Arte e conhecimento em Leonardo da Vinci | Alfredo Bosi || Leonardo da Vince | Walter Isaacson

A tarefa do historiador

Historiadores visam compreender eventos passados. Restos de colunas sugerem um templo que eles tentam imaginar utilizando elementos preservados. Entretanto, às vezes, nem restos existem. Em sua Institutio oratoria, Quintiliano discute Virgílio e Ovídio, comenta que Macer e Lucrécio valem a leitura e, então, menciona Varrão Atacino, Cornélio Severo, Saleio Basso, Gaio Rabírio, Albinovano Pedo, Marco Fúrio Bibáculo, Lúcio Ácio, Marco Pacúvio e outros poetas que admirava. Desses autores, hoje só existem obras de Virgílio, Ovídio e Lucrécio (GREENBLATT, 2011, p. 59). Historiadores não podem imaginar autores que sequer sobreviveram enquanto nomes. Então, ao escrever, eles tentam encaixar peças fragmentadas de um quebra-cabeças cujo amplo desenho conhecem vagamente, e desconhecem suas dimensões.

Existem inúmeras abordagens para estudar fragmentos de épocas passadas. No caso de documentos escritos, a História Conceitual talvez seja uma das abordagens mais importantes, pois conceitos estruturam questões de época e permitem relacionar momentos distintos. Matteo Palmieri, humanista e embaixador florentino, escreveu entre 1431 e 1438 o Libro della vita civile [Livro da vida civil], no qual fala a respeito da formação para viver dignamente em uma “ótima república”: Leia Mais

Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences – STENGERS (BMPEG-CH)

STENGERS, Isabelle. Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences. JAMES, William. Apresentação de Thierry Drumm., Paris: Les Empêcheurs de Penser en Rond/La Découverte, 2013. 215p. Resenha de: SARTORI, Lecy. Outra ciência? Conhecimento, experimentos coletivos e avaliações. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Belém, vol.13, n.3, set./dez. 2018.

“Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences” (Uma outra ciência é possível! Manifesto por uma desaceleração das ciências) é o último livro da filósofa da ciência Isabelle Stengers, professora da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica. Filósofa, graduada em química e pesquisadora da história da ciência, Stengers é uma importante intelectual que reflete sobre a relação entre política, ciência e economia capitalista, e também discute sobre uma antropologia implicada em questionar os saberes, as disciplinas e as instituições.

Stengers participou do colóquio intitulado “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da terra”, ocorrido em 2014 no Rio de Janeiro, evento que, de forma geral, discutiu os temas da catástrofe ambiental e da mudança climática global. A catástrofe ecológica global é analisada por meio do conceito de Gaia. Para Stengers (2014), Gaia não é apenas outra forma de nominar a Terra como um recurso a ser explorado de forma sustentável, mas sim um “[…] novo campo científico […]” ou “[…] um complexo conjunto de modelos e dados interconectados […]” (Stengers, 2014, p. 2, tradução nossa), produzindo novos sentidos e respostas ao capitalismo globalizado. Seu último livro publicado em português tem como título “No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima” (Stengers, 2015). Suas análises fazem-nos pensar em possibilidades criativas de ações de resistência política e de lutas anticapitalistas.

No livro ora resenhado, Stengers (2013, p. 8, tradução nossa) explora uma possibilidade de “[…] reconciliação do público com sua ciência […]”, no sentido de produzir saberes a partir das preocupações, das hesitações, das consequências e das opiniões sobre determinada ideia ou solução científica.

Aqui, “[…] produzir saberes […]” aproxima-se, como aponta Stengers (2013, p. 9, tradução nossa), daquilo que Latour (2004, p. 235) denominou de “[…] matter of fact […]” ou “[…] matter of concern […]”, para criticar a objetividade científica, ou do que Guattari (1987, p. 8) chamou de “[…] matière à préoccupation […]”. Stengers (2013) propõe não apenas produzir um campo de comunicação, mas discussões acerca das respostas dos cientistas para situações que nos dizem respeito, como os problemas sociais e econômicos (por exemplo, o desemprego, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais, o efeito estufa, o câncer, as patentes de medicamentos). O livro apresenta a importância da elaboração de uma inteligência pública das ciências, por meio da noção de compreensão, que seria o mesmo que produzir em conjunto (com diferentes atores, cidadãos, especialistas e pesquisadores) ações que impliquem soluções sem ignorar as preocupações econômicas e sociais. A ideia principal é possibilitar o encontro entre uma multiplicidade de pessoas e os conhecimentos capazes de criar de forma inteligente propostas para grandes problemas. A partir dessa ideia, Stengers (2013, p. 83, tradução nossa) propõe a “[…] desaceleração das ciências […]” ou slow science (que apresenta a mesma lógica de iniciativas como slow foodslow cityslow economy). Ela fala, dessa forma, de uma ciência produzida de maneira lenta e em conjunto com outras pessoas e saberes, que ativam conhecimentos experimentais e criativos na formulação de novos modos de existência e de resistência, opondo-se à captura de regimes de subjetividade capitalista.

Este livro é composto por cinco capítulos e pela tradução de um texto do filósofo americano, médico e psicólogo William James (1948-1910). A tradução é antecedida por uma apresentação feita pelo pesquisador Thierry Drumm. A capa do livro exibe ilustração de Milo Winter, publicada no livro de Verne (2011), “20 mil léguas submarinas”. A publicação foi organizada pela editora Les Empêcheurs de Penser em Rond – La Découverte. O livro agrega artigos de Isabelle Stengers anteriormente publicados, uma conferência e um artigo inédito. Pode-se afirmar que esta obra apresenta reflexões e discussões muito mais amplas do que a ideia apontada no título, trazendo à tona temas como as avaliações de produções acadêmicas, a elaboração de uma ciência coletiva e experimental, assim como discussões sobre objetivos e funções dos experts.

Em seu manifesto, Stengers (2013) expõe o corporativismo referente ao financiamento acadêmico, bem como as contradições que sujeitam as pesquisas e as produções científicas. No primeiro capítulo, “Pour une intelligence publique des sciences” (Por uma inteligência pública das ciências), Stengers (2013) questiona a autoridade das ciências, por meio de discussões coletivas e da participação dos cidadãos na exposição dos problemas sociais. Essa forma coletiva de refletir sobres os problemas e de elaborar soluções foi denominada pela autora de “[…] inteligência pública das ciências […]” (Stengers, 2013, p. 10, tradução nossa). Desse modo, a autora resiste às “[…] pretensões dos saberes científicos […]” (Stengers, 2013, p. 15), participando da produção do que Haraway (1995, p. 18) denominou de “[…] saberes localizados”.

Nesse sentido, Stengers (2013) propõe a construção de um espaço de discussão com entusiastas que não fazem parte da academia para compor uma produção em conjunto. Isso, no entanto, não significa a popularização da ciência, a qual é entendida como a divulgação das produções científicas para um público amplo. O objetivo dessa popularização é conscientizar os cidadãos sobre direitos, deveres e responsabilidades sociais. Os cidadãos são educados a fim de que produzam reflexões e informações para os pesquisadores desenvolverem as análises científicas. Diferentemente dessa ideia, Stengers (2013) propõe a formação de grupos que sejam capazes de produzir conhecimento (ou uma ciência experimental) e desenvolver formas de ação junto aos elementos dos contextos sociais em que os próprios atores estão inseridos.

No subtítulo do livro, Stengers (2013) destaca a ideia de desaceleração da ciência ou de uma ciência lenta, feita no tempo necessário para a elaboração de suas questões, e não sujeita ao mercado do capital e aos indicadores de produção. A autora mostra como a ciência que está sujeita às necessidades do capital é elaborada de forma rápida, não refletindo sobre suas consequências futuras. Como exemplo, ela dispõe no segundo capítulo, intitulado “Avoir l’étoffe du chercheur” (Competências do pesquisador), as consequências das descobertas científicas como o uso de organismos geneticamente modificados (OGM). Segundo a autora, as descobertas científicas foram produzidas visando os interesses econômicos, ao invés de terem sido analisadas as suas consequências, buscando-se evitar a destruição do planeta. Para ela, as soluções deveriam ser produzidas de forma criativa, sem serem subestimados as dificuldades e os saberes locais. Nesse sentido, as lutas políticas não acionam a ideia de representação, mas devem produzir “[…] caixas de ressonância […]” (Stengers, 2015, p. 148) que explicitem as experiências, fazendo com que as pessoas reflitam sobre formas de ação e as produzam.

Uma interessante contribuição do livro é a discussão sobre a lógica econômica capitalista. Em seus efeitos, esta lógica diminui o tempo necessário para produzir questões e para analisar as consequências de determinadas ações científicas. Nesse contexto, as regras de financiamento à pesquisa direcionam a produção científica e diminuem a autonomia do pesquisador, o qual fica sujeito aos temas interessantes ao poder econômico e à indústria que investem em suas análises. Stengers (2013) explicita a regulação da produção científica por meio da “[…] fórmula de excelência […]” (Stengers, 2013, p. 52, tradução nossa), que dirige o comportamento para o “[…] conformismo, oportunismo e flexibilidade […]” (Stengers, 2013, p. 52, tradução nossa), exigências da nova forma de gestão do conhecimento.

No terceiro capítulo, “Sciences et valeurs: comment ralentir” (Ciências e valores: como desacelerar), Stengers (2013) apresenta uma análise da forma como o conhecimento científico é atualmente avaliado, procurando-se uniformizá-lo, sem se considerar a pluralidade e a qualidade da produção. Neste cenário, o que importa é o número de publicação, e não a qualidade do que está sendo produzido como conhecimento. Para exemplificar, ela expõe a produção científica do filósofo Gilles Deleuze, o qual, segundo o formato atual de exigência de publicação, seria um pesquisador com pouco êxito ou baixo desempenho em avaliações1 científicas. Conforme Stengers (2013), devemos questionar esse formato de produção rápida de conhecimento e formular ferramentas para resistir aos critérios de avaliação das universidades.

Outra contribuição do livro é a tradução de um texto de William James, apresentado por Thierry Drumm. O artigo de William James, “Le poulpe du doctorat” (ou The Ph.D. Octopus), foi publicado, pela primeira vez, em 1903, na revista Harvard Monthly. No texto, o filósofo apresenta, de forma jocosa, uma crítica à política acadêmica e à regra que torna o doutorado obrigatório para os professores universitários. A universidade, por sua vez, é comparada a uma máquina de produção de títulos. A contribuição do texto está na descrição crítica do modo de funcionamento da produção acadêmica de sua época. James mostra-se contrário ao status e ao prestígio daqueles que possuem um diploma, como o de doutorado. O título de doutor, segundo o autor, incentiva o esnobismo acadêmico e a publicidade individual. Acionar o título como uma ferramenta resulta no conformismo e na institucionalização de uma lógica quantitativa. Para James (1903), o objetivo da universidade é instruir as pessoas, e não valorizar um título concedido ao pesquisador que se dedica por um tempo a um determinado assunto.

Infelizmente, não existe uma versão em português do texto de William James. Recentemente, a editora da Universidade de São Paulo (Edusp) publicou um livro organizado pela historiadora Maria Helena P. T. Machado com as cartas que William James escreveu ao participar de uma expedição ao Brasil, em 1865-1866 (Machado, 2010). Ele apresenta o jovem William James questionando a ciência da época e a produção criacionista de seu professor e chefe da Expedição Thayer, Louis Agassiz. William James, mais simpático à teoria da evolução de Charles Darwin, criticou a posição política (com interesses americanos na exploração da Amazônia) e ideológica de Louis Agassiz, que defendia o racismo e as teorias da degeneração. Os escritos de William James explicitam os interesses políticos e o financiamento da coleta de dados prevista na Expedição Thayer, bem como a sua perspectiva de análise. Como William James, Isabelle Stengers analisa a produção científica, a política de financiamento à pesquisa e as formas de avaliação da sua época.

No penúltimo capítulo, “Plaidoyer pour une Science ‘Slow’” (A defesa de uma ciência “lenta), Stengers (2013, p. 83, tradução nossa) destaca a fabricação de uma “[…] economia do conhecimento […]” que produza vínculos de cooperação crítica e de produção coletiva. Trata-se de modificar o foco das avaliações para destacar o conteúdo das produções de conhecimentos, e não o número de artigos publicados ou patentes adquiridas. A slow science, antes de ser uma exigência de mais tempo e de autonomia para a formulação de questões importantes, procura estabelecer outras articulações, além dos vínculos firmados com o mercado e com o Estado.

O livro de Stengers (2013) é instigante ao analisar a forma como a produção científica atual é insustentável. A autora aponta o modo como os pesquisadores acreditam que as soluções dos problemas serão elaboradas de forma racional ou científica, ao mesmo tempo em que ignoram a opinião, as preocupações e os saberes daqueles que são afetados pelos problemas sociais. Ao afirmar que “[…] uma outra ciência é possível […]”, Stengers (2013, p. 6, tradução nossa) explicita no último capítulo, “Cosmopolitique: civiliser les pratique modernes” (Cosmopolítica: civilizar as práticas modernas), que não é uma questão relacionada à qualidade da informação que está em jogo, mas sim a necessidade de os pesquisadores serem capazes de produzir ciências a partir de uma inteligência coletiva, que conecte diferentes modos de elaboração de saberes e reative outras formas de resolver os problemas e de resistir às demandas impostas pelo mercado à produção científica.

Notas

1Algumas referências sobre o modo como as avaliações (ou ‘cultura de auditoria’) limitam as produções de saberes e as ações criativas são Strathern (2000)Shore (2009)Power (1994) e Giri (2000).

Referências

GIRI, Ananta. Audited accountability and the imperative of responsibility: beyond the primacy of the political. In: STRATHERN, Marilyn (Ed.). Audit cultures: anthropological studies in accountability, ethics and the academy. London: Taylor & Francis, 2000. p. 173-195. [ Links ]

GUATTARI, Félix. Les schizoanalyses. Chimères, Bedou, Paris, n. 1, p. 1-21, 1987. [ Links ]

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, quad. 1995. [ Links ]

JAMES, William. The Ph.D. Octopus. Harvard Monthly, Cambridge, v. 36, n. 1, p. 1-9, 1903. [ Links ]

LATOUR, Bruno. Why has critique run out of steam? From matters of fact to matters of concern. Critical Inquiry, Chicago, v. 30, n. 2, p. 225-248, Winter 2004. [ Links ]

MACHADO, Maria Helena P. Toledo (Org.). O Brasil no olhar de William James: cartas, diários e desenhos, 1865-1866. São Paulo: Edusp, 2010. [ Links ]

POWER, Michael. The audit explosion. London: Demos, 1994. [ Links ]

SHORE, Cris. Cultura de auditoria e governança iliberal: universidades e a política da responsabilização. Mediações, Londrina, v. 14, n. 1, p. 24-53, jan.-jun. 2009. DOI: http://dx.doi.org/10.5433/2176-6665.2009v14n1p24. [ Links ]

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2015. (Coleção Exit). [ Links ]

STENGERS, Isabelle. Gaia, the urgency to think (and feel). In: COLÓQUIO INTERNACIONAL OS MIL NOMES DE GAIA DO ANTROPOCENO À IDADE DA TERRA, 2014, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos… Rio de Janeiro: Departamento de Filosofia/PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, 2014. Disponível em: <https://osmilnomesdegaia.files.wordpress.com/2014/11/isabelle-stengers.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2018 [ Links ]

STRATHERN, Marilyn. New accountabilities: anthropological studies in audit, ethics and the academy. In: STRATHERN, Marilyn (Ed.). Audit cultures: anthropological studies in accountability, ethics and the academy. London: Taylor & Francis, 2000. p. 1-6. [ Links ]

VERNE, Jules. 20 mil léguas submarinas. Tradução e notas de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. [ Links ]

Lecy Sartori – Universidade Federal de São Paulo. E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[MLPDB]

 

Aristotle on Knowledge and Learning: The Posterior Analytics – BRONSTEIN (M)

BRONSTEIN, David. Aristotle on Knowledge and Learning: The Posterior Analytics. Oxford: Oxford University Press, 2016. xiii-272p. Resenha de ZUPPOLINI, Breno Andrade. Manuscrito, Campinas, v.40 n.4 Oct./Dec. 2017.

David Bronstein’s outstanding book is one of the greatest contributions to the study of Aristotle’s Posterior Analytics (hereafter, APo) of the last years. All of his claims are carefully argued in admirably clear prose. The book is original in many ways, but its main achievement is an illuminating reconstruction of Aristotle’s account of learning. Bronstein argues that we can get a better understanding of this account if we frame it as a reaction to Meno’s Paradox (Meno 80e 1-5). According to the Paradox, for any x, either we know x or we do not know it. In either case, we cannot search for x: if we do not know x, we cannot even identify the object of our investigation; if we already know x, investigating it is pointless. The fact that the APo contain only one explicit reference to this puzzle (APo I 1, 71a 29-30) is irrelevant. Bronstein convincingly argues that Aristotle is in many passages offering solutions for (and sometimes explicitly formulating) what can be taken as different versions of the Paradox. The result is a systematic discussion of three different kinds of learning (listed in Metaph. A 9, 992b 30-33): “learning by demonstration” is analysed in Part I, “learning by definition” in Part II, and “learning by induction” in Part III.

One of the main theses of the book is that inquiry, for Aristotle, follows a “Socratic Picture” (as Bronstein calls it), which can be divided into five stages:

Stage 1: We do not know whether a subject S exists and we seek whether it exists.

Stage 2: We know that S exists, and we seek what it is (its essence).

Stage 3: We know what S is, and we seek whether a predicate P belongs to it as one of its demonstrable attributes.

Stage 4: We know that P belongs to S as one of its demonstrable attributes and we seek why it belongs.

Stage 5: We know why P belongs to S.

This five-stage picture shows us that learning is not an “all-or-nothing” matter, providing therefore a way-out to Meno’s dilemma. First, we learn by induction preliminary accounts specifying the meaning of conceptual terms (also known as “nominal definitions”), so we can investigate whether or not they denote existing kinds (APo II 19 and Bronstein’s Chapter 13). We move from Stage 1 to Stage 2, for instance, when we know that there is a real kind satisfying our account of a given subject-term “S”. Second, we get from Stage 2 to Stage 3 by division or induction: if S is what Bronstein calls a “subordinate subject-kind” (a species of a genus, e.g. human being), its essence is discovered by division; if S is a “primary subject-kind” (a genus, e.g. animal), its essence is grasped by induction (APo II 13 and Bronstein’s Chapter 12). Once we know the essence of our subject S, we start investigating its demonstrable attributes. For Aristotle, knowing that a predicate P belongs to S is the same as knowing that P exists, so the passage from Stage 3 to Stage 4 also involves using a preliminary account to determine whether “P” corresponds to an existing kind (now, a “predicative” or non-substantial one). Finally, we move from Stage 4 to Stage 5 by grasping the cause of S being P, which for Aristotle is the same as discovering the essence of P (APo II 8 and Bronstein’s Chapter 10). As the inquirer moves from one stage to the other, she upgrades her epistemic status by engaging in the three types of learning. Before undertaking a proper “scientific” investigation, she learns preliminary accounts “by induction”. When she is on her way to become a scientist, she learns “by definition” the essence of attributes (by using demonstration) and subject-kinds (by using division or induction). Finally, once the inquirer becomes an expert scientist, she learns “by demonstration” by getting a better understanding of the explanatory power of previously obtained definitions (see p. 7 and p. 73).

Bronstein also offers a promising – although “admittedly speculative” (p. 49) – solution to a classic exegetical problem, recently revived in the literature by Michael Ferejohn (2013, 147 ff.). As we have seen, the Socratic account of inquiry Bronstein attributes to Aristotle involves the essence of subjects as well as the essence of predicates. In fact, Aristotle seems to endorse two different (and possibly incompatible) models of scientific explanation. According to what Bronstein calls “Model 1”, the cause of a subject S being P is the essence of S. A “Model 2” demonstration, on the other hand, is such that the cause of S being P is the essence (or the causal part of the essence) of P. Bronstein argues that Model 1 and Model 2 demonstrations are connected in the following way (pp. 48-50). We know, by demonstration, that the moon (minor term) is eclipsed (major term) because of the screening of the sun by the earth (middle term). Since the eclipse is defined as loss of light from the moon because of screening of the sun by the earth (APo II 2, 90a 14-18), we can say that the major (eclipse) and the middle term (screening of the sun by the earth) are definitionally, and therefore “immediately”, connected (see 93a 36). However, the connection between the middle (screening of the sun by the earth) and the minor term (moon) requires further explanation. This explanation probably involves a reference to essential features of the moon, like its natural movement and its position in the composition of celestial spheres. Thus, although the demonstration of the eclipse follows Model 2, once we pursue a demonstration of its minor premise we might end up with an explanation following Model 1. This solution is attractive for many reasons. First, it explains how the two models endorsed by Aristotle can be taken as parts of the same coherent doctrine. Second, it guarantees a prominent place to Model 2 demonstrations, which are often neglected or wrongly taken (to my eyes at least) to be secondary, less important types of explanations – other exceptions to this tendency include Goldin (1996)Charles (2000), and Angioni (2016). Thirdly, Bronstein’s account of these two models makes Aristotle’s theory philosophically interesting in a particular way: the reason why there is a regular, stable relation between a demonstrable attribute and its subject is that their essences are linked by a chain of causal connections.

Let me now discuss some unsolved problems in Bronstein’s book. We can distinguish two schools of interpretation, so to speak, when it comes to the relation between demonstrative knowledge (the knowledge a scientist has of demonstrable truths) and nous (the knowledge a scientist has of indemonstrable principles, mainly definitions). According to one of these schools (often referred to as “intuitionist” or “rationalist”), the principles become known in advance of any demonstrative practise and are grasped independently of their explanatory connections to other truths in the domain (see, for instance, Irwin 1988Ferejohn 19912009). The other school (sometimes called “interrelational” or “explanationist”) argues that having noetic knowledge of the principles, including definitions, involves grasping them as principles, i.e. as premises from which other truths are demonstrated, but which are not demonstrated from more basic premises (Kosman 1973Burnyeat 1981McKirahan 1992Charles 2000). Bronstein seems to be somewhere between the two schools. On the one hand, his Socratic Picture contradicts the “explanationist” approach, since we get to know the essence of a subject S before we start investigating the cause of S being P (Stage 3 precedes Stage 4). On the other hand, he also disagrees with “rationalist” interpretations, since, for him, having nous of the essence of S requires knowing this essence as the cause of S being P (p. 9; p. 73; p. 222).

The only way Bronstein can keep this intermediate position is by distinguishing non-noetic from noetic knowledge of essences, the first depending only on division and/or induction, the second requiring some demonstrative practice. For the “explanationist” interpretation, a non-noetic grasp of the essence of (e.g.) human being is the knowledge of the fact that human beings are two-footed tame animals (supposing that this is the essence of human beings). This merely factual knowledge differs from the (noetic) knowledge that being a two-footed tame animal is the essence of human beings, which involves grasping it as the cause of their demonstrable attributes. In Bronstein’s view, on the other hand, the method of division can give us knowledge not only of the fact that human beings are two-footed tame animals, but knowledge that this is the essence of human beings. He correctly points out that in APo II 13 Aristotle claims that division gets us to the definition of the object (97b 12-13). However, the philosopher never affirms or implies that division gives us the knowledge of the essence as an essence. For several reasons, the claim that we can know an essence as such independently of its status as a cause is anti-Aristotelian in spirit. The philosopher states that the way we distinguish indemonstrable premises (including definitions) from demonstrable ones is by organizing a whole body of truths based on their causal connections (APr I 30, 46a 17-27). His own scientific practice goes in the same direction. Treatises such as the Historia Animalium, which (one might say) presents a collection of facts grasped by division and induction, do not distinguish causally fundamental truths from demonstrable truths. This is a task Aristotle undertakes only in explanatory studies such as de Partibus Animalium or de Generatione Animalium. The fact that, for Aristotle, grasping an essence as such involves grasping it as a cause or explanatory factor is not exactly surprising. After all, essences are essentially causes of a certain kind (namely, formal causes). If division somehow allows us to distinguish essential from demonstrable attributes, the criteria are unclear, and the proponents of the “rationalist” interpretation may argue that some sort of “intuition” or “mental vision” (nous, according to them) must be part of the process. If, on the other hand, division itself involves explanatory concerns, the members of the “explanationist” school may think their case is already won.

A different but related difficulty concerns the essence of attributes, which, according to Bronstein, are not discovered by division or induction like the essence of subject-kinds. We get to know the essence of the lunar eclipse, for instance, by identifying the cause of the moon being eclipsed (or suffering a certain loss of light). Once this cause is identified, the eclipse can be defined as a loss of light from the moon caused by screening of the sun by the earth. Here, the reader might expect Bronstein to claim that “learning by definition” and “learning by demonstration” coincide, since he accepts that demonstration is the method for learning definitions of attributes. However, he insists that even here the two kinds of learning are distinct. “Learning by definition” is a process in which the inquirer (not the expert) engages, and consists in discovering essences previously unknown. On the other hand, only the expert can “learn by demonstration”, since she is able to acquire “a new understanding of the explanatory power of a definition she already knows” (p. 72). While learning by demonstration “proceeds from definitions”, learning by definition “proceeds to them” (p. 73). I must confess I fail to understand the distinction Bronstein is willing to draw. For him, learning by demonstration consists in grasping explanatory connections between previously recognized facts: knowing x and y in advance (x being the cause of y), the scientist realizes that x is the cause of y (pp. 39-40). However, a demonstration reveals the essence of (e.g.) the lunar eclipse precisely because it displays a causal connection between screening of the sun by the earth and the loss of light from the moon. It is unclear what kind of new information the expert can obtain by formulating (again?) a demonstration that has already revealed to him the cause and essence of eclipse. Still, Bronstein’s efforts to make this distinction are understandable. He is one of the few interpreters (if not the only one) that takes Aristotle’s use of the phrase “learning by demonstration” (APo I 18, 81a 39-40; Metaph. A 9, 992b 30-33) seriously and tries to explain it without reducing demonstration to a pedagogic procedure (as Barnes 1969, for instance, does). In fact, this is one of the most significant contributions of his book.

I would like to address a final issue. As we have seen, Bronstein claims that the essence of subject-kinds is grasped by division and induction, while the essence of attributes (and processes) is grasped by demonstration. The reason, according to him, is that the essences of attributes are “causally complex” and have the structure “A holds of C because of B”. In virtue of this causally complex structure, each of the elements in the essence of an attribute corresponds to one of the three terms involved in a syllogistic demonstration (Bronstein’s Chapter 7 and 10). On the other hand, the essences of subjects are “causally simple”, consisting in a combination of genus plus differentiae (Bronstein’s Chapter 12), which explains why they are grasped not by demonstration, but by division and/or induction. The relevant text here is APo II 9, where Aristotle affirms that only things “whose cause is something different” have definitions isomorphic to demonstrations (93b 25-28). Attributes and processes such as eclipse and thunder would somehow be “different” from their cause, which would make their essence “causally complex”. Subject-kinds (substantial beings, in particular) would be in a way “the same” as their causes, and hence their essences would be “causally simple” (Bronstein’s Chapter 9). I am not convinced that APo II 9 draws a distinction between attributes and subject-kinds (or between non-substantial and substantial beings). As a matter of fact, in Metaph. VII 17 and VIII 2-4, Aristotle applies to substances the theory of definition developed in APo II 8 (see Charles 2000Peramatzis 20112013). One may argue, as Bronstein does (p. 101), that the idea that sensible substances are analysable as compounds of form and matter (crucial to the arguments in the Metaphysics) is absent in the APo. However, Aristotle’s own examples in APo II 8, 93a 22-24, include substances (human being and soul), which suggests that the interdependence between defining and explaining holds good for subject-kinds as well. It is true that these examples are not fully explored, as thunder and eclipse are. Nevertheless, Aristotle might have thought that bringing hylomorphism to the (already complicated) discussion in APo II 8 would create extra difficulties unnecessarily. The absence of hylomorphic considerations in the APo is not a strong reason to think that Aristotle did not have consolidated views about the issue by the time the treatise was written – in APo II 11, for instance, he explores his theory of four causes, one the best-known doctrines of his philosophy of nature. Actually, in APo II 9, the entities whose essence is “not something different” seem to be conceptually simple items, rather than substances (Aristotle’s example is “unit”). Still, there is a sense in which defining and explaining remain interdependent activities even in the case of these simple entities. In a famous a passage from De Anima I 1, Aristotle claims that a definiens that does not help us understand the derivative properties of the definiendum is not properly scientific, but “dialectical and empty” (402b 16-403a 2). In other words, knowing the essence of X as the essence of X involves understanding how it explains X’s demonstrable attributes, even if there is not a demonstration isomorphic to the essence of X.

If this review focused on what I take to be difficulties for Bronstein’s interpretation, it is for a very simple reason: the merits of his book speak for themselves. As with any great philosophical work, even when the readers disagree with the views he advances, they will end up with a better understanding of their own ideas about the topics discussed. For anyone interested in Aristotle’s theory of knowledge, reading and reacting to this book is indispensable.

References

ANGIONI, L. “Aristotle’s definition of scientific knowledge (APo71b9-12)”. Logical Analysis and History of Philosophy 19: 79-105, 2016. [ Links ]

BARNES, J. “The Aristotle’s Theory of demonstration”. Phronesis 14 (2): 123-152, 1969. [ Links ]

BURNYEAT, M. “Aristotle on Understanding Knowledge”. In: Berti, E. Aristotle on Science: The Posterior Analytics, Proceedings of the Eighth Symposium Aristotelicum (pp. 97-139). Padova: Editrice Antenore, 1981. [ Links ]

CHARLES, D. Aristotle on Meaning and Essence. Oxford: Clarendon Press, 2000. [ Links ]

FEREJOHN, M. The origins of Aristotelian science. New Haven: Yale University Press, 1991. [ Links ]

______“Empiricism and First Principles in Aristotle”. In: Anagnostopoulos, G. (ed.) A Companion to Aristotle (pp. 66-80). Chichester: Wiley-Blackwell, 2009. [ Links ]

______ Formal Causes: Definition, Explanation, and Primacy in Socratic and Aristotelian Thought. Oxford: Oxford University Press, 2013. [ Links ]

GOLDIN, O. Explaining an Eclipse: Aristotle’s Posterior Analytics 2.1-10. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1996. [ Links ]

IRWIN, T. Aristotle’s First Principles. Oxford: The Clarendon Press, 1988. [ Links ]

KOSMAN, L. “Understanding, Explanation, and Insight in the Posterior Analytics”. In: Lee, E.N. Mourelatos, A.P.D. & Rorty, R.M. (eds.) Exegesis and Argument, Studies in Greek Philosophy presented to Gregory Vlastos. New York: Humanities Press, 1973. [ Links ]

McKIRAHAN, R. Principles and Proofs. Princeton: Princeton University Press, 1992. [ Links ]

PERAMATZIS, M. Priority in Aristotle’s Metaphysics. Oxford: Oxford University Press, 2011. [ Links ]

______“Science and Metaphysics in Aristotle’s philosophy.” Metascience 22 (2): 303-315, 2013. [ Links ]

Breno Andrade Zuppolini – University of Campinas. Department of Philosophy. Campinas, SP. Brazil. [email protected]

Acessar publicação original

Ecología política en Chile: naturaliza, propriedade, conocimiento y poder – BUSTOS et al (EA)

BUSTOS, Beatriz; PRIETO, Manuel; BARTON, Jonathan (Compiladores). Ecología política en Chile: naturaliza, propriedade, conocimiento y poder. [Sn.]: Editorial Universitaria, 2015. Resenha de: GIMINIANI, Piergiorgio;  JACOB, Daniela. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.53, nov., 2016.

El libro “Ecología política en Chile: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder”, editado por Beatriz Bustos, Manuel Prieto y Jonathan Barton, reúne a doce investigadores afiliados a universidades nacionales e internacionales, que comparten un interés en el estudio de los procesos eco-políticos que están afectando Chile. Los nueve capítulos que componen este libro dan fe de una gran heterogeneidad de enfoques analíticos y de las localidades de investigación. A pesar de su diversidad, los capítulos de “Ecología Política en Chile” se encuentran organizados a partir de una reflexión conceptual sobre los elementos claves para establecer un análisis comparativo y un diálogo entre las distintas posibilidades de investigación abiertas por la ecología política. Los editores proponen pensar la ecología política a partir de cuatro dimensiones: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder. Al problematizar estas cuatro dimensiones, el libro nos invita a preguntarnos sobre cuáles son las naturalezas que las prácticas de uso y conservación de recursos naturales producen desde el punto de vista tanto ontológico como epistemológico.

El enfoque hacia la producción ontológica y epistemológica de la naturaleza en cuanto proceso político es una de las principales novedades del volumen. Sin embargo, no es la única. En los debates analíticos y políticos existe una tendencia a reducir la ecología política a oposiciones dicotómicas, que obscurecen la fragmentación e hibridación de lo político en las relaciones de poder en juego en los conflictos ambientales. Los capítulos de este libro, en particular los capítulos de Palomino-Schalscha y de Román y Barton, nos invitan a considerar el conflicto socio-ecológico más allá de categorías binarias, demostrando el carácter inmanentemente político de estos procesos. Esto va acorde al planteamiento de los autores sobre la ecología política como una postura que “rompe con el mito de la naturaleza como fenómeno prepolítico” (50). La reflexión sobre lo político avanzada por los autores de este libro, nos ayuda a reconocer las especificidades de este fenómeno en la ideología y lógica neoliberal. Esta consideración es inevitable debido a que cualquier estudio de ecología política en Chile, un bastión del neo-liberalismo desde el comienzo de la dictadura militar en 1973, hace evidente los mecanismos particulares de esta ideología en los procesos extracción y, en menor medida, de conservación de recursos naturales en la esfera pública como privada. A diferencia de lo que pueda pensarse en un primer momento, el neoliberalismo no es simplemente la ausencia de Estado, sino que más bien se caracteriza por la reconfiguración de la gobernanza pública según modelos de lógica financiera, (y ya no la teoría política o filosofía moral) con el fin de sustentar la expansión del mercado, en este caso, de recursos y servicios naturales. A pesar del evidente énfasis de la gobernabilidad medio ambiental neoliberal en el extractivismo, el neoliberalismo en el campo ecológico (como en tantos otros) no es un fenómeno exento de contradicciones. El ejemplo más evidente es el así llamado “neoliberalismo verde”, que mediante la propiedad privada de territorios coarta el extractivismo de recursos, iniciativa que va acorde a las lógicas y expansión del mercado. Como bien señala Palomino-Schalscha en su capítulo sobre los senderos pewenche Trekaleyin en el Alto Bío-Bío, dentro de las mismas lógicas neoliberales, hay espacio para la reapropiación de estas por parte de la sociedad civil, dando espacio a la contestación con el efecto de producir espacios de “aguante”, como fue propuesto por la antropóloga Elizabeth Povinelli (2011).

Otro aspecto llamativo de este libro es la apertura de un espacio de diálogo teórico entre corrientes de pensamiento que no suelen entrar en relación. Los capítulos de este libro se inspiran tanto en los principios de la acumulación por desposesión desarrollado por David Harvey (2003) y en general por la geografía neo-marxista a las corrientes post-humanas, inspiradas en el trabajo de Donna Haraway (2008) y Bruno Latour (2008) en el estudio de la ciencia y tecnología. La relación entre estas dos corrientes permite ver cómo su conjunción es solo en apariencia contradictoria. Por un lado, un enfoque estructural nos permite ver quién produce e impone modelos epistémi-cos dominantes sobre la naturaleza; por otro lado, una perspectiva post-humanista nos invita a reconocer cómo el conocimiento en sí mismo, es un proceso de construcción ontológico donde resulta difícil plantear una clara distinción entre conocimientos científicos y sociales. Ambas posibilidades coexisten en conflictos medioambientales, como el desastre ambiental provocado por la celulosa Arauco que vio la pérdida de vida de cien Cisnes de Cuello Negro en Valdivia, presentado por Sepúlveda y Sundberg, y el desarrollo de enfermedades causada por la sobrepoblación de salmón comercial en todo el sur de Chile analizado por Bustos. El estudio de estos tipos de casos se vuelve necesario por una reflexión crítica constante sobre la cultura del experticia, como un campo de saber a -politicizado que caracteriza la producción de conocimiento y políticas públicas en Chile.

Otras dos novedades relevantes de este libro son la pro-blematización del concepto de propiedad en las disputas medioambientales y la relación entre colonialismo y ex-tractivismo en juego, en los procesos eco-políticos contemporáneos en Chile. Los capítulos de Manuel Prieto y David Tecklin, demuestran como la propiedad es una relación de poder práctica más allá de su carácter legal. De esta forma, la propiedad aparece tanto como una imposición gubernamental y como un campo político abierto a fracturas, contradicciones y resistencias. La relación entre extractivismo y colonialismo es evidente en consideración de una larga historia de expropiación de recursos naturales hacia los pueblos originarios en Chile, legitimizada, principalmente, por mecanismos legales de propiedad como el de la terra nullius. La faceta opuesta del racismo ambiental es la penetración de ideas y símbolos asociados a los pueblos indígenas en el movimiento ambientalista, un fenómeno ampliamente documentado a nivel global (Tsing 2005). A pesar del riesgo implícito de esencializar las sociedades indígenas, el conocimiento de sus nociones eco-cosmológicas pueden contribuir al problemático reconocimiento de la diversidad cultural en Chile (o más bien su falta) y al desarrollo de nuevos valores medioambientales universales, un punto planteado por Rozzi en su capítulo sobre ética biocultural.

A pesar de las contribuciones que se han hecho explícitas, hay una interrogante que inevitablemente aparece al leer el texto ¿Hasta qué punto este libro sólo aplica marcos teóricos globales, provenientes de centros de producción de conocimiento a Chile, que vendría a ser periférico a estos? De hecho, rellenar un vacío analítico en un lugar como Chile, puede parecer inicialmente como el trabajo típico de traducción de conceptos desarrollados en los centros de una particular disciplina, en este caso los departamentos de geografía en las universidades del “norte”, y la aplicación de esto a un contexto supuestamente periférico. La centralidad de la traducción entre centros y periferias del saber académico ha sido destacada en los estudios coloniales para recalcar cómo ciertos lugares son destinados a ser casos de estudio y otros centros de producción de teoría. Es innegable que en este libro hay un interés loable en presentar al lector chileno e hispano hablante, algunas de las discusiones globales contemporáneas en geografía desarrolladas principalmente en el mundo anglófono. Sin embargo, la comunicación generada entre los contribuidores de este libro, de distintos contextos académicos, demuestra implícitamente no solo lo que el estudio del caso chileno puede beneficiar en términos de comprenderse a sí mismo mediante marcos teóricos globales, sino también lo que la comunidad académica y política global puede aprender de Chile. De esta manera, algunos conceptos que han tenido su génesis en el norte vienen a desterritorializarse y a enriquecerse con otras experiencias, dialogando y modificando el modo en que aparecen en el lugar de su génesis estos mismos conceptos.

Más allá de las contribuciones y discusiones teóricas de este libro, que hemos listado anteriormente, vale volver también a lo planteado por Tom Perreault en el prefacio del libro “el conocimiento académico crítico sirve tanto para la crítica como para la acción” (9). Esta frase, estrechamente vinculada a los orígenes de la ecología política y a su relación a los movimientos sociales, deja desde un comienzo este libro como una promesa inacabada. La función crítica está cumplida con creces, ahora queda esperar a ver cómo estas ideas son capturadas y resignificadas en las luchas ambientales que se están dando en el Chile actual, para sólo de este modo pasar a la tan ansiada acción.

Referências

Latour, B. 2008. Reensamblar lo social: una introducción a la teoría del actor-red. Buenos Aires: Manantial.         [ Links ]

Harvey, D. 2003. The new imperialism. Oxford University Press.         [ Links ]

Haraway, D. J. 2008. When species meet. Vol. 224. U of Minnesota Press.         [ Links ]

Povinelli, E. A. 2011. Economies of abandonment: Social belonging and endurance in late liberalism. Durham, NC: Duke University Press.         [ Links ]

Tsing, A. L. 2005. Friction: An ethnography of global connection. Princeton University Press.         [ Links ]

Piergiorgio Di Giminiani – Programa de Antropología y CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago ([email protected]).

Daniela Jacob – CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago ([email protected]).

Acessar publicação original

[IF]

Realizing Reason: A Narrative of Truth and Knowing – MACBETH (M)

MACBETH, Danielle. Realizing Reason: A Narrative of Truth and Knowing. Oxford: Oxford University Press, 2014. 494 p. Resenha de: VALENTE, Matheus; DAL MAGRO, Tamires. Manuscrito, Campinas, v.39 n.3 July/Sept. 2016.

Danielle Macbeth’s Realizing Reason is a tour de force about the history of mathematical knowledge from ancient Euclidean geometry to the late 19th century and early 20th century developments on mathematical logic. It is an ambitious work dealing with a vast array of subjects and philosophical themes while still being able to consistently display a high standard of erudition and originality in areas as diverse as the Philosophy of Mathematics, Language, Science and Mind.

The narrative of the book is complex and multifaceted, but its main thread is two-fold. On one hand, Macbeth aims to develop a novel account of “our being in the world” which gives room for the existence of normative facts in a world which is fully explained by mechanistic causal laws – a profound philosophical dilemma that stands at the center of many authors’ works such as Kant, and, more recently, Macbeth’s former Pittsburgh colleague, John (McDowell, 1994). On the other hand, Macbeth argues for a reparation on the perspective with which philosophers should see the practice of mathematics and the mode through which it attains knowledge. The author’s objective is primarily to show how the practice of mathematics, in each of its historical stages from the Greeks to the present, by means of its characteristic linguistic notations, enabled thinkers to literally amplify their knowledge, as opposed to merely making explicit what was already implicit in the information one had begun with. Furthermore, Macbeth aims to prove that this much is true even of mathematics as it is currently conceived, i.e. “the practice of reasoning deductively from concepts” (p. 5). One of the author’s main challenges is to show how there can be such a thing as an “ampliative deduction”, and in order to achieve this feat, Macbeth must break through Kant’s conceptual distinctions to open the way for the idea that the knowledge attained by some deductions, which is, per definition, analytic, can, at the same time, be synthetic.

Both issues dealt with in the book – the apparent incompatibility of reasons in a world of causes and the notion of ampliative mathematical knowledge – are foundational questions in Philosophy and each can be traced to the early beginnings of philosophical practice itself. It is noteworthy that Macbeth sets out to tackle both at the same time while also showing how the resolution of one question is tied to the resolution of the other (and vice-versa).

The book is divided into three main sections, each composed by three chapters, which chronologically tell the story of reason’s development and unfolding from the Ancient Greek’s mathematical practice to the present. The first section is entitled Perception, alluding to Macbeth’s claim that in the early stages of our intellectual development we have our “primary mode of intentional directedness in perception” (p. 17). This corresponds to a time before the Cartesian turn in the sixteenth century, where “pure intellection”, as opposed to the perception of an object, “becomes the paradigmatic mode of intentional directedness and the model even for perception” (p. 18). This intellectual revolution, which led us from bare perception to pure intellection, is the main theme weaving together the three first chapters.

In Chapter 1, Macbeth presents a story detailing how perceptually aware beings, like ourselves, have managed to progress from our ancestors’ rudimentary capacities of imitation and of synthesizing procedural knowledge to sophisticated self-consciousness and rationality. Crucial to Macbeth’s story is a profound anti-Cartesian stance, according to which we should not make a division between the merely physically describable stuff that is “outside” and the normatively significant, meaningful experiences that are “inside” (p. 20). In explicit opposition to Robert (Brandom, 1994), Macbeth suggests jettisoning altogether the idea that a world described by means of causes stands in contrast to a world described by means of reasons, as if these concepts were not applicable to things of the same nature. Just as nature acquires biological significance as animals evolve in their environments, e.g. a bunch of leaves becomes food, so does nature become socially and culturally significant as intelligent beings begin cooperating, sharing goals and engaging in practices and games among themselves. The last step in that progression is the transformation of social beings into “properly rational beings capable of distinguishing in principle between how things seem and how things are” (p. 56); that is, the acquisition of the capacity to step back from our natural inclinations and to realize that “anything we think can be called into question, and improved upon” (p. 49). This final stage of intellectual development, Macbeth claims, depends fundamentally on the coming into being of a natural language, which is, albeit contingent and historical, not an obstacle to objectivity, but constitutive of our access to it.

Notwithstanding their importance, natural languages are intrinsically grounded on our perceptual means of access to the world, and, for that reason, do not reach far enough so as to provide us with knowledge of all there is to be known about in the world. In chapter 2, Macbeth delves deeply into Ancient Greek mathematics – exemplified by Euclidean diagrammatical practice, a methodology that would be the unchallenged orthodoxy in Western mathematical thought for centuries until the Renaissance – in order to make clear how the unfolding of reason takes us ever more far from our immediate empirical reality. Macbeth’s central claim in this chapter is that, in Euclidean diagrammatical practice, we do not reason on diagrams, but in them; in other words, Macbeth claims that an Euclidean diagram does not merely describe a certain course of mathematical reasoning (as, for example, we could describe a mathematical demonstration on natural language), it “formulates the contents of concepts” in a mathematically tractable way and, for that reason, constitute – as opposed to merely picturing or describing – the reasoning itself. As Macbeth fleshes out that important distinction, it becomes ever clearer how demonstrations in Euclidean geometry managed to amplify our knowledge, often giving rise to discoveries that were not even implicit in what the demonstration had begun with. Differently from an Euler or Venn diagram (or any other types of “picture proofs”), in an Euclidean diagram “what is displayed are the contents of concepts the parts of which can be recombined with parts of other concepts”. So, for example, a certain mark in a diagram may be seen as either the side of a triangle or the radius of a circle, depending on the perspective that the reasoner impinges on the drawing. The possibility of this “gestalt-shift” (absent in, e.g. Euler and Venn diagrams) is what explains how figures often pop-up in an Euclidean proof – such as when an equilateral triangle appears as if from nowhere in the proof I.1 of the Elements – and thus, how “something new can emerge that was not there even implicitly”.

Chapter 3 leads us to the radical departure from Ancient thought that happens during the Renaissance with the rise of Modern philosophy, physics and mathematics. Macbeth is particularly concerned with Descartes’ influence in the emergence of a new mathematical practice by means of the introduction of the language of elementary algebra. The algebraic method adds a new degree of abstraction to the activity of reasoning, Macbeth argues, since its intentionality is not object-oriented, but directed to the merely potential relations which arbitrary objects may instantiate (p. 132). For example, one begins to interpret geometrical objects in a computationally tractable way, as the arithmetical relationship of some lengths (e.g. a square is some quantity multiplied by itself). By abstracting away from objects, and, thus, from any subject matter in particular, Descartes’ language allows “pure intellection to become (at least in intention) an actuality” (p. 149). Similarly to the language of Euclidean geometry, Descartes’ algebraic method is not to be conceived as merely a tool through which a course of reasoning can be described or pictured; instead, these symbolic languages present content in a mathematically tractable way, and, because of that, are the matter by means of which reasoning itself is constituted, or, to use Macbeth’s terminology, reasoning comes into existence in those symbolic languages, as opposed to being merely described on them.

The next triad of chapters is entitled “Understanding”, referencing the fact that Kant’s legacy to Philosophy entails that “pure reason is not and cannot be a power of knowing as Descartes had thought. Not reason but only understanding is a power of judgement, of knowing” (p. 151). This is precisely what chapter 4 is concerned about, more particularly, Kant’s Copernican revolution, by means of which our epistemic access to reality is turned upside-down, requiring “the philosopher […] to focus not unthinkingly on the object of knowing but self-consciously on the power of knowing, on what reason requires of objects as objects of knowledge” (p. 199). Macbeth’s argues that, as groundbreaking as Kant was, his thought was still pretty much restrained by the scientific, and, most importantly, the mathematical practice of his day, which, absent the revolution that would come in the nineteenth-century, could not ground a proper account of mathematical truth and knowledge – that is, an account of mathematical truth and knowledge answerable to things as they are in themselves, as opposed to things as they merely appear to us.

Chapters 5 and 6 present the new form that mathematics has come to be clothed in by means of the collective effort of intellectuals throughout the nineteenth-century. By means of the work of mathematicians such as Bolzano, Galois and Riemann, Macbeth tells us the story of how mathematics, after twenty-five centuries of development, finally becomes a self-standing discipline, “the work of pure reason wholly unfettered by the contingencies of our form of sensibility” (p. 244). However, not all is well with that sudden reshaping of mathematical practice, since, if mathematics answers to nothing outside of its own activity, as it came to be seen, it starts to look as if mathematics is nothing more than a linguistic game, completely disconnected of any struggle for objectivity.

Indeed, for much of the twentieth-century, Macbeth will go on to argue, a cluster of theses based on (i) the distinction of logical form and semantical content, (ii) a truth-theoretical account of meaning and (iii) a primacy of mathematical logic as the ruler of all formal disciplines will go on to become the orthodoxy in the understanding of mathematics and of its practice. This is, according to Macbeth, a very unfortunate event, since it seems force on us a picture of logic and mathematics as being merely formal disciplines, and, for that reason, completely deprived of intentional properties. Even worse, and this is one of the central points of the book, this is the picture that intellectuals born during the twentieth-century (even the best of them), have accepted without subjecting it to scrutiny, i.e. a picture of reasoning as being purely mechanistic, “nothing more than the rule-governed manipulation of signs with no regard for meaning” (p. 293).

In the last group of three chapters, aptly entitled “Reason”, Macbeth purports to analyze the philosophical problems that are engendered by the last great revolution in mathematics, i.e. when it came to be seen as “a practice of deductive reasoning on the basis of defined concepts” in nineteenth-century Germany. Most pressing to the author’s concerns is showing that this new conception of the mathematical practice is not purely formal in the sense that it came to be seen by philosophers, but, on the contrary, that it is intrinsically meaningful and often enables us to attain knowledge in the strongest sense of that concept, that is, objective knowledge about things in themselves.

In chapter 7, Macbeth takes the reader to a confrontation, for the first time, with Gottlob Frege’s Begriffsschrift, a mathematical notation that “was explicitly designed as a notation within which to reason deductively from concepts in mathematics”. This long chapter goes at great lengths to explain Frege’s concept-script because, as Macbeth defends, one must understand the notation in order to be able to see the mode of reasoning embodied within it. The pinnacle of the chapter, however, is Frege’s proof of theorem 133 in Part III of the Begriffsschrift, which Macbeth presents as being a real example of a deduction that establishes a real extension of one’s knowledge. The particularity of that proof is the book’s central concern until its very end, namely, the fact that it joins content from two definitions, as opposed to merely joining content from two axioms. That operation of bridging the content from two previously unconnected definitions is precisely what enables that mathematical practice to amplify one’s knowledge. Just as figures often pop up in a Euclidean diagram, “as if from nowhere”, some deductive proofs link concepts that were independently introduced and which, absent that proof, would display no immediate connection among themselves.

That much gets clearer throughout chapter 8, where Macbeth argues that definitions, although they are, by nature, stipulative, are not epistemically vacuous, since they serve to articulate the inferential content of particular concepts, and that is something one might – objectively – succeed in doing correctly or not. Definitions, however, do not amplify one’s knowledge by themselves; it is only in the context of a proof that they are able to forge new links within one’s conceptual repertoire:

proofs without definitions are empty, merely the aimless manipulation of signs according to rules; and definitions without proofs are, if not blind, then dumb. Only a proof can actualize the potential of definitions to speak to one another, to pool their resources so as to realize something new. (p. 387)

The conception of reasoning that we reach by the end of the book is, contrary to the Early Modern simulacrum that we have unreflectively inherited, is neither reductive nor mechanistic. It does not purport to reduce the content of concepts to primitive notions, instead, those contents are displayed in a mathematically tractable way. It is also not mechanistic, Macbeth claims, since the knowledge attained by a deductive proof may be, at the same time, both analytic and synthetic – a fact that makes Kant’s dichotomies stand in need of a radical revision.

The book’s narrative comes full-circle by the end of chapter 8 and throughout chapter 9, where Macbeth studies the case of physics, about which she draws a parallel between the nineteenth-century revolutions in mathematics and the twentieth-century revolutions in theoretical physics. The underlying theme is that mathematics and physics have both recently undergone profound revolutions, while philosophy “has, until now, remained merely Kantian” (p. 453). The final blow on the Cartesian view that we have inherited from the early moderns involves disentangling the Sinn/Bedeutung distinction from that of concept and object (a disentanglement that was out of reach for Kant). Only by clarifying those distinctions, we can understand “how a radically mind-independent reality and an unconditioned spontaneity are not only compatible but in the end made for each other” (p. 451).

Realizing Reason suffers from a flaw that is an almost inevitable consequence of its virtues. Macbeth’s overambition, i.e. her attempt to leave no stone unturned, leads to her book having a certain bric-à-brac quality, since the thread that unites her narrative throughout highly distinct subject matters is usually, but not always, evident. Regardless of that, this book presents innovative theses in a multitude of areas, of special interest being its analysis of Frege’s work, which sees his accomplishments from a whole new perspective and as giving rise to a heterodox conception of ampliative deductive knowledge. All in all, Realizing Reason is a recommended read for anyone with interests in the broad set of areas encompassing the philosophy of mathematics, mathematical practice, history of mathematics and logic, and who is interested in seeing how the issues on those areas communicate with issues in the philosophy of mind, language and the history of philosophy.

References

BRANDOM, R. B. Making It Explicit: Reasoning, Representing, and Discursive Commitment. Harvard University Press. Link no philpapers: http://philpapers.org/rec/BRAMIE, 1994. [ Links ]

MCDOWELL, J. Mind and World. Cambridge: Harvard University Press. Link no philpapers: http://philpapers.org/rec/MCDMAW, 1994. [ Links ]

Matheus Valente – 1Universidade Estadual de Campinas 57 Monroe St, Campinas 13083-872, Brazil, [email protected]

Tamires Dal Magro – Universidade Estadual de Campinas Rua Cora Coralina, 100, Campinas 13083-872, Brazil, [email protected]

Acessar publicação original

Cratilo, o de la exactitud de las palavras. In. Obras completas | Platón

IDENTIFICACIÓN DEL PROBLEMA

Naturaleza y origen de los nombres, es decir, la generación de las nominaciones y el concepto de verdad que estas debieran tener en atención al objeto que designan pareciera ser objetivamente de acuerdo al texto, el asunto que se abordará: pero este problema planteado inicialmente pasa a segundo plano al final del libro al señalarse ya no el origen de los términos, sino el problema del conocimiento. Por lo tanto, el verdadero sentido del libro es, de acuerdo con nuestra lectura, introducirnos en el problema del conocimiento y de sus formas para acceder a él. En función del texto en su totalidad, lo que se nos plantea en este diálogo son las dos formas de conocer que tiene todo humano: a través de los nombres, vale decir, mediante procesos formales de aprendizaje, y a través de la experiencia directa con las cosas; asimismo, hay un determinante que no es menor, esa internalización que hacemos, ya sea a través de procesos formales o directamente con las cosas, está mediatizado por una lengua y esta, en cualquiera de las dos formas, nos viene presupuestada semánticamente, por tanto será incidental, ya sea en el conocimiento incorporado a través de los nombres o si es a través de la experiencia directa con la cosa, pues estas significaciones y valoraciones obtenidas por este comportamiento necesariamente tendrán que ser contenidas, fijadas y formalizadas en una lengua particular. Leia Mais

Platão: a construção do conhecimento – SANTOS (RA)

SANTOS, José Trindade. Platão: a construção do conhecimento. São Paulo: Paulus, 2012. Resenha de: ARAÚJO, Rodrigo. Revista Archai, Brasília, n.12, p.195-196, jan., 2014.

Centrada na temática do conhecimento, a obra de José Trindade Santos se volta ao tratamento das questões relativas ao ‘ser’ e ao ‘saber’ por dentro  dos diálogos platônicos.

Evidencia, de logo, dois problemas com que Platão se confronta: a constituição da ‘realidade’  (distribuída pelos mundos ‘sensível’ e ‘inteligível’) e a organização das ‘competências cognitivas’  (‘saber’ e ‘opinião’) que possibilitam conhecê-la  adequadamente.

Para enfrentar esses problemas, Platão teria divisado um sofisticado e complexo programa de  investigação que perpassaria toda sua obra, fortemente marcada pelas críticas às concepções cognitivas correntes na Grécia clássica (sécs. V-IV a. C.).

Empreendendo tal crítica, que na visão do  Autor poder-se-ia sintetizar como  construção do  conhecimento, Platão aborda a cognição a partir  da leitura do poema de Parménides,  Da natureza, na qual o “pensamento/conhecimento”é colocado como um estado infalível, percebido pela inteligência, independente da senso-percepção e captado  pela linguagem.

Levando igualmente em conta os paradoxos levantados pelos sofistas, Platão tenciona mostrar como uma concepção coerente e consistente da  cognição é capaz de adequar o contato com o mundo instável, construído pela sensibilidade, à exigência da estabilidade do ‘ser’.

Trindade principia pela acurada análise dos  diálogos chamados ‘socráticos’, o Autor expõe o  elemento pedagógico dos debates e a utilização da metodologia refutativa, com a finalidade de denunciar as limitações dos pretensos “saberes”humanos.

Seguidamente, refletindo sobre a ‘reminiscência’ e a chamada ‘Teoria das Formas’, mostra o postulado ontoepistemológico nesse outro grupo de diálogos:  todas as mentes humanas são dotadas da mesma estrutura eidética e todos devem esforçar-se por recordar, recuperando a memória das Formas. Como, para Platão, ‘o que é’ são as Formas, somente estas constituem o ‘ser’, sendo nesta recuperação que consiste o ‘saber’.

Nos capítulos subsequentes, empenhado na  compreensão dos chamados ‘diálogos críticos’, o  Autor apresenta a discussão sobre a reformulação da ‘Teoria das Formas’, na qual Platão parece tentar reconhecer uma função cognitiva para a ‘ doxa ’, encarando então a cognição como um  processo que será avaliado pelo resultado a que conduz:  verdadeiro ou falso.

No entanto, segundo o Autor, na revisão da ‘Teoria das Formas’, Platão põe em causa a herança eleática, descartando pressupostos ligados direta ou indiretamente a Parménides. Rejeita o monismo, o imobilismo do ser e a identificação do saber com  o ‘conhecimento como  estado ’. Para atingir essa  finalidade obriga-se a redimensionar o significado do ‘não-ser’, passando a encará-lo como ‘um outro ser’, entendido como ‘diferença’ – ‘o outro’ –, e não apenas como o ‘contrário’ do ser.

Nessa nova abordagem das relações entre  ‘conhecimento’ e ‘ser’, Platão desenvolve um projeto unitário de conhecimento da realidade, vinculando o mundo sensível à estrutura inteligível que serve de matriz à própria cognição. É dessa reformulação que nascerá aquilo a que se nomeará ‘conhecimento’.

Desvelando uma das mais belas e clássicas  temáticas que principiaram a literatura filosófica,  a obra insere-se no rol dos textos indispensáveis  aos que se debruçam sobre os diálogos platônicos, ao tempo em que vem cunhada pelo espírito do  pioneirismo, inaugurando a série de publicações da Coleção Cátedra.

Rodrigo Araújo – Universidade Federal da Paraíba.

Acessar publicação original

 

Testimony: a philosophical study – COADY (SY)

COADY, C. A. J. Testimony: a philosophical study. Oxford: Clarendon Press, 1992. Resenha de: SILVA, Robson de Oliveira. Synesis, Petrópolis, v. 6, n. 1, p. 245-247, jan./jun., 2014.

Um dos méritos da filosofia praticada na segunda metade do século XX é a retomada de questões importantes na história do pensamento, sob luz nova. Alguns autores proporcionaram uma renovação da abordagem acerca da filosofia prática, por meio da colaboração significativa de Manfred Riedel. Igualmente foi reabilitada a perspectiva acerca do papel dos preconceitos no edifício do saber, graças à reflexão de Hans-Georg Gadamer. Com esse mesmo espírito, o conceito de testemunho, que tem sido objeto de reflexões desde a crítica de David Hume, tornou-se tema de disputa de parte da comunidade científica especializada. Por este motivo, é pertinente esclarecer a amplitude da crítica que o pensamento moderno levantou contra esse conceito, além de averiguar se ainda é possível sustentá-la.

O livro de C. A. J. Coady, Testimony: a philosophical study, ainda inédito no Brasil, é importante para o movimento de reabilitação do valor epistêmico do testemunho. O problema destacado pelo autor, que percorre os últimos decênios de disputas epistêmicas, poderia ser bem resumido na seguinte questão: o conhecimento humano possui outras fontes para sua constituição, além de sensibilidade, memória e razão? A tradição moderna, capitaneada por Hume, tende a diminuir a importância do testemunho na produção do conhecimento, privilegiando as fontes epistêmicas internas ao sujeito. Nesta obra, o autor quer ocupar-se do papel fundamental que o testemunho possui enquanto fonte confiável de conteúdos epistêmicos.

A obra está dividida, materialmente, em cinco seções, cada qual com suas subseções. No entanto, o conjunto revela, formalmente, duas grandes partes. Na primeira, que reúne as quatro primeiras seções, o autor apresenta a problemática do testemunho, definindo-a e introduzindo o leitor na história do conceito, com suas armadilhas e possíveis soluções. Coady não deixa de lado nem pequenos, nem grandes autores que trataram do assunto. Vai desde os clássicos, passando pelos medievais e dedica-se especialmente ao que chamou “fundamentalismo escocês” (Scottish Fundamentalism), indicação evidente a David Hume. Ele introduz também a referência a um autor menos conhecido, mas de importância na discussão: Thomas Reid. A segunda parte do livro possui uma abordagem mais prática e trata de demonstrar como a noção de testemunho é utilizada em quatro disciplinas, desmitificando o discurso sobre a incapacidade de o conceito de testemunho fundamentar qualquer tipo de conhecimento científico: história, matemática, psicologia e ciências jurídicas são, ainda hoje, lugares próprios para o testemunho e seus conceitos derivados, como a autoridade.

No que concerne às questões teóricas, a obra de Coady pode ser apresentada como uma recente grande tentativa de defesa da comunidade científica, por meio da crítica ao individualismo epistêmico. Segundo o autor, a rejeição do conhecimento que se alcança a partir do trabalho de outros favorece a postura individualista em relação à epistemologia, o que seria uma posição equivocada, maximamente em se tratando das ciências da natureza. A importância dada à liberdade de pesquisa e ao ensino de conteúdos científicos (noção de autonomous knower), citada por Coady, superestima o aspecto autônomo da prática científica, além de minimizar os condicionamentos que a experiência revela. As ciências da natureza apontam reiteradamente para a necessidade da busca em comunidade, o que vai de encontro ao espírito moderno, que privilegia o sujeito. A expressão conceitual autonomous knower aponta para a atitude de absoluta independência epistêmica do pesquisador em relação a qualquer ponto referencial, seja ele uma instituição ou outro pesquisador. Independência que, segundo Coady, jamais acontece concretamente na ciência.

Sob esta perspectiva míope quanto à ciência in fieri, Coady sugere a reabilitação da noção de testemunho como fonte de conhecimento, destacando que esse conceito em nada diminui a importância da autonomia na busca científica. Com efeito, a autonomia cognitiva nada perde com a aceitação de que o processo epistêmico apoia-se, em muito, na labuta de outros que vieram antes. Além disso, o autor lembra que o aspecto mais importante da autonomia não é seu viés epistêmico, praticamente impossível de ser erradicado. No que concerne à autonomia, o que não se pode perder de vista, segundo o autor, é sua abordagem ética. A falta de autonomia e isenção ética do cientista é o que coloca a prática científica sob olhar de suspeição e não a consciência de que seus trabalhos e estudos dependem de conhecimentos anteriores aos que ele pretende defender.

O livro de C. A. J. Coady evidencia os limites do pensamento de inspiração moderna. A aplicação dos princípios da filosofia moderna nas ciências naturais – especialmente a ideia de autonomia – promove um paulatino enclausuramento do pesquisador, em detrimento da comunidade científica. Por outro lado, é evidente, a reflexão acerca do papel do testemunho expande suas influências para além das ciências naturais. Outras disciplinas se beneficiam com a valorização do testemunho como fonte de conhecimento epistêmico. Um ponto controverso do livro talvez seja a fundamentação do testemunho. O que dá justificação e garante a capacidade epistêmica do testemunho é a autoridade, que empresta sua confiabilidade aos conhecimentos transmitidos por ele. No entanto, a justificação epistêmica não pode ter outro fundamento que a metafísica, com o risco de cometer petição de princípio. É o ser quem garante os conteúdos testemunhados pela autoridade e não ela mesma. Embora se possa discutir esse ponto ou outro, o livro é interessante para quem pretende compreender como acontece a prática científica.

Referência

COADY, C. A. J. Testimony: a philosophical study. Oxford: Clarendon Press, 1992.

Robson de Oliveira Silva – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil. Pós-doutorando na Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Doutor em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/7150038239237488. E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[DR]

 

A cabala do Asno. Asinidade e conhecimento em Giordano Bruno – ORDINE (RFA)

ORDINE, Nuccio. A cabala do Asno. Asinidade e conhecimento em Giordano Bruno. Tradução de Flora Simonetti Coelho; Francisco Caruso; Livio Panizza. Caxias do Sul: Editora da EDUCS, 2008. Resenha de: PEREIRA, Rosalie Helena de Souza. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v.21, n.29, p.593-598, jul/dez, 2009.

Filósofo e literato, Giordano Bruno (1548-1600), nascido em Nola, Itália, é sem dúvida uma das mais importantes figuras do pensamento renascentista. Sua obra não apenas gira em torno de temas caros à filosofia como cosmologia, filosofia da natureza, ética e religião, mas também contempla as relações entre filosofia e pintura, teatro e poesia. Bruno foi condenado à morte na fogueira por sua ousadia em afirmar a existência de um universo infinito, por seu apego a um certo hermetismo e por sua crítica mordaz aos matemáticos e filósofos vulgares, que, cegos e pedantes, não enxergavam “o infinito efeito da infinita causa (Deus)”. Procurar a divindade, não longe, mas dentro de nós, é o que nos diz o filósofo: “Nem os habitantes de outros mundos a devem procurar perto de nós quando a têm perto e dentro de si, visto que a lua não é mais céu para nós que nós para a lua” (La cena de le ceneri). Da crítica à cosmologia geocêntrica de Aristóteles e de Ptolomeu, Bruno foi além da defesa do sistema copernicano, ao pressupor a existência de infinitos sistemas solares dentro de um universo com tempo e espaço ilimitados. Essa nova teoria de um universo infinito, mas unificado, é apresentada de modo claro na obra escrita em língua vernácula De l’infinito universo e mondi e no poema em latim De immenso et innumerabilibus.

Mas, ao universo infinito Bruno contrapõe o conhecimento limitado do homem. Da destruição da cosmologia ptolomaica, Bruno faz nascer um humanismo que se reflete no cruzamento entre filosofia, literatura e pintura, um dos núcleos teóricos mais importantes de seu pensamento. Nuccio Ordine, professor na Universidade da Calábria, considerado um dos maiores especialistas do pensamento de Giordano Bruno, dedicou em La Soglia dell’Ombra. Letteratura, filosofia e pittura in Giordano Bruno, livro traduzido e publicado no Brasil pela Editora Perspectiva, uma análise à “nova filosofia” em que o filósofo concebe os movimentos da relação do homem com a natureza e com o conhecimento. Em A Cabala do Asno, publicado na Itália em 1987 e agora em tradução portuguesa, Ordine retoma o tema da unidade entre filosofia e arte no pensamento de Bruno. Mas, como o próprio autor adverte em sua Apresentação, a complexidade do pensamento de Bruno contribuiu para “a necessidade de situar a pesquisa no âmbito de um campo temático preciso, sem a pretensão de uma sistematização totalizante” (p. 15). O tema escolhido, a asinidade, serve, desse modo, como fio condutor para uma imersão nas variadas trilhas do pensamento de Bruno.

A literatura do Cinquecento é plena de figuras asininas. Herdeiro dessa tradição, que remonta a Luciano e a Apuleio, Bruno concede destaque à figura do asno em seus três diálogos reunidos sob o título Spaccio de la bestia trionfante e em Cabala del cavallo Pegaseo con l’aggiunta de l’Asino cillenico. No Prefácio de A Cabala do Asno, Eugenio Garin, uma das maiores autoridades em cultura da Renascença, assinala que, embora não tenha inventado “o tema do asno nem o uso de um símbolo com toda a sua complexidade de significados teóricos”, Bruno “impregna-o de valores centrais em sua reflexão” e insiste na “centralidade do motivo e na riqueza dos sentidos” (p. 10).

Em seu A Cabala do Asno, Nuccio Ordine analisa o conceito bruniano de asinidade com uma nova interpretação do símbolo do asno. No capítulo 12, “A literatura do asno antes de Bruno”, Ordine adverte que “o interesse de Bruno pelo símbolo do asno não nasce do nada, mas encontra suas raízes no interior de um filão literário muito difundido na cultura do Renascimento” (p. 159). De fato, às várias edições renascentistas do Asno de Ouro, de Apuleio, que na época recebeu duas traduções para o italiano e um comentário, somam-se obras de autores conceituados que se dedicaram ao tema, como o pequeno poema Asino, de Maquiavel, Ad encomium asini digressio, de Cornelio Agrippa, Macaronea, de Teofilo Folengo, Asinesca gloria, atribuída a Anton Francesco Doni, e Ragionamento sovra del asino, de Giovan Battista Pino. A figura do asno aparece também em obras menores de poesia e de prosa e em algumas burlescas.

Bruno conhece essa literatura muito difundida, mas sua proposta caminha em outra direção, pois “não pretende louvar o asno e a asinidade” com discursos semelhantes aos da “multidão ignorante, estulta e profana” que pensa, fala e escreve esses “loucos discursos que estão nos prelos, nas livrarias”. Sem, portanto, ignorar a matéria já abordada por outros, Bruno quer apenas delimitar a sua originalidade, “acrescentar óleo àquela lamparina que outros acenderam” (p. 160). Bruno aproveita-se da ambiguidade da imagem do asno concedendo-lhe um duplo valor simbólico: o negativo, revelado na obtusidade, na inércia e na arrogância de uma dimensão unilateral, e o positivo, no nobre trabalho que alça o homem ao ápice de sua realização.

O espaço da asinidade não tem uma única direção, tantas são as zonas de ambiguidade que fazem do animal um símbolo das coincidências de opostos (coincidentia oppositorum), agrupadas por Ordine em três pares antinômicos: benéfico/demoníaco, poderoso/humilde e sábio/ignorante (p. 29). No capítulo 2, o autor traça nos mitos, nas fábulas e nos contos um quadro dessa ambivalência e dá ao leitor numerosos exemplos em que ela aparece. De um lado, a figura positiva do asno que garante a vida, como nos ritos de fecundidade e de regeneração. Príapo, o deus fálico da fecundidade, era representado como um asno antropomorfizado, e o deus Dioniso tem um asno por montaria. Apuleio relata que, em sua descida aos infernos, Psyché encontra-se com um asno e seu dono. Nessa tradição, o asno protege dos malefícios a quem o traz junto. De outro lado, na Cabala, a estrela maléfica Remfam – emblema de Lúcifer – esconde em suas cinco pontas uma cabeça de asno estilizada. Para ilustrar o poder do asno, Ordine vale-se de exemplos bíblicos em que ele é a montaria preferida dos patriarcas, dos reis, dos príncipes, dos ricos e dos poderosos. Também na mitologia indiana, o asno é montaria dos reis: Indra, rei dos deuses védicos, cavalga um asno alado. Diversos relatos de guerra têm o asno como protagonista, tal qual a batalha em que os deuses do Olimpo, assediados pelos Gigantes rebeldes, livram-se de seus adversários, que fogem amedrontados com os zurros. Uma lista de exemplos ilustra como o asno é um potente auxiliar do homem.

Mas a representação do animal tem também o seu contrário, a mais familiar, ou seja, a condição humilde e a predisposição à dura vida quotidiana em que ele é força motriz para as rodas dos moinhos, o transporte de mercadorias e a montaria para camponeses pobres. O autor nos lembra que o profeta Zacarias anunciou a humildade do Messias, que, em vez de um cavalo, instrumento de guerra, cavalgava um asno, simbolizando a paz vindoura a todos os povos.

O terceiro par de opostos, sábio/ignorante, é o que mais diz respeito à Cabala nolana. As grandes orelhas que lhe permitem ouvir de longe fazem do asno um símbolo da sabedoria. Essa capacidade auditiva é compreendida na dimensão espiritual, uma vez que não pode haver verdadeiro conhecimento sem escuta. Na revelação cabalística, o asno, ou a asinidade, ocupa o lugar da sabedoria no universo divino das sefiroth (p. 32). Todavia, a imagem do homem com cabeça de asno, muito difundida no Medievo, representa a aquisição de uma vã ciência que concerne apenas aos assuntos terrenos. Caricatura da estupidez e símbolo da ignorância, o asno já aparecia na célebre fábula de Esopo em que, coberto por uma pele de leão, não consegue amedrontar a raposa com seus zurros.

Ordine dedica dois capítulos à análise da asinidade: o capítulo 6 versa sobre a sua positividade, e o capítulo 7, sobre a sua negatividade. Na relação entre o asno e o trabalho árduo e penoso, Ordine vê a simbologia das qualidades asininas às quais Bruno presta homenagem: é impossível conceber a civilização sem o esforço asinino da humildade, da tolerância e da predisposição a uma dura labuta. São muitos os obstáculos que dificultam o acesso à verdade. Com o espírito, diz Bruno, é preciso “escalar e ultrapassar montanhas abruptas” para conseguir penetrar nas “alturas inacessíveis” e encontrar a luz eterna (p. 43). O infatigável percurso do espírito em busca da verdade conduz a uma espécie de “divinização” do homem, retratada na figura de Labuta em Spaccio (p. 44-45). Na Cabala, o ápice sublime da verdade é dado por Júpiter ao asno. Nessa visão de uma civilização desprovida de qualquer teleologia espiritual, cabe somente ao homem traçar o seu caminho, viver dignamente e, até o limite, usufruir de suas capacidades naturais. Em sua aventura do conhecimento, o homem faz a diferença apenas pela intensidade de sua labuta. Ordine reconhece nessas passagens de Spaccio a difícil experiência de Bruno em seu exílio.

Ao contrário dos asnos positivos, que “vivem na luz da sabedoria”, os asnos negativos “vegetam nas trevas da ignorância” e no imobilismo. A crítica de Bruno é implacável contra a asinidade negativa, composta por três dimensões: 1) a dos que negam a civilização por meio da exaltação do mito da idade de ouro em que é apregoada uma igualdade estagnada; 2) a dos aristotélicos e céticos que obstruem o conhecimento com a atitude rígida do “tudo sabemos” dos primeiros e do “nada sabemos” dos segundos; 3) a de alguns princípios cristãos que “convidam ao imobilismo e à ignorância para conquistar uma imortalidade ultraterrena” (p. 79) e embasam as absurdas pretensões dos reformadores evangélicos, esta “preguiçosa seita de pedantes”, que, ociosa, vive do trabalho alheio (p. 99). Ordine observa que, para Bruno, “a aventura do conhecimento só pode ser percorrida pela asinidade positiva”, em que “humildade, tolerância, fadiga e operosidade” são condições para a passagem da condição natural de feritas para a de humanitas, marcada pela “divinização” dos asnos positivos. Somente com a consciência de sua própria asinidade diante do conhecimento universal, o homem tem acesso às verdades que lhe escapam (p. 101).

No Capítulo 11, “O asno como os Silenos: as aparências enganam”, Ordine observa a semelhança entre o modelo de Bruno e os célebres Adagia, de Erasmo de Roterdam. Em Sileni Alcibiadis, Erasmo lembra que os Silenos eram pequenas estátuas cindidas em duas partes, que podiam ser abertas ou permanecer fechadas. Fechadas, elas representavam uma figura ridícula e monstruosa tocando flauta; abertas, revelavam uma divindade (p. 146). Esse adágio indica como as aparências podem enganar, pois se algo, num primeiro olhar, pode parecer ridículo e sem valor, contemplado mais a fundo, revela seu admirável interior. Erasmo retoma as palavras de Alcibíades no Banquete, de Platão (221e – 222a), sobre a natureza dos discursos de Sócrates, “semelhantes aos Silenos que se abrem” (p. 149). De início, os discursos de Sócrates podem parecer ridículos, tais os nomes e as expressões com que são revestidos; mas, quem os consegue entreabrir e neles penetra descobrirá o quanto são divinos, plenos de inteligência e virtude. Em vez de seguir os falsos sábios, distantes do verdadeiro conhecimento, Bruno exorta a, lentamente, abrir o Sileno/asno, a nele adentrar e descobrir o tesouro que ali se esconde, pois este é o único caminho para a sabedoria.

Nessa simbologia que abraça representações tão opostas no imaginário da Renascença, o mérito de Nuccio Ordine está em preservar a unidade do tema da asinidade no conjunto da obra de Bruno. Como bem afirmou Garin, ao identificar o seu valor teórico não apenas nos escritos em que a imagem do asno está presente, Ordine transforma a sua simbologia em fio condutor de toda a obra do pensador de Nola.

Embora bem-vinda entre nós a tradução desse importante livro para os estudos renascentistas, os tradutores brasileiros deixaram no latim original um número significativo de citações, lacuna que não desmerece a edição, mas que dificulta a compreensão do texto para quem não está familiarizado com esse idioma. Os tradutores das edições francesa e inglesa recorreram a latinistas para traduzir essas passagens, tornando o livro acessível a não- especialistas, possibilitando, desse modo, que um público mais amplo se interesse pela extraordinária experiência de Bruno. Como bem afirmou Ilya Prigogine, prêmio Nobel de Química, no Prefácio de A Cabala do Asno, “graças às palavras de Bruno, o livro faz refletir sobre temas que, embora em contextos totalmente diversos, merecem hoje a atenção das ciências naturais e humanas”.

Rosalie Helena de Souza Pereira – Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atualmente em estágio pós-doutoramento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, SP – Brasil. E–mail: [email protected]

Acessar publicação original

[DR]

 

Imagem e conhecimento – FABRIS; KERN (HP)

FABRIS, Annateresa; KERN, Maria Lúcia Bastos (orgs). Imagem e conhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.366p. Resenha de: MOLINA, Ana Heloisa.  As interlocuções nada prosaicas entre imagem e conhecimento. Histórias & Perspectivas, Uberlândia, v.1, N.40 – jan./jun. 2009.

Tornou-se lugar comum afirmar que vivemos em um mundo mergulhado em imagens. Aparentemente prosaico lidar com a pluralidade de imagens que nos são dadas a ver por e em diferentes meios e suportes, a produção imagética toma uma complexidade que reúne elementos cada vez mais significativos.

No trajeto das chamadas “imagens pictográficas” considerando as artes tradicionais, a fotografia e o cinema, às imagens imateriais, procedentes em sua maioria da lógica computacional, emergiu um panorama visual marcado pela complexidade narrativa, por uma estética centrada nos procedimentos e mesmo pelo excesso de uso e exposição. É a imagem-velocidade, guiada pela diretriz computacional, que marca hoje, consideravelmente, o atual panorama imagético.

Modificou-se também a propriedade das imagens: elas já não são o exclusivo de um grupo produtor, mas, desempenham funções sociais. A imagem expandiu, e, nesse processo, adquiriu, em grande medida, o status de virtualidade.

Os estudos sobre imagem agregam muitas áreas do conhecimento e há muito vem ganhando corpo, especialmente pela Sociologia, Antropologia Visual, Semiótica e História da Arte, e em muitas dessas, em franco processo, ocorre o refazer suas perguntas ao seu objeto de estudo.

Poderíamos iniciar algumas reflexões a partir do mecanismo de criação e reprodução da imagem e o progresso paralelo do conhecimento dos processos analíticos que permitem decompor a imagem. Na perspectiva do figurativo ao virtual, o simultâneo e a manipulação da matriz imagética proporcionam novas fronteiras de análise e recombinações.

É nesse ponto que Annateresa Fabris e Maria Lúcia Bastos Kern organizam esse livro avançando para a seguinte proposição: “quais as relações (possíveis) entre imagem e conhecimento?” (p. 11).

Pesquisadoras destacadas no estudo da imagem, da História da Arte, da fotografia e da pintura, as organizadoras reúnem ensaios já publicados (sobretudo no estrangeiro) e textos de pesquisadores brasileiros.

Dividido em duas partes, responde a um objetivo metodológico “[…] compreender as diversas modalidades de conhecimento proporcionadas pela imagem manual e pela imagem técnica com base em dispositivos próprios e irredutíveis a qualquer outra possibilidade” (p.11).

Uma das qualidades do livro é a preocupação em iniciar cada bloco com um ensaio introdutório “[…] que pretende situar o leitor no âmbito de uma discussão mais ampla” (p.12), fornecendo ferramentas metodológicas capazes de problematizar reflexões particulares no interior dos diversos ensaios.

Abordar a problemática da imagem numa perspectiva histórica é a proposta da primeira parte.Dentro de um espectro temporal longo, toma imagens que percorrem o cristianismo, o século XVIII, abordando desde olhar e composição à relação arte e religião ou ainda arte e ciência.

Assim, abre a primeira parte o texto inédito de Kern sobre “Imagem manual: pintura e conhecimento” percorrendo as concepções de imagem, representação, pintura e conhecimento apresentando, em um amplo painel, as discussões filosóficas que nortearam as práticas e as modernas teorias pictóricas, desde a Antiguidade até o pós Renascimento. Encerra com uma questão que parte da premissa de Bachelard segundo a qual “todo o conhecimento é uma resposta a uma questão, pode-se verificar pela trajetória da pintura que esta se consolidou como categoria artística autônoma e que definiu as suas próprias normativas tendo por base a busca constante de respostas para os problemas vividos pelos artistas nas suas práticas e no mundo que os circunda.” (p.29).

Composto por cinco ensaios inicia esse bloco o texto de Alain Besançon, professor universitário em Paris, com “A Arte e o cristianismo” recolocando a questão da fé, da moral, da iconofilia e da iconoclastia em um outro prisma: onde encontrar a arte cristã? Em que essa arte é cristã? O autor percorre um longo trajeto e indica “Não é preciso, portanto, preocupar-se com a arte cristã, mas sim com a arte. Em nome do princípio da unidade da arte, se este for reencontrado, a arte cristã será dada por acréscimo.” (p. 52).

Na seqüência temos “Arte e ciência: funções do desenho em Leonardo da Vinci”, de Daniel Arasse, autor de, entre outros, La guilhotine et l’ imaginaire de la terreur (1987), apresentando as distinções, a aparente contradição entre a prática “científica” do desenho e sua prática “artística”, apontando a importância de da Vinci na técnica do desenho preparatório e sua influência na pintura onde “[…] para Leonardo, “saber, é saber ver”, é preciso acrescentar que, para ele, fazer saber é saber fazer ver. […]” (p.

61).

Georges Didi-Huberman, professor universitário em Paris, no texto “Pensamento por imagem, pensamento dialético, pensamento alterante: a infância da arte segundo Georges Bataille” apresenta a importância desse artista no domínio estético, suas desmontagens teóricas e suas intervenções em montagens figurativas, propondo um olhar à infância da arte enquanto dialética, considerando elementos da arte primitiva e a produzida por crianças em várias partes do mundo. “[…] não se contentar com a oposição canônica entre “a arte clássica dos civilizados adultos”, como diz ele, e “a arte primitiva” dos selvagens ou das crianças […]”. (p. 95). Por outro lado, nos diz e provoca nossas percepções quanto às formas apresentadas em telas: “[…] a alteração das forma, o processo do informe, não estão nem alhures, nem antes das formas: eles estão na sua própria ponta, ali onde seu contato é o mais decisivo, o mais doloroso, o mais deslocador” (p.112).

“A arte de exorbitar o olhar sobre A Parábola dos Cegos de Bruegel” escrito por Jean Lancri, pintor e professor na Universidade de Paris I, analisa a organização de um olhar para aquele quadro e sua composição que estaria às voltas com a questão de sua origem. “E é isso que a obra espera: um curtocircuito.

O estabelecimento de uma relação entre o ponto para o qual ela tende com o ponto de onde ela provém.”(p.134).

Fechando esse primeiro bloco, temos “Conhecer, dominar, pintar numa obra americana do século XVIII”, de Gabriela Siracusano e Marta Penhos, professoras universitárias na Argentina, que põem a descoberto o cruzamento de olhares de conquistadores, cartógrafos e artistas, entre registros icônicos e textuais, sobre a paisagem americana em uma pintura do século XVIII. Tal paisagem apreendida em “Textos e imagens concordam em mostrar esse aspecto sedutor de uma natureza que devia ser explorada para seu melhor conhecimento e controle, com vistas a um futuro proveito”. (p.148) e apontam a questão da obra imagética considerada como ferramenta de conhecimento, ou várias leituras possíveis sobre essa mesma obra.

A segunda parte dedica-se a discutir a imagem técnica desde a fotografia até o universo atual das tecnologias eletrônicas, abarcando a fotografia e suas redefinições, a construção da memória até imagens sintéticas, a holografia e o estudo de um projeto artístico.

A introdução a essa segunda parte de discussões é feita em “Imagem técnica: do fotográfico ao virtual”, de autoria de Annateresa Fabris, que analisa as possibilidades da fotografia, a influência da técnica da gravura no início de sua fatura e a dimensão avassaladora da tecnologia e sua ação no imaginário a partir de vários pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. “As respostas são variadas porque são várias as hipóteses levantadas por este momento cultural em que as novas tecnologias fazem reaflorar aquele unicum, que a reprodutibilidade fotográfica parecia ter relegado à esfera da manualidade […]”. (p.178) Abre o segundo bloco, o texto “A superfície fotográfica” de Mario Costa, pesquisador italiano dedicado aos estudos relativos à mídia, estética e tecnologia aplicada à produção artística que reflete as relações entre referente, sujeito e a dimensão da própria fotografia, propondo um outro olhar a essa captura de imagens.

“A fotografia inaugura a longa série das epifanias tecnológicas: com ela, a asseidade da imagem se revela e, ao mesmo tempo, se oculta, como jamais voltará a fazer”.(p.191) (grifos do autor).

Segue-se “Quando a fotografia (já) fazia os antropólogos sonharem: o jornal La Lumière (1851-1860)” de Étienne Samain, nome conhecido nos meios universitários por suas pesquisas sobre a fotografia. Primeira publicação francesa dedicada à fotografia, esse jornal será a fonte do autor para percorrer as mudanças e os debates sobre as técnicas fotográficas no final do século XIX e seu registro enquanto formador de um olhar antropológico, onde “[…] A revolução fotográfica instaurava uma nova ordem de visão e uma nova filosofia do olhar. Ela delineava novos campos de observação humana e, sobretudo, fazia nascer um novo tipo de observador” (p.211), indicando a presença desse suporte, em meados do século XIX, em toda parte, nas ciências naturais, humanas ou exatas, o que para Samain permanece pouco estudada.

Na seqüência, “Quadros de História Pátria: fotografia e cultura histórica oitocentista” de Maria Inez Turazzi, pesquisadora do IPHAN, toma como fonte para seu texto, uma coletânea de imagens produzidas após a proclamação da República e encontrada na biblioteca de Benjamin Constant. Não há menção ao autor do texto que acompanha e explica as imagens, (21 estampas que reproduziam 20 gravuras e pinturas de vários artistas e uma imagem fotográfica) trazendo apenas a referência a Marc Ferrez como responsável pelas fototipias. Analisando este material a autora apresenta as relações entre memória e esquecimento, via imagens, em um novo regime que se instaura e se esforça para esmaecer personagens ligados ao regime monárquico. Alia, ainda, reflexões sobre as relações entre fotografia e cultura histórica.

Em “Realismo: duas visões confluentes” a quatro mãos com Annateresa Fabris e Maria Rosaria Fabris, a primeira com pesquisas em poéticas artísticas e a segunda investigadora do neo-realismo, ambas professoras da USP, exploram o projeto Un Paese do cineasta Cesare Zavattini e o fotógrafo Paul Strand ao capturarem a poesia, ideologia e arquitetura do movimento neo-realismo no cinema italiano a partir das imagens de Luzzara, uma pequena vila na região do Pó. Os personagens e seu cotidiano serão vistos como um microcosmo de um universo maior “[…] Paul Strand não retrata seus habitantes como representantes de categorias sociológicas. Rechaçado o tipo, o fotógrafo preocupase em captar fisionomias individuais, que não remetam a nada para além delas […]”. (p.263) “A imagem da imagem e sua diferença” com Paolo Bertetto, professor de cinema na Universidade La Sapienza de Roma, considera a imagem na metrópole, os meios de comunicação de massa e as modificações na produção das formas simbólicas, em particular, das formas artísticas. “A imagem da imagem não é mais o signo metropolitano da modernidade, da simultaneidade e da multiplicidade dos estímulos, mas representa sua superação”.

(p.274) Stéphane Huchet, autor de vários ensaios sobre teoria da arte, analisa em “A nova Górgona ou o céu do processo”, que o atual fetichismo das imagens visuais envolve ainda muito do artístico sem reciprocidade. “Pergunta-se: o que é, portanto, da tarefa da estética filosófica, tão medrosa diante das imagens vindas das novas – já menos novas – tecnologias?” (p.297).Tal como o monstro mítico que congela seus espectadores ao serem fitados por seus frios olhos, a tecnologia, a máquina, o computador, tornam-se organizadores de um outro processo de criação visual.

“Idiotice e esplendor da arte atual” de Mario Perniola, professor da Universidade de Roma, abre o texto com uma instigante frase: “Na aventura artística do Ocidente, podem ser encontradas duas tendências opostas: uma, voltada para a celebração da aparência; outra, orientada para a experiência da realidade” ( p. 303). Funda seu ensaio nas relações entre o real e “a efetuabilidade máxima e a abstração máxima”, premissas do realismo atual o que promoveria o desgaste de todas as coordenadas teóricas e críticas conhecidas, provocando angústia e trauma, esplendor e arte.

O provocador texto de Vilém Flusser intitulado “Sintetizar imagens” aponta paralelos e mesmo como elementos sinônimos o programarmos modelos de computador e compormos uma obra. “Os modelos sintéticos não significam o que significava a “arte”. Significam a “vontade” do programador para dar significado à vida. Os modelos sintéticos já não são significados, mas significantes” ( p.324).

“A questão da representação na holografia” com Eduardo Kac, artista multimídia e professor do Instituto de Arte de Chicago, envereda suas reflexões em um suporte pouco estudado: a holografia. Aponta para a perspectiva dos hologramas “[…] serem uma maneira de registrar, armazenar e resgatar informações e poderem exibir uma imagem ou substituir certos objetos em sua função sem exibir nenhuma imagem, eles suscitam uma questão complexa em relação à maneira como representam (ou não)”.

(p.335) Encerra o bloco, o texto “Projeto OPUS: uma aproximação à intercriação de imagens digitais”, com o artista multimídia e fotógrafo Carlos Fadon Vicente que apresenta uma pesquisa conceitual e estética sobre arte eletrônica, examinando em particular a geração de imagens digitais sob a polaridade certezaincerteza.

“[…] A tônica de OPUS situa-se em sua estrutura dialógica, como uma co-incidência ser humano e computador, e na ausência de apelo a um brilho tecnológico, desvelando ainda uma ligação com a imaginação ativa”. (p.366) A polissemia da mensagem visual envolve ramificações de associações, uma multiplicidade de símbolos e interpretações e possui como variável de codificação, um repertório cultural construído em meio às relações sociais e históricas, implicando também pela ótica do leitor, a seleção de significados, escolhendo alguns, excluindo outros.

Uma imagem é carregada de significado, mesmo que não se saiba formulá-la adequadamente em termos discursivos ou conceituais, o que amplia suas possibilidades e vórtice de orientações a partir das novas recombinações das imagens tecnológicas.

Em um momento de reavaliações das imagens, suas produções e interfaces, suas relações com homens e máquinas cada vez mais refinadas e equipadas, essa coletânea de ensaios a partir de pressupostos, indagações e buscas da arte, da estética, da filosofia, da fotografia e da história, propõe reflexões primordiais não somente no tocante à multiplicidade e diversidade da imagem e seus suportes, mas, quanto a reorganização do conceito cultura, como também, da própria conformação de um olhar e das possibilidades de construção do conhecimento.

Para historiadores e professores interessados em entender essas transformações são necessárias duas atitudes: retirar do lugar comum o “mundo povoado por imagens” e adentrar em um território povoado por outras concepções, ferramentas metodológicas e olhares não tão prosaicos, nem tampouco inocentes.

Ana Heloisa Molina – Doutora em História (UFPR). Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação História Social. Universidade Estadual de Londrina.

Consultar a publicação original

Conhecimento e fronteira: história da ciência na Amazônia | Priscila Faulhaber e Peter Mann de Toledo

Conhecimento e fronteira: história da ciência na Amazônia ofe- rece aos leitores, além de farta documentação e muita informação, uma acurada análise a respeito do tema englobado pelo título: a história da ciência, dos cientistas e das instituições científicas na Amazônia brasileira. O livro focaliza primordialmente o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), sediado em Belém, e, de modo secundário, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sediado em Manaus. O volume está destinado a se tornar uma obra de referência.

O livro divide-se em duas partes principais. A primeira delas, intitulada ‘Estratégia científica e unidades de pesquisa na Amazônia’, reúne 14 ensaios e artigos de especialistas em história e política da ciência, em tecnologia e instituições científicas. A segunda parte, sob o título ‘Trajetória social e memória institucional’, apresenta as transcrições de 31 entrevistas e depoimentos de pesquisadores e administradores que atuaram direta ou indiretamente no MPEG, no Inpa ou no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ao qual são subordinados esses dois principais institutos de pesquisa da Amazônia. A ‘cronologia’ dos dois institutos e a ‘iconografia’, levantadas com rigor e que figuram ao final do volume, formam uma terceira e enriquecedora parte, situando fatos e personagens mencionados ao longo do livro. Leia Mais

Knowing, teaching and learning History: National and international perspectives – STEARNS et al (ECS)

STEARNS, Peter N.; SEIXAS, Peter; WINEBURG, Sam (eds.). Knowing, teaching and learning History: National and international perspectives. New York: University Press. 2000. 475p. Resenha de: RODRÍGUEZ, A. Ernesto Gómez. Enseñanza de las Ciencias Sociales, v.1, p.113-114, 2002.

Pronunciarse sobre los requisitos que confieren calidad a la enseñanza de la historia es, sin duda alguna, una complicada cuestión que precisa de la concurrencia de múltiples y variadas opiniones; pues bien, ésta es una de las características a destacar de la obra que comentamos: la confluencia de autores procedentes de campos tan dispares –psicólogos e investigadores de la educación, historiadores, didactas y profesores de historia– que aportan numerosas e interesantes ideas sobre cómo ha de entenderse su enseñanza en unos momentos de cambios sociales y culturales tan profundos.

Las aportaciones se debatieron en la conferencia de la American Historical Association celebrada en Pittsburgh en 1997 y más tarde fueron recogidas en un texto que se estructura en cuatro partes y en el que se hace una reflexión sobre la enseñanza de la historia, entendida ésta como una asignatura independiente en el currículo escolar. A pesar de la distancia, es una obra perfectamente adecuada para abordar su enseñanza tanto en nuestra ESO como en la secundaria postobligatoria, una etapa bastante abandonada por las editoriales españolas, quizás porque los pasados debates se centraron, sobre todo, en torno a la cuestión de ciencias sociales o geografía e historia.

En la primera parte, titulada «Cuestiones actuales de la enseñanza de la historia» se aborda, desde siete colaboraciones pertenecientes a diferentes contextos –Canadá, EEUU, Gran Bretaña, Estonia–, las cuestiones de qué es la historia y cómo debería enseñarse. Entre ellas destacan la de Seixas, que analiza la naturaleza del conocimiento histórico, sopesando los pros y los contras de tres corrientes a través de las cuales el profesorado maneja conflictivas interpretaciones de los acontecimientos históricos: la memoria colectiva, la orientación disciplinar y la orientación postmoderna. Por su parte, James Wertsch analiza las diferencias entre los conceptos de maestría y apropiación, al objeto de responder a la cuestión de si se pueden simultanear valores y conocimientos en la enseñanza de la historia. Desde la experiencia escolar canadiense, Morton, plantea la necesidad de reflexionar profundamente antes de aplicar soluciones simplistas que abogan por una explotación del pasado para solucionar los problemas políticos contemporáneos.

Ante la incapacidad del alumnado inglés para construir un mapa coherente del pasado, Shemilt no tiene más remedio que reconocer cierto fracaso del Schools History Project, a pesar de que su currículo se articulaba y estructuraba, esencialmente, para lograr esa orientación.

Como conclusión general de esta sección, hay que reconocer que, a pesar de la profundidad de las reflexiones, resulta imposible establecer el consenso entre ellas.

La segunda parte ofrece menos utilidad para el caso español, al centrarse en problemas y cuestiones específicamente norteamericanos; en líneas generales, argumenta la necesidad de introducir cambios en la enseñanza de la historia. La historiadora Ravith, muy implicada en las conservadoras reformas curriculares de los años noventa, responsabiliza de la mala calidad de la historia que se enseña a la mala formación histórica del profesorado, sin entrar en otras circunstancias. Otro capítulo analiza un programa piloto universitario destinado a la formación del profesorado de historia, subrayando la necesaria e imprescindible colaboración entre los departamentos de Historia y de Educación. El tercero versa sobre la reforma de la enseñanza de la historia emprendida en un distrito escolar californiano, cuyo éxito se justifica en que se basa en el desarrollo profesional de los docentes y en la intervención activa y coordinada de departamententos universitarios de contenidos y de educación.

La tercera parte se dedica a «La investigación sobre la enseñanza y el aprendizaje de la historia» y la integran siete colaboraciones de conocidos didactas y psicólogos educativos, aunque algunas de ellas –las de Leinhart y von Borries– parecen fuera de contexto. Los británicos Lee y Ashby exponen los resultados de un proyecto curricular destinado a incrementar la comprensión de la historia entre el alumnado de 7 a 14 años, y sus conclusiones confirman que el aprendizaje histórico resulta mucho más complicado y variado de lo que tradicionalmente se creía. Por su parte, la didacta Levstik establece comparaciones entre la forma de percibir la historia por unos alumnos y la distinta percepción de sus profesores y de profesores en formación. La cuestión más interesante es que, mientras que los primeros se muestran bastante sensibilizados por abordar las cuestiones conflictivas de la historia del país, los segundos muestran una marcada tendencia a dejar aparcados los aspectos más candentes de la historia y reflejan una profunda despreocupación hacia aquellos temas que realmente suscitan la participación cívica. Finalmente, Wineburg destaca, a través de los datos proporcionados por un estudio longitudinal, que en la actualidad la escuela no es más que uno de los muchos espacios donde se puede enseñar y aprender la historia en la sociedad moderna.

Los seis capítulos de la quinta y última parte tratan la cuestión de «los modelos de enseñanza» mediante informes de experiencias destinadas a mejorar el rendimiento del alumnado; unas experiencias que parten desde distintas interpretaciones de lo que constituiría el conocimiento y la comprensión histórica y que pretenden constatar la viabilidad y la eficacia de las técnicas educativas que se aplican.

Las tres aportaciones más interesantes son las de Gutiérrez que, narra su experiencia en una high school californiana con elevada población «marginal». Básicamente, esta autora percibe la comprensión histórica en términos de desarrollo personal y de capacitación del alumnado para participar de manera efectiva en la comunidad democrática. Bain desarrolla un planteamiento más academicista y expone su experiencia docente centrada en la adquisición de estrategias cognitivas dirigidas a desarrollar la habilidad del alumnado en el manejo de recursos históricos variados. Por último, Boix-Mansilla relata una experiencia encaminada a revisar algunas cuestiones sociales problemáticas actuales a la luz de acontecimientos ya históricos, pretendiendo y fomentando una interpretación e intervención valorativa del alumnado. En síntesis, estos modelos de enseñanza pueden servir para animar al profesorado en la búsqueda de nuevas fórmulas educativas.

En general, pese a los desequilibrios que se aprecian en ella, podemos valorar positivamente esta obra que, como señalan sus editores, en un campo acosado por serios problemas e incertidumbres, sugiere nuevas vías para discutir sobre cuál y cómo debería ser la aportación de la historia a la educación.

Ernesto Gómez RodríguezUMA.

Acessar publicação original

[IF]