Passés singuliers. Le “je” dans l’écriture de l’histoire | Enzo Traverso

Enzo Traverso Imagem Quatro Cinco Um
Enzo Traverso | Imagem: Quatro Cinco Um

Enzo Traverso es un intelectual que no requiere de mayores presentaciones. Sus investigaciones cruzan temáticas como la memoria, el antisemitismo, los totalitarismos, el pensamiento marxista y el sentido de la historia en la sociedad contemporánea. En Passés singuliers, aborda la problemática concreta relacionada con el énfasis individual asumido en su narrativa sobre el pasado, hasta ahora, tradicionalmente elaborada en tercera persona.

Al respecto, el autor plantea en este libro un conjunto de ejemplos que muestran el giro presente en los escritos de un conjunto de autores en donde, la voz propia aparece para otorgar elocuencia a su experiencia del pasado, reconstruido a partir de su testimonio de los hechos, introduciéndonos en un debate de carácter epistemológico acerca del rol de las subjetividades en el relato histórico. Leia Mais

História pública e ensino de história | Miriam Hermeto e Rodrigo de Almeida Ferreira

Miriam Hermeto e Rodrigo de Almeida
Miriam Hermeto e Rodrigo de Almeida Ferreira (em primeiro plano) | Fotos: UFMG e UFF

ALMEIDA Historia publica e ensino de historiaO estranhamento de todo dia para aqueles e aquelas que experimentam, seja na formação inicial ou continuada, seja no trabalho escolar ou na pesquisa acadêmica, o ensino de história como um campo de conhecimento, mas também de práticas profissionais, talvez seja muito seme­lhante à experiência de um estrangeiro olhando as suas fontes e os seus materiais, interagindo com os sujeitos do campo, buscando sempre autorizar a superação da dolorosa sensação de alheamento e exterioridade com a sua prática e a experiência que dela decorre. Quem sabe, eles não encontrem nesse belo trabalho organizado por Miriam Hermeto e Rodrigo de Almeida Ferreira, com a contribuição de especialistas sempre (ou quase sempre) compartilhando a autoridade com professores de ofício da educação básica – via de regra experimentando percursos de formação continuada –, uma aliança generosa e solidária? Que esta resenha possa somar-se a essa alian­ça potente, em uma perspectiva de compreensão narrativa e empatia (RITIVOI, 2018), assumindo um lugar de professor entre professores de História.

Bons textos nos fazem pensar uma segunda vez sobre o que já sabemos, ou julgamos saber. E pensar ainda uma vez mais sobre o repensado, em uma espiral de sentidos que não se esgota entre paredes, nem do laboratório nem da sala de aula. E ainda que esses espaços sejam, às vezes, referências incontornáveis para o que pensamos e para o modo como pensamos, também eles não cabem definitivamente em si mesmos. Estão aí estes tempos de pandemia e de afastamento social a forçar a dilatação paradoxal das nossas referências e das nossas reflexões. O que sabe­mos sobre o ensino de história? O que sabemos sobre a história pública? O que sabemos sobre esse lugar para onde convergem nossos saberes sobre ambos? Se não trazem respostas prontas e definitivas a tantas perguntas, os textos reunidos em História pública e ensino de história parecem seguir o conhecido conselho de Clifford Geertz (2009), segundo o qual, quando não conhecemos bem a resposta, devemos discutir a pergunta: eles trazem, sem dúvida, uma excelente contribuição à continuidade do debate. Leia Mais

Narrativas no eurocéntricas y su influencia en la enseñanza, investigación y producción histórica actual en los tiempos modernos y contemporáneos/Revista Escuela de Historia/2021

Tenemos el agrado de presentar la segunda entrega del dossier con los trabajos presentados a la mesa “Narrativas no eurocéntricas y su influencia en la enseñanza, investigación y producción histórica actual en los tiempos modernos y contemporáneos”, celebrada en el marco de las XI Jornadas de Historia Moderna y Contemporánea, organizadas por la Universidad Nacional de Sur en abril de 2021.

Si en el número anterior el hilo conductor que guio la selección fue la reflexión en torno a los encuentros iniciales entre europeos y no europeos que dieron lugar a relaciones de desigualdad, en esta ocasión el eje es la utilización de conceptos y categorías no eurocéntricas para analizar situaciones concretas vinculadas a la enseñanza y el abordaje de experiencias cuyos protagonistas son los sujetos tradicionalmente invisibilizados. Leia Mais

Liberating Histories | Claire Norton, Mark Donnelly

Experimentamos un tiempo de incertidumbre, marcado por lo que algunos han denominado un cambio sin precedentes. La situación condicionada por problemas de precariedad económica, conflictos raciales y el ascenso de las nuevas derechas exige una constante reformulación de las formas bajo las cuales “observamos” los pasados y las circunstancias que nos impelen a interactuar con ellos en términos éticos y activos. Leia Mais

A Escrita da História. Lisboa: Temas e Debates | José Mattoso

A escrita da História é um livro que compila conferências e palestras várias do historiador português José Mattoso, proferidas entre 1986 e 2000, em diversos lugares do globo. Como o próprio afirma, com elas não procura “o sentido da História” (p.8), antes aí encontra uma forma de “juntar-[se] à sinfonia da História” (p.11).

Esses textos reunidos no exemplar em análise abordam temáticas que o autor deseja particularmente úteis para quem lê, nomeadamente, a construção crítica do texto historiográfico, o ensino da História, os arquivos e a sua ligação à construção histórica e temas outros, vastos, como o nacionalismo ou as iluminuras. Principiando pelo capítulo um – A escrita, contam-se cinco textos sobre, na perspetiva daquele estudioso, as especificidades da História e da Historiografia (e seus rumos). Leia Mais

América latina: cultura letrada y escritura de la historia | Alexander Betancourt

Uno de los aportes más relevantes de la historiografía contemporánea, sin lugar a dudas, redunda en el entendimiento de la conformación de los Estados nacionales latinoamericanos. Cómo funciona el Estado y qué lo diferencia de las experiencias de otras latitudes ha sido una incertidumbre que ha movido a historiadores connacionales a desarrollar toda suerte de estrategias, así como abordar otras tantas perspectivas en pos de dar explicaciones acuciosas en estas lindes. Leia Mais

América Latina: cultura letrada y escritura de la historia | Alexander Betancourt Mendieta

La escritura de la historia como actividad intelectual y sus posibilidades materiales e inmateriales es un punto de debate muy común entre los historiadores, sobre todo aquellos en el campo de la teoría de la historia y de la historiografía. En los primeros años de carrera, cuando comenzamos nuestra formación, la mayoría de nosotros lo hemos abordado a partir del desarrollo que tuvo especialmente en Europa. Desde el positivismo y el historicismo alemán, la escuela francesa de los Annales hasta las críticas narrativistas, advertimos que la práctica de la escritura estuvo marcada por el contexto de producción en relación a discusiones y debates intelectuales y a la trama política.

Si bien es innegable la influencia de Europa, el desarrollo de la escritura de la historia en América Latina tuvo un camino muy diferente en varios aspectos al de Europa. Betancourt Martínez se encarga en esta obra de reconstruir este recorrido desde mediados del siglo XIX, al calor de las luchas por la independencia y la constitución de los Estados Nacionales hasta mediados del siglo XX, en un espacio no menos complejo: América Latina. No solo por los procesos históricos ocurridos en esta región sino también por las numerosas discusiones que lleva consigo el uso de este término. Leia Mais

Crer em História | François Hartog

Lançado em 2017 no Brasil pela Editora Autêntica, o livro Crer em História é a produção de François Hartog lançada em Paris com o título Croire en l’histoire. O historiador, membro de importantes instituições como o Centre Louis-Gernet de Recherches Comparées sur les Sociétés Anciennes e o Centre de Recherches Historiques discorre sobre o crer e o fazer história em diferentes tempos, lugares e perspectivas para, por fim, indagar: ainda cremos em História?

Em quatro capítulos, além de introdução, intermédio e conclusão, Hartog descreve e comenta as diferentes tarefas atribuídas à história, bem como seus diferentes conceitos e interpretações. Nomes como Aristóteles, Halbwachs, Ricœur, Tolstoi, Sartre são evocados para colocar em debate a problemática das experiências de tempo e as formas de escrever – e talvez fazer – história para que se tente dar conta das questões que parecem cada vez mais apelar para a resolução dos impasses próprios da historiografia. Leia Mais

What is Global History?

Um dos temas mais discutidos nos departamentos de humanidades ultimamente é a História Global. Nos Estados Unidos e no mundo anglo-saxão em geral, tem havido uma proliferação de trabalhos que procuram adotar a história global seja como uma perspectiva, seja como um objeto de estudo. Centros de pesquisa como o Center for Global history na Universidade de Oxford, o Institute for Global and Transnational History na Universidade de Shandong (China) e o centro para História global da Freie Universitat Berlin; publicações como o Global History Journal e o New Global Studies Journal [1] e ainda redes de pesquisadores tal qual a Global History Collaborative e a European Network in Universal and Global History demonstram o crescente interesse pela temática que aqui tratamos [2].

Para o historiador Sebastian Conrad, a História global nasceu da convicção de que os instrumentos que os historiadores vinham utilizando para explicar o passado já não eram mais suficientes. Há duas razões para isso, dois pecados originais das ciências humanas que foram formadas no século XIX. Primeiro, elas foram fundadas a partir de uma ideia de estado-nação, de um “nacionalismo metodológico”, isto é, uma tendência a considerar o Estado-Nação como unidade fundamental de análise. E o segundo pecado original seria o eurocentrismo, ou seja, a tendência das ciências humanas de ver a Europa como o motor da história mundial.

No entanto, não é possível dizer que os historiadores globais foram os primeiros a reagirem a essas limitações. Modelos de História-Mundo já existiam desde Heródoto, Sima Qian e Ibn Khaldun, pois eles produziram narrativas que pensavam a história de seus próprios povos mas também a de outros, mesmo que fossem para constratar civilização com barbárie. Mais recentemente, a História comparada, as teorias de sistema-mundo e os estudos pós-coloniais já desafiavam a compartimentalização arbitrária do passado.

Assim, se temos consciência das origens remotas das formas de pensar globalmente o passado, resta saber o que distingue a Global History dessas outras abordagens? O que, afinal, é a História Global? Essa é a questão que o livro de Sebastian Conrad busca responder.

Sebastian Conrad é professor de História na Freie Universität Berlin, interessado em abordagens de História global e transnacional, em História da Europa Ocidental, da Alemanha e do Japão. Outras publicações conhecidas suas são German Colonialism: A Short History e Globalisation and the Nation in Imperial Germany. Desde 2006, ao menos, o autor vêm publicando artigos, capítulos e livros de cunho teórico-metodológico sobre História global, como o que aqui tratamos, What is Global History?.

No primeiro e introdutório capítulo deste livro, o autor contextualiza brevemente o surgimento dessa abordagem, afinal, provavelmente não haveria História global sem globalização, e disserta sobre o por quê a maneira como os historiadores reconstrõem o passado está mudando, na medida da crescente integração do mundo presente. Além disso, ele aponta três variedades de História Global, a ver: História de Tudo, História das Conexões e História baseada no conceito de Integração.

Na sequência, em “A short history of thinking globally”, ele reconstitui a trajetória das formas de pensar a história para além das fronteiras nacionais, desde as narrativas ecumênicas na Antiguidade e Idade Média, na Época Moderna, a partir da hegemonia ocidental no século XIX, chegando até a World History do Pós-Guerra.

No terceiro capítulo, Conrad mostra como diferentes abordagens mais recentes contribuiram para construir visões do passado que ultrapassam a fronteira do Estado-Nação. Uma delas, a História Comparada, que busca olhar para similitudes e diferenças entre dois ou mais casos, bem como estabelecer conexões entre eles sempre que possível. Ainda, há a História Transnacional, surgida na década de 90, e que pode ser considerada uma mãe da Global History, pois já procurava abertamente transcender a o Estado-Nação. Adicionamos a teoria dos sistemas-mundo que não busca ver a nação, mas blocos regionais e sistemas como unidades primeiras de análise, enfatizando a integração de mercados (economia-mundo) e a integração política em extensos territórios (império-mundo). E, enfim, os estudos pós-coloniais e as modernidades múltiplas que contribuiram, cada um a sua maneira, para crítica ao eurocentrismo.

No capítulo 4, Sebastian Conrad finalmente oferece ao leitor uma definição de História Global enquanto uma perspectiva particular, distinta dos estudos pós-coloniais, da História Comparada e das modernidades múltiplas. Para ele, há um foco nos contatos e interações que marcam os trabalhos dessa corrente. A palavra-chave mais associada a essa linha é a “conexão”, porém a busca por redes e nexos globais não é suficiente para delimitar o que é História global. A Global History, além disso, explora espacialidades alternativas (parte de uma “spatial turn”), busca entender unidades históricas (civilização, nação, família, etc) sempre em relação a outras e é crítica, ou pelo menos auto-reflexiva, quanto à questão do eurocentrismo. No mais, os historiadores globais se distinguem pelo exame de transformações estruturais em larga escala e pela tentativa de rastrear cadeias causais a nível global. Essas são algumas mudança heurísticas que marcam a passagem dos antigos modelos de História-mundo para a atual História Global.

No quinto capítulo, o autor trata da relação entre História e integração global. Deve-se lembrar que História Global não é uma história da globalização, mas a integração global é o contexto em que o historiador, com essa perspectiva, trabalhará. Obviamente, o impacto das conexões a serem estudadas depende do grau de integração de sua época.

Na parte seguinte, Conrad disserta, em dois capítulos, a respeito do espaço e do tempo. Em primeiro lugar, existem algumas espacialidades privilegiadas para historiadores globais. Os oceanos, por exemplo, permitiram interconexões econômicas, políticas e culturais por toda história humana e as redes, enquanto partes amplas de estruturas de poder, são objetos comuns nesses estudos. Mas nem sempre história global quer dizer narrativas planetárias, é possível fazer uma micro- história do global, se quisermos olhar como processos amplos se manifestam localmente. Dessa maneira, uma consequência imediata de se transcender as fronteiras nacionais é ter que adotar uma outra periodização, é preciso periodizar o passado não só localmente, como também globalmente.

Nos três últimos capítulos, o autor se debruça sobre a questão dos “lugares de fala”, ao observar que, mesmo que historiadores queiram contar uma história global, eles sempre o fazem de uma origem geográfica em particular. Além disso, ele mergulha na noção de “world-making” do filósofo Nelson Goodman. E conclui, num dos capítulos mais interessantes do livro, fazendo uma sociologia da Global History, ponderando os seus impactos políticos, seus desafios e horizontes.

Um dos méritos do trabalho de Sebastian Conrad é encontrar a originalidade de cada abordagem que ele trata, sem perder de vista as semelhanças entre cada uma delas. Como é comum nos bons trabalhos de historiografia e História intelectual, ele consegue estabelecer a relação entre os objetivos de cada escolha metodológica (seu programa) e seus resultados nas obras mais representativas de cada uma, às vezes lançando mão de críticas e apontando os limites de algumas perspectivas.

Ademais, Conrad faz um percurso que coloca a História Global ao lado de suas antecessoras, a insere em seu contexto acadêmico e político e a distingue de outras correntes históricas também avessas ao “nacionalismo metodológico”. Neste sentido, podemos dizer que o autor responde a pergunta do livro “ O que é História Global?” tanto diacronicamente, ao investigar as raízes da Global History até as narrativas ecumênicas de Heródoto e de outros, bem como sincronicamente, ao destaca-la de outras formas contemporâneas de narrativas transnacionais.

Por fim, o autor considera e analisa as diferente maneiras de se fazer História Global, na longa e curta duração, na ampla e pequena espacialidade. Ele enxerga a Global History não como uma tentativa de se fazer uma história de tudo, em escala planetária, mas como um perspectiva que não necessariamente exclui outras abordagens históricas como a marxista, a micro- história, os estudos pós-coloniais, etc. Justamente por ser um paradigma abrangente, talvez a História Global possa se consolidar nos meios acadêmicos do Brasil e do mundo. Como Conrad afirmou em tom otimista no final de seu livro: “O gradual desaparecimento da retórica do global irá então, paradoxalmente, assinalar a vitória da História Global como um paradigma” (p.235).

Notas

1. Além disso, revistas importantes como a American Historical Review e a Past & Present têm cada vez mais publicado artigos nesse campo.

2. Nos Estados Unidos, por exemplo, a História global vem respondendo a demandas de inclusão étnica no âmbito do ensino de História tanto nos níveis escolares quanto no superior. As tentativas (nem sempre sem reações) de substituição de cursos de “Civilização Ocidental” e “História dos Estados Unidos” por cursos de “História Global” vão no sentido de construir narrativas que dêem voz a todo o conjunto de imigrantes que construiram o país. Para um panorama desse debate, ver: ÁVILA, A. L. “A quem pertence o passado norte-americano?: A controvérsia sobre os National History Standards nos Estados Unidos (1994-1996)”, Anos 90, Porto Alegre, v. 22, n. 41, p.29-53, jul. 2015.

Filipe Robles – Graduando em História pela Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected]


CONRAD, Sebastian. What is Global History? Princeton: Princeton University Press, 2016. Resenha de: ROBLES, Filipe. Escrevendo e pensando a História globalmente. Cantareira. Niterói, n.28, p. 235-237, jan./jun., 2018. Acessar publicação original [DR]

 

A História deve ser dividida em pedaços? | Jacques Le Goff

Em um dos seus últimos trabalhos, Jacques Le Goff discute a propriedade ou não de se dividir a História em períodos ou, como consta do título, em pedaços. O livro encontrase distribuído em doze itens: Preâmbulo (pp.7-9); Prelúdio (pp.11-14); Antigas Periodizações (pp.15-23); Aparecimento Tardio da Idade Média (pp.25-32); História, ensino, períodos (pp.33-43); Nascimento do Renascimento (pp.45-58); O Renascimento atualmente (pp.59-73); A Idade Média se torna “os tempos obscuros” (pp.75-95); Uma Longa Idade Média (pp.97-129); Periodização e Mundialização (pp.131-134); Agradecimentos (pp.135-136) e Referências Bibliográficas (pp.137-149).

Nesse trabalho, Le Goff postula claramente a favor da ideia de uma Longa Idade Média e/ou, se desejarmos, uma Idade Média Tardia, que seria encerrada com as chamadas “revoluções” Industrial e Francesa no século XVIII. Em contrapartida, contesta a ideia de um Renascimento que teria rompido com o período medieval nos séculos XV e XVI. Leia Mais

A Escrita da História | Michel de Certeau

Nesta resenha almejamos abordar os pensamentos de Michel de Certeau, os quais estão contidos no capítulo referente à Operação Historiográfica, na obra A Escrita da História. O autor argumenta que a História seria ao mesmo tempo uma disciplina, uma prática e uma escrita (CERTEAU,1982, p.66). Através destes pontos nós veremos ao longo desta análise quais seriam as concepções de Certeau sobre a História e o historiador.

Vamos neste primeiro momento efetuar uma breve apresentação do autor, segundo os pensamentos da historiadora Leila Maria Massarão. No artigo Michel de Certeau e a Pós-Modernidade: Ensaio sobre pós-modernidade, História e impacto acadêmico, Massarão destaca que Certeau fez parte da Terceira Geração dos Annales [2]. Massarão aponta para o fato de que Michel de Certeau ter sido um estudioso da religiosidade francesa dos séculos XVI e XVIII [3]. As suas reflexões sobre a multiplicidade cultural, as práticas sociais e as teorias da História foram grandes contribuições do autor para a historiografia.

No capítulo introdutório sobre a operação historiográfica podemos perceber que o historiador possui como sua função dar voz ao não – dito. Através do campo teórico-metodológico o profissional da História constrói e confere sentido a um determinado acontecimento ou artefato, o qual sendo visto fora do seu contexto não nos apresentaria uma informação relevante.

Ao analisarmos a História como uma disciplina se poderia pensar que ela faz parte de um lugar social. Segundo Certeau: “A escrita da história se constrói em função de uma instituição” (CERTEAU,1982, p. 66). O autor baseia sua argumentação no fato de que é através dos interesses da instituição que a História enquanto uma disciplina vai se organizar. Os desejos institucionais vão atuar desde a metodologia empregada, ou até mesmo na seleção das fontes, para as pesquisas a serem elaboradas. Certeau frisa em seus estudos que é necessária a utilização de uma teoria para as produções historiográficas, assim se evitando a construção de dogmas. O pensamento do autor é importante, para relativizarmos as nossas idéias sobre os nossos objetos de estudo e não criarmos em nossa escrita histórica uma tendência à produção de verdades.

Certeau nos precisa que o discurso acadêmico possui um conjunto de regras a serem utilizadas, mesmo estando essa imposição no silêncio (CERTEAU,1982, pp. 70-1). As regras são expressões da instituição e da ordem social na qual a disciplina de História está inserida. A validade de um discurso acadêmico depende da aprovação de outros historiadores (CERTEAU,1982, p. 72). A não aceitação das leis acadêmicas acaba por levar um historiador a ser marginalizado da comunidade científica, o que demonstra um ordenamento de pensamentos científicos, os quais não se devem ser negligenciados.

O autor no término da sua exposição sobre o lugar social ressalta a atividade de pesquisa. Michel de Certeau afirma que a atividade de pesquisa histórica está inserida em um lugar, no qual de acordo com os seus interesses definirá o que pode vir a ser feito e o que não é permitido ser realizado. Através destes apontamentos Certeau nos deixa claro sobre o peso que a instituição e o lugar social dos indivíduos possuem sobre a construção do discurso do historiador. Além disso, o que podemos ver seria a necessidade dos usos de técnicas e métodos científicos, para legitimarem a História como disciplina e o que nela vem a ser produzido.

Ao pensarmos sobre a História como uma prática, a argumentação de Certeau começa calcada na necessidade de uma técnica para a realização da produção historiográfica (CERTEAU,1982, p. 78). O pensamento de Certeau é ratificado através da referência, que o mesmo faz a Serge Moscovici. Para o intelectual Moscovici a história seria mediatizada pela técnica (CERTEAU,1982, p. 78). As idéias de ambos convergem na visão de que a técnica faz parte da prática do historiador. O nosso historiador realça que as maneiras de se fazer História e as técnicas por ela empregadas vão variar devido aos distintos contextos culturais, que cada sociedade poderia vir a possuir (CERTEAU,1982, p. 78).

A prática do historiador se centraria em transformar um objeto em histórico, em historicizar um elemento, o qual não sendo analisado dentro de um contexto possivelmente ficaria no espaço do não – dito. Através de Certeau vemos que a prática do historiador se assemelha a de um operário. Assim ele declara que o historiador trabalha sobre um material, o que teria como objetivo transformar ele em História. O processo de manuseio do material deve obedecer a regras estabelecidas pela academia, e por último caberia ao historiador realizar o transporte do seu produto do campo cultural para o histórico. A descrição da prática muito se assemelharia à ação de um metalúrgico, como Certeau comparou em seus escritos (CERTEAU,1982, p. 79).

Em linhas gerais caberia à pratica do historiador a articulação entre o natural e o cultural e a seleção de suas fontes com as quais ele pretende trabalhar. Contudo, é importante pensar que o próprio recorte da documentação está sujeito às ações do lugar social onde o individuo está inserido (CERTEAU,1982, p. 81-2).

Na visão de Michel de Certeau a História como disciplina necessitaria de adotar uma perspectiva interdisciplinar. A História buscaria segundo o autor por modelos e conceitos de outras áreas, criticando-os, experimentando-os e assim controlando o que poderia estar coerente e o que estaria equivocado (CERTEAU,1982, pp. 88-9). Assim, através da ação das instituições a prática do historiador também possui um limite dado pela disponibilização de documentos e métodos para os seus estudos.

A História como uma escrita depende da passagem do que o historiador realizou em sua prática, para uma elaboração de um texto histórico. Esse processo ocorreria pela própria relação com o limite, a qual a atividade histórica possui. Para Michel de Certeau a história enquanto uma escrita está submetida a uma ordem cronológica do discurso, a uma arquitetura harmoniosa do texto e ao fechamento do artigo ou livro, mesmo que se acredite em uma pesquisa histórica, a qual nunca se esgote em suas possibilidades de estudo (CERTEAU,1982, p. 94).

A escrita da História faz parte de uma prática social, pelos pensamentos de Certeau. Para o autor ela está controlada pelas práticas, as quais são frutos de diversos interesses do lugar social. Assim, uma das funções da História enquanto uma escrita estaria na sua função de passar valores e assumir um caráter didático. Certeau argumenta que a escrita acaba por fazer a história, como também por contar histórias, sendo assim de interesse ao caráter de ensinamento, para a sociedade (CERTEAU,1982, p. 95).

O autor reflete sobre as várias formas de discurso existentes: o literário, o lógico e do historiador. Michel de Certeau frisa que o discurso histórico pretende possuir um conteúdo verdadeiro (verificável), na forma de uma narração, para se ter validade (CERTEAU,1982, p. 101). Uma das formas de conferir uma legitimação a um argumento seria através da citação. Esta modalidade indicada anteriormente leva o citado à categoria de referencial, para dar credibilidade as suas idéias. Não podemos esquecer que há um comprometimento nos estudos históricos, com aquilo que pode ser verificado e atestado cientificamente.

A escrita da História, na visão de Certeau, seria a ação do: “conteúdo” sobre “a forma” (CERTEAU,1982, p. 105). A visão se baseia na construção e desconstrução, a qual faz parte do cotidiano da operação historiográfica, na qual o conceitual vem dar um amparo a exposição do conteúdo, que é hegemônico na maioria dos textos. Logo, o texto é o lugar do discurso histórico, da delimitação de um recorte espacial e temporal, para ser analisado.

Vemos que a escrita histórica não é feita unilateralmente pelo historiador, mas sim em coletivo, já que é fruto da validação acadêmica e das relações com as idéias de nossos pares. Além disso, a escrita histórica é fruto das vivencias do profissional da História, as quais suas idéias perpassam ao texto devido às escolhas existentes dele e do lugar social no qual está inserido.

Podemos concluir que como disciplina a História está submetida ao contexto social na qual está situada. Sendo vista como prática, ela possuiria um conjunto de técnicas, que normatizariam a operação historiográfica. Ao seguirmos as normas estabelecidas, daríamos credibilidade à produção de uma pesquisa histórica. Assim como a prática, vemos que a escrita possui leis, para legitimarem a sua validade acadêmica. Após as leituras sobre Certeau podemos perceber que a escrita da História não pode ser fruto de apenas desejos pessoais sem uma relação com o lugar social onde estamos inseridos. Nossos escritos necessitam possuir uma relevância para a sociedade, se for almejado receber um reconhecimento de nossos pares, pela nossa produção do saber.

Notas

2. Ver parágrafo 12 do artigo: Michel de Certeau e a Pós-Modernidade: Ensaio sobre pós-modernidade, História e impacto acadêmico. Acessado: 04/05/09. Capturado do site: http://www.klepsidra.net/klepsidra24/certeau.htm

3. Ibidem, parágrafo 15.

Referências

CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982.

Referências de site

MASSARÃO, Leila. Michel de Certeau e a Pós-Modernidade: Ensaio sobre pós-modernidade, História e impacto acadêmico. In: Klepsidra. Publicado Originalmente em 1999. Acessado: 04/05/09. Capturado do site: http://www.klepsidra.net/klepsidra24/certeau.htm

Carlos Eduardo da Costa Campos – Licenciando em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador PIBIC/CNPQ do Núcleo de Estudos da Antiguidade – UERJ, sendo orientado pela Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido NEA/PPGH/UERJ. O referido investigador atua na linha de pesquisa Religião, Mito e Magia no Mediterrâneo Antigo.


DE CERTEAU, Michel. A Operação Historiográfica. In: A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982. Resenha de: CAMPOS, Carlos Eduardo da Costa. Aedos. Porto Alegre, v.3, n.6, p. 211-214, jan. / jun., 2010.

Acessar publicação original [DR]

A ingratidão: a relação do homem de hoje com a História | Alain Finkielkraut

Nosso sentimento de superioridade sobre um passado – que, queiramos ou não, nos pertence – de preconceitos, exclusões e crimes, necessariamente nos torna mais livres e abertos do que nossos antepassados? É esta a questão que o filósofo francês Alain Finkielkraut nos apresenta em A ingratidão, obra sobre a postura do homem atual frente à história. Nascido em 1949, participante das rebeliões de maio de 1968, se na juventude Finkielkraut erguia barricadas contra o status quo, na maturidade não hesita em advogar a defesa de valores, tradições ou instituições centrais da cultura ocidental. É o que se depreende da leitura de obras como A memória vã e, sobretudo, A derrota do pensamento, ambas traduzidas para o português há duas décadas [1].

Publicada na França em 1999 (Ed. Gallimard), e no ano seguinte no Brasil, A ingratidão recebeu o Prêmio Aujourd’hui, concedido a obra histórica ou política sobre a atualidade. Apesar de publicado originalmente há quase dez anos, o livro conserva uma atualidade impressionante, o que justifica esta resenha. Fruto de uma entrevista ao jornalista do órgão Devoir Antoine Robitaille, natural de Quebec (província canadense de língua francesa), A ingratidão é como o diagnóstico do pensamento, dado por um filósofo, dos males e perspectivas da inteligência humana no início do século XXI.

Embora praticamente todo o conteúdo seja de autoria de Finkielkraut, dado que as intervenções de Robitaille são bem pontuais, o texto conserva a estrutura de uma entrevista, aliás, muito bem conduzida pelo entrevistador, interado da obra do filósofo e interessado em questões atuais relevantes. No prefácio da obra Finkielkraut destaca seu apoio ao projeto, ao afirmar que “Não existe cabeça bem formada que não seja também uma cabeça repleta de amigos exigentes ou de obsessivos contraditores” (p. 8). Todavia, sabe-se das dificuldades que acompanham o projeto de livro derivado de entrevista. Maria Lúcia Pallares-Burke, que organizou uma coletânea de entrevistas com historiadores, sintetizou-as por meio de uma frase do historiador britânico A. J. P. Taylor, após uma entrevista: “Após viver tanto tempo com livros (…) se começa a preferi-los às pessoas [2] ”. Mas, apesar deste empecilho que, potencialmente, acompanha todo intelectual, Finkielkraut é honesto o bastante para reconhecer que “Para argumentar, não basta (…) possuir toda a razão; é preciso ver-se coagido a usá-la” (p. 8).

A obra é dividida em cinco capítulos – “Os inimigos e os demônios”, “O esquecimento do presente”, “O abandono da língua”, “O impudor dos vivos” e “Por que somos tão morais” –, sendo que os vários temas abordados no livro se entrelaçam numa visão abrangente do diálogo. É difícil, em uma resenha, discorrer sobre todos. Opto por destacar três deles, correlatos com assuntos prementes em nossa época e até nos noticiários: o judaísmo e o Estado de Israel; o paradoxo, num mundo globalizado, da luta das “pequenas nações” por autonomia; e – o que melhor revela a ingratidão para com a história, que intitula o livro – o relativismo cultural.

Em janeiro de 2008, uma polêmica entre a Federação Israelita do Rio de Janeiro e a escola de samba Viradouro a respeito de uma alegoria sobre o genocídio dos judeus pelos nazistas – o “holocausto” – ganhou os tribunais. O carro alegórico, a pedido da FIERJ, foi impedido pela Justiça de desfilar no carnaval. Sérgio Niskier, presidente da entidade, teria afirmado em conversa com o carnavalesco Paulo Barros que a função da entidade é combater o nazismo “24 horas por dia”. Este fato recentíssimo – obviamente, não citado no livro – ilustra um ponto levantado por Finkielkraut (nascido numa família judia): o choque do “holocausto” erigiu os judeus em referência moral do Ocidente, paradigmas do infortúnio e apóstolos contra a catástrofe. Vítimas por excelência, os judeus agora primam pela eterna vigilância sobre a memória do totalitarismo, função por eles aceita. Revelam-no a instrumentalização do anti-semitismo e o aparente monopólio da memória do genocídio nazista.

Há uma expressão utilizada por Finkielkraut sobre algumas minorias étnicas que bem cabe para qualificar tal postura: “mentalidade de credores”. Povos que sofreram no passado agora se sentem isentos de crítica; às vezes, podem até impingir sofrimento, reclamando imunidade para si. Se, para o autor, o paradigma desta mentalidade é a Sérvia (é de lembrar que o texto data de 1999, ano da intervenção das tropas da OTAN na crise entre o governo sérvio e Kosovo), os judeus – ou melhor, o Estado judeu, Israel – não o são menos. Há poucos anos, o pesquisador francês Pascal Boniface publicou um livro intitulado É permitido criticar Israel? (Est-il Permis de Critiquer Israël?, ed. Robert Laffont), que despertou violento debate na França. Ao criticar Israel pela instrumentalização do anti-semitismo – algo como: quem reprova Israel só pode ser anti-semita –, Boniface também alertava para o uso do “holocausto” como justificativa da agressiva política israelense relativa aos palestinos. O que é isto, senão a “mentalidade de credor” denunciada pelo filósofo?

É de notar que Finkielkraut apóia um “dever de memória” especial relativo ao nazismo, alegando a singularidade de fatos como o campo de concentração de Auschwitz. Os crimes hitleristas são paradigmáticos (em primeiro lugar) para o Ocidente por dois motivos: pela fabricação industrial de cadáveres e por ter sido cometido sob a égide de valores caros aos ocidentais, como a racionalização, o objetivo do progresso e a submissão da vontade à lei. A bem da verdade, o autor tem razão em destacar o “holocausto” entre outros genocídios. Como diz Marcos Marguiles, “cada vez menos pessoas entendem que os judeus foram as únicas vítimas ideologicamente predeterminadas e ‘cientificamente’ pré-selecionadas pelo nazismo. As outras (…) tinham fuga – os judeus eram condenados por terem nascido [3] ”. Finkielkraut lembra que o trauma de Auschwitz (metonímia, no livro, do genocídio nazista) é tão grande que levou a Alemanha a renunciar ao nacionalismo. Ainda são nítidas em nossa memória as imagens da Copa do Mundo de 2006, talvez a primeira explosão de patriotismo alemão em muitas décadas, exceto a ocasião especial da queda do Muro de Berlim.

Assumidamente judeu e comprometido com o “dever de memória”, Finkielkraut recusa, todavia, a identificação de tudo que ocorre no presente com Auschwitz. Isto é, a seu ver, uma memória preguiçosa, pois não leva em conta o hoje. Porém – aqui o autor denuncia um viés da ingratidão –, a pretexto de combater este tipo de memória, muitos querem dessacralizar in totum o passado. É o caso de historiadores israelenses que almejam reescrever criticamente a história do Estado. Se estes têm o mérito de refutar uma memória apologética, erram ao subordinar o passado ao presente e pretender uma cidadania “pura”, livre da etnia. Finkielkraut observa que todo país tem seus mitos, seus heróis, seu romance nacional, especialmente “pequenas nações” como Israel. Menosprezar tais traços revela ingratidão com as origens, a herança, com a própria história.

Para o leitor, chamar Israel – Estado poderoso, ponta-de-lança dos EUA no Oriente Médio – de “pequena nação” pode soar irônico. Mas, explica Finkielkraut, o conceito de “pequenas nações” se refere àquelas que têm sua existência posta em dúvida. As “grandes nações” têm uma existência imemorial que dispensa explicações; as pequenas, como Israel, têm de se agarrar ao seu romance nacional. Aliás, o autor afirma que deve a Israel o não ter sucumbido ao desprezo pelas pequenas nações. Não gratuitamente, Finkielkraut assume ser solidário ao Estado judeu, contudo, menos por sua origem étnica do que pelo modo de vida e participação política dos israelenses, pelo menos nas primeiras décadas do Estado. O que o desaponta em Israel é a admissão, pelo Estado, daquela “memória preguiçosa” a partir do fim dos anos 1970, revelada na “orgia analógica” da identificação entre as agressões impostas pelos vizinhos árabes e o “holocausto”. Foi esta postura – encarnada no então general Ariel Sharon – uma das responsáveis pelo assassinato do primeiro-ministro Ytzakh Rabin, em 1995, por um judeu, que não perdoara ao dirigente o “ter-se entendido com Hitler”.

Israel ocupa um lugar especial no livro – o segundo capítulo é quase todo dedicado àquele país e à “nação judaica” –, como se supõe, pelas origens do autor (que também escreveu La réprobation d’Israël, ed. Denoël), a importância do Estado judeu no mundo atual e sua vinculação inegável com o “dever de memória”, construção do século XX imposta pelo trauma do nazismo. Mas a discussão sobre Israel faz parte de um tema mais amplo: o significado das pequenas nações e seu lugar em meio à globalização. Como pode uma nação preservar sua identidade ao mesmo tempo em que participa de grandes blocos políticos e econômicos, em meio à expansão dos mercados e livre fluxo de capitais e sob a pressão de Estados multinacionais indispostos a lhes conceder autonomia ou mesmo reconhecimento?

A presente leitura de A ingratidão remete o leitor à questão do difícil reconhecimento, pela comunidade internacional, da recente proclamação de independência de Kosovo. Pode-se dizer que Finkielkraut antecipa as dificuldades a um projeto de autonomia de Kosovo na comparação que faz com a Bósnia. Esta tem uma composição multiétnica, enquanto o nacionalismo de Kosovo é genuinamente albanês. Como há, hoje, uma obsessiva atração por formações cosmopolitas, as entidades que não o são passam a serem ignoradas e até oprimidas, com a conivência alheia. Isaac Akcelrud, autor de um livro sobre o Oriente Médio, perguntado se uma defesa intransigente das nacionalidades provocaria um “aumento desordenado” de pequenas nações, responde com a pergunta: “que são ‘pequenas nações inexpressivas’[4] ?” Com efeito, Finkielkraut ressalta o perigo que é a má-vontade para com estas nações, observando que o século XX, marcado pela traição e desprezo àquelas entidades, deve servir como lição para o presente. Lição, talvez, não entendida por alguns países, como revela a questão kosovar. O caso de Kosovo remete a uma conclusão de Finkielkraut sobre o panorama ideológico da Europa no final do século XX: venceu o projeto de um continente em que as “grandes nações” hão de absorver os “peixes pequenos”.

Um argumento forte contra o apoio radical ao direito à autonomia das pequenas nações é a vigilância democrática. Afinal, em nome da liberdade, uma destas nações pode se tornar um reduto do despotismo do qual afirmam querer escapar. É nesta intrincada questão que Finkielkraut nos faz pensar ao discorrer – a pedido do entrevistador – sobre o caso de Quebec, província de língua francesa do Canadá que há décadas reclama autonomia política. A recusa da opinião pública ocidental em apoiar o projeto autônomo revela um desprezo clássico pelas nações pequenas ou uma saudável vigilância democrática? O filósofo responde com a afirmação de que o debate revela o choque entre duas idéias de nação – uma (cara a Quebec) baseada na memória, na tradição e na vinculação cultural (língua francesa); outra (cara ao Canadá anglófono), baseada no vínculo racional tecido em torno dos valores democráticos –, sendo que prevalece a que encarna um valor dos nossos dias: o cosmopolitismo. Isto é, vence a idéia de nação capaz de abrigar várias heranças culturais.

No entanto, é contra o cosmopolitismo do início do século XXI que Finkielkraut se coloca. O cosmopolita, de acordo com o significado tradicional da palavra, desfruta do teste do outro, deseja estar com o outro. Já o neocosmopolita não quer testar o diferente, mas ser como todos os outros ao mesmo tempo. Abre mão, assim, da cultura de que é herdeiro – de sua identidade – em prol de um “vir-a-ser turista” permanente. É o caso de homens e mulheres ocidentais que são adeptos de técnicas de relaxamento ou de sexualidade orientais, como a yoga e o kama sutra, mas que não deixam as comodidades do american way of life. Observação semelhante pode ser feita a respeito daqueles que criam sua própria religião, às vezes misturando elementos de várias delas, acabando por não professar nenhuma. Na verdade, trata-se de uma voluntária e radical desvinculação da herança. Para Finkielkraut, o cidadão tradicional, cioso de sua cultura, talvez seja mais benéfico para a democracia, porque lembra a existência e a legitimidade do outro.

Será que o Ocidente está perdendo sua identidade? Talvez sim, se a civilização ocidental preferir se enclausurar em si mesma, se recusando a disseminar suas conquistas. Estas palavras podem provocar a ira dos defensores das sociedades não-ocidentais, especialmente em tempos de exportação pela força de seus valores, encarnados pelos EUA. Só que muitos dos militantes que pretensamente combatem pelo “direito à diferença” contra a arrogância ocidental não percebem que a legitimidade de sua luta se baseia em conquistas tipicamente ocidentais, como a democracia e a liberdade de expressão. Esquecê-lo é “desvincular o ser da herança”, isto é, se portar (da maneira que convém) no hoje como um ocidental descartando todos os pressupostos que o ontem nos legou na construção da civilização. Um sinal desta distorção é a validade concedida ao relativismo e ao subjetivismo, propiciada por uma equivocada radicalização da democracia.

Se “todas as coisas são democráticas”, para que hierarquizar a arte, os estilos, os saberes, os protocolos, a idade? Finkielkraut diagnostica e lamenta um mundo em que todas as maneiras de viver e todos os enunciados se equivalem. O filósofo afirma que a transição para o século XXI testemunha um “niilismo triunfante”, que atinge todas as dimensões da cultura. O termo “niilismo” cai como uma luva no argumento, pois, com efeito, nossa época é a que nada vale mais ou menos do que nada. O valor de uma obra de arte, por exemplo, é relativo, dado por quem queira dar. O autor nota que um dos lugares em que esta tirania do relativismo e subversão dos valores tem mais força é a escola obrigatória, uma conquista do Iluminismo. Como tudo equivale, já não se cultiva a reverência aos grandes autores, às obras clássicas, à língua dos poetas. Finkielkraut justifica o lugar central das obras-primas ocidentais no ensino: se não são as melhores do mundo, são as melhores da nossa cultura. Mas a escola passou a ser ingrata com a história que a precede, em favor da valorização do momento e do gosto da clientela. No ensino da língua, um exemplo claro é o do “internetês”. Chama atenção a quem visita o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que, ao fim de um enorme painel sobre a história e evolução do português, há uma parte dedicada a uma nova forma de escrever o idioma, utilizada principalmente pelos adolescentes e jovens, na internet: “vc naum ta em ksa hj?”.

Será Finkielkraut um conservador, tradicionalista, retrógrado? Do ponto de vista atual, a resposta é afirmativa. Mas o filósofo nos quer levar à conclusão de que um programa “conservador”, que defenda os valores clássicos, as hierarquias, a cultura erudita e a não-equivalência – enfim, que combata o relativismo –, é a verdadeira subversão. Ao lembrar de 1968, quando a palavra de ordem era contra a escola e a favor da vivência de todas as sensações possíveis, o autor – com certa nostalgia inconfessa – alerta que há, na verdade, um “conservadorismo do movimento”. O relativismo cultural revela sua face mais intransigente no multiculturalismo e na escrita da história que o legitima, um ponto de muito interesse para nós, historiadores.

Talvez nenhuma palavra seja mais ouvida nos atuais discursos sobre a “diferença” do que tolerância. Toleram-se todas as opiniões, religiões, manifestações culturais, orientações sexuais, todas as escolhas, desde que não contrariem a tolerância. Finkielkraut observa que este discurso da tolerância é extremamente tirânico: no fundo, só tolera a si mesmo. Não se admite meio-termo: quem não defende o casamento gay é homofóbico ou, no Brasil, quem não apóia as cotas para negros é racista. Tirania que condiciona até o uso da língua. É de notar que Lula da Silva – cujo governo, aliás, tem como símbolo a palavra “Brasil” escrita em várias cores e como slogan a divisa “Um país de todos” – sempre inicia suas saudações televisivas com “a todas e a todos”.

Há vinte anos atrás, em A derrota do pensamento, Finkielkraut já alertava sobre o multiculturalismo no item “Um par de botas vale tanto quanto Shakespeare [5] ”. Ou seja, um simples trabalho artesanal não podia ser considerado “menor” que uma obra-prima da literatura universal. Aliás, perguntarão os multiculturalistas, por que obra-prima? Eis um ponto-chave do relativismo cultural: este se preocupa menos com a disciplina do verdadeiro do que com o reconhecimento mútuo. A história escrita sob a égide da “política do reconhecimento”, ao assumir feições vingativas contra o Ocidente (alegando “reparação”), partilha lógica semelhante. Na política educacional brasileira, temos diante de nós a obrigatoriedade do ensino de história africana nas escolas; na academia, os gays que escrevem a história do homossexualismo. Studies que, em nome de minorias historicamente oprimidas, condenam os white males. Para os representantes daquelas, a historiografia clássica não passa de porta-voz de um grupo desprezível: os machos europeus. Com efeito, se uma outra história tem pontos positivos (expansão dos objetos de estudo, valorização de outros pontos de vista), ela transforma o objeto em sujeito do discurso e é, no limite, preconceituosa: só se admira o que não é branco e ocidental. As tradições são descartadas pelo mero fato de o serem, enquanto os “livros desconcertantes”, que destroem símbolos e tradições herdados, é que são valorizados [6].

Finkielkraut, por tudo o que assume, é polêmico e corajoso, sem dúvida. Suas opiniões são ainda mais legitimadas pela qualidade de Robitaille, que não se furta a questioná-lo, interrompê-lo e mesmo provocá-lo. Por exemplo, quando o jornalista lembra o autor de que há intelectuais que se rejubilam em serem “do contra”, ou quando diz que havia chegado o momento de “pôr as cartas na mesa”: Finkielkraut não defende um programa conservador? Um livro apenas escrito pelo filósofo seria indubitavelmente de grande valor, mas, derivado de uma entrevista, a obra amplia o conhecimento do leitor sobre o intelectual, a ponto de aquele desejar, em alguns momentos, estar no lugar de Robitaille para interpelar o entrevistado.

Apesar do tom incisivo de suas palavras, Finkielkraut passa ao largo da intransigência. Não vê no relativismo cultural o fim da humanidade ou da história. O que o filósofo quer é nos deixar um alerta: escarnecer dos valores tradicionais, da história, enfim, da nossa própria herança, é ato tão corajoso quanto espancar nossa avó. Se uma memória que deplora os males do passado, como o genocídio nazista, é benéfica, nos faz falta outro tipo de memória, que venere o que há de bom no pretérito. Senão, seremos apenas uns ingratos, desmemoriados e intransigentes conservadores de plantão, papel inadvertidamente assumido pelos auto- apregoados arautos do reconhecimento mútuo, das minorias e da “reparação” histórica.

Notas

1. A derrota do pensamento. Trad. Mônica Campos de Almeida. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; A memória vã: do crime contra a humanidade. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

2. Introdução. As muitas faces da história: nove entrevistas. São Paulo: Ed. UNESP, 2000, p. 17.

3. Na contracapa de Hannah Arendt. Origens do totalitarismo, I: o anti-semitismo, instrumento de poder, uma análise dialética. Trad. Roberto Raposo. 2a ed. Rio de Janeiro: Documentário, 1979 (grifo original).

4. Isaac Akcelrud. O Oriente Médio: origem histórica dos conflitos – imperialismo e petróleo; judeus, árabes, curdos e persas. 4a ed. São Paulo/Campinas: Atual/Ed. da Unicamp, 1986, p. 2.

5. Op. cit. (1988), pp. 131-40.

6. Como diz Bronislaw Baczko: “A época das ortodoxias parece, pois, ultrapassada; vivemos, muito felizmente, na época das heresias ecléticas”. Imaginação Social. In: Einaudi. Vol. 5 (Antropos – Homem). Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985, p. 308.

Fernando Gil Portela Vieira – Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense e doutorando no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo.


FINKIELKRAUT, Alain. A ingratidão: a relação do homem de hoje com a História. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. Resenha de: VIEIRA, Fernando Gil Portela. Um Reencontro com o Ocidente. Cantareira. Niterói, n.13, 2008. Acessar publicação original [DR]

The Historian’s conscience: Australian Historians on the Ethics of History – MACINTYRE (PHR)

MACINTYRE, Stuart. The Historian’s conscience: Australian Historians on the Ethics of History. Melbourne: Melbourne University Press, 2004. 166p. Resenha de: ARROW, Michelle. Public History Review, v.14, 2007.

Working in television making historical programs throughout 2004, my ‘historian’s conscience’ was occasionally troubled and tested by decisions we had to make about the stories we told. Mostly, these decisions were in the name of brevity, and in some ways, this was extremely useful: you cut to the heart of a story very quickly when you are forced to pare it down to its absolutes. Television resists written history’s potential for unruliness, it forces you to get to the point — quickly. While I would stress that I never felt I did anything unethical working in television, I occasionally found myself asking questions, for example, about the way we treated interviewees. Journalists such as Janet Malcolm have written at length about journalistic ethics — that the role of the journalist is to gain someone’s trust and then to betray it. Having to do this, even in small ways, was somewhat of a rude awakening for me.

So you can understand my excitement when I heard that Stuart Macintyre’s followup to the hugely successful The History Wars (co-written with Anna Clark) was a book that promised a series of essays on the ‘ethics of history’. The question of ethics seemed to be an ingenious response to the hullabaloo of the history wars, to deal with some of the issues these debates have raised: what is the purpose of history? What responsibility do historians have to the past and to their present-day readers? These are all big questions that cut to the heart of why and how we write and work with the past.

I looked through the table of contents, hoping to see essays from historians working in a broad array of fields. All historians, academic and public alike, grapple with ethical questions every day. How, I wondererd, do they make difficult decisions that have concrete consequences for our built environment or our public imaginings of our past.

How do historians deal with mistakes in their work? How might the historical profession respond to personal attacks on individual historians that flout professional codes of ethics? How do professional historians deal with political or ethical pressures on their practice? How can historians engage with the media and still feel ethical? How can academics feed community interest in their work but maintain some distinctions about the craft and practice of history? While The Historian’s Conscience has many engaging and challenging essays about history and ethics, it nonetheless disappointed me. Most of the questions I raised above are not directly addressed by the authors of this collection, although there are interesting and thoughtful essays to be found here. The biggest problem with the book is the narrowness of its scope. All contributors are academic historians, writing safely from the position of tenure or retirement. Macintyre notes (more than once) that he sought contributions from public historians but all had to decline his invitation for one reason or another. One has to ask: how hard did he look for contributors outside the academy? For example, we have Graeme Davison writing about his experiences with the National Museum here, but why not ask one of the Museum’s curators to write of their experience of being in the eye of the history wars storm? Why not ask a less well-known professional historian working at the coalface of heritage conservation or community outreach to write of ethical pressures? The close scrutiny of history engendered by the history wars has arguably had a greater impact on public historians because they do not have the luxury of the buffer zone of the academy; they are communicating with people who do not necessarily have a sympathetic ear for historical research. Yet their work is crucial to public understandings of our past. Most people gain their historical understanding not from the works of academic historians, but from the way the work of historians are translated and adapted for a broader audience through professional history, heritage and conservation, family and local history, museums and historic sites and the media. Beverly Kingston writes in her essay that ‘bad history is not life-threatening like a faulty bridge or a wrongly diagnosed illness’ (p83), and she is right, to a point. But if the professional historian or heritage consultant is unable to persuade those in power that a bridge is historically significant, for example, it might be demolished. Bad history does have consequences for our society and environment. But without contributors from public and professional historians, the Historian’s Conscience cannot fully enter into this debate.

The focus on well-known names also conceals some of the other ethical concerns involved in producing history in an era of publish or perish. The fraught process of navigating university ethics committees is of increasing concern to historians: why include not an essay on this vitally important issue? Some contributors — Penny Russell and Beverly Kingston — discuss their research methods and their reluctance to use research assistants. But research assistants are essential contributors to many contemporary history projects. Why not ask one such research assistant to contemplate their role in the production of such history? Stuart Macintyre could have asked Anna Clark to write on her experience of co-writing The History Wars. Macintyre touches on the ‘valuable contribution’ that research assistants can make in the production of histories (p10) but does not extend this to thinking about the ethical issues around these sorts of research collaborations. How historians might, and ought, to relate to each other was one of the central issues of the history wars debate, so it is a shame that this has been left relatively untouched in The Historian’s Conscience.

Nonetheless, one must review the book at hand, not the book one wishes had been written, and The Historian’s Conscience contains many riches, especially the candid, reflective essays of Penny Russell, Marilyn Lake and Iain McCalman. Lake writes of the difficulties of writing history when the sentiments and political outlooks of the Public History Review, vol 14, 2007 154 contemporary age differ from those in the past. This was particularly complicated for her because she sees her ethical obligation as an historian to ‘explain the past — people’s choices and their sense of themselves — to people living in the present’ (p95). Penny Russell explores the relationship of trust that exists between historian and reader in history, a trust she sees as fostered partly by footnotes but mainly by the ‘analytic, interpretive, narrative “voice” of the historian’ (p110) — the historian who has combed the archival record and who is able to tell us what lies there and what it means. Fiona Paisley and Rhys Issac both emphasise the ways in which remembering the past has important contemporary political implications: Paisley through a discussion of finding painful or offensive material in the archives; Issac, intriguingly, through a discussion of the presentation of America’s colonial past at Colonial Williamsburg. John Hirst gives a clear-eyed account of the ways personal circumstances influence the writing of history, outlining how he found new insights into modes of colonial authority whilst parenting an unruly teenager. All these contributors emphasise that good history requires not a disavowal of personal motivations, but honesty, compassion and empathy.

Iain McCalman’s essay is one of the few to explicitly address issues pertaining to history outside the academy and to really underline the very serious issues that are at stake in the history wars debate: In museums, in the media, in the courts and in the universities, professional historians are being required as never before to defend the truth value of our discipline. We must face the brutal reality that it is the public and the government, rather than our own academic peers, whom we must persuade of our social and intellectual worth and who, directly or indirectly, pay for our research. Part of what is at stake in the History Wars is how we are able to assert and defend our authority as expert professionals. (p155) McCalman is right. We do need to persuade the public and government of the value of our research, particularly in an anti-intellectual climate that has grown so florid that Padraic McGuinness can be appointed to the ARC advisory board with barely a word of protest. McCalman writes lucidly of his experience writing history for a mainstream audience. This is surely one of the most urgent tasks for historians — to explain what we do and how we do it to a public that is clearly interested in Australia’s history.

It seems to me that at the heart of the history wars was a sense that academic historians had lost their authority, lost their control over the telling of the national story. I wonder if this loss of authority was because we have, to a great degree, stopped talking to the nation about its past on terms it understands. We have, for the most part, abandoned this ground to filmmakers, heritage consultants and, at the extreme, to the opinion columnists and their cronies. We need to start claiming it back, in both academic Public History Review, vol 14, 2007 155 and public history contexts. The academic rebuttals of Keith Windschuttle’s work that appeared recently are one way to do this. Opening up the academic conversation about history to a broader spectrum of participants is another. The Historian’s Conscience is a good starting point for this but it is not the last word on the questions of ethics raised by the history wars. Let’s hope the conversations continue.

Michelle Arrow lectures in Modern History at Macquarie University and was a historian-presenter on the ABC-TV series Rewind in 2004. Her first book Upstaged: Australian Women Dramatists in the Limelight at Last (2002) was short listed for several prizes, and she won the 2001 NSW History Fellowship.

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Escrita de si/ escrita da História | Ângela de Castro Gomes

Organizada por Ângela de Castro Gomes, chega-nos uma significativa contribuição ao debate teórico-metodológico referente à “escrita de si”. Embora sempre tenham sido usados como fontes pelos historiadores, o conjunto de fontes documentais composto por diários, correspondências, biografias e autobiografias, apenas recentemente passaram a ser considerados fontes privilegiadas de análise e objetos da pesquisa histórica. Resultado das transformações na prática historiográfica vindas da consolidação da chamada História Cultural, segundo a organizadora também social e política, que estabeleceu novos recortes e temáticas, bem como objetos, metodologias e fontes ao trabalho do historiador.

Visto que ainda são poucos os estudos voltados a uma reflexão sistemática sobre esse tipo de texto na área da história, a coletânea composta por dezesseis artigos não se apresenta como uma obra definitiva. Mas sim, como uma amostra expressiva das diversas possibilidades e limites do trabalho historiográfico que se utiliza desse conjunto de documentos seja como fonte, seja como objeto de pesquisa. “Exercícios de análise” demarcados pelo debate das relações ente história e memória, pela questão da temporalidade e pelo enfretamento da questão da dimensão subjetiva dessa documentação, onde se estabelecem procedimentos metodológicos de críticas as fontes históricas que descartam “a priori qualquer possibilidade de se saber “o que realmente aconteceu” ou, a “verdade dos fatos”. Leia Mais