Diplomacia Patrimonial: o patrimônio como mediador das relações internacionais | Faces de Clio | 2021

A Revista Faces de Clio, periódico discente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publica a sua 14ª edição com o dossiê temático “Diplomacia Patrimonial: o patrimônio cultural como mediador das relações internacionais”. O presente número reúne quinze trabalhos e uma entrevista: seis artigos vinculados ao dossiê, sete artigos livres e duas resenhas. A presente publicação possui diversos trabalhos pertencentes ao eixo Patrimônio e Relações Internacionais e que dialogam a partir da vinculação do patrimônio cultural, memória, poder e diplomacia.

Agradecemos a toda equipe da revista Faces de Clio que se compromete a cada edição para entregar o melhor produto para os leitores e autores que confiam suas pesquisas ao nosso periódico. Mesmo neste momento difícil de cortes de recursos na educação e na ciência, seguimos resistindo e publicamos esta edição, o quarto dossiê durante a pandemia do COVID-19. Estendemos nosso agradecimento aos pareceristas que nos auxiliam na avaliação dos artigos para publicação. Leia Mais

História e relações internacionais na Região das Guianas | Diálogos | 2020 

Entre as diversas regiões que compõem o subcontinente da América do Sul, as Guianas1 é a menos estudada na composição da Amazônia Transnacional e do continente americano de forma geral. Assim, este conjunto de trabalhos compõem uma importante peça de pesquisa para melhor compreendermos um local habitado por grande biodiversidade, culturas, povos, línguas, fluxos de pessoas e uma rica história.

A região está inserida dentro da Amazônia Transnacional e representa cinco dos nove países que compartilham o espaço amazônico. Povos originários, colonização, estabelecimento de fronteiras, fluxos migratórios são alguns dos elementos que compõem alta potencialidade a ser mais explorada nos estudos da História e relações internacionais. Leia Mais

Patrimônio e Relações Internacionais / Locus – Revista de História / 2020

As relações internacionais ligadas à preservação do patrimônio mudarão em um mundo pós pandemia?

Como é de costume em épocas de crise, a COVID-19 evidenciou a

necessidade da existência da cultura para o aliviar o estresse de pessoas e

comunidades. Em um momento no qual bilhões de pessoas estão

fisicamente separadas umas das outras, a cultura nos une.

(Ottone 2020)

Em momentos de crise, pessoas precisam de cultura. É com esse chamamento que Ernesto Ottone, Diretor Assistente Geral para a Cultura da UNESCO ilustra o cenário em que vivemos no primeiro semestre de 2020. É esta a dimensão que os atores vinculados ao patrimônio mundial começam a tomar conhecimento. Atualmente, estamos enfrentando uma crise global diferente de qualquer outra que vimos neste século. Milhares de pessoas perderam a vida para o COVID-19 e muitas outras foram infectadas. Bilhões de pessoas agora tem estado confinadas em suas casas em todo o mundo. O impacto do COVID-19 provavelmente será sentido muito tempo após o término desta crise sanitária.

A UNESCO está incentivando os locais do Patrimônio Mundial e plataformas da UNESCO, como as Jornadas Europeias do Patrimônio Mundial, a oferecerem meios para as pessoas explorarem o Patrimônio Mundial em suas casas. Numa época em que bilhões de pessoas estão fisicamente separadas uma da outra, a cultura nos une, mantendo-nos conectados e diminuindo a distância entre nós. Então, diante dessa mudança na visão global, como ficarão os agora já “antigos” temas do patrimônio? Como não sair impactado dessa nova ordem mundial?

Em publicação recente, Guilherme d’Oliveira Martins convoca a atualidade do tema do patrimônio cultural e de seu valor econômico, afirmando a urgência em desenvolver a ligação entre o patrimônio comum, os valores humanos universais e o equilíbrio entre as diferenças (2020, 32). Num contexto de isolamento social imposto pela pandemia COVID-19 colocado à escala internacional urge questionar o lugar do patrimônio na sociedade. De acordo com o mesmo autor, “quando falamos de patrimônio cultural, há a tentação de pensar que falamos de coisas do passado, irremediavelmente perdidas num canto recôndito da memória coletiva” (Martins 2020, 33). Daí que anteveja que “a necessidade de promover a diversidade cultural, o diálogo entre culturas e a coesão social, (…) bem como, salientar o papel do patrimônio nas relações internacionais, desde a prevenção de conflitos à reconciliação pós-conflito ou a recuperação do patrimônio destruído” (Martins 2020, 33-34). Foi motivado por esta nova realidade que nasceu a ideia deste Dossiê. Provavelmente, as relações internacionais nunca mais serão as mesmas após essa pandemia e, por extensão, o patrimônio e sua gestão também não serão como antes.

A título de exemplo, recorde-se que os maiores museus do mundo disponibilizaram recursos digitais sobre as suas coleções que até então tinham o seu acesso condicionado. Nunca como antes a visita virtual teve tanto impacto, perante a impossibilidade colocada pela ausência de acesso físico causado pelo isolamento social. Diante de um cenário interconectado pela veiculação de informação (não raras vezes, na chave da inverdade), essa temática se apresenta como um dos domínios a ser debatido, pois tem atuado na compreensão de elementos variados, funcionando como embaixadores de novas demandas mundiais. O tema é não só atual, como de discussão urgente.

O imediatismo dos media e das redes sociais tem trazido novo olhar sobre o patrimônio em escala internacional. O registro e a notícia de catástrofes, recentemente reportadas como a dos incêndios do Museu Nacional do Rio de Janeiro ou da Catedral de Notre-Dame de Paris, ou das enchentes de Veneza, bem como as ações iconoclastas desenvolvidas em Bamiyan ou Mossul, só para referir alguns exemplos, tinham dado um novo lugar ao Patrimônio à escala das relações internacionais. Dois fatores se somam às assertivas elencadas acima. O primeiro diz respeito à incorporação crescente do patrimônio cultural em outras áreas do discurso internacional. O patrimônio cultural passou a ter maior visibilidade e participação relevante, muito por força da ação das redes sociais e dos media, havendo como consequência um avanço na presença de organismos de valorização nas mesas de negociação das políticas internacionais como jamais visto antes. O segundo se refere ao crescente poder econômico e político que países detentores de agendas preservacionistas desfrutam no cenário internacional.

À medida que o novo século se desnuda, a radiografia dessas relações de poder revela novos atores, espaços e representações. O patrimônio cultural tem se tornado um ator cada vez mais importante dos diálogos multilaterais e, como tal, faz parte do alargamento das ações no âmbito das relações internacionais. Daí derivam outros objetos de estudo, ainda pouco incorporados pela temática: as marcas de um soft power cada vez mais multilateralizado; as dinâmicas de hierarquização dos temas e critérios consagrados pelos órgãos de assessoria da UNESCO; a presença cada vez maior de temas que abordem as “africanidades”, “asianidades”, “latinidades” e os “orientalismos” (tão pouco explorados por nossos pesquisadores, dada a hegemonia da visão europeísta / estadunidense); dentre outros. Em consonância, sítios arqueológicos, museus, espaços culturais, organismos internacionais de preservação, Estados nacionais, atores da paradiplomacia, expressões de tradição, vivência e modos de se fazer, a dicotomia entre inflação e destruição de patrimônios, dentre outros elementos tornaram-se protagonistas dessas representações mentais sobre o patrimônio que tem se transformado constantemente. Apreender os mecanismos de compreensão dessa expansão temática favoreceria a montagem de novas valorações do patrimônio, nacional e internacionalmente. Acrescentamos a este cenário o mundo digital que, superando os constrangimentos de um isolamento social forçado à escala global se assume como o único veículo de visita e transmissão de conhecimento dos recursos patrimoniais.

Como se percebe, todas as temáticas elencadas faziam sentido em um mundo sem restrição social, isolamento compulsório e combate a um vírus letal. Os temas elencados neste dossiê, seguiram uma realidade anterior à pandemia. As preocupações, necessidades e objetos respondiam a um mundo complexo, mas conhecido. As regras do jogo eram todas acordadas. Agora, diante desse novo alinhamento, tudo muda, inclusive as relações internacionais e suas preocupações. Por este motivo, acreditamos que este Dossiê poderá colaborar para unirmos os dois mundos: o das preocupações pregressas e das novas necessidades. Não fazemos futurologia quanto ao universo da preservação dos patrimônios no mundo, mas sinaliza-se uma considerável modificação nas políticas públicas, no financiamento e na projeção de novas regras para um jogo que ainda não se saber jogar. Por este motivo, os textos selecionados para este Dossiê discutem realidades que provavelmente deverão também ser impactadas por esta mudança brusca nos caminhos recentes do mundo globalizado.

O texto de Amélia Polónia e Cátia Miriam Costa, Preservar patrimônios e partilhar memórias em cidades-porto latino-americanas. Um projeto em ação: CoopMar – Cooperação Transoceânica, Políticas Públicas e Comunidade Sociocultural Ibero-Americana analisa o projeto de uma rede de investigação e desenvolvimento financiada pelo CYTED (Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento) que promove formas ativas de diplomacia científica, visando potenciar sinergias existentes entre vários parceiros em torno de uma agenda de “mar e sociedade para o desenvolvimento”. CoopMar dá prioridade à circulação de conhecimento entre diferentes atores (universidades, museus, fundações, empresas, instituições públicas e sociedade em geral) e visa contribuir para uma sociedade do conhecimento, transnacional e transdisciplinar. Assume a troca cooperativa de valores e visões como um valor intangível que funciona como capital social capaz de beneficiar cidades portuárias da região Ibero-latino-americana.

Frédéric Lerich discute em Regional Assets, Industrial Growth, Global Reach: The Case Study of the Film Industry in the San Francisco Bay Area, uma dimensão pouco conhecida do público. De acordo com Lerich, dentro da indústria cinematográfica dos EUA, Hollywood é uma (grande) árvore que esconde a floresta. De fato, além desse cluster poderoso e dominante, existem outras formas – embora menores – de indústria cinematográfica, particularmente em Nova York e São Francisco. O artigo enfoca o último e argumenta que o desenvolvimento da indústria cinematográfica na área da baía de São Francisco depende de ativos regionais específicos: (1) uma cultura alternativa, (2) uma cultura tecnológica e (3) uma experiência urbana única. O artigo se baseia na ideia de que São Francisco é um local acolhedor para filmar e produzir filmes e que, como corolário, hoje em dia acolhe um cluster industrial dinâmico e com vários locais. Destaca diferentes estratégias que visam promover o desenvolvimento de ativos regionais relacionados à indústria cinematográfica e questiona suas capacidades de recuperação destacando seus impactos na influência global de São Francisco.

Jaime Nuño González constrói uma narrativa envolvente ao analisar em Patrimonio Cultural y globalización: Trayectoria, proyectos y estrategias de la Fundación Santa María la Real (Aguilar de Campoo, Castilla y León. España), as dinâmicas de preservação em torno das ruínas de um mosteiro medieval situado na pequena localidade de Aguilar de Campoo (Palencia, Castilla y León. Espanha). Em 1977 uma associação foi formada com o objetivo de recuperar o monumento e transformá-lo no centro da dinamização cultural de uma região em crescente processo de despovoamento. A Fundação Santa María la Real, herdeira dessa associação, diversificou os setores em que atua, ampliando suas intervenções em toda a Espanha. Neste texto, González apresenta os projetos de gestão, comunicação e preservação da fundação, apontando os caminhos pelos quais essas ruínas se tornaram um dos mais proeminentes exemplos de preservação patrimonial ibérico.

Gilberto Marcos Antônio Rodrigues discute os impactos do Patrimônio cultural como inserção internacional de cidades. Em Política Externa de Cidades: Estratégia Internacional Modelada e Patrimônio Cultural aborda uma questão central: no caso de patrimônios culturais, sejam eles materiais ou imateriais, que não dispõem de valorização ou proteção nacional, como pode a cidade aproveitá-lo como vetor de uma ação internacional? No âmbito da dimensão cultural das relações internacionais de cidades, o patrimônio cultural é um vetor pouco explorado em sua potencialidade e capacidade de promover a inserção internacional local no Brasil. O objetivo do artigo é analisar como o patrimônio cultural pode ser transformado em recurso ativo para uma Estratégia Internacional Modelada (EIM) visando alavancar e apoiar a política externa de cidades médias ou pequenas no Brasil.

Em diálogo com o texto de Rodrigues, Gustavo de Jesus Nóbrega, perscruta o universo da paradiplomacia e apresenta os resultados parciais de pesquisa ligada ao projeto interdisciplinar “Os diversos usos dos espaços institucionais na preservação do Patrimônio Cultural”, na qual analisa o uso e a apropriação da Universidade de Coimbra (UC) e da própria cidade em questão por diversos agentes, a partir da apresentação da instituição de ensino como um Patrimônio Cultural da Humanidade e seus bens edificados como verdadeiros acervos de um museu a céu aberto. A hipótese levantada por Nóbrega em A Universidade de Coimbra e as diversas apropriações da chancela internacional de Patrimônio da Humanidade atribuída pela UNESCO, é que a nomeação pela UNESCO, em 2013, alavancou a iniciativa de utilizar a marca “Coimbra”, como um soft power que objetiva reestabelecer a notoriedade da cidade e da Universidade como espaços de ponta em nível mundial.

O artigo de Bruno Miranda Zétola, Troféus de guerra e relações diplomáticas examina as singularidades do troféu de guerra como patrimônio cultural e sua relevância para as relações diplomáticas. A partir de três estudos de caso, aponta-se para possíveis paradigmas do uso desse tipo de patrimônio como recurso de política externa. Troféus de guerra são uma categoria muito especifica de patrimônio, visto tratar-se de artefatos militares obtidos no campo de batalha e cujo valor cultural é aferido após sua apreensão. Prática recorrente desde a Antiguidade clássica, a obtenção e exibição de troféus de guerra nunca foi considerada ilícito internacional. Suas implicações para as relações internacionais, entretanto, podem ser significativas, consoante a valorização do artefato tornado troféu pelas narrativas historiográficas das sociedades que o perdem ou que o conquistam.

O Louvre, renomado museu e patrimônio francês, agora responde a um pedido do governo para aperfeiçoar sua interação e influência internacionais. A internacionalização do Louvre é, portanto, entendida não como a reputação do Louvre em nível internacional, mas como o uso dessa herança em estratégias políticas internacionais. O texto de Marie-Alix-Mólinier-Andlauer, Political Issues of the Louvre’s Internationalisation enfoca a internacionalização do Louvre desde os anos 2000. O Estado francês, através de sucessivos governos, vem mobilizando o Louvre, como intermediário em acordos internacionais. Este museu e instituição cultural tornou-se participante direto das relações internacionais francesas, o que motivou Andlauer a analisar as questões e controvérsias que cercam a estreita relação entre o Louvre e o Estado francês. Concluí este trabalho, uma análise do discurso da mídia francesa sobre a mobilização do Louvre pelo Estado o que revela tensões e controvérsias em torno da internacionalização de um dos museus mais famosos do mundo.

Se por um lado museus guardam estátuas (independentemente da discussão se devem ou não manter sob sua tutela peças controvertidas de origens, muitas vezes, duvidosas), por outro, em certas ocasiões, são palco de destruição e vandalismo. A onda de destruição de museus e estátuas locais realizados pelo DAESH (Estado Islâmico) na Síria e no Iraque não deve ser considerada simples ato de vandalismo ou ação iconoclasta com base em sua interpretação radical e distorcida do Islã. Tais atos ocultam um discurso complexo que deve ser compreendido no debate atual sobre a redefinição do patrimônio, particularmente de estátuas, questionada por representar um passado colonial ou autocrático que não é mais considerado digno de ser preservado e lembrado. Em Las estatuas también mueren. Patrimonio, museos y memorias en el punto de mira de DAESH, Jorge Elices Ocón apresenta o estado da arte deste debate focalizando a diferença notável entre as ações iconoclastas mencionadas no texto e as do DAESH. Para os terroristas, não há possibilidade de ressignificação das estátuas. Como vaticina Ocón, “não é um discurso de justiça, mas de ódio, e não busca apenas a morte de estátuas, mas a de pessoas e culturas”.

Para além da destruição, do tráfico ilícito de bens culturais e da revisão histórica de símbolos outrora extorquidos, um dos temas de maior visibilidade dentro das relações internacionais é o das solicitações de restituição de patrimônios espoliados. Colabora nesta temática o texto de Karine Lima da Costa que analisa a questão da restituição ou repatriação dos bens culturais, especialmente os artefatos da África subsaariana, a partir da publicação do Relatório Savoy-Sarr, concluído em 2018. Em, A restituição do patrimônio cultural através das relações entre a África e a Europa Costa aborda o caso dos bronzes do Benin, retirados da África no século XIX, e atualmente distribuídos em diferentes instituições museológicas, sobretudo na França e na Inglaterra. A repatriação e / ou restituição também diz respeito à uma mudança de atitude em relação ao tratamento e entendimento dos bens culturais, que deve considerar algo que, às vezes, parece ser esquecido nesse processo: o seu sentido coletivo. Por este motivo, são as novas formas de se relacionar com o patrimônio cultural que a problemática da repatriação convoca, pois ao falarmos de restituição estamos falando, também, de diplomacia. Essas formas não devem se limitar apenas ao retorno permanente, mas ao empréstimo, ao intercâmbio cultural, à circulação das obras – algo que já faz parte do cotidiano de muitas instituições museológicas, mas que são limitados por falta de acordos e cooperação entre os agentes envolvidos.

Em diálogo aberto com o texto de Costa, Manuel Burón Díaz, apresenta o caminho percorrido pelo patrimônio da Nova Zelândia, analisando o estudo da construção, intercâmbio, exibição, reclamação e restituição do patrimônio, por meio de uma leitura crítica do próprio estatuto de devolução. Para o autor, o patrimônio, os materiais que o compõem, assim como os significados que lhes damos, não são estáticos; variam com o tempo e, na sua mudança, desenham no mapa interessantes trajetórias. Neste texto, Díaz aborda como as recentes demandas da restituição patrimonial supõem um desdobramento mais atuante na alargada série de significados que atribuímos a certos materiais culturais, sublinhando como, na atualidade, a repatriação de certos objetos tem se convertido em uma importante ferramenta de relações internacionais. Cabezas y pájaros: La construcción y restitución del patrimonio en Nueva Zelanda é, portanto, uma busca por clarificar a ideia de que o patrimônio tem sido um instrumento fundamental para as relações diplomáticas, pois ao simbolizar diferentes desejos e atender a diferentes necessidades, regula os contatos entre culturas ou nações. Mas isso, adverte o autor, não deve fazer o observador cair no mais estéril relativismo nem no mais imóvel essencialismo cultural.

Em, Soft Power Mineiro: O edital Circula Minas (2015-2018) como medida de preservação e difusão nacional e internacional da cultura e do patrimônio de Minas Gerais, Vanessa Gomes de Castro e Thiago Rodrigues Tavares discutem o programa de internacionalização da cultura do estado de Minas Gerais, por meio do Programa Circula Minas. Os autores analisam os resultados e implicações do intercâmbio cultural patrocinado pela Secretaria de estado da Cultura de Minas Gerais, sobretudo, em relação ao patrimônio cultural, apresentando seus argumentos a partir de uma leitura crítica do conceito de soft power. Para os autores o Edital Circula Minas, ao receber e apoiar financeiramente projetos na área da cultura, possibilitou a participação da sociedade civil na salvaguarda dos bens culturais, mas, políticas culturais não podem ser apenas prerrogativa exclusiva do Estado e seus representantes, devendo envolver a participação da sociedade civil nas diversas etapas do processo de preservação, fato legitimado pelos dispositivos jurídicos internacionais.

O texto As timbila de Moçambique no concerto das nações, de Sara S. Morais discute aspectos do processo de patrimonialização das “timbila chopes” de Moçambique que culminou com seu reconhecimento como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade em 2005, pelo Programa das Obras-Primas da UNESCO. Inspirada em análises sobre processos de objetificação e redução semântica implicados no reconhecimento oficial de expressões como patrimônio cultural, a autora abordo elementos da trajetória histórica e social das timbila para compreender seu lugar no imaginário nacional e sua escolha como o primeiro bem cultural imaterial em Moçambique consagrado em arenas internacionais. Enfatiza diversos elementos que localizam esse país africano no âmbito das suas relações internacionais; discutindo algumas das dinâmicas perpetuadas pelo colonialismo, traçando reflexões sobre a relação de Moçambique com a UNESCO, à luz da história política do país e de sua recepção em relação a certos critérios e entendimentos desse organismo internacional no que tange ao patrimônio imaterial. Destaca, por fim as interpretações dadas pelo Estado moçambicano aos ideais de participação social da UNESCO e mostra como o dossiê produzido pelo governo moçambicano utilizou o critério de autenticidade para justificar a escolha das timbila.

Encerra o Dossiê, o texto provocativo de Marcos Olender que aborda nova leitura sobre um dos documentos mais conhecidos da preservação do patrimônio. Para responder às indagações do presente e compreender as dinâmicas na construção do imaginário dos patrimônios mundiais, Olender retroage à icônica Carta de Atenas de 1931, produzindo uma leitura verticalizada dos bastidores do primeiro documento internacional referente à proteção do patrimônio histórico e artístico em âmbito institucional internacional. O texto “O abismo da história é grande o suficiente para todos”. Os primórdios da Carta de Atenas de 1931 e a afirmação da noção de patrimônio da humanidade aborda o processo histórico que constrói a conjuntura da elaboração do citado documento, iniciado no contexto da Primeira Grande Guerra e pela implantação de instituições que começaram a estruturação de uma política internacional de proteção ao patrimônio, na qual é destacada a preocupação pela conceituação de um patrimônio da humanidade.

As inquietações apresentadas pelos autores ajudaram na elaboração da entrevista transcrita neste volume. A premissa básica foi discutir: como a leitura de um observador do presente dá conta de compreender as mudanças que se aceleram no universo da preservação dos patrimônios em um mundo oscilante entre a perpetuação e efemeridade? Este foi o mote da entrevista com o historiador britânico, Peter Burke, interlocutor que buscou consolidar respostas concisas, “diante do tempo das indefinições”. Frente a um cenário interconectado e em função do caráter de “novidade temática”, como enxergar a crescente preocupação sobre a preservação do patrimônio em tempos que pendulam entre o esquecimento generalizado e a super produção de memórias? O patrimônio (sobretudo, o chancelado como mundial) tem força para ser combustível de mudança social e política? E diante da pandemia de COVID-19 e as sequentes restrições ao nível da acessibilidade, como fugir da “despatrimonialização” desses lugares? Estaremos já a caminhar para um tempo do “pós-patrimônio”? Responder a esses questionamentos não foi tarefa fácil, mas as respostas elencadas por Burke, podem nos auxiliar a compreender um pouco mais o cenário em que vivemos, independentemente da concordância ou discordância de seus posicionamentos.

Mesmo diante do imponderável, continuaremos trabalhando para que a temática ganhe cada vez mais destaque e que as mudanças que se projetam sejam assimiladas pelos temas correlatos à preservação do patrimônio cultural e seus aspectos internacionais. Conseguir responder ao questionamento central desse dossiê, se as relações internacionais ligadas à preservação do patrimônio mudarão em um mundo pós pandemia? nos parece precipitado. No entanto, a cada dia que passa projeta-se um cenário no qual o planeta e, por tabela, o próprio patrimônio mundial refletirão as mudanças ocorridas nas agendas dos governos, na preferência dos estudiosos e na dinâmica global de um mundo afetado em grande escala.

As palavras de Oliveira Martins, para quem: “o valor do patrimônio cultural, material e imaterial exige a aceitação da verdade dos acontecimentos, positivos e negativos, para que possamos ganhar em experiência, pelo ‘trabalho de memória’” (2020, 28), nos motiva a continuar preservando. Neste mundo, marcado por uma pandemia sem igual, cabe questionar os acontecimentos, buscar compreendê-los, criar deles memória patrimonial e, por meio da experiência obtida, abrir novos caminhos para a compreensão sobre nós mesmos. Certos estamos que tais caminhos jamais serão como antes, mas que o novo aprendizado venha carregado de significados para que saibamos dosar a preservação entre o novo e o ancestral. Que o patrimônio (elemento que transita entre a memória e a história) encontre nas agendas internacionais espaço de protagonismo, mediando as demandas existentes entre o local e o global, sem sobreposições ou prejuízos de nenhuma natureza. E não podemos deixar de lembrar, as palavras visionárias de Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1998), publicadas em tempos tão diferentes daqueles em que vivemos, que “Patrimônio é tudo o que tem qualidade para a vida cultural e física do homem e tem notório significado na existência e na afirmação das diferentes comunidades” às mais diversas escalas. Se assim o é, também concordamos com este autor quando tão antecipadamente escreveu que

o Patrimônio não pode ser olhado apenas como uma reserva e, menos ainda, como uma recordação ou nostalgia do passado mas, antes, como algo que tem de fazer parte do nosso presente. O Patrimônio, para o ser, tem de estar presente e vivo, de algum modo (Almeida 1998).

O Dossiê que agora se dá ao prelo bem o reflete e demonstra. O patrimônio tem hoje um novo lugar: é um ator efetivo nas relações internacionais às mais diversas escalas. Alcançou este status porque não é mais uma reserva do passado. Está no presente e tem valores prospectivos.

Referências

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de. Patrimônio. O seu entendimento e a sua gestão. Porto: Edições Etnos, 1998.

MARTINS, Guilherme d’Oliveira. Patrimônio cultural: realidade viva. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2020.

OTTONE, Ernesto. 2020. “Em momentos de crise, as pessoas precisam de cultura”. https: / / pt.unesco.org / news / em-momentos-crise-pessoas-precisam-cultura

Rodrigo Christofoletti – Professor de Patrimônio Cultural no curso de graduação e Pós-graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Líder do grupo de pesquisa Patrimônio e Relações Internacionais (CNPq). Conselheiro do COMPPAC – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de Juiz de Fora. Colaborador do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (CITCEM) – Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Doutor em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-CPDOC). Atua na interface entre História e Relações Internacionais com foco no patrimônio cultural. E-mail: [email protected] https: / / orcid.org / 0000-0002-6346-6890

Maria Leonor Botelho – Professora Auxiliar do Departamento de Ciências e Técnicas do Patrimônio da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Diretora do Curso de Mestrado em História da Arte, Patrimônio e Cultura Visual. É investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (CITCEM / FLUP). Com a Prof. Lúcia Rosas e o Prof. Mário Barroca, coordena a Enciclopédia do Românico em Portugal (2018-2021), no âmbito do protocolo de colaboração celebrado entre a FLUP e a Fundación Santa María la Real del Patrimônio Histórico, un Proyecto desde Castilla y Leon. Os seus interesses de investigação são a gestão do patrimônio, o patrimônio mundial, o digital heritage, a história urbana e a historiografia da arquitetura da época românica. E-mail: [email protected] http: / / orcid.org / 0000-0002-2981-0694


CHRISTOFOLETTI, Rodrigo; BOTELHO, Maria Leonor. Apresentação. Locus – Revista de História. Juiz de Fora, v.26, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Crime e Relações Internacionais | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2020

“Crime”. Essa palavra nos remete quase imediatamente a transgressões penais que acontecem dentro dos Estados, nas cidades, nos bairros, nas ruas, naquilo que é entendido como local e doméstico. E, de fato, esse espaço interno foi historicamente o espaço privilegiado para compreender o crime e para definir políticas para o seu combate. Os trabalhos de criminologia, cuja interdisciplinaridade incorporou abordagens sociológicas, antropológicas, jurídicas, entre outras, evoluíram ao longo do século XX por tais parâmetros (LOADER; SPARKS, 2007).

No entanto, as últimas décadas presenciaram novas dinâmicas da criminalidade, da percepção política sobre esse fenômeno e da produção de conhecimento a seu respeito. Nesse novo momento, o internacional ganhou proeminência, tornando-se um espaço social crescentemente relevante. Isso repercutiu na importação de conceitos da área de Relações Internacionais pela Criminologia, como é o caso do “transnacional”, ao mesmo tempo em que estudos de Relações Internacionais passaram a incorporar parâmetros criminológicos nos seus referenciais analíticos (LOADER; PERCY, 2012). Tráfico de drogas, armas e pessoas, contrabando, comércio ilegal de vida selvagem e de bens culturais e lavagem de dinheiro são alguns dos tópicos que passaram a ter o “internacional” como qualificador. Leia Mais

História e relações internacionais na Região das Guianas / Diálogos / 2020    

Entre as diversas regiões que compõem o subcontinente da América do Sul, as Guianas [1] é a menos estudada na composição da Amazônia Transnacional e do continente americano de forma geral. Assim, este conjunto de trabalhos compõem uma importante peça de pesquisa para melhor compreendermos um local habitado por grande biodiversidade, culturas, povos, línguas, fluxos de pessoas e uma rica história.

A região está inserida dentro da Amazônia Transnacional e representa cinco dos nove países que compartilham o espaço amazônico. Povos originários, colonização, estabelecimento de fronteiras, fluxos migratórios são alguns dos elementos que compõem alta potencialidade a ser mais explorada nos estudos da História e relações internacionais.

A delimitação da Amazônia pode estabelecer diferentes critérios e dessa forma apresentar diferentes composições. É comum a referência em textos sobre a Amazônia Transnacional. Esta é uma definição geral que inclui critérios físicos, ecológicos e político-administrativos abrangendo Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa (França), Peru, Suriname e Venezuela.

A juventude institucional presente nos territórios que compõem as Guianas explica um pouco do baixo volume de estudos sobre a região. A República Cooperativa da Guiana e Suriname são os mais jovens países da América do Sul, independentes em 1966 e 1975 respectivamente. Os estados brasileiros Roraima e Amapá somente se elevaram ao status de estado da Federação do Brasil em 1988. A Guiana Francesa, por sua vez, não é um país independente e responde diretamente como território a França continental. Isso significou que as instituições de pesquisa da região foram de forma geral estruturadas apenas nas últimas décadas e muitas vezes de forma precária.

A Université de Guyane em Caiena só passou a ter um status de Universidade em 2015. Até então sua vinculação era como polo educacional ligado às Antilhas, notadamente Martinica e Guadalupe. Desde seu novo momento, a contratação de professores e estabelecimentos de projetos de pesquisa e ensino trouxeram maior foco para os estudos sobre o território e para seu entorno geográfico.

Na República Cooperativa da Guiana e Suriname existe, as duas únicas universidades presentes, “Anton de Kom” e “University of Guyana”, respectivamente, enfrentam baixos investimentos e uma fuga de mão de obra especializada (mestres e doutores) para outros países. Todavia, algumas iniciativas foram feitas na busca de aproximar os estudos regionais na área das humanidades.

Na Universidade Federal de Roraima (UFRR) nos anos 2000 buscou-se abordar as Guinas como objeto da História e relações internacionais. Reginaldo Gomes de Oliveira é um dos acadêmicos pioneiros nesses estudos e vai apontar a ideia de uma “Amazônia Caribenha” como diferencial no olhar sobre a região. Entre seus trabalhos, destacamos “AMAZÔNIA CARIBENHA: a regionalização, os caminhos históricos e culturais” onde é situado historicamente o conceito de Amazônia Caribenha. O historiador aponta que o conceito em foco é “vinculado ao caráter relacional do território Caribe como região cultural, marcada por um processo etno-histórico diferenciada das outras regiões da América do Sul, que aparentemente se define como singular processo cultural ibérico (português e espanhol)” [2 ]. Mais recentemente programas de pós graduação nessa instituição foram estabelecidos e entre os diversos temas apontaram a região das Guianas como interesse.

No Amapá a universidade Federal do Amapá (UNIFAP) também teve incursões acadêmicas individuais nas Guianas, mais especificamente na relação do estado com a Guiana Francesa, desde os anos 2000. O processo de expansão no Brasil do ensino superior que esteve presente de meados dos anos 2000 até 2016 proporcionou uma quantidade substantiva de pesquisadores em instituições como a UNIFAP. Nesse processo, as iniciativas individuais ganham institucionalidades traduzidas em programas de pós graduação.

Nessa esteira da construção científica no Amapá o Programa de Pós Graduação em Estudos de Fronteira (PPGEF) está desde 2017 estabelecendo a região das Guianas e Caribe como recorte geográfico de pesquisa. Projetos e intercâmbios se fortaleceram institucionalmente com a região e possibilitaram a produção acadêmica brasileira sistemática sobre o Norte da América do Sul.

Denominamos “Região das Guianas” a localização do extremo norte Sulamericano composto pelo Brasil, França, Suriname, República Cooperativa da Guiana e Venezuela. Do Brasil os estados do Amapá, Roraima, partes do Pará e Amazonas estão dentro da Região. O território Europeu dentro da Amazônia é representado pela Coletividade Territorial da Guiana Francesa.

Nesse território, encontraremos a história de etnias amazônicas e sua luta para a sobrevivência de suas culturas. É também aqui que as línguas dos antigos colonizadores- espanhol, português, francês, holandês e inglês- se encontram rodeadas por falantes do espanhol. O período colonial trouxe para essa região povos europeus, africanos, indianos, javaneses, chineses; um passado recente, por sua vez, promoveu um intenso fluxo migratório do Brasil e Caribe na composição das sociedades das Guianas.

É com satisfação que apresentamos o Dossiê “História e relações internacionais na Região das Guianas”: fruto de esforço coletivo e de um longo processo de trabalho que culmina com o lançamento desta edição, composta por um total de oito artigos e uma entrevista que trazem vultosas contribuições sobre a região das Guianas. A pluralidade e complexidade histórica da região são, neste Dossiê, abordadas por acadêmicos da História, Antropologia, Ciência Política, Literatura e Geografia.

Nosso Dossiê inicia com a entrevista a uma das maiores escritoras do Suriname, Cynthia McLeod. Sua biografia confunde-se com a história do Suriname, o mais jovem país independente da América do Sul. Sua obra é representativa da importância da construção de identidade surinamesa, pois seus romances históricos são feitos a partir da perspectiva de mulheres, geralmente negras nascidas na colônia ou trazidas por meio da imigração forçada que caracterizou o tráfico de pessoas escravizadas. Suas personagens contrapõem-se à narrativa branca, colonizadora e hegemônica que prevaleceu na história dos países colonizados.

O trabalho “Threads of memory: the historical novel in Suriname as a writing of resistance” segue o caminho apontado na entrevista de Cynthia McLeod ao buscar dar a palavraa vozes silenciadas historicamente. Natali F. Costa e Silva analisa o romance histórico “The free negress Elisabeth: prisioner of color” (2004) escrito por McLeod contribuindo para o debate sobre a desigualdade racial e de gênero que está na base das sociedades coloniais que caracterizam a região em foco.

Em seguida, o trabalho de Samuel Tracol e Arnaud-Dominique Houte “Aqui comece o Brasil: colonização penal, territorialização e fronteirização do rio Oiapoque. 1853-1927” se debruça sobre a região fronteiriça entre Brasil e França (Guiana Francesa) e seu processo de povoamento a partir da colonização penal como mecanismo de ocupação da região.

Ainda sobre a região fronteiriça entre Brasil e França a partir do Amapá e Guiana Francesa, o artigo de Carmentilla das Chagas Martins e Iuri Cavlak“O dilema da participação local na cooperação transfronteiriça Brasil-França (1990-2015)” discute a aproximação, a partir dos anos 1990, entre Brasil e França com acordos celebrados e as sistemáticas reuniões da Comissão Mista Transfronteiriça-CTM. A pesquisa problematiza a falta de participação local e o desenvolvimento das cooperações.

A pesquisa de Rosuel Lima Pereira traz reflexões acerca do território denominado ultraperiférico da União Europeia e que está presente na região das Guianas. O artigo intitulado “Guiana Francesa, uma região ultraperiférica da União europeia: Questões e desafios no século XXI” busca traçar uma análise da Guiana Francesa sob o aspecto jurídico e econômico, além de problematizar questões de segurança nacional ede integração do território francês na região.

Na esteira da discussão sobre integração fronteiriça, o artigode Paulo Gustavo Pellegrino Correa e Miguel Patrice Philippe Dhenin analisa a construção da Ponte Binacional que liga o Brasil e a França, além de tecer reflexões acerca da representação social dos grupos locais. Intitulada “Integração transfronteiriça e representação social: a ponte binacional e os catraieiros na fronteira Franco-Brasileira”, a pesquisateve como objeto de estudos os catraieiros, que são barqueiros responsáveis pela logística fluvial para demonstrar como a relação SujeitoRepresentação- Objeto construiu uma representação negativa e ameaçadora de um projeto integrador entre os dois países por parte da comunidade que, historicamente, esse mesmo projeto buscou aproximar.

Como mencionado acima, o fluxo migratório na região das Guians é intenso e se difere em alguns aspectos dos processos migratórios presentes em outros espaços da América do Sul. O trabalho de Handerson Joseph tem como objeto as trajetórias migratórias caribenhas, mais especificamente haitiana, e as Guianas como parte desse sistema. Em “O sistema migratório haitiano nas Guianas: para além das fronteiras” poderemos melhor entender as práticas e as trajetórias dos migrantes que entrecruzam as fronteiras nacionais nas Guianas, assim como ver uma análise do sistema migratório, seus documentos e papéis e as problemáticas que as diferentes gerações migratórias haitianas suscitam no espaço e no tempo.

A baixa densidade populacional que caracteriza a Amazônia Transnacional e, mais intensamente, a região das Guianas não significou ausência de uma rica história de diferentes povos que aqui habitam. Ao contrário, como podemos perceber nas abordagens desse conjunto de trabalhos, a diversidade cultural caracteriza as Guianas. Em “Perspectivismo Ameríndio nos Discursos Mitificados do Catolicismo Popular na Amazônia”, os autores Marcos Vinicius F. Reis e Marcus Paulo T. Pereira abordam, a partir de um olhar pós-colonial, o projeto colonizador da Igreja Católica em relação às expressões do catolicismo popular da Amazônia Amapaense. O artigo aponta as estratégias das comunidades afro-ameríndias na resistência à hegemonia eurocêntrica e judaico cristã diante das expressões de povos locais.

Finalmente, destacamos uma temática importante ao abordar a região Amazônica: a ecologia política. Em “A Ecologia Política nas fronteiras do saber e do poder em território tradicionalmente ocupado: o saber-fazer das chamadas quebradeiras de coco na Amazônia”, Jodival Maurício da Costa e Joaquim Shiraishi Neto levantam um debate sobre o papel da ecologia política na descolonialidade do saber e do poder na região Amazônica. Biodiversidade, riquezas naturais, modernidade e tradições compõem um cenário onde as cosmovisões de grupos locais principalmente no que tange aos olhares sobre a natureza e suas representações.são contrapostas aos interesses de mercado.

Este conjunto de trabalhos é lançado em um momento de uma pandemia global que vai ser apontada pela historiadora Lilia Schwarcz como o fim do século XX. Um turbulento momento em que olhares sobre as sociedades, as tecnologias, o consumo, os direitos e a própria história estão sendo revistos. Esperamos que os artigos que abordam uma região ainda pouco estudada na História e nas relações internacionais possam contribuir na expansão do conhecimento de tão múltipla região como as Guinas.

Paulo Gustavo Pellegrino Correa

Organizador

Notas

1. É possível por vezes encontrar a grafia da palavra Guiana com Y em textos em português.

2. OLIVEIRA, Reginaldo G. Amazônia Caribenha: a regionalização, os caminhos históricos e culturais. In: Reginaldo Gomes de Oliveira; Andrea Idelga Jubithana-Fernand. (Org.). Dos Caminhos Históricos aos Processos Culturais entre Brasil e Suriname. 1ªed.Boa Vista-RR: Editora da Universidade Federal de Roraima – EdUFRR, 2014, v. 1, p. 13-33

Paulo Gustavo Pellegrino Correa –  Universidade Federal do Amapá, Brasil. E-mail: [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-2167-5969

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Direitos Humanos & Relações Internacionais: os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2018

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Assembleia Geral da então recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948. Em 2018, o documento mais traduzido do mundo completa 70 anos, propiciando-nos oportunidade de reflexão sobre as principais transformações e novos desafios que cercam a realidade internacional dos direitos humanos. Por isso, a Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, ao lado da ONU Brasil, apresenta o Dossiê “Direitos Humanos & Relações Internacionais: Os 70 Anos Da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948-2018)”.

Há 70 anos, quando foi adotada, a DUDH trazia o propósito declarado de ser uma carta de direitos internacional, ou o que mais próximo haveria de uma constituição internacional, nos moldes do que haveria sido proposto na Pax Perpetua de Kant. Apesar de não ser vinculante e de ter sido concebida antes da independência de vários países asiáticos e africanos, a DUDH logrou o feito, sem precedentes, de traçar um horizonte comum, e necessariamente compartilhado, para a sociedade mundial. Sua importância para a globalização do direito e da política e para a estruturação do direito internacional dos direitos humanos é inegável. O trajeto percorrido desde a adoção da DUDH revela que muito do que atualmente goza de relativo reconhecimento e aceitação normativa, como a universalidade, indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos, foi fruto de uma laboriosa – e imprescindivelmente política – construção. Leia Mais

Feminismos, gênero e relações internacionais | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2017

Nosso feminismo é vivencial.

A cada onze minutos uma mulher é estuprada no Brasil (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016). Muitas sofrem “estupro corretivo” por sentirem desejo sexual por outras mulheres. A cada dia, acontecem sete feminicídios (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015). Dois terços deles tiram a vida de mulheres negras. O número de homicídios de mulheres brancas diminuiu quase 10% entre 2003 e 2013 (idem).

Valdecir Nascimento. Sônia Guajajara. Nilce de Souza Magalhães. Carolina Maria de Jesus. Clarice Lispector. Ochy Curiel. Angela Davis. Sampat Pal Devi. Amelia Mary Earhart. Shahla Sherkat. Simone de Beauvoir. Maria Galindo. Betty Davis. Chimamanda Ngozi Adichie. Virginia Wolf. Leila Khaled. Dandara dos Santos1. O feminismo é nossa resposta aos constantes massacres, abusos e distorções que acometem nossas sociedades. Mas, o que posso eu2 – mulher branca, trabalhadora, acadêmica, de classe média, bissexual, com filhx, falante da língua do colonizador – escrever sobre uma realidade de opressões da qual percebo apenas os fragmentos? Leia Mais

Desafios e Caminhos do Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações Internacionais no Brasil | Meridiano 47 | 2017

A ampliação dos cursos de graduação e de pós-graduação, a diversidade das atividades com interface internacional, assim como os avanços teóricos e empíricos da disciplina nos últimos anos evidenciam a consolidação do campo de Relações Internacionais no Brasil. Ao mesmo tempo, as mudanças nas tecnologias da informação, as novas possibilidades de atuação profissional e os desdobramentos interdisciplinares estimulam a discussão sobre o perfil dos egressos, bem como sobre as expectativas do mercado de trabalho e do Estado em relação ao campo.

Questões sobre ensino, aprendizado e concepções pedagógicas são discutidas e rediscutidas em todas as áreas, assim como a questão das competências e habilidades profissionais. Há um esforço constante em diminuir lacunas entre o que os cursos oferecem, a expectativa dos estudantes e as oportunidades profissionais. O dinamismo do mundo real, do mercado de trabalho e das agendas de pesquisa acadêmicas constantemente estimulam balanços e avaliações sobre o processo de aprender a aprender, de ensinar a aprender e de aprender a ensinar. Para a área de Relações Internacionais essa discussão tem uma relevância adicional, pois, trata-se de uma área estratégica para o desenvolvimento nacional com enorme responsabilidade em formar quadros a serem absorvidos pelo setor privado, órgãos governamentais, não governamentais, academia, entre outros. Leia Mais

A África e as relações internacionais | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2016

A história do continente africano é uma das mais ricas que conhecemos. A união de sua grandiosidade territorial, variedade de climas e relevos, fauna e flora, associadas à longevidade das espécies hominídeas que lá se desenvolveram, provavelmente o berço delas, fez com que, ao longo de milênios se constituíssem complexos socioeconômicos e culturais dos mais diferentes matizes.

De pequenas sociedades até grandes impérios, e cada qual com suas especificidades e complexidades, o continente africano foi e é palco de uma extremada pluralidade humana. Para além dessa realidade interna, é também palco histórico de contato com muitos grupos humanos dos outros continentes, de igual forma portadores das mais variadas culturas. Leia Mais

História e Relações Internacionais / História e Cultura / 2015

As Relações Internacionais constituem uma área de estudo e investigação relativamente nova, se comparada às ciências humanas clássicas, como História, Política, Geografia, Economia e Direito. Trata-se de uma ciência multidisciplinar que, por meio do contato com outros campos do saber, busca o refinamento e a solidez a fim de compreender as relações sociais, econômicas e políticas em todo o mundo. Nesse processo, a História se coloca como base para compreensão dos fatos e fenômenos ocorridos no passado, proporcionando interpretações e comparações do panorama presente e, possibilita instrumentos e análises para traçar cenários futuros. Assim, para entender as relações internacionais na contemporaneidade, é condição sine qua non, utilizar como recurso metodológico a aplicação da perspectiva histórica com o objetivo de enriquecer tal arcabouço teórico e conceitual.

Os estudos de Relações Internacionais sempre buscaram na História as análises dos acontecimentos que justificassem a tomada de decisões dos governantes e dos Estados em suas políticas externas e domésticas, até mesmo para compreender quais são as variáveis que interferem para que um Império pudesse nascer, crescer e morrer (DUROSSELE, 2000).

Com as mudanças que ocorrem ao longo do extremo e curto século XX (HOBSBAWM, 1995), novos atores tornaram-se presentes e influentes no sistema internacional, como as Organizações Internacionais Governamentais, as diversas instituições ligadas ao setor privado, os meios de comunicação e outras instâncias constituídas por indivíduos. Além disso, os temas das agendas dos Estados, a princípio, defesa nacional, soberania, expansão territorial e relações de poder, passaram a dividir espaços com temáticas antes consideradas de segunda ordem, mas que, certamente, são imprescindíveis para a sobrevivência da humanidade, como meio ambiente, direitos humanos, igualdade entre gêneros, respeito às culturas, comércio, cooperação, integração, dentre outros.

Este dossiê objetiva apresentar temas das Relações Internacionais que se apropriaram da perspectiva histórica para compreender e analisar, para além da macropolítica e atuação dos Estados, mas também a participação direta e indireta dos atores não estatais na agenda internacional contemporânea.

O significativo volume de contribuições recebidas demonstra o inquestionável potencial que as Relações Internacionais possuem enquanto ciência em crescente construção e consolidação. Os catorze artigos que aqui se apresentam têm diversas origens e objetos de análise, demonstrando, a complexidade e a variedade das temáticas nessa área. O dossiê abrange acadêmicos de distintas universidades, nacionais e internacionais, além de envolver todo um arcabouço interdisciplinar.

No primeiro artigo, A política externa do governo Vargas durante o Estado Novo e a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, Camila de Oliveira analisa as relações políticas entre Brasil e EUA na construção da CSN, além de demonstrar o êxito político do governo Vargas nesse processo. N

o texto Are the new international forums of the global south anti-western? Notes from historical and institutional perspectives, Victor Tibau problematiza o surgimento dos novos fóruns internacionais a partir de uma perspectiva “antiocidental”. Gilberto Guizelin, em As relações africano-brasileiras de longa data: uma análise da investigação histórica sobre o assunto no Brasil, resgata a história das relações internacionais entre Brasil e África ao analisar tais relações políticas no passado.

O quarto artigo, A rivalidade como sentimento profundo: origem, evolução histórica e reflexos contemporâneos do padrão de rivalidade entre Brasil e Argentina, sob autoria de Érica Winand, examina a relação histórica de embates e aproximações entre os dois países do Cone Sul, aportando-se, por fim, no tempo presente, marcado por alguns desentendimentos entre os dois Estados.

O artigo de Juliana Souza, Das várias linguagens do poder contemporâneo: feminismos, mercados e jornalismos, problematiza os feminismos vigentes na economia neoliberal e suas (re)produções presentes no discurso institucional.

Em Derrubando fronteiras: a construção do jornal A plebe e o internacionalismo operário em São Paulo (1917-1920), Kauan dos Santos analisa a interação entre o processo político local do operariado paulistano e sua relação com uma cultura política internacionalista, presente no periódico.

Ainda nos estudos internacionalistas que propõem a abertura de novas temáticas para a área, temos no texto de Rafael de Lima, Diplomacia em xeque: direito das gentes e escravidão na agenda bilateral Brasil-Uruguai (1847-1869), a análise dos embates diplomáticos entre Brasil e Uruguai, referentes à questão da escravidão para cada nação.

Dando sequência às novas fontes e estudos, no oitavo artigo, La diplomacia del balón: deporte y relaciones internacionales durante el franquismo, Juan Simón visa trabalhar com o papel do desporto da política do general Franco, durante seu governo ditatorial.

Outro texto publicado em espanhol, La “gallina ciega”: azara y la diplomacia entre España y Francia a finales del siglo XVIII, de Aleix Peña, aborda a questão subordinativa da Espanha frente ao Diretório francês, a partir de 1796.

No décimo texto, Victorino Oxilia, Ildo Sauer e Larissa Rodrigues, analisam as Motivações políticas e econômicas da integração energética na América do Sul: o caso de Itaipu, enfatizando sua importância para o projeto de integração e desenvolvimento regional, bem como os ganhos e interesses econômicos dos atores envolvidos nessa construção.

No segundo texto em inglês do dossiê, Tatiana Maia, em seu Not all fascisms are created equal: a comparative perspective on the politics of nationality in Interwar Germany and Italy, trabalha com a perspectiva comparada, a fim de traçar a complexidade das dinâmicas sociais, presentes nos países que viriam a associar-se ao Eixo.

Em Operações de paz: novos mandatos e suas implicações para os países contribuintes com tropas, Sérgio Aguilar apresenta as alterações nas operações de paz contemporâneas conduzidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e suas implicações para o Brasil.

O penúltimo texto, Política e cinema na era da Boa Vizinhança (1933 – 1945), de Isaias Moraes, apresenta uma análise histórica da Política Externa de Boa Vizinhança para América Latina, particularmente no Brasil.

Por fim, João Veiga e Murilo Zacareli, no texto Regimes Internacionais – do intergovernamental público às arenas transnacionais público-privadas, analisam a formação e a obsolescência do conceito de regimes internacionais para se compreender o sistema internacional na contemporaneidade.

Os organizadores deste dossiê esperam abrir mais uma porta para o universo das Relações Internacionais sob o olhar da História, inspirando reflexões e novas possibilidades.

Também compõem esse dossiê quatro artigos de temas livres e uma resenha. O primeiro artigo, A SAGMACS no Brasil e o planejamento urbano em Belo Horizonte (1958-1962), de Samuel Silva Rodrigues de Oliveira que analisa três aspectos da configuração social e política do planejamento urbano regional na região de Belo Horizonte, ao final da década de 1950 e início de 1960; o segundo artigo livre, intitulado A contribuição de Daniel Pedro Müller para a transição do ensino da engenharia militar para a civil na Província de São Paulo (1802-1841), de José Rogério Beier, reconstitui a trajetória desse engenheiro militar e sua contribuição na organização de uma escola de engenheiros construtores de estradas, em meados do século XIX; no âmbito da História Política, José Henrique Songolano Néspoli, em Cultura Política, História Política e Historiografia, traça o processo de renovação da “História Política”, a partir de novos conceitos, como o de cultura política; por fim, no texto A mobilidade social do imigrante italiano pobre no Brasil (1890-1930): uma contribuição à historiografia da imigração em São Paulo, Marco Antonio Brandão retrata um outro cenário da imigração italiana no Brasil ao analisar sua atuação na cidade de Ribeirão Preto. A resenha desse número, escrita por Natália Frazão José, analisa a obra Introduction to the life of an Emperor, de Karl Galinsky.

Desejamos a todos uma ótima leitura!

Referências

DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo império perecerá. Teoria das relações internacionais. Tradução de Ane Lize Spaltemberg de Siqueira Magalhães, Brasília: Unb, 2000.

HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Tatiana de Souza Leite Garcia – Mestre em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia (MG), Bacharel em Relações Internacionais e Geografia, Docente da Universidade de Ribeirão Preto e da Universidade Anhembi Morumbi.

Victor Augusto Ramos Missiato – Doutorando em História – Universidade Estadual Paulista (UNESP / Franca)

Sandra Rita Molina – Doutora em História – Universidade de São Paulo (USP), Docente Titular da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) e pesquisadora do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC).

Organizadores do Dossiê História e Relações Internacionais


GARCIA, Tatiana de Souza Leite; MISSIATO, Victor Augusto Ramos; MOLINA, Sandra Rita.  Apresentação. História e Cultura. Franca, v. 4, n. 1, mar., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História e Relações Internacionais / Crítica Histórica / 2014

A Edição nº 9 da Revista Crítica Histórica é dedicada à relação entre a História e as Relações Internacionais. O Dossiê foi organizado por um corpo de pesquisadores das áreas de História Contemporânea, Direito Internacional e Economia Política Internacional, e seu propósito editorial constituiu-se em reunir trabalhos que (1) destacassem o caráter histórico e político-econômico das relações internacionais atuais, bem como (2) estudos de História que buscassem enfatizar as Relações Internacionais. Esta opção abordativa reflete a percepção, pelos organizadores, da necessidade de interpretar as atuais relações internacionais sob o prisma de sua história, que por sua vez tem sido movida por um conjunto de “forças” que envolvem, ao mesmo tempo, tanto práticas unilaterais, quanto exercícios de cooperação de poder.

Esse “jogo de forças” envolve um conjunto de agentes sociais, Estados e Organizações Internacionais, inseridos numa estrutura e em posições que dependam de seus interesses estratégicos orientados para a transformação ou a conservação da chamada “Nova Ordem Internacional”.

Assim é que, recentemente, um encontro entre representantes do Grupo chamado BRICS – Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul – firmou uma série de acordos, dentre os quais ressalta-se a criação de um banco próprio para financiar e garantir novas linhas de liquidez aos seus membros como alternativa de solução econômica ao Fundo Monetário Internacional e ao sistema financeiro ocidental centrado no eixo Nova York – Londres.

No mesmo sentido, Argentina e China realizaram acordos para cooperação em diversas áreas, que envolveram, em especial, a abertura de um swap cambial entre peso e yuan, o que viabilizará transações da ordem de onze bilhões de dólares em importações para a Argentina, e promoverá as reservas internacionais deste país em 30 bilhões de dólares, ampliando o saldo do balanço de pagamentos deste país, e, por consequência, a sua capacidade e seu poder de compra no exterior.

Como se pode verificar, tais práticas diplomáticas vêm contribuindo para construção de alternativas à “Ordem Internacional” vigente, em que se contestam a predominância do dólar como moeda e dos Estados Unidos como principal agente da economia internacional.

Ao mesmo tempo, observam-se práticas no sentido de conservar e ampliar o poder do establishment internacional. Intervenções estatais por tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte ao arrepio da Carta das Nações Unidas e aprovação onusiana na África do Norte; o consentimento da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança das Nações Unidas para as denominadas “ingerências humanitárias” à revelia da manifestação da vontade de movimentos sociais e políticos ou governantes legítimos, como na África Central; os sucessivos descumprimentos de resoluções dessa Organização para a finalidade de proteção de povos e populações civis submetidos a “crimes de guerra” e “contra humanidade”, no Oriente Médio e na Europa do Leste: todos estes fatos denotam a importância de uma interpretação realista no plano das relações internacionais, que não pode, por sua própria natureza, ser realizada sem estudos históricos.

Nessa esteira, em 2014, uma decisão judicial da Suprema Corte Norte-Americana favoreceu uma minoria de agentes financistas que, em 2005, havia decidido não acordar junto ao Governo argentino desconto sobre o pagamento de dívidas contraídas por empréstimos junto a bancos estadunidenses. Nesse sentido, em sede de jurisdição interna, a Corte entendeu que teria havido prejuízo dos acionistas norte-americanos, que desde aquela época, deixaram de receber a integralidade dos pagamentos previstos em contratos. A decisão ignorou as circunstâncias políticas internacionais e, aproveitando-se do fato de que o fórum eleito pelas partes contratantes para dirimir conflitos se estabelecera nos Estados Unidos, sancionou a ilegitimidade do acordo firmado entre a maioria dos credores e o estado Argentino.

Por fim, como se percebe, além da ultima ratio econômica e do necessário liame histórico, as relações internacionais ainda podem ser condicionadas às circunstâncias dos usos particularistas de princípios do direito internacional e, como no caso concreto, também do direito interno das superpotências.

Nessa edição, o artigo que abre o Dossiê, de Mateus Fernandez Xavier, “A Coluna prestes e seus impactos nas Relações Internacionais do Brasil”, tem como objetivo apontar as influências da Coluna Prestes sobre as relações internacionais do Brasil na década de 1920. A análise do contexto político, social, econômico e internacional do país, foi possível compreender as condicionalidades impostas à atuação externa brasileira. A apresentação da configuração do Exército Brasileiro e dos movimentos “subversivos” que tiveram origem no interior dessa instituição também forneceu elementos importantes para o estabelecimento da relação existente entre a Coluna Prestes e as medidas tomadas pelas chancelarias de Félix Pacheco e, em menor medida, de Otávio Mangabeira. Historicizando o espisódio, o artigo nos mostra como foi possível o Ministério das Relações Exteriores ser utilizado como instrumento de repressão a movimentos que contestaram a ordem oligárquica da República Velha.

Com efeito, o artigo de Mojana Vargas intitulado “A construção do Pan-Americanismo nas páginas de Américas (1949-1969)” tem como objetivo concatenar o momento de criação da Organização dos Estados Americanos (OEA) (1948), seu principal veículo de informação no período: a Revista Américas, os interesses político-econômicos estadunidenses e a tentativa de influenciar o “jogo de poder” assimétrico entre o principal ator regional – os EUA – e seus vizinhos, bem como analisar a construção do “discurso do pan-americanismo”.

Na mesma direção, João Gilberto Neves Saraiva procura investigar “As representações do Nordeste brasileiro nas páginas do New York Times (1950-1960)” identificando um conjunto de imagens associadas à região brasileira com o intuito de justificar certas escolhas políticas estadunidenses pelo investimento financeiro externo, seja na área militar, em bases norte-americanas no Rio Grande do Norte, por exemplo, seja na área econômica, em empreendimentos hidrelétricos na Bahia ou turísticos em outros estados do Nordeste.

Em “A internacionalização do Estado na história contemporânea: posições de um debate crítico interdisciplinar”, Rejane Carolina Hoeveler articula o debate acerca da internacionalização do Estado na história contemporânea a partir de uma abordagem interdisciplinar e que já se desenvolve desde os anos 1980. As transformações vividas pelo Estado contemporâneo se relacionam tanto com as metamorfoses do capitalismo contemporâneo quanto com as diversas crises que se entrecruzaram ao longo dos anos 1970, a partir das quais se nota um avanço na relevância das organizações internacionais de diversos tipos. O artigo, portanto, procura identificar e debater as proposições das principais correntes críticas que abordaram o problema da internacionalização do Estado, entre elas as dos chamados “neogramscianos” (como Robert Cox e Stephen Gill) e dos “neopoulantzianos” (como Bob Jessop, C. Gorg e U. Brand). A autora problematiza estas classificações e, ao mesmo tempo, identifica as matrizes teóricas comuns a estas correntes, comparando suas hipóteses acerca do problema e também relacionando estudos de caso internacionais de relevância acerca do tema.

Fechando o Dossiê, o artigo de Giorgio Romano Schutte busca mostrar como a criação do chamado grupo G20, bem como dos BRICS, responde a ajustamentos por parte das nações mais ricas a uma economia internacional cíclica, interdependente e instável, buscando-se maior coordenação entre elas. Ao mesmo tempo, busca argumentar como, nestes espaços multilaterais criados pelas nações desenvolvidas, a presença necessária dos chamados países emergentes, num contexto mais interdependente, pôde, ao menos em parte, ser aproveitada para maior “ganho de poder de decisão, por menor que seja, dos países emergentes, em particular dos BRICS”.

Com a publicação do Dossiê História e Relações Internacionais, procuramos reiterar a importância deste debate tanto no campo da História como no conjunto das Ciências Humanas. A interdisciplinaridade é condição sine qua non para o alargamento e aprofundamento de questões urgentes no campo internacional, não só no que diz respeito às relações entre Estados-nação, mas também entre esses e as Organizações Internacionais e os blocos econômicos. De toda a forma, a prática ou o “exercício do poder” impende uma multiplicidade de questões que deverão ser ponderadas a depender dos interesses e das posições de cada agente na estrutura de poder.

A desproporcionalidade entre o uso de mecanismos bélicos israelenses contra a população civil palestina no conflito na Faixa de Gaza denota como as mais rudes modalidades de relações internacionais permanecem atuais, à margem da diplomacia e do direito internacional.

Este é o caso de Israel e seu apoio norte-americano. Estaria assim equivocada uma abordagem meramente formalista ou jurídica de tais eventos, que depositasse excessiva confiança na capacidade das instituições globais multilaterais, como a Organização das Nações Unidas, em dirimir de forma justa tais tipos de conflito. Daí a importância de uma abordagem histórica e política do ambiente internacional, que permita transcender o campo das declarações oficiais dos grandes centros de poder, em busca de uma leitura mais independente e realista que busque situar os fenômenos em sua dimensão diacrônica, permitindo assim uma compreensão mais adequada de suas gêneses.

Boa leitura!!!

Alessandra Marchioni – Professora Doutora. Direito / UFAL

Henrique Zeferino de Menezes – Professor Doutor. Relações Internacionais / UFPB

Vitor Eduardo Schincariol – Professora Doutora. Ciências Econômicas / UFABC


MARCHIONI, Alessandra; MENEZES, Henrique Zeferino de; SCHINCARIOL, Vitor Eduardo. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 5, n. 9, julho, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Direitos humanos e relações internacionais | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2014

Os direitos humanos são um tema marginal na área de Relações Internacionais no Brasil. Apesar da inegável proliferação de mecanismos, instrumentos e debates políticos internacionais a partir do fim da Guerra Fria, o tema, de certa forma, permanece negligenciado nas principais publicações brasileiras na área, em seus principais congressos e nas grades curriculares tanto em nível de graduação quanto em nível de pós-graduação.

Entretanto, essa não parece ser uma tendência inexorável. Observando com maior cuidado a produção sobre direitos humanos em Relações Internacionais, especialmente em nível de pós-graduação e entre jovens doutores, nota-se um interesse crescente das pesquisas pelos atores e processos envoltos nos debates internacionais sobre direitos humanos. Um dos principais propósitos da Monções com esse dossiê sobre Direitos Humanos & Relações Internacionais, praticamente inédito no Brasil, é funcionar como uma plataforma para aglutinar tais pesquisas e promover um debate mais sistemático sobre esse assunto dentro do campo de Relações Internacionais. Leia Mais

Globalização e Relações Internacionais / Tempo e Argumento / 2011

Abrimos esse número da Revista Tempo e Argumento, Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UDESC, com uma homenagem ao Prof. Américo da Costa Souto que faleceu neste ano de 2011. O texto “Professor Américo, o historiador da longa duração” de Norberto Dallabrida, ex-aluno do professor, aponta aspectos de sua atuação, como docente das disciplinas História Moderna e Contemporânea na UFSC, entre 1963 e 1991, destacando sua contribuição para a formação de duas gerações de historiadores e historiadoras, muitos dos quais atuando em Cursos de graduação e pós-graduação na UDESC, na UFSC e também em diferentes universidades do país. Inovador e refinado em suas análises, o Prof. Américo apropriou-se das concepções historiográficas da chamada escola dos Annales, tornando-se um divulgador do pensamento do historiador Fernand Braudel em suas aulas e escritos. A falta que ele nos fará não cabe em palavras, e esta homenagem, como forma de agradecimento, ilumina detalhes que a mera racionalidade não enxerga.

Na sequência, apresentamos os artigos que compõem o Dossiê Globalização e Relações Internacionais, tema emergente nas sociedades contemporâneas, invocado aqui como forma de pensar as linguagens e as sociabilidades que se firmam no tempo presente como outras formas de cultura política. A discussão de caráter mais epistemológico em pauta refere-se às diferenças entre as concepções que buscam olhar para o mundo sob efeito de um fenômeno global e outras que problematizam o presente partindo de uma ideia de internacionalidades. A globalização não é em si uma novidade, pois ao menos desde o século XV há uma circulação de mercadorias, ideias e pessoas. A novidade reside em como se articulam – nas três últimas décadas – os fluxos no contemporâneo colaborando para a produção de fenômenos transnacionais. Esperamos que os artigos que constituem o dossiê desse número possam colaborar para a intensificação do debate.

O artigo Los planes de igualdad en España: respuestas locales con perspectiva de género a problemas globales de Belén Blázquez Vilaplana, professora da Universidade de Jaén, Espanha, apresenta algumas reflexões sobre a implementação de políticas públicas de igualdade na Espanha nos últimos trintas anos, desde a morte do ditador Francisco Franco e a reinstalação da democracia no país. A autora analisa o contexto local de aplicação dessas políticas e, a partir dele, questiona se tais políticas realmente têm se transformado em ações concretas para as mulheres ou se os papéis e estereótipos que as invisibilizam, como coletivo e como indivíduo, ainda seguem imperando. Argumenta ela que, embora as mulheres espanholas tenham avançado em direção ao reconhecimento de sua condição de cidadãs de pleno direito, existe ainda, na Espanha, uma defasagem inegável entre o que se está legislando e o cotidiano das mulheres, como, por exemplo, o tema da violência de gênero, o qual não se conseguiu diminuir o número de mulheres assassinadas por seus parceiros ou ex-parceiros.

Em “Diplomacia do pé”: o Brasil e as competições esportivas sul-americanas de 1919 e 1922, João Manuel Casquinha Malaia Santos discute o papel das primeiras competições esportivas internacionais sediadas no Brasil, em 1919 e 1922, inserindo-as no quadro das relações internacionais do país. O autor parte da ideia de que competições esportivas mundiais, como a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos, no início do século XX, expunham valores ocidentais para todo o planeta pelos meios de comunicação. Tais eventos oferecem uma oportunidade singular para a reverberação de valores legitimadores de uma nova ordem internacional, tendo os esportes e seus valores como bases de tal projeto.

Também trabalhando com as relações internacionais do pós-primeira guerra, a historiadora Juçara Luzia Leite observa que a década de 1920, especialmente, foi marcada por uma discussão ampla sobre o papel da educação – especialmente do ensino de História – na construção de um mundo de paz. O livro didático esteve no centro desse debate e educadores de tendências opostas manifestaram-se naquele momento. Ao longo desses debates, o papel da Commission Internationale de Coopération Intellectuelle (CICI) se destacou na Liga das Nações, procurando facilitar a colaboração de intelectuais no serviço de promoção da paz mundial dentro dos objetivos da Liga. O artigo Revisando livros didáticos de História: ação da diplomacia cultural em nome da paz reflete sobre esse contexto, destacando o papel do Brasil na adoção de uma diplomacia cultural válida tanto para os países europeus quanto para os vizinhos latino-americanos, considerando a dinâmica da transição do foco de interesses da Liga das Nações para a União Panamericana.

José Cairus, professor da Universidade de York, em Toronto – Canadá, assina o artigo Modernization, nationalism and elite: the genesis of Brazilian jiu-jitsu, 1905-1920 que, a partir de recorte de sua tese de doutorado The Gracie Clan and the Making of Brazilian jiujitsu: National Identity, Culture and Performance, 1905-1993, analisa a forma como um determinado segmento da elite branca do Brasil reinventou uma arte marcial de origem japonesa conhecida como jiu-jitsu. A arte marcial híbrida desenvolvida no Brasil a partir da matriz japonesa, pela família Gracie, é pensada como produto do conflito entre tradição e modernidade que ao longo do século XX se transformou em um complexo ritual de hipermasculinidade baseado em violência, matizado por ele como made in Brazil.

O artigo de Giulio Mattiazzi, Cidadania, migração e agentes políticos no século XXI, problematiza as transformações relativas aos significados da noção de cidadania e os desafios políticos que estas mudanças apresentam a partir do contexto italiano. O autor analisa discursos do parlamento italiano, que, segundo o autor, de tributários de uma tradição política que fez dos conceitos de pátria, família e nação uma questão de superioridade racial, passam a defender a utilização do dispositivo da concessão da cidadania como forma de rápida integração para (alguns) estrangeiros, na Itália e na Europa do século XXI. Reflete-se aqui sobre a emergência de novas pautas que fogem da tradicional sistematização do campo baseada na estrutura de classes sociais e nos outros paradigmas da modernidade no jogo de identificação de um “agente político migrante”, na condição de indivíduo que promove fluxos culturais, mestiçagem e reformulação das categorias e das pautas políticas, acrescentando à base econômica das relações interétnicas a esfera cultural que transita junto a eles.

Um diplomata na Revolta da Armada: as impressões políticas e a atuação do Conde de Paço D’Arcos, de João Júlio Gomes dos Santos Júnior, traz análises de fontes diplomáticas objetivando compreender as impressões e a atuação de Carlos Eugênio Corrêa da Silva, o Conde de Paço D’Arcos, primeiro diplomata a representar Portugal no Brasil após a Proclamação da República. No transcorrer do período que ele ficou à frente da Legação portuguesa, entre 2 de junho de 1891 e 20 de novembro de 1893, ele acompanhou com atenção diversas disputas políticas. Dessa forma, a documentação produzida por esse diplomata é um excelente testemunho sobre o período de consolidação da República brasileira.

A seção Artigos inicia com a instigante discussão sobre a possibilidade de recriação da ideia de cidade, como projeto coletivo, a partir da experiência de Medellín, Colômbia, apresentada no artigo A cidade como projeto coletivo: impressões sobre a experiência de Medellín, de Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira. Segundo a autora estão em jogo nesse processo não só a obsessão por segurança, a angústia e o medo que assolam os moradores das cidades, como também a segregação, ausência de espaço público, esvaziamento da vida coletiva, sentido de passagem e não de permanência, não pertencimento que constituem o espaço das cidades, no presente.

Na sequência temos o artigo As religiões afro-brasileiras no mercado religioso e os ataques das igrejas neopentecostais, de Paulo Eduardo Angelin, que trata sobre a perda de adeptos do conjunto das religiões afro-brasileiras, bem como sobre os ataques sofridos pelo candomblé e umbanda, efetuados principalmente pelas igrejas neopentecostais.

Entre prédios envidraçados, uma cruz eslava: ucranianos, bens culturais e a cidade, de Paulo Augusto Tamanini, traz apontamentos sobre o local de estabelecimento dos imigrantes ortodoxos ucranianos na cidade de Curitiba, discute sobre as estratégias adotadas, no intuito de preservar os bens culturais étnicos, durante o processo de modificação do espaço trazido pela urbanização da Avenida Cândido Hartmann (que até 1978 se chamava Vila dos Ucraínos).

“O melhor para quem?” O Juizado de órfãos e o discurso de valorização e proteção aos menores de idade no início do século XX, de José Carlos da Silva Cardozo, analisa discursos produzidos sobre os menores, adoção e família nas primeiras décadas do século XX a partir da ação do Juizado Distrital da Vara de Órfãos de Porto Alegre. O autor traz aspectos interessantes sobre a opção por tutela das crianças ao invés de adoção, no período, o que talvez pudesse significar a não inclusão do tutelado na partilha de bens, pois só os menores adotados teriam todos os direitos legais de um filho biológico.

Tradição x inovação: Patrimônio cultural e memória através dos repertórios musicais do Carnaval do Zé Pereira em Florianópolis / SC, de Lisandra Barbosa Macedo, problematiza questões políticas e culturais envolvidas na patrimonialização de eventos, como o Carnaval Zé Pereira, que acontece há mais de cem anos nas imediações do bairro Ribeirão da Ilha, em Florianópolis / SC. Esse evento, nos últimos anos, tem sido destaque na programação dos eventos carnavalescos no estado, tanto na mídia quanto pelo aumento no número de participantes.

Na seção Entrevista os historiadores Emerson César de Campos, Luiz Felipe Falcão e Reinaldo Lindolfo Lohn abordam a temática Tempo presente brasileiro: cultura política, ditaduras e historiografia por meio do diálogo com Rodrigo Patto Sá Motta. A entrevista foi realizada por ocasião da palestra desse autor sobre o tema “História e memória nas ditaduras”, em fins de 2010, no Programa de Pós-Graduação em História da UDESC. A entrevista apresenta reflexões acerca de temas variados que perpassam a cultura política e suas implicações para a compreensão das especificidades da ditadura militar brasileira e suas congêneres no Cone Sul.

Fechando esse volume temos a resenha, feita por Jéferson Dantas, do livro HUNT, Tristram. Comunista de casaca: a vida revolucionária de Friedrich Engels. Traduzido por Dinah Azevedo – Rio de Janeiro: Record, 2010. O resenhista apresenta uma leitura de Hunt feita por setores da mídia impressa, a fim de apresentar a obra deste professor de História da Universidade de Londres e comentarista político nos jornais The Guardian, The Times e London Review Of Books.

Esperamos que todos apreciem a leitura!

Os Editores


Comitê editorial. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.3, n.2, 2011. Acessar publicação original [DR]

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