Bloch desencadearam uma verdadeira “Revolução da historiografia francesa”, influenciando gerações de historiadores. Na obra em análise (A estranha derrota), mesmo em condições desfavoráveis, utilizou da experiência particular das duas guerras para observar e debruçar-se sobre a derrota francesa. Longe de abordar uma história política e nacionalista, Bloch analisa a história em sua totalidade, não permitindo que os males do momento contaminassem sua capacidade de reflexão.

Marc Bloch participou dos acontecimentos que culminaram na ocupação da França pela Alemanha de Hitler, em maio de 1940. Com olhar totalmente crítico e reflexivo, peculiar a todo historiador, este autor analisa os aspectos da derrota francesa e sua rendição. O principal argumento desenvolvido por Bloch para explicar a derrota é que as classes dirigentes, Estado- Maior do Exército, sociedade morosa e forças políticas, não se preparam adequadamente para fazer frente à Blitzkrieg (guerra relâmpago alemã). Os generais franceses ainda se pegavam a táticas e ao compasso de 1918, enquanto Hittler ao contrário, utilizava seus tanques Panzer como ponta de lança na guerra, além de intensa utilização do poderio aéreo. Os franceses negligenciarem, também, a tecnologia alemã e sua tática de guerra, depositaram confiança demais na linha Maginot, linha de fortificações e de defesa construída pela França.

Uma das principais teses desenvolvidas pelo autor é a critica à ortodoxia militar francesa, presente em 1940. A forma como as ações de guerra eram traçadas sofria de certa letargia intelectual na execução, não permitindo uma eficiente organização das forças em campo de batalha, sendo frequente às tropas serem surpreendidas pelos avanços das forças inimigas. Além disso, observava os estados-maiores mal organizados com seus serviços de informação, e constituído por militares longevos. Outro ponto de vista do autor para explicar a derrota encontrava-se na política econômica permeada pela burguesia que se via ameaçada pela ofensiva das novas camadas sociais que, de certa forma, ameaçava esse grupo político e econômico acostumado a comandar. Logo, Marc Bloch denuncia a derrota intelectual como um mal presente, não só no alto-comando militar, mas que permeou toda civilização francesa e que levou à derrota frente ao poder de Hitler. As ações dos chefes militares ou os que agiam sob seus nomes, não pensaram a guerra, em outros termos: o triunfo dos alemães foi, essencialmente, uma vitória intelectual e talvez este seja o motivo mais grave desta derrota.

2 Cumpre registrar como o autor fez valer sua experiência no campo de batalha para registrar os fatos, mostrando que a história é filha de seu tempo. Para ele, não haveria descontinuidade entre passado e presente, mas um tempo contínuo, em que o passado ajudava a compreender o presente e o presente, por sua vez, ajudava a compreender o passado. E aí está o ponto fulcral que deixou de ser observado pela sociedade francesa frente ao inimigo. Era preciso problematizar esta nova guerra e aprender com o passado, como por exemplo, concepções de novas estratégias militares para suplantar o inimigo alemão. Duas guerras jamais serão iguais! Faz-se apenas uma crítica a esta obra, no qual o historiador dá ênfase à morosidade militar, sendo, também, as estruturas políticas e econômicas responsáveis por regular o uso da força na defesa dos interesses de um país. A História e os fatos são múltiplos em suas estruturas, em suas causas e sem determinismos, ou seja, multifacetadas.

Portanto, o autor faz um apanhado de toda sua experiência militar e de maior historiador do século XX para analisar a capitulação francesa frente ao poderio de guerra alemão.

Testemunha ocular, tratou do caótico cotidiano do conflito e da responsabilidade da sociedade francesa na vitória do nazismo. Lições do passado coadunadas com ações contemporâneas poderiam ditar um destino diferente daquele que foi registrado durante a Segunda Guerra Mundial para o povo francês, comprovando a frase do filósofo grego Heráclito de Efeso: “Ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio.”

Autoria não identificada

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1989: O ano que mudou o mundo. A verdadeira história da queda do muro de Berlim – MEYER (MB-P)

MEYER, Michael. 1989: O ano que mudou o mundo. A verdadeira história da queda do muro de Berlim. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. 247 p. Resenha de: MARTINS, Mônica de Azevedo. A queda do muro de Berlim: mitos e verdades. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Michael Meyer, escritor e jornalista, foi chefe da sucursal da revista Newsweek, na Alemanha Oriental, Europa Central e Balcãs, entre 1988 e 1992. Trabalhou no corpo diplomático da ONU, em Kosovo, entre 1999 e 2001. Foi porta-voz do atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Em sua obra, “1989 – O ano que mudou o mundo”, o autor desmitifica a visão simplista sobre a queda do Muro de Berlim, desvendando, por meio de uma linguagem simples e fluente, a realidade dos fatos que culminaram na instauração de uma Nova Ordem Mundial que perdura até os dias de hoje. Sob a óptica de quem vivenciou pessoalmente esse evento histórico, e teve a oportunidade de conhecer e entrevistar diversos dos seus principais personagens, o autor narra os fatos de forma leve e agradável, convidando o leitor a um verdadeiro mergulho no tempo e no espaço.

De acordo com o escritor, as economias dos países do bloco oriental estavam em pleno desmoronamento nos anos anteriores à queda. Embora fosse grande a pressão do governo de Ronald Reagan para que o muro fosse derrubado, o processo de derrocada do status quo vigente foi alavancado pelas próprias Nações comunistas, e não pela vitória do capitalismo sobre o comunismo ou dos Estados Unidos sobre a Rússia, como muitos acreditaram. Pobreza, miséria e privação de bens essenciais eram a realidade das populações da Polônia, Hungria e Alemanha Oriental, entre outras. As reformas nos campos económico e político orquestradas por Mikhail Gorbachev – a Glasnost e a Perestroika – foram um sinal de que a União Soviética não mais interviria nas mudanças que viessem a ocorrer em outros países integrantes do bloco socialista.

Nesse contexto, os húngaros foram os primeiros a abrir, literalmente, um buraco na Cortina de Ferro, ao permitir o rompimento da parte do muro que ficava em sua fronteira. Na Alemanha Oriental, a população encontrava-se confusa e dividida mas, aos poucos, ia transpondo os limites que os impedia, não somente de adquirir bens de consumo, mas de rever parentes e amigos. Nos conta o autor que a total abertura do muro, permitindo o livre acesso dos alemães orientais ao ocidente, deu-se de forma inusitada, quase como um susto, em decorrência de um pronunciamento do governo que deixou confusos tanto os guardas quanto a população que, logo que pôde, correu em direção ao sonho de liberdade.

Em todo o Leste Europeu, em maior ou menor escala, ressurgiram líderes e partidos, antes perseguidos ou extintos, associados, em alguns casos, a integrantes das próprias cúpulas comunistas, que perceberam a insustentabilidade de seus governos ou, simplesmente, precisavam de alguém em quem pôr a culpa pelo seu fracasso. Assim, o partido Solidariedade foi reconhecido na Polónia, a fim de assumir o país economicamente falido, e Václav Havei, após inúmeras e sucessivas prisões, retoma sua força política na Checoslováquia, que passará pela Revolução de Veludo, uma das mais belas e pacíficas resistências da história.

Finalmente, o autor enfatiza as repercussões do fim da Guerra Fria, principalmente quanto ao seu efeito, quase que de cunho psicológico, para os governantes Norte Americanos. Diante da pseudovitória do capitalismo, os Estados Unidos assumiram o papel de superpotência hegemónica, capaz de intervir e solucionar quaisquer problemas mundiais, enfraquecendo-se tanto economicamente, ao financiar guerras como a do Iraque, como politicamente, ao interferir sistematicamente em questões além de suas fronteiras.

Em linhas gerais, nesta obra o autor narra os fatos que precederam a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, sob o ângulo de quem teve o privilégio de presenciá-los, podendo assim perceber o que realmente foi crucial para o seu desenlace. Ao partilhar sua experiência com o leitor, Michael Meyer, além de fornecer um registro histórico franco e o mais próximo possível da verdade, convida-o a uma reflexão sobre um passado histórico recente que foi essencial para a configuração da realidade atual, bem como, para construção de um futuro no qual há cada vez menos espaço para bipolaridades ou unipolaridades, na medida em que diversas outras potências vêm conquistando seu espaço político e econômico.

Mônica de Azevedo Martins Cardoso –  1º Tenente da Marinha do Brasil

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1808 – Como Uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil – GOMES (MB-P)

GOMES, Laurentino. 1808 – Como Uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. 2 ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. 408p. Resenha de: NASCIMENTO, Aline Botelho do. A vinda da Família Real para o Brasil e a Independência. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

O livro conta à história de D. João VI, que sendo ameaçado pelas invasões de Napoleão Bonaparte, por não ter cumprido o Bloqueio Continental com a Inglaterra, foge para a sua maior colônia na época, o Brasil, para onde a Família Real transferiu a sede do governo Português, fato nunca antes visto na história conforme afirma autor.

Em 1807, Napoleão Bonaparte era o senhor absoluto da Europa. Seus exércitos tinham destronado reis e rainhas do continente europeu, numa sucessão de vitórias brilhantes e surpreendentes. Só não haviam conseguido dominar a Inglaterra. Napoleão resolveu tentar a Guerra Econômica, decretando o bloqueio continental, uma medida que previa o fechamento dos portos dos Estados Europeus aos produtos britânicos. Suas ordens foram obedecidas por todos os países exceto Portugal.

  1. João VI rei de Portugal tinha duas opções a escolher: a primeira era ceder às pressões de Napoleão e aderir ao bloqueio continental; a segunda, aceitar a oferta dos ingleses e embarcar juntamente com sua corte para o Brasil. Caso o Príncipe Regente aderisse a proposta de Napoleão, os ingleses não somente bombardeariam e sequestrariam a frota portuguesa como muito provavelmente tomariam suas colônias ultramarinas.

Ainda que o plano de fuga para o Brasil fosse antigo, a viagem foi decidida às pressas. Além disso, fatores naturais atrapalharam bastante a viagem, que não foi fácil. No plano de viagem havia um ponto de encontro onde navios poderiam ser reparados. Esse ponto era a ilha de Cabo-Verde, no qual as embarcações danificadas atracariam; após o retorno, deveriam seguir viagem rumo ao Rio de Janeiro, mas aportaram em Salvador, na Bahia, de onde partiram enfim para o Rio de Janeiro.

Com a chegada ao Rio de Janeiro, a primeira providência tomada pela Família Real Portuguesa foi a abertura dos Portos às “nações amigas”, especificamente a Inglaterra. Houve, também, a criação de uma escola superior de Medicina, outra de técnicas agrícolas, um laboratório de estudos e análises químicas e a Academia Real Militar.

A Família Real estabeleceu ainda algumas instituições no país, tais como: Gazeta do Rio de Janeiro, o Supremo Conselho Militar e de Justiça, a Intendência Geral de Polícia da Corte, o Conselho de Fazendo e o Corpo da Guarda Real, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o Jardim Botânico.

Porém, Houve também, períodos conturbados, tais como revoltas de cunhos separatistas, abolicionistas, entre outras, que exigiram o tratamento por parte da Família Real, o que devidamente debeladas, ajudaram a manter a unidade nacional central mais forte, delineando o Brasil próximo da forma como conhecemos.

Com revoltas acontecendo também em Portugal, na cidade do Porto, em 1820, D. João foi obrigado a retornar a Portugal, deixando a administração do Brasil a cargo de seu filho D. Pedro. Entretanto, para desespero de D. Pedro, quando D. João partiu para Portugal, raspou os cofres do Banco do Brasil e levou embora o que ainda restava do tesouro real que havia trazido com a “fuga” para a colônia em 1808.

A D. Pedro coube a tarefa de unificar o país, e torná-lo independente de Portugal, já que seu próprio pai, acatando deliberações da Corte portuguesa, tornava as exigências à colônia muito mais duras.

O Jornalista Laurentino Gomes, neste livro, retrata, de forma bem amigável ao leitor, a vinda e a permanência da Família Real portuguesa, e sua Corte, em 1808, e como influenciaram a vida no Brasil, culminando com a Independência em 1822. É certo que graças aos fatos que ocasionaram a mudança da corte para as terras tupiniquins o futuro do país foi mudado significativamente.

Aline Botelho do Nascimento –  Primeiro-Tenente da Marinha do Brasil

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Guerra Cibernética: a próxima ameaça à segurança e o que fazer a respeito – CLARKE (MB-P)

CLARKE, Richard A. Guerra Cibernética: a próxima ameaça à segurança e o que fazer a respeito. Rio de Janeiro: Brasport, 2015. Resenha de ALVES, Igor da Silva. A Guerra Cibernética e seus desdobramentos no meio civil. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

O aumento exponencial da conectividade e dos sistemas de automação observado na última década ocasionou, principalmente, um substancial incremento na exploração de vulnerabilidades desses sistemas. Neste contexto, o autor do livro, que possui vasta experiência nas área de espionagem e estratégia nuclear, enumera diversas ações que utilizaram o espaço cibernético como ambiente para ações ofensivas, discorre sobre as brechas dos EUA no campo cibernético e propõe, em seu epílogo, medidas para se estabelecer uma estratégia de defesa contra tais ações.

Os diversos relatos de ações ofensivas desenvolvidas no ciberespaço expostas ao longo do livro demonstram como o termo “Guerra Cibernética” deixou de ser exclusivamente militar e passou a ser cada vez mais pervasivo no meio civil. Nesse contexto o autor destaca, de forma bastante apropriada, os múltiplos ataques cibernéticos russos contra a Estônia desencadeados após o desentendimento gerado pela remoção de um símbolo patriótico russo de uma praça na cidade de Talim. Tal episódio demonstrou como ataques cibernéticos podem afetar à população civil de maneira bastante profunda.

No que concerne à defesa cibernética, são apresentadas críticas bastante contundentes em relação ao atual modelo de defesa cibernética dos EUA, no qual as Forças Armadas Norte Americanas são responsáveis pela defesa das redes militares enquanto a defesa do ciberespaço civil é atribuição das grandes empresas de comunicação que fornecem, aos provedores de internet, acesso à rede mundial. No entanto, é oportuno ressaltar que tal concepção, mesmo nos dias de hoje, certamente encontraria diversas limitações tecnológicas e altíssimo custo. Tal proposta compreenderia a análise de todo o tráfego da rede, com diminuição da privacidade online e esperada resistência da sociedade civil, tal qual foi observada nas denúncias de vigilância do tráfego da WEB, por parte do governo dos EUA, reveladas por Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA.

Ao propor uma estratégia defensiva cibernética, o autor se posiciona de maneira contrária à adoção de sistemas digitais de controle da geração de energia e transporte ferroviário. Tal alegação, segundo o autor, se deve ao fato que o dano colateral ocasionado por uma ofensiva cibernética a essas estruturas afetaria, profundamente, a capacidade de se contrapor aos ataques originários. Ao assumir uma posição antagonista à adoção de tais sistemas, o autor deixa de reconhecer os inegáveis avanços proporcionados pela modernização dos sistemas de energia e ferroviário e a atual eficácia da defesa de tais sistemas que, s.m.j., ainda não apresentaram falhas graves a ponto da sua adoção ser discutida. Também cabe ressaltar que não há relatos de atentados terroristas executados nessas infraestruturas.

Por fim, em que pese o fato do autor se posicionar, em alguns momentos, de maneira oposta à diversos especialistas no assunto – presumivelmente por ter vivenciado situações delicadas, quando ocupou o cargo de Assessor Especial do Presidente dos EUA para Segurança Cibernética – é inegável que tal obra constitui um marco no debate da questão da segurança do ciberespaço e as terríveis consequências as quais os alvos de tais ataques estão submetidos. Em tempo, é imprescindível ressaltar que, passados cerca de quatro anos da publicação do livro, armas cibernéticas com maior poder destrutivo não abordadas pelo autor já tenham sido utilizadas ou encontram-se inertes até a próxima ofensiva cibernética.

Igor da Silva Alves – Capitão Tenente da Maria do Brasil

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O Monge e o Executivo: Uma História sobre a Essência da Liderança – HUNTER (MB-P)

HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: Uma História sobre a Essência da Liderança. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2004. Resenha de:  ALMEIDA, Carlos Roberto Heckert de. A Arte de Liderar Pessoas. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.

Um dos maiores desafios do convívio em grupo, em lidar com pessoas, consubstancia-se na Arte de Liderar. Nesse contexto, o autor James C. Hunter, em sua obra “O Monge e o Executivo: Uma História sobre a Essência da Liderança” aborda, de maneira didática e ilustrativa, as várias maneiras de melhorar a capacidade de se exercer a liderança, destacando nuances que contribuem, inclusive, para o aprimoramento do convívio dos indivíduos uns com os outros.

O Autor narra a história de John Daily, homem bem sucedido na vida pessoal e nos negócios, mas que, com o decorrer do tempo, se torna nervoso, preocupado e egocêntrico, o que passa a gerar problemas no âmbito do seu trabalho e da sua família, com sua esposa e filhos. Após solicitação do pastor da sua igreja, e da própria esposa, decide frequentar um retiro espiritual de sete dias, cujo tema seria a essência da liderança e onde, inclusive, poderia encontrar Leonardo Hoffman, um renomado executivo, de grande sucesso no passado mas que há muito tinha optado pela reclusão.

Nessa jornada, John passa a cumprir horários, acordar cedo e a ter aulas todos os dias com mais cinco pessoas, de diversos setores da sociedade: Um pregador; um sargento do exército; uma diretora de escola pública; uma treinadora de time de basquete; e uma enfermeira. Nos encontros, as aulas são ministradas pelo irmão Simeão – nome dado a Leonardo Hoffman no mosteiro – que incentiva a discussão e compartilha seus conhecimentos e experiências adquiridas ao longo da sua vida profissional e de retiro.

A didática utilizada pelo autor se mostra muito dinâmica, à medida que atribuiu aos personagens, muito diferentes entre si, frases de efeito que facilitam a compreensão e o aprendizado. Logo na primeira reunião, são suscitadas pelos personagens as qualidades de um bom líder, sendo a liderança conceituada como “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum”. Outro importante assunto abordado, que muito contribui para a compreensão da influência na liderança, é a diferença entre poder e autoridade, sendo o primeiro “a faculdade de forçar alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força”, e o segundo a “habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa da sua influência pessoal”, sendo esta a mais ideal e duradoura, pois não pode ser comprada e diz respeito a quem se é como pessoa, ao respeito que se adquire.

Em seguida, os participantes do encontro são influenciados a repensar a maneira como tratam as pessoas, uma vez que os sentimentos de respeito devem ser demonstrados por meio de ações, tanto no trabalho, quanto na vida pessoal, até porque se deve ter em mente a importância de se tratar as outras pessoas da mesma maneira como se gostaria de ser tratado.

O Autor suscita, ainda, a necessidade de se identificar e mudar paradigmas, de repensar “verdades”, pois o progresso contínuo se mostra fundamental, tanto para pessoas como as organizações, uma vez que ficar preso a paradigmas ultrapassados pode nos deixar paralisados. Apesar de reconhecer a dificuldade das pessoas em aceitarem as mudanças, de citar velhos e novos paradigmas, o Autor não menciona mecanismos eficazes para a condução de tais alterações de comportamento, mas tão somente exemplos.

Em outro tópico, os participantes do retiro, mais uma vez sob a condução do irmão Simeão, são compelidos a refletir sobre a importância dos sentimentos nos relacionamentos e na liderança. Inicialmente, foi ventilado entre os personagens que, eventualmente, não se pode controlar o sentimento em relação a determinadas pessoas mas, mesmo assim, esses sentimentos não podem ter o condão de induzir a um tratamento desumano, descortês ou injusto. O amor, segundo o Autor, numa ligação direta com a liderança, manifesta-se por meio da paciência, bondade, humildade, respeito, generosidade, perdão, honestidade e confiança.

Assim, apesar de toda a magnitude e complexidade que permeia a relação entre as pessoas, o Autor, ao trazer à baila o tema liderança por meio de uma história, onde os personagens em seus diálogos utilizam, amplamente, citações de outros estudiosos, exemplos e parábolas, faz com que o tema seja abordado de forma clara e inteligível. O incentivo a se pensar as próprias verdades, a estar aberto a novos rumos, a introduzir bons sentimentos nas relações e se policiar com relação aos maus, faz com que a leitura se torne prazerosa e estimulante, com ensinamentos que fazem com que o leitor reflita sobre suas ações e comportamentos, tanto no trabalho como no convívio no lar e na sociedade.

Carlos Roberto Heckert de Almeida – CT (AA) Marinha do Brasil

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