América Latina – Moçambique / Moçambique – América Latina  | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2022

Com o objetivo de caracterizar a produção acadêmica de História da América Latina e do Caribe no Brasil, entre 1981 e 2018, a pesquisa desenvolvida pelos historiadores Eric Brasil e Kaick da Silva, e o sociólogo Leonardo Nascimento identificou que na área das revistas especializadas em história das Américas, a Revista Eletrônica da ANPHLAC dedicou especial atenção à publicação de artigos relacionados às experiências e aos contextos históricos das populações de ascendência africana no continente.3 O dossiê História do Caribe (partes I e II, n. 20 e 21, 2016), com artigos dedicados às experiências afro-americanas em Cuba, Haiti e Trinidad e, mais recentemente, o dossiê Afro-Américas (n. 27, 2019), correspondem a importantes marcos na ampliação do campo da história das Américas e no aprofundamento das análises das conexões com os mundos que os africanos e africanas construíram a partir de suas diásporas no continente americano.

Como fica evidente, encontramos na Revista variadas colaborações dedicadas ao aprofundamento das análises sobre o mundo que os africanos, africanas e seus descendentes construíram nas Américas, incorporando nas interpretações sobre as dinâmicas caribenhas e latino-americanas uma série de práticas e realidades afro-americanas. No entanto, o campo historiográfico das diásporas africanas não corresponde, necessariamente, ao da história da África.4 Nesse sentido, ao restringirmos especificamente nossa busca na Revista ao campo da história da África, dos 31 números publicados pela revista, entre 2001 e 2021, contabilizando um total de cerca de 322 textos, conseguimos encontrar um artigo que analisou com atenção detalhada as experiências, aproximações e relações entre as Américas e a África, a partir das perspectivas historiográficas específicas do campo dos estudos do continente africano.5 Leia Mais

A outra história: por uma narração alternativa das lutas de libertação nos PALOP | Tempo e Argumento | 2021

Independencia de Angola PALOP
Agostinho Neto, liderança do MPLA | Arte sobre foto reprodução – MST

Quando lançámos a ideia de uma publicação sobre a história “alternativa” nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) tínhamos um sentimento ambivalente: por um lado, estávamos certos de que havia muitos autores com material interessante para ser publicado; por outro, a situação que se vive hoje na maioria desses países nos deixava sérias dúvidas de que pudéssemos conseguir fechar um dossiê de uma revista tão prestigiada como a Tempo e Argumento ao abordar este assunto. Com efeito, nossas esperanças, assim como nossas dúvidas acabaram se confirmando: se, por um lado, recebemos vários textos – alguns dos quais tiveram de ficar de fora, como sempre acontece em processos científicos seletivos -, que depois compuseram este dossiê, por outro é preciso reparar que não há nem um texto, entre os que foram aqui publicados, da autoria de investigadores cuja principal pertença institucional está numa universidade ou centro de pesquisa em África.

Não se trata de uma coincidência, mas sim da confirmação da relevância do tema que resolvemos propor, ao lançar este dossiê: o revisionismo historiográfico aplicado à história da libertação dos PALOP. “Revisionismo” é um termo que, historicamente, tem levantado imensas polémicas. E – queremos esclarecer desde já – o revisionismo proposto como linha orientadora deste dossiê não tem nada a ver com o postulado por autores que procuraram reescrever a história negando ou minimizando tragédias como o holocausto judaico ao longo da segunda guerra mundial (MATTOGNO, 1985; NOLTE, 1999), ou valorizando a experiência colonial das potências europeias (FERGUSON, 2004). Pelo contrário, o nosso posicionamento se aproxima muito a quanto Adorno escrevia a propósito das tentativas de remoção, por parte dos alemães, do seu passado mais recente, ligado ao nazismo e ao Holocausto (ADORNO, 1995). Leia Mais

Conversas curriculares Brasil – Moçambique: (Re)aproximações diaspóricas | Abatirá | 2021

Bandeira de Mocambique PALOP
Bandeira de Moçambique símbolo ícones de computador, bandeira, miscelânea, bandeira png | Imagem: GratisPGN

A vida é como a água, nunca esquece o seu caminho. A água vai para o céu, mas volta a cair na terra. Vai para o subterrâneo, mas volta à superfície. A vida é um eterno ir e voltar.

Paulina Chiziane (2002)

Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles.

Lélia Gonzalez (1982, p. 3)

Iniciamos esse texto, num encontro afrodiaspórico entre duas mulheres negras, Paulina Chiziane, escritora moçambicana, e Lélia Gonzalez, intelectual brasileira, marcando que nossa ancestralidade diaspórica é uma mulher negra. Neste sentido, o dossiê Conversas curriculares Brasil – Moçambique: (Re)aproximações diaspóricas tem como objetivo apresentar textos que enunciam práticas discursivas em políticas curriculares no Brasil e Moçambique, bem como, experiências educativas que nos possibilitem (re)aproximações diaspóricas exercitadas “nas culturas e movimentos de resistência e de transformação e outros processos políticos que não são visíveis em escala maior” (GILROY, 2012, p. 20). Leia Mais

Terra e Colonialismo em Moçambique. A região de Manica e Sofala sob a Companhia de Moçambique, 1892-1942 | Bárbara Direito

DIREITO Barbara2 PALOP

DIREITO Colonialismo em Mocambique PALOPWhen Moçambique applied successfully to join the Commonwealth in 1995, a lot of people were taken by surprise, not least the British Government. However, those who knew something of Moçambique’s history understood that, although not formally a British colony, much of country had, during the early colonial period, been ruled by British-owned companies – the Niassa Company, the Moçambique Company and the extensive territories effectively under the control of Sena Sugar, while the largely British-owned South African gold mines had had extensive recruiting rights over the whole Sul do Save region. Bárbara Direito’s book is based on her doctoral thesis and is focused on the agricultural history of one of those British-owned companies, the Companhia de Moçambique, up to the end of its concession in 1942. As she herself admits, she had the experience that all scholars dread – as she was completing her doctoral thesis, which she defended in June 2013, Eric Allina published his detailed study of labour relations in the Moçambique Company territories1 – two theses and ultimately two books focused on the same topic, the agricultural and labour history of the Company territory. Although these two books cover a lot of the same ground, they have different emphases and need to be read together in order to get a fully three dimensional image of this topic.

2The Moçambique Company, founded originally in 1888, was granted its charter in 1892. Its territory covered the region between the Zambesi and the Sabi rivers which, at the time, was part of the kingdom of Gaza. The region was not fully “pacified” and under Company control until 1902 and, in the process, the Company lost the Barue region which was taken under direct government administration. Bárbara Direito’s book looks in detail at the various ways in which the Company tried to bring about economic development within its territory. From the start there were contradictions which were debated within the Company by its administrators and in the Board which oversaw policy in Lisbon. Should the Company be purely concerned with administration, deriving its income from railway and port earnings, African head and hut tax and the granting of licenses and land concessions? Or should it be an active participant in the development of the economy, investing in agricultural enterprises? Bridging these two rival visions of the Company was the issue of labour. The Company conscripted labour to carry out its large public works projects but if the Company’s territory was to be developed largely by private concessionaires, how should these enterprises obtain the labour they needed and to what extent should the Company become involved in its recruitment and in the supervision of the conditions of employment? As Bárbara Direito makes clear, land and labour policy were always intimately connected – “In some parts of Africa displacing populations and expropriating their land was, in effect, an indirect way to obtain labour” (pp. 36-37).

3And there was another problem. Why did so many Africans emigrate? What might be done to prevent this exodus of population and how might the population, and hence the availability of labourers, be increased? From Bárbara Direito’s detailed discussion, it is clear that the Company was never able to decide on satisfactory answers to these questions. There were periods when the Company seemed prepared itself to participate in agricultural production, only to withdraw and rely once again on private entrepreneurs. At other times the Company intervened directly in the recruitment of labour, only to veer in the opposite direction and leave labour recruitment in the hands of private contractors. The politics surrounding the supply of labour could become very divisive, especially when large numbers of European settler-farmers descended on Beira in 1910 and forced the governor, Pinto Basto, to leave for Lisbon and in effect to resign.

4The abuses of the labour system were frequently discussed and its relevance to the issue of emigration was clearly understood by the Company. Bárbara Direito points out that “the actions denounced in the report [Ross report] did not go beyond the panoply of abuses already recorded in official documents, conveniently labelled confidential” (132). However, no effective means were adopted to deal with the issues. This is one of the major themes of Allina’s book but Bárbara Direito does not deal with it in any detail. However, she mentions that when a Comissão de Defesa dos Indígenas was established in 1928 there were two African “chefes” as members, though both came from Beira, not the rural areas. In practice, Africans had no choice but “to flee, boycott and where possible negotiate” (95). Allina had shown how Africans resorted to various methods to mitigate the pressures of forced labour and Bárbara Direito also states that conditions during the Depression led to Africans protesting against the payment of tax, while many continued not to pay taxes at all.

5The Company was, from the very start, accused of “denationalising” its territory by making too many concessions to British farmers and entrepreneurs and for employing too many British personnel, but there was always an acute shortage of Portuguese with capital willing to take up farming concessions. Throughout the period of its charter, the Company was very sensitive to this issue which, in practice, gave considerable leverage to the Portuguese settlers. At first land concessions had been made to European farmers on condition that these were developed within a certain period of time, but many of these concessions were not taken up. Few of the concessionaires had capital and depended on forced labour to achieve any cultivation of their land. By 1929 only 6.3 per cent of the territory had been granted as concessions, a third to companies and the rest to individual farmers, 51.2 per cent of whom were Portuguese, the rest foreigners, mostly British (102). These small-scale farmers were not on the whole successful. They were under-capitalised, too dependent on conscripted African labour and not protected from world price fluctuations. According to Eduardo Costa, the failure of early colonisation schemes was due to the colonos themselves who “have done nothing and do not know how to do anything” (151). In 1929 the Banco de Beira collapsed due to the excessive indebtedness of small farmers to whom it had made loans.

6One purpose of the book is to focus on the different interests involved in the determination of Company policy, which often led to severe conflicts within the colonising community. Two of the major rival interests were the vocal group of small-scale farmers who had to obtain labour either directly from the Company or from private contractors and the large sub-concessionaires which were able to control the labour of the populations that resided within their concessions or within areas conceded to them for this purpose. A key question of importance was the basis on which Africans could have access to the land. Here Bárbara Direito surveys the policy pursued in other colonies, notably South Africa, Southern Rhodesia and Kenya. In a very useful analysis she shows clearly how land policies moved from allowing Africans to remain on the land concessions made to Europeans in return for share-cropping arrangements or for supplying labour, to setting aside reserves for African farmers on the assumption that they would be forced onto the labour market by the inadequacy of the size of the reserves and by the requirement to pay taxes.

7During the period 1914-24 the Moçambique Company created a number of reserves, the largest being that established by Pery de Lind in 1914 which amounted to 790,000 hectares, far bigger than the smaller reserves subsequently created. The reserves were carved out of territory not considered suitable for European colonisation, principally because of tsetse fly infestation. It was apparently hoped that Africans would be attracted to move to these reserves and that this would help to stabilise the population and limit internal migrations and illegal emigration to Southern Rhodesia. Like so many other policies of the Company, it was a failure. “More than a decade later, the Directorate of Native Affairs stated that the removal of populations to the reserves had, in practice, not been carried out” (244). The downside of the policy, which started to become clear by the 1940s, was that land in the reserves deteriorated in a serious fashion through overgrazing by cattle, erosion and the exhaustion of the soil.

8Although the purpose of this book is to look at the history of agricultural policy and the land question, there are gaps in the way it covers the broader picture of Company policy. Little is said about Libert Oury, who became the guiding figure in the Company in the 1920s and 1930s and whose development policy became focused on the building of the Trans-Zambezia railway and the Lower Zambesi Bridge, both of which had been completed by 1935, and which were designed to channel the traffic from the Nyasaland Protectorate through the port of Beira. Although the major sub-concessionary companies like Companhia de Buzi and Sena Sugar are frequently mentioned, little is said about the land and labour policies they followed within their concessions. In particular Vail and White’s detailed study of Sena Sugar and the labour policies it pursued within its huge concessions has not been discussed.2 (Here it is perhaps worth mentioning that the Hornung family who owned Sena Sugar, never controlled the Zambezia Company as is stated on page 63). Mention might also have been made of Lyne’s book on the agricultural development of Mozambique.3 In general, Bárbara Direito has written a very scholarly book. It is concise, well organised, supported by a wide-ranging bibliography and has made an impressive contribution to understanding the fifty years rule of the Moçambique Company.

Notas

1. Eric Allina, Slavery by Any Other Name: African Life under Company Rule in Colonial Mozambique. Charlottesville: University of Virginia Press, 2012.

2. Leroy Vail and Landeg White, Capitalism and Colonialism in Mozambique. London: Heinemann, 1980.

3. Robert Nunez Lyne, Mozambique, its Agricultural Development. London: Fisher Unewin, 1913.

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Malyn Newitt – King’s College London, United Kingdom. E-mail: [email protected]


DIREITO Bárbara. Terra e Colonialismo em Moçambique. A região de Manica e Sofala sob a Companhia de Moçambique, 1892-1942, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 306p. Resenha de: NEWITT, Malyn. Ler História. Lisboa, n.78, p.293-296, 2021. Acessar publicação original [IF]

Experiências coloniais na África: Instituições, Dinâmicas e Sujeitos | Canoa do Tempo | 2021

A compreensão do processo de expansão colonial e dos processos coloniais no continente africano pedem, hoje mais do que nunca, uma abordagem que tenha em conta a sua complexidade histórica, a multiplicidade dos domínios em que se desenvolveram e a dificuldade crescente de operar sob uma visão unívoca desses processos. Logo, pensar esta complexidade convida-nos ao manejo de referenciais teóricos novos ou atualizados que os leitores poderão encontrar neste dossiê intitulado “Experiências coloniais na África: Instituições, Dinâmicas e Sujeitos”.

Os artigos que compõem esta publicação propõem uma reflexão em torno do contexto de expansão colonial e do conceito de “experiências coloniais”, sendo esta última uma ferramenta conceitual que oferece um enquadramento científico que vai além dos domínios estreitos dos “processos coloniais” e, sobretudo, das dicotomias simplistas que frequentemente tolhem as análises acadêmicas. Leia Mais

Lila em Moçambique | Adréia Prestes

A obra, que tenho o prazer de resenhar, “Lila em Moçambique”, de Andréia Prestes, com ilustrações de Camilo Martins, foi publicada em maio de 2020, com prefácio de Renato Nogueira, agradecimentos à escritora Sonia Rosa, a poetisa Maria Santiago e a professora Sandra Portugal, aos familiares e amigos que a motivaram trazer essa experiência de sua infância e de seus irmãos, filhos do casal Rosa e João Massena. A trajetória da família da autora que passou pela experiência do exílio, primeiro em Moscou, depois em Moçambique, tornou-se inspiração para essa obra que iremos conhecer um pouco melhor.

A autora vai narrar a história de Lila, a irmã mais velha, a quem ela dedica a obra (juntamente com seus filhos João e Rita), em sua busca em contar as memórias da infância. Leia Mais

“Não somos bandidos”: a vida diária de uma guerrilha de direita: a Renamo na época do Acordo de Nkomati (1983-1985) | Michel Cahen

O nascimento de Moçambique como país foi resultado de uma luta armada, chamada de “luta de libertação nacional”, guerra de uma década desenvolvida pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) contra a ocupação colonial portuguesa. A independência conquistada não trouxe paz aos povos moçambicanos. Logo foram estes arrastados para um novo e trágico conflito que, durante 16 anos, destruiu vidas, famílias e infraestrutura, bloqueando as condições de desenvolvimento do país que estava nascendo.1 Leia Mais

Médicas-sacerdotisas: religiosidades ancestrais e contestação ao sul de Moçambique (c. 1927-1988) | Jacimara Souza Santana

As contestações anticoloniais das populações rurais africanas, por vezes categorizadas como “pré” ou “protonacionalistas”, foram postas numa relação de hierarquia evolutiva com aquelas protagonizadas por frentes e partidos políticos orientados por ideologias “modernas”. A oposição tradicional versus moderno, organizada como teleologia, que deduz a superação linear da modernidade sobre a tradição, tem sido felizmente repensada. Os próprios termos utilizados, oriundos de uma visão modernista, têm sido ressignificados, sugerindo uma dinâmica muito mais complexa entre continuidade e mudança. As contestações rurais, informadas por cosmologias próprias e, via de regra, associadas a uma linguagem religiosa, passaram a ser vistas, a partir de então, menos como fenômenos conservadores e mais em toda a sua complexidade criativa. Leia Mais

Mashinamu na Uhuru: conexões entre a produção de arte makonde e a história política de Moçambique (1950-1974) | Lia Laranjeira

Nos últimos anos (ou mesmo décadas), diversos são os historiadores, artistas, cientistas sociais e juristas que vêm interrogando os limites de uma história oficial centrada unicamente na atuação da Frente de Libertação Moçambicana e no consequente acesso ao poder político e econômico de que, aparentemente, desfrutam os que comungam desta narrativa.655 Na literatura, nomes como João Paulo Borges Coelho e Ungulani Ba Ka Khosa (mas não só), ao incluírem em suas obras personagens e acontecimentos reais e fictícios, fontes históricas diversas e memórias de gente comum, tanto rediscutem a história oficial quanto oferecem um novo caminho interpretativo sobre a vasta experiência histórica moçambicana. Em Memórias Silenciadas (Khosa, 2013), por exemplo, o personagem Antônio resume o poder estabelecido no pós-independência a “um grande campo de tênis privado onde os pequenos donos se limitam a estender a rede a seu bel prazer em locais que acham seus, por direito adquirido nas matas de libertação. Um direito circunscrito à pequena elite” (Khosa, 2013, p. 101).

Na cena musical, destaca-se a atuação de figuras como o rapper Mano Azagaia, cuja canção As mentiras da verdade tece provocações acerca do passado recente ao entoar “Que a revolução não foi feita só com canções e vivas; Houve traição, tortura e versões escondidas”.656 Além desses, filmes como Virgem Margarida (2012), de Licínio Azevedo, rememoram uma das feridas mal cicatrizadas do pós-independência moçambicano: os campos de reeducação. No campo jurídico, não se pode esquecer da atuação do constitucionalista franco-moçambicano Gilles Gistac, assassinado em 2015 após indicar que não haveria impedimentos constitucionais para a governança nas províncias de forma autônoma ao governo central, conforme reivindicara o partido Renamo. Leia Mais

Moçambique na globalização: oportunidades, riscos e desafios | AbeÁfrica – Revista da Associação Brasileira de Estudos Africanos | 2019

O dossiê intitulado Moçambique na globalização: oportunidades, riscos e desafios, publicado neste número da Revista da Associação Brasileira de Estudos Africanos, é fruto de uma cooperação internacional e interinstitucional que vem sendo construída entre o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Escola Doutoral em Geografia da Universidade Pedagógica (UP) de Maputo no âmbito do Grupo de Estudos Espaços e Sociedades na África SubsaarianaGeoÁfrica.

Propomos aos leitores da revista uma série de artigos assinados por pesquisadores moçambicanos e brasileiros que analisam mutações experimentadas pela sociedade, pela economia e pelo território de Moçambique nas últimas três décadas. O recorte espacial corresponde grosso modo ao período iniciando-se com o fim da guerra civil (1992) que deu o pontapé à reconstrução do país e a reinserção da economia nacional nos circuitos da globalização. Se, por um lado, a “emergência” moçambicana, definida com base num crescimento sustentado do P.I.B., significou novas oportunidades para alguns setores econômicos, grupos sociais e regiões do país, a natureza do modelo de desenvolvimento arquitetado pelas autoridades em colaboração com agências internacionais, assistimos, por outro lado, a um acirramento das contradições estruturais próprias aos regimes rentistas e a um aumento do grau de vulnerabilidade frente à crises conjunturais. Essas dinâmicas conflitantes levantam, portanto, desafios econômicos, sociais, ambientais e políticos extremamente complexos para a sociedade moçambicana. Leia Mais

The War Within: new perspectives on the civil war in Mozambique/1976-1992 | Eric Mourier-Genoud, Michel Cahen, Domingos M. Rosário

Uma característica trágica compartilhada pela história nacional de alguns países africanos é a emergência de conflitos militares dentro de suas próprias fronteiras que, via de regra, estão marcados por uma combinação variável de fatores e atores internos e externos – de um lado, a explosão de tensões e clivagens sociais que o regime político implantado após a independência não foi capaz de resolver, e em alguns casos agravou; de outro, a incidência de interesses econômicos e geoestratégicos que condicionaram a participação de outros Estados, empresas multinacionais e órgãos multilaterais. Na década de 1960, essa dinâmica alimentou conflagrações sangrentas no Congo-Léopoldville, nos Camarões e na Nigéria; após a independência dos territórios africanos submetidos à dominação portuguesa, Angola e Moçambique viram seus nomes incluídos nessa malfadada lista. Em Moçambique, diferente de Angola, a hegemonia política e militar do novo regime demorou alguns anos a ser seriamente desafiada. Embora tenha havido uma resistência armada localizada na Zambézia desde 1976, foi a partir do início da década seguinte que uma situação de guerra interna se generalizou, prolongando-se até 1992, quando foi assinado o Acordo Geral de Paz. Leia Mais

Moçambique, o Brasil é aqui: uma investigação sobre os negócios brasileiros na África | Amanda Rossi

Dividido em 21 sessões e um apêndice de peso, com entrevistas do escritor moçambicano Mia Couto e do ex-presidente brasileiro Lula, o livro Moçambique, o Brasil é aqui: Uma investigação sobre os negócios brasileiros na África extrapola a ideia de reportagem e propõe um deslocamento histórico e espacial pelo território moçambicano no qual, Amanda Rossi, a julgar por seus agradecimentos, parece ter construído visíveis laços de afeto.

Instigada pela presença cultural, religiosa e pelo crescente interesse econômico do Brasil em Moçambique, a obra contextualiza as relações históricas entre os dois países até chegar ao tempo presente. Para tanto, a jovem jornalista percorreu de trem, machimbombo, chapa e tchopela grande parte do território moçambicano onde o Brasil, de alguma forma, se faz presente nos chamados projetos de cooperação (Fiocruz, Embrapa, SENAI, Caixa Econômica e Ministérios da Educação, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social, Esporte) ou fazendo negócio: Vale, OAS, Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Embraer, Rede Record, Petrobrás, Eletrobrás, Grupo Pinesso ( produção de soja) e BRF ( venda de frango congelado). Leia Mais

Economia Contemporânea em Moçambique: sociedade linhageira, colonialismo, socialismo, liberalismo | Beluce Belucci

O livro, elaborado por um pesquisador que trabalhou por mais de uma década com projetos de desenvolvimento em Moçambique, apresenta um panorama da formação da economia contemporânea do país, cuja inserção na divisão internacional do trabalho, desde a exploração colonial portuguesa, até a guerra de libertação do regime salazarista, passando pela experiência socialista do governo da Frelimo, hoje encontra-se frente ao impasse das exigências de uma “globalização” que possui todas as características de mais uma rodada espoliativa dos países centrais junto à periferia e índices de desenvolvimento humano que revelam que a opção pela liberalização da economia, feita sob a chantagem do Banco Mundial e do F.M.I. na década de 1980, deu-se muito mais como opção política ― inclusive da classe dirigente de Moçambique ― do que uma questão de julgar-se a eficiência ou viabilidade da economia planificada socialista. Leia Mais