The scramble for the Amazon and the lost paradise of Euclides da Cunha | Susanna Hecht

Essa obra merece uma crítica inicial: trata-se de “vários livros” encadernados sob título e capa únicos. Além da descontinuidade entre seus componentes, a obra é um conjunto de livros enorme e heterogêneo, difícil de ler. Ainda assim, o conteúdo é valioso para quem se interesse por Euclides da Cunha e/ou pelo prolífico trabalho de Hecht sobre a Amazônia; no entanto, a obra não é para iniciantes.

Hecht é doutora em geografia pela University of California (Berkeley) e professora da University of California (Los Angeles). É veterana estudiosa do Brasil e da América Latina, sobre os quais publicou livros e artigos, especialmente a respeito de questões socioambientais, como The fate of the forest: developers, destroyers, and defenders of the Amazon (com Alexander Cockburn; edição atualizada em 2011) e Soy, globalization, and environmental politics in South America (com Gustavo L.T. Oliveira, 2017 ). Leia Mais

Grandes Expedições à Amazônia Brasileira, 1500-1930 – MEIRELLES FILHO (BMPEG-CH)

MEIRELLES FILHO, João. Grandes Expedições à Amazônia Brasileira, 1500-1930. São Paulo: Metalivros, 2009. 241 p.  Resenha de: DRUMMOND, José Augusto. Expedição literária pela Amazônia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v.5, n.2, maio/ago. 2010.

Este livro de Meirelles é capaz de abalar, mesmo entre os mais céticos, a noção de que os brasileiros não se esforçam para conhecer a Amazônia, mais da metade da qual pertence ao território do Brasil. É verdade que a atenção maior dada à região nas últimas décadas originou-se em boa parte fora do país, incentivada por estudos, relatos e preocupações de não-brasileiros. De resto, o mesmo aconteceu no passado mais distante, conforme registrado pela própria obra resenhada, pois grande parte das expedições abordadas teve iniciativa, apoio e participantes estrangeiros. No entanto, temos há algum tempo uma massa crítica instalada no país, dentro e fora da região amazônica, dotada da capacidade de estudar, conhecer e divulgar as suas singularidades e os seus significados em escala nacional, continental e global.

Resultado de um longo e abrangente trabalho de pesquisa e de um admirável esforço de síntese de escrita, este livro exemplifica essa capacidade. Foi composto por uma grande equipe de pesquisadores, consultores, tradutores, revisores, diagramadores, designers e técnicos em reprodução de imagens, trabalhando numa empreitada de longa duração. Embora seja principalmente uma obra de divulgação para um público ampliado, a alta qualidade dos textos e das ilustrações e o rigor da documentação das informações fazem dela uma rica fonte para estudos acadêmicos, monográficos e técnicos. Ela sobressairia mesmo se fosse apenas uma obra de divulgação, pela seriedade, pelo capricho e pela resolução impecável.

João Meirelles é escritor e ativista ambiental (dirigente do Instituto Peabiru), envolvido com diversas instituições do Terceiro Setor e participante de projetos de proteção de áreas naturais, dentro e fora da Amazônia. É autor de “O Livro de Ouro da Amazônia” (Ediouro, 2004). É o responsável pelo texto deste novo livro, que, com a ajuda de riquíssimas ilustrações, narra e costura entre si 42 expedições selecionadas que percorreram diferentes partes da Amazônia brasileira entre 1500 e 1930. Este amplo período é delimitado no seu início pelas primeiras viagens periféricas de navegadores europeus em torno da foz do rio Amazonas e, no seu final, pelas últimas expedições basicamente terrestres de Cândido Rondon até o coração continental da Amazônia.

Escolher essas 42 expedições, deixando de fora cerca de 30 outras, deve ter sido uma das tarefas mais difíceis do autor na montagem desta publicação, mas o seu esforço de síntese funcionou: permitiu que o livro ficasse dentro de dimensões razoáveis para o tipo de obra que ele pretendia fazer – um livro de textos, fartamente ilustrado e com o adicional de apresentar uma alta qualidade de impressão. Pode-se esperar, com fundamentadas razões, que a obra aqui resenhada vá merecer pelo menos um segundo volume, que inclua as três dezenas de expedições que, embora registradas e estudadas, ficaram de fora. Para dar a dimensão do contexto ainda maior de expedições na região amazônica, Meirelles teve o cuidado de listar, em breves verbetes que compõem um anexo, outras 525 viagens que percorreram trechos da Amazônia, muitas em territórios dos demais países que compartilham a Grande Amazônia com o Brasil. A amostra de expedições analisadas por Meirelles pode até ser considerada pequena em face desse universo enorme, mas a obra é de peso, pois parece ser única, pela sua abrangência e pela sua concepção.

O formato adotado na obra merece ser comentado, pois é sistemático e eficaz. Cada expedição analisada recebe um texto padronizado, acompanhado por uma programação gráfica que combina beleza e funcionalidade. O texto é distribuído por quatro colunas em cada página, com inserções de ilustrações que variam em tamanho, forma, natureza e cores – mapas, fotografias, gravuras e pinturas (com paisagens, animais, plantas), roteiros etc. Muitas ilustrações são de página inteira. Todos os textos contêm as mesmas seções – contexto, líder, colaboradores, percurso, obra (textos ou outros materiais produzidos pelos expedicionários), principais contribuições (literárias, científicas, econômicas, geopolíticas, etnográficas etc.) e as notas bibliográficas. As duas primeiras páginas referentes a cada expedição trazem, ao alto, informações adicionais e sintéticas sobre duração, financiadores e percursos. Cada ilustração é acompanhada da identificação de autores, das datas e da sua fonte original – livros, coleções de museus e arquivos, acervos científicos, acervos particulares, álbuns de exposições e muitas outras.

O autor explica brevemente, na introdução, porque incluiu alguns viajantes e excluiu outros. Ressalta que o critério principal foi o de incluir aqueles que “empresta[m] um novo olhar, nova perspectiva sobre a região, a partir de [suas] andanças” (p. 17). Ele buscou evitar redundâncias, fazendo variar as particularidades individuais e as missões dos expedicionários escolhidos – bandeirantes, clérigos, missionários, militares, demarcadores de fronteiras, cientistas (etnólogos, arqueólogos, botânicos, zoólogos, geólogos, linguistas), pintores etc. Fica patente que era impossível incluir todos. No entanto, em face da relevância dos aspectos humanos e naturais da região e da própria abundância de expedições e de documentação conexa, nenhum critério de seleção agradará a tantos leitores quanto a esperança de que Meirelles e a sua equipe produzam um ou mais volumes que incluam as expedições que a obra resenhada foi obrigada a excluir.

Dada a homogeneidade dos 42 relatos, é difícil destacar qualquer um deles. Algumas expedições e alguns expedicionários chamam a atenção exatamente por serem mais conhecidos – Pedro Teixeira, Condamine, Alexandre Rodrigues Ferreira, Spix e Martius, Langsdorff, Wallace, Agassiz e Rondon. Em outros relatos há ilustrações de qualidade excepcional que seduzem o leitor predisposto a usufruir de um livro tão ricamente ilustrado. As cristalinas fotos das expedições de Rondon, as suaves borboletas pintadas por Bates e as densas gravuras de Orton são exemplos disso.

Apenas para enriquecer a apreciação da obra, destaco o capítulo dedicado a Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), militar brasileiro, já que brasileiros propriamente ditos (como Couto de Magalhães, Euclides da Cunha e Mário de Andrade) formam uma pequena minoria dos líderes das expedições selecionadas. Além disso, Meirelles destaca que Rondon, entre todos os expedicionários estudados, foi o “grande viajante”, ou seja, aquele que percorreu as maiores distâncias, acumuladas ao longo de quatro décadas de excursões por áreas hoje incorporadas aos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Goiás, Tocantins, Amapá e Roraima.

Meirelles registra outros feitos notáveis de Rondon. As suas numerosas expedições geraram abundantes 140 relatórios (mais de 20.000 páginas) e outros materiais impressos. Mesmo exercitando a sua notável capacidade de síntese, Meirelles se viu obrigado a dividir as numerosas expedições de Rondon em 14 ciclos, cada um dos quais abrange muitas viagens. Essas expedições foram também as maiores coletoras de materiais científicos e etnográficos depositados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e em outras instituições. É relevante notar também que Rondon cumpriu uma grande variedade de missões em sua longa carreira de viajante – construtor de picadas e de linhas e estações telegráficas; produtor de documentação cartográfica; fornecedor de materiais para estudos científicos; demarcador de fronteiras internacionais; pacificador e protetor de indígenas; fundador e primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Rondon exerceu até o curioso papel composto de líder expedicionário e guia do ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, que se incorporou como convidado do governo brasileiro a uma de suas mais difíceis expedições (ao rio da Dúvida). Roosevelt quase morreu nessa expedição e escreveu sobre ela um ótimo relato de viagem, com fartos elogios a Rondon. Dessa forma, Meirelles ajuda a recuperar a memória deste grande brasileiro que foi Rondon.

Resta dizer que o texto não tem uma ‘tese’ central a argumentar ou provar, conforme destaca o próprio autor na sua introdução. No entanto, seria errado dizer que o livro é meramente descritivo, pois nenhum autor, ao reunir, refletir sobre, selecionar e usar tantos materiais sobre uma região de tão grande complexidade poderia se comportar como um narrador descomprometido. Com efeito, o autor manifesta as suas preocupações e a sua atenção para com questões como a dizimação física, territorial e cultural dos povos indígenas da região, a repartição da região entre a soberania de vários países, a escassez de instituições científicas e de cientistas brasileiros instalados na e estudiosos da região, o papel do avanço das fronteiras agrícolas, pecuárias, mineradoras e madeireiras contemporâneas na degradação do bioma Amazônia, entre outras. No entanto, a alma do livro é a recuperação da memória e dos feitos dos expedicionários e das expedições.

Meirelles produziu um livro vitorioso que merece ser lido pelo público mais variado e amplo possível, desde estudiosos da Amazônia a cidadãos comuns, brasileiros da região e de fora dela e estrangeiros que se interessam por ela. Conforme sugerido acima, fica a esperança de que ele e sua equipe produzam um ou mais novos volumes que tratem de outros expedicionários e outras expedições, para assim enriquecer o acervo de produções nacionais sobre a Amazônia.

José Augusto Drummond – Doutor em Land Resources pela Universidade de Wisconsin, USA. Professor Associado do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília. E-mail: jaldrummond@uol.com.br

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The fire ant wars: nature, science and public policy in twentieth-century America – BUHS (RBH)

BUHS, Joshua Blu. The fire ant wars: nature, science and public policy in twentieth-century America. Chicago: The University of Chicago Press, 2004. 216p. Resenha de: DRUMMOND, José Augusto. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.28, n.55  jan./jun. 2008.

Este livro instigante narra a vitoriosa invasão dos Estados Unidos da América pela América do Sul, ocorrida na década de 1930. Da Flórida à Califórnia, chegando ate à Virgínia ao norte, a ocupação sul-americana afetou quase a metade do território continental norte-americano. No entanto, essa invasão não foi feita por um exército profissional ou irregular de um país ou grupo de países, mas por um bem organizado e belicoso exército de formigas da espécie Solenopsis invicta (cujos nomes populares em português e inglês são respectivamente ‘formiga-de-fogo’ e fire ant), nativa de vários países sul-americanos.

O texto foi adaptado da tese de doutorado do autor (graduado em zoologia) na área de história e sociologia da ciência, defendida em 2003 na University of Pennsylvania. Buhs é atualmente pesquisador independente, trabalhando na Califórnia. A temática e a abordagem se enquadram na história ambiental, com foco mais forte (1) nas trocas biológicas entre regiões e continentes — tema do conhecido livro do historiador ambiental Alfred Crosby, Ecological imperialism: the biological expansion of Europe, 900-1900. Cambridge, Cambridge University Press, 1986 — e (2) nas relações entre ciência e tecnologia e as políticas públicas de combate à formiga-de-fogo. Os cinco capítulos são muito bem escritos, organizados e documentados, compondo um volume compacto e repleto de informação detalhada e sólida, análise aguda, discussão teórica e conceitual avançada e conclusões desafiadoras.

Buhs inicia o livro com uma torrente de informações sobre a origem geográfica, a ecologia e a biologia da formiga-de-fogo, uma entre muitas centenas de espécies de formigas nativas da América tropical e subtropical. Poucas décadas depois de a sua vanguarda invadir os Estados Unidos, no início da década de 1930, provavelmente pelo porto marítimo de Mobile (Alabama), a formiga-de-fogo se reproduziu e se espalhou vigorosamente. Chegou ao ponto de se tornar uma espécie ‘típica’ do Sul dos Estados Unidos, tanto que muitos residentes chegaram a considerá-la uma espécie nativa. No entanto, logo se percebeu que era uma invasora, pois virou grave praga em parques, praças e quintais urbanos, em beiras de estradas e em terras dedicadas à agropecuária — embora menos presente em áreas densamente florestadas. Por causa disso ela foi exaustivamente estudada e tornou-se alvo de campanhas caríssimas (todas fracassadas) de controle e erradicação. Transformou-se até em ‘personagem’ da cultura sulista dos Estados Unidos, homenageada por músicas, festivais e narrativas de folclore, sendo até adotada como mascote de times esportivos. No contexto anticomunista da Guerra Fria, conservadores menos tolerantes e mais mal-humorados chegaram ao extremo de comparar as formigas do fogo a invasores ‘comunistas’.

No entanto, ainda há incertezas fascinantes sobre a invasora. Por exemplo, não se sabe ao certo de onde ela veio — se da Argentina, do Paraguai ou do Brasil, países nos quais é nativa. Estudos genéticos indicam que as populações de formigas do fogo dos Estados Unidos são mais fortemente aparentadas com as do médio rio Paraguai. Outra incerteza é sobre o modo da invasão — uma ou mais rainhas grávidas teriam sido transportadas em cargas de frutas e madeiras? Ou teria uma colônia inteira sido transportada nas terras usadas como lastro nos navios? Talvez nunca se descubra o modo de invasão, mas ela certamente teve a ajuda involuntária dos humanos. Por que a formiga-de-fogo se tornou a espécie de formiga dominante em alguns lugares, e em outros ficou em plano secundário?

Seja como for, a formiga-de-fogo, adaptada a terras sujeitas a perturbações naturais periódicas, ligadas às cheias e vazantes de corpos de água, coloniza facilmente terras perturbadas, tanto naturalmente quanto pela atividade humana. Essa qualidade ajudou no seu rápido espalhamento do litoral do Alabama para os demais estados do Sul e Sudeste dos Estados Unidos, pois eles passavam por uma fase de intensa modernização agrícola. Os novos, numerosos e extensos campos de cultivo e pastos, o desmatamento, a introdução de maquinário pesado (tratores e bulldozers) e de pesticidas, além de obras diversas (estradas, canais, drenagem etc.), criaram territórios ideais para a proliferação da cuiabana. Ou seja, a disseminação das formigas-de-fogo também teve a ajuda humana involuntária. Porém, dois outros fatores de ordem estritamente natural ajudaram nessa proliferação: a falta de um predador ou competidor na fauna nativa e os invernos brandos. Porém, um outro fator natural — invernos rigorosos — ajudou a controlar a sua progressão mais para o norte dos Estados Unidos.

Em contraste com as primeiras seções do livro, onde predominam as abordagens e fatos da ecologia, zoologia, história natural e geografia física, as demais focalizam ações e atitudes humanas em relação às formigas-de-fogo, principalmente de cientistas, técnicos governamentais, políticos locais, estaduais e federais e fabricantes de pesticidas. As ‘guerras’ mencionadas no titulo não se deram, portanto, apenas entre os humanos em geral e os invasores invertebrados, mas entre diferentes segmentos da sociedade civil e do aparelho governamental. Eles discordavam entre si quanto à identificação, aos perigos e às vulnerabilidades da formiga-de-fogo e quanto aos modos de combatê-la. Não havia consenso sobre a sua periculosidade, por exemplo. As guerras entre humanos se explicitaram nas diferentes campanhas de erradicação e controle da formiga-de-fogo, em que se enfrentaram portadores de diferentes conceitos sobre a natureza e sobre a sociedade, correspondentes a coalizões políticas mais ou menos fortes e duradouras que reuniam atores desde o nível estritamente local ao nacional.

O autor demonstra esperança de que o melhor conhecimento sobre essas guerras e sobre o fracasso generalizado do combate às invasoras contenha uma “lição de humildade” (p.172) para os humanos confrontados com outros problemas naturais. Ele sustenta que natureza e sociedade são muito mais complexas internamente e nas suas relações mútuas do que supunha a maioria dos que estiveram nas trincheiras humanas das guerras. Técnicos e cientistas, por exemplo, saíram chamuscados, pois a sua credibilidade junto aos cidadãos foi seriamente abalada. O seu engajamento nas guerras os colocou na companhia um tanto incômoda de políticos e lobistas oportunistas, especialmente aqueles ligados à ainda nascente indústria de pesticidas sintéticos. Esse ainda jovem ramo industrial viu no combate às formigas-de-fogo uma grande oportunidade de vender os seus produtos e de convencer o público sobre as suas virtudes.

As fontes usadas são variadas e amplas. Materiais primários (cartas, memorandos, planos e relatórios) vieram de arquivos históricos e administrativos locais, estaduais e nacionais. Papers e relatórios científicos inéditos foram pesquisados em arquivos e bibliotecas universitárias e em arquivos particulares de cientistas. O autor usou ainda uma extensa relação de livros e teses universitárias de muitas áreas de saber e dezenas de artigos científicos (publicados em revistas especializadas de história natural, ecologia, zoologia, geografia, agronomia, química, história da ciência e história ambiental, ciência política etc.), ilustrando bem o caráter multidisciplinar da pesquisa. As bem selecionadas ilustrações (mapas, desenhos, charges e fotografias) enriquecem o texto.

O livro é de alta qualidade e será de interesse e proveito para pesquisadores, estudantes e cidadãos interessados nas relações entre humanos e não-humanos, em especial no tocante a introduções intencionais ou acidentais de seres vivos em locais distintos dos seus habitats ou áreas de ocorrência naturais. No entanto, cabe destacar dois pontos. Primeiro, trata-se de uma temática que, embora relevante para a realidade brasileira — diversa da norte-americana —, é um tanto avançada para o estado atual das ciências biológicas e sociais no Brasil. Segundo, a abordagem é avançada, e não introdutória. É mais recomendável, portanto, o seu uso em centros de pesquisa e pós-graduação, e não em cursos de graduação.

José Augusto Drummond – Centro de Desenvolvimento Sustentável – Universidade de Brasília (UnB), SAS Quadra 05, bloco H, n. 50, 2º and., zona central. 70070-914 Brasília – DF – Brasil. E-mail: jaldrummond@uol.com.br

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Human natures — genes, cultures and the human prospect | Paul Ehrlich

Se você é um cientista social que não admite que as palavras ‘evolução’ e ‘cultura’ habitem a mesma frase — como fiz de propósito no título acima —, então não leia este provocativo livro de Paul Ehrlich. Mas se você é um cientista natural que acha que a genética explica sem maiores dificuldades todos os aspectos do comportamento humano, o conselho é o mesmo: não leia este livro. Ambos os tipos de leitores ficarão desconcertados e correrão o sério perigo de mudarem suas opiniões.

Paul Ehrlich tem autoridade para escrever um texto como esse, capaz de abalar as convicções dos dois lados da polêmica questão das relações entre a evolução biológica e a cultura humana. Biólogo, professor de estudos populacionais e de ciências biológicas da Universidade de Stanford California (EUA), ele é nada menos que um dos inventores da questão ambiental contemporânea. Escritor prolífico, é autor e co-autor de dezenas de artigos e livros, entre os quais figuram pelo menos dois clássicos da moderna literatura socioambiental das décadas de 1960 e 1970 — The population bomb e extinction: the causes and consequences of the disappearance of species —, que colocaram os temas da superpopulação e da extinção de espécies na pauta ambiental planetária. Ehrlich resumiu boa parte de suas próprias pesquisas biológicas e ambientais, em combinação com uma excelente exposição sobre os fundamentos da ecologia, num belo livro de divulgação científica traduzido para o português (O mecanismo da natureza, Campus). Foi também um dos primeiros cientistas a se empenhar publicamente na proteção da biodiversidade e na promoção do princípio de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Leia Mais

Conhecimento e fronteira: história da ciência na Amazônia | Priscila Faulhaber e Peter Mann de Toledo

Conhecimento e fronteira: história da ciência na Amazônia ofe- rece aos leitores, além de farta documentação e muita informação, uma acurada análise a respeito do tema englobado pelo título: a história da ciência, dos cientistas e das instituições científicas na Amazônia brasileira. O livro focaliza primordialmente o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), sediado em Belém, e, de modo secundário, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sediado em Manaus. O volume está destinado a se tornar uma obra de referência.

O livro divide-se em duas partes principais. A primeira delas, intitulada ‘Estratégia científica e unidades de pesquisa na Amazônia’, reúne 14 ensaios e artigos de especialistas em história e política da ciência, em tecnologia e instituições científicas. A segunda parte, sob o título ‘Trajetória social e memória institucional’, apresenta as transcrições de 31 entrevistas e depoimentos de pesquisadores e administradores que atuaram direta ou indiretamente no MPEG, no Inpa ou no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ao qual são subordinados esses dois principais institutos de pesquisa da Amazônia. A ‘cronologia’ dos dois institutos e a ‘iconografia’, levantadas com rigor e que figuram ao final do volume, formam uma terceira e enriquecedora parte, situando fatos e personagens mencionados ao longo do livro. Leia Mais

Fruitless Trees – Portuguese Conservation and Brazil’s Colonial Timber | Shawn William Miller

Os usos e abusos das florestas tropicais brasileiras na era colonial são tema de mais um livro em língua inglesa. Este texto de Shawn William Miller, professor assistente de história da Brigham Young University (EUA), pode ser lido como complemento ao merecidamente famoso With Broadax and Firebrand, de Warren Dean (já traduzido para o português, com o título A Ferro e Fogo, pela Companhia das Letras, em 1996). Fruitless Trees, embora monográfico e menos ambicioso que o livro de Dean, é bem focalizado, ricamente documentado, bem escrito e fácil de ler. Além do mais, tem uma tese central que deverá gerar polêmica – a de que o monopólio real português sobre as “madeiras de lei” do Brasil foi o principal fator de destruição florestal no Brasil colonial. Ou seja, a “proteção” governamental causou a devastação. Leia Mais

A geografia política do desenvolvimento sustentável | Bertha Becker e Mariana Miranda

Esta coletânea reúne textos apresentados no simpósio ‘O desafio do desenvolvimento sustentável e a geografia política’, realizado no Rio de Janeiro em outubro de 1995, por iniciativa da União Geográfica Internacional e do Laboratório de Gestão do Território (LAGET) do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trata do polêmico tema do desenvolvimento sustentável. Os textos são de geógrafos, economistas, cientistas políticos e sociólogos, e tratam da desigualdade da distribuição dos recursos naturais, do desenvolvimento tecnológico, da globalização econômica, das relações entre problemas locais e globais e da eficácia de programas específicos baseados no controvertido conceito.

A coletânea reúne algumas contribuições conceituais e teóricas valiosas para o refinamento do conceito, possibilitando o seu uso mais preciso, tanto por geógrafos quanto por outros cientistas que pensam sistematicamente as relações entre os recursos naturais e o desenvolvimento sócio-econômico. Alguns artigos são mais propriamente normativos ou opinativos. Há numerosas discussões conceituais. Infelizmente, poucos artigos apresentam resultados de pesquisas originais, baseadas ou não no conceito. O conjunto é heterogêneo, como geralmente acontece com coletâneas, mas a heterogeneidade desse volume tem a desvantagem particular de colocar em dúvida a validade do próprio conceito que lhe dá o título. O volume inaugura uma verdadeira temporada de caça ao conceito de desenvolvimento sustentável. Leia Mais