A proteção internacional dos direitos humanos e o Brasil | Antônio Augusto Cançado Trindade

O eminente jurista internacional, o Professor Antônio Augusto Cançado Trindade, apresenta neste trabalho um estudo organizado e inédito acerca da trajetória cinqüentenária da proteção internacional dos direitos humanos sob mira da posição brasileira, e, desde logo, vislumbra um enfoque pioneiro da matéria quanto a sua evolução e aperfeiçoamento.

Quando trata da “Generalização da Proteção Internacional dos Direitos Humanos”, o nobre professor assinala que este processo desencadeou-se no plano internacional a partir da adoção em 1948 das Declarações Universal e Americana dos Direitos Humanos e que contou com a participação do Brasil, nos planos global (Nações Unidas) e regional (sistema interamericano). Leia Mais

A Legitimidade e outras Questões Internacionais: Poder e Ética entre as Nações | Gelson Fonseca Júnior

Em seu livro A legitimidade e outras questões internacionais: poder e ética entre as nações, Gelson Fonseca Jr apresenta artigos resultantes de sua experiência ao longo dos últimos quinze anos como professor de Teoria de Relações Internacionais no Instituto Rio Branco. Sendo assim, o que se pode esperar do livro, e o que o livro realmente trás, é um conjunto de ensaios bastante intrigantes a respeito dos mais variados temas, tendo, contudo, na questão da legitimidade internacional seu ponto central (a ela, Fonseca Jr dedica dois artigos específicos).

Sendo fruto de sua experiência como professor, nada mais natural do que o fato de os textos contidos em A legitimidade assumirem um tom fortemente didático, mantendo Fonseca Jr um estilo que beira a conversação informal da sala de aula, sem, no entanto, perder o ar sério e professoral que marca os seus escritos. Leia Mais

Le Brésil et le Monde: pour une histoire des relations internationales des puissances émergentes | Denis Rolland

Sabe-se que as relações culturais, políticas e econômicas entre os países são, em boa medida, expressão dos níveis de conhecimento recíproco que apresentam as sociedades acerca das realidades e tradições políticas e culturais, das mentalidades e da história do “outro”. Nesse sentido, registra-se com satisfação o discreto renascimento do interesse sobre a realidade brasileira em alguns dos mais tradicionais centros acadêmicos do mundo ocidental, tomando a forma de núcleos ou cátedras dedicados ao estudo dos assuntos nacionais, em suas mais distintas vertentes, voltando-se à tarefa de ensinar e pesquisar, formar pesquisadores de alto nível e produzir e difundir conhecimentos sobre o Brasil.

O trabalho ora apresentado é uma das manifestações de um dos mais dinâmicos pólos de geração de inteligência sobre o Brasil existentes na Europa, o Centro de Estudos sobre o Brasil, da Universidade de Paris IV (Paris-Sorbonne), criado e animado por Katia de Queirós Mattoso em torno da única cátedra de História do Brasil existente em universidades francesas. Com efeito, Le Brésil et le monde, livro organizado por Denis Rolland, professor da Universidade de Rennes 2 e co-fundador do Centro, cumpre à perfeição com o que se espera de um trabalho de apresentação (ou de reapresentação) da história das relações internacionais do Brasil contemporâneo à sociedade e aos meios universitários da França. Leia Mais

Hechos y ficciones de la globalización – Argentina y Mercosur en el sistema internacional | Aldo Ferrer

A globalização econômica, ao contrário do enfoque amplamente difundido nos meios acadêmicos, não anularia a liberdade dos países em desenvolvimento de estabelecerem e implementarem suas políticas de inserção ativa no sistema internacional. Essa é a proposição principal defendida por Aldo Ferrer quando analisa o comportamento da Argentina e do Mercosul frente à economia mundial, no livro Hechos y ficciones de la globalizácion – Argentina y el Mercosur en el sistema internacional.

Existiriam, basicamente, duas visões sobre o fenômeno da globalização. A primeira, denominada fundamentalista, sugere que o problema clássico do desenvolvimento não mais existe, uma vez que caberia aos agentes transnacionais, e não aos Estados, o poder de decisão sobre o destino da economia e das finanças. A inserção dos países nesse sistema dar-se-ia de forma passiva por meio da adoção de políticas neoliberais. Tais políticas permitem o mínimo de interferência estatal no mercado pois defendem as privatizações, a abertura econômica e a desregularização dos mercados. A visão fundamentalista refletiria a racionalização dos interesses em jogo dos centros de poder. Os países em desenvolvimento teriam que manter políticas amistosas com o mercado mundial sob o risco de sofrerem uma fuga maciça de capitais especulativos de curto prazo e de verem sua credibilidade abalada. No plano interno, haveria a exigência de flexibilização dos sistemas de seguridade social, o equilíbrio macroeconômico e a estabilidade dos preços. As resistências à ratificação de tais medidas são tidas como uma manifestação de ingovernabilidade democrática. O enfoque fundamentalista seria uma poderosa ferramenta de colonização cultural imposta aos países periféricos. Leia Mais

Korea’s Place in the Sun: A Modern History

Bruce Cumings, autor de Korea’s Place in the Sun: A Modern History (New York: W.W. Norton, 1997) é um dos mais respeitados, e provavelmente o mais polêmico, dentre a meia-dúzia de acadêmicos americanos fluentes em coreano e dedicados a estudar a Coréia. A Coréia na sua milenar história e integridade peninsular. Cumings privilegia, no entanto, o século XX, sendo autoridade no evento-mor do período para os coreanos. Sua obra em dois volumes, Origins of the Korean War, permanecerá por muito tempo como o estudo de referência desse conflito.

O livro mais recente de Cumings, ao qual dedicarei este ensaio, tem como público-alvo estudantes universitários da civilização asiática. Aborda, assim, a Coréia não na sua geografia e estatísticas, mas através da longa vivência de um povo unido por ferrenho orgulho nacional. Cumings evidencia grande empatia por esse povo, que é o da sua família política. Sua mulher, Meredith Woo-Cumings, é uma distinta historiadora coreana: Jung-en Woo. Cumings rejeita, contudo, qualquer idéia de uma homogeneidade étnica dos coreanos. Os habitantes da península – acentua ele – são mistura complexa de povos que por ali cruzaram: chineses, japoneses, mongóis e manchus, e talvez até caucasianos. A situação de península e o limite natural com a China, fornecido desde sempre pelos rios Yalu e Tumen, definiram o cadinho em que todos esses grupos se amalgamaram. Leia Mais

Korea’s Place in the Sun: A Modern History | Bruce Cumings

Bruce Cumings, autor de Korea’s Place in the Sun: A Modern History (New York: W.W. Norton, 1997) é um dos mais respeitados, e provavelmente o mais polêmico, dentre a meia-dúzia de acadêmicos americanos fluentes em coreano e dedicados a estudar a Coréia. A Coréia na sua milenar história e integridade peninsular. Cumings privilegia, no entanto, o século XX, sendo autoridade no evento-mor do período para os coreanos. Sua obra em dois volumes, Origins of the Korean War, permanecerá por muito tempo como o estudo de referência desse conflito.

O livro mais recente de Cumings, ao qual dedicarei este ensaio, tem como público-alvo estudantes universitários da civilização asiática. Aborda, assim, a Coréia não na sua geografia e estatísticas, mas através da longa vivência de um povo unido por ferrenho orgulho nacional. Cumings evidencia grande empatia por esse povo, que é o da sua família política. Sua mulher, Meredith Woo-Cumings, é uma distinta historiadora coreana: Jung-en Woo. Cumings rejeita, contudo, qualquer idéia de uma homogeneidade étnica dos coreanos. Os habitantes da península – acentua ele – são mistura complexa de povos que por ali cruzaram: chineses, japoneses, mongóis e manchus, e talvez até caucasianos. A situação de península e o limite natural com a China, fornecido desde sempre pelos rios Yalu e Tumen, definiram o cadinho em que todos esses grupos se amalgamaram. Leia Mais

O Contencioso Brasil x Estados Unidos da Informática: uma análise sobre formulação da política exterior | Tullo Vigevani || Propriedade intelectual de setores emergentes: biotecnologia/ fármacos e informática | Marcelo Dias Varella

O objetivo do livro de Tullo Vigevani está colocado claramente pelo autor em sua introdução: estudar uma questão de grande relevância intrínseca para a inserção econômica internacional do Brasil – a disputa “informática”, na verdade uma disputa de poder, entre o Brasil e os Estados Unidos – e refletir sobre pontos fundamentais para as relações internacionais contemporâneas. Buscou o autor, com muita proficiência, “ampliar a compreensão de como são tomadas as decisões no Brasil no que se refere à política exterior”. Devo confessar, como acadêmico em tempo parcial e diplomata em tempo integral, que sempre me interroguei sobre a validade propriamente científica, a coerência argumentativa e a legitimidade heurística dos estudos tipicamente acadêmicos sobre mecanismos de tomada de decisão em política internacional e na política externa brasileira em particular. Os pesquisadores universitários geralmente partem de um modelo teórico e de um esquema conceitual muito bem construídos, passam a entrevistar diplomatas e outros atores relevantes numa análise de caso bem delimitado e terminam por tirar conclusões sobre a “eficácia weberiana” de seu tipo-ideal de processo decisório, no caso aplicado a um exemplo concreto das relações políticas entre as nações.

Os resultados costumam ser insatisfatórios ou frustrantes, seja porque o pesquisador parte de um modelo de racionalidade ideal de conduta diplomática que não costuma encontrar-se na realidade, seja porque os próprios atores racionalizam a posteriori sua atuação no caso, de molde a justificar os resultados alcançados, “que só poderiam ser” aqueles efetivamente obtidos. Como diriam os franceses, CQFD, ou seja, eis o que era preciso demonstrar. Não é o caso, devo logo adiantar, deste precioso estudo sobre mecanismos de decisão aplicados ao caso do contencioso informático entre o Brasil e seu principal parceiro ocidental, o império norte-americano da informática. Leia Mais

Estudios Básicos de Derechos Humanos IV | Laura G. Stein e Gilda P. Oreamuno || Estudios Básicos de Derechos Humanos V | Sonia Picado, Antônio A. C. Trindade e Roberto Cuéllar || Estudos Básicos de Derechos Humanos VI | Antônio A. C. Trindade, Charles Moyer e Cristina Zeledón || Estudios Básicos de Derechos Humanos VII | Antônio A. C. Trindade

A publicação de quatro novos volumes da série “Estudios Básicos de Derechos Humanos” dá seqüência ao trabalho iniciado com a publicação, também pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH), dos três primeiros em 1994 e 1995 (ver: BELLI, Benoni. “As duas dimensões da promoção dos direitos humanos”, Revista Brasileira de Política Internacional, 39 nº 1, p. 164-171, 1996). Tendo em vista o grande número de artigos que compõem os volumes que acabam de ser lançados, esta resenha mencionará os principais temas tratados e escolherá um ou dois estudos de cada volume para uma apresentação mais detida.

Os quatro volumes publicados em 1996 seguem o mesmo formato dos anteriores, compilando artigos e conferências de especialistas, acadêmicos e “práticos” que atuam na área. O volume IV dedica-se totalmente à reflexão sobre os direitos humanos das mulheres e inclui artigos que discutem diferentes aspectos dessa temática, tais como a IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim, 1995), o significado da categoria de gênero, os direitos reprodutivos, a participação política e a discriminação contra as mulheres. Sobre os direitos reprodutivos, o artigo de Sonia Montaño (“Los derechos reproductivos de la mujer”) fornece um balanço dos avanços obtidos na Conferência de Pequim e descreve seus pressupostos e limites. A autora enfatiza o papel desempenhado pelos movimentos das mulheres na mudança do valor social conferido à sexualidade e à reprodução. Este seria um dos panos de fundo dos avanços da Conferência e que poderia ser resumido numa fórmula: a separação entre erotismo e fertilidade. Com efeito, a Plataforma de Ação de Pequim reconhece os direitos das mulheres como parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos. Também consagra o direito das mulheres em controlar todos os aspectos de sua saúde, em particular sua própria fecundidade. Leia Mais

Argentina y Brasil: enfrentando el Siglo XXI | Felipe A. M. de la Balze || Processos de integração regional e sociedade: o sindicalismo na Argentina/ Brasil/ México e Venezuela Hélio Zylberstain, Iram J. Rodrigues e Maria S. P. de Castro || MERCOSUL: direito da integração | Ana C. P. Pereira || Sistema de Solução de Controvérsia no MERCOSUL: perspectivas para a construção de um modelo institucional permanente | Luizella G. B. branco || A ordem jurídica do MERCOSUL | Deisy F. L. Ventura || MERCOSUL: acordos e protocolos na área jurídica | 

A produção acadêmica e a literatura especializada sobre os processos de integração regional na América Latina e, em especial, sobre o Mercosul e o processo Brasil-Argentina, parecem finalmente estar encontrando, no Brasil, uma “velocidade de cruzeiro”. As obras que são discutidas a seguir tratam todas dos desafios jurídicos, político-institucionais e econômicos da construção da integração regional, demonstrando que, se a sua marcha econômico-comercial adota o estilo andante-veloce, o ritmo jurídico-institucional conhece, por motivos diversos, um certo compasso de espera. Se os teóricos e “juristas” da integração impacientam-se com a “resistência anticomunitária” dos burocratas governamentais, os empresários, agricultores e sindicatos operários manifestam visível preocupação com uma certa “pressa livre-cambista” que vigoraria sobretudo no vizinho do Prata.

É precisamente da Argentina que nos vem o primeiro dos livros compulsados neste artigo-resenha, aliás o único da meia dúzia de obras aqui discutidas, confirmando plenamente a fama de boa qualidade analítica dos estudos publicados na outra margem do Prata. Ele foi organizado por Felipe de la Balze para o CARI, o Conselho Argentino de Relações Internacionais. Leia Mais

O lugar da África: a dimensão atlântica da política externa brasileira (de 1946 a nossos dias) | José Flávio Sombra Saraiva

A coleção Relações Internacionais (da Editora da Universidade de Brasília), coordenada pelo professor Amado Luiz Cervo, acaba de lançar uma importante obra sobre a política africana do Brasil e as relações Brasil-África, de autoria do africanista e especialista em relações internacionais José Flávio Sombra Saraiva. Este livro vem, em primeiro lugar, cobrir uma grave lacuna existente sobre o tema em nossos manuais universitários, atualizando, aprofundando e inovando o trabalho iniciado pelo professor José Honório Rodrigues com Brasil e África, outro horizonte (2 volumes) e pelo diplomata Adolpho Justo Bezerra de Menezes com Ásia, África e a Política Independente do Brasil e O Brasil e o mundo ásio-africano, todos eles trabalhos publicados no início dos anos 60.

Evidentemente os cursos de Pós-Graduação de Relações Internacionais, História e Ciência Política têm propiciado a elaboração de vários estudos específicos sobre este tema, mas não um abrangente, de síntese. Neste caso, merece referência o excelente trabalho geral do diplomata Fernando Marroni de Abreu, L’évolution de la politique africaine du Brésil, tese defendida na Sorbonne em 1988, mas não publicada. Assim, o livro recém lançado pelo Dr. Flávio Saraiva constitui o primeiro manual universitário sobre o conjunto das relações contemporâneas do Brasil com a África. Não se trata, contudo, de um simples manual, pois, se está apresentado com este perfil, nem por isso deixa de constituir uma obra de análise aprofundada, baseada também numa ampla documentação, bibliografia e entrevistas realizadas tanto no Brasil como na África. Leia Mais

The Foreign Policy of Zimbabwe | Ulf Engel

Com este estudo sobre a política exterior do Zimbábue, desde a independência em 1980 até o ano de 1993, Ulf Engel, cientista político alemão com especialização em África, criou uma obra extremamente relevante.

Como referenciais paradigmáticos e metodológicos, o autor recorre a uma mescla de fragmentos de abordagens diferentes. Na análise do quadro estrutural, ele tenta combinar elementos das teorias do sistema mundial, da dependência e da política econômica com conceitos chaves do neo-realismo. Na análise do processo da formulação e implementação da política exterior, ele toma empréstimos do behaviourismo e das teorias de burocracia, chegando a um modificado black box model (Easton). Mas, embora uma influência deste conjunto paradigmático seja perceptível, o estudo no seu corpo principal contém poucas reflexões teóricas ou paradigmáticas. Trata-se de um profundo estudo empírico da política exterior do Zimbábue. Leia Mais

Conflit et coopération dans les relations économiques internationales. Le cas de l’Uruguay Round | Alice Landau

Quando a Rodada Uruguai foi lançada em setembro de 1986, muitos não viam muito claro como algo tão ambicioso pudesse algum dia cumprir com seus objetivos. Bastava uma rápida leitura da Declaração de Punta del Este para que céticos e pessimistas se justificassem: um mandato de quatro anos, uma série de novos temas na pauta de negociação, referências às necessidades dos países em desenvolvimento, duas partes ou tracks de negociação – uma formalmente fora, outra dentro do contexto do GATT, referências a possíveis disciplinas setoriais, e assim por diante. Depois de sete anos de negociação, para surpresa e alívio de todos, a oitava e maior rodada do GATT chegava ao seu final e brindava o mundo do comércio internacional com uma nova instituição: a Organização Mundial do Comércio. Em sua obra, Alice Landau resume e retrata o que foi a Rodada Uruguai; para fazê-lo, não se limita ao pathos da negociação, porém busca no mundo real os fatores que a tornaram um dos maiores esforços conjuntos das nações desde a elaboração da Carta das Nações Unidas em 1945.

É grande a tentação de falar da Rodada Uruguai como se ela fosse fruto apenas de suas próprias prioridades ou por si só existisse. Contrariamente a outros autores, Landau não se limitou a relatar os detalhes das posições negociadoras de tal ou tal país, nem tampouco de perder a si e a seus leitores nas minúcias da diplomacie redactionelle que resultou nos diversos acordos da OMC. Em lugar disso, a autora logra fundamentar a premissa de que a Rodada se inseriu num contexto muito complexo de eventos, estratégias, mobilizações e relações de poder. Logra também, ao distanciar-se das prioridades específicas das negociações per se, fazer justiça à Rodada Uruguai e à criação da OMC como fatores à la fois assimiladores e criadores de novas realidades econômicas e estratégicas. Leia Mais

Relações internacionais contemporâneas. Da construção do mundo liberal à globalização (de 1815 a nossos dias) | José Flávio Sobra Saraiva

Essa coleção de nove ensaios, escritos por quatro especialistas qualificados da Universidade de Brasília, cobre quase dois séculos de história universal, desde o Congresso de Viena até os umbrais do século XXI. Redigidos de forma acessível e coerente – não mostram, como os de tantas obras coletivas, diferenças de qualidade ou de enfoque que alteram a coesão do conjunto –, apresentam um quadro sumamente completo e complexo da história da humanidade nestes 180 anos. Cabe destacar que os autores conseguem escapar de maneira notável ao duplo perigo de uma visão euro ou “ocidentalocêntrica” e de uma postura dogmaticamente “terceiro-mundista”, combinando a universalidade de diversos enfoques originários do mundo industrializado, europeu em particular, com uma reflexão original a partir de um posto de observação no Brasil. Cada época é analisada com ênfase lógica, e obviamente decrescente, na história européia, mas trata também, de maneira bastante equilibrada e competente, dos países e regiões periféricas, não apenas das potências ascendentes (Estados Unidos, União Soviética e Japão), como também das vastas regiões do que se costuma chamar, ou ainda se denomina, Terceiro Mundo em seus três componentes: América Latina, África e Ásia. Reflete, assim, uma visão universalista que nesta forma seria difícil encontrar fora do Brasil. Não apenas por esta razão, mas igualmente pela qualidade da análise, o estilo ao mesmo tempo científico e compreensível, e o acervo impressionante de dados históricos e estruturais que contém, este livro pode servir com grande utilidade a um público amplo interessado no tema, no Brasil e em qualquer outro país, sem cair por isso, salvo excepcionalmente, em simplificações suscetíveis de serem criticadas por leitores atentos mais especializados. Leia Mais

A época das perplexidades. Mundialização/Globalização e Planetarização: novos desafios | René Armand Dreifuss

O novo livro do Professor Dreifuss oferece uma oportunidade de observar as características principais da complexa interdependência econômica que marca este fim de século. Ao mesmo tempo, coloca em questão o papel do Estado Nacional e da democracia no mundo após a queda do muro de Berlim. A análise é bem característica desse fim de século: atesta uma possível perda de soberania decisória dos Estados, que tendencialmente passariam a ter presença menor em várias áreas da vida social.

A característica básica das novas análises em ciências sociais, como a de Dreifuss – o que parece configurar-se como padrão recorrente no mundo todo – é a grande inquietação acerca dos planejamentos estratégicos e das concepções de inserção internacional dos diversos Estados, nessa década final do milênio. Sabe-se que com o fim da Guerra Fria, concomitantemente ao “nebuloso” fenômeno conhecido como globalização, os tempos mudaram, trouxeram novos perigos, novos desafios e demandas. Entretanto, difícil mesmo torna-se definir e chegar a um consenso sobre quais seriam pontualmente essas mudanças. Leia Mais

Política Internacional | UnB | 1997

RBPI

A Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI (Brasília, 1997-) publica artigos sobre temas relacionados às Relações Internacionais em geral (Política, Economia, Sociologia, Segurança, História, Política Externa, Meio Ambiente e outras questões relevantes da agenda internacional contemporânea). A Revista é aberta a uma ampla variedade de tradições metodológicas.

Periodicidade semestral.

Acesso livre

ISSN  1983-3121 (Online)

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Major Problems in American Foreign Relations | Thomas Paterson e Dennis Merril

A obra integra uma coleção original editada sob a direção do historiador Paterson, da Universidade de Connecticut, “Major Problems in American History Series”, que já publicou mais de duas dezenas de títulos de história política, social, regional ou sobre períodos determinados da história dos Estados Unidos. Em todos esses “major problems”, o modelo básico é o mesmo: uma seção de “fontes primárias”, seguida de análises por historiadores reputados nos diversos campos ou períodos em causa. No caso desta obra sobre as relações exteriores, houve um progresso conceitual em relação às três primeiras edições, cujos títulos remetiam tão simplesmente à American Foreign Policy, noção agora ampliada para a abordagem do conjunto das interações (econômicas, políticas, militares, culturais) entre sociedades, organizações e Estados envolvidos em quase três séculos de história daquele país. O primeiro dos dois alentados volumes trata das relações da nação americana com o mundo desde o período colonial (o primeiro documento é de 1630) até o final da Primeira Guerra Mundial e o segundo – cujo primeiro capítulo de documentos históricos é exatamente o mesmo que conclui o primeiro livro – examina o período subsequente, até o final da Guerra Fria (o último documento é um artigo de Brzezinski na Foreign Affairs, do outono de 1992). Leia Mais

Manual das organizações internacionais | Ricardo Seitenfus

Dentre os oito Estados “cristãos” que se reuniram no Congresso de Viena, em 1815, cinco indiscutivelmente dominavam o chamado “concerto europeu”, que presidiu ao nascimento da Europa pós-napoleônica, estabeleceu novas regras de convívio entre as “nações civilizadas” e determinou, em grande medida, como seria moldado o mundo burguês que emergia da primeira Revolução Industrial. O equilíbrio persistiu durante todo o longo século XIX e apenas seria rompido em virtude da “segunda Guerra de Trinta Anos” em que parece ter vivido a Europa na primeira metade deste século.

Cinco grandes países continuavam a dominar, no final do século XX, o inner circle do poder mundial e a determinar, via monopólio da arma nuclear, o curso da vida no planeta. Entretanto, do ponto de vista quantitativo, ao menos, o cenário é mais populoso: partindo de apenas 50 Estados independentes em seu ato constitutivo, o sistema onusiano evoluiu para cerca de 190 países membros. Do ponto de vista qualitativo, por outro lado, a mudança é substancial: no lugar da antiga diplomacia secreta dos príncipes e dos agentes dos reis, temos uma real diplomacia parlamentar exercida em mais de 350 organizações, interestatais e não-governamentais, constituídas em dezenas de foros econômicos, políticos, técnicos e culturais, nas quais as armas da crítica substituiram a crítica das armas. O poder talvez não se tenha tornado menos concentrado hoje do que 180 anos atrás, mas ele já não pode mais legitimamente ser exercido de forma crua e direta, devendo obrigatoriamente passar, mesmo no caso da superpotência remanescente, por diferentes instâncias de discussão e de encaminhamento de soluções aos problemas multifacéticos enfrentados pela humanidade. Leia Mais

Argentina y EE.UU. Fundamentos de una Nueva Alianza | Felipe A. M. de la Balze

O corrente debate entre acadêmicos e líderes políticos acerca da identificação do que Joseph S. Tulchin denomina “papel (da Argentina) nos assuntos internacionais”, assim como o realismo predominante entre os círculos intelectuais desse país no que concerne à verificação da assimetria estrutural do cenário internacional, culminaram na reelaboração dos desígnios, táticas e estratégias da política exterior argentina a partir do primeiro governo Menem. O presente trabalho, resultado da compilação das apresentações de eminentes internacionalistas argentinos em seminário promovido pela Asociación de Bancos de la República Argentina, parte da análise crítica, e comumente negativa, do posicionamento argentino face à potência regional norte-americana e aponta para a reformulação destas relações bilaterais em termos mais cooperativos como imperativa para o logro dos desígnios do “terceiro tempo” da política externa argentina: a política externa de reincorporação ao Primeiro Mundo. Leia Mais