Cartografia da promessa. Potosi e o Brasil num continente chamado Peruana

1 Certos livros, passadas décadas de sua publicação, continuam seminais. Visão do paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda, é um desses casos. O texto de titularidade do historiador é denso, erudito, com uma tese instigante que continua a movimentar a leitura e o debate mesmo 60 e poucos anos depois de seu surgimento.

2 Em Visão, Sérgio Buarque afirma que lhe interessava fazer a “biografia de uma ideia”, de como se forjou uma visão do Brasil como terra edênica. No longo e sinuoso percurso para construir seu argumento, ele advoga que os portugueses, no Brasil, deixaram a maravilha de lado em nome da experiência, da concretude de uma terra sem os achados de riqueza dos vizinhos espanhóis. Por antítese, os espanhóis, pródigos em minas de ouro e prata, abraçaram o discurso do maravilhoso. Ademais, ele constatou que, nos mapas portugueses, o Brasil aparece não como uma separata, mas como um complemento à montanha de prata de Potosí. Leia Mais

Amazonia 1900-1940. El conflito, la guerra y la invención de la frontera | Carlos Gilberto Zárate Botía

O tema das fronteiras amazônicas, seja em sua concepção de linhas demarcatórias de territórios nacionais, seja como zonas de múltiplas interações envolvendo diferentes sujeitos, impõe desafios significativos à pesquisa histórica. Primeiramente, trata-se de um espaço que, a despeito de sua vastidão geográfica, nem sempre recebeu a devida atenção no conjunto das historiografias sul-americanas. Em segundo lugar, a investigação sobre as fronteiras amazônicas requer o cruzamento de fontes procedentes de arquivos espalhados nos países da Pan-Amazônia (e, por vezes, em outros continentes) e o cotejamento de bibliografias de diferentes nacionalidades, que frequentemente apresentam linhas de interpretação francamente antagônicas.

O livro Amazonia 1900-1940, do historiador e cientista social colombiano Carlos Gilberto Zárate Botía, representa justamente uma contribuição que supera esses desafios ao revisitar o tema dos conflitos peruano-colombianos na definição dos limites amazônicos entre os dois países. O autor é professor da Universidad Nacional de Colombia– Sede Amazônica (Letícia), com destacada atuação no Grupo de Estudios Transfronterizos, vinculado ao Instituto Amazónico de Investiagaciones (IMANI). Carlos Zárate é um dos mais importantes cientistas sociais que se dedicam ao estudo das fronteiras amazônicas e, em sua vasta obra, o enfoque interdisciplinar sobre o tema se destaca. Leia Mais

Otras Geografías en Chile. Perspectivas sociales y enfoques críticos | Andrés Núñes, Enrique Aliste e Raúl Molina

En el año 2006, Joan Nogué1 y Joan Romero2 realizaron la edición y coordinación de una serie de trabajos que venían a mostrar la cara oculta de la globalización, a fin de conocer y comprender el complejo mundo que nos rodeaba. Lo que buscaban era poner sobre la mesa a aquellas expresiones geográficas caracterizadas por su apariencia invisible, intangible, efímera y fugaz para la Geografía académica: “invisibilidad, intangibilidad y efimeralidad (…) He ahí, tres categorías, tres dimensiones claramente marginales en geografía” (Nogué y Romero, 2006: 38). De esta manera, bajo la insignia de otras geografías, aparecían abordajes y temáticas que eran desconocidas, poco estudiadas o ignoradas por las corrientes hegemónicas del pensamiento geográfico. Así, las emergentes configuraciones urbanas y rurales, las nuevas formas de comprender la vulnerabilidad y el riesgo frente a catástrofes ambientales, la multiescalaridad de las relaciones de poder en la geopolítica de los recursos naturales estratégicos, la conformación de nuevas identidades colectivas, el comercio justo e injusto, la religión, la pobreza, el hambre, la subalimentación, el terrorismo, los desplazamientos forzados de población, los movimientos detractores de la globalización, las discapacidades, el cuerpo como sujeto y objeto geográfico, el género y también las sexualidades, entre otras más, eran algunas de las materias que componían este extenso entramado de otras geografías. Leia Mais

“Maps in Newspaper: Approaches to Study and Practices in Portrayin War since the 19th Century” | André Novaes

Fazer a leitura de Maps in newspapers: approaches to study and practices in portraying war since the 19th century é, sem dúvida, percorrer uma obra ímpar. Primeiramente, por seu formato não tão comum na produção acadêmica do Brasil, trata-se de uma monografia que compõe o primeiro volume da coleção Brill Research Perspectives in Map History, da editora holandesa Brill, que propõe trabalhos aprofundados sobre uma determinada perspectiva da história da cartografia e suas abordagens.1 Em segundo, mas não menos importante, também se destaca a particular riqueza das abordagens metodológicas que o texto explora para a pesquisa e compreensão das construções cartográficas, particularmente aquelas da imprensa.

De ímpar, torna-se também uma obra necessária no sentido de colocar em diálogo as diversas abordagens para o estudo dos mapas em sua pluralidade de formas. Mais da metade de suas páginas são destinadas a essa densa discussão, que o autor desenvolve com fluidez, aportado em uma variedade de autores que nos faz sentir viajando entre ideias. Trata-se de uma espécie de confluência de todo trabalho que André Novaes vem construindo sobre o universo dos mapas na imprensa, desde seu mestrado, passando pelo doutorado, até seus mais recentes projetos de pesquisa. Leia Mais

História de un Pasaje-mundo. El estrecho de Magallanes en el siglo de su descubrimiento | Mauricio Onetto

No ano de 2019, a rememoração de algumas datas traz para a discussão acontecimentos e suas consequências, as memórias que se construíram, os movimentos de legitimação e de contestação desenvolvidos. Há 500 anos, em 20 de setembro de 1519, Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano começaram a viagem de circum-navegação e, em 8 de novembro do mesmo ano, Fernão Cortez entrou na cidade de Tenochtitlán. Essas datas estão entre as mais significativas do início do período moderno e, para muitos estudiosos, contribuíram para conformar a própria modernidade.

Aliado a essas efemérides, verifica-se nos últimos anos o crescimento da atenção dos historiadores com o grande público, de todas as idades. O que é denominado história pública não é produzido apenas por historiadores de ofício, mas a participação desses estudiosos na problematização de questões históricas em diálogo com um público ampliado, externo à academia, está na ordem do dia. Trata-se de uma vertente de abordagens voltada às representações públicas do passado. Leia Mais

A invenção da natureza. A vida e as descobertas de Alexander von Humboldt

Apenas um ano depois do lançamento do original em inglês, a editora Planeta e o tradutor Renato Marques brindam-nos com uma obra indispensável para todos aqueles interessados em história das ciências e da geografia. A invenção da natureza. A vida e as descobertas de Alexander von Humboldt é uma pesquisa bibliográfica e arquivística de fôlego cuja narrativa seduz o leitor da primeira à última página. Méritos para a autora, cuja escrita parece ter sido cuidadosamente elaborada — com destaque para a forma como ela posiciona as citações. São frases tão pequeninas quanto eloquentes cujo efeito é o de fazer parecer que estamos a conversar diretamente com Humboldt, Goethe, Bonpland, Darwin, Muir. Elogios também para o tradutor, que logrou a proeza de manter a fluidez e a elegância da versão original.

Baseado em nossa experiência como professor de História e Epistemologia da Geografia, cumpre confessar que Alexander von Humboldt (1769-1859) nunca foi tarefa fácil. Grosso modo, a impressão passada pela literatura acadêmica é a de que, a despeito de sua inquestionável erudição, seu projeto científico foi “ultrapassado” pela progressiva especialização disciplinar exigida pela institucionalização da geografia universitária. Todavia, as menções a ele são incontornáveis dentre os representantes franceses (Paul Vidal de la Blache), ingleses (Andrew J. Herbertson) e norte-americanos (Richard Hartshorne). Leia Mais

A invenção da terra | Franco Farinelli

Em capítulos curtos, de forma poética, o geógrafo Franco Farinelli discorre sobre os principais conceitos da ciência geográfica: a forma da Terra, suas medidas, sua representação cartográfica, a paisagem, a economia, a globalização dos territórios e das nacionalidades, o espaço e as redes. O que mais chama a atenção é a forma como realiza essa construção, acompanhando as diversas aproximações humanas e seus discursos a respeito da realidade: mitos, narrativas, literatura de viagens vão sucedendo-se nos diversos momentos da História da Humanidade e, em cada um deles, o conhecimento do real suplanta a necessidade de metáforas para justificar o que não se sabe, chegando-se, com Kant, ao conhecimento científico. Leia Mais

Mapas para la Nación. Episodios en la historia de la cartografía argentina | Carla Lois

La aparición del libro Mapas para la nación. Episodios en la historia de la cartografía argentina viene a saldar una carencia inexplicable: una interpretación de la historia de los mapas de la nación argentina que no quede necesariamente restringida a las cuestiones institucionales que definieron ciertas condiciones de producción específicas.

Posicionada desde los enfoques visuales y retomando las discusiones sobre la imagen que se vienen dando en disciplinas como la filosofía, la estética, la fotografía, la historia del arte y la arquitectura y la geografía, Lois propone pensar al mapa a partir de “los propios regímenes de visibilidad que movilizan” (Lois, 2014: 22). Abrevando en este tipo de posturas teóricas Carla Lois logra posicionar a la imagen cartográfica “dentro del universo de prácticas, problemas, discursos, acciones y procesos que configuraron a la Argentina moderna, en dialogo y tensión con otras imágenes que tejieron el imaginario sobre este país” (Lois, 2014: 17). Leia Mais

A Criação do IBGE no contexto da centralização política do Estado Novo | Eli Alves Penha

O trabalho de Eli Penha, inicialmente sua dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ em 1992, tem como proposta investigar o significado da criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, sua importância para a geografia e para a sociedade. Segundo o autor, mais um ponto de partida para a recuperação da memória institucional e menos uma história do Instituto.

Estruturada em quatro capítulos, introdução e conclusão, a publicação é prefaciada por Pedro Pinchas Geiger, geógrafo do antigo Conselho Nacional de Geografia, nome de peso na formação do campo disciplinar da geografia (Machado, 2009). Complementam-na os anexos referentes aos esquemas dos Sistemas de Serviços Estatísticos e Geográficos, o Plano Rodoviário Nacional e a “Lei Geográfica do Estado Novo”, isto é, o Decreto Lei, n° 311 de 1938, que dispôs sobre a divisão territorial do país, entre outros documentos. Leia Mais

A Geografia e os geógrafos do IBGE no período 1938-1998 | Roberto Schmidt de Almeida

No âmbito desta edição especial dedicada aos saberes e práticas geográficas desenvolvidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cabe registar o alentado trabalho de 634 páginas, dividido em dois volumes, do geógrafo Roberto Schmidt de Almeida. Intitulado A Geografia e os geógrafos do IBGE no período 1938-1998, o trabalho consiste em sua tese de doutoramento defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia no ano de 2000, sob a orientação da Profa. Dra. Lia Osório Machado. Com o intuito de reconstituir a memória de sessenta anos da história da instituição, em especial das atividades desenvolvidas pela sua comunidade de pesquisadores geógrafos, Almeida desenvolveu um copioso trabalho de pesquisa documental e pesquisa bibliográfica. Em termos de organização do texto, a tese é dividida em seis partes, cada uma com três capítulos, além da introdução e da conclusão. Contempla ainda um Anexo, que corresponde ao segundo volume tese, com a reprodução de documentos institucionais, relatórios, tabelas, mapas, uma galeria de fotos e, inclusive, o hino do IBGE. Leia Mais

História das Estatísticas Brasileiras (1822-2002) | Nelson Senra

O IBGE, entre 2006 e 2009, editou os quatro volumes da coleção “História das Estatísticas Brasileiras”, cobrindo o período de 1822 a 2002. Seguia, com essa iniciativa, uma tendência internacional, o surgimento, em modo contínuo e sistemático, das pesquisas sócio-históricas das estatísticas. As estatísticas são mostradas em diferentes modos, sendo associadas à formação dos estados, e das sociedades, ora com foco nos estados nacionais, ora em foco com espaços internacionais, quando congressos e seminários são estudados. As relações com as ciências, e com as técnicas, são realçadas, seja delas se valendo, seja ajudando-as a avançarem. E não se está falando apenas da ciência (ou técnica) estatística, mas de um amplo espectro de ciências, como a economia, a sociologia, a antropologia, entre outras, sem olvidar a demografia. E dois pontos merecem destaque, já de pronto.

Primeiro, o fato dessas pesquisas, num novo “campo de pesquisa”, serem, no caso brasileiro, uma iniciativa interna do IBGE, ao passo que em outros países, em geral, ela é feita em ambientes acadêmicos. A razão, ao que nos parece, resulta da localização dos documentos pertinentes, ou seja, na grande maioria dos países, essa documentação configura fundos nos Arquivos Nacionais, de grande domínio dos estudiosos, ao passo que, no Brasil, em sua quase absoluta totalidade integra o acervo do IBGE, que nunca restringiu seu manuseio, mas também nunca o estimulou nas academias, afora que ele, só agora, vem recebendo um tratamento à semelhança dos arquivos públicos, o que irá facilitar o acesso. Assim, afora essa ação sobre os acervos, faltava uma ousada revelação da importância dessa temática, e não apenas no sentido da história da instituição, mas da própria história nacional. Leia Mais

Leitores de mapas: dois séculos de história da cartografia em Portugal | Francisco Roque de Oliveira

La edición de este libro, coordinado por Francisco Roque de Oliveira,1 forma parte de los trabajos del IV Simposio Iberoamericano de Historia de la Cartografía, llevado a cabo en la capital portuguesa del 11 al 14 de septiembre de 2012. Cada dos años, un grupo de especialistas se reúne para conocer experiencias particulares, actualizar las perspectivas de trabajo e intercambiar algunos materiales por parte de los organizadores.2 Esta organización, de acuerdo con cada grupo responsable de la sede anfitriona, ofrece diferentes actividades paralelas al evento. La de Lisboa es la cuarta sesión en torno a los mapas antiguos de Iberoamérica iniciada en Buenos Aires (Troncoso, 2006) y continuada en Ciudad de México (Oliveira, 2008) y São Paulo (Pedrosa, 2010).

Este libro es la base y una síntesis de una exposición que, con el mismo nombre, fue abierta al público el mismo día del foro y concluyó el 15 de octubre de 2012.3 Procedentes de los diversos fondos de la Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), se han presentado 80 piezas entre libros, artículos, manuscritos, fotografías, grabados, atlas y mapas ordenados en períodos específicos y en contextos culturales, científicos y políticos-diplomáticos. Con esto, los organizadores del evento han abierto las puertas, para traspasar un límite intelectual, hacia un espacio reservado de la cultura portuguesa, el de la emergencia y trayectoria del pensamiento e historia de la cartografía de Portugal.4 Leia Mais

Terra Brasilis | RBHGGH | 2000

Terra Brasilis

Terra Brasilis ([?] 2000-) é uma publicação da Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica, coletivo nacional de pesquisadores interessados na história da geografia, a geografia histórica, a história do pensamento geográfico, a história da cartografia e a história da geografia escolar, com ênfase no Brasil e na América Latina.

Acesso livre

[Periodicidade semestral]

ISSN  2316-7793 (Online)

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arquivos