Mulheres, gênero, feminismos: a reescrita da história a partir do Sul global/ Temporalidades/2022

Em 2008, Joan Scott redigiu um ensaio introdutório para um conjunto de textos originalmente apresentados em um fórum promovido pela American Historical Review para marcar os 20 anos de publicação de seu influente artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica. 1 Sob um título que poderia ser traduzido como Perguntas não respondidas, a conhecida historiadora estadunidense se voltou para a própria trajetória e avaliou o impacto que suas teorizações sobre o gênero e a diferença sexual haviam tido ao longo dessas duas décadas – em um caso raro, diga-se de passagem, de reflexão teórica feita no âmbito da história disciplinar que foi “exportada” para outros setores das humanidades. Scott abriu o balanço crítico dos destinos de seu trabalho mais conhecido com uma expressão de descontentamento perante o fato de que, em 1986, quando submeteu ao mesmo periódico o artigo então celebrado, ela fora obrigada a alterar seu título. A autora queria que o texto se apresentasse ao público não com uma afirmação contundente, mas com um questionamento sobre a utilidade do conceito de gênero – um questionamento cuja resposta não poderia e não deveria ser conhecida de antemão. A revista alegou, porém, que não permitia o emprego de pontos de interrogação nos títulos, e o artigo terminou publicado despido de parte de sua força retórica (SCOTT, 2008, p. 1422), sob uma designação em certa medida contraditória com seus propósitos. Leia Mais

Historia de mujeres, Género y Feminismos: Mujeres haciendo historias desde el sur de Chile/Revista de Historia/2022

Gracias a los cambios epistemológicos del último cuarto del siglo XX se ha podido cuestionar la omnipresencia del sujeto universal y la causalidad racional, dando paso a la diversidad y la resignificación de las experiencias de mujeres y hombres. La mirada sesgada y que producía la invisibilidad analítica de las mujeres al interior de las ciencias sociales tienen como referente el androcentrismo que se comprende según la filósofa española Celia Amorós como una “mirada que se fija en lo masculino y desde lo masculino para observar la realidad. Este se relaciona no solo con el hecho que los investigadores o pensadores sean hombres, sino que además pone en evidencia que se trata de hombres y mujeres adiestrados en disciplinas que explican la realidad bajo modelos masculinos”1. Todo lo cual ha permeado el discurso histórico que por siglos ha considerado legítima la invisibilidad de las mujeres, y de esta manera reivindicar los saberes y protagonismos de la mitad de la humanidad. Leia Mais

Feminismos e literaturas | Literatura, História e Memória | 2021

Fragmented Feminisms Imagem Sem autoria identificada FEminismos
Fragmented Feminisms | Imagem: Sem autoria identificada

Quando elaboramos a chamada deste dossiê para a Revista de Literatura, História e Memória, decidimos propor o tema “Feminismos e literaturas” porque ambas as organizadoras estávamos envolvidas e muito entusiasmadas com nossas atuais pesquisas que se vinculam, de distintas formas, às diferentes vertentes das teorias feministas, aplicadas a distintos objetos de estudo. Ambas vínhamos de pesquisas que se relacionavam com outras áreas, mas há algum tempo vínhamos nos sentindo convocadas a direcionar nossos estudos às teorias feministas por variados motivos, sendo um dos mais potentes a procura por parte de nossos alunos e, especialmente, nossas alunas por estudar questões relacionadas a essa área que parecia ter pouco espaço de discussão nas instituições das quais fazíamos parte.

A resposta que obtivemos à chamada deste dossiê parece indicar que os estudos relacionados aos feminismos – neste caso, aqueles que têm como objeto de estudo textos literários – condiz à busca de nossas alunas e nossos alunos. Isso porque tivemos a grata surpresa de receber sessenta e oito submissões para compor um dossiê de quinze artigos, o que parece indicar que há grande produção sobre o tema e, talvez, pouco espaço para sua divulgação. Leia Mais

Corporeidades em Luta: Feminismos e Corpos de Resistências ao Sul Global | Ofícios de Clio | 2021

A proposta deste dossiê nasceu pela recente conquista ao outro lado da fronteira, a da legalização do aborto na Argentina, em dezembro de 2020. Uma luta histórica que marca, não somente o acesso aos direitos sexuais e reprodutivos, mas o reconhecimento do direito à vida das mulheres, dos homens transgêneros e de outros corpos que engravidaram (ou foram engravidados) sem interesse ou condições para gestar. Tendo o corpo como foco, as pesquisas analisadas partem das corporeidades enquanto processo histórico de resistência, de disputa e de opressão, para os diferentes períodos, seja no Brasil ou no restante do sul global – região dos países em desenvolvimento. Para além das ações feministas coletivas e individuais, o dossiê trata de pesquisas atentas aos usos políticos dos corpos; à interferência do Estado, da Medicina, do Judiciário e da Igreja no dizer-fazer-saber dessas corporeidades; à precariedade diferenciada entre as vidas, à performatividade, às generificações e às resistências a essas generificações, às formas repressivas e produtivas de enunciar os corpos. Além disso, os textos protagonizam corpos marcados pela raça, gênero, classe, território, sexualidade e geração, ou seja, que consideram a interseccionalidade. Leia Mais

Izquierdas, feminismos y movimiento de mujeres del Cono Sur | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2021

Resulta imposible comenzar a presentar este dossier sin hacer referencia al contexto de producción en el cual se enmarca y sus efectos sobre las relaciones de género. A escala mundial y como nunca antes en la historia del capitalismo, la pandemia de covid-19 ha puesto de relieve el rol sistémico del trabajo de cuidado sostenido mayoritariamente por mujeres. Y no nos referimos solamente al intensificado trabajo dentro de las casas y el agotamiento que conlleva la feroz reconversión productiva al teletrabajo, presentado en forma edulcorada como “trabajo en pantuflas”, sino también al trabajo en los comedores sociales y en los barrios donde el hambre y la desocupación golpea con fuerza y donde son las mujeres las que continúan poniendo el cuerpo (redobladamente), como las cientos de Ramonas Medina.1 Justamente cuando la marea verde parece extenderse por América Latina, cuando el feminismo se ha transformado en un movimiento social de masas internacional, el tándem capitalismo/pandemia configura el escenario para un nuevo agigantamiento de las brechas de género y las desigualdades de clase históricamente constituidas.

Interpeladas y a la vez atravesadas por el contexto de características distópicas y la incertidumbre por el futuro, buscamos recuperar en la historia del pasado reciente conosureño experiencias que contribuyan a pensar el presente. Este dossier, entonces, es resultado de la convicción de que el encuentro entre marxismo y feminismo constituye un marco inescindible para la transformación social en clave emancipatoria. Leia Mais

As várias faces dos feminismos: memória, história, acervos/Acervo/2020

Feminismo anarquista, feminismo negro, feminismo cristão, feminismo islâmico, ecofeminismo, feminismo decolonial (ou descolonial), feminismo latino-americano, feminismo imigrante… Em tempos e espaços diversos, empunhando várias bandeiras de luta, enfrentando violentas críticas e embates, perpassados por tensões teóricas e políticas fragmentadoras, os feminismos estão presentes em todos os continentes e cumprem um papel fundamental na sociedade contemporânea. Mas, para melhor compreendê-los em sua historicidade e complexidade, torna-se cada vez mais necessário refletir sobre a importância da preservação de acervos que guardam as memórias do engajamento feminino em lutas políticas fundamentais pelos direitos das mulheres, contra as discriminações e os preconceitos de gênero, contra a escravidão de africanas(os), contra o racismo e as desigualdades sociais e econômicas, pela democracia, entre muitas outras. Leia Mais

Feminismos como objeto de pesquisa e matriz epistêmica: pensando a história do tempo presente / Tempo e Argumento / 2020

O presente dossiê reúne artigos de pesquisadoras que estudam os feminismos e movimentos de mulheres contemporâneos e suas principais agendas, abarcando discussões sobre identidades, ciências, demandas por políticas públicas e acesso à justiça. As reivindicações e práticas políticas de mulheres negras, indígenas, trans, encarceradas, trabalhadoras, dentre outros marcadores sociais, organizadas em coletivos ou instituições, protagonizam as análises apresentadas, complexificando as importantes e clássicas reivindicações de superação do universalismo masculino encampadas pela História das Mulheres. Os artigos nos apresentam diferentes aspectos desses grupos sociais marcados pela invisibilidade e pela negação de direitos, mas que, na contemporaneidade, atravessam profundas transformações em seu reconhecimento, nos espaços que ocupam, em suas lutas.

A (re)emergência dos debates feministas, tão evidente na História do Tempo Presente, em um contexto de avanços neoliberais e da chamada “onda conservadora”, é um fenômeno carregado de historicidade. Os artigos aqui reunidos nos contam histórias das mulheres e dos feminismos contemporâneos, de suas diferentes formas de articulação, conexão, agrupamento, comunicação e práticas políticas, que demonstram a multiplicidade e heterogeneidade dos feminismos como movimentos e como matriz epistêmica. Reafirma-se a importância do plural quando falamos em feminismos, ao mesmo tempo em que bases teóricas produzidas por esses próprios sujeitos são mobilizadas.

A questão das interseccionalidades e da decolonialidade dialogam com os feminismos na reunião de estudos – selecionados neste dossiê – que abordam demandas sociais de mulheres brasileiras e estrangeiras, do Sul e do Centro-Oeste do Brasil, em privação de liberdade, urbanas, indígenas, negras, trans e cisgêneras. Trabalhos com histórias de vida, observação de campo, análise de periódicos e debates epistêmicos criticamente preocupados com problemas sociais. Em síntese, esta seleção de artigos é atravessada pela crítica a uma perspectiva universalista de ciências, perspectiva esta que localiza no Norte Global, dentre homens brancos detentores de determinado status, o modelo de ciência que serviria para todo o mundo.

Iniciando a apresentação dos artigos, “Uma virada epistêmica feminista (negra): Conceitos e debates”, da professora Ana Maria Veiga, atravessa referenciais teóricos identitários, com centralidade étnico-racial, em diálogo com os movimentos sociais e os avanços dos estudos acadêmicos. Seu artigo perpassa o debate estadunidense sobre a articulação entre opressões sociais para um debate nacional e latino-americano dentro do que acabou se caracterizando como o campo interseccional. O texto apresenta desafios para a manutenção de uma proposta politicamente engajada diretamente ligada com sua gênese: as mulheres negras. Decolonialidade e interseccionalidade tornamse o foco do artigo que encontra nas mulheres sertanejas um exemplo possível de uma análise comprometida com os dois conceitos.

O segundo trabalho, “Epistemologia insubmissa feminista negra decolonial”, de Ângela Figueiredo, nos traz um debate entre demandas sociais e saber acadêmico estruturado na união entre estas partes, historicizando os conceitos e mostrando a produção e a visibilidade recente da produção das autoras negras. A articulação dos diversos conceitos presentes no título do artigo estabelece uma mirada crítica à produção do conhecimento e faz um convite a outras formas de olhar para esse processo em diálogo com a sociedade. A perspectiva afrocentrada, consciente da posicionalidade dos sujeitos produtores de saber, desloca o centro dos debates teóricos historicamente hegemônicos. Nesse sentido, engajamento em torno da solução de problemas vivenciados na comunidade, e em uma ciência comprometida, estaria no cerne do modelo epistêmico proposto no trabalho.

Rosangela Celia Faustino, Maria Simone Jacomini Novak e Isabel Cristina Rodrigues, em “O acesso de mulheres indígenas à universidade: trajetórias de lutas, estudos e conquistas”, apresentam o resultado de uma coleta de entrevistas semidirigidas e observações de campo realizadas entre os anos de 2013 e 2015 com mulheres indígenas que ingressaram em cursos de graduação no estado do Paraná a partir dos programas de inclusão institucionais. Diferentes territórios e etnias compuseram esse levantamento que analisou elementos como a relação com a comunidade, a assistência estudantil e o sentido político desse processo educacional. Essas mulheres, que representam quatro quintos das pessoas indígenas formadas (2002-2019), passam a assumir espaços profissionais na comunidade antes ocupados por não indígenas, ampliando sua atuação política.

“Ler, escrever e libertar: Experiências que promovem a diminuição de pena para mulheres privadas de liberdade em Mato Grosso”, da professora Ana Maria Marques, traz os resultados de um projeto voltado a esse público, considerando o acesso ao letramento. As experiências voltadas à remição da pena de mulheres em situação de privação de liberdade da Escola Nova Chance e dos projetos em parceria com a Universidade de Mato Grosso (UNEMAT- Cácares) e Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT- Cuiabá e Rondonópolis) são analisadas. Leituras e resenhas fazem parte da estrutura metodológica da iniciativa que atende mulheres de diferentes níveis de escolaridade. As possibilidades diante da realização de ações dessa natureza, bem como os desafios materiais e institucionais, nos mostram os atravessamentos de gênero os quais constroem, como experiência feminina, um cenário de abandono.

No artigo “‘A gente é pessoa!’: Narrativas de mulheres trans sobre direitos humanos”, Marta Gouveia de Oliveira Rovai procura discutir a temática com base em quatro histórias de vida de mulheres do sul de Minas Gerais. Com um olhar orientado pelas preocupações em torno do sensível e das emoções, bem como um alinhamento com a História do Tempo Presente, o debate se situa na conjuntura brasileira contemporânea de ataque às pautas LGBT e posse de um governo federal contrário às mesmas. Em suas experiências particulares, Wall, Ana Luíza, Luana e Luciele buscam o reconhecimento identitário atravessado pela reivindicação quanto à integridade de seus corpos e do que identificam como liberdade. As transfobias vivenciadas e as imposições de modelos sociais baseados na cisgeneridade e na heteronorma produzem discursos de reconhecimento da existência cotidiana como ato político. Assim, temos no trabalho uma reflexão sobre as percepções de sujeitos históricos em meio à mudança, ou ainda ruptura, entre Estado e movimento LGBT.

Marlise Regina Meyer e Ronaldo Pires Canabarro integram os trabalhos com uma discussão, dentro dos estudos de análise de conteúdo, sobre o periódico Lampião da Esquina, referencial da imprensa alternativa não heterossexual em circulação no eixo sudeste do Brasil na segunda metade do século XX. Intitulado “Travesti: textos-vestígios na construção de uma identidade – Jornal Lampião da Esquina (1978-1981)”, o artigo foca na abordagem de uma identidade: a identidade travesti aparece como a “mariposa”, os “veados”, a “boneca” e as “bichas-biônicas”, montando um quebra-cabeça de significados que a constroem num espaço histórico específico. Os caminhos percorridos para a análise do Lampião exploram o sentido político do reconhecimento identitário fazendo ponte com as questões no presente.

A professora Géssica Guimarães, em “Teoria de gênero e ideologia de gênero: Cenário de uma disputa nos 25 anos da IV Conferência Mundial das Mulheres” faz um estudo histórico de dois termos que ocuparam o debate público nacional brasileiro na última década. Explorando a genealogia acadêmica dos estudos das mulheres e de gênero, e compreendendo sua relação com eventos históricos tanto ligados aos movimentos feministas como ao campo religioso, o trabalho direciona seu olhar para a conjuntura brasileira de ataques e o impacto para o ensino de história. Nesse sentido, os desafios passam pela ruptura diante do pânico moral criado em torno do termo gênero, em uma percepção inclusiva e democrática; mas também pelo reconhecimento e disputa interna ao saber historiográfico, que possui sua trajetória sediada nas narrativas e sujeitos masculinos.

O último artigo a compor este dossiê é “Triple presencia femenina en torno de los trabajos: mujeres de sectores populares, participación política y sostenibilidad de la vida”, de Juliana Díaz Lozano. O estudo sobre a situação laboral das mulheres argentinas organizadas a partir de bairros populares nos traz elementos para identificar as preocupações por parte do Estado, as articulações políticas e a própria noção de trabalho. A proposta, aqui apresentada, é resultado de uma pesquisa de campo realizada entre os anos de 2012 e 2017 que se aprofundou na entrevista de 20 mulheres e na observação das mesmas diante da participação de três assembleias de bairro. Acumulando funções, essas mulheres adentram o espaço público da militância rompendo as expectativas de gênero e borrando as fronteiras entre público e privado.

Os textos aqui reunidos abordam, portanto, uma pluralidade de temáticas espaciais, de sujeitos e de metodologias que lançam olhar para os saberes historiográficos e para o campo do ensino de história. Longe de esgotar o recorte adotado para a construção do dossiê, tais questões contribuem, cada uma a seu modo, para enriquecer o campo da História do Tempo Presente.

É preciso destacar que esta é uma série de debates preocupada com os estudos identitários, mas que se calça principalmente no engajamento com a transformação social. A crítica à posicionalidade hegemônica perpetuada nos campos científicos nos dá suporte para pensar outras Histórias que, ao reconhecer a existência de múltiplos pontos de vista, desestabiliza ou desloca os centros.

A pandemia do coronavírus, que transformou indubitavelmente o mundo nos últimos meses, tem afetado de forma mais acentuada os grupos aqui analisados, aprofundando desigualdades seculares. Buscar entender melhor esses grupos, a fim de construir propostas de futuro menos desiguais, fica como crucial contribuição das autoras aqui reunidas.

Cláudia Regina Nichnig – Doutora em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora visitante do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGH / UFGD). Dourados, MS. lattes.cnpq.br / 7664408692666022. E-mail: [email protected] orcid.org / 0000-0002-9689-8112

Maise Caroline Zucco– Doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA. lattes.cnpq.br / 7069192545517678. E-mail: [email protected]

Soraia Carolina de Mello – Doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, SC. lattes.cnpq.br / 7470003514048395. E-mail: [email protected] orcid.org / 0000-0002-3647-2136

Organizadoras


NICHNIG, Cláudia Regina; ZUCCO, Maise Caroline; MELLO, Soraia Carolina de. Apresentação. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.12, n.29, 2020. Acessar publicação original [DR]

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El trabajo de las mujeres: feminismos, marxismos y reproducción social | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2020

En 1979, la feminista materialista Heidi Hartmann habló del “infeliz matrimonio entre marxismo y feminismo” y, con esa metáfora, ilustró un debate que no comenzaba allí pero que tuvo, en la Segunda Ola Feminista, un momento de inusual riqueza, matices y creatividad. Hoy, 40 años después, las preguntas e inquietudes (teóricas y muy políticas) que circularon en ese entonces vuelven a aparecer (algunas de la misma forma, otras con enunciaciones novedosas) de la mano de la actual Ola Feminista y de su inextricable relación con la crisis del capitalismo neoliberal: ¿Cómo se comprende y se explica la opresión de las mujeres en el capitalismo? ¿Cuál es la relación entre explotación de clase y opresión de género? ¿De qué modo se conectan el trabajo en el ámbito de la producción con el de la reproducción social? ¿Cómo deben pensarse esas dos opresiones en una teoría emancipatoria?

Este dossier propone abordar algunas de esas preguntas, desde la teoría y desde la historia, con el objetivo de reafirmar la importancia vital que tiene la comprensión de la relación entre clase y género, entre explotación y opresión, para cualquier perspectiva que se proponga desafiar el capitalismo. Para hacerlo, convocamos, además de autoras locales, a Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya y Susan Ferguson, tres feministas marxistas que vienen desarrollando investigaciones y debates de primer orden a nivel internacional, como los que pueden encontrarse en los libros Las sin parte. Matrimonios y divorcios entre feminismo y marxismo, de Arruzza; Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppression, editado por Bhattacharya; y, publicado hace apenas unos meses por Ferguson, Women and Work: Feminism, Labour and Social Reproduction. Leia Mais

Feminismos, gênero e relações internacionais | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2017

Nosso feminismo é vivencial.

A cada onze minutos uma mulher é estuprada no Brasil (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016). Muitas sofrem “estupro corretivo” por sentirem desejo sexual por outras mulheres. A cada dia, acontecem sete feminicídios (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015). Dois terços deles tiram a vida de mulheres negras. O número de homicídios de mulheres brancas diminuiu quase 10% entre 2003 e 2013 (idem).

Valdecir Nascimento. Sônia Guajajara. Nilce de Souza Magalhães. Carolina Maria de Jesus. Clarice Lispector. Ochy Curiel. Angela Davis. Sampat Pal Devi. Amelia Mary Earhart. Shahla Sherkat. Simone de Beauvoir. Maria Galindo. Betty Davis. Chimamanda Ngozi Adichie. Virginia Wolf. Leila Khaled. Dandara dos Santos1. O feminismo é nossa resposta aos constantes massacres, abusos e distorções que acometem nossas sociedades. Mas, o que posso eu2 – mulher branca, trabalhadora, acadêmica, de classe média, bissexual, com filhx, falante da língua do colonizador – escrever sobre uma realidade de opressões da qual percebo apenas os fragmentos? Leia Mais

Gênero, feminismos e relações de poder / Territórios & Fronteiras / 2017

Organizado a partir dos eixos temáticos gênero, feminismos e relações de poder, o presente dossiê tem como orientação aglutinar e divulgar estudos sobre as questões de gênero articuladas à crítica feminista e aos jogos e relações de poder que informam sua construção e naturalização no cotidiano social. O propósito é integrar e ampliar o contemporâneo – e até mesmo acirrado – debate acerca de nossa localização no mundo como pessoas produzidas no / pelo gênero e, ao mesmo tempo, produtoras dele.

A interseccionalidade do gênero com outras dimensões da vida social como raça, etnia, classe, religião, escolaridade, sexualidade, ocupação, região e geração, foram perspectivas e possibilidades abertas às abordagens dos temas. Além disso, definiu-se intencional abertura para sua inscrição em diferentes recortes espaciais e temporais, no que tange ao Brasil e à América Latina. Acrescente-se, nessa ampliação do espectro temático, a inclusão dos feminismos, suas ações e seu aporte teórico como possíveis lentes e chaves de leitura para se apreender a historicidade da dimensão do gênero nas relações sociais. Afinal, foi justamente a crítica feminista que mostrou que os papéis sociais são construídos, que o próprio discurso da “natureza” dos sexos é um artifício e um exercício de poder. E exatamente por isso nos textos do dossiê é possível envontrar não apenas a interseccionalidade operante, mas também uma diversidade de questões e reflexões em torno dos conceitos de poder, violência, gênero, igualdade / diferença e cidadania.

Nessa direção, abre o dossiê Pós-cidadania feminina, artigo em que Ana Maria Colling exercita a crítica feminista ao fazer uma abordagem histórica do conceito ‘cidadania’. Nele, ela se detém na acepção moderna do conceito, a fim de problematizar os dispositivos universais do liberalismo e da República e também as lutas históricas das mulheres pela conquista de direitos civis, políticos e sociais. Ao interrogar as matrizes discursivas – políticas, jurídicas, morais – que fundamentam aquelas representações sociais, inclusive as do feminino, a autora discute as práticas de silenciamento, violência e exclusão produzidas nas teias de construtos e sentidos articulados na sociedade moderna.

A Ditadura Civil-Militar brasileira é o cenário histórico onde circulam sujeitos-objetos do artigo seguinte, Mulheres que foram à luta: relações de gênero e violência na Ditadura Civil Militar brasileira (1964-1985). Nele, Clerismar Aparecido Longo e Eloísa Pereira Barroso discutem as experiências de mulheres militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura civil-militar brasileira de 1964. Baseado em relatos colhidos pela Comissão Nacional da verdade, a partir de memórias subtraídas dos depoimentos, o texto assinala como determinadas relações vivenciadas por essas mulheres com os agentes repressivos nos órgãos do Estado ditatorial estão vincadas pelas demarcações e pela violência de gênero. Trata-se de uma interessante análise de representações do feminino que possibilita conhecer imagens, papéis, valores, normas específicas e parte significativa do imaginário androcêntrico em um passado recente de nossa experiência histórica.

O mesmo espaço e temporalidade, agora tomados através da sintaxe do cinema, como fonte da história, são alvos do artigo de Alcilene Cavalcante Oliveira, A violência de gênero durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) sob as lentes de Ozualdo Candeias. Inspirado na peça de teatro Milagre na Cela (1975), de Jorge Andrade, o longa-metragem de ficção, A Freira e a tortura (1983), mostra a prisão e a tortura de uma freira e a análise proposta no artigo dele se apropria para discutir um tema pouco trabalhado na historiografia brasileira: a violência política e de gênero contra religiosas durante o regime militar no Brasil.

Violência é também tema do artigo seguinte, de Vera Lúcia Puga e Michelle Silva Borges, Violência de Gênero, Justiça Criminal e ressignificações feministas. O ensaio fornece contribuições relevantes acerca dos avanços das práticas feministas, problematizando as incorporações mais ou menos críticas, as negociações e sobretudo as acomodações políticas evidenciadas nas leis, nos discursos da justiça criminal e nas práticas de punição. Em que pese a pressão constante dos movimentos feministas no enfrentamento da questão da violência social marcada pelo gênero, as autoras sugerem que muitas manobras na / da cultura androcêntrica, entre elas a institucionalização do patriarcado e das instâncias cotidianas de poder, exigem a renovação das lutas e a construção dialógica de novos processos de ação e subjetivação das mulheres.

Buscando uma alternativa ou estratégias para enfrentar e superar um cotidiano de violência e desigualdade social, para a autora, Cintia Lima Crescêncio, o humor e o riso produzido por cartunistas mulheres configuram uma maneira singular de ser e estar no mundo. Partindo desse debate, no artigo “Tá rindo de quê?” ou Os limites da teoria Humor Gráfico na Imprensa Feminista do Cone Sul, ela propõe uma reflexão sobre a importância dos discursos feministas e as dificuldades da teoria em explicar o humor gráfico contra-hegemônico produzido por mulheres e publicado em jornais feministas do Brasil, Argentina e Uruguai entre os anos 1970 e 1980.

No esforço de atravessar arenas históricas e historiográficas da violência, agora acerca do Brasil do século XIX, Fabiana Francisca Macena produz uma instigante reflexão a partir da análise de documentos sobre a escravidão no artigo Mulheres cativas nas Minas oitocentistas: experiências de liberdade. Ali, ela destaca crimes perpetrados por cativas da província de Minas Gerais, na segunda metade daquele século, bem como suas articulações e demandas junto à justiça na tentativa de alcançar a liberdade. As fontes, sob essa análise, revelam experiências que sublinham como aquelas cativas, mulheres pobres, negras e pardas, subverteram as imagens da passividade, de simples coadjuvantes ante a violência do cativeiro, e produziram, a partir de suas práticas políticas, efeitos abolicionistas, enfraquecendo a instituição da escravidão.

A questão da violência, da resistência e da exclusão, com base na interseccionalidade de categorias da identidade, reaparece em Bernardina Rich (1872- 1942): uma mulher negra no enfrentamento do racismo em Mato Grosso. O artigo de Ana Maria Marques e Nailza da Costa Barbosa Gomes, construído sobre fontes históricas pouco exploradas, ilumina e redescreve a trajetória de uma mulher negra, cuiabana, para problematizar os marcadores racistas, classistas, sexistas da sociedade mato-grossense do pós-abolição. Através de pesquisa criteriosa, as autoras refletem sobre a experiência da professora em meio às lutas pela emancipação feminina, pelo voto e escolarização das mulheres e às evidências do crescimento quantitativo das mulheres no mercado de trabalho remunerado. Assim, ao retomar criticamente aspectos dessa experiência significativa em relação àquele momento da educação brasileira, repleto de tensões, negociações e conflitos, o artigo desvela o processo da divisão sexual do trabalho docente e das lutas históricas de mulheres, negras e / ou brancas em busca de autonomia, reconhecimento e respeito na / da sociedade brasileira.

O artigo seguinte é um exemplar da crítica feminista sobre a literatura negrobrasileira. Gênero, Feminismo, Poder e Resistência na Contística, artigo de Rubenil da Silva Oliveira, Benedito Ubiratan de Sousa Pinheiro Júnior e Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões, examina a apropriação das categorias conceituais – gênero, feminismo, poder e resistência na contística de autoria negra feminina. Nessa aventura, eles se apropriam dos contos – O tapete voador e Nkala: um relato de bravura, da escritora Cristiane Sobral, que fazem parte do livro O tapete voador (2016), para analisá-los à luz de abordagens teóricas que discutem aquelas categorias, e refletem como tais textos literários abarcam o empoderamento feminino, já que as protagonistas resistem e não se deixam dominar, mesmo que isso lhes custe o emprego ou a vida.

O último artigo do dossiê é Os homens também choram: leituras de masculinidade na arte funerária a partir do caso do pranteador, de Maristela Carneiro. Nele, a autora explora o ato de prantear do homem por meio da abordagem de um exemplar escultórico proveniente da arte funerária paulistana: a obra Lenda Grega, parte do complexo tumular da Família Trevisioli, concebido em 1920 pelo escultor Nicola Rollo (1889-1970) e instalado no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Segundo Carneiro, o sentido da morte é tão inescrutável para aqueles que ficam que a dor e o lamento, muitas vezes, são as únicas manifestações possíveis: o pranteador é escolhido como manifestação destes sentimentos. Também chamados pleurants, colocam-se em um lócus particular e transitório, entre a vida e morte. Diante dos túmulos, debruçados em pranteio, estas figuras sinalizam a morte, e tal sensibilidade modelada na arte embaralha e tensiona as representações de masculinidade habituais.

Reunidos no dossiê, embora em pequena amostragem, os artigos são reveladores do amplo espectro de objetos, problemas e abordagens possíveis, que se fazem necessárias, até mesmo urgentes em nossos dias, e exprimem o vigor e a fertilidade analítica da caixa de ferramentas das teorias feministas. Uma característica que deve ser destacada no dossiê é que vários textos aqui apresentados transitam nos caminhos da análise da cultura e da arte, isto é, no campo das representações modeladas na literatura, no cinema e na escultura.

Com efeito, o conjunto apresenta artigos elaborados sob diferentes perspectivas e enfoques, que exibem documentações e estratégias metodológicas próprias, contemplando diferentes temáticas, espacialidades e temporalidades, com um denominador comum: todos têm o gênero, os feminismos e o poder como parâmetros que articulam a narrativa e a (des)construção analítica. Nesta edição, portanto, será possível encontrar histórias de mulheres e de homens figuradas em diferentes escritas, mulheres que lutam, que escrevem, que vivenciam violências, e homens que choram. Também, encontrar questionamentos e críticas aos conceitos, os quais nos permitirão pensar na contribuição destes textos aos estudos de gênero, dos feminismos e das relações de poder.

Esperamos que as / os leitoras / es do dossiê possam desfrutar de tais contribuições e, sobretudo, a partir dessas elaborações, possam discutir, adensar e fomentar o debate que ainda se apresenta relevante e (cada dia mais evidentemente) incontornável para construir uma cultura de igualdade entre os sexos e de respeito às diferenças.

Boa leitura!

Blanca Susana Vega Martínez – Doutora em Humanidades pela Universidad Autónoma de Zacatecas. Professora e pesquisadora na Faculdade de Psicologia e no Instituto de Ciências Educativas da Universidad Autonóma de San Luís Potosí. E-mail: [email protected]

Diva do Couto Gontijo Muniz – Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de História da Universidade de Brasília. E-mail: [email protected]

Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro – Doutora em História pela Universidade de Brasília. Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]


MARTÍNEZ, Blanca Susana Vega; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo; CARNEIRO, Maria Elizabeth Ribeiro. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.10, n.2, dez, 2017. Acessar publicação original [DR]

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História e Feminismos / Historiae / 2016

No primeiro número de 2016 Historiæ apresenta o dossiê “História e Feminismos” onde são discutidas questões vinculadas aos feminismos dentro de um viés interdisciplinar, tanto na História, Economia, Política, Filosofia, Educação e Literatura.

Na história ocidental sempre houve mulheres que se rebelaram contra a situação de subordinação em que viviam. Entretanto, o início do movimento feminista organizado, conhecido como primeira onda feminista, data do século XIX, quando as mulheres se organizaram em países como a Inglaterra para lutar pelos seus direitos, entre eles o direito ao voto.

Uma das características que o diferencia de outros movimentos sociais é o desenvolvimento de uma reflexão crítica própria, de teorias, que, ao longo do tempo, foram repensando e re-articulando o movimento, tendo como ápice, na segunda metade do século XX, o questionamento acerca do estatuto do sujeito “mulher” e o surgimento dos vários feminismos, que passaram a olhar distintamente a pluralidade das mulheres, levando em consideração fatores como etnia, religião, grupo social, condição econômica, formação cultural, etc.

Desta forma, a produção teórica feminista se estendeu a áreas como a História, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia, a Psicanálise e a Crítica literária, e chega ao século XXI contando com novos e velhos desafios. O presente dossiê tem como objetivo discutir a história do(s) feminismo(s), a produção teórica feminista, a formação dos movimentos feministas, as formas de resistência dos movimentos e os desafios do(s) feminismo(s) no século XXI.

No presente dossiê a revista Historiæ nos traz uma das temáticas mais importantes que surgiu no mundo no pósMaio de 1968 e na historiografia com o advento da terceira geração dos Annales. Os diversos feminismos se tornaram um objeto de análise extremamente importante para a construção de sociedades plenamente democráticas no Ocidente e um dos pontos básicos para a compreensão atual das sociedades ocidentais.

Este dossiê foi organizado pelas Professoras Doutoras Michelle Vasconcelos Oliveira do Nascimento, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Derocina Alves Campos Sosa da Universidade Federal do Rio Grande e Isabel Lousada da Universidade Nova de Lisboa.

Rodrigo Santos de Oliveira – Professor Doutor. Editor


OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. Apresentação. Historiae, Rio Grande- RS, v. 7, n. 1, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Feminismos e Patriarcado / Ágora / 2015

Intitulado “Feminismos e patriarcado” o objetivo deste dossiê é reunir estudos de história dos feminismos, na perspectiva de movimento social emancipatório que afirmou a igualdade e a liberdade para as mulheres, e do patriarcado, enquanto discurso normativo de papéis sociais de gênero.

Neste sentido, os artigos de Luciana Silveira, ‘Gênero e patriarcado em denúncias: a violência contra as mulheres idosas em Vitória/ES (2010-2012)’; de Vitor Bourguignon Vogas, ‘“Ven esta noche a mi puerta”: a desconstrução da “mulher frágil” em El Burlador De Sevilla y Convidado De Piedra’; de Kella Rivetria Lucena Xavier ‘“O Feminismo Triumpha!”: mulher e a imprensa patriarcal em Fortaleza na década de 1920’; de Elaine Borges Tardin e Lana Lage da Gama Lima, ‘A mulher militar brasileira no século XXI: antigos paradigmas, novos desafios’; de Mirela Marin Morgante, ‘Feminismos, patriarcado e violência de gênero: as denúncias registradas na DEAM/ Vitória/ES (2002-2010)’; e de Renata Oliveira Bomfim, ‘A Outra Florbela Espanca’, abordam ações de cunho feministas com as quais as mulheres superam as múltiplas opressões e explorações patriarcal-capitalistas que demarcam a sua experiência como ser social. E, os artigos de Fernanda Tais Brignol Guimarães e Vinícius Oliveira de Oliveira, ‘Os comerciais e a representação da mulher: a exploração do corpo e da imagem feminina na mídia’; de Aline Ariana Alcântara Anacleto e Fernando Silva Teixeira-Filho, ‘Problematizando gêneros: um olhar sobre o cinema brasileiro em busca de resistência ao patriarcado’, analisam a articulação do patriarcado ao capitalismo e ao sistema social de opressão das mulheres.

Por sua vez, os estudos apresentados por Cristiane Araújo de Mattos, “‘Patriarcado Público’: estereótipos de gênero e acesso à justiça no Brasil’; de Ana Carolina Eiras Soares e Neide Célia Ferreira Barros, ‘Palavras e silêncios: a ausência de centros de reabilitação de autores de violência doméstica no Brasil e as questões de gênero”; de Suellen André de Souza, “Vagaba Penha”: representações sociais e práticas de administração de conflitos de gênero nas delegacias de polícia de Campos dos Goytacazes’; de Luana Rodrigues da Silva, ‘O acesso à justiça no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher no município de Campos dos Goytacazes’; de Ana Carla Oliveira Pinheiro e Lana Lage da Gama Lima, ‘Gênero e políticas públicas: uma análise do projeto ‘Mulheres da Paz’’, priorizam discussões no âmbito da responsabilização do Estado e das políticas públicas na conquista de melhores condições de vida da população feminina e masculina que sofre violência de gênero. E, os trabalhos de Francesco Suanno Neto, ‘Família, demografia e mulheres: diálogo entre campos históricos’; de Ana Lucia Santos Coelho, ‘Infâmia, escândalo e pecado: relações de concubinato no Brasil Colônia’; de Renata Santos Maia e Cláudia J. Maia, ‘Os contos de fadas no cinema: uma perspectiva das construções de gênero, sua história e transformações’; de Kalline Flávia S. Lira e Ana Maria de Barros, ‘Violência contra as mulheres e o patriarcado: um estudo sobre o sertão de Pernambuco’, e, por fim, de Cristiane Galvão Ribeiro et al., ‘Representações sociais do casamento: um estudo intergeracional’, apresentam resultados de pesquisas que fazem reflexões sobre as relações entre as práticas do patriarcado e o comportamento feminino e masculino no âmbito da história social das relações de gênero.

O objetivo fundamental desse número da Revista Ágora é o de estimular, a despeito das conquistas sociais e dos dispositivos legais que postulam a igualdade de direitos entre homens e mulheres, novos estudos que levantem questões da prescrição normativa patriarcal, como uma forma de violência de gênero e de violação dos direitos humanos das mulheres, assim como a criativa e subversiva capacidade de resistência humana a prescrições impostas, em especial a resistência histórica das mulheres e dos homens nos diversos feminismos.

Desta forma, este dossiê contempla artigos que tratam da temática ‘Feminismos’ em seus múltiplos aspectos, assim como do tema ‘Patriarcado’ em suas várias vertentes, configurando diversas formas de dominação em diferentes períodos históricos.

Maria Beatriz Nader –  Organizadora.

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Mulheres, Feminismos e Gênero: diálogos (in)tensos na História / História Revista / 2014

Os estudos de gênero ganham importância na academia, em fóruns de debates, nas agências de fomento à pesquisa e espaço no mercado editorial. A desigualdade de gênero e racial é profundamente questionada, o combate à violência contra as mulheres toma a cena pública, as sexualidades se rebelam e há uma desconfiança no ar a sinalizar que o binarismo (homes x mulher) no qual fomos forjados não responda à complexidade de ser no mundo hodierno. Assim, esse dossiê está em plena sincronia com as questões do presente e aposta numa sociedade melhor ao publicizar as pesquisas que falam das nossas travessias históricas de ser quem somos, onde as fronteiras normativas entre o feminino e o masculino são cada vez mais tênues.

A ideia desse dossiê surgiu em 2012 quando as professoras Alcileide Cabral e Ana Carolina Coelho se articularam para propor um simpósio temático no XXVII Simpósio Nacional de História que aconteceria em Natal, capital do Rio Grande do Norte, em 2013. O Simpósio intitulado “Mulheres, Feminismos e Gênero: diálogos (in)tensos na História” teve por objetivo discutir os significados históricos dos feminismos e da problematização das relações de gênero na virada do século XIX e nas décadas iniciais do século XX, buscando compreender como as mulheres questionaram a profunda desigualdade com os homens, ao mesmo tempo em que construíram possibilidades de inserção nos espaços públicos, redefinindo a dimensão do privado. Neste sentido, convidamos os / as pesquisadores / as a apresentarem seus trabalhos nas múltiplas direções abertas no âmbito dos estudos feministas e da história cultural a partir de fontes diversas como periódicos, revistas, fotografias, narrativas autobiográficas, ficção literária, discutindo a tensa e conflituosa relação entre feminino e o masculino, solo de uma episteme sobre as novas relações de e entre os gêneros e da emergência dos feminismos. Esse Simpósio rendeu bons frutos que agora chega ao público com este dossiê e temos a certeza de que nosso Grupo tem mesmo assumido a questão dos estudos de gênero como uma de nossas preocupações investigativas.

O estudo das relações de gênero abrange pesquisas acadêmicas interdisciplinares que procuram compreender as relações entre os gêneros – masculino e feminino – na cultura e na sociedade humanas. Essa compreensão entende que homens e mulheres estão numa perspectiva relacional e, ao mesmo tempo, são diferentes uns em relação aos / às outros / as e entre si. Considera-se ainda que essas relações são construídas historicamente, marcadas pela cultura e pelas relações de poder que fundamentam uma hierarquia e uma assimetria social entre homens e mulheres (SCOTT, 1991).

Esses esforços investigativos desde o último quartel do século XX, passaram a contar com a criação do Grupo de Trabalho de Gênero (Gt de Gênero Nacional) vinculado à Associação Nacional do Professores de História (ANPUH) em 25 de julho de 2001. Esse foi o ano da institucionalização dos Grupos de Trabalho vinculados à Associação, durante o XXI Simpósio Nacional da ANPUH, na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Buscando fortalecer a pesquisa, o ensino e a extensão, O Gt de Gênero definiu como objetivos consolidar um espaço de intercâmbio científico-acadêmico sobre estudos de gênero e temas afins, no âmbito da história e das diferentes disciplinas; proporcionar um balanço do alcance de teorias e metodologias geradas pelos estudos de gênero e temas afins e de suas repercussões sobre o conhecimento, com vistas ao aperfeiçoamento do ensino da história em seus diferentes níveis; estimular no espaço universitário iniciativas de ensino, pesquisa e extensão voltadas para perspectivas teóricas e metodológicas abertas pelos estudos de gênero. Desde então, estimulou-se a criação dos Gt’ regionais com idênticos objetivos. Temos hoje nove Gt’s em diferentes regiões do Brasil.

Assim, este dossiê representa uma importante parceria entre o Gt de Gênero Nacional, coordenado por mim, em conjunto com Gt de Gênero de Goiás, sob a coordenação da Profa. Ana Carolina Eiras Coelho Soares [3] e dá concretude a um dos seus objetivos: implementar dossiês / revistas temáticas e publicação de coletâneas articulados com os desejos e problemáticas do presente.

Neste dossiê temos a confirmação da relevância e preocupação com as temáticas de gênero nas discussões intelectuais do Brasil. Pesquisadoras / es de várias regiões do país contribuíram para essa publicação com questões instigantes e demonstrando o aprofundamento e o refinamento das pesquisas sobre Gênero.

Lídia Possas nos brinda com um artigo excelente sobre a trajetória do GT Estudos de Gênero / ANPUH, recompondo através da memória, de documentos e falas, os fatos e acontecimentos deste grupo entre 2001- 2014. Em uma tentativa de pensar essa caminhada, nos damos conta do esforço da consolidação de espaço de um campo que lida justamente com as disputas de poder e as desigualdades na história.

Ana Carolina Eiras Coelho Soares debate as narrativas visuais e as práticas de gênero nas artes gráficas criadas para a seção “O Menu do meu marido” veiculada pela Revista Feminina entre (1914-1936). No texto, as artes gráficas foram intencionalmente produzidas para criar símbolos e signos associados à modernidade, enquanto a seção ensinava a produzir refeições feitas pela esposa para o marido e seus filhos. As mudanças e contradições das relações de gênero, as práticas de viver, sentir e pensar e as ideias de modernidade, progresso e civilização convivem nas páginas de uma revista que era voltada para o público feminino.

Em “Notas sobre as representações do “feminino” nas páginas da revista Brasil-Oeste” de Eduardo de Melo Salgueiro incursionamos pelas páginas da publicação da revista Brasil-Oeste, mensário que circulou entre o período de 1956 e 1967, pensando nas representações das mulheres e da feminilidade deste periódico nacional que obteve até 1.500.00 exemplares editados.

Ana Maria Marques e Andréia Márcia Zattoni avançam no tempo, para discutir o feminismo e os debates no Centro da Mulher Brasileira (CMB) de 1975 e sua representação nas páginas da revista de informação semanal Veja no mesmo ano. A participação das mulheres e a resistência à ditadura militar são as temáticas que tornam esse artigo interessante, seja pelas contradições presentes nos diferentes órgãos de atuação, seja pela inevitabilidade da discussão da existência e participação de mulheres, inclusive exiladas, em um contexto de ditadura, mesmo que os discursos se apresentem de maneiras bastante diferenciadas.

A revista Veja é também pensado em outro artigo de Silvia Maria Fávero Arend e Douglas Josiel Voks intitulado: Revista Veja, masculinidades e consumo (década de 1970), na qual as masculinidades – categoria conceitual que se refina com as discussões sobre as relações de gênero e o feminismo – aparecem nas páginas da revista na década de 1970 através de uma indústria que vestia e gerava / dialogava com valores / produtos que passavam a representar os homens da classe média dos centros urbanos do país.

O tempo, esse senhor da narrativa do passado, volta para outra discussão feminista fundamental no texto de Elisângela Barbosa Cardoso, intitulado “Sufrágio, educação e trabalho: o feminismo na imprensa em Teresina nas décadas de 1920 e 1930”. O debate em Teresina nos mostra o alcance nacional das discussões feministas no Brasil, o que reforça o título deste dossiê, debates tensos e intensos na História de nosso país. O feminismo, muitas vezes, obliterado por uma narrativa tradicional, luta nas pesquisas atuais para ganhar espaço e visibilidade como fator de importância crucial para as mudanças sociais e das relações de gênero no país.

Acreditamos que esse dossiê veio para reafirmar nossa legitimidade enquanto campo de pesquisa e espaço de trabalho historiográfico. “tomar la palabra!”. Esperamos que todas / os aproveitem os debates e que estes gerem novas palavras, discussões e escritas sobre mulheres e homens que na experiência de suas vidas, criaram padrões, valores e uma lógica de existir cuja dimensão política requer mudanças na perspectiva de um mundo mais igualitário para homens e mulheres.

Nota

3. O GT Goiás é coordenado com a Profª. Dr.ª Eliane Martins de Freitas que não participa desta organização de dossiê em específico, mas é igualmente atuante em outros projetos desenvolvidos em Goiás.

Referências

HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História, São Paulo, v.24, n.1, p.77-98, 2005.

RAGO, Margareth. Descobrindo historicamente o Gênero. Cadernos Pagu, Campinas / SP, n.11, p.89-98, 1998.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, p.71-99, jul. / dez. 1995.

Alcileide Cabral do Nascimento – Professora Doutora em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco; Coordenadora Nacional do Gt de Gênero ANPUH; Coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Gênero / NUPEGE / UFRPE / CNPq.

Ana Carolina Eiras Coelho Soares – Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em História e da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás; Coordenadora do GT regional de Gênero – Seção Goiás; Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero / FH-UFG / CNPq.


NASCIMENTO, Alcileide Cabral do; SOARES, Ana Carolina Eiras Coelho. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 19, n. 2, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Feminismos: Teorias e perspectivas / Textos de História / 2000 

Apresentação

O feminismo acabou? Importantes igualdades já não foram obtidas? Porque insistir neste termo, cujas conotações pejorativas dele afastam mulheres que se definem como “femininas”? Justamente porque denegrir o feminismo é negar a atuação das i r . ii i I mulheres que, ao risco de suas próprias vidas, de sua integridade física e moral, ousaram afirmar sua existência enquanto seres humanos, ousaram questionar e desmantelar todo um edifício teórico-filosófico patriarcal, um estado social considerado natural, cujas bases hierárquicas e assimétricas, desenhando relações de sexo, fundavam-se nas “leis da natureza”.

Falamos aqui de feminismo na recusa ao pejorativo do termo, que não passa de assujeitamento a um discurso social, negando à mulher um lugar de fala, rejeitando suas reivindicações ao domínio de histeria ou do antagonismo simplório ao masculino.

Mostrando que os papéis sociais são construídos, que o próprio discurso da “natureza” dos sexos é um artifício do poder marcado de historicidade, o feminismo vem mudando aos poucos a face do mundo.

Ilumina-se assim a ação e a presença da metade da humanidade na história, escamoteada, obscurecida e inferiorizada pelas representações definidoras do feminino, pela divisão do mundo em público e privado, pela importância dada a um detalhe biológico como definição do ser e de sua essência.

Hoje não é mais necessário apontar os discursos religiosos, filosóficos e políticos que construíram as mulheres, dotadando-as de uma essência única, fazendo delas A mulher, o Outro absoluto, oposto e negativo em relação ao masculino, criado à “imagem e semelhança”. A reflexão e análise feministas aí estão, tirando a máscara do poder que se esconde sob o discurso do “natural”, desmistificando as imagens, desfazendo as representações reivindicadoras de universalidade.

Fragilidade, irresponsabilidade, irracionalidade, passividade, incapacidade física, desregramento moral, superficialidade, estas, entre tantas outras, as características atribuídas ao feminino, ancoradas no sexo biológico, desdobrando- se em sedução, artimanhas, armadilhas para os incautos. Estas são as representações que o feminismo rejeita. Nas práticas sociais, a violência, o abuso sexual, a prostituição, reduzindo o feminino a um corpo sobre o qual não tem ingerência: esta é uma realidade que o feminismo vem tentando transformar.

Escrito na carne e traduzido em prosa e verso, o destino manisfesto, a função maior: a maternidade. No casamento e na heterossexualidade o caminho, a ordem. Contra o discurso do unívoco, o feminismo aponta para relações plurais, para corpos que, ao contrário da cristalização identitária, percorrem uma cartografia nômade do ser. Pensando o mundo, agindo contra o peso da norma, contra a violência das essências e contra as práticas de poder, os movimentos e as teorias feministas abrem passagem no traçado de um novo perfil do humano.

Mas pode-se falar de UM feminismo? Quem tem alguma familiaridade com a extensa produção teórica feminista sabe que, entre suas características, encontram-se a diversidade e o desejo de transformação. De fato, correntes e estratégias entrecruzam-se, opõem-se, negam-se ou reafirmam-se; os paradoxos e contradições muitas vezes encontrados tem servido como estímulo ao aprofundamento da reflexão e à afirmação da multiplicidade. Desvendando os mecanismos de produção e representação do mundo, os feminismos insistem que as relações e representações sociais/sexuais pedem para ser desconstruídas.

De um lugar de fala preciso, de uma subjetividade enfim encontrada, as críticas feministas do social se debruçam sobre seus próprios instrumentos de reflexão e fazem do dinamismo sua característica principal. O ec-centric subject é aquela que, inserida em um regime de circulação de verdades e evidências, atua para modificá-lo; designada enquanto “mulher”, em um sistema político de hierarquias sociais, age na direção de uma desintegração dos sentidos galvanizados em torno do binarismo sexual. Conscientes de sua incontornável experiência de ser sexuado no social, as teóricas e os movimentos feministas não cessam de aprofundar a crítica aos paradigmas, valores e normas, que fazem da sexualidade e do sexo o parâmetro maior de definição dos seres, quebrando assim, aos poucos, a iteração que faz do contingente, a essência do humano.

Feminismos: teorias e perspectivas. Este número temático em uma revista de História vem abrir aos feminismos, enquanto movimentos sociais de primeira grandeza no século XX e como crítica epistemológica aos sistemas de produção do conhecimento e do real, um espaço de visibilidade e talvez, de interlocução acadêmica. Com a participação de autoras feministas do Canadá francês (Quebec) e do Brasil, este número registra uma colaboração internacional e interdisciplinar, situando nesta História presente, análises que não fazem senão sublinhar a incontornável historicidade das relações humanas.

Na parte consagrada à teoria, Francine Descarnes (Sociologia, UQAM) faz um apanhado das diversas tendências e objetivos das correntes feministas contemporâneas; Angela Arruda (Psicologia, UFRJ) reflete sobre o encontro profícuo entre as teorias feministas e a teoria das representações sociais; Anick Druelle, por sua vez (Sociologia, UQAM) observa os movimentos sociais das mulheres como táticas de transformação identitária e reformulação do social; Marie-France Dépêche (Línguas Estrangeiras e Tradução.UnB) analisa a tradução como uma estratégia de intervenção feminista; Denyse Baillargeon (História, UdM) transita pelos estudos feministas relativos â maternidade, em suas diferentes abordagens; Tânia Navarro Swain (História, UnB) interroga os mecanismos de construção generizada em torno do sexo e da sexualidade; Colette Saint-Hilaire (Sociologia, UQAM) trabalha a questão das identidades sexuais à luz de novas visibilidades.

Perspectivas, os lugares de fala são demarcados: mulheres que fazem a história, tenham elas um nome ou surjam apenas na densidade ativa de um grupo. Margareth Rago (História, Unicamp) nos fascina com Luce Fabbri, reinventando o mundo no anarquismo; Diva do Couto Gontijo Muniz (História, UnB) aponta para a construção do binarismo sexuado nos processos de socialização escolar; Maria Izilda Matos (História, PUC/SP) fala-nos de movimentos de mulheres, de resistência e luta, que, obscurecidos pela história, desaparecem dos registros da memória.

Este número é de fato uma homenagem às feministas que mudam a história e não transigem face às “evidências” do natural, não se acovardam face ao preconceito e à surda oposição à fala das mulheres, face às tentativas de silenciamento, pela ironia, que escondem o medo da transformação. Homenagem ainda àquelas que não receiam se dizer feministas hoje, pois diante da violência material e simbólica exercida sobre as mulheres, persistem em fraturar a ordem do discurso.

Tânia Navarro Swain Brasília, 2001.

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