O local, o provincial e a construção do nacional | História, histórias | 2021

San Jose de Chiquititos Santa Cruz Bolivia Foto Jery Dino MendesWikimedia Commons
San José de Chiquititos – Santa Cruz, Bolivia | Foto: Jery Dino Mendes/Wikimedia Commons

O mundo atlântico, entre finais do século XVIII e princípios do século XIX, vivenciou conturbada conjuntura revolucionária. Neste contexto, na América, as revoluções de regeneração e, no seu transcurso, as revoluções de ruptura, teriam como desdobramentos mais evidentes os processos de emancipação política dos domínios ultramarinos de suas mães-pátrias e a conformação de novo tipo de governabilidade: a dos Estados Nacionais. O processo em curso vincularia Estado e Nação, nas acepções modernas destes termos, umbilicalmente à constituição e desenvolvimento das novas unidades políticas soberanas na América.

A despeito de ter sido objeto de vasta bibliografia, iniciada ainda no século XIX, esse processo está longe de ser esgotado. Nas últimas décadas, a historiografia tem buscado, por diferentes caminhos e métodos, discutir múltiplos temas e problemas pertinentes às Independências e aos processos de construção dos Estados Nacionais. Nessa direção, indubitavelmente, uma das principais problemáticas têm sido a do governo dos territórios, seja do ponto de vista político-institucional ou sócio-identitário, e de suas relações com o “centro de poder”, aspecto nevrálgico para o entendimento das novas unidades nacionais. Leia Mais

História e Literatura: diálogos e interações | História, histórias | 2020

O dossiê História e Literatura: diálogos e interações apresenta um corpus meditativo cujas reflexões procuram estabelecer pontos de contatos entre a criação ficcional e a realidade histórica nela representada. Não é de hoje que história e literatura andam de mãos dadas, as interações e divergências entre as duas encontram ecos no pensamento ocidental desde a Antiguidade.

Aristóteles talvez tenha sido o primeiro a notar a relevância desta intersecção, conferindo-lhe legitimidade ao reformular a noção de mimese proposta no pensamento platônico. Isto porque a importância atribuída ao poeta na filosofia aristotélica resulta do reconhecimento das experiências humanas no mundo sensível, algo anteriormente negado pelo idealismo platônico. Na Poética de Aristóteles, a imitação ganhou novo status por meio da noção de verossimilhança e da experiência daquele que se relaciona com o objeto artístico, bem como os efeitos sobre ele também adquiriram novos contornos, caso das reflexões acerca da catarse. Leia Mais

História e Literatura / História, histórias / 2020

Apresentação

O dossiê História e Literatura: diálogos e interações apresenta um corpus meditativo cujas reflexões procuram estabelecer pontos de contatos entre a criação ficcional e a realidade histórica nela representada. Não é de hoje que história e literatura andam de mãos dadas, as interações e divergências entre as duas encontram ecos no pensamento ocidental desde a Antiguidade.

Aristóteles talvez tenha sido o primeiro a notar a relevância desta intersecção, conferindo-lhe legitimidade ao reformular a noção de mimese proposta no pensamento platônico. Isto porque a importância atribuída ao poeta na filosofia aristotélica resulta do reconhecimento das experiências humanas no mundo sensível, algo anteriormente negado pelo idealismo platônico. Na Poética de Aristóteles, a imitação ganhou novo status por meio da noção de verossimilhança e da experiência daquele que se relaciona com o objeto artístico, bem como os efeitos sobre ele também adquiriram novos contornos, caso das reflexões acerca da catarse. Leia Mais

O lúdico e a história: caminhos de pesquisa e ensino | História, histórias | 2019

Em 1938 o medievalista holandês Johan Huizinga publicou Homo ludens: o jogo como elemento da cultura (Homo ludens. Proeve eener bepaling van het spel-element der cultuur), a primeira obra dedicada a examinar o elemento lúdico nas culturas e sociedades humanas. Em 1990, o assiriologista britânico Irving Finkel organizou um colóquio no Museu Britânico que deu origem à International Board Game Studies Association. Onze anos depois, a revista online Game Studies (Suécia/Dinamarca) publicava seu primeiro número, no qual o editor Espen Aarseth declarava 2001 como o “ano um” dos estudos de jogos eletrônicos.

Embora o campo tenha demorado a se constituir como uma área independente, a produção dos estudos lúdicos nos últimos vinte anos é tão vasta que se torna impossível listá-la. Impulsionada pela popularidade dos jogos eletrônicos, a ludologia se enraizou e se expandiu abarcando áreas previamente inimagináveis como o uso de jogos para a produção artística, o estudo das ‘economias virtuais’ internas aos jogos, a análise das ‘culturas lúdicas’ criadas pelos jogadores interconectados ao redor do mundo, o efeito dos jogos na saúde (especialmente os benefícios de jogar para idosos), a aplicação de conceitos lúdicos na administração de negócios reais ou em políticas públicas, entre outras. Leia Mais

Lúdico e História / História, histórias / 2019

Apresentação

Em 1938 o medievalista holandês Johan Huizinga publicou Homo ludens: o jogo como elemento da cultura (Homo ludens. Proeve eener bepaling van het spel-element der cultuur), a primeira obra dedicada a examinar o elemento lúdico nas culturas e sociedades humanas. Em 1990, o assiriologista britânico Irving Finkel organizou um colóquio no Museu Britânico que deu origem à International Board Game Studies Association. Onze anos depois, a revista online Game Studies (Suécia/Dinamarca) publicava seu primeiro número, no qual o editor Espen Aarseth declarava 2001 como o “ano um” dos estudos de jogos eletrônicos.

Embora o campo tenha demorado a se constituir como uma área independente, a produção dos estudos lúdicos nos últimos vinte anos é tão vasta que se torna impossível listá-la. Impulsionada pela popularidade dos jogos eletrônicos, a ludologia se enraizou e se expandiu abarcando áreas previamente inimagináveis como o uso de jogos para a produção artística, o estudo das ‘economias virtuais’ internas aos jogos, a análise das ‘culturas lúdicas’ criadas pelos jogadores interconectados ao redor do mundo, o efeito dos jogos na saúde (especialmente os benefícios de jogar para idosos), a aplicação de conceitos lúdicos na administração de negócios reais ou em políticas públicas, entre outras.

A Historiografia não se manteve à parte desses desenvolvimentos. Por um lado, ela se enveredou em um tipo de estudo bastante venerável e tradicional: os jogos como instrumento de ensino. De fato, a pedagogia tem, por muito tempo, explorado a ludicidade: Platão já discutia o tema há 2.500 anos e os mais importantes pedagogos do século XX, como Piaget e Vygotsky, ou o pediatra britânico Donald Winnicot dedicaram páginas à questão.1

Um marco importante para esse tipo de estudo foi a tese de doutoramento (2004) do norte-americano Kurt Squire, hoje professor na Universidade da Califórnia em Irvine, sobre o jogo eletrônico Civilization III como forma de aprender história. Nela, Squire analisou importantes questões teóricas e realizou estudos de diferentes aplicações do jogo ao ensino, mostrando que era possível discutir conceitos historiográficos por meio de um jogo eletrônico.2 No Brasil, até hoje essa é a subárea da ludologia mais explorada pelos historiadores, com publicações recentes como Jogos e ensino de história ou Ensino de história e games.3

Mas a historiografia também criou uma subárea própria dentro da ludologia, o estudo de jogos históricos.4 Aqui, o marco fundamental foi o texto do norte-americano William Uricchio, ‘Simulation, history, and computer games’, publicado em 2005 como um dos capítulos do Handbook of Computer Game Studies. Afastando-se da ‘aplicação’ de jogos à outras áreas (como o ensino) ou da análise isolada de seu conteúdo (e, portanto, da questão simplificadora de saber se o jogo era ‘fiel’ à realidade histórica como discutida na historiografia profissional), Uricchio analisou os jogos como uma ‘forma’ de historiografia, buscando compreender as características e implicações desse modo de fazer história, incluindo as teorias históricas que os jogos – com frequência inconscientemente – expressavam.

Essa nova subárea ainda é muito pequena em comparação com outros campos do estudo ludológico e menor ainda quando comparada com outros campos da pesquisa e da teoria historiográfica. Não obstante, trata-se de um horizonte de investigação em expansão com imenso potencial inexplorado, no qual começam a surgir contribuições deveras interessantes. Arrisco-me a listar, sem a intenção de ser exaustivo, as coletâneas Playing the past. History and nostalgia in video games, editada por Zach Whalen e Laurie Taylor (2008), Playing with the past. Digital games and the simulation of history, editada por Matthew W. Kappell e Andrew B. R. Elliott (2013) e Early modernity and video games, editada por Tobias Winnerling e Florian Kerschbaumer (2014), além do instigante livro de Adam Chapman, Digital games as history. How videogames represent the past and offer access to historical practice (2016).

Neste dossiê, dois artigos caminham por essa nova seara dos estudos históricos. Alex Alvarez Silva, em Simulações do tempo histórico em jogos eletrônicos: a estrutura procedimental da história universal em Sid Meier’s Civilization, analisa o tempo histórico conforme estruturado na popular série de jogos eletrônicos Civilization (1991-hoje). Conjugando a leitura de ludologistas como Jesper Juul com a de historiadores como Adam Chapman e Jörn Rüsen, o professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia investiga a temporalidade do jogo, confrontando-a com noções como ‘consciência histórica’ e derivando questões interessantes para a constituição de uma cultura histórica pelos jogadores.

Marco de Almeida Fornaciari, em Progredir ou perecer: modernidade, aceleração da história e etnocentrismo em Sid Meier’s Civilization, analisa igualmente o tempo histórico na mesma série de jogos, mas de um ponto de vista diferente, relacionando o sucesso no jogo ao domínio da temporalidade. De fato, caso o jogador deseje ‘vencer o jogo’, ele deve maximizar uma série de fatores que lhe permitam manter-se na temporalidade ‘correta’ ou, ao menos, ‘à frente’ de seus concorrentes no tempo da história (conforme narrada pelo jogo). Confluindo noções antropológicas e historiográficas, o artigo de Fornaciari complementa e expande os elementos discutidos por Alvarez Silva em seu texto.

O ensino de história e a sala de aula também se encontram representados neste dossiê. Rodrigo Cardoso Soares de Araújo, em “Nunca foi tão divertido descascar batatas”: os jogos como possibilidade a ser explorada no ensino de História, analisa a ludicidade em sala de aula de um amplo ponto de vista, destacando os chamados ‘jogos educativos’, tanto em suas potencialidades quanto limitações. O texto do professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, traz diversas considerações teóricas e práticas sobre a ludicidade em sala de aula e certamente constitui uma contribuição instigante para professores que desejem se aventurar pelo caminho dos jogos.

Laura Bossle Caríssimi e Roberto Radünz, em A Ditadura Civil Militar e o ensino de História: o jogo Arquivo 7.0, tomam uma perspectiva bem mais específica: a análise da história recente do Brasil em um jogo de tabuleiro particular. A partir da aplicação do jogo em sala de aula, os autores discutem as percepções discentes a respeito da história recente e como o jogo colabora para construir essas percepções em conjunto com outras fontes da prática pedagógica. Um interessante exercício das possibilidades educacionais do lúdico.

Por fim, Mateus Pinho Bernardes, em Reflexões sobre o lançar de dados em sala de aula: considerações sobre o desenvolvimento de um jogo de tabuleiro moderno para o ensino de História e suas possibilidades, apresenta suas experiências com jogos em sala de aula. Depois de uma profunda análise das possibilidades oferecidas pelo tabuleiro, o texto envereda por um caminho diferente e até então inexplorado neste dossiê: a criação de um jogo para uso em sala de aula. Tentando sanar uma dificuldade em relação a um recorte da história brasileira na primeira república, o autor produziu um jogo novo que abordasse a conjuntura da época e propusesse problemas para os alunos.

Embora tenhamos aqui um conjunto diversificado de artigos, que abordam temáticas e problemas múltiplos, ainda resta um grande potencial inexplorado. Mais do que um panorama das pesquisas atuais, este dossiê pretende ser um convite aos colegas para pensarmos o lúdico e imbricarmos o jogo cada vez mais à produção historiográfica. Os jogos históricos continuarão a ser produzidos e, se o sucesso de séries como Civilization ou Assassin’s Creed for algum parâmetro, cada vez mais pessoas aprenderão mais história por meio de jogos. Cabe a nós, historiadores, decidir se queremos fazer parte desse processo.

Prof. Dr. André Pereira Leme Lopes. Professor da Universidade de Brasília, Brasil. Doutor em História pela Universidade de Brasília, Brasil. e-mail: [email protected].

Organizador

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Manuscritos medievais da Universidade de Brasília / História, histórias / 2019

Apresentação

Era uma vez três belos códices, certamente produzidos em algum mosteiro português entre os séculos XIV ou XV, que muitos anos depois, por volta de 1925, foram adquiridos na Vila do Conde, em Portugal, pelo Dr. Jorge de Faria. Nessa época, já não eram mais “códices”. Eram folhas de pergaminho soltas, pouco mais de 200, oriundas certamente de algum mosteiro ou casa religiosa de que saíram, ou por causa da extinção das ordens em 1834, ou por causa de atos violentos que se seguiram relacionados aos movimentos que levaram à proclamação da República em Portugal, em 05 de outubro de 1910.

Por volta de 1925 estavam emprestados à Biblioteca Nacional de Lisboa, onde foram lidos e copiados por Pedro de Azevedo.

Quem nos conta essa história é Serafim da Silva Neto (1956), ilustre filólogo brasileiro, no seu livro Textos medievais e seus problemas.

Alguns anos mais tarde, o também filólogo e linguista Nelson Rossi nos informa que esses textos foram adquiridos pelo erudito professor Silva Neto que os teria trazido para o Brasil em 1950.

Em 1964 foram vendidos pela viúva do professor Serafim, a Sra. Cremilda de Carvalho e Silva, à Universidade de Brasília (UnB).

Nesse mesmo ano, um dos documentos foi levado para restauração na Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, e os outros dois seguiram para Universidade Federal da Bahia aos cuidados do Prof. Nelson Rossi.

Em 1972 os manuscritos são levados novamente à Universidade de Brasília em razão da inauguração do atual prédio da sua Biblioteca Central (BCE), onde permanecem até hoje sob os devidos cuidados que recomendam sua importância.

Infelizmente, entre os “mais de 200 fólios” mencionados por Silva Neto e os que a Universidade de Brasília dispõem hoje, faltam algumas dezenas. O recibo de compra dos documentos não especifica a quantidade de fólios adquirida, mas atualmente, restam apenas 168 fólios e meio.

Os manuscritos aos quais nos referimos são escritos em português arcaico e configuram um tesouro histórico e linguístico incomparável posto representarem, em terras brasileiras, os primeiros monumentos da Língua Portuguesa e trazerem toda a carga da cristandade lusitana que tanto influenciou a formação da nossa sociedade.

Durante essa estada no Nordeste, esses mesmos manuscritos influenciaram, diretamente, na composição de dois núcleos de pesquisa consolidados na Universidade Federal da Bahia, nas áreas de Filologia e Linguística histórica, gerando diversos estudos sobre eles e a edição de dois dos documentos. Na Universidade de Brasília também são importantes fontes históricas exploradas pelos diversos cursos que ela mantém, mas principalmente atendendo ao Programa de Estudos Medievais do Departamento de História.

A origem exata de sua produção é ainda desconhecida, mas a tese que prevalece, baseada em referências de catálogos da biblioteca medieval do Oratório de São Clemente das Penhas, em Leça da Palmeira, Portugal, é de que sejam oriundos de algum mosteiro ao norte de Portugal, nas proximidades de Braga.

Os documentos/monumentos medievais – os famosos “manuscritos medievais da UnB” – são o fragmento de oito fólios e meio do Livro das Aves, 79 fólios dos Diálogos de São Gregório e 81 fólios do Flos Sanctorum. Pensando em difundir e dar a conhecer a um público mais amplo os manuscritos medievais da UnB, os documentos se encontram agora acessíveis através do site da Biblioteca Central da universidade, no endereço http://bdce.unb.br.

Assim, o leitor deste número especial terá acesso aos textos que abordam desde os aspectos mais exteriores dos documentos até análises mais aprofundadas das características internas dos três manuscritos.

Saul António Gomes, investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, parte do universo da codicologia na qual se insere o livro religioso medieval em território português para tecer considerações relativas aos três manuscritos medievais pertencentes a Universidade de Brasília. Segundo o historiador português, “os manuscritos medievais da UnB não intermedeiam um texto originariamente em latim, mas antes um texto traduzido em língua portuguesa para melhor compreensão dos leitores a que se destinavam”.

Américo Venâncio Lopes Machado Filho, pesquisador do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, afirmando serem os manuscritos medievais da UnB os documentos mais antigos escritos em língua portuguesa existentes no Brasil, discute aspectos linguísticos como comprobatórios do valor maior desses manuscritos, qual seja, a possibilidade de representarem a variação e os processos de mudança culturais ao longo da história refletidos nos aspectos da memória linguístico-literária, ainda livre das amarras normativas.

Cláudia Costa Brochado, também do Programa de Estudos Medievais da Universidade de Brasília, apresenta uma possibilidade de análise dos manuscritos medievais da UnB em sala de aula como fonte documental para compreender melhor a Idade Média e faz isso através do exemplo bem-sucedido de análise das personagens femininas, como Benedita e Pelágia do Flos Sanctorum.

Maria Aparecida Torres Morais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, investiga a ocorrência de possessivos na língua portuguesa do séc. XIV e no português brasileiro contemporâneo considerando a distribuição do pronome seu pré-nominal na relação com outras estratégias de expressão da posse a partir do estudo do texto presente nos fólios do Flos Sanctorum. As conclusões da pesquisadora corroboram com as características inovadoras do português do Brasil.

Heloisa Salles, Rozana Naves e Eloisa Pilati, pesquisadoras do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, trazem mais uma possibilidade de análise linguística dos documentos. Contextualizando a socio-história do português brasileiro, a partir dos Diálogos de São Gregório, a investigação das orações reduzidas de infinitivo no português arcaico que apresentam, demostra que, “a despeito das propriedades inovadoras em relação ao sistema pronominal e flexional, o infinitivo flexionado se mantém produtivo nessa língua”.

Todos estes temas e debates acerca dos três manuscritos medievais da Universidade de Brasília nos levam a fazer, a exemplo de Machado Filho em seu artigo aqui apresentado, uma justa homenagem “às memórias de Rosa Virgínia Mattos e Silva e Nelson Rossi e a todos os que contribuem para a preservação e divulgação de espólios documentais e, em especial, dos Manuscritos Serafim da Silva Neto”.

Referências

ROSSI, Nelson et al. Livro das Aves. Edição crítica, introdução e glossário. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1965.

SILVA NETO, Serafim. Textos medievais e seus problemas. Rio de Janeiro: MEC; Casa Rui Barbosa, 1956.

Profª. Drª. Alícia Duhá Lose. Professora da Universidade Federal da Bahia, Brasil. Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia, Brasil. Pós-Doutora em História pela Universidade de Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected].

Organizadora

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Sexualidades disparatadas / História, Histórias / 2018

Apresentação

Em 2016, publicamos na revista Esboços (v. 23, n. 35), o dossiê “Quando Clio encontra as ‘sexualidades disparatadas’”, [1] que, inspirado pelas reflexões de Michel Foucault, especialmente, aquelas presentes no primeiro volume da sua História da Sexualidade [2] tinha como objetivo problematizar as homossexualidades, lesbianidades e transexperiências na historiografia brasileira.

As pesquisas históricas reunidas naquele dossiê, indícios de uma produção historiográfica marcada pelo uso criativo de fontes tradicionais e o estabelecimento de novas fontes históricas; pelo privilégio do século XX como recorte temporal (em parte, por este testemunhar a politização das “identidades sexuais”); pelo registro da pluralização das experiências homossexuais (a sigla LGBT representa um recorte histórico recente nesse cenário sexual e político), revelaram que Clio encontrara, não sem resistências, as “sexualidades disparatadas”.

O presente dossiê da Revista História, histórias do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília – UnB, amplia o debate iniciado em 2016, ao mesmo tempo em que inaugura outras, novas narrativas históricas sobre as “sexualidades disparatadas”, acontecimento que tem contribuindo para a transformação da nossa disciplina.

Nesse sentido, já não se trata mais de (somente) problematizarmos o surpreendente silêncio de Clio acerca das homossexualidades, que marcava a historiografia brasileira, até o início da década de 2000. Nem tampouco, de (apenas) nos perguntarmos por que os/as historiadores/as no Brasil se dedicaram tão timidamente ao estudo das homossexualidades, [3] mas, de lançamos olhares críticos para a recente e diversificada produção historiográfica sobre as sexualidades que se “desviam” da norma heterossexual: Que outras histórias estão sendo gestadas do encontro entre Clio e as “sexualidades disparatadas”? Neste número da História, histórias, o/a leitor/a conhecerá algumas das histórias paridas desse encontro.

As práticas sexuais não normativas, apresentadas por Pietro Aretino nas obras Pornólogos I (1534) e Sonetos Luxuriosos (1525), são o objeto de reflexão de Alloma Noara Pereira Modzelewski, no artigo “Que nossa gula o quer na frente e atrás”: práticas sexuais destoantes na literatura de Pietro Aretino. O diálogo de Modzelewski com Paul B. Preciado, Jacques Rancière e Georges Didi-Huberman revela o quanto a escrita das outras histórias que emergem do encontro entre Clio e as “sexualidades disparatadas” estão atravessadas pelos (des) encontros entre história e filosofia.

Em Regulamento da prostituição, família e imprensa (Belém-PA, 1890), Ipojucan Dias Campos, historiciza o regulamento da prostituição e as suas ligações com a família belenense, feitas pela imprensa, no final do século XIX. A partir da leitura do seu artigo, acompanhamos como a preocupação com as mulheres que “deambulavam” pelas ruas de Belém apresentou-se oficialmente por meio da aprovação do regulamento da prostituição no final do século XIX.

No texto Encenando com o martelo: abjeção e sexualidade no espetáculo teatral “Genet – O palhaço de deus”, Kauan Amora Nunes nos convida a olhar, sob a perspectiva queer, a encenação teatral “Genet – O Palhaço de Deus”, levada aos palcos de Belém, em 1987. O autor nos lembra de que não apenas a sexualidade, neste caso, a homossexualidade, é apagada da história oficialmente contada, mas a própria produção teatral vinda do Norte do país.

Em Entre o desejo e o pecado: sodomia e sexualidade no Grão-Pará (séculos XVII e XVIII), Márcio Douglas de Carvalho e Silva problematiza como o Santo Ofício tentou disciplinar os habitantes no território luso-brasileiro, enquadrando-os nas regras ditadas pela Igreja Católica e pelo Estado português. Para tal, Carvalho analisa seis processos que datam dos séculos XVII e XVIII, entre eles, o de Frei Lucas de Souza, considerado pelos inquisidores um “sodomita incorrigível”.

A arte teatral é objeto de reflexão histórica no texto de Natanael de Freitas Silva. Em Dzi Croquettes e as masculinidades disparatadas, Silva realiza um debate sobre a ditadura civil-militar brasileira e as relações de gênero e sexualidade no período, a partir do grupo teatral Dzi Croquettes. Em seu texto, o historiador mostra que as performances artísticas do grupo contribuíram para deslocar as posições de gênero e sexualidade e amplificar práticas e desejos que fogem da norma masculina heterossexista.

Existências (in) pensáveis, vivências condenáveis: quando a vida se torna prescritiva, de Rafael França, apresenta uma reflexão sobre a histórica formação da ideia de um modo de vida prescritivo. A partir do diálogo com Michel Foucault e da discussão sobre gênero e sexualidade, o autor mostra que a possibilidade criativa de uma existência ética e livre pode ser transformada em uma reiteração das normas e hierarquias existentes.

Em Concubinas e poderosas: feitiçaria e poder feminino nos sertões das minas gerais no século XVIII, Rangel Cerceau Netto historiciza a dinâmica do universo religioso e das atividades laborais desenvolvidas por mulheres mestiças no sertão do Rio das Velhas. A trajetória de Timótia Nogueira é analisada para pensar escravidão, os trânsitos e mestiçagens no complexo universo colonial da América portuguesa setecentista.

Finalizamos o dossiê com uma entrevista com o historiador James N. Green, que este ano lançou Revolucionário e Gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel, pioneiro na luta por democracia, diversidade e inclusão. [4] O encontro foi realizado em Florianópolis, em 1º de agosto de 2017, na residência da historiadora Joana Maria Pedro, durante o 13º Congresso Mundos de Mulheres, realizado juntamente com o Seminário Internacional Fazendo Gênero 11. Agradecemos ao historiador James N. Green pela disponibilidade e a Joana Maria Pedro por nos receber em sua casa.

Esperamos que o/a leitor/a encontre nestas outras histórias de Clio não somente novas maneiras de fazer história, mas, também, novas estéticas e éticas de viver o presente (com a história).

Aproveitamos para agradecer à equipe da Revista História, histórias, especialmente, ao historiador André Cabral Honor, pela acolhida da nossa proposta e pelo diálogo ao longo do processo de produção deste dossiê.

Boa leitura!

Notas

  1. O número em questão está disponível no seguinte link: https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/issue/view/2420/showToc. Acesso em 02 de dezembro de 2018.
  2. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal, 2009.
  3. PEDRO, Joana Maria; VERAS, Elias Ferreira. Outras histórias de Clio: escrita da história e homossexualidades no Brasil. In: SOUSA NETO, Miguel Rodrigues; GOMES, Aguinaldo Rodrigues (org.). História e Teoria Queer. Salvador: Editora Devires, 2018, p. 123-142.
  4. GREEN, James N. Revolucionário e Gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel, pioneiro na luta por democracia, diversidade e inclusão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Júnior

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil

Prof. Dr. Elias Ferreira Veras

Universidade Federal de Alagoas – Brasil

Organizadores

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História Social da Arte / História, histórias / 2018

Apresentação

Este dossiê reúne artigos que analisam criações artísticas (visuais e literárias) de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos da História Social da Arte, cujo princípio fundamental é a indissociabilidade do estudo da obra de arte, do artista e da sociedade na qual, ou para a qual, foi concebida. Os sete textos que compõem o presente dossiê cobrem, juntos, um extenso período histórico: do século XVI ao XXI.

O artigo de Maria Leonor Garcia da Cruz apresenta reflexões sobre o pensamento político, social e espiritual do século XVI a partir do cruzamento de criações das belas-artes e das belas-letras, tendo como fontes de pesquisa obras de Hieronymus Bosch (c.1450-1516), Hans Holbein, o Moço (1497/98-1543), César Ripa (c.1555/60-1622), Alciato (1492-1550), Gil Vicente (1460/70-c.1536), Thomas More (1478-1535) e Maquiavel (1469-1527). Considerando que “o homem do século XVI é naturalmente crente”, a autora investiga os discursos quinhentistas – principalmente as criações textuais e visuais de cunho sarcástico e irônico – destacando os seguintes aspectos: a) a soberba e a ambição voraz , “ou seja, a opção pelo fraudulento e efêmero, em lugar de uma elevação da alma e de conduta ética, moral e política”; b) “a arbitrariedade do governante, contrapondo a tal conduta objectivos que lhe são superiores, limites morais e práticos, das modalidades de escolha ao uso do conselho e de outras técnicas de governo”; c) a “crueldade do exercício da justiça e sobretudo o desvio (não por incapacidade, mas intencional) de uma prática regulada por lei, sussobrante a subornos e favoritismos”. Seu estudo demonstra que a prédica do período, seja por meio da ironia, da idealização, ou mesmo da utopia, esforça-se “por endireitar um mundo que parece irremediavelmente invertido”.

Sabrina Mara Sant’Anna examina em seu artigo a importância do decoro do sacrário eucarístico no Bispado de Mariana, verticalizando a investigação de casos ocorridos entre 1745 e 1779 em que o Santíssimo Sacramento precisou ser transferido para uma casa provisória por estar a sua casa indecente. Debruçando-se sobre a legislação eclesiástica americana portuguesa, as cartas provenientes de visitas pastorais e a documentação confrarial setecentista, a autora apresenta “a teia de relações que envolvia os devotos, os artistas/artífices, as autoridades eclesiásticas e o padroado régio” quando o assunto era a fatura de um altar-retábulo com sacrário destinado ao armazenamento da reserva eucarística. Nos três casos analisados no artigo – Matriz do Ribeirão do Carmo (elevada à Catedral de Mariana em 1745), Matriz de Santo Antônio do Ribeirão de Santa Bárbara e Matriz das Congonhas do Campo – Sabrina verifica a indispensabilidade do decoro da casa do Santíssimo, “inclusive quando a referida casa era apenas provisória (normalmente um sacrário de altar confrarial localizado na nave dos templos usado enquanto o tabernáculo eucarístico estava impedido, isto é, em obras, ou indecente e precisando de obras)”.

Camila Fernandes Guimarães Santiago analisa em seu artigo a produção do Missal Romano e suas estampas editados em Portugal a partir 1760, época em que as políticas econômicas protecionistas adotadas pela coroa favoreciam as concessões de privilégios de impressão aos naturais do reino e proibia a importação de missais estrangeiros, sobretudo os advindos de casas tipográficas localizadas em Veneza e Antuérpia. O primeiro beneficiário foi o editor lisboeta Francisco Gonçalves Marques, cuja concessão foi renovada três vezes desde de 1760 até que, por decreto da rainha D. Maria I, em 1779 o monopólio foi transferido para a Regia Officina Typpographica. A autora destaca que na Capitania das Minas, região interiorana da América Portuguesa, a política de reserva de mercado operada pela coroa ocasionou a predominância dos missais editados após 1780, “o que interferiu, por sua vez, no universo de insinuações artísticas europeias ali disponíveis, uma vez que suas estampas apresentavam pendores classicizantes, de origem italiana”.

O artigo de Roselene de Souza Ferrante apresenta um estudo sobre Pasquale De Chirico, escultor italiano que se formou na Real Academia de Belas Artes de Nápoles e que imigrou para o Brasil durante a Primeira República. A ele atribui-se a primeira fundição artística de São Paulo, cidade onde morou e realizou bustos e estátuas públicas de José Bonifácio (em Santos), Coronel José Joaquim (em São João da Boa Vista) e Nossa Senhora da Conceição (fachada da antiga Catedral em Aparecida do Norte). Em Salvador, onde passou a residir a partir de 1905, Pasquale de Chirico executou diversos conjuntos de estatuária pública: Barão do Rio Branco, Visconde de Cairú, Dom Pedro II, Conde dos Arcos, Padre Manoel da Nóbrega e Castro Alves, além de lecionar escultura na Escola de Belas Artes da Bahia e contribuir, portanto, para a formação de artista locais. Também foi na Bahia que o imigrado italiano realizou em 1936 uma exposição apresentando o negro como objeto artístico. Embora os estudos raciais estivessem na pauta de discussão dos intelectuais brasileiros, inclusive na Faculdade de Medicina e no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Roselene enfatiza que “em Pasquale De Chirico não há o desejo de retratar o tipo negro como um dado científico. Existe interesse em registrar o sujeito cotidiano, possivelmente, o que lhe parecia exótico”.

Em seu artigo Dagmar Manieri analisa a estrutura mitológica de Macunaíma – romance de autoria do modernista Mário de Andrade – tendo como referência os estudos de Lévi-Strauss e o contexto histórico, social e político do Brasil na década de 1920. Discorrendo sobre as razões da dissidência ocorrida no interior do Partido Republicano Paulista (PRP) e a consequente formação do Partido Democrático (PD), Dagmar destaca a atuação de Mário de Andrade como líder cultural dessa nova elite política que se opunha ao modelo de modernização urbana implementado no Rio de Janeiro, capital federal à época. O PD defendia a renovação democrática (tanto do pensamento político, quanto dos grupos dirigentes), a participação popular e, sobretudo, “a difusão do ensino em todos os graus”, pois só assim o Brasil se tornaria de fato moderno. Para Dagmar Manieiri o romance que Mário de Andrade publicou no final da década de 1920 sob o título Macunaíma “deve ser entendido como parte de uma reação ao modelo de modernização autoritária executada na Presidência de Rodrigues Alves (1902-1906) na Capital Federal”.

O artigo de Liszt Vianna Neto destaca a carência de pesquisas sobre a influência de artistas modernistas imigrados de países de língua alemã na gênese do modernismo carioca e apresenta um estudo sobre a trajetória e a produção artística de Leo Putz, pintor austro-húngaro que chegou ao Brasil em 1929 já sexagenário. Liszt discute a reforma modernizante implementada na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no início da década de 1930 pelo então diretor Lúcio Costa e as críticas nacionalistas que recaíram sobre sua atuação, agravadas ainda mais pela contratação de três professores estrangeiros, entre eles Leo Putz. A admissão deste reconhecido mestre da pintura moderna alemã como professor de Composição na ENBA foi apoiada e defendida por Cândido Portinari, Hernani de Irajá e José Marianno Filho. Durante os quatro anos em que esteve no Brasil (passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia) Putz se entregou “ao basbaque e à maravilha da natureza e da luminosidade dos trópicos”, alterando completamente sua paleta de cores. Em 1933 ele voltou para a Alemanha, onde faleceu em 1940. Sua passagem pela ENBA, conforme destaca o autor, contribuiu para a formação da primeira geração de modernista cariocas.

O artigo de Sandra de Cássia Araújo Pelegrini e Gustavo Batista Gregio apresenta investigação sobre o engajamento artístico e social na obra de Vik Muniz, tendo como objeto principal de estudo as séries de retratos The Sugar Children (Crianças de Açúcar) e Pictures of Garbage (Retratos do Lixo) realizadas respectivamente em 1996 e 2008. Os autores discutem a influência da Pop Art na obra de Vik Muniz, em especial a produção artística de Andy Warhol que criticava “o consumismo exacerbado da sociedade contemporânea”. Para os autores, “artistas como Andy Warhol ou Vik Muniz devem ser abarcados como agentes sociais que interagem e dialogam com suas realidades, representando suas próprias visões de mundo em uma linguagem própria”. Sandra e Gustavo consideram que para Vik Muniz “a arte tem como ‘função’ interferir no cotidiano das pessoas” e modificar a perspectiva delas em relação a si mesmos e aos outros e é exatamente isso que os autores discutem ao analisarem as séries The Sugar Children e Pictures of Garbage. Na primeira o artista utilizou o açúcar para retratar a “doçura pueril” de crianças, cujos pais trabalhavam em canaviais localizados no Caribe, chegando a jornadas exaustivas de mais de 16 horas e, na segunda, usando de material reciclado, retratou sete catadores de lixo do maior aterro sanitário da América Latina: o Jardim Gramacho.

Na esperança que este dossiê inspire novas pesquisas e contribua para o avanço da História Social da Arte, subscrevo-me desejando a todos uma boa leitura.

Prof ª Drª Sabrina Mara Sant’Anna

Setembro de 2018.

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História e Ensino de História: produção de saberes na formação e prática docente / História, Histórias / 2017

Apresentação

O dossiê intitulado Ensino de História, representa uma contribuição ao campo da formação de professores de História. As discussões acerca do Ensino de História têm se ampliando substantivamente o que, sem dúvida, aponta para a importância cada vez mais crescente de uma área que se consolida, pondo em relevo o trabalho daqueles que se dedicam ao fazer docente.

Nesse sentido, trazemos um conjunto de artigos com discussões devidamente contextualizadas que potencializam o debate da formação de professores de História, bem como renovam o nosso fazer e nos fortalece no contexto social a partir de práticas políticas, educativas e sociais muito amplas. São, portanto, produções que dotam de sentido o papel docente.

O presente dossiê aborda desde a prática docente ao uso de linguagens, e, por certo, contribuirá para/com o cotidiano escolar. Isto se constituiu efetivamente em uma das motivações da sua elaboração, ou seja, termos uma produção que também tem a aspiração de chegar aos Professores de Educação básica. Isto certamente, possibilitará que as investigações acadêmicas dialoguem com este universo, favorecendo o processo de atualização dos docentes, nos aspectos teóricos, metodológicos e historiográficos.

Com a proposição da temática, queremos que a edição seja mais um meio de discussões sobre os processos de ensino e aprendizagem de história, onde se analisem os aportes mais recentes e sua contribuição para a formação dos profissionais de história. Notadamente, quando chegamos a segunda década do século XXI assistindo os mais variados acontecimentos no contexto educacional e social, não só pelo número aterrador de conflitos, políticos, sociais e econômicos, como também a imensa quantidade de informações que nos chegam, quer sejam pelos meios de comunicação, quer sejam pelas chamadas redes sociais. Informações rápidas e superficiais.

Dessa maneira, o ensino de História exerce um papel muito importante e fundamental para poder compreender esse cenário e a sociedade da qual fazemos parte. Em vista disso, é evidente que a história, hoje, mais que nunca, requer compreensões minuciosas acerca do contexto em que vivemos.

Em sendo assim, a Revista História, Histórias do programa de pós-graduação em História da Universidade de Brasília – UnB, coloca o atual número à disposição do público, em particular aos leitores especializados, um conjunto de textos que está construído para apoiar a reflexão e a renovação no contexto escolar e na formação docente na perspectiva de um ensino de História atualizado e útil que a sociedade está a exigir.

Astrogildo Fernandes Silva Junior e José Josberto Montenegro de Sousa, em seu texto EXPERIÊNCIAS AUSENTES NO ENSINO DE HISTÓRIA: INQUIETANTES PRESSUPOSTOS PARA UMA REORIENTAÇÃO DA VIDA PRÁTICA, nos convidam a compreender como o ensino de história pode contribuir na formação dos jovens estudantes. Os autores apresentam resultados de um projeto que teve como objetivo analisar o potencial das diferentes fontes e das diferentes linguagens da cultura contemporânea no processo de ensino e aprendizagem em história. Para eles, o ensino de história na educação básica necessita reorientar suas práticas, abrangendo outras perspectivas epistemológicas, que possibilitem discutir a diversidade de experiências histórico-culturais negligenciadas e silenciadas.

André Luiz da Silva Cazula e Ana Heloísa Molina em ORIENTAÇÃO TEMPORAL E ENSINO DE HISTÓRIA: PERSPECTIVAS E PRÁTICAS DE PROFESSORES DE HISTÓRIA DA REDE ESTADUAL DE ENSINO. JACAREZINHO-PR. 2015, convidam-nos a pensar sobre as diretrizes para o ensino de História, publicadas pelo estadodo Paraná em 2008, e que possuem como principal referência norteadora a teoria da História engendrada por Jörn Rüsen. Com reflexões acerca das perspectivas e práticas docentes em relação às orientações curriculares, o texto é resultado da pesquisa, realizada com dois professores da rede estadual no Ensino Médio, na cidade de Jacarezinho-PR, no ano letivo de 2015, apresentando as apropriações e as estratégias utilizadas na mediação do conhecimento em sala de aula a partir das discussões propostas por MichelDe Certeau.

Edson Hely Silva analisa OS ÍNDIOS NA HISTÓRIA E O ENSINO DE HISTÓRIA: AVANÇOS E DESAFIOS. Para ele os povos indígenas no Brasil nos últimos anos conquistaram e ocuparam espaços sociopolíticos, questionando visões eurocêntricas, colonialistas e evolucionistas tratando os povos indígenas como primitivos, desaparecidos ou vítimas impotentes em extinção. O que além de exigir reformulações das teorias explicativas sobre a história e o destino desses povos, vem também exigindo discussões, formulações e efetivação de políticas públicas respondendo as demandas de direitos indígenas sociais específicos.

Jezulino Lúcio Mendes Braga nos apresenta em seu artigo SUJEITOS DE EXPERIÊNCIA: PROFESSORES DE HISTÓRIA NO USO PEDAGÓGICO DO MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS,parte de sua pesquisa de doutorado na qual investiga a relação dos professores de história com a exposição do Museu de Artes e Ofícios em Belo Horizonte. Apresentando as experiências sensíveis dos docentes no museu o autor discute as escolhas que fazem para ensinar história, nos afirmando que a potencialidade dos museus para o ensino de história está na forma que dispõe os objetos, imagens e legendas e analiso dados sobre as mediações oferecidas pelo museu aos docentes.

Leonardo Nascimento Bourguignon, analisa, em seu artigo REPRESENTAÇÕES DOS NEGROS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO ESPÍRITO SANTO (1964-1997), o papel do livro didático enquanto instrumento de propagação e consolidação de representações, mais especificamente das representações acerca do negro nos livros de história regional. O texto traz como constatação da pesquisa, que, apesar da permanência de uma escrita eurocêntrica, os livros produzidos por autores capixabas apresentaram, em diversos momentos, o negro como agente ativo na história local, mesmo antes da existência de uma legislação que assim os exigisse, e a frente inclusive de uma tendência nacional.

Magno Francisco de Jesus Santos em ENSINO DE HISTÓRIA, ESPAÇOS E CULTURA POLÍTICA BANDEIRANTE: JOSÉ SCARAMELI E A ESCRITA DE LIVROS ESCOLARES DE HISTÓRIA PARA CRIANÇAS, nos traz a discussão sobre a escrita da história para crianças no Brasil, a partir da experiência de Scarameli. Intelectual defensor dos ideais do movimento escolanovista, entre 1926 e 1934, Scarameli produziu um número significativo de livros escolares de História e de Moral e Cívica. Trata-se, pois, de  uma discussão como estes livros expressaram as estratégias de difusão de uma cultura política bandeirante e a construção de representações acerca dos estados brasileiros com um protagonismo paulista.

Marcella Albaine Farias da Costa O QUE NARRAM LICENCIANDOS DE HISTÓRIA SOBRE O IMPACTO DA TECNOLOGIA EM SUA FORMAÇÃO INICIAL?. A autora nos revela de que forma professores de História em formação inicial –alunos das turmas de Didática Especial de História e Prática de Ensino de História da UFRJ e participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) –significam sua trajetória profissional no que tange à temática da tecnologia. A experiência, foi pautada no olhar (auto) biográfico e utilizou-se da plataforma do Museu da Pessoa enquanto possibilidade metodológica.

Talia Meschiany e Verónica Hendel enveredam pelos caminhos do ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA: REFLEXÕES EM TORNO DE EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO DOCENTE CONTÍNUA EM MEIOS VIRTUAIS NA PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES. As autoras nos apresentam reflexões preliminares sobre um conjunto de práticas e representações do fazer de professores sobre o ensino da história, parte do Departamento de Educação Continuada(DFC) da Direcção-Geral da Educação e Cultura da província de Buenos Aires (DGCyE) durante os anos de 2015 e 2016. No texto analisam como a formação de professores em exercício através de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (EVA) promovem e fortalecem as boas práticas de ensino.

Vitória Azevedo Fonseca, em CINEMA E ENSINO DE HISTÓRIA ENTRE DEBATES E PRÁTICAS, apresenta a partir de um rico debate sobre como usar filmes em salas de aula, especificamente no ensino de história, a experiência de exibição do mesmo filme (Sonhos Tropicais, André Sturn, 2002) para diferentes turmas do 9º ano do Ensino Fundamental, adotando procedimentos preparatórios diferenciados a fim de discutir e defender a importância de, além da alfabetização da linguagem cinematográfica refletir também sobre o desenvolvimento da compreensão dos estudantes dos debates e diálogos “historiográficos” estabelecidos pela narrativa audiovisual para compreensão das intertextualidades presentes nos filmes.

Por fim, Wilian Junior Bonete, em seu texto ALUNOS DA EJA FALAM SOBRE A HISTÓRIA ENSINADA: RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA E VIDA PRÁTICA, busca identificar e analisar o pensamento de um grupo de 66 alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), de uma escola Estadual no Paraná, sobre o conhecimento histórico e suas relações com a vida prática. Para tanto, estabelece diálogos com a concepção de consciência histórica, tal como proposto por Jörn Rüsen, bem como os pressupostos que embasam o campo investigativo da Didática da História.

Este dossiê discute, a partir de diversos olhares, as dimensões políticas e didáticas que atravessam nossas concepções de pensar a formação de professores. A qualidade dos textos resulta da soma de esforços de docentes de várias localidades do Brasil para produzirem um primeiro número da História, Históriadedicado ao Ensino de História, permitindo que, pela primeira vez, professores pesquisadores da área possam intercambiar textos, experiências e estratégias de ensino e aprendizagem de História. Uma ótima leitura!

Prof. Dr. Carlos Augusto Lima Ferreira. Brasil -Universidade Estadual de Feira de Santana –UEFS. e-mail: [email protected]

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História em Quadrinhos em perspectiva histórica / História, Histórias / 2016

Apresentação

De mídia desacreditada à forma de expressão cult, muita coisa aconteceu com as histórias em quadrinhos (HQs). O fato é que a indústria cinematográfica, editoras e a internet se renderam aos quadrinhos nos últimos anos. E assim também a academia. Certamente tal fato não é de todo novo: desde os anos 1960 os quadrinhos já chamavam a atenção de nomes como Umberto Eco, Luc Boltanski, Marshall McLuhan e Pierre Bourdieu. Neil Gaiman relembra com certo cinismo e ironia “(…)[d]aqueles remotos dias de felicidade e prosperidade antes de cada Universidade ter um curso sobre ‘O Romance Gráfico’[1]”.

O estabelecimento dos quadrinhos enquanto tema de estudos na universidade é bem claro no hemisfério norte. Todos os componentes usualmente esperados para o reconhecimento acadêmico e social de uma área de estudos podem ser encontrados. Nos mundos anglo-saxão e franco-belga, encontram-se pesquisadores que se reconhecem como comics scholarse que integram uma comunidade acadêmica de comic studies, reunidos em associações [2] e contam com uma série de periódicos especializados em HQs [3]. Em 2009 foi lançado o primeiro reader sobre o tema, logo seguido por outros [4]. Editoras acadêmicas como University Press of Mississipi, Routledge e Palgrave Macmillian contam com séries exclusivamente dedicadas aos quadrinhos, contribuindo para boa parte da bibliografia sobre o tema que não para de crescer.

Acima de tudo, o melhor é constatar o esforço pelo estabelecimento de diálogo entre ambos os mundos. Isolados em outros contextos pela barreira linguística e mesmo pelos diferentes desenvolvimentos históricos que os quadrinhos tiveram em cada contexto, as redes comunicacionais e as interações internacionais contribuem para análises que buscam superar as barreiras nacionais. Destacam-seestudos que sugerem um olhar transnacional sobre os quadrinhos, buscando entender sua construção a partir das apropriações e usos que cada contexto proporciona a eles [5].

No Brasil, o cenário para os estudos de quadrinhos apresenta muitos desafios, mas as perspectivas são animadoras. Tal como lá, a interdisciplinaridade norteia as pesquisas sobre eles. Nos eventos e publicações especializados, não raro podem ser encontrados historiadores ao lado de críticos literários, estudiosos da comunicação, sociólogos ebibliotecários [6]. Além disso, o campo parece aberto às iniciativas que buscam pensar caminhos distintos para as análises sobre quadrinhos: crescem as publicações, interações entre pesquisadores e revistas acadêmicas dedicadas a eles.

Os desafios que se colocam possivelmente são os mesmos que se apresentam aos pesquisadores anglo-saxões e franco-belgas. No interior da interdisciplinaridade, como estabelecer as especificidades de cada disciplina quando o assunto são quadrinhos? Seria possível pensar em abordagens próprias a cada campo de saber sobre o tema? O que significa, em resumo, elaborar um problema sobre os quadrinhos –no caso do presente dossiê, sob um ponto de vista histórico?

Longe de ter qualquer interesse em responder de forma unívoca a tais perguntas, o dossiê “Quadrinhos em perspectiva histórica: temas e abordagens” busca sugerir algumas estratégias para historiadores interessados em enveredar por tal campo de estudos. Ao mesmo tempo, ele permite vislumbrar algumas das tendências e perspectivas presentes nos estudos de quadrinhos no Brasil, além de alguns desafios a serem enfrentados por pesquisas futuras. De início, cabe ressaltar a diversidade de vozes, resultado da integração entre diversos campos de saber: alguns historiadores, mas também pesquisadores da Comunicação, Filosofia, Teoria Literária e Sociologia, vindos de três das cinco regiões do Brasil, além de dois artigos internacionais.

Um primeiro aspecto que chama atenção é o fôlego crítico dos artigos, produzidos a partir de pesquisas em andamento ou concluídas em nível de pós-graduação. Possivelmente isso explica a quantidade de trabalhos que procuram discutir a historicidade da própria reflexão crítica sobre o tema. O artigo de Victor Callari (Unifesp/FMU) e Karoline Kuneida Gentil (Fecap) apresenta uma análise da recente produção acadêmica em diversas áreas do conhecimento a partir de levantamentos de dados quantitativos.

Outro conjunto de trabalhos problematiza aspectos teóricos ligados àquilo que, seguindo as leituras de Howard Becker e Bart Beaty, pode ser chamado de “mundo dos quadrinhos [7]”: a construção da ideia de “quadrinho autoral”, de “quadrinho adulto” e de “cânone” a partir da sua recepção. Tais são as leituras de Alexandre Linck Vargas (Unisul), Sylvain Lésage (Université de Lille III) e Sebastian Horacio Gago (CEA-UNC/Coniset), respectivamente. Os três artigos permitem vislumbrar uma compreensão do fenômeno histórico das HQs em escala global: enquanto Linck Vargas parte de um olhar panorâmico sobre contextos específico como os EUA, Japão, França e Brasil, Lésage se detém no caso francês dos álbuns de bande dessinée e sua relação com a “adultização” do leitor, ao passo que Gago prioriza a construção histórica do olhar sobre a obra de Héctor Oesterheld. Em comum, a necessidade de assumir um olhar que situe historicamente a produção e o consumo de HQs para além de leituras excessivamente formalistas, que perceba a historicidade dos discursos que buscam legitimá-la no mercado de bens culturais [8.]

Muita da reflexão recente sobre quadrinhos parte de questões políticas e culturais que se encontram no calor do momento. É daí que se observa a necessidade de os pesquisadores de HQs refletirem sobre o recente ataque terrorista à redação do hebdomadário francês Charlie Hebdo. Sob um olhar próprio da filosofia, Fabio Mourilhe (UFRJ) discute temas como morte, sagrado e a condição trágica da arte para sugerir uma leitura crítica em torno do acontecimento.

Outro tema sensível aos pesquisadores de HQs trata da questão da mulher. Polêmica e sempre retomada de forma problemática a cada nova representação (ou silenciamento) da condição feminina, motivou análises de dois artigos do dossiê. Valéria Fernandes da Silva (UnB) debate de forma propositiva as representações do feminino no shoujo mangá, entendendo as implicações editoriais e os limites e possibilidades de tal formato para o público feminino. A partir de uma série de tiras cômicas e outras imagens gráficas, Cintia Lima (UFSC) sugere a emergência de uma forma específica de humor, que classifica como “riso feminista”, caracterizado por “(…) questiona[r] o sistema patriarcal que promove uma cultura baseada na desigualdade e na exploração”.

Dois outros campos temáticos se encontram presentes no dossiê. O primeiro deles, representado pela análise de editoras e obras consideradas clássicas dentro do que usualmente se entende como “cânone” das HQs. Os formatos da tira, revista e da graphic novel são contemplados a partir de personagens e séries específicas. Dilbert é objeto de análise de Luiz Ricardo Linch (UFPR), preocupado em discutir seu potencial crítico sobre temas relacionados ao mundo do trabalho. A Marvel Comicsé discutida por Fábio Guerra (UFF), que parte de três personagens (Namor, Doutor Destino e Pantera Negra) para discutir temas como política e nação nos Estados Unidos. Sin Cityé o mote para Adérito Schneider (UFG) discutir o conceito de noir. Sua abordagem procura discutir a série em articulação com sua adaptação cinematográfica, mantendo o diálogo intermidiático entre quadrinhos e cinema, característica marcante do meio.

Como que indicando as possibilidades das HQs enquanto fontes históricas, os dois últimos artigos discutem temas distintos, ainda que ambos possam ser articulados em torno da questão da modernidade técnica. Historicamente forjadas a partir da integração dinâmica de diversas artes técnicas como a fotografia, o cinema e a publicidade [9], as HQs parecem estimular a análise da história da técnica. A tais temas, Rafael Venâncio (UFU) articula a análise da história do automobilismo enquanto categoria esportiva, discutindo como a velocidade e o esporte foram representados a partir da linguagem das HQs francesas, com ênfase no uso da ligne clairepara expressar maior realismo gráfico. Marilda Queluz (UTFPR) parte de um recorte preciso para analisar as Aventuras de Kaximbown, série de Yantok publicada na revista ilustrada brasileira O Tico-Tico. Por meio da análise de suas aventuras fantásticas, repletas de máquinas e artefatos técnicos, a autora sugere uma leitura original da Primeira República no Brasil.

O dossiê também conta com duas resenhas de trabalhos recentes relacionados aos estudos sobre HQs. Comics and the senses, de Ian Hague, é objeto de análise porIvan Lima Gomes (UEG); Maycon André Zanin (Unicentro) resenha a coletânea Representações do feminino nas histórias em quadrinhos, organizada por Amara Braga Jr. e Valéria Silva.

Boa leitura!

Notas

  1. GAIMAN, Neil. Introdução. In: WAY, G.; BÁ, G. The umbrella academy. São Paulo: Devir, 2011,p. 8.
  2. Dentre as em atividade no momento, destaca-se a Comics Studies Society. Seu interesse abrange “todos os tipos de arte sequencial” –de tiras e revistas em quadrinhos a animações e “outras formas e tradições relacionadas” –e procura estimular a “diversidade nos comic studies”, entre outros objetivos. Cf.: http://www.comicssociety.org/(acesso em 15 jul. 2016). No Brasil, a Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS) foi fundada em 2012 e busca promover academicamente os quadrinhos por meio de encontros periódicos reunindo pesquisadores de diversas áreas. Cf. https://aspasnacional.wordpress.com/(acesso em 15 jul. 2016).
  3. A lista é longa, mas devem ser mencionados periódicos como Studies in Comics(http://www.intellectbooks.co.uk/journals/view-Journal,id=168/), ImageText(http://www.english.ufl.edu/imagetext/), Journal of Graphic Novel and Comics(http://www.tandfonline.com/toc/rcom20/current) e European Comic Art (http://journals.berghahnbooks.com/eca), além do pioneiro International Journal of Comic Art,que não dispõe de versão online.
  4. HEER, Jeet; WORCESTER, Kent (orgs.). A comics studies reader. Jackson: University Press of Mississipi, 2009. Outros readerssão: HATFIELD, Charles; HEER, Jeet; WORCESTER, Kent (orgs.). The superhero reader. Jackson: University Press of Mississipi, 2013. MILLER, Ann; BEATY, Bart. The French comics theory reader. Leuven: Leuven University Press, 2014.
  5. BRIENZA, Casey. Manga in America: transnationalbook publishing and the domestication of Japanese comics. London: Bloomsbury, 2016. STEIN, Daniel; DENSON, Shane; MEYER, Christina (org.). Transnational perspectives on graphic narratives. Comics at the crossroads. London/New York: Bloomsbury, 2013. GOMES, Ivan Lima. Os novos homens do amanhã: o mundo dos quadrinhos na América Latina (Brasil e Chile, anos 1960-1970). Curitiba: Prismas, 2016 [no prelo]. Para uma orientação mais ampla da problemática da circulação dos impressos, cf. ABREU, Márcia; DAECTO, Marisa Midori (orgs.). A circulação transatlântica dos impressos: conexões. Campinas: UNICAMP/IEL/Setor de Publicações, 2014.
  6. No Brasil, os estudos de HQs devem muito às reflexões pioneiras promovidas pela ECA/USP e seu Observatório de Histórias em Quadrinhos –mas não só. Cf. http://observatoriodehistoriasemquadrinhos.blogspot.com.br/(acesso em 15 jul. 2016). A eles se encontra vinculada a revista Nona Arte, dedicada às HQs: http://www2.eca.usp.br/nonaarte/ojs/index.php/nonaarte/index(acesso em 15 jul. 2016). Para citar exemplo caro à área de História, mais recentemente, um grupo de pesquisadores das HQs se reúneanualmente junto à rede Biblioteca Parque, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em História da UFF. Os dois últimos encontros ocorreram na Biblioteca Pública de Niterói. Cf.: http://www.bibliotecasparque.rj.gov.br/ii-seminario-de-historia-em-quadrinhos/(acesso em 15 jul. 2016).
  7. BECKER, Howard. Los mundos del arte. Sociología del trabajo artístico. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. BEATY, Bart. Comics versus art. Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 2012.
  8. Para uma avaliação mais recente sobre o tema, cf. GUILBERT, Xavier. La légitimation em devenir de la bande dessinée. Comicalités[tema: Théorisations et médiations graphiques], mai. 2011. Disponível em: http://comicalites.revues.org/181[acesso em 15 jul. 2016]
  9. GROESTEEN, Thierry. Naissance de la bande dessinée: de William Hogarth à Winsor McCay. Bruxelas: Les Impressions Nouvelles, 2009. GARDNER, Jared. Projections: comics and the history of twenty-first-century storytelling. Stanford: Stanford University Press, 2012.

Goiânia, 28 de julho de 2016.

Prof. Dr. Ivan Lima Gomes (UEG)

ORGANIZADOR

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Escravidão-Pós-abolição no Brasil / História, Histórias / 2016

Apresentação

Foi com imensa satisfação que organizamos o dossiê “Da escravidão ao pós-abolição: novas pesquisas, questões e debates”. Ao reunirmos emumúnico volume questões tão diversas sobre a experiência negra no Brasil ao longo da escravidão e do pós-abolição, procuramos abrir um espaço de debate historiográfico. Afinal, os artigos aqui selecionados contribuem para problematizar, tanto as perspectivas teórico-metodológicas e abordagens cristalizadas, quanto os campos temáticos específicos e linhas investigativas.

Este dossiê apresenta um conjunto de doze artigos. Como ponto de partida, o historiador italiano Matteo Giuli promove uma releitura do livro clássico Cultura e opulência do Brasil, do jesuíta italiano André João Antonil, abordando os dilemas entre escravos e senhores na condução dos engenhos açucareiros no Brasil colonial. No artigo seguinte, Carlos de Oliveira Malaquias e Ana Caroline de Rezende Costa discutem a questão das fugas de escravos na perspectiva dos senhores que publicaram anúnciosno periódico mineiro Astro de Minas, entre 1827 e 1839.

Já Ilana Peliciari Rocha pauta a história das chamadas “escravas da nação”, distribuídas em vários estabelecimentos públicos no Brasil Imperial. Fábio Amorim Vieira e Gabrielli Debortoli, em artigosubsequente, investigam as medidas de controle social adotadas pelas autoridades de Santa Catarina na segunda metade do século XIX frente às experiências das populações de origem africana, atentando-se sobretudo para os códigos de posturas do período. Rodrigo Caetano Silva, por sua vez, examina o pensamento do político e jurista piauiense Antônio Coelho Rodrigues no contexto abolicionista, a partir de seu livro Manual do súdito fiel, ou cartas de um lavrador a sua majestade o Imperador, publicado em 1884.

Em artigo que inaugura a seção dedicada ao pós-abolição, Petrônio Domingues, Cláudia Nunes e Edvaldo Alves indicam caminhos e possibilidades de pesquisa sobre Sergipe no período em que o “cativeiro se acabou”, reconstituindo diversas experiências de libertos no domínio do trabalho, da moradia, da sociabilidade, do lazer, em suma, no plano do cotidiano.

Abordando a passagem da escravidão para a liberdade, Marcelo Ferreira Lobo examina em seu artigo as discussões em torno da aprovação do regulamento do Serviço Doméstico em Belém, a capital Paraense, em 1889. Este regulamento foi uma tentativa de disciplinar o trabalho e os costumes dos empregados domésticos. Na sequência, Flavia Fernandes de Souza também foca suas lentes nessa temática, tecendo consideraçõesacerca da história do serviço doméstico em suas relações com a história da escravidão e do pós-abolição.

No artigo posterior, Patrícia Urruzola analisa tanto os discursos dos ex-senhores da Corte para justificar a tutela de ingênuos (filhos de ex-escravas) entre 1888 e 1890, quanto a legislação sobre o assunto. Apoiando-se na documentação policial e jurídica, o artigo de Josemeire Alves Pereira, por seu turno, perscruta a trajetória de um grupo de famílias negras que no pós-abolição se estabeleceram em Belo Horizonte, a nova capital de Minas Gerais, e entre 1913 e 1917 se envolveram emumconflito pelo direito sobre terrenos de uma fazenda herdada por seus antepassados da época do cativeiro.

Já Edinelia Maria Oliveira Souza aborda em seu artigo relações degênero, discriminação racial e cultura política no pós-abolição, a partir de um episódio litigioso ocorrido na cidade de Santo Antônio de Jesus, Recôncavo Sul da Bahia, em 1929. No último artigodo dossiê, Beatriz Floôr Quadrado reconstitui aspectos da história do concurso denominado “Miss Mulata”, criado na cidade de Arroio Grande (RS) em 1969.

Na seção de resenhas, Fabiana Schleumer passa em revista o livro Cross-cultural exchange in the Atlantic World: Angola and Brazil during the era of the slave trade, de Roquinaldo Amaral Ferreira, apontando a necessidade de diálogos entre os estudos sobre a escravidão no Brasil e as pesquisas relativas a Angola em perspectiva Atlântica.

Dossiês como este têm suscitado um canal de diálogo entre pesquisadores e auxiliado, quer na renovação dos estudos sobre escravidão, quer na consolidação do campo do pós-abolição. De uma época em que se percebia a invisibilidade da experiência negra na historiografia brasileira no período pós-escravista, nos deparamos agora com investigações criativas que, estribadas em sólida pesquisa empírica, discutem os significados da liberdade e a luta pela cidadania, revelam trajetórias (individuais e coletivas), mapeiam experiências de trabalho no ambiente rural e urbano, pontuam a inserção social e a participação política, cartografama afirmação identitária, interrogamsobre a racialização da sociedade, reconstituem as relações de gênero e os laços familiares e associativistas, entre outros temas. Esta diversidade indica a potencialidade dessas novas pesquisas.

Vale ainda assinalar que este dossiê fomenta a construção de diálogos e conexões entre os campos de conhecimento –Escravidão e Pós-Abolição –, sem contudo negligenciar suas especificidades (continuidades e rupturas instituídas com o 13de maio de 1888) em termos de contextos, problemáticas, objetos, fontes e narrativas, ou seja, em termos de agenda de pesquisa. A percepção de uma história plural, multifacetada e interseccionada tem, certamente, muito a ganhar com esta perspectiva de análise. Fazemos então o convite ao leitor para avaliar o resultado dessas novas reflexões.

17 de outubro de 2016.

Prof. Dr. Petrônio Domingues (UFS)

Profa. Dra. Fabiana Schleumer (UNIFESP)

ORGANIZADORES

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História, Gênero e Sexualidade: Abordagens Interdisciplinares / História, Histórias / 2015

Apresentação

“História, Gênero e Sexualidade: Abordagens Interdisciplinares” é o título deste dossiê. Nos tempos atuais, constitui-se em grande valentia publicar tal edição. Vivemos em tempos de retrocesso político e social em que falas e atos comprometem o estado democrático de direitos civis. O debate teórico proposto aqui visa reunir pesquisadoras e pesquisadores dos estudos de gênero que discutem questões que envolvem poderes sociais, políticos, econômicos e culturais, suas disputas e efeitos sobre os corpos, as subjetividades, os comportamentos sexuais e as relações de gênero. As diferenças e hierarquias entre o masculino e o feminino, produzidas historicamente através de jogos de significação e de relações de poder, marcam as desigualdades nas relações de gênero e as possibilidades de inserção e interdição dos indivíduos na vida social. Assim, este dossiê busca de maneira interdisciplinar articular pesquisas e reflexões preocupadas com as construções das sexualidades, das masculinidades e das feminilidades na história, a fim de desvelar os seus processos de difusão, construção e funcionamento, e os poderes que atravessam e mantêmessas construções.

O primeiro artigo desse dossiê, de autoriadeNatanael de Freitas Silva (UFRRJ), apresenta reflexões sobre a necessidade de investigarmos, no campo da história, as experiências de masculinidades e suas implicações em uma política de gênero. Desse modo, à luz dos estudos de Richard Miskolci e Albuquerque Júnior, o autor tece algumas considerações sobre o estudo das masculinidades e discute a articulação de uma histórica concepção de masculinidade na elaboração de projetos de poder engendrados em fins doséculoXIX e início do XX.

Já o segundo artigo, de Pollyana Dourado (UFG) e Ana Carolina Eiras Coelho Soares (UFG), apresenta uma análise das representações do feminino e dos mitos construídos sobre a Amazônia na minissérie “Amazônia –de Galvez a Chico Mendes”.

Ao abordar temas relativos à homossexualidade e à heterossexualidade compulsória, o terceiro artigo, de Elias Veras (UFSC) e Oscar Andreu (Universidad de Barcelona), analisa a invenção do estigma travesti no Brasil, destacando sua construção discursiva na mídia, especialmente em enunciados produzidos em Fortaleza (Ceará),nos anos de 1980. Seus olhares são precisos ao sugerir o quanto as representações dominantes constituídas pelos modelos de masculino e feminino encontram-se fragilizadas com a emergência de imagens e sentidos ancorados na experiência travesti.

do envelhecimento, da memória e das condutas homossexuaisna região do Pantanal de Mato Grosso do Sul, nas cidades de Corumbá e Ladário,nas cercanias da fronteira com a Bolívia.

Ao adentrar nos arquivos da Polícia Militar, Andrea Schactae (UEPG), no sexto artigo, propõe uma reflexão sobre as feminilidades e masculinidades na Polícia Militar do Paraná, através de um estudo de caso de transgressão disciplinar praticado por uma agente da Polícia Feminina e por um oficial da PMPR, em 1979.

No sétimo artigo, Marilia Rodrigues de Oliveira (PUC-RIO) discute “narrativas de crimes” presentes na imprensa carioca da Primeira República, com o objetivo de mostrar como os jornalistas lançavam mão de uma gramática emocional e de uma estética melodramática para criarem diferentes representações de gênero que transgrediam e reiteravam padrões normativos de moralidade até então considerados bem definidos.

Lindsay Jemima Cresto (UTFPR) e Marinês Ribeiro Dos Santos (UTFPR), no oitavo artigo, discutem as representações de gênero na decoração de interioresdomésticos. Analisando um blog de decoração (Homens da Casa) voltado para um público masculino, as autoras observam como os textos eimagensque circulam nesse blog estão carregadosderepresentações de feminilidade e masculinidade que reforçam os estereótipos e desigualdades de gênero em nossa sociedade.

O nono e último artigo do dossiê, de Caetana de Andrade Martins Pereira (UnB), analisa o modo como a feminilidade é construída na revista Jornal das Moças,nos anos 1960, destacando o seu funcionamento como uma “tecnologia de gênero”, heteronormativa e racializada.

Os estudos de gênero adquirem novos contornos frente à insuficiência e às críticas em abordagens discursivas que não consideramas persistências das desigualdades entremulheres e homens,e que tratam a heterossexualidade, assim como a feminilidade e a masculinidade como dados biológicos e naturais. Os estudos de gênero não podem ser vistos apenas como sinônimos de estudos sobre as mulheres. Em volta do termo há o reconhecimento do caráter relacional e de sua constituição histórica, social e cultural, além de instâncias de poder que atribuem valores e características às subjetividades e às relações entre os sexos. Nesse sentido, os estudos feministas trazem importantes contribuições ao abordar o gênero como uma categoria que se relaciona com outros marcadores de diferenças (classe, raça, etnia, religião, idade, nacionalidade, orientação sexual, etc.) na constituição das subjetividades e experiências e, desse modo, buscam problematizar e desnaturalizar as concepções de sexo/gênero fundadas em preceitos universais e essencialistas.

As diferenças são históricas e socialmente forjadas e construídas. Portanto, as sensibilidades, comportamentos, valores, organizações e posicionamentos sociais dos indivíduos são construções. Nesse sentido, gênero, como categoria de análise, pode também contribuir no enriquecimento da historiografia, colocando em debate as verdades, convicções e poderes em torno de discursos e práticas baseados na existência de uma natureza humana imutável que rege as ações e pensamentos de homens e mulheres na história.

Não somos universais. Somos compostos da mesma matéria que as nuvens. Clivados, densos, leves e únicos: somos históricos. Esperamos que as leitorase os leitores desfrutem e se inspirem com esse dossiê.

Goiânia, 06 de agosto de 2015.

Profa. Dra. Ana Carolina Eiras Coelho Soares (UFG)

ORGANIZADORA

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História das Mulheres / História, Histórias /2015

Apresentação

Em mãos das leitoras e dos leitores este dossiê –”História das Mulheres” –se constitui em uma resposta acadêmica, social e política contra as inúmeras formas de atualização dos discursos androcêntricos, que se regozijam no poder patriarcale que perpassam a vida, fora e dentro das universidades. Os artigos reunidos cuidadosamente para este dossiê buscam não somente dar visibilidade às práticas e aos processos de produção de sentidos que envolvem as relações de gênero e as identidades e experiências das mulheres no passado, mas também revelam propostas políticas transformadoras. Nesse sentido, eles produzem e difundem conhecimentos, orientados por perspectivas críticas, permitindo enfrentar e desconstruir as desigualdades, que produzem corpos, comportamentos, subjetividades, saberes e práticas sociais pautados na diferença entre homens e mulheres, entre os homens, entre as mulheres, e que excluem as inúmeras e –porque não dizer –infinitas possibilidades de vivenciar o corpo, a sexualidade, os desejos e os prazeres.

Abre este dossiê um artigo de minha autoria, intitulado “História das Mulheres e Estudos Feministas: um diálogo entre Rago, Rüsen e Mccullagh”, no qual se apresentam diálogos divergentes que refletem sobre a constituição do campo História das Mulheres e sua abordagem feminista à luz dos conceitos de “matriz disciplinar”, de Jorn Rüsen, e de “viés”, de Mccullagh. Pretende-se argumentar que, após a inclusão das mulheres na História, toda história de mulheres pode ser apreendida como um compromisso com o feminismo, pois as relações entre escrever uma história das mulheres e defender suas demandas não são conflitantes politicamente, mas assumem entrecruzamentos de vieses muito próximos.

Já o segundo artigo, de Simone Alves dos Santos (Centro Universitário Fundação Santo André), apresenta os resultados de uma investigação sobre práticas de assédio sexual contra mulheres em espaços públicos, cometidas no final dos anos 1970 até os dias atuais. Trata-se de uma investigação ancorada em uma abordagem feminista atenta às variáveis sociais, étnicas, políticas e de gênero.

O terceiroartigo, de autoria de Raquel Botelho (Secretaria de Educação do Distrito Federal), Benedito Santos (UCB) e Gabriel Rosa (Universidad del Salvador, Argentina), trata do discurso jurídico de responsabilização por crimes de violência contra mulheres e a efetividade da Lei nº. 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, em sentenças resultantes de julgamentos realizados entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012, em um juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Marcus Reis (UERJ), no quartoartigo, analisa fontes da primeira visitação do Santo Ofício à América Portuguesa (1591-1595), que revelam perseguições aos ritos de adivinhação praticados por mulheres. De acordo com o autor, a presença feminina tanto no interesse pelos ritos de adivinhação como nas supostas práticas, revela os primeiros indícios de uma tentativa das mulheres em procurar espaços de autonomia para além da normatização vigente.

Frank Mezzomo (UNESPAR), Ivania Skura (UNESPAR) e Cristiana Pátaro (UNESPAR), no quintoartigo, criticam os estereótipos femininos que desvalorizam as mulheres na mídia. Desse modo, analisam o papel da propaganda na construção e na desconstrução de estereótipos femininos em três propagandas de 1967, publicadas em uma mídia impressa norte-paranaense; em outras duas propagandas de 2014 e de 2015, publicadas em ambiente digital; e em dois anúncios atuais, de 2014, também veiculados online, por organizações que reconhecem e questionam papéis de gênero e que visam combater práticas sexistas.

Ronyere Ferreira (UFPI) e Teresinha Queiroz (UFPI), autores do sexto artigo, discutem a participação de literatos, como Jônatas Batista, no processo de alargamento das responsabilidades sociais das mulheres no início do século XX, em Teresina (Piauí). Tais fontes permitiram aos autores fazer emergir sentidos sobre o feminismo e suas demandas naquela cidade. Apesar de o feminismo não ter se constituído em um movimento organizado na cidade de Teresina, os autores argumentam que o feminismo, ali, teve adesão tanto de homens quanto de mulheres, possibilitando uma ampla reflexão sobre a vida das mulheres.

No sétimoartigo, Raimundo Expedito dos Santos Sousa (UFMG) e Adelaine Laguardia (UFSJ) analisam como oanticolonialismo irlandês pautou-se na maximização de fronteiras de gênero, com vistas a acentuar a hombridade dos homens gaélicos, em face de sua feminização. Nesse caso, o colonialismo legitimava-se pela atribuição de gênero ao liame entre Inglaterra e Irlanda, ao inscrever o império no registro masculino e a colônia no feminino. Mediante pesquisa em fontes primárias, os autores investigam as implicações dessa contra-estratégia na representação de mulheres subversivas que desafiavam uma matriz de gênero dual, em que a masculinidade se definia em relação oposta e complementar com a feminilidade.

Já o oitavoartigo, de autoria de Marcus Vinicius Neto Silva (UFMG) e Érica Silva Espírito Santo (UFMG) confere visibilidade e importância às primeiras mulheres psicanalistas, enfocando sua vida e obra.

Encerrando o dossiê, o artigode Paulo Brito do Prado (UFF) problematiza os silêncios impostos às mulheres que atuaram no cenário urbano da antiga Vila Boa (Cidade de Goiás), nos anos 1960. Por meio da história oral, o autor confere visibilidade às versões da história local produzidaspor essas mulheres que se tornaram guardiãs das tradições e das manifestações culturais nesta cidade.

Os artigos aqui reunidos revelam olhares precisos que analisam, criticam e desnaturalizam discursos fomentadores da subalternização feminina e das tecnologias de gênero heteronormativas e racializadas.Nestes trabalhos o gênero também é tomado como categoria de análise e como discurso construído historicamente que adquire novos contornos e novas operacionalidades frente à pluralidade de discursos e práticas que caracterizam o social. Não há como negar, portanto, esse estilo múltiplo, aberto, problematizador, ousado e desafiador, que configura a História das Mulheres, sinalizando para a condição relacional da pesquisa histórica, para a dimensão constantemente aberta dos processos de subjetivação e para a presença incontornável das relações de poder que atravessam as práticas e os saberes sociais.

Boas indagações!

Goiânia, outubro de 2015.

Prof. Dr. Thiago Fernando Sant’Anna eSilva (UFG)

ORGANIZADOR

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Literatura Religiosa na América: Circulação e Recepção / História, Histórias / 2014

Apresentação

Importantes estudos sobre livros, leitores e leituras já foram realizados pelo historiador Roger Chartier desde a década de 1980. Na Europa, publicações sobre práticas de leitura não são temas novos. Além de Chartier, Daniel Roche, AnthonyGrafton, Reinhard Wittmann, Martyn Lyons, Fernando Bouza, Robert Darnton e Jean-François Gilmont também se dedicaram ao tema, com diferentes objetos e enfoques. Sobre a literatura religiosa, vale destacar os trabalhos de Dominique Julia, Ana Cristina Araújo e Olímpia Maria da Cunha Loureiro. No Brasil, historiadores como Luiz Carlos Villalta, Lúcia Bastos Pereira Neves, Márcia Abreu, Marisa Deaecto e Ana Paula Megiani também têm se dedicado ao estudo das práticas de escrita e de leitura, enfocando o período colonial e o imperial. Contudo, o estudo das práticas de leitura, de circulação e de recepção da literatura religiosa produzida na Península Ibérica nas distintas regiões da América Portuguesa ainda é tema pouco explorado no Brasil, mas aos poucos vem ganhando espaço e atenção de pesquisadores, como se pode constatar nos trabalhos de Leila Mezan Algranti, Evergton Sales, Lígia Bellini, Célia Maia Borges e William de Souza Martins.

Na Europa dos séculos XVII e XVIII, profundamente marcada pelo espírito contrarreformista, difundiu-se a produção de literatura religiosa, com destaque para manuais de devoção, catecismos, missais, compêndios, breviários, obras edificantes, vidas de santos e livros de orações, cuja intenção era a de orientar moralmente seus leitores, ensinando-os também a se preparar para a morte.

Sabe-se que durante os séculos XVI, XVII e XVIII cabia à Igreja a autorização da publicação e também o incentivo à leitura de obras de teologia moral pelos fiéis, que não deveriam ficar restritas aos padres. Esta função recebeu incremento significativo durante o papado de Pio IX (1846-1878), que se caracterizou pela republicação de obras de cunho religioso. Na América portuguesa do Seiscentos e do Setecentos, as obras eram adquiridas tanto por leigos, quanto pelo clero secular e pelas ordens religiosas, com destaque para os jesuítas. Tal literatura poderia fazer parte de acervos de igrejas, seminários, irmandades, bibliotecas de ordens religiosas, favorecendo a propagação de instruções católicas para uma vida santa. No século XIX, com a vinda da Corte e a instalação da Imprensa Régia, a publicação e divulgação de obras com conteúdos religiosos foi bastante ampliada.

A circulação dos textos, como nos lembra Chartier, não se reduz a sua difusão impressa, estando especialmente ligada a sua divulgação, que por estar condicionada, muitas vezes, a imposições e expectativas, determinará usos plurais e, consequentemente, graus distintos de imitação e apropriação. A leitura –em sua dimensão coletiva –, segundo este mesmo autor, pode ser pensada como uma relação dialógica entre os “sinais textuais” emitidos pela obra e o “horizonte de expectativa”, coletivamente partilhado, “que governa sua recepção”.

A recepção de tais obras está, portanto, associada à avaliação dos efeitos socioculturais que elas tenham produzido na sociedade. Se a leitura pode ser compreendida a partir da “atualização” do texto, um processo no qual o leitor opera a compreensão, reconstrói e traduz para si, a recepção –a atribuição de significado e construção de sentido –depende do contexto em que o texto está inserido, bem como da forma em que se apresenta disponível para a leitura.

Para Michel de Certeau, as possibilidades de recepção estão relacionadas ao espaço e ao tempo, implicando distintos interesses, criações e significações. O texto permanece o mesmo, mas seus sentidos, certamente, mudam ao longo do tempo e das republicações. Nesta perspectiva, a literatura religiosa produzida –e reeditada –pode ser percebida como resposta às demandas de seu tempo e, portanto, associada à recepção esperada em cada contexto.

O presente Dossiê contempla trabalhos de pesquisadores que vêm se dedicando ao estudo das práticas de escrita e de leitura, privilegiando a análise de obras que podemos enquadrar nacategoria de literatura religiosa, produzidas tanto na Europa, quanto na América ibérica, no amplo período que abarca os séculos XVI, XVII, XVIII e XIX.

Em “El desarrollo del género biográfico entre los jesuitas del Paraguay antes de la expulsión de España”, o pesquisador argentino Carlos Page discute, a partir da análise de obras inéditas e publicadas pela Companhia de Jesus no Seiscentos e no Setecentos, a diversidade de textos produzidos [hagiografias, martirológios e menológios], as influências e as orientações metodológicas, bem como os objetivos que subjazem à produção de biografias sobre determinados religiosos jesuítas, cujas vidas foram tidas como exemplares –quer tenham sido martirizados ou não –, para a construção de uma memória sobre a atuação do Instituto na América.

No artigo “Quomodo legis? A leitura à luz do método inaciano na novela do jesuíta Alexandre de Gusmão História do Predestinado Peregrino e de seu irmão precito (1682)”, Marina Massimi se propõe a evidenciar a veiculação de conteúdos e métodos dos Exercícios Espirituais, propostos por Inácio de Loyola, e a adoção das orientações presentes na Ratio Studiorumna novela alegórica escrita pelo jesuíta Alexandre de Gusmão, durante o período em que atuou na América portuguesa. Para a autora, além de importante veículo de difusão dos Exercícios, a novela escrita por Gusmão apresenta evidente sentido pedagógico, ao propor um método de leitura orientado pelos Exercícios inacianos.

Já Eliane Cristina Deckmann Fleck e Mauro Dillmann, em “Escrita, práticas de leitura e circulação de manuais de devoção entre Portugal e Brasil nos séculos XVIII e XIX”, apresentam evidências da circulação de manuais de devoção entre a metrópole e a colônia e, especialmente, de sua larga utilização por clérigos e fieis católicos portugueses e brasileiros, através de um levantamento das obras que foram reeditadas ao longo deste período junto à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, ao Memorial Jesuíta da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, à Biblioteca Nacional Portuguesa, em Lisboa, e à Biblioteca Joanina, em Coimbra. Muitos desses manuais, dentre os quais, se encontram Gritos das Almas do Purgatório, escrito pelo padre Joseph Boneta, Desengano dos Pecadores, de autoria do padre Alexandre Perier, e Mestre da Vida que ensina a viver e morrer santamente, do padre João Franco, receberam inúmeras reimpressões entre o século XVIII e o XIX e integraram acervos eclesiásticos e particulares, o que parece apontar para sua aceitação entre os leitores católicos e o reconhecimento de sua importância pela Igreja Católica.

Em “Os livros da Ordem Terceira de São Francisco entre Portugal e a América portuguesa nos séculos XVII e XVIII”, Juliana de Mello Moraes não apenas avalia a produção e a utilização de obras direcionadas às Ordens Terceiras de São Francisco entre as comunidades de fieis católicos da América portuguesa, nos séculos XVII e XVIII, como também destaca o papel relevante que elas desempenharam, visto que sua leitura e uso ultrapassaram os círculos eclesiásticos, sendo utilizadas pelos leigos vinculados à agremiação em distintas capitanias, incluindo a cidade de São Paulo.

Daniel Luciano Gevehr, em “Um jesuíta alemão no Brasil meridional conta a história dos Mucker: o cenário e sua protagonista através da narrativa de Ambrósio Schupp”, apresenta-nos uma análise da obra Os Muckers, escrita pelo padre jesuíta alemão Ambrósio Schupp, que iniciou suas atividades no Brasil justamente em 1874, ano em que o conflito, que abalou certa região do Rio Grande do Sul, chegou ao fim. Gevehr se debruça sobre as representações presentes na obra –publicada originalmente na Alemanha, em 1900 –, apontando para o papel que desempenhou na produção e difusão de uma memória tanto sobre o conflito, quanto sobre Jacobina –a mulher que liderou os revoltosos instalados no morro Ferrabraz –, e para as concepções de ciência e de história que fundamentaram a narrativa do religioso jesuíta.

Finalizando o Dossiê, no artigo“Literatura religiosa nas trincheiras: o Manual de Orações do Soldado Brasileiro”,Adriane Piovezan analisa oManual de Orações do Soldado Brasileiro, compilação de orações distribuída aos soldados que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e foram enviados ao front italiano na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), detendo-se,sobretudo, nas manifestações de religiosidade e nas atitudes dos combatentes face à iminência da própria morte, dos seus companheiros e da dos seus inimigos.

Rio Grande do Sul, dezembro de2014.

Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck(UNISINOS)

Prof. Dr. Mauro Dillmann (FURG)

ORGANIZADORES

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Las Elites coloniales americanas y la administración del estado / História, Histórias / 2014

Apresentação

como objetivo de esta compilación analizar la importancia de la articulación política de la que fueron protagonistas las élites en la configuración, dinámica y subsistencia de las monarquías modernas, con el objeto de contribuir a un debate que sigue enriqueciéndose con aportes de variedad geográfica, temática y metodológica1.En ese sentido, nos sentimos gratificados de proponer la lectura y discusión cinco trabajos que representan variadas miradas sobre la cuestión, con una diversidad temporal y analítica tan amplia como la proyección geográfica que abarcan. En efecto, recorreremos con variedad de enfoques teóricos, una serie de trabajos que nos permiten ver como las redes vinculares que cruzaron los océanos de una Monarquía pluricontinental como la Hispánica, comunicaban decisiones políticas, reclamos y peticiones, armonías y conflictos, armas y soldados, mercancías de todo tipo e ideas y valores.

Las más actuales perspectivas historiográficas han puesto en debate la noción de una monarquía moderna absolutista y centralizada. Superando incluso los límites de la configuración política de los dominios europeos en el Nuevo Mundo, estas perspectivas han permitido debatir no sólo el vínculo que unía estos complejos políticostransatlánticos, sino también repensar los lazos económicos en sus más diversas manifestaciones; los procesos de conformación de las sociedades coloniales, los imaginarios colectivos, etc. Esta propuesta no buscó exponer, exclusivamente, los avances del conocimiento disciplinar sobre la presencia, acceso, control o conflictos en torno a los espacios burocráticos que más han sido abordados, por mencionar algunos ejemplos, los Cabildos o las Audiencias. Hemos pretendido analizar el rol articulador, en el mundo moderno, de las élites, como mediadoras políticas que hicieron posible de distintas maneras la pervivencia del vínculo colonial, su evolución, antes de ser los impulsores y protagonistas de su crisis.

Sin pretender más que una breve introducción a este dossier, y solo al efecto de trazar algunas referencias bibliográficas que no se pretenden como un detallado estado del arte, destacamos la importancia que desde hace ya varias décadas han tenido los estudios referidos a las élites del mundo moderno, especialmente en el mundo colonial . De todos ellos puede resumirse la meridiana importancia que tiene para una renovada historiografía política la necesidad de pensar el ejercicio, la gestión del poder político, como el resultado de un complejo mecanismo de diálogo y confrontación de intereses de todo tipo, que sin negar pretensiones de centralización, chocaban necesariamente con poderes locales fuertemente arraigados, limitaciones geográficas, económicas, etc.

Uno de los aspectos más interesantes en los estudios de la configuración del ejercicio del poder político de las monarquías modernas es el complejo entramado de lealtades y complicidades que rodeó a quienes tuvieron cargos de gestión de relevancia. Pequeños círculos de confidentes y allegados constituían entornos de poder de distinta dimensión. Si podemos hablar de una corte virreinal como la limeña,  por su dimensión y alcances, probablemente resulte exagerado proponer como tales los círculos de poder político que rodearon a Gobernadores o Capitanes Generales de otros enclaves de la Monarquía Hispánica, pero no por ello debemos descartar la presencia de redes vinculares que rodearon a los mandatarios, ni eludir su análisis. El ejemplo que nos acerca Antoni Picazo Muntaner en “A la sombra del poder. Administración y corrupción en las Filipinas, el caso de Manuel Estacio Venegas”, nos invita a reflexionar acerca de los enormes alcances geográficos que las mismas prácticas políticas podían alcanzar. En efecto, más allá de los rasgos peculiares que el caso del canciller de la Audiencia Venegas sugiere, con acciones que incluyeron la acumulación ventajosa de encomiendas; distintas acciones de presión sobre competidores mercantiles; el ocultamiento de cédulas y disposiciones reales que afectaban sus intereses más inmediatos, hasta el destierro y el asesinato de opositores y adversarios; un interesante ejemplo para indagar acerca de la dinámica de estos grupos de poder. La distancia geográfica –no sólo de la misma metrópoli, sino de otros centros de poder, como Nueva España –sumadas a la autonomía mercantil que la región de las Filipinas detentaba, son factores decisivos para explicar las formas que adquirió la conducta política de estos “validos” que se constituyeron en auténticos exponentes de una autonomía política que merecen nuevos y exhaustivos trabajos que permitan explicar en clave local y global, esta “pragmática” política que, lejos de ser un rasgo distintivo de una región, probablemente fue más omnipresente de lo que pensamos.

En “Da cidade à república das letras. Jesuítas, administração vice-real, grupos letrados (México, sécs. XVI-XVII)”, Anderson Roberti Dos Reis discute la hipótesis central de trabajos como el de Angel Rama, La ciudad letrada, poniendo en cuestión la pertinencia de esta imagen tan cristalizada en la historiografía colonial de una orden religiosa siempre cercana –sino parte –del poder político central. Más que haber sido la columna vertebral del sistema ordenado, jerarquizado y concentrado del poder de la monarquía absoluta, el autor nos propone una visión más a tono con una renovada historiografía del derecho y de la política. El debate, que no elude cuestionar el propio concepto de poder que Rama y otros autores han insistido en utilizar para fortalecer su hipótesis, concluye en aceptar la imagen corporativa de una monarquía que, lejos de constituirse en una unidad monolítica y coordinada, se debe pensar generales y virreyesindianos haya sido el constante reclamo de tropas, pertrechos y fondos suficientes para el sostenimiento de una campaña que tuvo siempre dos frentes muy claros: el de la resistencia indígena y el del asedio de potencias extranjeras, evidente, este último,en enclaves como el de la Habana de fines del siglo XVIII. La gestión de la defensa fue, como señala nuestro coautor, una demostración de cómo las experiencias militares de muchos de los responsables políticos destinados a Indias, migraban desde frentes europeos a americanos, debiendo hacer frente muchas veces a factores locales con recursos locales, particularmente palpable en la multiétnica composición de la tropa, o en la necesidad de adaptar medidas a las condiciones del medio.

Finalmente, en nuestra propuesta titulada “Los Gobernadores de Buenos Aires a mediados del siglo XVII: mediación y conflicto en los confines de la Monarquía Hispánica”, intentamos analizar el entorno de relaciones que rodeaba a los gobernadores del puerto bonaerense en un períodohistórico en que su vocación portuaria está claramente definida. Los máximos representantes de la autoridad real en este enclave fronterizo fueron parte sustancial de ese mecanismo de mediación política que, muchas veces, los hizo aparecer más como voceros de los intereses locales. Justamente esa compleja trama de relaciones –parentescos, fianzas, amistades, complicidades, etc. –fueron vitales para sostener una ingeniería política que pudo sobrevivir tantos siglos.

Las élites coloniales no pueden explicarse sino con relación a (I) sus vínculos con los distintos espacios administrativos americanos y peninsulares; (II) su participación en la producción; (III) la fiscalidad o el comercio; (IV) su propia dinámica de renovación y reproducción; (V) sus tensiones internas, etc. en un proceso que, por siglos, constituyó un verdadero mecanismo de flexibilidad y tolerancia, más que de centralización metropolitana. Fue intención de esta convocatoria contribuir a demostrar que esta articulación, esta “cesión” de poder del poder central a los poderes periféricos, no era necesaria o totalmente, una merma del poder de la monarquía, sino una estrategia que permitía incluir a estos lejanos grupos de poder, en la misma red de poder político que permitió sostener por siglos el vínculo colonial. Discutir si se puede justificar un rol de “garante” del absolutismo monárquico de la Compañía de Jesús en el Nuevo Mundo; analizar la gestión de un “valido” acusado de tiranía en las Filipinas del siglo XVII; describir los mecanismos de conformación de redes mercantiles y políticas y sus conflictos en puerto bonaerense; así como sumergirnos de lleno en un aspecto tan concreto de la gestión de gobierno como lo fue la defensa y fortificación de la Habana del XVIII, son pasos en ese sentido.

Buenos Aires, agosto de 2014.

Prof. Dr. Oscar José Trujillo (Universidad Nacional de Luján –Argentina).

Notas

1 Por citar dos ejemplos acerca de la importancia del rol “integrador” de las élites de poder en las monarquías modernas, YUN CASALILLA, Bartolomé(dir.). Las redes del Imperio. Elites sociales en la articulación de la Monarquía Hispánica, 1492-1714. Madrid: Marcial Pons, 2009; y CARDIM, Pedro, FREIRE COSTA, Leonor y SOARES DA CUNHA, Mafalda (orgs.).Portugal na monarquia hispânica:dinâmicas de integração e de conflito. Lisboa, CHAM-Red Columnaria, 2013.

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Discursos da História e Linguagens da História da Arte / História, Histórias / 2013

A história e a história da arte, embora possam parecer tão próximas, possuem cada uma objetos e métodos próprios. Nos trabalhos que se seguem, não se pretende “chover no molhado” retomando os limites e problemáticas que são próprios a cada uma das disciplinas. Nossa intenção, ao nos aproximarmos dos discursos produzidos pela história e pelas linguagens expressadas pela história da arte, é a de nos determos mais atentamente ao tempo, ao espaço e à representação, categorias que são caras a ambas as disciplinas.

A partir dos anos 70, a história passou a encontrar no objeto de arte testemunhos importantes dos eventos históricos. No deslanchar desse processo, vivido paralelamente com a crise dos paradigmas, os historiadores da arte Aby Warburg, Erwin Panofsky e Meyer Schapiro tornaram-se referências teóricas essenciais para os historiadores, em especial os medievalistas. A história da arte por sua vez, ao organizar a pesquisa e o ensino, apoderou-se, não sem alguma resistência, das “idades” da história – antiga, medieval, moderna e contemporânea – como marco temporal na escolha dos temas de estudo. Não se tem conhecimento de que os historiadores e os historiadores da arte tenham se reunido para discutir os possíveis pontos de interseção das duas disciplinas.1
Para os historiadores, as possibilidades abertas por Warburg, Panofsky, e Shapiro permitiram o acesso a uma nova dimensão da história, constituída pelo imaginário e o simbólico, o que renovou em especial a história política.2 Para os historiadores da arte, a despeito da reação de alguns profissionais com relação a uma periodização que atrela a história da arte à história, alguns historiadores da arte têm se mostrado inflexíveis quando o objeto de arte analisado escapa aos padrões temporais ou mesmo regionais impostos tradicionalmente.3 A opção por uma história da arte que ignore as balizas temporais da história e busque nos estudos regionais, ou estilísticos, uma temporalidade longa revelada pelas formas, enfrenta quase sempre uma reação desfavorável. Enfim, para muitos, a história da arte continua a ser vista como uma sucessão de ciclos de vida, morte e renascimento. “O discurso histórico não ‘nasce’ nunca. Ele sempre recomeça”.4
Desde o final do século XX, nos anos 90, Georges Didi-Huberman sacudiu com veemência as velhas certezas dos historiadores da arte e dos historiadores. Dentre elas, a crença inabalável na vitória sobre o anacronismo. Em Devant le Temps. Histoire de l’art et anachronisme des images, Didi-Huberman demonstrou com clareza que o tempo da imagem não é o mesmo da história.5
Este dossiê se inspirou em questões que tocam a história e a história da arte. Mais precisamente, o discurso da história e a linguagem da história da arte. O ponto de partida é Brasília, cidade capital, por excelência, dos espaços. Um espaço que foi pensado, segundo Elisa de Souza Martinez, para o “florescimento de um metadiscurso sobre a história do pensamento brasileiro”, um “laboratório de novas ideias” que, no entanto, não se concretizou. Estudando os escritos de Mário Pedrosa, a autora colheu uma questão, Brasília ou Maracangalha? e a transformou no fio condutor de suas reflexões, onde buscou abordar o confronto entre a utopia e a realidade a partir das proposições de Lúcio Costa, “o inventor de Brasília”.

A proposta deste dossiê se inspirou, portanto, no espaço idealizado, ou se preferirmos, na utopia da nova capital federal. Uma espécie de terra nova, prenhe de criatividade e reprodutora dos mais variados discursos e linguagens. Uma oportunidade única para traçar “os limites e os intercâmbios entre as artes plásticas e/ou visuais, rompidos no início do século XX”, conforme lembra Roberto Conduru ao abordar a realização do Congresso da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) em Brasília, cujo tema foi “A cidade nova e a síntese das artes” – um tema rebatido por Lúcio Costa, que ponderou tratar-se de “integração mais do que síntese”. Em Razões da Nova Arquitetura, o arquiteto urbanista afirmou que “arquitetura, escultura, pintura, formam um só corpo coeso, um organismo vivo de impossível desagregação.

As preocupações utópicas que cercaram a construção de Brasília, tão contemporâneas e presentes, fazem, ao mesmo tempo, parte do passado. Giulio Carlo Argan escreveu que “a ideia de cidade ideal está profundamente arraigada em todos os períodos históricos, sendo inerente ao caráter sacro anexo à instituição e confirmado pela contraposição recorrente entre cidade metafísica ou celeste e cidade terrena ou humana”.6 Em História da Cidade como História da Arte, Argan afirma que “cenário e sujeito da história, construída a partir de um modelo no qual as tradições culturais expressam valores, a cidade projeta a sua própria história através de múltiplas facetas que revelam o que são, o que deixaram de ser e o que pretendem vir a ser”.7 Assim, tendo Brasília como inspiração inicial, as palavras de Argan foram tomadas por empréstimo, buscando-se “no cenário e sujeito” as múltiplas facetas que permitam compreender os discursos da história e as linguagens da história da arte.

A ideia do espaço urbano construído “de acordo com modelos e tradições que expressam valores que oscilam no que são, no que deixaram de ser e no que pretendem vir a ser” é evidenciado por Françoise Vergneault-Belmont, para quem a planta de uma cidade é o testemunho de um passado. Cartógrafa por formação, Vergneault-Belmont decifra nos traçados das ruas uma lógica de um itinerário ou de um limite. Para ela, as plantas da Paris permitem compreender as relações entre a sociedade e o espaço. Debruçando-se com um rigor fino sobre três séculos de planos traçados para a capital francesa (séculos XVI, XVII e XVIII), ela concluiu que as plantas são denominadas de portrait8, do verbo pourtraire. No sufixo da palavra, composta por dois elementos, o verbo traire, tirer, assume seu antigo sentido, dessiner, tirer un trait. Isto é, segundo a autora, a planta é como um retrato de uma pessoa, ou do rei, ultrapassando a descrição para revelar a natureza e a essência do que é representado. Isto significa que desde a sua origem, em suas palavras, estabeleceu-se um “estreito parentesco semântico e simbólico entre a planta e o retrato como efígies do poder”. Os sucessivos planos da cidade de Paris procuraram interferir diretamente na sua urbanidade, eram projetos urbanos nos quais Vergneault-Belmont enxergou um testemunho da história.
É sobre testemunhos que nos fala Susani Silveira Lemos França, referindo-se aos cronistas quatrocentistas e viajantes estrangeiros que passaram por Lisboa no século XV. Esses escritos contribuíram de forma decisiva para a “consolidação de um passado selecionado” que fez de Lisboa “a cabeça” de Portugal. Susani França os vê como “peças-chave” na configuração da imagem e da história de Lisboa. Ela chama atenção para o fato de que em uma época em que outras cidades marítimas, tais como Veneza, Gênova, Ceuta e Constantinopla, eram descritas minuciosamente, Lisboa não era vinculada ao oceano: a sua história interna se sedimentava na memória religiosa e nas condições comerciais. No discurso da crônica, Lisboa aparece como o palco de cenas memoráveis que envolvem o rei e a corte régia. Ressalta-se, igualmente, o valor bélico e os eventos memoráveis, tais como as procissões e outras manifestações sagradas ou políticas vinculadas às cortes. Mas, como se sabe, a corte era itinerante, passando, portanto, por outras cidades. A beleza das cidades associava-se então, ao que nelas acontecia e a como os seus habitantes atuavam. A ordenação dos edifícios e a arquitetura (tão cara aos historiadores da arte) só eram citadas pelos cronistas enquanto cenários de acontecimentos extraordinários, tais como o sepultamento de relíquias e o albergamento das cortes. São, portanto, questões internas memoráveis que promovem Lisboa como “cidade grandíssima e cabeça de Portugal”, e não como cidade marítima.
A memória religiosa e comercial das cidades modernas é fruto de um movimento longo da memória coletiva. Memória, aqui, compreendida como vida em permanente mudança. A chamada modernidade não renasceu das cinzas de um passado sepultado, e, muito menos, rompeu com a Idade Média. Para os medievais, a notoriedade de uma cidade estava vinculada às suas catedrais, nas quais se guardavam um tesouro de objetos preciosos, incluindo as relíquias de um santo. A riqueza ostentada pela catedral e a importância das feiras realizadas na praça da cidade asseguravam a grandeza e a celebridade da cidade.

Clara Bargellini e David J. Weber, estudando o território das missões na América Espanhola, demonstram com propriedade como franciscanos e jesuítas transportaram para o Novo Mundo práticas religiosas que foram constituídas ao longo da Idade Média e continuaram vivas até o século XVIII. Em La Maison Dieu, Dominique Iogna-Prat pergunta: por que e quando Deus se tornou de “pedra”; e por que, e quando, a Igreja se impôs na paisagem do Ocidente? A partir de quando a Igreja passou a ocupar espaços e territórios? Para Iogna-Prat, a doutrina sozinha não explica a reunião dos cristãos em um “edifício de pedra” que recebe a mesma denominação da comunidade dos fiéis. Ele considera que a Igreja é também um conjunto de bens eclesiásticos, o que permite que se interrogue de forma mais ampla a relação dos homens com o espaço em uma época onde os termos Igreja e sociedade são coextensivos no lugar das estruturas eclesiásticas de fixação e controle das populações.9

Analisando os bens eclesiásticos da missão jesuítica de Becerac no norte da Nova Espanha, Clara Bargellini inventariou um impressionante acervo constituído de altares, ornamentos diversos, prataria e outros objetos de adorno do culto. Tais objetos apontam, ao mesmo tempo, para o uso de materiais preciosos e para a habilidade dos artífices, permitindo que sejam identificados como objetos de arte, de função comemorativa permanente. Trata-se de comemorações importadas para a América pelos franciscanos e jesuítas. A suntuosidade dos ornamentos e objetos tem como cenário uma arquitetura magnífica tanto nas fachadas exteriores, quanto no interior.

Apesar da semelhança entre as duas ordens, Bargellini chama atenção para diferenças que apontam para a história de cada uma delas. Enquanto os franciscanos recordam o “seu papel missionário como fundadores da Igreja na Nova Espanha, apoiados pela monarquia dos Habsburgos, os jesuítas insistiram na individualidade dos membros da Companhia, ativos e heroicos representados na iconografia da Igreja, seguidamente sozinhos, ou em grupo, mas sempre identificados. Ambas as ordens, em todas as etapas da produção artística, imprimiram um valor simbólico aos objetos. Ao estabelecerem uma missão, as necessidades artísticas se centravam especificamente nos ornamentos, na prataria e nos objetos de uso na missa. Para os jesuítas, as imagens ganhavam uma função especial voltada para a catequese (uma resposta aos ídolos indígenas). A arquitetura do edifício da igreja e as coleções interiores de objetos de importante valor material e artístico respondiam à necessidade vital da identidade e da transcendência, conforme afirma a autora. Porém, guardando as devidas proporções de tempo e espaço, poderíamos dizer que são seguidamente, “coextensivas”, conjugando seguidamente os poderes da Igreja e da monarquia.

David J. Weber ressalta a importância da arquitetura na forma de igrejas missionais, assim como da pintura, da escultura, da música, dança e teatro para impressionar os indígenas com o poder e a glória de Deus. Adverte, todavia, que o uso das artes pelos missionários para promover conversões e sustentar a fé fez, das mesmas, coadjuvantes na pedagogia do medo.

Em síntese, os trabalhos de Bargellini e de Weber, que integram um projeto institucional que reuniu estudiosos dos dois lados da fronteira, México e Estados Unidos, evidenciam como os fins doutrinários e expansionistas da Igreja, apoiada nas monarquias ibéricas, promoveram uma integração das artes, arquitetura, escultura, pintura, ourivesaria, música, dança e teatro no território das missões. Se ousássemos pensar em termos contemporâneos e rompêssemos as barreiras do tempo, poderíamos ver nas Missões da Nova Espanha a realização da síntese das artes que veio a ser almejada alguns séculos mais tarde. A realização dessa “síntese” com base na doutrina cristã prometia, aos que se convertessem, a salvação, isto é, o Paraíso: lugar, que vários historiadores veem como uma utopia medieval10, uma espécie de lugar idealizado, sempre almejado e jamais encontrado.

Considerando as abordagens feitas aos espaços, aos tempos, aos discursos e às linguagens, este dossiê espera favorecer o debate entre historiadores e historiadores da arte. Foram convidados historiadores de diferentes formações, que enriqueceram o dossiê, possibilitando a sua publicação. Agradecemos a generosidade, presteza e paciência de cada um. A Elisa Martinez, Roberto Conduru e Susani França, participantes fiéis desde o início desta “empreitada”. Nossa gratidão, em particular, à viúva de David Weber, que permitiu a publicação do seu trabalho, bem como a Clara Bargellini, que intermediou o consentimento. Nossos sinceros agradecimentos a Françoise Vergneault-Belmont, pela inestimável contribuição prestada aos historiadores de várias partes do mundo. Nosso muito obrigado a Flávio Fonseca e Matheus Silveira pelo auxílio essencial na transposição e configuração dos textos em língua estrangeira.

Brasília, novembro de 2013.

Maria Eurydice de Barros Ribeiro (Universidade de Brasília)

Notas

1 Os historiadores e historiadores da arte encontram-se ou em simpósios temáticos ou em participações isoladas de historiadores ou historiadores da arte em eventos específicos promovidos pelas associações das disciplinas (Associação Nacional de História – ANPUH, Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – ANPAP, Comitê Brasileiro de História da Arte – CBHA). Não há registro de que historiadores e historiadores da arte tenham promovido um evento específico visando discutir questões pertinentes às duas disciplinas.

2 Foram os medievalistas os primeiros a chamar a atenção para a importância das imagens como fonte para o historiador. A renovação da história política partiu também de um grupo de medievalistas liderados por Jacques le Goff pelo viés de uma nova disciplina, a Antropologia Histórica.

3 Ver MARTINEZ, Elisa de Souza; RIBEIRO, Maria Eurydice de Barros. Anti-medieval ou anti-moderno? As fronteiras do estudo da história da arte na contemporaneidade. In: História da Arte: 50 anos. Rio de Janeiro. http://wordpress.com/

4 DIDI-HUBERMAN, Georges. L’image survivante. Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby Warburg. Paris: Minuit, 2002, p.11.

5 DIDI-HUBERMAN, Georges. Devant le temps. Histoire de l’art et anachronisme des images. Paris: Minuit, 2000.

6 ARGAN, Giulio Carlo. História da arte, como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 73-74.

7 Idem, p. 74.

8 Portrait, retrato, em português, vem do italiano ritratto, originado do latim retractus: significa fazer a efígie de uma pessoa. Sugere, assim, os mesmos significados apontados por Françoise Vergneault. Conferir no texto da autora.

9 IOGNA-PRAT, Dominique. La Maison de Dieu. Une histoire monumentale de l`Église au Moyen Âge. Paris: Seuil, 2006, p. 17-18.

10 Deve-se naturalmente, tomar cuidado com a palavra utopia, pelo fato da mesma não existir na Idade Média (como se sabe, a palavra foi utilizada pela primeira vez por Thomas More em 1516). Todavia, os medievais idealizaram vários lugares, frequentemente, ilhas, onde o clima seria ameno, com abundância de frutos e fartura de alimentos, e onde a natureza seria bela e clemente.

Centralidade da Periferia / História, histórias / 2013

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Este dossiê, Centralidade da Periferia, publica seis textos em torno da região platina e das suas múltiplas articulações locais, regionais e globais, de finais do século XVI aos inícios do século XIX. Da autoria de Adriano Comissoli, André Costa, Augusto da Silva, Carlos Gabriel Guimarães, Fábio Kühn, Maria de Fátima Silva Gouvêa, Maria Fernanda Bicalho, Nuno Gonçalo Monteiro, Pedro Cardim e Rodrigo Ceballos, estas contribuições de historiadores de diversas instituições e distintas gerações pretendem fornecer novas perspectivas sobre o tema proposto, discutindo matérias que vão desde os contratos, contratadores, ofícios e instituições locais, à noção de fronteira e às formas de construção política do territórios, cruzando trajectorias sociais e percursos militares, conectando as franjas do império, Buenos Aires e depois a Colónia do Sacramento, com a Corte de Lisboa e as disputas diplomáticas na Península Ibérica e suas vertentes bélicas. O título do dossier pretende precisamente destacar a relevância que esses espaços distantes dos centros políticos das monarquias ibéricas acabaram por ter nos destinos destas.

O ponto de partida desta iniciativa foram os estudos realizados no âmbito do projecto Nas Franjas dos Impérios. Dinâmicas de expansão e ocupação territorial na Região Platina, 1668-1808, financiado pelo Instituto Camões / Programa Lusitânia (Ministério dos Negócios Estrangeiros – Portugal) e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Ministério da Ciência, Ensino Superior e Tecnologia – Portugal) (PLUS/HAR/50286/2003), depois completados e acrescentados com outros trabalhos dos participantes1. Pelo seu empenho inestimável em todo o processo, gostaríamos de dedicar esta iniciativa editorial à memória de Maria de Fátima Gouvêa, cuja contribuição aqui se publica a título póstumo.

Nuno Gonçalo Monteiro (ICS-UL)

Pedro Cardim (CHM-UNL)

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História, histórias | UnB | 2013

HISTORIA HISTORIAS UNB

História, histórias (Brasília, 2013-) é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (PPGHIS/UnB). De acesso livre e gratuito, publica semestralmente artigos, traduções, entrevistas e resenhas em português, inglês, espanhol e francês.

Sua missão é ser um canal relevante de difusão de pesquisas científicas no campo da História, no país e no exterior. O título abreviado do periódico é RHH, forma preferencial para menções em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas.

Periodicidade semestral.

Acesso livre

ISSN 2318-1729

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