Mochileiros da fé | R. Bitun

Na busca por uma melhor compreensão sobre o cenário religioso brasileiro, Ricardo Bitun, sociólogo da religião e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), privilegia-nos com um assunto pertinente de uma maior reflexão, o fenômeno nominado por ele “mochileiros da fé”. Nessa obra, Bitun aborda tal movimento a partir do dinamismo e da fluidez com que os adeptos da fé protestante se deslocam de uma Igreja para outra sem qualquer restrição. Usando essa figura de linguagem, o autor compara esses indivíduos aos backpakers, ou seja, “aquele[s] que carrega[m] uma mochila nas costas”, turistas ou peregrinos que agem por conta própria sem dar satisfação a nenhum grupo coletivo de viajantes. Assim, Bitun divide o trânsito religioso em duas etapas: interorganizacional e intraorganizacional. A primeira ocorre de adeptos do catolicismo, espiritismo ou religiões de origem africana para o pentecostalismo; a segunda refere-se àqueles indivíduos que se encontram no pentecostalismo, porém se movimentam entre as igrejas pentecostais e neopentecostais. O livro, além da introdução e das considerações finais, apresenta quatro capítulos: “Em que mundo transitam os mochileiros”, “Os espaços sagrados da peregrinação”, “Por onde vagueiam os mochileiros” e “Eles… os mochileiros”. Leia Mais

Religiosidade no Brasil | J. B. B. Pereira

O primeiro artigo tem como título “As religiões indígenas: o caso tupi-guarani”. Nele, o autor Roque de Barros Laraia não se apropria de fazer um inventário das diferentes religiões indígenas do Brasil, mas, sim, por meio do exemplo tupi-guarani, possibilitar ao leitor o entendimento de algumas características dos sistemas de crenças existentes entre os índios do Brasil. Laraia se detém na descrição do pajé e de tupã, e trata do entendimento de alma para os indígenas. Assim, o autor levanta os quatro tipos de alma: espíritos errantes (aqueles que morreram e não alcançaram ser bons), espíritos criadores ou heróis culturais, os donos das florestas, das águas e dos rios, e os espíritos de animais. Outros dois pontos norteadores para a compreensão das religiões indígenas, segundo o autor, referem-se ao entendimento de “céu” que indica onde estão as almas dos antepassados, o herói mítico, e à perda da vida eterna, em que, como nas religiões cristãs, há uma Eva, só que Tupi não colheu o milho desobedecendo à ordem de Mahyra.

Faustino Teixeira é o autor do segundo artigo da coletânea: “As faces do catolicismo brasileiro”. Inicialmente, Teixeira apresenta dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as religiões no censo de 2000, em que o catolicismo continua como a religião com o maior número de fiéis, porém apontando para um grande crescimento de evangélicos e dos sem religião. Muito instrutivo, o autor aponta a complexidade da religião católica no Brasil e de forma bastante lúcida enumera quatro vertentes dos meandros do catolicismo: santorial, oficial, de reafiliados e midiático. Ao findar sua análise, Teixeira conclui que o Brasil é um país do sincretismo religioso, mas que ainda há de se elucidar o intenso trânsito entre tradições opostas. Leia Mais

É necessário queimar os hereges: Sébastien Castellion e a liberdade de opinião na época da Reforma Protestante | L. T. de Almeida

Para aqueles que se interessam pela temática da Reforma Protestante, uma ótima pedida de leitura é o recém-lançado É necessário queimar os hereges, de Leandro Thomaz de Almeida. O novel autor, graduado em Teologia e Letras, mestre e doutor em literatura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós- doutorando da mesma instituição, inaugura uma promissora carreira como escritor, lançando mão de um novo ponto de vista da história da Reforma, valendo-se, para tanto, da figura antológica de um teólogo praticamente desconhecido.

O título do livro, um tanto quanto provocativo, remete-nos às fogueiras inquisitoriais de um período libertário e, ao mesmo tempo, sombrio: o século XVI. A despeito dele, o livro não ratificará o extremismo daqueles que, detendo nas mãos a “verdade”, acabaram por, ao fim e ao cabo, executar em nome dela. Pelo contrário, Leandro Thomaz ressuscita a figura ignorada, ao menos no Brasil, de um teólogo, pensador, biblista e latinista apaixonado pela liberdade de opinião e obcecado pela tolerância religiosa, cujo nome foi olvidado pelos anais da história: Sébastien Castellion (1515-1563). Leia Mais

Ciber-religião: a construção de vínculos religiosos no ciberespaço | Jorge Miklos

O que ocorre com o corpo e o espaço nas experiências religiosas pela internet? Essa é a pergunta que dá norte a Ciber-religião: a construção de vínculos religiosos na cibercultura, obra tecida por Jorge Miklos e publicada em 2012 pela Ideias & Letras. Miklos é doutor em Comunicação e Semiótica, e mestre em Ciências da Religião, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Seu livro, de 160 páginas, é resultante de sua tese de doutoramento, denominada A construção de vínculos religiosos na cibercultura: a ciber-religião, orientada pelo professor Norval Baitello Júnior e defendida em 2010.

Estruturalmente, além da introdução e das considerações finais, o livro é dividido em três capítulos, denominados “Religare: formas tradicionais e o impacto da modernidade”, “Midiofagia: usurpação do poder divino” e “Ciber-religião: o sacrifício do corpo e do espaço”. Leia Mais

O deus de Dawkins: genes, memes e o sentido da vida | A. Mcgrath

Esta resenha, apesar de referir-se à obra O deus de Dawkins, está alicerçada em dois teóricos: o biólogo Richard Dawkins e o teólogo Alister McGrath. Ressalva-se que se não fossem as obras de Dawkins, a obra resenhada aqui e, consequentemente, esta resenha não seriam possíveis, pois para McGrath escrever esse livro se respaldou nas obras de Dawkins de 1976 a 2003. O livro não trata apenas de uma refutação ao ateísmo, nem da sofisticada biologia evolucionista do biólogo, mas propõe-se a debater as supraconclusões que Dawkins extrai da teoria evolucionista, mais especificamente “as relativas à religião e à historia intelectual” (MCGRATH, 2008, p. 18).

O livro expõe dois lados antagônicos de Dawkins: o biólogo e o ateu. McGrath, de início, mostra a sua admiração pelo trabalho científico do biólogo, mas também as fragilidades de seu ateísmo supostamente científico: Leia Mais

Religiões e cidades, Rio de Janeiro e São Paulo | C. Mafra e R. de Almeida

Qual é a religião de uma cidade? Em um país de uma cultura tão rica e complexa como a nossa, essa pergunta é muito difícil de responder, e, em se tratando das duas nossas maiores metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, a resposta parece impossível de conseguir.

Isso se pensarmos em uma religião, mas, quando ampliamos o leque religioso e deixamos que ele se abra para outras religiões, percebemos uma multiplicidade de crenças. É isso que propõe o livro Religiões e cidades, Rio de Janeiro e São Paulo, uma coletânea do núcleo de antropologia urbana da Universidade de São Paulo que aborda as múltiplas crenças que encontramos no Rio e em São Paulo. Leia Mais

Teologia arminiana: mitos e realidades | R. E. Olson

INTRODUÇÃO

Quando Dort foi escolhida para sediar o Sínodo Nacional em 1618-1619, a liderança política e o povo já haviam se envolvido na disputa entre o grupo de seguidores de Jacob Armínio, falecido havia nove anos, e os seguidores de Franciscus Gomarus, ou Gomaro (OS CÂNONES DE DORT, s. d., p. 8-11). A influência da política em uma questão confessional invocou a liderança pública dos estados gerais, delegados da Igreja Reformada da Holanda e representantes de igrejas reformadas estrangeiras. Em dezembro de 1618, Episcopius, sucessor de Armínio, e mais 12 pastores apresentaram-se negando a competência do Sínodo como tribunal, pois a maioria contrária à condenação era inevitável. A discussão em torno d’A Remonstrância – cinco pontos doutrinais tomados de um manuscrito de Armínio – não avançou. Após debates infrutíferos, o presidente do Sínodo dispensou a participação do grupo de Episcopius e avançou na elaboração do que conhecemos por “Cânones de Dort”.

A partir da promulgação dos cânones, a doutrina arminiana passou a ser rejeitada pela ala reformada da Igreja. Arminianos nunca foram percebidos no cenário editorial ou acadêmico fazendo alguma defesa consistente dos seus pontos de fé e doutrina. Assim, o propósito da obra de Olson (2013, p. 13) é “explicar a teologia arminiana clássica como ela, de fato, é”. Ex-aluno de nomes como James Montgomery Boice, Olson (2013, p. 12) chama a atenção para os “mitos” criados por teólogos calvinistas sobre a teologia e a fé arminiana reformada, e já reclama no prefácio que “muito do que é dito acerca do arminianismo dentro dos círculos evangélicos, incluindo congregações locais com fortes vozes calvinistas, é simplesmente falso”. Leia Mais

O protestantismo brasileiro | Émile-Guillhaume Léonard

A agradável leitura da obra do professor, pesquisador e historiador francês Émile-Guillaume Léonard, objeto desta resenha, traz um minucioso panorama da história do protestantismo em nosso país.

Léonard foi professor de História na Universidade de São Paulo por quase três anos, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, lecionando a disciplina História Moderna e Contemporânea. Esse período em que esteve no Brasil suscitou no autor o desejo de fazer uma investigação histórica a fim de “compreender e fazer compreendida a história do protestantismo” (p. 75). Leia Mais

A religião contestada: elementos religiosos formadores do messianismo do Contestado | J. de Almeida Junior

Uma obra singular que propõe abordar, em três centenas de páginas, um assunto de amplo desconhecimento por parte daqueles que estão ausentes da vida e história do Sul do Brasil. Acrescente-se ainda a intersecção realizada por Almeida Jr. de um viés antropológico-religioso, e a leitura de A religião contestada torna-se mais instigante e inusitada, como o antropólogo João Baptista Borges Pereira sinaliza em seu curto, porém rico e profundo prefácio.

Elaborado com uma introdução em que o autor delineia as fronteiras de seu trabalho – resultante de uma dissertação de mestrado –, definido por ele mesmo não como um estudo de caso, mas como uma “abordagem histórico-descritiva” que transita entre a teorização e a narrativa. O que acabará conferindo à obra um salutar dinamismo, afastando-a do enfado que por vezes está presente nos trabalhos acadêmicos transformados em literatura (ALMEIDA JR., 2011, p. 17). A obra divide-se em cinco capítulos que são enunciados a partir de um paralelo com o que seria o crescimento da árvore sagrada, temática tratada com mastreia pelo autor, que tem formação teológica e a usa, não como constritora das ideias, mas como um instrumento que auxilia e enriquece a abordagem a que se propõe. Leia Mais

Ethos mundial: um consenso mínimo entre os humanos | L. Boff

O objetivo da obra Ethos mundial: um consenso mínimo entre os humanos está claramente exposto:

[…] é encontrar uma nova base de mudança necessária. Essa base deveria apoiar-se em algo que fosse realmente comum e global, de fácil compreensão e realmente viável. Partimos da hipótese de que essa base deve ser ética, de uma ética mínima, a partir da qual se abririam possibilidades de solução e de salvação da Terra, da humanidade e dos desempregados estruturais (BOFF, 2000, p. 19).

Tendo em mente esse pressuposto, o autor parte do princípio de que há “três problemas que suscitam a urgência de uma ética mundial: a crise social, a crisde do sistema de trabalho e a crise ecológica, todas de dimensões planetárias” (BOFF, 2000, p. 13). Leia Mais

A inter-relação da teologia com a pedagogia no pensamento de Comenius | E. P. Lopes

Lopes (2005), ao analisar o pensamento educacional de Comenius, colocou-se entre os grandes pensadores da educação, como Edgar Morin, o suíço Philippe Perrenoud, os espanhóis César Coll e Fernando Hernández, o português António Nóvoa, o colombiano Bernardo Toro e o brasileiro Paulo Reglus Neves Freire. Assim, todos os estudiosos da educação deverão considerar a visão educacional apresentada em sua obra. Nela, percebe-se que o pensamento educacional comeniano foi moldado por sua visão teo lógica reformada. Assim, mais uma vez, a educação mundial se vê na obrigação de reconhecer as imensas contribuições promovidas pela teologia reformada ao longo dos séculos.

Lopes (2005), herdeiro da reforma protestante, não fica aquém e dá continuidade à erudição reformada. Vejamos. Leia Mais

O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil | A. G. Mendonça

As questões propostas pelo autor para serem respondidas são claramente colocadas: por que a significativa presença dos protestantes nas diversas áreas da cultura brasileira não se manifesta claramente em uma participação ideológica, cultural e política e por que não manteve o ritmo de crescimento das primeiras décadas de sua implantação, além de perder fiéis para formas mais novas de práticas religiosas?

Para fundamentar a resposta, o autor esboça um histórico dos protestantes do Brasil, descrevendo a frustrada tentativa de inserção da fé calvinista, com a chegada da expedição de Vilegaignon, em 1555; as tentativas no Nordeste pelos holandeses, especialmente em Pernambuco e Paraíba, entre 1630 e 1645, interrompidas pela restauração do domínio português em 1649; a tentativa dos calvinistas franceses, huguenotes, na primeira década do século XVII, especialmente no Maranhão, que desvaneceu com a curta existência da França equinocial. Leia Mais

O Renascimento italiano – cultura e sociedade na Itália | Peter Burke

Este livro observa as artes: pintura, escultura, arquitetura, música, literatura e conhecimento acadêmico da Itália, além de salientar aspectos gerais da cultura, dando denso embasamento teórico sobre o fenômeno para sua melhor compreensão. Dos aspectos culturais da época, ele se detém na economia; política; visões de mundo, do homem e da organização religiosa. Depois o autor faz uma breve comparação entre a Itália e os Países Baixos e Japão.

AS ARTES

O autor mostra que o Renascimento italiano tem como características básicas o realismo, o secularismo e o individualismo, além de um entusiasmo pela Antiguidade clássica. Os gêneros mais propagados na pintura eram os retratos, seguidos das paisagens e da natureza morta. Leia Mais

Reforma: O cristianismo e o mundo 1500-2000 | Felipe Fernandez-Armesto e Derek Wilson

Em todo âmbito acadêmico, os estudiosos da história sabem das dificuldades de se ser fiel aos acontecimentos sem perder, ou deixar de mencionar, os detalhes mais relevantes do recorte histórico que se pretende apresentar. Assim como nas demais áreas do saber humano, o estudo da história é repleto de nuanças que dificultam o trabalho, tornando a busca das fontes uma verdadeira aventura para o pesquisador que deseja apresentar um trabalho de sério. No que diz respeito à religião cristã, desde suas origens na tradição judaica até os dias atuais, geralmente nos são apresentados trabalhos que acentuam a importância da observação histórica e de todo o seu processo evolutivo.

Dentre todos os acontecimentos importantes na trajetória do cristianismo, a Reforma Protestante, do século XVI, merece atenção especial. Felipe Fernandez-Armesto e Derek Wilson – o primeiro de origem confessional católica, o segundo protestante – apresentam, numa demonstração de maturidade acadêmica, deixando de lado as diferenças que os separavam, a Reforma de maneira completa, detalhada e equilibrada, pondo de lado certas interpretações mais comuns, como a assepsia histórica, o catolicismo conservador e o protestantismo apaixonado. Leia Mais

O novo rosto da missão. Os movimentos ecumênico e evangelical no protestantismo latino-americano | Luiz Longuini Neto

O protestantismo enquanto fenômeno religioso há tempos vem sendo objeto de muitas análises, a partir de diferentes perspectivas. Nesse universo, destaca-se o protestantismo latino-americano, um dos mais pujantes e crescentes numericamente do planeta. Estudiosos de escol como David Martin, David Stoll, Jean-Pierre Bastian, Harvey Cox, entre outros, têm se debruçado sobre a tarefa de estudar a manifestação religiosa do protestantismo da América Latina, algo complexo, entre outros motivos, pelo seu caráter dinâmico. De fato, não é fácil enquadrar qualquer realidade religiosa em clichês acadêmicos. Leia Mais

Os 100 Livros que mais influenciaram a humanidade: a história do pensamento dos tempos antigos à atualidade | Martin Seymour-Smith

Este livro é um bom exemplo de uma excelente idéia mal executada. Não me refiro a inadequações editoriais meramente, como o Sefiroth impropriamente impresso no comentário acerca dos Anais de Tácito (p. 152), que, suponho, não é um texto cabalístico (o Sefiroth aparece depois novamente, mas em lugar adequado, na p. 206), mas erros do autor na tentativa de executar a idéia proposta pela editora. Não se pode questionar a validade da idéia. Eu mesmo muitas vezes tive a iniciativa de listar os livros mais importantes de alguma área ou sobre algum assunto. Importa, no entanto, avaliar a execução da idéia, e é aí que os problemas começam a surgir.

Seymour-Smith privilegia obras da tradição filosófica, em detrimento de outras áreas como a literatura e as ciências humanas. Seu livro chega às vezes a se parecer com um compêndio de filosofia qualquer, até porque o autor, cometendo um erro grave, “força a barra” e considera, por exemplo, as obras completas de Aristóteles como um único livro, e depois faz o mesmo em relação a Leibniz. Assim, a dificuldade de escolher as cem obras mais influentes se esvazia inteiramente, e caminha-se em direção da escolha dos cem autores mais influentes, o que é outro projeto, bem mais comum e mais fácil, diga-se de passagem. Leia Mais

Ciências da Religião – História e Sociedade | UPM | 2003-2017

Ciencias da Religiao

A Revista Ciências da Religião – História e Sociedade (São Paulo, 2003-2017) é uma publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

[Periodicidade semestral]

Acesso livre

ISSN 1980 9425

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