The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith – Workers and Race before Liberation Theology | Ricardo Cubas Ramacciotti

O livro “The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology”, deRicardo D. Cubas Ramacciotti, publicado em 2018, chegou em boa hora. Abrange uma temática importante para o campo dos estudos sobre a história do catolicismo na América Latina na virada do século XIX para o XX.

Destacamos, ainda, a alta relevância que os temas relacionados à relação entre religião e política têm tido nas últimas décadas. Não se trata mais tão somente de conflitos localizados, na Irlanda, na Palestina, nos Balcãs, como o noticiário internacional tornara rotineiros no último quartel do século XX. Para compreender e analisar a conjuntura política internacional, nacional ou regional tornou-se indispensável nos despirmos das fantasias iluministas. As interpretações iluministas consideraram os espectros da irracionalidade produzidos por séculos de predominância da dominação religiosa e da sacralização do poder como superados, dado o avanço do desencantamento do mundo.

À relevância da obra que apresentamos aos leitores de Almanack, junte-se a qualidade de sua edição, publicado na coleção Religion in the Americas Series da prestigiada editora Brill, criada em 1683 em Lieden, nos Países Baixos, e que tem sede também em Boston, nos EUA [3]. Em português tem por título: “A política da religião e a ascensão do catolicismo social no Peru (1884-1935): Fé, Operários e Raça antes da Teologia da Libertação”. Tendo realizado estudos de mestrado e doutorado na Universidade de Cambridge na Inglaterra, o historiador havia feito sua graduação em História na Universidade Católica do Peru. Atualmente, é professor associado na Universidad de los Andes, em Santiago do Chile.

Ricardo Cubas optou pela metodologia e pelas técnicas de pesquisa da história das ideias (selecionando e organizando conteúdos temáticos). Estamos diante de um livro potente, que cobre uma lacuna para os estudos da história do pensamento católico na América Latina. E, diga-se de passagem, “Latina”, porque constituía a América que rezava em latim, na percepção dos maçons das lojas de Londres e da Filadélfia, tão atuantes que foram nos processos de independência dos países ao Sul do rio Grande (do México até a Patagônia). A nosso ver, mais importante do que destacar as disputas entre Inglaterra e França pelo espólio dos impérios ibéricos no século XIX, convém atentar para o olhar colonial dos agentes dos novos impérios, que levou os franceses a proclamarem suas afinidades com a latinidade para justificar suas ambições imperialistas. Entretanto, as associações entre a catolicidade da América Latina e o “atraso” e outras desqualificações intelectuais e morais se apresentaram no palco destas disputas e estão a produzir efeitos políticos e ideológicos que ecoam até o tempo presente. [4]

O livro aborda a problemática da relação entre religião e política no contexto mais amplo do conflito entre o catolicismo e os movimentos de secularização da sociedade peruana. Analisa o processo de renovação do mundo católico, face às transformações socioeconômicas da expansão global do capitalismo industrial a partir da década de 1860. A temporalidade enfocada vai de o fim da Guerra do Pacífico (1879-1884) até os anos imediatamente posteriores a crise mundial de 1929 e a queda do regime de Augusto B. Leguía em 1930. Neste período, a formação histórica peruana iniciou um processo de reconstrução nacional caracterizada pela aplicação de novos modelos de crescimento econômico e desenvolvimento urbano.

Entretanto, os processos históricos transnacionais não implicaram tão somente questões referidas à expansão econômica e modernização urbano-industrial. Em toda esta temporalidade abrangida pelo livro em tela, ocorreram disputas entre a reação conservadora (do fundamentalismo católico ultramontano) e o processo de modernização e reforma do catolicismo. Durante o papado de Pio IX (entre 1846-1878) ocorreu uma forte reação conservadora que promoveu a devoção ao Sagrado Coração e estimulou a revivificação [5] da teologia tomista, atualizando o neotomismo das reformas religiosas do século XVI (também conhecido como segunda escolástica). No papado seguinte, Leão XIII promulgou a encíclica Aeterni Patris que, mais do que qualquer outro documento, forneceu uma carta para a atualização histórica do tomismo – o sistema teológico medieval baseado no pensamento de Tomás de Aquino (século XIII) que fora atualizado no século XVI; e que se tornou oficial e tido como sistema filosófico e teológico da Igreja Católica na virada para o século XX. Deveria ser normativo não apenas no treinamento de padres nos seminários da igreja, mas também na educação dos leigos nas universidades. Por outro lado, introduziu na igreja de Roma, através da encíclica Rerum Novarum (de 1891), a reflexão sobre a “questão social”, que convocou os católicos a pensarem e agirem diante do avanço do movimento operário organizado internacionalmente (Associação Internacional dos Trabalhadores, de 1864, e II Internacional Socialista, de 1889, marcada pela reorganização após a forte repressão política aos movimentos operários depois da Comuna de Paris, de 1871). Estavam dadas as condições históricas de avanço e consolidação das duas posições políticas que dividem o campo político do catolicismo romano desde o último quartel do século XIX: o integrismo e o solidarismo.

Temos no livro de Ricardo Cubas um enquadramento da circulação de ideias entre Europa e América Latina, que foi tratada em sua complexidade e abrangência, envolvendo tanto um processo de expansão da internacionalização do capitalismo, quanto uma retomada vigorosa do catolicismo e do tomismo [6], que constitui também um processo inscrito no plano internacional. Afinal, “católico” é sinônimo de “universal”.

O livro de Cubas Ramacciotti analisa como ocorreram mudanças no catolicismo em termos globais e como manifestaram-se no caso peruano, onde a secularização do poder implicou um processo de transição de um governo confessional que proibia a culto público de credos não católicos ao reconhecimento legal de diferentes religiões, especialmente a partir de 1915, e, posterior à separação entre igreja e Estado. Também implicou uma influência eclesiástica decrescente sobre a legislação peruana, especialmente sobre temas relacionados à educação pública e à concepção católica de direito natural, família e casamento. O capítulo dedicado a estas questões está muito bem construído.[7] Ocorreram, ainda, a eliminação de tribunais corporativos especiais para o clero e o deslocamento gradual da Igreja de funções que passaram para o controle estatal, como o registro civil, o bem-estar social e a saúde pública. Outra característica, que não é o foco principal de estudo neste livro, mas está bem colocado no livro, foi a transformação das relações econômicas entre igreja e Estado, incluindo uma expropriação antecipada de algumas propriedades eclesiásticas e uma redução gradual – embora não a eliminação – de certos privilégios fiscais e subsídios públicos à Igreja.

Do ponto de vista sociopolítico, a secularização foi caracterizada pela influência de novos atores: liberais, maçons e positivistas, que, por razões muito diferentes, desafiaram a hegemonia cultural e social do catolicismo no Peru. Por outro lado, os protestantes visavam alcançar maior tolerância religiosa para expandir seus projetos pastorais e educacionais. Marxistas e apristas questionaram as estruturas econômicas e sociais do país como um todo e defendiam uma revolução radical. O livro aborda, portanto, um universo de três tópicos interconectados: a resposta eclesiástica à secularização da política, a revitalização interna da Igreja no Peru e a ascensão do catolicismo social. Paradoxalmente, essa situação permitiu à Igreja promover várias iniciativas pastorais, sociais, educacionais e políticas que, por sua vez, foram fundamentais para preservar e expandir a presença católica na sociedade peruana.

A interpretação de Ricardo Cubas é de que a aplicação do pensamento social católico no Peru teve que ser adaptada à realidade específica do país e apresentou respostas distintas daquelas implementadas na Europa. O livro analisa, assim, uma tendência dentro do catolicismo peruano algumas décadas antes do surgimento da Teologia da Libertação, que foi moldada por diferentes paradigmas teológicos e políticos. Tal situação avançou com uma agenda reformista, mas anti-revolucionária, que abordava a nova política social, incluindo os trabalhadores urbanos e as populações indígenas. Essa agenda englobava uma defesa dos direitos individuais e corporativos de trabalhadores e dos índios contra seus detratores e exploradores. Demandava também mudanças legais e institucionais para proteger esses direitos; iniciativas de bem-estar; uma reavaliação de culturas e línguas nativas; e esforços para integrar as populações indígenas.

Na organização dos capítulos, o livro inicia com informações históricas sobre o regalismo no mundo hispano-americano, de fins do século XVIII, que deu suporte à monarquia católica. Situou o Absolutismo Ilustrado e suas reformas até a independência política, provocando uma crise eclesial que ficou sujeita às pressões da Santa Aliança e tudo que implicou de afirmação da reação conservadora, na América Latina, tanto quanto na Europa.

As Parte II e III do livro são as melhores que o autor nos apresenta, seja pela pesquisa que aparece em sua plenitude na narrativa histórica empreendia pelo autor, seja pelas novidades que aporta. Nelas o livro se desprende da formatação de pesquisa de tese de doutorado que deixava transparecer até então. Os subtítulos são sugestivos: A revivificação católica (The Catholic Revival) [8] e Catolicismo Social (Social Catholicism) [9]. Nesta parte III, não podemos deixar de ressaltar o tratamento dado à criação dos círculos operários [10], uma estratégia global da igreja romana. Paralelamente à formação intelectual do laicato através de uma política educacional, o catolicismo social voltou-se para o operariado dos centros urbanos latino-americanos (no Peru, e no Brasil). [11]

Entre os pontos altos do livro está a forma como Ricardo Cubas pontua numa cadência bem distribuídas as forças políticas divergentes no interior do catolicismo romano. Analisa, por exemplo, o renascimento da educação católica, e aqui estamos traduzindo literalmente a expressão utilizada no original do texto de tese: “The rebirth of Catholic Education”.[12] No Brasil, a historiografia tem usado outra terminologia para referir-se à reforma católica do final do século XIX: recristianização pelo novo esforço de evangelização e repovoamento das diferentes regiões que compõem o país. A nosso ver, esta outra conceituação é mais adequada, pois, de fato, os episódios analisados envolvem a evangelização promovida durante o período colonial e a estratégia de conversão abrangente através dos colégios dos jesuítas. Com a expulsão dos jesuítas da Europa (que atingiu também as áreas colonizadas nas Américas), no século XVIII, e com o avanço do processo de secularização produzido pela radicalidade da revolução burguesa na França, mas não só, seria demasiado e historicamente impróprio denominar a reforma religiosa de modernização do catolicismo em fins do século XIX de “renascimento da Educação católica”. No Peru, como também no Brasil, ocorreu, desde então, uma pregação religiosa de que o Estado não é capaz de manter escolas públicas de qualidade [13]. De fato, a estratégia tão bem descrita por Ricardo Cubas, para o caso do Peru, mas que também ocorre em outras formações históricas da América Latina, foi o “repovoamento da Igreja”, com a vinda de educadores missionários para criação de colégios confessionais católicos, com motivações claras na direção de formação do laicato urbano, letrado e moderno.[14]

Para o caso do Peru, Ricardo Cubas destaca a força política da Educação católica, tendo em vista uma atuação política diante da separação entre igreja e Estado. Muitos colégios foram criados (tal como no Brasil), e ressalta a importância da Congregação dos Sagrados Corações (de Jesus e de Maria), que chegou no Peru em 188815, sendo muito prestigiada pela elite católica peruana. A Congregação havia sido criada em Paris, na Rue Picpus, em 1800.

Não por acaso, a efervescência política e excelência da produção intelectual peruana neste período é notável, pelas possibilidades de elaboração de uma reflexão marxista original e de peso teórico na pena de José Carlos Mariátegui (em seu livro, “Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana”, de 1924); tanto quanto a criação de condições históricas para a elaboração mais acabada da Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, monge dominicano de ascendência quéchua. Tanto o revolucionário, quanto o teólogo estudaram na mais antiga universidade das Américas, a Universidad Nacional de San Marcos. O livro mais conhecido de Gutiérrez, “A Teologia da Libertação: História, Política e Salvação”, de 1971, responde ao movimento mais amplo emergido no Segundo Pós-Guerra (décadas de 1950-60) que resultou na convocação das conferências episcopais latino-americanas16, cujos primeiros resultados influíram diretamente na inclusão da pauta de justiça social e opção preferencial pelos pobres.

Notas

3. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

4. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Sobre o Conceito de América Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

5. Empregamos aqui a expressão “revivificação” retirada do livro de Carl Schorske: SHCORSKE, Carl. A revivificação medieval e seu conteúdo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a História. Indagações na Passagens para o Modernismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

6. Temos referido a este movimento de revigoramento do tomismo que avança pelo século XX, como “terceira escolástica”. Nem tanto pela “revivificação” neotomista do medievalismo da reação conservadora e do conservadorismo romântico, mas, sobretudo, pela reforma religiosa de modernização e inclusão da “questão social” no pensamento católico, em sua incidência sobre o campo jurídico. NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Jurídicas e Sentimentos Políticos na Passagem à Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

7. Parte I, capítulo 2: The Secularisation Process during the Aristocratic Republic (1884–1919), p. 49-68. O tema é importantíssimo. O debate sobre o casamento civil no Brasil arrastou-se por longos anos onde a confrontação entre o catolicismo ultramontano (que concebia o casamento como um sacramento, indissolúvel) e o catolicismo ilustrado (defensor da modernização do direito de família) criou impasse que resultou no uso dos dispositivos legais das Ordenações do Reino (livro IV, Ordenações Filipinas de 1603) por quase um século depois da independência do país de Portugal (1822) e 27 anos depois da república proclamada. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Ideias Jurídicas e Autoridade na Família, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

8. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Parte II, p. 99-168.

9. Ibidem, Parte III, p. 169-200.

10. Ibidem, p. 184.

11. Os círculos operários no Brasil foram pesquisados e interpretados no trabalho pioneiro de Jessie Jane de Sousa Vieira. SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Círculos Operários- a Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002.

12. Ibidem, p. 144-145.

13. Ibidem, p. 145.

14. GOMES, Francisco José. Le projet de néo-chrétienté dans le diocèse de Rio de Janeiro de 1869 à 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991. GOMES, Francisco José Silva. De súdito a cidadão: os católicos no Império e na República,.In: MARTINS, Ismênia de Lima; IOKOI, Zilda Márcia Grícoli e SÁ, Rodrigo Patto de. (Orgs.). História e Cidadania. São Paulo: Humanitas Publicações/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

15. No Brasil, a Congregação dos Sagrados Corações chegou em 1911.

16. Rio de Janeiro (1955), seguida da de Medellín, Colômbia (1968) e Puebla, no México (1979), as mais importantes.

Referências

CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

GOMES, Francisco Jose Silva. De sudito a cidadao: os catolicos no Imperio e na Republica, In: MARTINS, Ismenia de Lima; IOKOI, Zilda Marcia Gricoli e SA, Rodrigo Patto de. (Orgs.). Historia e Cidadania. Sao Paulo: Humanitas Publicacoes/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

GOMES, Francisco Jose. Le projet de neo-chretiente dans le diocese de Rio de Janeiro de 1869 a 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991.

NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Juridicas e Sentimentos Politicos na Passagem a Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO FILHO, Gisalio. Ideias Juridicas e Autoridade na Familia, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisalio. Sobre o Conceito de America Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Seccion Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

SHCORSKE, Carl. A revivificacao medieval e seu conteudo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a Historia. Indagacoes na Passagens para o Modernismo, Sao Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Circulos Operarios- a Igreja Catolica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002

Gizlene Neder1;2 – Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói – Rio de Janeiro – Brasil. Professora Titular de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail: [email protected]


CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology. Lieden/ Boston: Brill, 2018. Resenha de: NEDER, Gizlene. Secularização e reforma católica no Peru na virada para o século XX. Almanack, Guarulhos, n.26, 2020. Acessar publicação original [DR]

La vaquerita y su canto: una antropología de las emociones: canciones rituales ganaderas en los Andes peruanos contemporáneos – RIVERA ANDÍA (EA)

RIVERA ANDÍA, Juan Javier. La vaquerita y su canto: una antropología de las emociones: canciones rituales ganaderas en los Andes peruanos contemporáneos. Buenos Aires: Asociación Civil Rumbo Sur, 2016. Resenha de: MARTÍN, Patricia Vicente. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.60, dic., 2018.

La simultaneidad es necesariamente equívoca en los escritos; esta característica se acentúa cuando se tra ta de textos etnográficos donde la alteridad, propia de la disciplina, se cruza con la presencia múltiple de acciones y significados en un mismo ritual. Este es el caso de la herranza -ritual ganadero de gran popularidad en el área andina- y de este libro, que constituye un triple comentario del mismo.

El autor, Juan Javier Rivera, es uno de los referentes más importantes en lo que concierne a rituales gana deros andinos. En esta ocasión aborda, además del sentimiento trágico de las canciones, dos posibles significados de la herranza: la mocedad y el desa rraigo. Menos evidentes éstos y sin ninguna relación con las reses.

De las dos partes que componen el libro, la primera queda reservada al desarrollo de esos dos sentidos velados en la herranza, además de abordar la visión que se tiene en los Andes de la puna, los espíritus tutelares de los cerros y el significado de los llakwash en el valle de Chancay.

La puna es el espacio donde habita el ganado y es contemplada por el pastor como un espacio inquie tante por estar repleto tanto de riquezas como de amenazas. El paisaje andino está habitado por un conjunto de entidades, como los awkillos o espíritus de los cerros, a quienes se les presupone un ca rácter ambivalente, que oscila entre una condición pletórica y proveedora y otra agresora y codiciosa; guardan, además, una estrecha vinculación con las reses y también con los manantiales de agua. Son, en definitiva, los dueños venerables de los recursos fun damentales para la vida agreste: la tierra, el agua y el ganado. Quedaría por apuntar brevemente algunas notas sobre la figura del llakwash. Actualmente en el valle de Chancay, el llakwash es aquel que cuida del ganado menor en las estancias, aunque es un térmi no que posee otras connotaciones; refiere también al forastero, a la gente arisca y poco refinada o a aque llos que hablan y se mueven de manera diferente. Es, en definitiva, la figura que ilustra las relaciones de la puna con el valle al ser considerado el afuerino digno de conmiseración.

Para el autor, analizar la herranza consiste en buscar los significados sociales de las acciones contenidas, en indagar las categorías simbólicas y en la delineación de la sensibilidad que ordena los gestos que la com ponen. En cuanto a su interpretación, aun cuando existen dos caminos posibles que son compatibles, el autor opta por desarrollar uno de ellos: el plano mo ral, aquel que trata de indagar acerca de los ideales expresados por el ritual. Así, la herranza se convierte en la expresión de unos valores que conciernen a la animalidad, la adolescencia y el desarraigo.

Pudiera parecerle al lector el primer sentido -el de la mocedad- más evidente que el segundo. La ma durez es un rasgo de valor a transmitir en el ritual por parte de los ganaderos adultos a los mozos, a quienes se aleja de las alturas para su ingreso en la sociedad. La consideración de la herranza como un comentario sobre la pertenencia o desarraigo frente a un grupo social constituye el dominio de signifi cación más esquivo, cuya lectura se hace a partir de silencios. La comercialización del ganado produce un fuerte malestar, pero las referencias a las reses en las canciones son -para el autor- un lenguaje retóri co que habla de otra cuestión: la necesidad de emi grar a áreas urbanas, proceso que fomenta el olvido parcial de lo propio.

La segunda parte de la monografía está dedicada a las canciones entonadas en la herranza. Éstas reci ben dos nombres: taki y anti, y aparecen en el mo mento que se humaniza a las reses. Las tonadas y otras situaciones como vestir, bautizar o casar a los animales buscan humanizarlos; el ritual rompe tem poralmente dos fronteras metafísicas y contribuye a la confusión entre los ámbitos de la animalidad y de la humanidad. Así, las canciones constituyen una prosopopeya constante, en la que se establece una metáfora filial que hace de la vaca, madre y del toro, padre. También se convierten en endechas al cantar los amores juveniles, cuya persona amada se convierte en algún animal de la puna.

Es en esta parte de la monografía donde el autor aborda el otro sentido: el del desarraigo. Éste se lee a través de silencios, al considerar la herranza y sus canciones como un comentario crítico de la situa ción actual. Para el autor, el drama de la comerciali zación de las amadas reses es, en realidad, el drama de los campesinos emigrantes. De esta manera, el ganado se convierte en “una suerte de idioma por medio del cual se expresan las emociones que pro ducen determinadas relaciones sociales”.

Los tres comentarios que suscita el ritual ganadero de la herranza son tres fronteras que corresponden a diferentes ámbitos de la condición humana: la frontera que separa la humanidad de la animalidad; aquella que distancia la madurez de la mocedad, y, por último, la relativa al desarraigo, que diferencia el ámbito campesino local del urbano nacional. Inter calar ambas fronteras en un escrito genera un texto que tan pronto pasa de cuestiones ontológicas a una crítica de la situación económica actual. Su lectura genera una sensación extraña, fruto de saborear la imposibilidad de escribir la simultaneidad de las co sas. Sobre esta desesperación escribió Borges cuando contempló el Aleph y mostró la incapacidad de la es critura de describir todas las imágenes del universo.

Patricia Vicente Martín – Universidad Complutense de Madrid, ESPAÑA. Email: [email protected]

Acessar publicação original

[IF]

Unearthing Conflict: Corporate Mining, Activism and Expertise in Peru – LI (A-RAA)

LI, Fabiana. Unearthing Conflict: Corporate Mining, Activism and Expertise in Peru. Durham y Londres: Duke University Press, 2015. Resenha de: CARMONA, Susana. Antípoda – Revista de Antropolgía y Arqueología, Bogotá, n.26, set./dez., 2016.

En Unearthing Conflict: Corporate Mining, Activism and Expertise in Peru (Desenterrando el conflicto: minería corporativa, activismo y experticia en Perú1), Fabiana Li explora la proliferación de conflictos en torno a la minería en el Perú desde una perspectiva que pone énfasis en la agencia de elementos no humanos en las controversias. El texto parte de una contextualización histórica para desarrollarse a través de una rica etnografía de agradable lectura, en la cual se analizan con detalle los conflictos mineros en los cuales los más diversos actores entran en escena.

Al igual que otros países en América Latina, las reformas neoliberales de los noventas en el Perú significaron un énfasis en las actividades extractivas y su vinculación con la idea de “desarrollo” y “progreso”. Al mismo tiempo, la oposición social a la minería se incrementó a pesar de los esfuerzos de gobiernos y corporaciones por manejar los conflictos con planes de manejo, estudios técnicos y un despliegue de conocimiento experto que se analiza en el texto. El libro está escrito a partir de dos casos específicos: primero, el de la ciudad de La Oroya en donde se encuentra desde hace más de noventa años un complejo metalúrgico, caso que se desarrolla en el primer capítulo; segundo, la minera Yanacocha en la región de Cajamarca, caso que ocupa el resto del libro.

Unearthing conflict es el resultado de dos años de trabajo etnográfico de la autora en Perú, principalmente en la ciudad de Cajamarca. Como es usual con este tipo de estudios etnográficos, los lugares de observación son muy variados e incluyen no solo la tradicional permanencia con las comunidades, sino también la asistencia a reuniones entre comunidades, empresas y Estado, la visita de inspección a un canal de riego, los espacios de revisión y difusión de un Estudio de Impacto Ambiental (EIA), entre otros. La autora habla de un vínculo especial con la organización social Grufides, que tuvo un papel importante en los conflictos con la minera Yanacocha. El seguimiento a esta organización le permite a la autora dar cuenta de la criminalización de la protesta por parte del Estado, de la separación entre lo “técnico” y lo “político” y, finalmente, de las críticas -externas, pero también desde adentro- a la transformación de una organización social en un partido político.

El objetivo del libro es analizar los elementos que las tecnologías de minería “moderna” (representadas en la minera Yanacocha) han traído al escenario político peruano y que se diferencian de la “vieja” minería (representada en el libro con el caso de La Oroya). La autora se pregunta por la forma en que elementos no-humanos, como la contaminación (pollution) y el agua, se han convertido en los principales puntos contenciosos en los conflictos entre comunidades locales y corporaciones mineras.

Li retoma el concepto de controversias de Latour (2004), que se define como el momento en que las cosas dejan de ser “hechos” (matters of fact) para convertirse en “asuntos de preocupación” (matters of concern). Esto ocurre con la contaminación, con el agua y con otra serie de entidades que son desenterradas por la minería. Según la autora, estos elementos no-humanos se entienden mejor como elementos que no se agotan en un único punto de vista, sino que son construidos desde múltiples perspectivas. Esta construcción es el efecto de relaciones entre actores y su existencia se debe a prácticas específicas que los producen, como por ejemplo estudios técnicos, foros de debate, alianzas y mesas de concertación, movilizaciones sociales, entre otros.

La autora devela en su etnografía lo ambiguas y contradictorias que resultan ser las relaciones entre las empresas y las comunidades, llenas de alianzas, colaboraciones inesperadas y rupturas. Esto la lleva a ampliar la noción de conflicto y a reformularla como relaciones cambiantes entre lugares, personas y cosas, así busca trascender la noción que los conflictos en torno a la minería son un resultado de la falla del Estado o de la actuación corporativa. En palabras de la autora: “no trato a las redes de activistas y a las redes corporativas como antagonistas ideológicas, sino que enfatizo en las alianzas cambiantes entre varios actores y las maneras en que trabajan al mismo tiempo con y en contra de intereses corporativos” (2015, 6). Para su análisis la autora retoma los Estudios de Ciencia y Tecnología (ECT), la ecología política y los estudios críticos del paisaje; de este último, se incluye una perspectiva del paisaje no solo en sus cualidades materiales sino también como agente. Retoma igualmente la idea de los conflictos por extracción de recursos naturales como conflictos ontológicos sobre la producción de mundos y, de esta forma, logra “examinar el cómo cosas como la polución toman forma y se vuelven tangibles, cuándo estas importan y para quién son políticamente significativas” (Li 2015, 21).

El libro es un interesante ejercicio etnográfico en que se contemplan elementos poco comunes a la hora de pensar conflictos mineros en América Latina. Lo más interesante es la atención que pone la autora a las prácticas corporativas que se enmarcan dentro de la “Responsabilidad Social Corporativa” y que incluyen la participación comunitaria, los estudios de impacto ambiental, la rendición de cuentas, la adhesión a estándares internacionales, entre otras. Estas prácticas surgen como respuesta a los movimientos de oposición a la minería y a un interés global en asuntos ambientales y de derechos humanos, sobre los cuáles la antropología apenas recientemente ha posado su interés. Li describe estas prácticas como parte de una “lógica de equivalencia” que busca, mediante procesos de conmensuración y con un despliegue de conocimiento experto técnico-científico, saldar deudas sociales y ambientales. Las equivalencias tienen el efecto de desparecer el aspecto político de los conflictos y poner en términos técnicos las soluciones. Sin embargo, se trata de acuerdos temporales y negociaciones constantes en que las comunidades no se sienten compensadas, pues son intentos de conmensurar lo inconmensurable. Las prácticas corporativas, el activismo y la lógica de equivalencia son rastreados etnográficamente a lo largo de cinco capítulos y un apartado final de conclusión.

La primera sección del libro se titula “Minería, pasado y presente” y en su primer capítulo “Legados tóxicos, activismo naciente” se concentra en el caso de la ciudad de La Oroya, que le permite a la autora presentar la historia minera del país y la agencia de elementos no-humanos, en este caso “los humos”, en el surgimiento de conflictos. Cuando en 2006 una organización norteamericana nombró a La Oroya como uno de los diez lugares más contaminados del mundo, la contaminación en esta ciudad se convirtió en un “asunto de preocupación” global. Para este momento la compañía incrementó sus programas con el fin de contrarrestar las emisiones toxicas, se llevaron a cabo estudios por parte de ONG activistas y de la misma compañía, se implementaron mesas de concertación y se involucró a la comunidad en el manejo de los problemas ambientales.

Muy interesante en este capítulo es la descripción de la forma en que la compañía transforma su obligación de rendir cuentas por sus acciones (corporate accountability) en “responsabilidades compartidas”. Esto último se logra al concentrar esfuerzos en el monitoreo de la salud de los habitantes, el control del riesgo en los puestos de trabajo, el monitoreo comunitario y la promoción de “hábitos saludables”. Estas acciones hacen parte de nueva dinámica en la cual las empresas buscan posicionarse como representantes de la minería moderna y sostenible. La trasformación de elementos no-humanos en asuntos de preocupación y por lo tanto en objetos de conocimientos, se repite a lo largo de los distintos conflictos analizados en el texto: una montaña, canales de irrigación o lagunas. La diversidad de visiones frente a estos elementos es lo que analiza la autora en el resto del libro, al poner énfasis en las prácticas corporativas de generación de equivalencia y en las prácticas de activistas que apelan a argumentos no técnicos.

En este punto la autora pasa al caso de la minera de oro Yanacocha, en cuyo contexto se enfoca en el resto del libro. El capítulo dos “mega-minería y conflictos emergente” narra la historia de la minería en el Perú y su giro hacia la mega-minería. A pesar de las promesas de progreso y de pertenecer al nuevo paradigma de “Responsabilidad Social Corporativa” que generaron enormes expectativas en las comunidades, los efectos de Yanacocha sobre el agua han disparado una enorme oposición a la empresa y a la minería.

A través del análisis de un estudio de la calidad del agua elaborado por una mesa de concertación entre la industria minera, el Estado y las comunidades la autora muestra cómo se producen colaboraciones entre actores y cómo los resultados son usados e interpretados de formas diversas. En este contexto se comienza a hacer evidente que la “percepción” de las personas no se considera un argumento legítimo y que solamente en el marco de un discurso técnico, desde el Estado y la empresa, se habla de compensación y de las preocupaciones sociales, políticas y éticas por el agua.

Tras haber introducido el agua como elemento central de la disputa, la autora pasa en la segunda parte del libro “Agua y Vida” a analizar la forma en que el agua se convierte en un elemento central de la política, generando protestas y movilización internacional en contra de la minería. En el capítulo tres, “La hidrología de una montaña sagrada”, la autora muestra la controversia por el proyecto de explotación a cielo abierto en el Cerro Quilish. Tras mostrar que el cerro es un objeto múltiple que carga al mismo tiempo identidades como depósito de oro, acuífero y montaña sagrada, la autora concluye que en este tipo de conflictos la multiplicidad con que se miran elementos de la naturaleza permiten dar al cerro relevancia política de forma que se “excede la política tal como la conocemos” (De la Cadena 2010). Sin embargo, los argumentos técnicos relacionados con la importancia del cerro como depósito de agua predominaron en la disputa. Esto lleva a la autora a profundizar, en el siguiente capítulo, sobre la lógica con que opera la compañía minera.

En el capítulo cuatro, “Irrigación y equivalencias impugnadas”, la autora analiza de forma detallada la “lógica de equivalencia”. A partir de la historia de unos canales de irrigación afectados por la minería de oro, se narra cómo la empresa llegó a acuerdos de compensación con los campesinos que consistían en dinero en efectivo, contratos de trabajo y asistencia para el desarrollo. La autora muestra el choque de formas de conocimiento y la imposición de los criterios técnico-científicos en las negociaciones. Expone también cómo la equivalencia discrepa con los arreglos políticos preexistentes y por tanto genera conflictos internos a las comunidades. Además, presenta cómo aparecen nuevas dinámicas que hacen proliferar los conflictos, por ejemplo el incremento inusitado del número de usuarios del canal que buscan compensaciones.

No obstante, hace falta un mayor énfasis etnográfico en el cara a cara de la negociación entre los campesinos y los funcionarios de la empresa, así como incorporar el análisis de uno de los elementos más intrigantes de los modelos de desarrollo que llegan con la Responsabilidad Social Corporativa y que la autora no menciona en el texto: el deseo de las personas de hacer parte de sus proyectos. Sin desconocer que efectivamente la lógica de equivalencia opera en la negociación y que los criterios técnicos predominan frente a otras formas de conocimiento, no se explicita el por qué y el cómo los campesinos llegan a este tipo de acuerdos, los aceptan y desean su continuidad.

La forma en que está escrito el texto y los elementos sobre los que se hace énfasis, dejan la sensación de que se trata de una imposición de la corporación malévola y desestiman la agencia de los campesinos en esta negociación. Sin embargo, la etnografía es rica en mostrar el cambio de las relaciones de la gente con el canal de riego y las desigualdades que genera la presencia de la mina en la comunidad.

Finalmente, en la última parte del libro “activismo y experticia”, la autora se concentra en el análisis de un dispositivo corporativo que ha entrado a dominar la escena política en torno a la minería: el EIA. Según Li, los EIA forman parte de una estructura regulatoria que facilita la extracción de recursos y son una de las banderas de la rendición de cuentas corporativas. La autora se concentra en los efectos del EIA y concluye que los impactos identificados son solo aquellos que pueden ser manejados técnicamente, que los procesos de participación y divulgación circunscriben los espacios de oposición al documento y que los procedimientos y formatos asociados al documento son más importantes que su mismo contenido. Esto último lleva a las personas a buscar nuevas estrategias políticas como “salirse del documento”, mediante la no-participación en las instancias oficiales. Una versión preliminar de dicho capítulo de encuentra publicada en Li (2009).

En la conclusión del libro se retoma otro conflicto en torno a la minera Yanacocha. Se trata del proyecto “Minas Conga”, el cual afectaría cuatro lagunas que emergen como los focos de la disputa. Según la autora, el conflicto por Minas Conga encapsula la política de la extracción que se ha mostrado a lo largo del libro, situación que es aprovechada para resumir las conclusiones principales de cada capítulo. Las reflexiones finales se refieren a la hegemonía del conocimiento experto, en este punto la autora deja entrever cierto desconcierto y en un tono de resignación afirma que no se puede negar la fuerza del Estado y el rol de la violencia corporativa y estatal para suprimir la oposición y limitar las posibilidades de acción política; sin embargo, el libro concluye con una reflexión sobre las posibilidades del activismo. Para Li los actores no humanos que se desentierran con la minería moderna, han permitido a los opositores hacer oír sus demandas y desestabilizar visiones dominantes en que la naturaleza es vista como un conjunto de “recursos” que deben ser administrados. Estos objetos, en casos como los que se presentan en el libro y se observan cotidianamente en muchos contextos mineros de América latina, abren nuevos espacios de resistencia.

El libro es una interesante reconstrucción de las dinámicas en torno a la minería desde una perspectiva que permite ver más allá de una tradicional lucha entre actores hegemónicos y no hegemónicos. La atención a las relaciones entre personas y cosas evidencia cómo elementos no humanos llevan a los actores -tanto comunitarios como corporativos- a movilizarse, ya sea para defender un modo de vida tradicional que se ve amenazado o para hacer viable por medio de lógicas de equivalencia una actividad económica extractiva.

Comentario

1 Traducción propia.

Referencias:

De la Cadena, Marisol. 2010. “Indigenous Cosmopolitics in the Andes: Conceptual Reflections beyond ‘politics.’” Cultural Anthropology25 (2): 334–370.         [ Links]

Latour, Bruno. 2004. Politics of Nature: How to Bring the Sciences into Democracy. Cambridge: Harvard University Press.         [ Links]

Li, Fabiana. 2009. “Documenting Accountability: Environmental Impact Assessment in a Peruvian Mining Project.” PoLAR: Political and Legal Anthropology Review32 (2): 218–236.         [ Links]

Li, Fabiana. 2015. Unearthing Conflict: Corporate Mining, Activism, and Expertise in Peru. Durham y Londres: Duke University Press.         [ Links]

Susana Carmona – Antropóloga, magíster en Estudios Socioespaciales de la Universidad de Antioquia, magíster en Antropología y estudiante del doctorado en Antropología en la Universidad de los Andes. Entre sus últimas publicaciones están: coautora en “Números, Conmensuración y Gobernanza en los Estudios de Impacto Ambiental”. Revista Iberoamericana de Ciencia, Tecnología y Sociedad 10 (30), 2015. “La Percepción de los Impactos Sociales de la Producción de Petróleo: el Caso de Casanare, Colombia”. Southern Papers Series/Working Papers Sur-Sur 21, 2015. E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[IF]

 

Migración peruana en Santiago: prácticas, espacios y economías – GARCÉZ H (EA)

GARCÉZ H., Alejandro. Migración peruana en Santiago: prácticas, espacios y economías. Santiago: Ril Editores, 2015. Resenha de: CORTÉS, Vicente. Estududios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.51, dic., 2015.

  1. ¿Qué es “un problema de espacio”?

¿Qué es lo que un etnógrafo puede decirnos acerca del espacio? El libro Migración peruana en Santiago, del profesor Alejandro Garcés (Universidad Católica del Norte), aborda “un campo de fenómenos que describen la presencia y la diferencia que la migración peruana introduce en el espacio urbano [de Santiago]” (14-15). El problema parece, de esta forma, fácilmente definido: un problema de concentración de migrantes peruanos, y la ocupación o territorialización del espacio público, que dan lugar a una “aglomeración de lo peruano” (15). Problema de espacio inmediatamente correlativo y coextensivo a un problema identitario, o mejor —como dice con precisión el auto—, a un problema de denotación.

  1.   De la antropología a una etnografía fenomenológica

No habría que equivocarse, sin embargo. No hay unidad hipostasiada de “lo peruano” ni mucho menos la intención de delimitar “el espacio de lo peruano”. El autor pretende, a la vez, mucho más que la mera taxonomización, identificación y caracterización de un grupo supuestamente homogéneo, y también mucho menos; puesto que el autor parece haber renunciado de entrada al saber antropológico que tiende a reducir la sociedad o colectividad migrante a una supuesta identidad peruana (determinante de todo un carácter, de una serie de hábitos, de un ethos correlativo a una esencia, si se quiere), reducción que no es sino la reducción del problema del proceso migratorio a un problema policial o psicológico. Mucho más también, puesto que se trata de un trabajo etnográfico: la descripción de una población en proceso de migración y de los modos de producción de espacios (residenciales, económicos, culturales, de ocio). De suerte que la pregunta no es “¿qué es lo peruano?”; la pregunta es “¿cómo ‘lo peruano’ ha llegado a constituirse en la forma en que precisamente se ha constituido y se sigue constituyendo?”. Dicho de otra forma: ¿cómo lo peruano ha llegado a constituirse en un proceso experiencial que es indisociablemente interno y externo? El lector atento habrá notado que estamos frente a un libro con profundas raigambres filosóficas: toda una etnografía fenomenológica de la experiencia migrante, una etnografía de los fenómenos de formación social de la ocupación territorial migrante. Así las cosas, para hacer la etnografía de la territorialización peruana en Santiago, no se puede intervenir el “campo de fenómenos” con un logos supuestamente anterior a la voz (y menos cuando la unidad de un grupo, como nota el autor [19] solo puede fijarse por el trayecto que va de un país de origen a una ciudad de destino). Es necesario dejar discurrir la voz del migrante y atender a lo que dice. Y es precisamente como comienza esta investigación: el etnógrafo logra introducirse en una reunión de migrantes peruanos en la discoteca-restaurante La Conga (Santiago Centro) para no solamente “presenciar” o “ver”, sino también, y sobre todo, escuchar la voz migrante. ¿Qué se dice? Sería ingenuo creer que el etnógrafo se encontrará por fin con la expresión auténtica de “lo popular” del “otro”. Los problemas son de praxis: los migrantes plantearon problemas tales como la necesidad de construir una “mediación entre origen y destino” (problema residencial o de “territorialidad otra” [32]), o “la disputa de una legitimidad para la interlocución con las autoridades locales chilenas” (problemas de fiscalización y policial); por último, la necesidad de “desconcentrar la zona” económica ocupada por ellos mismos en Santiago Centro (problema de la “economía étnica”). Al “problema de espacio”, problema de la “diferencia migrante” (21), responde, desde dentro, toda una política de espacios. Lección profunda: cuando no se tiene nada que decir, hay que comenzar por escuchar.

  1. Espacio y lugar

Con esto tenemos también la matriz directora del presente trabajo: no se trata de saber cuán o cuán poco integrados están los peruanos (por qué no los colombianos, o los mismos chilenos, pregunta el autor en una nota importante de la página 19); tampoco se trata de acusar discriminaciones. El problema es el de la “constitución de un locus”, esto es, no de un mero espacio indeterminado, homogéneo, sino de un lugar cualitativamente diferenciado: “locus de recursos” o de “estigmatización”. En efecto, “estos espacios presentan en su interior un carácter propio, una especificidad de interacciones y prácticas sociales, de sentidos producidos por la experiencia migrante, que le dotan de una densidad específica” (20). ¿Quiere esto decir que volvemos al paradigma del migrante popular, identificado como tal y obligado a expresarse como tal? En ningún caso2. A la delimitación territorial (residencial y comercial) corresponde una dinámica interna que “determina su propia permeabilidad” (20). Y es que las dinámicas de estos lugares requieren constantemente de flujos extraños al círculo circunscrito a lo identitario (como es el caso de la articulación de las economías étnicas con capitales de pequeños empresarios chilenos), que dislocan el imaginario antropológico de la pureza de la economía étnica (capítulo tres). Porosidad del espacio, entonces, de los lugares ocupados por los migrantes peruanos; porosidad que en nada contradice la constitución de una colectividad, sino que la implica, más bien. De modo tal que, si hay algo como “lo peruano” en Santiago de Chile, esta identidad se construye, en esta ciudad, por sus espacios, o más bien por los modos de ocupación, de territorialización (que es siempre, por supuesto, una re-territorialización), a partir de una multiplicidad de individuos migrantes que vienen a conectarse —entre sí y con “autóctonos”— con sus particularidades en una compleja trama de ocupación territorial: formación de un “lugar”, de una diferencia en el espacio. Y aquí entra sin duda un tercer y último problema: no solo hay un problema de espacios, ni un problema de la diferencia migrante, sino también un problema de denotación, es decir, de los modos de denominación de “lo peruano” con los que, tanto desde dentro como desde fuera, “se aglutinan diversos sentidos acerca del espacio [ocupado por los migrantes peruanos]” (28). Aglutinación significante y funcional del espacio de identificación que se constituye como lugar a partir de determinaciones y denominaciones tanto extrínsecas como intrínsecas.

  1. “Centralidades migrantes”

El autor se ve en la necesidad de inventar el concepto de “centralidad migrante”, que permite una exploración de la experiencia migrante a partir de tres ejes: uno, el “vínculo entre lo espacial y lo social”; dos, las “formas comerciales y prácticas de ocupación del espacio público”; y tres, las formas de denotación, de estigmatización y de confinamiento que surgen de las instituciones locales chilenas. Así, este concepto permite incluir en el estudio de la experiencia migrante la “yuxtaposición de la concentración de la residencia y del comercio migrante” (22), distanciándose del concepto clásico de “enclave”, por no adaptarse a la complejidad del objeto de estudio de la presente investigación3. Ciertamente este distanciamiento no debe ser interpretado en términos de oposición. El autor es consciente de la importancia de los trabajos de Portes (y otros) al respecto: mediante el concepto de “enclave” ha sido posible explorar un fenómeno social que no se correspondía con la matriz de desarrollo de las ciudades elaborado por la escuela de Chicago (41-46)4. La migración peruana en Santiago, efectivamente, responde a algunos de los criterios que podrían hacer creer que se trata de un enclave en sentido estricto. Sin embargo, “supone otra estrategia de integración al mercado de trabajo, al mismo tiempo que constituyen un nuevo patrón de asentamiento urbano” (45). Por ejemplo: en los emprendimientos peruanos en Chile no hay una clara división social del trabajo (empresario peruano que contrate peruanos como mano de obra barata), sino que descansan muchas veces en el trabajo familiar (107-111). Pero sobre todo, mientras que “la fuerza de la idea de enclave radica en su capacidad de confinar unas prácticas, la idea de centralidad migrante parte de la descripción de lo confinado para comunicarlo con aquello que le rodea, esto es, le definen también su permeabilidad, su porosidad” (48). En efecto:

“(…) las formaciones comerciales de la migración peruana en Santiago forman parte de la construcción de un espacio público de la migración, un marco de visibilidad para la heterogeneidad propia de lo urbano, y en esa línea podemos interpretarlas como una estrategia de apropiación del espacio urbano en el marco de la experiencia migrante peruana, que aglutina una diversidad de otras dimensiones que por supuesto exceden la dinámica propiamente económica o comercial” (49).

Las centralidades migrantes determinan así la unidad fenoménica de investigación del presente estudio.

De este modo se articula el libro en torno a los diferentes aspectos que implica el concepto de “centralidad migrante”: primero, se propone un “examen del proceso económico interno que da lugar a los comercios”, que permite mostrar los límites de la noción de “economía étnica” (capítulo tres); segundo, un “análisis de las centralidades migrantes como espacios en que se produce un proceso de territorialización de la experiencia migrante” a través de la “construcción de una memoria de la ocupación de estos espacios en Santiago de Chile” (capítulo cuatro); tercero, se trata de la cuestión de la ocupación del espacio público (calle), ocupación que funciona como principio de reproducción de la experiencia migrante (capítulo cinco); por último, en cuarto lugar, y como consecuencia de lo analizado en el capítulo anterior, se analizan los “dispositivos que operan en contra de la indisciplina que estos usos suponen, y que valiéndose de la supuesta inseguridad, ilegalidad y falta de higiene vinculadas al comercio de alimentos, denotan y/o estereotipan lo peruano para confinarlo en otro lugar, para relocalizar una diferencia que se hace molesta sobremanera en espacios del centro de la ciudad, ahora recargados de sentido patrimonial” (capítulo seis).

  1. Algunas remarcas conclusivas

El libro da cuenta de una profunda y larga investigación, tanto de un acabado estudio de campo como de una potente discusión intelectual, a la vez etnográfica y filosófica. De esta forma, se es capaz de responder a la pregunta: ¿qué es lo que un etnógrafo podría enseñarnos acerca del espacio? Contra la construcción de imágenes guiadas por criterios comunicacionales, hay que responder de manera tajante: hay una producción, una formación siempre colectiva del espacio, o más bien, como ya se dijo, del lugar; una apropiación y apertura colectiva de los espacios de la ciudad. El libro de Alejandro Garcés es una obra importante para la etnografía en Chile y está sin duda marcado por el esfuerzo de toda una generación de antropólogos y sociólogos que tanto ha buscado la rigurosidad científica como la creatividad conceptual.

Notas

2Aunque el autor no lo cita, hay varios puntos de encuentro teórico con Le philosophe et sespauvres de J. Rancière.

3El “enclave étnico” se define como “la concentración en un espacio físico de firmas empresas étnicas que emplean una proporción significativa de trabajadores de la misma minoría” (43).

4“Contra la supuesta idea de la dispersión espacial como proceso geográfico simultáneo a la integración social de los migrantes, las trayectorias de estos mismos en destino nos hablan de una persistencia del centro como una importante fuerza aglutinadora de la residencialidad y de la economía migrante en la ciudad” (61).

Vicente Cortés – Universidad Alberto Hurtado y Universidad Diego Portales.

Acessar publicação original

[IF]

BUSTOS Beatriz (Comp), PRIETO Manuel (Comp), BARTON Jonathan (Comp), Ecología política en Chile: naturaliza/ propriedade/ conocimiento y poder (T), Editorial Universitaria (E), GIMINIANI Piergiorgio (Res), JACOB Daniela (Res), Estudios Atacameños (EA), Ecologia política, América/Chile (L), Natureza, Propriedade, Conhecimento, Poder

BUSTOS, Beatriz; PRIETO, Manuel; BARTON, Jonathan (Compiladores). Ecología política en Chile: naturaliza, propriedade, conocimiento y poder. [Sn.]: Editorial Universitaria, 2015. Resenha de: GIMINIANI, Piergiorgio;  JACOB, Daniela. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.53, nov., 2016.

 

El libro “Ecología política en Chile: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder”, editado por Beatriz Bustos, Manuel Prieto y Jonathan Barton, reúne a doce investigadores afiliados a universidades nacionales e internacionales, que comparten un interés en el estudio de los procesos eco-políticos que están afectando Chile. Los nueve capítulos que componen este libro dan fe de una gran heterogeneidad de enfoques analíticos y de las localidades de investigación. A pesar de su diversidad, los capítulos de “Ecología Política en Chile” se encuentran organizados a partir de una reflexión conceptual sobre los elementos claves para establecer un análisis comparativo y un diálogo entre las distintas posibilidades de investigación abiertas por la ecología política. Los editores proponen pensar la ecología política a partir de cuatro dimensiones: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder. Al problematizar estas cuatro dimensiones, el libro nos invita a preguntarnos sobre cuáles son las naturalezas que las prácticas de uso y conservación de recursos naturales producen desde el punto de vista tanto ontológico como epistemológico.

El enfoque hacia la producción ontológica y epistemológica de la naturaleza en cuanto proceso político es una de las principales novedades del volumen. Sin embargo, no es la única. En los debates analíticos y políticos existe una tendencia a reducir la ecología política a oposiciones dicotómicas, que obscurecen la fragmentación e hibridación de lo político en las relaciones de poder en juego en los conflictos ambientales. Los capítulos de este libro, en particular los capítulos de Palomino-Schalscha y de Román y Barton, nos invitan a considerar el conflicto socio-ecológico más allá de categorías binarias, demostrando el carácter inmanentemente político de estos procesos. Esto va acorde al planteamiento de los autores sobre la ecología política como una postura que “rompe con el mito de la naturaleza como fenómeno prepolítico” (50). La reflexión sobre lo político avanzada por los autores de este libro, nos ayuda a reconocer las especificidades de este fenómeno en la ideología y lógica neoliberal. Esta consideración es inevitable debido a que cualquier estudio de ecología política en Chile, un bastión del neo-liberalismo desde el comienzo de la dictadura militar en 1973, hace evidente los mecanismos particulares de esta ideología en los procesos extracción y, en menor medida, de conservación de recursos naturales en la esfera pública como privada. A diferencia de lo que pueda pensarse en un primer momento, el neoliberalismo no es simplemente la ausencia de Estado, sino que más bien se caracteriza por la reconfiguración de la gobernanza pública según modelos de lógica financiera, (y ya no la teoría política o filosofía moral) con el fin de sustentar la expansión del mercado, en este caso, de recursos y servicios naturales. A pesar del evidente énfasis de la gobernabilidad medio ambiental neoliberal en el extractivismo, el neoliberalismo en el campo ecológico (como en tantos otros) no es un fenómeno exento de contradicciones. El ejemplo más evidente es el así llamado “neoliberalismo verde”, que mediante la propiedad privada de territorios coarta el extractivismo de recursos, iniciativa que va acorde a las lógicas y expansión del mercado. Como bien señala Palomino-Schalscha en su capítulo sobre los senderos pewenche Trekaleyin en el Alto Bío-Bío, dentro de las mismas lógicas neoliberales, hay espacio para la reapropiación de estas por parte de la sociedad civil, dando espacio a la contestación con el efecto de producir espacios de “aguante”, como fue propuesto por la antropóloga Elizabeth Povinelli (2011).

Otro aspecto llamativo de este libro es la apertura de un espacio de diálogo teórico entre corrientes de pensamiento que no suelen entrar en relación. Los capítulos de este libro se inspiran tanto en los principios de la acumulación por desposesión desarrollado por David Harvey (2003) y en general por la geografía neo-marxista a las corrientes post-humanas, inspiradas en el trabajo de Donna Haraway (2008) y Bruno Latour (2008) en el estudio de la ciencia y tecnología. La relación entre estas dos corrientes permite ver cómo su conjunción es solo en apariencia contradictoria. Por un lado, un enfoque estructural nos permite ver quién produce e impone modelos epistémi-cos dominantes sobre la naturaleza; por otro lado, una perspectiva post-humanista nos invita a reconocer cómo el conocimiento en sí mismo, es un proceso de construcción ontológico donde resulta difícil plantear una clara distinción entre conocimientos científicos y sociales. Ambas posibilidades coexisten en conflictos medioambientales, como el desastre ambiental provocado por la celulosa Arauco que vio la pérdida de vida de cien Cisnes de Cuello Negro en Valdivia, presentado por Sepúlveda y Sundberg, y el desarrollo de enfermedades causada por la sobrepoblación de salmón comercial en todo el sur de Chile analizado por Bustos. El estudio de estos tipos de casos se vuelve necesario por una reflexión crítica constante sobre la cultura del experticia, como un campo de saber a -politicizado que caracteriza la producción de conocimiento y políticas públicas en Chile.

Otras dos novedades relevantes de este libro son la pro-blematización del concepto de propiedad en las disputas medioambientales y la relación entre colonialismo y ex-tractivismo en juego, en los procesos eco-políticos contemporáneos en Chile. Los capítulos de Manuel Prieto y David Tecklin, demuestran como la propiedad es una relación de poder práctica más allá de su carácter legal. De esta forma, la propiedad aparece tanto como una imposición gubernamental y como un campo político abierto a fracturas, contradicciones y resistencias. La relación entre extractivismo y colonialismo es evidente en consideración de una larga historia de expropiación de recursos naturales hacia los pueblos originarios en Chile, legitimizada, principalmente, por mecanismos legales de propiedad como el de la terra nullius. La faceta opuesta del racismo ambiental es la penetración de ideas y símbolos asociados a los pueblos indígenas en el movimiento ambientalista, un fenómeno ampliamente documentado a nivel global (Tsing 2005). A pesar del riesgo implícito de esencializar las sociedades indígenas, el conocimiento de sus nociones eco-cosmológicas pueden contribuir al problemático reconocimiento de la diversidad cultural en Chile (o más bien su falta) y al desarrollo de nuevos valores medioambientales universales, un punto planteado por Rozzi en su capítulo sobre ética biocultural.

A pesar de las contribuciones que se han hecho explícitas, hay una interrogante que inevitablemente aparece al leer el texto ¿Hasta qué punto este libro sólo aplica marcos teóricos globales, provenientes de centros de producción de conocimiento a Chile, que vendría a ser periférico a estos? De hecho, rellenar un vacío analítico en un lugar como Chile, puede parecer inicialmente como el trabajo típico de traducción de conceptos desarrollados en los centros de una particular disciplina, en este caso los departamentos de geografía en las universidades del “norte”, y la aplicación de esto a un contexto supuestamente periférico. La centralidad de la traducción entre centros y periferias del saber académico ha sido destacada en los estudios coloniales para recalcar cómo ciertos lugares son destinados a ser casos de estudio y otros centros de producción de teoría. Es innegable que en este libro hay un interés loable en presentar al lector chileno e hispano hablante, algunas de las discusiones globales contemporáneas en geografía desarrolladas principalmente en el mundo anglófono. Sin embargo, la comunicación generada entre los contribuidores de este libro, de distintos contextos académicos, demuestra implícitamente no solo lo que el estudio del caso chileno puede beneficiar en términos de comprenderse a sí mismo mediante marcos teóricos globales, sino también lo que la comunidad académica y política global puede aprender de Chile. De esta manera, algunos conceptos que han tenido su génesis en el norte vienen a desterritorializarse y a enriquecerse con otras experiencias, dialogando y modificando el modo en que aparecen en el lugar de su génesis estos mismos conceptos.

Más allá de las contribuciones y discusiones teóricas de este libro, que hemos listado anteriormente, vale volver también a lo planteado por Tom Perreault en el prefacio del libro “el conocimiento académico crítico sirve tanto para la crítica como para la acción” (9). Esta frase, estrechamente vinculada a los orígenes de la ecología política y a su relación a los movimientos sociales, deja desde un comienzo este libro como una promesa inacabada. La función crítica está cumplida con creces, ahora queda esperar a ver cómo estas ideas son capturadas y resignificadas en las luchas ambientales que se están dando en el Chile actual, para sólo de este modo pasar a la tan ansiada acción.

Referências

Latour, B. 2008. Reensamblar lo social: una introducción a la teoría del actor-red. Buenos Aires: Manantial.         [ Links ]

Harvey, D. 2003. The new imperialism. Oxford University Press.         [ Links ]

Haraway, D. J. 2008. When species meet. Vol. 224. U of Minnesota Press.         [ Links ]

Povinelli, E. A. 2011. Economies of abandonment: Social belonging and endurance in late liberalism. Durham, NC: Duke University Press.         [ Links ]

Tsing, A. L. 2005. Friction: An ethnography of global connection. Princeton University Press.         [ Links ]

Piergiorgio Di Giminiani – Programa de Antropología y CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago ([email protected]).

Daniela Jacob – CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago ([email protected]).

Acessar publicação original

[IF]

 

 

 

 

Perú y la Guerra Civil Española – CARRASCO (H-Unesp)

CARRASCO, Olga Muñoz. (Org.). Perú y la Guerra Civil Española. La voz de los intelectuales. Madrid: Calambur Editorial, 2013, 559 p. Resenha de: GONÇALVES, Marcos. História [Unesp] v.33 no.2 Franca July/Dec. 2014.

A coleção HGCE – Hispanoamérica y la Guerra Civil Española – consiste em uma série de estudos sob a direção geral do poeta e crítico literário britânico Niall Bins. Trata-se de uma recompilação de textos de época introduzidos por adensados comentários críticos sobre o impacto da Guerra Civil da Espanha entre os intelectuais da América hispânica. O Volume 3, ora apresentado, foi organizado por Olga Muñoz Carrasco, poetisa, professora e investigadora da Saint Louis University (Madrid Campus) e colaboradora honorária do Departamento de Literatura Hispanoamericana da Universidad Complutense de Madrid. Encontram-se publicados entre os anos de 2012 e 2013 quatro volumes da coleção: Equador (volume 1), Argentina (volume 2), Peru (volume 3) e Chile (volume 4), estando em fase de preparação o volume 5, alusivo a Cuba. Cada um deles reúne testemunhos que permitem conhecermos o panorama do campo intelectual do país em questão no período de 1936 e 1939, quando as disputas estavam concentradas na convivência entre as vicissitudes da política interna e as tensões geradas pelo drama da guerra espanhola. A coleção, ao aliar o diálogo entre as análises dos especialistas organizadores aos documentos selecionados, propõe uma compreensão sobre o termo “intelectual” no contexto altamente politizado e ideologicamente polarizado dos anos 1930, sem, contudo, prescindir de considerá-lo necessariamente elástico: “Para nuestra colección, “intelectual” es toda persona que participó con la palabra escrita en el debate de ideas sobre la guerra civil”. (p. 15).

A cuidadosa pesquisa de Muñoz Carrasco – desenvolvida em arquivos e bibliotecas das cidades de Lima e Madrid – constitui, assim, uma referência importante para os estudiosos da história intelectual iberoamericana, pelo menos, por duplo motivo. Primeiro, porque demarca os inevitáveis contrastes e níveis de engajamento dos intelectuais peruanos, cujas escolhas entre nacionalistas e republicanos na guerra da Espanha praticamente não admitiam recuos ou tergiversações. Segundo, porque os documentos que acompanham a obra proporcionam uma mirada sobre a representação que a elite pensante do país latino-americano construiu a partir de uma metáfora, fosse de natureza poética ou de conteúdos enunciados mais especificamente pela narrativa política: a metáfora do “espelho” traduziu o fenômeno da guerra em termos de identificação dos peruanos com a “madre patria”. Em outras palavras, o conflito não foi tratado como um acontecimento estranho ou exterior às sensibilidades políticas peruanas. Chegou a ser vivido como uma causa própria, ao aprofundar as divisões entre os intelectuais mais tradicionalistas – à direita do espectro político – e os de esquerda. Enquanto os primeiros viam na guerra a possibilidade real de acabar com o comunismo que ameaçava destruir a raiz católica do mundo hispânico, seus rivais defenderam uma ordem que designavam democrática pela qual também lutavam no Peru. Na parte inicial, uma indagação decisiva lançada às fontes atravessa o debate proposto por Muñoz Carrasco: como buscar uma Espanha que se projetava para além de suas fronteiras e de seu tempo; ou, como recuperar a origem comum entre a Iberoamérica e a mãe pátria dado que o presente de então somente as aproximava pela violência e terror compartilhados? É nessa perspectiva que a autora traçou similitudes entre as realidades históricas de Peru e Espanha, elaborando o quadro descritivo, a um só tempo amplo e preciso das atitudes e práticas que conduziam os intelectuais peruanos a caminhos incertos e antagônicos.

Segundo Carrasco, o contato entre os dois países havia sido mínimo durante quase todo o século XIX, desde que o Peru não manteve relações diplomáticas com a monarquia ibérica nos primeiros 50 anos de sua independência. Ainda que tenha se restabelecido a partir de 1879, escasseavam na relação demandas institucionais que permitissem o intercâmbio, e, em muitas ocasiões, iniciativas isoladas definiram a criação de espaços de diálogo como a Academia de la Lengua, a Academia Nacional de la Historia e a Sociedad Geográfica de Lima.

A situação passou por mudanças entre os anos 20 e 30 do século passado. Pouco a pouco foram se desfazendo as imagens negativas herdadas da época da independência, e nas celebrações do centenário da batalha de Ayacucho (1924) começaram a ser construídos novos laços culturais, evidenciados por expressivo número de livros e artigos dedicados à Espanha. A violência política e a turbulência social também foram marcas comuns no Peru e na Espanha, assim como outros pontos de contato, quanto à urgência de transformações estruturais, acentuavam o parentesco entre as duas sociedades:

[…] ambos países poseían élites políticas que buscaban un camino pacífico hacia la modernidad, habían heredado un sistema de distribución de tierra arcaico y mostraban diferencias dramaticas en el reparto de la riqueza. Por otro lado, tanto España como el Perú contaban con sectores económicos emergentes en la industria y el comercio, así como con una burguesía y un proletariado que, cada vez más, consideraban los modelos tradicionales obstáculos a sus aspiraciones. (CARRASCO, p. 33).

Se no Peru a proibição e o expurgo de movimentos políticos como a APRA de Victor Haya de la Torre se intensificaram com a ditadura de Óscar Benevides e com a ascensão do fascismo, na Espanha republicana muitos projetos que apontavam para a modernização da sociedade (laicização, reforma agrária, reforma trabalhista, etc.) tenderam ao fracasso diante da intransigência obstinada de fontes de poder social, como a Igreja, o Exército, os terratenentes e a influente FE – Falange Espanhola. Depois de 1935, a brecha aberta entre as duas Espanhas (republicana e nacionalista) também apareceu no Peru, ainda que sua relevância tenha sido menor do que em outros países latino-americanos, como Argentina, Chile ou México. A maioria de intelectuais peruanos contemporâneos da guerra civil firmou-se na identidade e na trajetória política e social do Peru para mostrar o que considerava a única possibilidade viável do momento: o apoio aos nacionalistas de Franco. A oposição a eles aconteceu não só por meio dos textos de viajantes eventuais, mas também de uma poética insurgente e de um periodismo de resistência que encontraram, ora na clandestinidade, ora no exílio de intelectuais pró-republicanos, os principais lugares de ressonância.

A travessia do estudo de Muñoz Carrasco para a documentação histórica confere ao volume sua circunstância determinante, porque é ali que são escutados os dilemas saídos das vozes dos intelectuais. Podemos indagar e, sobretudo, compreender a partir de um mínimo olhar sobre os manifestos: como se organizava o campo das disputas e, principalmente, de que modos o conflito espanhol afetava vidas, obras e compromissos políticos?

A linguagem tensionada nos revela, junto ao processo de degeneração da guerra, as mudanças que aconteceram na percepção dos indivíduos e o empenho em circunscrever o conflito num horizonte de compreensão. Dos manifestos hispanofóbicos de Alberto Hidalgo e seu grito ¡España no existe! – passando pela poesia de vanguarda de Magda Portal a verter sentimentos de amor e ódio (“Te odiaba España por tus frailes hipócritas y sombrios…”), chegando-se à defesa do fascismo em Víctor Andrés Belaúnde -, o volume é rico pelo contraditório que continuamente desperta. De um lado, tal exemplo pode ser rastreado na ação do escritor pró-republicano César Vallejo (1895-1938). Do seu desterro madrilenho em 1931, via com ceticismo os primeiros passos de uma República que, a seu juízo, “no hacía más que perpetuar las jerarquías de antes”; no entanto: “Cinco años después, en cambio, la radicalización de la República bajo el Frente Popular y la resistencia popular al levantamiento militar lo encandilarían”. (CARRASCO, p. 493).

Depois de várias manifestações do poeta em favor da República por meio de correspondências, artigos em jornais e periódicos, uma de suas últimas intervenções antes da morte no exílio parisiense de 1938 veio da participação no II Congreso Internacional de Escritores para Defensa de la Cultura, realizado em Madrid no mês de julho de 1937, quando a guerra civil espanhola completava o primeiro ano. No texto-discurso “La responsabilidad del escritor”, a comovedora argumentação de Vallejo parece reafirmar uma “vocação zolaiana”, se nos é permitida a expressão, para definir o papel do intelectual na defesa intransigente daqueles que percebe como oprimidos e negligenciados pelas mais variadas espécies de injustiças e tiranias:

Me refiero ahora al aspecto de la responsabilidad del escritor ante la Historia y, señaladamente, ante los momentos más graves de la Historia. Hablemos un poco de esa responsabilidad, porque creo que en este momento, más que nunca, los escritores libres están obligados a consustanciarse con el pueblo; a hacer llegar su inteligencia a la inteligencia del pueblo y romper esa barrera secular que existe… […] Camaradas: los pueblos iberoamericanos ven claramente en el pueblo español en armas una causa que les es tanto más común cuanto que se trata de una misma raza y, sobre todo, de una misma historia. […] la causa de la República Española es la causa del Perú, es la causa del mundo entero [y] los pueblos que han sufrido una represión, una dictadura, el dominio de las clases dominantes, poderosas, durante siglos y siglos, llegan por una aspiración extraordinaria a tener esta rapidez; porque un largo dolor, una larga opresión social, castigan y acrisolan el instinto de libertad del hombre en favor de la libertad del mundo hasta cristalizarse en actos, en acciones de libertad. (VALLEJO apud CARRASCO, p. 513-514).

Ao extremo de Vallejo encontra-se José de la Riva-Agüero (1885-1944). De raízes aristocráticas, Marquês de Montealegre de Aulestia, ele encarnava, segundo a análise de Jeffrey Klaiber (2008, p. 460-462), o pensamento integrista e nacionalista, também designado nacional-catolicismo. Riva-Agüero ingressou tarde no rebanho católico, porque em sua juventude e ainda como professor em San Marcos professava ideias liberais e positivistas. Em célebre discurso de 1932 diante de seus companheiros de promoção no colégio La Recoleta, formalmente renunciou a seu passado liberal e declarou-se católico, ao alegar seu distanciamento da religião como fruto de leituras imprudentes e atropeladas. (KLAIBER, p. 460). Para traduzir seus impulsos nacional-católicos do campo da retórica ao da ação efetiva, Riva-Agüero liderou, durante a guerra civil espanhola, campanhas de arrecadação de fundos e apoios para Franco: “yo soy el mayor contribuyente mensual para la Cruz Roja Nacionalista. Deseo que allá se enteren de que cumplo con mis deberes”. (RIVA-AGÜERO apud CARRASCO, p. 433). Foi precisamente sua lealdade ao franquismo que o levou a tecer elogios ao governo peruano quando este rompeu as relações com a República, reconhecendo, ao menos implicitamente, a vitória antecipada dos nacionalistas de Franco. A radical distinção entre os intelectuais aderentes a um lado e outro da contenda fica mais patente quando Muñoz Carrasco nos oferece um excerto de discurso pronunciado por Riva-Agüero na noite de 17 de junho de 1938, no banquete do Club Nacional de Lima em homenagem ao escritor e conselheiro da Falange Espanhola Eugenio Montes:

Con inmenso alivio de ánimo, hemos visto que el Gobierno de Perú ha roto al cabo y en definitiva las relaciones diplomáticas que, siquiera en protocolo y apariencia, lo ligaban a esa hechiza y nefasta España de los rojos, la cual durante un año no cesó de agraviarnos, hasta agotar nuestra paciencia tan sufrida; España roja que no es sino la rabiosa antítesis, la negación blasfema, execrable, de la genuina y bendita España tradicional; de la sustantiva, católica y duradera: la de nuestros antepasados, civilizadores y progenitores del Perú moderno. (RIVA-AGÜERO apud CARRASCO, p. 438).

Resultado de anos de investigação, o estudo de Muñoz Carrasco recupera textos pouco conhecidos de dezenas de intelectuais peruanos da época. Coloca-nos em contato com figuras centrais no panorama das letras e da política, cuja produção completa sobre a guerra civil é imprescindível registrar. Outra virtude do trabalho é que a variedade de materiais se apresenta, metodologicamente, dentro de um critério unificado quanto às tipologias de textos selecionados: a dimensão política do conflito se revela por meio de correspondências, poemas, discursos e artigos em jornais e periódicos que formam o cerne da produção intelectual peruana sobre a guerra civil. Junto à matriz propriamente política e ideológica das militâncias, quedamos surpreendidos pelo impacto pessoal e moral que emerge da ação de cada um dos envolvidos, cujas consequências, não raras vezes, podem estar além da ação das organizações. Resta ponderar sobre a atualidade do tema. Quando muito se discute a rarefação do indivíduo no campo da literatura e a evasão do sujeito da atividade política, ou quando as marcas tradicionais do engajamento são confrontadas pelo anonimato e a diluição, que parecem frustrar o próprio núcleo narrativo das experiências, o estudo de Carrasco restitui um debate que propõe repensarmos as grandes causas emancipacionistas, as vivências e representações sobre princípios e dilemas éticos.

Referências

CARRASCO, O. M. (Org.). Perú y la guerra civil española. La voz de los intelectuales. Madrid: Calambur Editorial, 2013. [ Links ]

KLAIBER, J. , S. J. Los intelectuales y la religión en el Perú. In: AGUIRRE, C.; McEVOY, C. (Eds.). Intelectuales y poder. Ensayos en torno a la república de las letras en el Perú e Hispanoamérica (ss. XVI-XX). Lima: Instituto Francés de Estudios Andinos, 2008, p. 457-477. [ Links ]

Marcos Gonçalves – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil. Contato: [email protected].

Contested territory: mapping Peru in the sixteenth and seventeenth centuries – SCOTT (AN)

SCOTT, Heidi V. Contested territory: mapping Peru in the sixteenth and seventeenth centuries. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2009. 256p. Resenha de: LA JOUSSELANDIÈRE, Victor Santos Vigneron de. Anos 90, Porto Alegre, v. 20, n. 37, p. 339-346, jul. 2013.

Mesmo que recebida com bons olhos pela maior parte dos pesquisadores, a perspectiva interdisciplinar ainda tem um longo caminho até se tornar uma prática recorrente. Por si só, essa consta tação justifica o interesse de Contested territory: mapping Peru in the sixteenth and seventeenth centuries. Nesse livro, Heidi Scott amplia os horizontes da pesquisa peruanista ao trabalhar no limiar entre História e Geografia, tomando por objeto a própria paisagem descrita pelos cronistas. Contudo, deter-se na valia dessa perspectiva em nada ajudaria a ultra passar as generalidades muitas vezes evocadas quando se fala em interdisciplinaridade.

Ora, essa opção engendra na obra em questão uma série de consequências analíticas, não apenas no que toca ao tema específico da colonização, mas ainda no que diz respeito à própria relação entre teoria e História. É certo que o livro de Scott encontra uma imagem mais orgânica, indistinta mesmo, entre tais temas; dividi-los, contudo, permite compreender o alcance de sua aventura por limites acadê micos tão pouco frequentados. Os impasses daí resultantes não deixam de ser uma das riquezas desse gesto.

No primeiro capítulo, Landscape and the Spanish Conquest of Peru, a autora anuncia os delineamentos básicos que darão forma às análises realizadas ao longo do trabalho. Em última instância, são essas considerações que dão coesão a uma obra estruturada por capítulos autônomos em seus temas e recortes. O principal elemento comum emerge em torno do conceito de “paisagem” (SCOTT, 2009, p. 1-15).

Segundo a autora, não se trata de reconstituir os traços dos “espaços reais” atravessados e narrados pelos cronistas, mas de atentar ao processo mesmo de “produção da familiaridade”, que os torna cognoscíveis e passíveis de descrição. A sugestão já foi desenvolvida por autores clássicos, como Edmundo O’Gorman e John Elliott (O’GORMANN, 1992; ELLIOTT, 1984, p. 9-40). Contudo, o que particulariza a análise de Scott é a ênfase dada à agência indígena nesse processo de cons trução simbólica da paisagem. A autora não deixa, aliás, de iniciar seu livro com uma crítica a Elliott, que teria dado um tom excessivamente europeu à produção da familiaridade descritiva (SCOTT, 2009, p. 1-5). A crítica a Elliott pode ser tomada como chave de leitura para o restante da obra, pois o que está em questão não é apenas uma discordância no que toca à participação indígena no processo de construção da paisagem, mas sim o próprio conceito de “colonização”. O tom hispanista adotado por aquele historiador seria apenas a manifestação de um diagnóstico mais fundamental a respeito da própria presença europeia na América. Scott argumenta que o termo se presta a uma definição demasiado uniforme da realidade americana sob a presença europeia. No que diz respeito à discussão com Elliott, procura demonstrar que sua leitura hispanista da produção da paisagem tornaria homogêneas as relações de força que não o são, não apenas no contexto peruano, mas nos variados contextos coloniais americanos na primeira Idade Moderna. O exercício historiográfico empreendido nos cinco capítulos seguintes aten de, em última ins tância, a essa preocupação no que diz respeito aos conceitos e às explicações unificadoras consagradas.

A partir do capítulo dois, Scott parte para a empiria com o fito de atestar o desvalor do conceito de “colonização”. Para tanto, a autora volta sua atenção para os momentos mais decisivos do processo de instituição do domínio castelhano no Peru. O segundo capítulo, Beyond textuality. Landscape, embodiment, and native agency, inicia esse percurso ao tratar da conquista. Perceba-se que o argumento ganha tanto mais força quanto se trata de uma primeira geração de cronistas, cuja relação com os índios peruanos, a princípio, seria superficial quando comparada com a interação existente décadas mais tarde. Esse é, por exemplo, o fundamento da periodização proposta por Franklin Pease para as crônicas andinas (PEASE, 1995, p. 15-63). Ora, acompanhar a narrativa da conquista elaborada por Nicolás de Ribera ou ainda a clássica descrição dos acontecimentos dada por Pedro Cieza de León é um recurso estratégico da autora. Se analisado em perspectiva com documentos produzidos por outras fontes, como as petições feitas ao rei pelos curacas de Jauja, esse discurso da conquista emerge como fruto de uma “experiência paisagística” mediada pelos índios (SCOTT, 2009, p. 26-36). Por um lado, a existência de uma descrição menos “literal” da paisagem por parte dos espanhóis seria fruto da rede de proteção que se interporia entre esses e a “paisagem real”. Por outro lado, esta contaria com elementos compatíveis com o acervo cognitivo europeu tendo em vista as intervenções promovidas no espaço pelos Incas, fato que teria possibilitado a localização da conquista numa “paisagem familiar” (SCOTT, 2009, p. 36-42).

Se de fato essa discussão tem por objetivo deslocar o hispanismo um tanto esquemático de Elliott, trata-se ainda de uma crítica voltada contra outra importante explicação unificadora para o período colonial peruano. Também a “história dos vencidos” é evocada por Scott por conta de seu, digamos, “excesso conceitual”. Para tanto, elege-se como interlocutor Nathan Wachtel, importante referência desse modelo explicativo que adquiriu força em meados do século XX. Se por um lado concorda em investir ao índio um papel central nas suas análises, Scott discorda do caráter “traumático” atribuído por Wachtel à conquista (WACHTEL, 1977, p. 55-64). Ao procurar relativizar a ruptura provocada por esse acontecimento, a autora tende a contrapor o caráter “negociado” da presença espanhola à “desestruturação” por este sustentada. Contrária à concepção negativista embutida no epíteto “vencidos”, Scott propõe compreender o caráter positivo da agência indígena na constituição de uma nova “experiência paisagística” no Novo Mundo.

O último item desse segundo capítulo anuncia uma das tônicas dos capítulos subsequentes. Ao mencionar as transformações ocorridas após o período da conquista, com a emergência de uma “paisagem colonial”, a autora retorna para a discussão acerca da colonização com respeito a outro de seus momentos definidores, inaugurado com a “pacificação” dos vecinos por La Gasca, em 1548 (SCOTT, 2009, p. 42-48). A partir, portanto, do terceiro capítulo, Landscapes of resistance? Peru’s ‘Relaciones geográficas’, o conceito é agora questionado justamente onde ele parecia mais apropriado. Mais especificamente, trata-se de inventariar os limites postos ao projeto de produção de cidades espanholas, isto é, de intervenção colonial na paisagem americana. Note-se que essa proposta analítica se pretende válida para uma década tão significativa quanto a de 1570, em que as incertezas quanto ao futuro da região teriam sido suplantadas pelas reformas centralizadoras do vice-rei Francisco de Toledo, funcionário talhado à imagem e semelhança de Felipe II (LOHMANN VILLENA, 1967). E o campo escolhido para tanto dificilmente poderia ser mais significativo que as Relaciones geográficas.

É nesse conjunto de informes solicitados aos funcionários reais em toda a América que Scott pretende descobrir as marcas da agência local. À primeira vista, seria corroborada aquela visão “tradicional”, notando-se a marca da política de Toledo na redução dos índios dispersos, levando à sua desvinculação da paisagem, ao mesmo tempo em que tinha lugar a “extirpação” de uma toponímia e uma geografia idolátricas. Contudo, esse mesmo tema permite à autora questionar o enquadramento binário, reputado a autores como Wachtel, que divi de as posições possíveis na sociedade colonial a dominantes e vencidos.

À diferença dessa perspectiva, Scott observa a intimidade dessas posições, havendo antes uma interpenetração de elementos culturais na constituição de algo novo. Isso seria corroborado pela Relación enviada pelo corregedor de Jauja, que permitiria observar os vaivéns dos huancas perante as instituições castelhanas, privilegiadamente emblematizadas na figura do ladino Felipe de Guacra Paucar (SCOTT, 2009, p. 60-69). Mas o que o caso particular dos huancas de Jauja sugere são as restrições generalizadas à política de reduções. Aliás, isso não se deveu apenas à obstinada mobilidade indígena, mas também à resistência oposta a esse plano por parte de muitas autoridades espanholas (SCOTT, 2009, p. 69-74). Seu interesse pessoal, imediato e concreto, muitas vezes obstaria qualquer “projeto colonial”, distante e abstrato.

O capítulo seguinte, The mobile landscapes of Huarochirí, deparase com outro contexto fundamental à afirmação da colonização peruana, tendo um papel significativo na política de “extirpação de idolatrias”, ali iniciada por Francisco de Ávila em 1610. Contudo, aquilo que poderia representar a consolidação do projeto evangelizador é lido sob outra perspectiva por Scott. Assim como a política civil de redução não teria deitado raízes, também sua equivalente eclesiástica, a paróquia, não teria impedido a mobilidade indígena (SCOTT, 2009, p. 75-107). Da mesma forma os corregedores estariam entre os principais obstáculos à política colonial, a evangelização seria atravessada pelos mais variados interesses: curas de paróquia, jesuítas, índios e funcionários reais conformariam um panorama impossível de ser reduzido a um núcleo conceitual. É particularmente interessante para a argumentação da autora a contraposição entre a exemplar Relación geográfica produzida pelo corregedor local e as formulações contidas no Manuscrito de Huarochirí (SCOTT, 2009, p. 90-98). Se aquela pode dar a ideia de uma execução zelosa das orientações filipinas, este revelaria a superficialidade da disrupção (do “trauma”) operada pelos espanhóis em seu combate à geografia idolátrica. A própria ação extirpadora é colocada em tela por Scott, que sublinha as contradições nesse processo, tendo em vista os interesses múltiplos representados pelos curas, pelos extirpadores e pelos índios. Essa situação teria dado ensejo mesmo a um estranhamento crescente perante a paisagem, narrada pelos religiosos de modo a tematizar a resistência do terreno ao conhecimento de suas propriedades idolátricas. Nada mais distante, enfim, da progressiva penetração das instituições coloniais, inclusive sob seu braço eclesiástico, no interior peruano.

Os dois últimos capítulos, Negotiating Amazonia e Contested fron tiers and the Amazon/Andes divide, possuem o interesse adicional de versarem sobre regiões pouco analisadas pela historiografia, a fronteira amazônica do vice-reino. O percurso analítico adotado no livro é conhecido: Scott parte da crítica à explicação historiográfica consagrada que associa o tema amazônico às representações edênicas. A esse respeito, o capítulo quinto retoma a significativa trajetória de Juan Recio de León para aferir até que ponto a paisagem da Amazônia boliviana teria sido objeto de uma intricada negociação. Ao analisar essa personagem, percebe-se que o próprio tema edênico é antes um “recurso discursivo” à disposição dos cronistas para defender seus interesses pessoais. Com essa constatação é possível compreender a construção da paisagem local enquanto “espaço de oportunismo”, expressão empregada por Scott em um de seus subtítulos (SCOTT, 2009, p. 111). Nesses quadros, a trajetória turbulenta de Recio de León apresenta as várias estratégias discursivas que esse ator adota, uma a uma, a depender do momento em que se encontra, jogando com as conveniências: a vantagem da conquista, seu papel missionário, a riqueza prometida pela região, os riscos representados por estrangeiros que frequentam o lugar, a possibilidade do transporte de prata pelo Amazonas, de ampliação da mão de obra indígena em Potosi.

Não deixa de ser irônico, ou melhor, significativo, que Madri seja o lugar por excelência onde essa variedade de argumentos poderia ter lugar. O volume de informações que ali chegavam e a impossibilidade de confirmação direta caracterizariam o espaço de onde, supostamente, irradiariam as diretrizes colonizadoras (SCOTT, 2009, p. 124-131). Ao mesmo tempo, trata-se de combater a visão dualista que opõe o espaço andino àquele amazônico, fato que não é indiferente a uma apropriação da própria visão incaica (SCOTT, 2009, p. 133-136). Tal intento é realizado principalmente no capítulo sexto, em que são apresentados os diversos projetos que sublinharam a possibilidade de investir na região. Possibilidade essa, destaque-se, aventada contra as expectativas da administração castelhana.

A essa altura cabe indagar-se sobre a articulação entre o encaminhamento metodológico proposto pela autora e seus resultados historiográficos. É possível perceber que toda a narrativa empreendida por Scott parte de uma posição nominalista com relação às explicações ou conceitos unificadores. Um a um, “colonização”, dualidade entre “vencedores” e “vencidos”, ruptura da conquista ou impermeabilidade da fronteira são questionados por sua incapacidade de dar conta do “real”. Lembre-se a esse respeito, que a autora não deixa de mencionar a “paisagem real” ao lado do “discurso” sobre a paisagem (SCOTT, 2009, p. 1-15). Em certa medida, portanto, o conceito encontrar-se-ia em “excesso” diante da empiria. Pelo contrário, a profusão de interesses pessoais marcaria um cenário que apenas poderia ser definido como “complexo”. Deve estar claro a essa altura que o gesto negativo empregado por Scott com relação à historiografia possui sua contraparte: a complexidade é complementada pela ênfase na ação individual (a “agência” indígena, a busca de interesses pessoais, os “espaços de oportunismo”). Fato que não é estranho ao próprio conceito de “paisagem” empregado pela autora, que recusa o distanciamento entre visão e escrita e enfatiza uma abordagem multissensorial e totaliza a experiência do meio pelo sujeito.

A “negociação” a que o discurso sobre a paisagem está submetido incorpora, por conseguinte, a própria dimensão corpórea.

Sem negar a riqueza de possibilidades assim aberta, há de se questionar a validade intersubjetiva de uma perspectiva que contrapõe as múltiplas experiências sensíveis ao trabalho do conceito.

Este não deveria encontrar sua determinação na empiria, na experiência corpórea? Longe de ser uma questão estritamente teórica, trata-se de uma dúvida que remete a alguns impasses da obra de Scott. Isso porque ao colocar lado a lado “discurso sobre a paisagem” e “paisagem real” (assim como a intervenção indígena correspondente a esses dois campos) a autora afirma a vigência do conceitual, do simbólico. Nesses termos, o conceito de “complexidade” joga um papel estratégico, sem o qual seria impossível à própria autora construir seu discurso historiográfico. Essas questões ajudam a compreender alguns dos limites da crítica feita, por exemplo, ao conceito de “trauma”, em seu uso dado por Wachtel. Se é inquestionável que este autor não aferiu de maneira correta as fundamentais continuidades demonstradas por Scott, esta tampouco considerou o fato de “trauma” supor uma relação (necessariamente prenhe de mediações) entre estrutura e acontecimento. Desse ponto de vista, é possível sustentar, ainda que numa conformação distinta daquela pretendida por Wachtel, uma experiência traumática da conquista. Da necessidade assim constatada de conjugar experiência subjetiva e operação historiográfica intersubjetiva nota-se, por fim, que, ao centrarse excessivamente no polo individual, a autora de Contested territory deu-se com uma definição oportunista do poder, que não é compreendido como relação, e sim como predicado. Nessa redução conceitual reside muito da impugnação avançada contra o conceito de “colonização”.

Referências

ELLIOTT, John H. O Velho Mundo e o Novo: 1492-1650. Lisboa: Querco, 1984.

LOHMANN VILLENA, Guillermo. Étude préliminaire. In: MATIENZO, Juan de. Gobierno del Perú (1567). Lima/Paris: IFEA, 1967. p. I-LXIX.

O’GORMAN, Edmundo. A invenção da América: refl exão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do sentido do seu devir. São Paulo: Unesp, 1992.

PEASE G. Y., Franklin. Las crónicas y los Andes. Lima: PUCP/FCE, 1995.

SCOTT, Heidi V. Contested territory: mapping Peru in the sixteenth and seventeenth centuries. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2009.

WACHTEL, Nathan. La vision des vaincus: les indiens du Pérou devant la conquête espagnole, 1530-1570. Paris: Gallimard, 1977.

Victor Santos Vigneron de La JousselandièrePossui graduação em História pela Universidade de São Paulo (2008) e mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (2012). Atualmente é professor de história da Prefeitura Municipal de São Paulo. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Moderna e Contemporânea. E-mail: [email protected].

Mercury, mining and empire. The human and ecological cost of colonial silver mining in the Andes – ROBINS (RAHAL)

ROBINS, Nicholas. Mercury, mining and empire. The human and ecological cost of colonial silver mining in the Andes. Bloomington: Indiana University Press, 2011. Resenha de: SIRONI, Osvaldo. Revista de Arqueología Histórica Argentina y Latinoamericana, Buenos Aires, n.7, p.179-181, 2013.

La historia socio-ecológica reconstruida por Robins se emplaza entre los dos grandes asentamientos mineros del Virreinato del Perú: Potosí (Sur de Bolivia) y Huancavelica (vertiente oriental de la Cordillera de los Andes peruana). Dicho relato enfatiza la catástrofe humana y el desastre ecológico que acompañaron al desarrollo de la explotación de mercurio y plata en los sitios mineros mencionados. Asimismo, la obra recoge ciertos tópicos de la historiografía andina que se relacionan indirectamente con el modo de producción minero, permitiéndonos contextualizar la temática abordada.  La problemática respecto a las explotaciones mineras y sus consecuencias en la salud poblacional y contaminación ambiental en los Andes Centrales del período colonial, ya fue tratada brevemente por Peter Bakewell1, Enrique Tandeter2 y Kendall Brown3. Estos estudios se enfocaron en la descripción y análisis de las características sociales, políticas y económicas del auge y decadencia de la producción de minerales de la Corona española, pero no han incursionado en el estudio y la mensura del costo humano y ecológico de la producción de mercurio (Hg) y la explotación de filones argentíferos en el período colonial andino.

La tesis central en la que gira la propuesta de Robins se fundamenta en: el surgimiento de la actividad minera colonial en la región andina, específicamente en Potosí, interrelacionándolo con el sistema de mita y las reformas impuestas por el virrey Toledo (capítulo 1); el descubrimiento y la aplicación del método de amalgamación o “beneficio de patio” -mezcla de mercurio con sal común para la liberación de la plata (Ag)- y su nocivo impacto humano y ambiental tanto en Huancavelica como en el Cerro Rico (capítulo 2); las fuentes históricas y crónicas consultadas, evidenciando las condiciones de trabajo y vida infrahumanas a las que estaban sometidas las poblaciones mineras (capítulo 3). Presenta una evaluación cuantitativa de la producción de plata y mercurio en el periodo analizado para explicar la contaminación ambiental y los efectos de la toxicidad del mercurio en las poblaciones humanas y animales en la larga duración (capítulo 4).Asimismo, este capítulo se sustenta metodológicamente en la construcción de modelos analíticos (modelizaciones informatizadas como AERMOD) que nos permiten realizar inferencias analógicas entre las fuentes históricas y los valores referenciales de inhalación de mercurio entre los mineros actuales para comprender los riesgos y efectos de salubridad entre los pobladores coloniales de Potosí y Huancavelica (capítulo 4). Cabe destacar que la toxicidad demostrada por estos modelos analíticos, ya había sido “corroborada” por los testimonios de distintos funcionarios y cronistas del período colonial (Virrey Luis de Velasco, Felipe Guamán Poma de Ayala, entre otros) que habían presenciado las mortalidades y afecciones irreversibles provocadas por el uso del mercurio en las actividades mineras de Huancavelica.  De este modo, los modelos analíticos presentados generan enriquecedores mapas que evidencian las estimaciones de dispersión y concentración de mercurio volatilizado en el aire a través de los distintos períodos, como así también nos muestra que en los dos asientos mineros, los más perjudicados fueron los barrios habitados por los grupos nativos, ya que se nucleaban junto a los ingenios. Otro dato interesante que aporta el autor, a partir del análisis de muestras de suelos tomadas en Huancavelica y Potosí, es la elevada concentración de mercurio que soportan, actualmente, estas áreas urbanas. Por ejemplo, en Huancavelica muchas familias han construido sus casas con adobes extraídos de los espacios donde se alzaban las antiguas fundiciones.  Por último, delineando el contexto de la catástrofe narrada en un quinto capítulo, el autor manifiesta cómo el sistema de mita y la tóxica interrelación entre la producción de mercurio y plata fueron los principales componentes del eco-etnocidio provocado durante el período colonial en estos asentamientos mineros.  En definitiva, el trabajo de Nicholas Robins nos incita a la ampliación metodológica en la Arqueología Histórica de la Minería, ya que a través de la aplicación de los modelos analíticos propuestos, estableceremos un diálogo interdisciplinario entre los “hechos empíricos” y las teorías auxiliares que nos permiten inferir los eventos dinámicos que causaron los patrones de organización del registro histórico, arqueológico y estratigráfico de los sitios con funcionalidades mineras. Prestando atención a dichos patrones, podremos obtener indicios claves para reflexionar y comprender las características sanitarias y ambientales de los/ as trabajadores/as en contextos mineros del período colonial, como así también establecer analogías con el período independiente. En otras palabras, nos invita a deducir y mensurar lo sabido, es decir, corroborar las nefastas condiciones medioambientales y sus efectos en la salud que heredaron los pobladores actuales de los antiguos (y en muchos casos, hoy activos) asientos mineros, originadas por los modos de producción minera de cada contexto histórico.

Notas

1. Bakewell, P. 1989. Mineros de la Montaña Roja. El trabajo de los indios en Potosí. 1545-1650. Alianza Editorial, Madrid.

2. Tandeter, E. 1992. Coacción y mercado. La minería de la plata en el Potosí colonial, 1692-1826. Siglo XXI editores, Madrid.

3. Brown, K. 2001. Workers’ Health and Colonial Mercury Mining at Huancavelica, Peru. The Americas. The Academy of American Franciscan History, 57 (4): 467-496.

Osvaldo Horacio Sironi – Es egresado de la Licenciatura en Antropología por la Universidad Nacional de Rosario (Argentina). Actualmente es Doctorando en Historia de la Facultad de Filosofía y Humanidades en la Universidad Nacional de Córdoba (Argentina), Becario Tipo I de CONICET e investigador ad honorem del Centro de Investigación Ruinas de San Francisco (Municipalidad de Mendoza, Argentina). Se especializa en Arqueología Histórica, específicamente en Arqueología de la Minería. Es responsable del proyecto “Arqueología Histórica Industrial: explotaciones mineras en el noroeste de la provincia de Mendoza”.

Acessar publicação original

[IF]

 

 

Guerra y democracia: los militares peruanos y la construcción nacional / Eduardo T. Medrano

“Guerra y Democracia” do historiador peruano Eduardo Toche Medrano, foi escrito após a conclusão dos trabalhos da Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) que investigou os crimes cometidos durante os vinte anos de combate às guerrilhas no Peru (1980-2000). A inquietação que moveu sua pesquisa foi compreender como se constituiu a relação entre as Forças Armadas e a sociedade civil peruana, que culminou na morte de milhares de camponeses indígenas que vivam em regiões onde atuavam grupos guerrilheiros.

Assim como o Brasil, o Peru contém uma população heterogênea, e há uma grande distância entre esta população e as instituições governamentais, incluindo as militares, o que, durante períodos de regimes autoritários, foi um dos fatores que influenciou o comportamento dos militares diante da população civil. Esta obra de Toche Medrano nos interessa especialmente por mostrar como foi construída dentro das instituições militares certa leitura da sociedade onde as figuras do “índio” e do “camponês” foram paulatinamente aproximadas a do “subversivo”, “terrorista” e finalmente do “narcoterrorista”.

O livro é dividido em três partes: “os inícios (a formação de critérios institucionais)”, “a sistematização da experiência” e a “ação no vazio (o esgotamento da doutrina militar peruana)”. Em cada uma das partes o autor, através de rica documentação, mostrou como as forças armadas se tornou o setor mais especializado e organizado do Estado e como se relacionou com outros setores da máquina estatal e da sociedade.

Na primeira parte, Toche Medrano valeu-se principalmente da Revista Militar Peruana, para mostrar que logo após o fim da ocupação do território peruano pelos militares chilenos (Guerra do Pacífico 1879-83), havia uma forte desconfiança entre elites civis e militares: culpavam-se mutuamente pela derrota e consequente perda de territórios para o vizinho do sul. Contudo, os dois grupos concordavam em responsabilizar pela derrota a falta de sentimento nacionalista dos indígenas, que eram a maioria da população, e não se engajaram contra os chilenos.

Deste modo, entre o final do século XIX e primeira metade do XX o discurso indigenista foi o grande mote nos meios intelectuais peruanos, fosse para criticar ou apoiar a ação do Estado oligárquico. Como a constituição de 1895 atribuiu às forças armadas o papel de: “defender o Estado das agressões externas, assegurar a integridade das fronteiras, a ordem interna e o cumprimento da Constituição” (TOCHE MEDRANO: 2008:37) os militares eram, nos rincões do país, muitas vezes a única manifestação da existência do Estado em meio a uma população indígena que em muitos casos sequer falava espanhol, o que fez com que se identificassem como a própria presença da “civilização”.

Toche Medrano mostra através da análise dos textos publicados pelos militares um amálgama entre o indigenismo e o positivismo que resultou na forma paternalista e autoritária como os militares, principalmente o exército, concebiam seu papel perante a população: deveriam educá-los, torná-los cidadãos, apesar de seus “vícios” típicos da “raça”. A função civilizatória das forças armadas era exercida através do cumprimento do serviço militar obrigatório, onde os recrutas além de marchar e cantar o hino nacional eram alfabetizados, além de aprenderem noções de trabalhos manuais. A ideia era que o recruta se tornasse um disseminador dos valores aprendidos no quartel entre sua comunidade.

Um dos objetivos do serviço militar obrigatório era promover a integração da população dentro dos valores que os militares acreditavam ser nacionais, porém, segundo o autor, o resultado foi que as condições de implementação acabaram reforçando preconceitos e dificultaram a almejada integração da população na “civilização”. Um exemplo interessante são as qualidades que os militares destacaram nos recrutas indígenas: “sua resistência a fadiga, sua adaptabilidade às condições rigorosas, o desprezo pela morte e sua docilidade ante às ordens” (TOCHE MEDRANO: 2008:68). O autor destacou também o movimento inverso: o governo estabeleceu entre 1943 e 1974 a instrução militar obrigatória nas escolas, demonstrando que uma parcela dirigente sociedade civil entendia que reforçar o nacionalismo era sinônimo de militarismo, pois as forças armadas eram portadoras por excelência do espírito da Nação.

Um segundo personagem importante cuja construção encerra primeira parte da obra é o “subversivo”. O surgimento do “personagem” está intimamente relacionado ao contexto internacional dos anos 1920–1930: o fortalecimento do movimento comunista internacional pós Revolução Russa. Especificamente no Peru, o Partido Comunista tinha pouca expressão, pois a maior parte dos trabalhadores estava na zona rural, portanto fora do apelo discursivo dirigido ao proletariado. O movimento que canalizou as reivindicações e a insatisfação da população com a exploração econômica e a falta de canais de participação política foi o indigenista foi o grande mote nos meios intelectuais peruanos, fosse para criticar ou apoiar a ação do Estado oligárquico. Como a constituição de 1895 atribuiu às forças armadas o papel de: “defender o Estado das agressões externas, assegurar a integridade das fronteiras, a ordem interna e o cumprimento da Constituição” (TOCHE MEDRANO: 2008:37) os militares eram, nos rincões do país, muitas vezes a única manifestação da existência do Estado em meio a uma população indígena que em muitos casos sequer falava espanhol, o que fez com que se identificassem como a própria presença da “civilização”.

Toche Medrano mostra através da análise dos textos publicados pelos militares um amálgama entre o indigenismo e o positivismo que resultou na forma paternalista e autoritária como os militares, principalmente o exército, concebiam seu papel perante a população: deveriam educá-los, torná-los cidadãos, apesar de seus “vícios” típicos da “raça”. A função civilizatória das forças armadas era exercida através do cumprimento do serviço militar obrigatório, onde os recrutas além de marchar e cantar o hino nacional eram alfabetizados, além de aprenderem noções de trabalhos manuais. A ideia era que o recruta se tornasse um disseminador dos valores aprendidos no quartel entre sua comunidade.

Um dos objetivos do serviço militar obrigatório era promover a integração da população dentro dos valores que os militares acreditavam ser nacionais, porém, segundo o autor, o resultado foi que as condições de implementação acabaram reforçando preconceitos e dificultaram a almejada integração da população na “civilização”. Um exemplo interessante são as qualidades que os militares destacaram nos recrutas indígenas: “sua resistência a fadiga, sua adaptabilidade às condições rigorosas, o desprezo pela morte e sua docilidade ante às ordens” (TOCHE MEDRANO: 2008:68). O autor destacou também o movimento inverso: o governo estabeleceu entre 1943 e 1974 a instrução militar obrigatória nas escolas, demonstrando que uma parcela dirigente sociedade civil entendia que reforçar o nacionalismo era sinônimo de militarismo, pois as forças armadas eram portadoras por excelência do espírito da Nação.

Um segundo personagem importante cuja construção encerra primeira parte da obra é o “subversivo”. O surgimento do “personagem” está intimamente relacionado ao contexto internacional dos anos 1920–1930: o fortalecimento do movimento comunista internacional pós Revolução Russa. Especificamente no Peru, o Partido Comunista tinha pouca expressão, pois a maior parte dos trabalhadores estava na zona rural, portanto fora do apelo discursivo dirigido ao proletariado. O movimento que canalizou as reivindicações e a insatisfação da população com a exploração econômica e a falta de canais de participação política foi o época, foi fundada a Escola Superior de Guerra (ESG), não nos moldes franceses, mas estadunidenses, curiosamente, desta instituição saíram quadros que nos anos 1970 se radicalizaram na proposta de que cabia ao Estado planejar a economia e desenvolver o país. O autor mostra que tais institutos foram fundamentais para a elaboração de um planejamento de desenvolvimento nacional, no entanto os critica porque na doutrina que elaboraram não reservaram espaço para a atuação política independente da sociedade civil.

Cabe aqui nos questionarmos se cabia às forças armadas, como defende o autor, delimitar em sua doutrina o espaço para a participação política dos civis, ou se, cabia a esta conquistar seu espaço. O fato dos militares ignorarem esta “concessão de espaço”, e do autor criticá-los por isso evidencia a fragmentação e a exclusão da sociedade civil peruana pela fraqueza da classe média, desprovida de um projeto político para o país, dirigido por uma oligarquia que impedia qualquer tipo de reforma e pelo alijamento da grande população indígena de qualquer participação.

Esta doutrina de segurança pautada pelo desenvolvimento foi experimentada logo no início dos anos 1960 durante o primeiro enfrentamento entre militares e as guerrilhas surgidas no Valle de la Convención, Cusco. Alí, ao exercerem a repressão contra a população se convenceram que o abandono desta pelo governo era a causa da guerrilha. Gradualmente, os militares entraram no jogo político, primeiro apoiando o candidato a presidência em 1963 Fernando Belaúnde, que defendia reformas. Logo, em 1968, em meio a uma forte crise, liderados pelo Gal. .Velasco Alvarado os militares tomaram as rédeas do país: nacionalizaram empresas estrangeiras, fizeram a reforma agrária, criaram estatais e tomaram outras medidas que visavam a industrialização e a criação de um mercado interno no Peru.

O governo reformista do Gal. Velasco foi apoiado por parte daqueles que militaram em movimentos de esquerda pelas suas propostas desenvolvimentistas e por sua política externa independente em plena Guerra Fria. Apesar de ter criado um órgão para canalizar a participação popular SINAMOS (Sistema Nacional de Mobilização Social), não conseguiu lidar com as manifestações de insatisfação, pois, apesar de suas medidas, o governo militar não conteve o aumento do custo de vida e, as importações requeridas pela indústria levou à falta de divisas e a uma grave crise. O projeto de desenvolvimento nacional militar aplicado entre 1968 e 1975 apesar de ter melhorado sensivelmente a distribuição de renda, foi insuficiente tamanho o era o abismo social, além disso não conseguiu integrar agricultura e indústria para o abastecimento interno.

A última parte do livro, “ação no vazio (o esgotamento da doutrina militar peruana)”, aborda desde a volta dos civis ao poder em 1980 até o final do regime fujimorista em 2000. Foi neste período em que, especialmente as regiões de Ayacucho e Junin, sofreram os efeitos perversos da guerra contra as guerrilhas especialmente o Sendero Luminoso. Nesta parte da obra o autor apoiou-se principalmente no relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação e na imprensa.

Segundo Toche Medrano, ao mesmo tempo que se esgotaram as possibilidades do desenvolvimentismo militar, as teses neoliberais difundidas a partir do Consenso de Washington foram respaldadas pelas elites, confluíram de forma que a a violência foi a única resposta do Estado para os protestos sociais contra o desmonte do aparato de intervenção estatal e distribuição de renda montado durante o regime militar e contra a guerrilha. Assim guerrilha e oposição ao neoliberalismo foram tratados como se fossem um só fenômeno. Como agravante, um novo ator entrou em cena: os narcotraficantes interessados na tradicional produção cocaleira andina.

Toche Medrano mostra que os militares somente pacificaram o país quando separaram guerrilha, população camponesa e narcotraficantes: para combater os primeiros tiveram que superar a desconfiança dos segundos, e incorporar camponeses como recrutas em suas regiões de origem, organizá-los e armá-los, originando os comitês de autodefesa. Por esta atitude independente foram acusados pelos estadunidenses de apoiar as guerrilhas. Quanto ao narcotráfico, um dos motivos da queda do regime fujimorista foram denúncias de corrupção contra altas esferas militares que recebiam dinheiro para facilitar suas ações, comprovadas pela existência de bases militares próximas a pistas clandestinas de narcotraficantes.

O autor referiu-se à ausência de punição a muitos crimes denunciados pela Comissão da Verdade e Reconciliação, como os massacres de camponeses, e atos de corrupção, especialmente o envolvimento entre militares e narcotraficantes; tal impunidade foi explicada devido ao corporativismo das Forças Armadas. Toche Medrano conclui apontando a necessidade urgente na promoção de mudanças na relação de todo aparato estatal, com a população civil, porque muitos dos problemas sociais que levaram à explosão de violência continuam insolúveis como o acesso à justiça e a cidadania.

A pesquisa de Eduardo Toche Medrano contribui para elucidar uma relação complexa entre umas das instituições que fundam o conceito de Estado e seus habitantes, que no caso dos rincões do Peru e das barriadas (favelas) da capital, estão muitas desprovidos de qualquer garantia de cidadania. A Comissão da Verdade e Reconciliação que em nosso vizinho do noroeste investigou os crimes cometidos por agentes do Estado e por guerrilheiros contra a população civil, não resultou em punição para os primeiros, unicamente para segundos, apesar do parecer responsabilizar o Estado pelo clima de violência, deve-se salientar que, a apuração dos fatos consiste num primeiro passo, nada desprezível, rumo ao fortalecimento de instituições democráticas. Aqui no Brasil, o historiador José Murilo de Carvalho lançou em 2005 a coletânea de artigos que tocam, de alguma forma, as relações entre militares e civis, Forças Armadas e política no Brasil (Jorge Zahar, 2005) contudo ainda não são muitos aqueles que se aventuram pela história militar numa abordagem cronológica relativamente ampla (aproximadamente dois séculos) e levantando questões tão importantes.

Referências

CARVALHO, José Murilo de. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

Êça Pereira da Silva –Doutoranda do Programa de História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Minha pesquisa consiste numa comparação entre as doutrinas militares brasileira e peruana nos anos 1950 e conta com o apoio CNPq. E-mail: [email protected].


TOCHE MEDRANO, Eduardo. Guerra y democracia: los militares peruanos y la construcción nacional. Lima: DESCO/ CLACSO, 2008. Resenha de: SILVA, Êça Pereira da. Em Tempo de Histórias, Brasília, n.20, p.177-182, jan./jul., 2012. Acessar publicação original. [IF].

Población Andina de las Provincias de Arica y Tarapacá. El Censo Inédito 1866 – RUZ et. al (C-RAC)

RUZ, Rodrigo; DÍAZ, Alberto; GALDAMES, Luis. Población Andina de las Provincias de Arica y Tarapacá. El Censo Inédito 1866. Arica: Ediciones Universidad de Tarapacá, 2008, pp. 426, Arica. Resenha de: CONTRERAS, Carlos. Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.42, no.2, p.541-542, dic. 2010.

El libro de Ruz, Díaz y Galdames pone a disposición de los estudiosos un documento importante para la historia de una frontera tan convulsionada como la que separan a Bolivia, Chile y Perú. Representa también un producto del trabajo que desde hace varios años ellos llevan adelante acerca del estudio de las poblaciones andinas de una región que ha sido un permanente terreno -ora de olvidos, ora de disputas- entre las élites políticas que controlan los gobiernos nacionales de las repúblicas de Chile, Perú y Bolivia. Estos investigadores, junto con otros colegas, como Jorge Hidalgo, Sergio González, Luis Miguel Glave, Tristan Platt y Mark Thurner (por nombrar a algunos), han tenido el mérito de mostrar cómo paralelamente a las “historias nacionales” construidas bajo el canon académico del romanticismo y el positivismo europeos, fluyeron las historias de otras comunidades, que en cierta forma trascendieron los moldes nacionales modernos. Los pueblos andinos de las provincias de Arica y Tarapacá han debido mutar de “incas”, en “españoles”, “peruanos” y “chilenos”, buscando acomodarse a su cambiante filiación.

El mapa de la carátula del libro recuerda que Arica y Tarapacá correspondieron en el siglo XIX al departamento peruano de Moquegua, que a su vez nació de una escisión de lo que fuera la antigua intendencia de Arequipa en la tardía época colonial. Tensionada entre sus relaciones con el sur peruano (Arequipa) y el altiplano boliviano (la región minera de Potosí), y escasa de agua, la región se caracterizó por su especialización en la minería. Tras la era de la plata, llegó la del salitre, que terminó provocando la Guerra del Pacífico de 1879 y la anexión a Chile de dichos territorios. Pero mientras en los mapas los nombres de letras grandes cambiaron con el tiempo, los de los pueblos, de letras pequeñas, permanecieron, representando con su persistencia la continuidad de una historia, en medio de las turbulencias desatadas por la política de diplomacia y cañonazos de las élites reinantes en las lejanas capitales nacionales.

Tal como mencionan los autores, el censo peruano de 1876 fue el primer censo de esta república organizado según cánones modernos, aunque oficialmente el Estado peruano reconoce tres censos nacionales anteriores, a saber: los de 1836, 1850 y 1862. Con la finalidad de levantar la contribución de indígenas y castas (junto con otras contribuciones, que afectaban a los habitantes no indios) las autoridades políticas de cada provincia peruana debían realizar censos o “matrículas” de los habitantes de sus circunscripciones cada cinco años. Algunas de estas matrículas existen en el Archivo General de la Nación de Lima, para fechas dispersas. Sobre la base de los informes de los subprefectos, las Guías de Forasteros y el diario oficial “El Peruano” publicaban periódicamente cifras de población de los departamentos del Perú, que luego se consolidaban en un total nacional. Desde luego, los subprefectos, que estaban al mando de las provincias, no fueron capaces de mantener el ritmo quinquenal de los empadronamientos y los apoderados fiscales que contrataban para estos menesteres, a veces se contentaban con cotejar los registros de bautizos y defunciones de las parroquias para presentar las nuevas cifras de contribuyentes.

La abolición de la contribución de indígenas y castas en 1854 terminó con la necesidad de tales recuentos para fines fiscales, pero en los años siguientes se discutieron en el Congreso varios proyectos encaminados a reintroducir algún tipo de impuesto general a la población económicamente activa, que reemplazase al abolido “tributo”. Ninguno de ellos llegó a ser aprobado -y cuando llegó a serlo, no alcanzó a ser aplicado-, hasta que en 1865 una revolución estallada en el marco de la crisis del conflicto con España llevó al gobierno al coronel Mariano Ignacio Prado. Su Ministro de Hacienda fue Manuel Pardo y Lavalle. Sin Congreso que se le opusiera, éste consiguió instaurar un impuesto universal al que se denominó “contribución del jornal”, por estar basado en el pago al Estado de doce días de jornal al año. Probablemente el censo de Arica y Tarapacá ubicado por Ruz, Díaz y Galdames conesponda a los esfuerzos de las autoridades nacionales y locales por actualizar las cifras de tributarios con vistas a la nueva contribución. Esta imponía un pago anual al Estado de acuerdo al nivel del jornal prevaleciente en cada provincia, por lo que se requería un “estado” de la población activa de cada una de ellas, con los datos de ocupación económica y oficio, que permitan deducir su nivel de ingresos.

La Guía Política, Económica y Militar de 1858 estimó para el departamento de Moquegua la cantidad de ochenta mil habitantes, con esta anotación: “Su población, según los censos practicados en el año 1858, pasa de 80.000 almas, lo que no puede dudarse desde que es tan considerable la inmigración que hay de bolivianos, chilenos y europeos sobre las provincias de Tacna, Arica y Tarapacá, estimulados por el subido jornal que se paga y facilidades para adquirirlo” (p. 245).

La historiografía peruana sobre el siglo XIX ha sido una buena muestra de ese silencio sobre la población indígena que refieren los autores en su texto introductorio del libro. Falta de fuentes sobre la población indígena, una vez que la crisis del Estado colonial dejó paso a una república que se pretendía más criolla que andina; falta de rebeliones que despertasen la atención de los historiadores; falta de interés del propio Estado por la población andina, desde que la riqueza del guano hizo prescindible su contribución fiscal; todo se confabuló para alejar a los historiadores de los avatares de una población que componía tres quintas partes de la población nacional. Sólo recientemente, gracias al trabajo de los autores antes citados, a los que cabría añadir a otros como Jean Piel, Florencia Mallon, Nelson Manrique y Cecilia Méndez, que desarrollan una historiografía menos étnica pero igualmente preocupada en el “rescate” del papel de los campesinos, ese olvido ha comenzado a corregirse.

En medio de tales esfuerzos es que ubico el trabajo de Rodrigo Ruz, Alberto Díaz y Luis Galdames. Y por supuesto lo saludo y encomio como digno de todo apoyo, allá y acá. Con frecuencia sus autores tropezaron con la incomprensión y los recelos nacionalistas del personal de los repositorios, y nunca fueron considerados por las comisiones binacionales de historiadores, que se reunían en las antiguas capitales virreinales a tratar de curar las heridas de las guerras en la conciencia de los pueblos. Me alegro de que no hayan desmayado frente a los obstáculos y de que ahora podamos tener en las manos este estupendo documento que ayudará a reconstruir un pasado que realmente une a nuestros pueblos.

Lima, julio de 2009

Carlos Contreras – Departamento de Economía, Pontificia Universidad Católica del Perú, Lima, Perú. [email protected]

Acessar publicação original

[IF]

 

Movimientos y poder indígena em Bolivia, Ecuador y Peru – ALBÓ (AN)

ALBÓ, Xavier. Movimientos y poder indígena em Bolivia, Ecuador y Peru. La Paz: CIPCA, 2008, 294 p. Resenha de: CHAVES, Daniel Santiago. Anos 90, Porto Alegre, v. 16, n. 29, p. 365-369, jul. 2009.

Linguista e antropólogo espanhol, Xavier Albó é radicado na Bolívia desde os anos ’70, quando co-fundou o Centro de Investigación y promoción del Campesinado (CIPCA), uma instituição que se tornou bastante influente no país e em toda a região andina no tratamento sofisticado à questão indígeno-camponesa, tanto na sua essência teórico-analítica, quanto no próprio acompanhamento do desenvolvimento histórico do conceito.

Mas qual é o ponto central do trabalho de Albó? Ao historicizar os movimentos sociais (sejam autônomos ou ligados aos partidos políticos), relacionando-os com a questão indígena no Peru, Bolívia e Equador, Albó age como um topógrafo e faz um mapeamento detalhado destes movimentos, captando as suas semelhanças, regularidades e dessemelhanças. A sua chave de compreensão enfatiza as transições históricas das bases – outrora esquecidas, sendo hoje o motor das transformações no chamado “arco andino” – através de uma avançada e sofisticada análise política, cultural e sociológica, sem esquecer as relações com as diversas turbulências econômicas dos três países.

E o que há de relevante nessa obra? Albó entende que os indígenas – ou melhor, pueblos originarios (“povos originais”) – representam a maioria pujante da população nestes países, não só em termos quantitativos, como na sua relação diversa com os processos nacionais e continentais e, consequentemente, na sua luta por uma posição que represente a sua importância nestes termos. O autor elabora um crescendo que toma referências históricas da conquista espanhola, passando pela repartição da sua forma de organização política autóctone (o Tawantinsuyu, “Império Inca”) e pela submissão aparentemente completa ao jugo do colonizador para explicar que o indígena originário não pode ser considerado somente mais um elemento dessas sociedades. Pelo contrário, ele representa o pilar central desse desenrolar de fatos, cuja trajetória nos últimos 500 anos deve estar diretamente relacionada ao tempo presente e aos próximos anos.

Apesar disso, Albó retrata um passado recente de sofrimento, paúra, pobreza e esquecimento nos três países, cada qual revelando uma dinâmica diferenciada. Enquanto o Equador é notado como a matriz das atuais formas de organização dos chamados movimentos sociais, o Peru se encontra em um lento despertar após anos de Sendero Luminoso e a Bolívia despontou com a sua diversidade pujante para a conquista do poder instituído. Nos três países, igualmente, a busca por maior participação e representação política está diretamente relacionada a uma repressão (ou omissão) histórica aos direitos destes grupos identitários, por vezes locais, mas que emergem no século XXI sobre o processo da glocalização, termo que ele toma emprestado do sociólogo Roland Robertson (1995) para definir a ascensão e relação mútua entre pequenos núcleos/ instâncias locais e a dinâmica global. Ou seja, a comunidade local começa a pensar – e agir – em escalas diferenciadas e entrepostas sobre termos globais, transcendendo por vias diferenciadas a sua condição restrita. Think global, act local, para “outro mundo possível”.

Dessa maneira, emerge uma intensa identidade regional, assumindo francos tons anti-imperialistas (clara resposta aos extremos dos ‘ajustes estruturais’ dos últimos 20 anos) e nacionalistas de esquerda, optando pela defesa integral da soberania nacional no Pós-Guerra Fria. Porém, mais profundo que isso, subsiste uma franca liberação irrompendo-se nas bases destas sociedades: dos povos indígenas a uma condição de índio alzado (índio alçado), não mais convivendo e agindo como o índio permitido. Ou seja, a rigor, a maioria não seria mais tutelada por instituições, leis e lideranças brancas (ou brancóides), mas legitimamente identificadas e nascidas no seio deste enorme caldeirão cultural, político e societário.

O autóctone, assim, emancipa-se paulatinamente na atualidade da sua busca pelo poder instituído. Evidentemente, deixando de lado formas ocidentalizadas de organização sociopolíticas como Partidos Políticos clássicos, verticais e hierarquizados que, em grande medida, são incompatíveis com esse mosaico dinâmico. É possível relacionar essa transformação com um caráter reticular inovador, objetivamente assumido nessa nova dinâmica organizacional: estes partidos têm grande aderência junto a estes grupos identitários justamente por possibilitarem a sua participação mais ampliada, e mais, por se relacionarem com as entranhas do comunitário sem negar o nacional e o regional. Mas voltemos ao Peru, Equador e Bolívia, ou melhor, ao núcleo duro deste Arco Andino, visto que o verdadeiramente interessante é acompanhar o desenrolar dos fatos nestes países através de um nexo conjunto, não de forma separada.

É imperioso relatar que Albó trata esses movimentos sociais andinos de forma muito delicada, sem encará-los de forma monolítica e inflexível; pelo contrário, lança mão de precisa apreciação para compreender a diversidade específica de cada localidade nas novas reivindicações políticas (gênero, recursos naturais, participação política, autoidentificação e afirmação cultural, entre outras diversas) dos povos se afirmando na unidade paulatina das “nações originarias”, última etapa do deslocamento histórico-existencial destes grupos. E é precisamente nesse ponto em que nos detemos, em um presente sacudido pela emersão dessas nacionalidades como elementos centrais para a definição do futuro regional, quiçá da Integração Sul-Americana como processo maior.

Se levarmos em consideração que a conquista desse poder instituído – sejam congressos, assembleias constituintes ou cargos de alto poder decisório – pela via democrática foi forjado por uma longa experiência histórica e assim solidificou a hegemonia destes grupos nos países relacionados a esse arco andino, e mais, que essa ascensão tem fortes conteúdos nacionalistas pan-andinos, é impossível não situar os discursos fraternais como um impulso comum, ensejando a reunificação em alguns casos.

Deve-se comentar, entretanto, que esta não se especula na leitura do autor por vias de um só corpo jurídico-legal constitucionalizado, cuja expectativa de ligação estreita entre nação e estado – e assim, reunificação territorial – é advertida inclusive por Albó como uma limitação analítica dos cientistas políticos. Sem comungar da mesma leitura que Albó, é possível entrever questões por um prisma pragmático, posicionado sobre os temas mais sensíveis da integração regional sul-americana, relacionados à região que aferrolha geopoliticamente a Amazônia Brasileira.

A parcela do referido “Arco Andino”, tratada por Albó O que resta como substrato são a pertinência e a potencialidade destes conteúdos (anti-imperialismo, nacionalismo pan-andino de esquerda, questões energéticas comuns, reação antirracista, entre outros) derivando em mais um comportamento nacional/regional influente e decisivo sobre um projeto de Integração Sul-Americana, que possivelmente concorre na esteira do processo de regionalização em curso. Na medida em que este projeto não se encontra mais em um campo meramente seminal, persiste uma série de demandas significantes ainda a serem tratadas pelos países unidos em torno da América do Sul – seguridade jurídica, planejamento energético regional, monitoramento de fluxos ilícitos e migratórios, defesa e segurança militar, entre outros – que são fundamentais para a solução das controvérsias regionais que porventura surjam. Em tempo: já é possível nomear alguns casos: Petrobrás (Bolívia, 2006), Odebrecht/ Furnas (Equador, 2008), brasileiros proprietários de terra no Paraguai, os ‘Brasiguaios’, além da questão tarifária em Itaipu (Paraguai, 2008).

Nesse sentido, é imperioso considerar pragmaticamente os tons multifacetados dessas conjunturas nacionais andinas, na medida em que com elas coexiste a ascensão de lideranças nacionalistas inclinadas à esquerda. A pluralidade de tais conjunturas – por vezes conflitivas – faz com que elas se revelem determinantes processos para o futuro das suas nações devido à própria integração multilateral destas com projeções sólidas de hegemonia para gerar desenvolvimento nas suas economias nacionais e transformação política do ordenamento jurídico, democrático e estatutário dos Estados – ainda que essa transformação não necessariamente objetive estabilidade. Um discurso pan-andino comum baseado em identidade, oposição antissistêmica ao capitalismo e a toda potência “imperialista” (incluindo-se aí o Brasil, por vezes) tem suas raízes e forças-motrizes perfeitamente assinaladas por Albó, que ata os seus cabos em um raio-X preciso da constelação milenar constitutiva do “homem andino”.

Daniel Santiago ChavesÉ pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente/UFRJ e mestrando do Programa de Pós-Graduação em História Comparada. E-mail: [email protected].

Alfareros del Imperio Huari. Vida Cotidiana y Áreas de Actividad en Conchopata – PARAVICINO (C-RAC)

PARAVICINO, José Ochatoma. Alfareros del Imperio Huari. Vida Cotidiana y Áreas de Actividad en Conchopata. Lima: Facultad de Ciencias Sociales, Universidad Nacional de San Cristóbal de Huamanga, 2007. pp. 328p. Resenha de: LOZA, Carmen Beatriz. Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.40, n.2, p.235-237, dic. 2008.

La reciente aparición del último libro del arqueólogo y antropólogo peruano José Ochatoma Paravicino ofrece numerosas pistas de investigación futuras al haber presentado un enfoque novedoso sobre la vida cotidiana y las áreas de actividad de Conchopata (Andes Centrales). Se trata de un conocido centro secundario Huari, en Perú, cuya principal actividad estuvo concentrada en la producción especializada de cerámica fina con iconografía y acabado magistral, la cual fue posible de producir dentro de un patrón jerárquico. El esfuerzo investigativo del autor consistió en proponer la comprensión de la utilización del espacio, la organización de la producción y los sistemas de creencias y rituales entre los Huari durante el siglo IV. Todo esto planteando la discusión de categorías arqueológicas y antropológicas que se redefinen y aclaran a la luz de los datos empíricos de Conchopata, sitio arqueológico situado al noroeste de la Plaza Mayor de la ciudad de Ayacucho, pero cuyas evidencias se dispersan hasta las inmediaciones del aeropuerto.

Este libro fue escrito a partir de la redacción de su tesis para obtener el grado de Doctor en la Universidad Nacional Autónoma de México, bajo la dirección de la arqueó loga mexicana Linda Manzanilla Naim. La estructura del libro refleja una arquitectura de un trabajo académico desarrollado en siete capítulos (incluidas las consideraciones finales). La elección del terreno de investigación no fue hecha al azar, más bien se funda en apreciaciones anteriores que caracterizaban el sitio de Conchopata como un gran centro de producción cerámica, excavado por el propio autor en distintas oportunidades.

Apoyado en esos antecedentes, se propuso excavar y analizar la evidencia arqueológica considerando diversas escalas de análisis. Así, “la unidad mínima es el área de actividad, luego la unidad doméstica y, en una escala jerárquica mayor estaría la vida cotidiana”. Su objetivo principal consiste en comprender el ámbito de la organización social ligada a la subsistencia y la reproducción familiar. En esa línea se centró en el análisis de la producción de cerámica ahondando en todas sus etapas, observando paralelamente la ideología de la fabricación y distribución tanto en las áreas ceremoniales y las tumbas, como en los depósitos de ofrendas.

El primer capítulo es esencial porque sirvió de piedra angular para plantear la discusión sobre los linea-mientos teóricos que servirán de lazos con los capítulos siguientes, donde se utilizó la información arqueológica a la luz de muchas de las nociones claves y elecciones metodológicas utilizadas a lo largo del texto. De este modo, presenta el corpus teórico donde se discuten conceptos centrales. Por un lado, aquéllos que están muy relacionados con el análisis del espacio: áreas de actividad, unidades domésticas y espacio social. Por el otro, conceptos más técnicos como especialización artesanal y taller. El conjunto de esas nociones es revisado tomando en cuenta tanto la bibliografía internacional como aquella producida localmente a partir de evidencia arqueológica de Conchopata.

Mientras que en el segundo capítulo se muestra el entorno ambiental complementado con la descripción geomorfológica que sirve de sostén para el análisis de los recursos no metálicos como la arcilla y sus bancos que servían para la producción de la cerámica en gran escala. Téngase presente que la especialización se debe a que los pobladores de Conchopata tenían dificultades para dedicarse a la agricultura, pero supieron sacar partido de la abundancia de mantos arcillosos convirtiéndose en eximios especialistas alfareros. Dentro de este mismo capítulo se repasan, en una perspectiva de larga duración, las visiones sobre el sitio desde 1492 hasta las investigaciones anteriores al 2007. Justamente, gracias a ese balance bibliográfico se revela que esos análisis se habrían centrado en la taxonomía descriptiva de cerámica, aislando el contexto social de producción.

El tratamiento de la esfera de reproducción familiar se desarrolla, ampliamente, en el tercer capítulo apoyado en la cerámica “doméstica” o “utilitaria” como una fuente sin parangón para entender la reproducción social, a pesar de lo subestimada que estuvo por los estudiosos de Conchopata. Por esa razón, fue necesaria una propuesta de clasificación morfológica de los diversos tipos de vasijas a fin de distinguir: la preparación de alimentos, el servicio y consumo de alimentos, el transporte y entrenamiento. También, la evidencia arqueológica permitió distinguir fuera del área de la cocina otras más: la del descanso, almacenamiento, patios y basurales.

El cuarto capítulo está dedicado a la esfera de la producción cerámica. Dos dimensiones bien definidas lo caracterizan: Por un lado, una presentación del espacio arquitectónico mostrando las áreas definidas de producción alfarera y grandes concentraciones de herramientas y desgrasantes. Por el otro, la tecnología para la producción, aspecto que es tratado de manera más extensa. Por ejemplo, se precisa el empleo de azadas y azadones multifuncionales, las porras discoidales perforadas y los batanes. Apoyado en esa información, nos introduce al manejo de la preparación arcillosa y su amasado. El autor muestra claros ejemplos del empleo de moldes que servían para dar cuerpo a las cerámicas cocidas en hornos cerrados ubicados al interior de las unidades habitacionales. Importante evidencia de la utilización de un alto nivel tecnológico.

El quinto capítulo reconstruye la arquitectura de las unidades domésticas dentro de un contexto urbanístico cuyo estilo correspondería a “horizonte arquitectónico ortogonal celular”. Mostrándonos que Conchopata fue “sede de una ciudad muy importante que al parecer, en sus primeras fases, competía con la metrópoli Huari”. Justamente en ese momento de pugna se produjo la especialización cerámica. Para entender mejor los patrones arquitecturales se presentan las características de muros, pisos, accesos, hornacinas, áreas abiertas, banquetas y canales de drenaje.

El sexto capítulo está relacionado a la esfera ideológica de la cotidianidad. Se identifican los diversos contextos: las áreas ceremoniales, las ofrendas y los sistemas de entierros. Para estos últimos se propone una tipología a partir de los componentes básicos. Uno de los indicadores más valiosos es el análisis de la cerámica en particular de las vasijas rituales y votivas. Estos temas son complementados por la información arquitectónica sobre los entierros dentro de las unidades domésticas, lo cual es un elemento importante de la cosmovisión de los habitantes de Conchopata. Este dato es esencial porque nos permite ampliar las informaciones sobre los espacios ceremoniales cerrados y abiertos.

Finalmente, el séptimo capítulo de manera sintética presenta los logros de la excavación dando coherencia a la diversidad de temas desarrollados en los seis capítulos precedentes. Reafirma su idea de que las condiciones ambientales fueron esenciales para la ocupación de Conchopata. Plantea que se produjo en “una etapa previa al Estado Huari donde el crecimiento de la población habría generado el desplazamiento de algunos agricultores hacia las zonas de baja productividad agrícola, quienes en su afán de obtener los recursos necesarios para su subsistencia, se habrían especializado en la producción de cerámica”. Posteriormente se dedicaron tiempo completo a esa actividad bajo el mando de las élites dominantes Huari.

El autor nos propone la noción de vivienda-taller alfarero como un espacio aislado si no más bien conectado con otros espacios habitacionales y ceremoniales. Esto significa que existía una multifuncionalidad de los sitios donde se desarrollaban diversas actividades domésticas o rituales. Existían algunos talleres donde se producía cerámica a tiempo completo y otros a tiempo parcial, pero sea cual fuere la modalidad parecería que sirvió para pagar tributo entre otros productos manufacturados.

Algunas habitaciones guardaban secretamente a los muertos (con quienes convivían), pero también se construían mausoleos para éstos. El culto a los antepasados fue central, al igual que el denominado “Dios de los Báculos y otras deidades”. El estudio de la ideología religiosa se constituyó en una clave para entender el posterior abandono de Conchopata.

En suma, el libro de Ochatoma Paravicino, a diferencia de muchos trabajos donde la teoría no se armoniza con los datos empíricos, es un caso donde existe una buena sincronización. Además, el libro tiene el mérito de presentar una revisión bibliográfica exhaustiva de un arco temporal bastante amplio: desde 1927 hasta 2007, sobre los trabajos realizados en Conchopata y en torno al sitio. El examen pasa obligatoriamente por los estudios locales peruanos y los resultados obtenidos por los investigadores extranjeros interesados por Conchopata. Señalo esto como algo provechoso, pues en algunos estudios internacionales se prescinde de los trabajos arqueológicos andinos locales, sin que ello problematice a los autores sobre lo fragmentario de sus estados de arte. En todo caso, la presentación cronológica de la bibliografía debió ser mejor articulada en la narrativa del autor porque se presenta como una sucesión de fechas, cuando sabemos que reflejan cambios teóricos o metodológicos que se fueron produciendo en la ciencia arqueológica.

El centro de la reflexión estuvo claramente explicitado al recrear la cotidianeidad que, como lo reconoce el autor, ha sido una temática sumamente compleja para su estudio. Al igual, que la demostración de la especialización jerarquizada de la producción alfarera que habría permitido la definición y la legitimación de las élites locales Huari.

Queda claro a través del libro que las élites Huari organizaban el trabajo de los alfareros, logrando que algunos se especialicen en la producción de bienes utilitarios de amplia distribución. Mientras que otros vendrían a ser “especialistas agregados” encargados de prestar servicios a un patrón. El autor ahonda en el aspecto de la especialización gracias a las excavaciones de los sitios habitacionales y deja claro que existía un pequeño grupo de especialistas en cerámica fina con rica iconografía. Al respecto, es importante señalar que en el último capítulo la problemática de la cerámica es abordada de manera dispersa y redundante, lo cual habría podido evitarse con una puntualización temática en uno solo de los apartados.

Algo semejante sucede a nivel narrativo con la problemática de los rituales domésticos cuya evidencia material -en restos de camélidos, cuyes o conchas enterrados en pequeñas fosas cavadas en las paredes- merecería alguna comparación y una mayor profundización. En todo caso, este y otros aspectos forman parte de los avances, y nuevas propuestas para la comprensión de la sociedad Huari, dignos de dilucidarlos, debatirlos y problematizarlos en el futuro a la luz de esta importante publicación sobre Conchopata.

Carmen Beatriz Loza – Directora de Investigación INBOMETRAKA, La Paz, Bolivia.

E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[IF]

 

Polémicas intelectuales en América Latina: del “meridiano intelectual” al caso Padilla (1927-1971) – CROCE (VH)

CROCE, Marcela (Org.). Polémicas intelectuales en América Latina: del “meridiano intelectual” al caso Padilla (1927-1971). Buenos Aires: Simurg, 2006. Resenha de: COSTA, Adriane A. Vidal. Varia História, Belo Horizonte, v.23, n.38, p. 643-648, jul./dez., 2007.

A coletânea organizada por Marcela Croce inclui um conjunto de textos que contemplam quatro importantes debates político-intelectuais do século XX na América Latina, marcados por questões polêmicas e por uma intensa “belicosidade discursiva”. O primeiro desses debates, envolvendo espanhóis e hispano-americanos, ocorre no contexto vanguardista dos anos 20, com a publicação do artigo do espanhol Guillermo de Torre, Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica, na revista madrilena La Gazeta Literária, em abril de 1927, no qual o autor, como o próprio título indica, propõe Madri como o meridiano intelectual da América Hispânica. O segundo debate também ocorre nos anos 20 e gira em torno das discussões entre os peruanos José Carlos Mariátegui e Víctor Raúl Haya de la Torre sobre a teoria e a prática do marxismo. O terceiro debate constitui a polêmica discussão entre o argentino Julio Cortázar e o peruano José María Arguedas sobre o indigenismo na literatura, que ocorre entre 1968 e 1971. E, por fim, o “caso Padilla” (1971), que suscitou um polêmico debate em torno do regime de Fidel Castro e sua relação com os intelectuais.

No conjunto, a obra reúne correspondências, poesias, manifestos e artigos que alimentam o debate intelectual com dúvidas profícuas e polêmicas fecundas. Além dessa documentação, o livro traz textos de vários autores que analisam, separadamente, os principais matizes dos quatro debates supracitados.

A introdução é de Marcela Croce, intitulada Polémicas, entredichos y disidencias en América Latina, na qual a autora afirma que, de um modo geral, o que dá o tom polêmico a esses debates é a vontade de criar uma verdade, ou seja, cada intelectual exprime suas razões como definitivas, mesmo quando simula certas concessões ao oponente para terminar desclassificando-o por sua ignorância, seu descuido, sua incapacidade ou sua má fé. O embate acontece quando as “verdades” são questionadas, e, na maioria das vezes, transforma-se no enfrentamento do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, do claro e do confuso. Quando esse ocorre, no afã de defender posições, as acusações ao oponente vêm à tona: incongruente, iconoclasta, ortodoxo, contraditório. São polêmicas, mal-entendidos, questionamentos que marcam o território da “belicosidade discursiva” no campo intelectual latino-americano. É a partir desses argumentos que Marcela Croce organiza a coletânea, ou melhor, uma “antologia de discursos polêmicos na América Latina”.

A primeira parte do livro é dedicada à polêmica do “meridiano intelectual” e traz, na íntegra, o texto de Guillermo de Torre, Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica. Além disso, apresenta dois pequenos artigos que discutem a questão. No primeiro, Del lado de allá, Pablo Valle analisa um dos pontos mais polêmicos do texto de Guillermo de Torre, qual seja: Madri como o grande meridiano literário para os hispano-americanos, em substituição, principalmente, a Paris. E no segundo, Del lado de acá, Gabriela G. Cedro analisa a reação e o enfrentamento, quase que imediatos, de vários intelectuais hispano-americanos, que proclamam uma relativa autonomia intelectual em relação à Espanha. Além disso, a polêmica sobre o “meridiano intelectual” propicia o debate sobre questões estéticas, artísticas e culturais. Grande parte desse debate está nas páginas da revista ultraista e portenha Martín Fierro (n°.42, junho-julho de 1927), que contém as primeiras declarações belicosas contrárias à proposta do “meridiano”. O tom das declarações dos martinfierristas varia entre a ironia, a zombaria, a seriedade, o desprezo, mas sempre mantendo a coerência dos argumentos. Segundo Cedro, as respostas dos martinfierristas são vistas na Espanha como despropositadas e injuriosas.

O livro traz o número 42 da revista Martín Fierro, que contém os textos/ respostas de Ortelli y Gasset (Jorge Luis Borges e Carlos Mastronardi), A un meridiano encontrao en una fiambrera; Pablo Rojas, Imperialismo baldío; Raúl Scalabrini Ortiz, La implantación de un meridiano anotaciones de sextante; Jorge Luis Borges, Sobre el meridiano de una gaceta; Lisardo Zía, Para Martín Fierro; Ildefonso Pereda Valdés, Madrid, meridiano etc.; Ricardo Molinari, Una carta.

Na seqüência estão organizados os textos com as respostas de vários intelectuais espanhóis às declarações do martinfierristas, que são acusados, entre outras coisas, de arcaicos, retrógrados e desdenhosos. Os textos são publicados na revista La Gaceta Literária, Madri, 1°. de setembro de 1927, n°.17, com o sugestivo título Un debate apasionado; abaixo do título a inscrição: “campeonato para un meridiano intelectual. La selección argentina Martín Fierro (Buenos Aires) reta a la española Gaceta Literaria (Madrid). Gaceta Literaria no acepta por golpes sucios de Martín Fierro que lo descalifican. Opiniones y arbitrajes”.1 Os autores que assinam os textos são: Giménez Caballero, Guillermo de Torre, Ramón Gómez de la Serna, Benjamin Jarnés, Gerardo Diego, Antonio Espinosa, entre outros.

Como a intenção do volume é mostrar as polêmicas e os enfrentamentos nesse debate, foram compiladas também as réplicas dos martinfierristas aos intelectuais espanhóis. A réplica está no número 44/45 de Martín Fierro (ago/nov de 1927), nos seguintes artigos: Buenos Aires, metrópoli, de Santiago Ganduglia; Croquis, de Vizconde de Lascano Tegui; El pez por su boca muere, de M.F. (hijo); Carta a los españoles de la ‘Gaceta Literaria’, de Pablo Rojas Paz; Extrangulemos al meridiano, de Nicolas Olivari. Todo esse debate repercutiu em outras revistas hispano-americanas como Avance, de Havana, e Variedades, de Lima, mas não foi tão intenso como na revista Martín Fierro.

A segunda parte do livro traz o polêmico debate entre José Carlos Mariátegui e Víctor Raúl Haya de la Torre em torno da teoria e da prática do marxismo. O artigo é de Susana Santos, intitulado Polémicas de la ‘pátria nueva’ (1919-1930): ¿peruanizar el marxismo o marxistizar el Peru?, que mostra os principais pontos da polêmica entre os dois peruanos. A autora faz uma boa síntese e procura compreender a polêmica dentro da história peruana, mostrando o contexto político da Pátria Nueva, as lutas camponesas e a “Geração de 20”. Em contrapartida, os documentos anexados são escassos, ou seja, apenas um texto de Mariátegui, Aniversario y balance (Amauta, n°.17, 1928); uma breve síntese do programa da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA); e uma carta de Haya de la Torre para Mariátegui, escrita no México em 1928, que não são suficientes para expressar a intensidade da polêmica.

A terceira parte do livro é dedicada à polêmica Arguedas-Cortázar, que girou em torno do indigenismo na literatura.2 O artigo Entre la tierra originaria y la ciudad de las luces: un problema de ubicación: arriba o debajo de la torre del marfil, de Mariana Bendahan, esclarece a origem da polêmica e os canais nos quais ocorrem o enfrentamento e a “belicosidade discursiva”. Enfim, a autora faz um breve resumo do panorama textual e contextual em que se inscreve a polêmica, com o intuito de mostrar que o debate em torno do indigenismo canaliza outros temas centrais: a relação entre cultura e política, a natureza da função do intelectual na América Latina após a Revolução Cubana, a tensão entre localismo e cosmopolitismo, as posições polares de ambos a respeito do “boom” da literatura latino-americana(Córtazar no centro e Arguedas na periferia).3

A origem da polêmica é uma carta que Cortázar escreve, de Paris, a Roberto Fernández Retamar, em maio de 1967, publicada na revista cubana Casa de las Américas, na qual argumenta que a distância territorial promove benefícios em prol de uma melhor contemplação e entendimento da realidade intelectual latino-americana, e que, por isso, sua literatura possui uma raiz nacional e regional potenciada por uma experiência mais aberta e mais complexa. Arguedas, que não concorda com os argumentos de Cortázar, publica um artigo na revista peruana Amaru (abril-junho de 1968), expondo sua convicção em torno da tarefa do escritor: escrever novelas não é uma profissão, o escritor escreve novelas por amor, necessidade, prazer e não por ofício, ao mesmo tempo em que coloca em evidência a lógica mercantilista do boom na literatura latino-americana.

O livro recolhe, além das cartas, outros textos importantes da polêmica, como a entrevista de Cortázar, concedida à jornalista Rita Guibert para a revista norte-americana Life, em sua versão para o espanhol, em 1969, intitulada Julio Cortázar: fragmentos de las declaraciones recogidas en la nota Creador Solitário; o artigo que Arguedas publica na revista Amaru, nesse mesmo ano, com o título de Inevitables comentários a unas idéias de Julio Cortázar; e os fragmentos do Tercer diário, do livro de Arguedas, El zorro de arriba el zorro de abajo, publicado postumamente em 1971. Em todos os textos selecionados pela autora, fica claro o ponto central que gera e alimenta a “belicosidade discursiva”: o nacional e o cosmopolita como determinantes da prática literária do escritor latino-americano na década de 60.

A quarta parte do livro recupera o debate suscitado pelo “caso Padilla”,4 em 1971, que, segundo Marcela Croce, revela, ao mesmo tempo, um corporativismo intelectual e uma ruptura definitiva de parte da intelligentzia latino-americana com o governo cubano e suas instituições culturais.

A organização dessa parte do livro é a mesma das anteriores, ou seja, artigos breves, que situam o leitor no debate e, em seguida, os textos dos intelectuais envolvidos na polêmica. O artigo de Martín Chadad, Testimonio de partes, o quién es quién, mostra como Padilla deixa de ser um sujeito para tornar-se um caso, um caso que impunha, para muitos, uma nova forma de avaliar e compreender a Revolução Cubana. No outro artigo, El difícil ofício de calcular, o donde me pongo, Verônica Lombardo mostra a dimensão que adquire o “caso Padilla”, em 1971, desde a prisão do poeta até a sua autocrítica. Segundo a autora, o campo intelectual polariza-se e pauperiza-se, anulando qualquer possibilidade de dialética para circunscrever-se na oposição entre o melhor modelo intelectual a ser seguido: ou se é um intelectual crítico ou um intelectual revolucionário.

O “caso Padilla”, segundo Lombardo, permite polemizar não só os caminhos da Revolução Cubana e as formas estéticas da arte, mas também coloca em jogo um debate muito profundo sobre os valores, os alcances e os limites do intelectual, no que diz respeito à sua responsabilidade estrutural na esfera de transformações políticas e sociais. Dessa polêmica participam importantes intelectuais latino-americanos: a lúcida crítica de Ángel Rama, publicada em Cuadernos de Marcha; a posição inicialmente oscilante de Julio Cortázar até sua firme adesão à revolução; a postura esquiva e conciliatória de García Márquez, que permanece fiel a Fidel Castro; a posição controvertida de Mario Vargas Llosa, que culmina com sua renúncia do Comitê da Casa de las Américas e sua ruptura drástica com Cuba.

A resposta dos intelectuais latino-americanos radicados na Europa, e de muitos intelectuais europeus, ao “caso Padilla”, é imediata. A primeira (re) ação é uma carta aberta, Declaración de los 54, endereçada ao “Comandante Fidel Castro”, na qual expressam a preocupação com a detenção de Heberto Padilla. Assinam a missiva Carlos Barral, Simone de Beauvoir, Ítalo Calvino, Fernando Claudín, Julio Cortázar, Marguerite Duras, Hans-Magnus Enzensberger, Carlos Franqui, Carlos Fuentes, Maurice Nadeau, Octavio Paz, Jean-Paul Sartre, Susan Sontag, Mario Vargas Llosa, entre outros. Uma outra carta, Declaración de los 62, é endereçada a Fidel Castro em 1971, após a autocrítica de Padilla, que, segundo os intelectuais, havia sido forçada. Essa carta não conta com a adesão de Julio Cortázar, que declara posição favorável a Cuba.

Além de compilar as duas cartas citadas acima, o livro reúne também outros documentos sobre o debate em torno do “caso Padilla”: os fragmentos do poema de Padilla, Final del Juego (1968), e o texto com a sua autocrítica (1971); os fragmentos do discurso de Fidel Castro no Primeiro Congresso Nacional de Educação e Cultura (1971); a carta de Mario Vargas Llosa a Haydée Santamaría (1971) e a resposta de Haydée Santamaría; as declarações de García Márquez à imprensa colombiana (1971); a carta de Julio Cortázar a Haydée Santamaría; a opinião de Rodolfo Walsh em Cuadernos de Marcha (n°.49, Montevidéu, 1971); a carta aberta de David Viñas a Roberto Fernández Retamar; e o artigo de Ángel Rama, Una nueva política cultural en Cuba, publicado em Cuadernos de Marcha, n°49.

Enfim, pode-se concluir que o panorama traçado pelos autores da coletânea esboça a história dos intelectuais em quatro momentos diferentes da história latino-americana, amarrados por uma questão recorrente no discurso intelectual: a polêmica. Polemizar significa, entre outras coisas, tentar compreender e traduzir uma época e, ao mesmo tempo, os caminhos do futuro.

Notas

1 CROCE, Marcela (comp.) Polémicas intelectuales en América Latina: del “meridiano intelectual” al caso Padilla (1927-1971). Buenos Aires: Simurg, 2006, p.86.

2 Em termos gerais, o indigenismo, como prática discursiva, tem como referencial a representação do mundo indígena, ou seja, da realidade social, política, econômica e cultural dos povos indígenas da América Latina. Tem seu início em fins do século XIX, com ampla vigência até meados da década de 1960. Para uma concepção crítica do indigenismo na literatura ver CORNEJO POLAR, Antonio. O condor voa: literatura e cultura latino-americanas. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

3 Na década de 1960, assistimos ao surgimento do “boom” da literatura latino-americana, em especial dos romances. Nesse período, são produzidos vários livros de grande valor literário, que ganham projeção internacional. O “boom” traduz-se em uma produção bastante original nas letras latino-americanas, tem seu limite temporal circunscrito em torno de figuras como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e José Donoso. Em apenas seis anos aparecem obras como Rayuela, Cien años de soledad, Sobre héroes y tumbas, La ciudad y los perros, entre outras. O que motiva o “boom”, a nível comercial, além da qualidade literária das obras, é o impulso das editoras (sobretudo européias) e a irrupção da Revolução Cubana, que motiva inúmeros leitores, pelo mundo afora, a conhecerem a literatura, a cultura e a história latino-americana. Ver DONOSO, José. História personal del “boom”. Barcelona: Anagrama, 1972.

4 Heberto Padilla foi perseguido por causa de suas opiniões sobre a Revolução Cubana. Em 1971, Padilla foi preso e fez, ou, como muitos afirmaram, foi coagido a fazer, uma autocrítica, negando tudo que havia dito anteriormente. Isso desencadeou uma onda de protestos da parte de antigos aliados de Cuba, de Jean-Paul Sartre a Mario Vargas Llosa.

Adriane A. Vidal Costa – Mestre e doutoranda em História pela Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte – MG. E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[DR]

Esclavos de la ciudad letrada. Esclavitud, escritura y colonialismo en Lima (1650-1700) – MARTÍN (E-CHH)

MARTÍN, José Ramón Jouve. Esclavos de la ciudad letrada. Esclavitud, escritura y colonialismo en Lima (1650-1700). Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 2005. Resenha de: WANDERLEY, Marcelo da Rocha. Especiaria – Cadernos de Ciências Humanas, Ilhéus, v.10, n.8, p.797-804, jul./dez., 2007.

Nos últimos vinte anos a historiografia brasileira tornou-se responsável por uma parcela considerável e significativa da produção sobre a problemática da escravidão nas Américas, fato incontestável tendo em vista importantes evidências, tais como o papel de destaque ocupado pela matéria nos currículos dos cursos universitários de história, nos catálogos editoriais e nos diversos congressos sobre a história do Brasil realizados desde então.

Por sua vez, o incremento do debate sobre o tema nos meios universitários brasileiros haveria de privilegiar marcadamente a interlocução com os estudos provenientes dos meios acadêmicos norte-americanos, tendo em vista algumas pautas de similaridades entre ambos os processos quanto às formas de organização da instituição escravista e, sobretudo, em razão do interesse comum quanto aos problemas relacionados à escravidão rural.

Menor ressonância tiveram os trabalhos dedicados à questão da escravidão no mundo hispano-americano – excetuando-se relativamente o Caribe hispânico de Manuel Moreno Fraginals e Fernando Ortiz. As razões vão desde raros e descontínuos intercâmbios acadêmicos até o desinteresse ocasionado pela percepção da limitada importância do trabalho africano nos territórios da monarquia castelhana quando comparados a magnitude de sua utilização nas denominadas América Portuguesa e Inglesa, recortes territoriais evidenciados pela historiográfi ca mais tradicional.

Neste contexto de abstenção do debate sobre os rumos da historiografi a da escravidão em diferentes países da América hispânica, encontram-se principalmente a obras de Rolando Mellafe – de caráter mais global e que seria durante largo tempo uma sólida referência sobre a questão – e de Enriqueta Vila Villar sobre o problema do tráfico de escravos naquela região e finalmente os trabalhos paradigmáticos de Gonzalo Aguirre Beltrán para o México e de Frederick Bowser e de Carlos Aguirre para o caso Peruano.

No caso dos estudos sobre a escravidão no Peru durante o período do Antigo Regime, despontam nos últimos anos alguns trabalhos que inspirados nas linhas abertas por Bowser e Aguirre se encaminham a uma análise da questão da escravidão a partir da perspectiva da História Cultural. É este exatamente o caso do livro de José Jouve Martín, professor do Departamento de Estudos Hispânicos da Universidade de McGill em Montreal.

O livro se dedica principalmente a analisar a problemática das interseções entre a cultura letrada e cultura oral tendo como objeto particular a comunidade de africanos e seus descendentes, todos residentes na cidade de Lima na segunda metade do século XVII, período quando já estão consolidadas as estruturas burocráticas nos reinos americanos. Aliás, uma Lima percebida pelos cronistas e ainda recenseada entre o século XVI e a primeira metade de XVII como uma cidade de caráter africano, por conta de uma população majoritariamente formada por grupos provenientes do Congo e de Angola.

Concentrado no campo da escravidão urbana, tal estudo revela como negros, mulatos e zambos participavam ativamente das articulações da cultura letrada sem que necessariamente houvessem adquirido a habilidade de ler e principalmente a de escrever. É justamente esta evidência das interações dos segmentos africanos com os signos da cultura letrada e com os textos escritos sem necessariamente implicar a aquisição de habilidades cognitivas num sentido estrito que demarca o inovador deste trabalho. Ainda que condicionada pela instituição da escravidão os usos da escrita servem aqui como referência para evidenciar a extrema complexidade dos processos de inserção dos africanos nas sociedades americanas – tal qual a historiografi a brasileira tem demonstrado nos últimos anos.

Sendo assim, os problemas destacados por Jouve encontram inspiração em larga medida nos fundamentos de interpretações anteriores voltadas para a comunidade indígena – sobretudo as de Serge Gruzinski para o México. Tais perspectivas buscaram dar conta das práticas de apropriação da cultura escrita pelos nativos como meio de adaptação à complexidade do aparato jurídico castelhano e ainda como garantia de ver reconhecido suas posições na sociedade e ainda requerer privilégios de isenção tributária.

O autor robustece o argumento da mescla da cultura letrada com a oral, ao pretender comprovar em particular que os contatos dos africanos chegados à cidade de Lima com a cultura escrita ocorrem quase exclusivamente por meio dos mecanismos da predicação cristã levados a cabo pelas ordens religiosas. Em segundo plano, o processo de assimilação imposto aos negros se dava principalmente através dos materiais de catecismo, a exemplo do Catecismo para los rudos y ocupados editado em Lima no fi nal do século XVI.

Tais fatos não produziram necessariamente as condições de aquisição conjunta das habilidades de leitura e escrita, mas sim uma evidente assimetria entre ler e escrever que caracterizaria tanto a aquisição parcial de habilidades como também os distintos níveis de interação dos indivíduos pertencentes às nações africanas com o mundo letrado.

Ainda que tivessem sido excluídos das instituições formais de educação, negros, mulatos e zambos adquiriram familiaridade com a cultura letrada através de diferentes modalidades que estavam profundamente demarcadas pela convivência entre os textos alfabéticos e visuais. As relações com instituições civis e eclesiásticas – como ocorre por exemplo, com o zambo Santiago Benítez em relação ao Tribunal da Santa Inquisição e o mulato Francisco de Santa Fé no tocante ao Arcebispado -, bem como a participação em atos públicos e festas civis e religiosas constituíram situações onde a tradição escrita dos setores proeminentes desta sociedade eram de certo modo assimiladas mediante formas visuais inscritas no cotidiano daquelas comunidades.

Outra questão debatida diz respeito ao papel desempenhado por diferentes elementos do mundo jurídico como mediadores nos processos de inserção dos africanos na sociedade colonial.

Tal contexto se explica pela relação estabelecida com os escrivães, facilitada imensamente pela condição ladina da população de origem africana, justo em razão da produção de eventos onde se buscavam por exemplo obter as “cartas de liberdade”. Ao lado destes especialistas da escrita encontram-se também na documentação – ainda que de forma mais difusa – os escribas, gente dedicada à elaboração de textos fora dos domínios burocráticos da administração do reino.

Os processos de concessão de liberdade, a quitação de obrigações como as cartas de pagamento, os episódios de estabelecimento de acordos e contratos com indivíduos de origem africana ou de castas superiores, acabam demarcando alguns aspectos da inserção desta população na vida econômica e gremial de Lima como faz ver José Jouve através da referência às chamadas “causas de negros”.

Além disso, tais processos mostram-se fundamentais à hora de compreender tanto os meios de os africanos negociarem posições dentro da sociedade – que não são independentes da condição de subordinação – como os casos de outorga de um poder agenciador a negros e mulatos livres que fi ndava por garantir o cumprimento de certas condições em suas relações contratuais com pessoas de posição superior na sociedade limenha.

O tema da negociação das identidades de grupo nas sociedades coloniais é retratado ainda através das formas de resistência expressas através do recurso à cultura legal. Nesta dimensão, são os registros de maus tratos, queixas e demandas apresentadas aos tribunais pelos de origem africana que elucidam a interação com as autoridades coloniais por meio do uso de textos e ainda descortinam as disputas e os confl itos muitas vezes infrutíferos com os proprietários de escravos, tal como no caso do escravo Antonio Português apresentado no texto.

Do mesmo modo, os registros em questão sublinham os esforços de amigos e familiares do reclamante de modo a fazer chegar os papéis das denúncias às mãos das autoridades legais. Por conseguinte, indicam a ação concertada com outros indivíduos, dado que em muitos casos há evidências de que os solicitadores das causas em favor dos escravos podiam ser na verdade tanto funcionários do tribunal, advogados ou ainda quem sabe um procurador.

Neste sentido, cabe ressaltar também as disputas decorrentes das operações legais para embargar a venda dos cônjuges dos escravos, proibida tanto pela justiça civil e mais que tudo pela eclesiástica; proibição continuamente desrespeitada pelos proprietários.

Jouve sublinha o papel desempenhado pelas redes sociais dos escravos no sentido de tornar possível a apresentação da denúncia quanto aos abusos relacionados às operações de venda mencionada.

Ainda nesta linha, se apresentam as petições que denunciam situações ambíguas de liberdade do escravo e por sua vez evidenciam as disputas em torno do pagamento do “jornal”, uma prática em geral bastante associada à escravidão urbana em Lima. Segue-se a esta realidade, as demandas apresentadas contra os espanhóis por negros e mulatos livres como modo de defender-se de abusos praticados contra eles ou mesmo com o objetivo de proteger bens e propriedades acumuladas.

Após analisar as relações verticais dos africanos no cotidiano daquela sociedade, o autor dedica-se a partir de então ao problema das relações entre os membros do grupo africano, sobretudo as contendas internas. A principal conclusão é a ausência de coerência nas formas de oposição a ordem colonial. Discute-o considerando os confl itos entre casais verifi cados nos tribunais em razão de promessas de matrimônio descumpridas, da anulação de matrimônios em decorrência de coação ou registrar-se situação de maus tratos e por fi m, tendo em vista os problemas oriundos das uniões entre livres e escravos com todos os seus efeitos sobre o status social.

Contudo, é a análise das petições encaminhadas às cortes judiciais coloniais pelas confrarias, tendo em vista as disputas em torno da regulação e controle destas instituições, uma das etapas mais signifi cativas da problemática das relações horizontais na vida da comunidade. Neste sentido, as confrarias funcionaram tanto como espaços de conservação de elementos das identidades africanas como de integração dos africanos a cultura americana de matiz europeu pela via da religiosidade.

Sem embargo, como demonstra Jouve, é o papel destas instituições como mediadoras entre esta população, a administração e a sociedade que explica as tensões no interior daquelas comunidades. Organizadas em muitos casos a partir dos vínculos com as “nações”, a exemplo da Confraria de Nossa Senhora do Rosário formada por Nalúes e Cocolíes, tais irmandades são apontadas como meios de articulação das identidades coletivas que mantinham entre si acirrada disputa. Isto explica as fortes lutas internas em torno do seu controle e em particular a necessidade de conhecer as estratégias e os discursos legais vigentes.

O domínio dos conhecimentos legais serviria também para garantir aos africanos participar no mercado de escravos como compradores, evidenciando claros processos de diferenciação social no interior desta comunidade e de controle sobre indivíduos de uma mesma casta. Aqui sobressaem as disputas judiciais em razão do direito de posse dos escravos – travadas tanto com outros membros da comunidade e com os espanhóis -, seguidas pelos casos de omissão nas escrituras daqueles “defeitos” dos escravos objetos da venda e por fi m as contendas empreendidas por criollos ou peninsulares com vistas a recuperar os escravos que estivessem em poder dos negros.

A obra se encerra na análise do papel dos testamentos para esta comunidade, diante tanto do seu papel como difusor da cultura notarial entre negros, mulatos e zambos, como por haver sido capaz de redefi nir suas posições em relação às identidades dos grupos. Como demonstra Jouve tais documentos serviam especialmente à articulação de lealdades, como confi rmação do domínio e infl uência de certos membros na sua comunidade, ou ainda melhor, como elemento de ligação entre membros de diferentes castas que a escrita preservaria em face da morte.

Marcelo da Rocha Wanderley – Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRural (RJ), Departamento de História e Economia (DHE). E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

[IF]

Los Incas del Cuzco. Siglos XVI-XVII-XVIII – ROWE (C-RAC)

ROWE, John Howland. Los Incas del Cuzco. Siglos XVI-XVII-XVIII. Cusco: Instituto Nacional de Cultura; Multi; Imprenta Edmundo Pantigoso EIRL, 2003. 417p. Resenha de: OCHOA, Jorge A. Flores. Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.37, n.2, P. 269-271, dic. 2005.

Con el título de Incas del Cuzco. Siglos XVI-XVII-XVIII, se presenta esta antología de investigaciones realizadas por el Dr. John Howland Rowe. Así culmina la tarea de alcanzar al público cuzqueño muestra de su vasta y valiosa producción intelectual, que durante años estuvo dirigida a investigar aspectos poco tocados, o ignorados, por otros investigadores de los incas preinvasión, como de los que continuaron con la tradición incásica, ya viviendo bajo el gobierno colonial de los siglos XVII y XVIII. La selección es decisión del Dr. Rowe, a base de la propuesta que le presenté. La antología tiene su sello, mostrando que uno de los temas principales de su preocupación intelectual fueron los incas. Es el interés que lo trajo al Cuzco, a donde llegó a comienzos de la década de los años cuarenta del siglo pasado. Desde entonces se convirtió, durante casi cincuenta años, no en visitante temporal o estacional de nuestra ciudad, sino residente, que se ausentaba por meses para ocupar su cátedra en la University of California en Berkeley. Allí capacitó y formó legión de estudiosos que dedicaron su afán a la investigación de los andes centrales, unos dedicándose al trabajo arqueológico, otros al etnológico y también a la etnohistoria, aunque es frecuente que combinen todas esas tácticas. Sus discípulos forman importante conjunto de estudiosos con prestigio logrado por la calidad de sus investigaciones del antiguo Perú.

Así como formó especialistas en los andes desde su posición académica en Estados Unidos, aquí en el Cuzco fue guía permanente para estudiantes, jóvenes que preparaban tesis de grado. Los comentarios, a los trabajos que le pedían leer, fueron siempre estimulantes, animando al trabajo serio, que estuviera lejos de la fácil publicidad. También ejerció docencia no en el aula, sino de manera informal, individual, coloquial, que es muy fructífera. Dejó profunda huella en todos los que tuvieron el privilegio de acceder a sus enseñanzas.

Su contribución al desarrollo científico cuzqueño, merece valoración especial. Señalemos parte de ella. Fue fundador de la Sección de Arqueología en la Universidad Nacional de San Antonio Abad en 1946, siendo muy joven, casi estudiante universitario. Las clases se iniciaron el 14 de julio de 1946. San Antonio Abad fue la primera universidad nacional que incluyó el estudio de esta ciencia e inició su enseñanza universitaria. Entre los primeros alumnos estuvieron Luisa Béjar Núñez del Prado, Oscar Núñez del Prado, Gabriel Escobar, Carlos Kalafatovich, Guillermo Fuentes Díaz. Funcionó hasta 1948, cuando el dictador Odría nombró una Comisión Reorganizadora de la Universidad, que intentó clausurarla, trasladándola a la Facultad de Letras, donde funcionó como Sección de Historia y Antropología.

El Dr. Rowe también tuvo a su cargo la Dirección del Museo e Instituto Arqueológico -ahora Museo Inka-. Inició la catalogación científica, organizó la administración, dando énfasis a la biblioteca, a la que dotó de valiosa colección de libros. Hasta ahora se utiliza el libro de registro hecho de su puño y letra.

Con el Dr. Rowe comienza la arqueología científica en el Cuzco. Abrió el inmenso capítulo de lo pre-inca, puesto que hasta entonces todo vestigio arqueológico era considerado inca. Este capítulo comenzó con el descubrimiento del asentamiento de Chanapata, que dio origen al estilo cultural del mismo nombre. Mediante excavaciones precisó la existencia de lo inmediato a lo inca imperial, que bautizó como Killki. Con estas y otras evidencias, diseñó la primera secuencia del desarrollo cultural del valle del Cuzco, como expuso en su conocido libro An Introduction to the Archeology of Cuzco, publicado en 1944, que además incluye el plano del Qorikancha, que posee vigencia a pesar del tiempo transcurrido desde entonces. Este libro, no traducido aún al castellano, es fundamental para quienes trabajan en la arqueología del Cuzco. Vale aquí hacer presente una posición del Dr. John Howland Rowe. No es partidario de publicar libros, considera que la mejor contribución se halla en los artículos científicos, que dan a conocer los últimos avances de la investigación científica. El aporte que se realiza de esta manera responde mejor a la velocidad con que avanza el conocimiento científico.

Su contribución al conocimiento del Tawantinsuyu, ha merecido el reconocimiento del gobierno peruano, que le ha conferido la Orden del Sol, la más alta condecoración con que se honra a quienes contribuyen de manera significativa con el país. Por la misma razón la Universidad Nacional de San Antonio Abad del Cuzco le confirió el grado de Doctor Honoris Causa y le nombró Profesor Honorario. Siguiendo el antiguo dicho, nuestro centro de estudios se honró honrando.

El tiempo que pasaba en el Cuzco, estaba totalmente dedicado a la investigación, sea realizando exploración de sitios arqueológicos, cuando no excavaciones, revisando colecciones, buscando documentos en el Archivo Histórico. “Los papeles”, como decimos a la documentación histórica, son de su permanente interés. Recordemos -por ejemplo- que cuando el Dr. Sergio Quevedo Aragón fue Presidente de la Comisión Reorganizadora de la Universidad, le comunicó al Dr. Rowe que en el rectorado había unos papeles antiguos. De inmediato el Dr. Rowe se interesó por ellos. Contaba el Dr. Quevedo que al ingresar al rectorado encontró al Dr. Rowe sentado en el piso, revisando los documentos. Muy contento le comunicó que era nada menos que el expediente del juicio que José Gabriel Thupa Amaro sostuvo con los Betancourt. Documento importante que está intercalado con pinturas de escudos de armas, todo el gran valor para conocer más del caudillo del movimiento nacionalista del siglo XVIII.

El tiempo que pasaba en el Cuzco, aunque corto para sus múltiples propósitos, no impedía que aceptara participar en la vida intelectual del Cuzco, ofreciendo conferencias, que siempre tuvieron nutrida y atenta audiencia. Junto con su esposa, la Dra. Patricia J. Lyon, fueron activos participantes en los Tinkuy, el Encuentro Anual que organiza el “Centro de Estudios Andinos Cuzco”, en el mes de agosto, desde hace veinticinco años. Varios trabajos que forman parte de la presente antología originalmente fueron ponencia que presentó en los Tinkuy.

La búsqueda de información en el Archivo Histórico, la combinaba con salidas de campo, para cotejar y verificar la información escrita con las evidencias arqueológicas. Para estas excursiones invitaba a estudiantes o jóvenes graduados, que aprendían en el campo la importancia de la información escrita, que permitía conocer mejor lo que se visitaba y el valor de recorrer los sitios arqueológicos de inmediaciones del Cuzco.

Los trabajos, especialmente los de los últimos años de su residencia en nuestra ciudad, estuvieron dirigidos a la investigación histórica de los incas. Me permitiría llamarlo al estudio etnohistórico de los incas, aunque creo que el Dr. Rowe no compartiría completamente este punto de vista. Sin embargo, es innegable que su formación antropológica era la que le permitía tener el conocimiento detallado que tiene de los incas, desde los de los siglos XV y XVI preinvasión, a los que vivieron ya bajo el doloroso gobierno colonial de los siglos XVII y XVIII.

Considero que esta preferencia temática es la que primó para que eligiera sus trabajos que tienen que ver con la perspectiva cultural e histórica de los incas, sin incluir ninguno de los que son estrictamente de tipo arqueológico. La distribución, agrupándolos en tres capítulos, con que se los presenta en esta compilación, sigue su preferencia, considerando grandes temas culturales, antes que siguiendo un orden de sentido cronológico. En la Primera Parte trata de la Historia y Organización Social, preinvasión. Resalto, en forma arbitraria, el de los grados de edad, porque su tratamiento muestra cómo se analiza un tema que es clásico en los estudios antropológicos. Aportes significativos son los incas no reales, que ayudarán a entender reclamos modernos de filiación incásica. La constitución Inca es de singular importancia para comprender la forma como estuvo organizada la ciudad del Cuzco. El “misterio” de Machupiqchu, que ha dado lugar a tanta lucubración, es mostrado con coherencia, tanto en la persona de su constructor como del sentido y función que tuvo.

La religión es el tema central de la Segunda Parte. Siendo importante en las antiguas civilizaciones clásicas, lo fue igualmente entre los incas, que fue sociedad de grandes manifestaciones religiosas. Es de mención especial el que trata el origen del culto al Dios Creador, tanto por esclarecer su existencia, como porque forma parte de un permanente debate. Se complementa con el análisis de las oraciones con que se dirigían al Creador.

En la Tercera Parte los trabajos van dirigidos a delinear lo que denomina el Movimiento Nacionalista Inca en la Colonia. Expone una propuesta original del Dr. Rowe. Resumiendo en pocas líneas, considera que lo Inca, como cultura, sentimiento e ideología, no desapareció con la invasión española y la posterior imposición del gobierno colonial. Los incas continuaron su tradición, desarrollando una cultura de resistencia, que puede ser verificada en el presente. La cultura Inca continuó asumiendo nuevas formas de organización social, con fuerte sentido del ser Inca, que devendría en verdadera ideología. Se manifiesta en varias formas, como la creación estética plasmada, por ejemplo, en los retratos de los nobles incas o arte visual en los qeros, los polícromos vasos rituales Inca de los siglos XVII y XVIII. El nacionalismo Inca inspiró los movimientos de la liberación del siglo XVIII, que llegaron al clímax con José Gabriel Thupa Amaro, quien dirigió la mayor rebelión de toda América contra el gobierno colonial.

En la publicación se conserva la bibliografía de cada trabajo, para evitar confusiones u omisiones que pudieran ocurrir al fundirlas en una bibliografía general. Por expresa disposición del autor, reiterada por su esposa la Dra. Patricia J. Lyon, los nombres propios de etnias, grupos, individuos, lugares y de otro tipo, conservan la escritura de los originales. Resalto la de palabras sujetas a controversia como Inca escrito con “c” en lugar de “k” y Cuzco con zeta. Subrayo que el Dr. John H. Rowe tiene suficiente solvencia académica y usa argumentos científicos que respaldan su decisión para la forma de escribir las palabras quechua y del español de los siglos que investiga.

Hago mención especial a la decisión del Dr. John Howland Rowe de permitir la publicación de esta antología como una pequeña parte de su gran producción bibliográfica. Espero que en un futuro cercano haya otras

con las investigaciones de la arqueología del Cuzco. El reconocimiento especial es también porque tuvo ofertas de universidades y editoriales de Lima, para publicar una selección de sus trabajos, las que siempre rechazó, porque su decisión fue que un libro de ese tipo debía ser publicado en el Cuzco. Ahora que se hace realidad su deseo, deseamos compartirlo por quienes tenemos el privilegio de conocerlo y esperábamos ver publicada parte de su extraordinaria labor. Es también un homenaje a los incas y a la ciudad que tanto quiere el Dr. Rowe, hecho realidad gracias al consentimiento y colaboración de la Dra. Patricia J. Lyon, compañera de actividad y afanes científicos, así como de su hija, la investigadora de tejidos andinos, Ann Pollard Rowe. Les agradecemos por su comprensión y colaboración, puesto que sin su apoyo no hubiera sido posible que este libro sea realidad. Nuestro agradecimiento al Dr. Jorge Villafuerte Recharte, Director del Instituto Nacional de Cultura Región Cuzco, por decidir la publicación, así como a Percy Ardiles, Director de Actividades Culturales del INC por el esfuerzo y dedicación puestos para que culmine el proyecto de Los Incas del Cuzco. Siglos XVI-XVII-XVIII.

Comentario de Jorge A. Flores Ochoa – En el prólogo del libro en comento. Cuzco, mayo del 2003. Centro de Estudios Andinos. Cuzco, Perú.

Acessar publicação original

[IF]

Histórica | PUCP | 1977

Historica PUCP

Histórica (Lima, 1977-) publica trabajos de investigación, originales e inéditos, escritos en español, sobre la historia del Perú, la historia latinoamericana, de interés para el Perú y de teoría de la historia. Patrocinadores de la revista – Pontificia Universidad Católica del Perú – Departamento de Humanidades.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN: 0252-8894
e-ISSN: 2223-375X

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arqui

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

vos