Estratos do tempo: estudos sobre história – KOSELLECK (HP)

KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Tradução de Markus Hediger. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2014. 352 p. Resenha de: HRUBY, Hugo. A complexidade do tempo histórico. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 29, n. 54, 2 ago. 2016.

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A Clio Tucidideana entre Maquiavel e Hobbes: os olhares da história e as figurações do historiador – PIRES (HP)

PIRES, Francisco Murari. A Clio Tucidideana entre Maquiavel e Hobbes: os olhares da história e as figurações do historiador. Porto Alegre: Armazém Digital, 2014. PANEGASSI, Rubens Leonardo Panegassi. Sobre o estatuto epistemológico da História. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 28, n. 53, 5 jan. 2016.

O lugar da Educação na modernidade luso-brasileira no final do século XIX e início do século XX – CARVALHO; CARVALHO (HP)

CARVALHO, Luciana Beatriz de Oliveira Bar de; CARVALHO, Carlos Henrique de. O lugar da Educação na modernidade luso-brasileira no final do século XIX e início do século XX. Campinas, SP: Editora Alínea, 2012. Resenha de: BORGES NETO, Mario. O caráter redentor da Educação no projeto modernizador luso-brasileiro no final do século XIX e início do XX. Revista História & Perspectivas, Uberlândia, v. 27, n. 52, 22 jul. 2015.

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Sociedade Civil. Ensaios históricos – DE PAULA; MENDONÇA (HP)

DE PAULA, Dilma Andrade; MENDONÇA, Sônia Regina de (Org.). Sociedade Civil. Ensaios históricos. Jundiaí: Paco Editorial, 2013. Resenha de: CARDOSO, Heloísa Helena Pacheco. A atualidade do pensamento de Antônio Gramsci para a historiografia contemporânea. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 27, n. 51, 4 fev. 2015.

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Tempos fraturados: cultura e sociedade no século XX – HOBSBAWM (HP)

HOBSBAWM, Eric J. Tempos fraturados: cultura e sociedade no século XX.Tradução de Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 360 p. Resenha de: KÖLLN, Lucas André Berno. A cultura e a arte como expressões da fratura histórica dos tempos. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 27, n. 50, 27 ago. 2014.

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Hobbes e a liberdade republicana – SKINNER (HP)

SKINNER, Quentin. Hobbes e a liberdade republicana. São Paulo: Editora Unesp, 2010 (Tradução de Modesto Florenzano), 214 p. Resenha de: CARVALHO JÚNIOR, Eduardo Teixeira. A metodologia de Quentin Skinner e o conceito de liberdade em Hobes. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 26, n. 49, 8 mar. 2014.

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E. P. Thompson: política e paixão – MÜLER; DUARTE (HP)

MÜLLER, Ricardo G.; DUARTE, Adriano L. (Org.) E. P. Thompson: política e paixão. Chapecó: Argos, 2012. Resenha de: MARTINS, Eder Alexandre; AMARAL, Sara Krieger do. A razão rangendo os dentes: teoria e militância em E. P. Thompson. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.50, Jan./Jun. 2014.

Mithistória – PIRES (HP)

PIRES, Francisco Murari. Mithistória. 2ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006. 2 vol. Resenha de: FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral. Mito(logia) e história: do epos homérico à historiografia tucidideana. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 26, n. 48, 16 ago. 2013.

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Agentes econômicos e reestruturação urbana e regional – Tandil e Uberlândia – ELIAS; SPOSITO (HP)

ELIAS, Denise; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; SOARES, Beatriz Ribeiro (Org.). Agentes econômicos e reestruturação urbana e regional – Tandil e Uberlândia. São Paulo: Expressão Popular, 2010. Resenha de: RASTRELO e SILVA, Renata. A cidade em questão. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 25, n. 46, 21 jul. 2012.

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Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico – FLECK (HP)

FLECK, Ludwik. Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010 (Tradução de Georg Otte e Mariana Camilo de Oliveira), 201 p.  Resenha de: CURI, Luciano Marcos; SANTOS, Roberto Carlos dos. Fleck e a(s) ciência(s): por um olhar crítico, histórico e social. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 25, n. 46, 21 jul. 2012.

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Literatura en tránsito. La narrativa expedicionaria de la Conquista del Desierto – TORRE (HP)

TORRE, Claudia. Literatura en tránsito. La narrativa expedicionaria de la Conquista del Desierto. Buenos Aires (Argentina): Prometeo Libros, 2010. Resenha de: ZAPATA, Horacio Miguel Hernán. Palabras viajeras en el desierto argentino entre los periplos expedicionarios y los derroteros literarios. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 24, n. 45, 14 dez. 2011.

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Ensaios de História Oral – PORTELLI (HP)

PORTELLI, Alessandro. Ensaios de História Oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. 258 p. Resenha de: CARDOSO, Heloísa Helena Pacheco. História oral: questões e indicações para o debate. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 24, n. 45, 14 dez. 2011.

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undos dos trabalhadores, lutas e projetos: temas e perspectivas de investigação na historiografia contemporânea – VARUSSA (HP)

VARUSSA, Rinaldo José (Org.). Mundos dos trabalhadores, lutas e projetos: temas e perspectivas de investigação na historiografia contemporânea. Cascavel: EDUNIOESTE, 2009. Resenha de: SANTOS, Carlos Meneses de Sousa. Mundo dos trabalhadores – Desafios e limites na produção historiográfica. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 23, n. 43, 15 dez. 2010.

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No sertão das minas: escravidão, violência e liberdade (1830-1888) – JESUS (HP)

JESUS, Alysson Luiz Freitas de. No sertão das minas: escravidão, violência e liberdade (1830-1888). São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: FAPEMIG, 2007. Resenha de: MEDEIROS, Euclides Antunes. História & Perspectivas, Uberlândia v. 23, n. 43, 15 dez. 2010.

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A invenção da cidade: leitura e leitores – MELO (HP)

MELO, Orlinda. C. A invenção da cidade: leitura e leitores. Goiânia: Editora da UFG, 2007. 245 p. Resenha de: COSTA, Keila Matilda de Melo. A reconstrução da cidade: história de leitores, lugares de leituras. História & Perspectivas, Uberlândia, v.33, n.42 – Jan./Jun. 2010.

A invenção da cidade: leitura e leitores, livro de Orlinda Carrijo Melo1, tem como tema as práticas e as representações de leitura numa cidade planejada — Goiânia —, de acordo com os preceitos da modernidade, do progresso e da cultura urbana. Nesta obra, a autora apresenta a transferência da Cidade de Goiás para Goiânia a partir do imaginário social de diferentes leitores. Construção que evidencia não apenas histórias de leitores, lugares de leituras, mas também lutas econômicas e políticas que envolveram a região de Goiás no período em estudo. Dividida em seis partes, abrange a reconstrução das práticas, dos modos e das representações de leitura na cidade inventada a partir de sua fundação, em 1933, até o ano de 1959.

A trajetória profissional da autora, O começo de tudo…, introduz a obra. No contato com alunos, ela retoma discursos sobre leituras e leitores que, desde a época colonial, persistem em justificar a “carência cultural brasileira”. Em busca da sistematização desses discursos, com o objetivo de compreendê-los em um contexto real e idealizado, justificativa do título da obra, a autora se propõe não somente a investigar as práticas de leitura, mas também identificar os modos como elas se constituem na vida dos leitores dessa cidade planejada e civilizada. A explicitação desses modos tem como pressuposto “a reconstrução das diferentes maneiras como os leitores se apropriaram dos textos nos espaços que os constituíram historicamente”.

De História e histórias: o espaço dos interlocutores, Orlinda apresenta o percurso teórico e metodológico de seu trabalho. A interlocução possível é a História Cultural. Por meio do diálogo com essa fundamentação teórica são reconstruídos “os lugares praticados de leitura por operações de sujeitos sócio-históricos, nos tempos construídos pelo improviso, pelo descontínuo, pela falha, pelo lacunar”. Reconstrução feita a partir da narrativa de 16 protagonistas, incluindo uma empregada doméstica e benzedeira. Todos compõem a elite cultural de uma época marcada pelo analfabetismo.

Impasses, cotejo de fontes, indícios e diálogos contribuem para que as histórias dos leitores se entrelaçassem com a história de leitura da cidade construída. Memória individual, coletiva, afetiva, traída e recriada florescem, buscando em fontes variadas o respaldo para os fatos narrados.

A destruição criativada cidade do passado : a teia dos discursos, segundo capítulo da obra, aponta o processo de mudança: para a construção de Goiânia, a descontrução da Cidade de Goiás, do sertão goiano atrasado e inculto. Os preceitos de modernidade e de progresso atingem o interior do Brasil por meio da Marcha para o Oeste. Entre o velho e o novo, entre a tradição e a modernidade, a cidade decadente dá lugar à cidade planejada.

Motivações políticas, sociais, econômicas, sanitaristas, criação de mitos e heróis impulsionaram esta mudança. Na “contramão” do discurso, a Cidade de Goiás surge como um espaço de intensa efervescência cultural e intelectual. Efervescência que dá sustentação à riqueza cultural que irá caracterizar Goiânia. Modernidade e cultura urbana são afinal os paradigmas dos novos tempos.

A cidade inventada: o progresso chegando apresenta esse prenúncio. Neste capítulo são construídas as representações e as imagens da cidade planejada como uma cidade moderna. O progresso se evidencia a partir da dicotomia “sertão civilizado” e “sertão inculto”. Os intelectuais foram os promulgadores dessa construção, uma vez que, antes de se tornar um lugar habitável, Goiânia foi constituída através de narrativas. Do cenário internacional ao brasileiro, profissionais foram chamados para definir esse novo espaço, o art-déco caracterizou-lhe o projeto urbanístico. O nome Goiânia foi escolhido enquanto continuidade à “Nova Goiaz”, prolongamento do passado que se estendeu também pelas práticas culturais. Documentos e depoimentos apontaram a expansão dos espaços de leitura. Espaços formais e informais que contribuíram para a construção das práticas e representações de leituras e de leitores no imaginário da época.

Em Lugares da modernidade : o espaço da leitura instituições diversas foram lembradas. Das instituições de leitura públicas e formais, a autora resgata a história da Biblioteca Pública Municipal de Goiânia, da Escola Normal Oficial e do Grupo Escolar Modelo. Instituições que se situam como “centros culturais e literários de igual valor aos eixos Rio-São Paulo”. Das Instituições de leituras particulares e formais, os “lugares praticados de leitura” estiveram associados ao Colégio Santa Clara, aos vendedores ambulantes, a livrarias, a bancas de revistas etc. Práticas que alcançaram espaços informais como : bibliotecas particulares, bares, farmácias, casas de famílias. A leitura se irrompe para lugares inusitados, revelando leitores que buscam a modernidade em impressos variados, por exemplo em revistas e jornais. Instituições culturais são também lembradas. O “Batismo Cultural de Goiânia” é o evento que dá origem à Associação Brasileira de Escritores – Seção Goiás e à Bolsa Hugo Carvalho. A constituição do imaginário social da cidade planejada foi assim se solidificando com os aspectos da riqueza cultural e da formação intelectual dos goianos.

Leitores: valores e representações, quinto capítulo do livro, evidencia histórias de leitores e suas práticas de leituras — valores e representações atribuídos à leitura pelos moradores da cidade inventada. “Jogos de imagens da cidade e de si mesmos”, reproduzem a nova ordem mundial centrada no progresso e na modernidade. Na leitura herdada de família “não há rito de passagem para a escola”. A leitura se consolida nas relações dos grupos que praticam as formas dominantes de cultura. A posse do livro representa o acesso a essa cultura. A partir desse objeto, outros ícones de leitura marcam essas histórias. Paralelo à leitura familiar, encontra-se a leitura herdada da escola. Ambas reproduzindo valores burgueses. Escola e família se fazem presentes nas representações da cidade que se pretende culta e civilizada.

Espaços reconstruídos aparentemente sem contradições, mas que, em determinados momentos, “memórias traídas” revelam as leituras de vida dupla. Leituras cruzadas entre permissões e censuras a partir do papel do selecionador. No entanto, a “memória coletiva” resiste e conserva viva as leituras consideradas menores.

Por meio do ato de ler, o indivíduo também “se forma e se informa”. É a leitura, ilustração técnica para o trabalho que carrega consigo estigmas do discurso liberal e define postos de trabalho.

Nesse universo de representações e imagens de leitura ganham contornos ainda a leitura feminina e a leitura masculina.

Para as mulheres, leitura de evasão, de sonhos, ocultando conflitos — limitações de leitura. Para o homem, leituras sérias pressupondo tomadas de decisões e escolhas para adentrar o campo competitivo da cidade moderna — acesso ilimitado ao impresso.

Acesso possibilitado pela ampliação de materiais escritos. Daí, a leitura, consumo da modernidade. Práticas modernas e estrangeiras são rapidamente absorvidas. A crônica social, os cartazes, os folhetos, os anúncios e os jornais propagam os eventos culturais.

Cinema, rádio, teatro, fotografia e televisão são representações motivadoras de leitura. “Leituras modernas que sugerem felicidade, conforto e sucesso”. Retrato de uma realidade que não esconde a outra margem da leitura, ou da leitura sem leitores.

Nas lembranças evocadas: analfabetismo, fracasso dos programas escolares, exclusão da maioria da população “pela negação do acesso à escola e pelas práticas de leitura pobres e estereotipadas que engrossam as estatísticas da evasão escolar”. Revelação de um cenário de leitura não autorizado, reservando a milhares de leitores um espaço à margem da ordem social.

A desinvenção da cidade: memória traída é o capítulo que finaliza esta obra. Nele, a autora retoma as cartas escolhidas pelos participantes da pesquisa para a reconstrução do passado. Na montagem desse cenário, mito e realidade permeiam as “memórias seletivas” e revelam as contradições do discurso por meio das “memórias traídas”. A face oculta da cidade inventada se evidencia e duas cidades surgem: uma harmoniosa, que fervilha em leituras; e, outra, com restrições inúmeras. Da memória traída o que resta é a possibilidade de ruptura e do dizer a mais. Da memória seletiva, o anivelamento do discurso e a definição do espaço ocupado nas práticas de leitura da cidade planejada. No entanto, “o caminho sugere vários lugares […]”.

Das inúmeras narrativas de constituem esta pesquisa, mãos experientes sustentam esta história reconstruída pelo discurso de uma “ouvinte-narradora”que, segundo Valéry, faz tornar visível o que está dentro das coisas, o que está submerso nas palavras. A capacidade de ir além do que é revelado, percorrendo diferentes fontes, de apreender a realidade a partir da “metáfora do olhar, que não se deixa levar pelas primeiras aparências”, como dizia Veiga Neto, são as características que definem um pouco da riqueza desta obra. Um livro que vale a pena ser lido não apenas pelos aspectos históricos que o constitui, mas, e sobretudo, pelas inúmeras narrativas as quais caracterizam histórias de leitores, lugares de leituras.

Keila Matida de Melo Costa – Doutoranda em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Bolsista da Capes. [email protected] 1 Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp – SP. Professora de graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Autora do livro Alfabetização e trabalhadores : o contraponto do discurso oficial.

Grande Otelo: uma biografia – CABRAL (HP)

CABRAL, Sérgio. Grande Otelo: uma biografia. São Paulo: Editora 34, 2007, 320p. Resenha de: SANTOS, Tadeu Pereira dos. Grande Otelo sob o olhar de Sérgio Cabral. Histórias & Perspectivas, Uberlândia,  v. 22, n.41 – Jul./Dez. 2009.

O livro “Grande Otelo: uma biografia” foi escrito pelo jornalista Sérgio Cabral1, a partir do acervo particular de Sebastião Bernardes de Souza Prata/Grande Otelo, como resultado de um projeto dirigido pela Sarau (Agência especializada em espetáculos musicais e teatrais) e apoiado pela Petrobrás. A obra está estruturada em 25 tópicos, nos quais se evidencia a experiência de Sebastião Prata em um enredo que vai do seu nascimento à morte. Trata dos aspectos centrais da vida de Grande Otelo, em um processo em que presente e passado se mesclam na interpretação do autor.

O enredo sobre Grande Otelo destaca o imaginário construído sobre e para Sebastião Prata, como ator cômico, travestido no seu personagem Grande Otelo, fazendo dos principais meios de comunicação de circulação nacional (revistas e periódicos), ao longo do século XX, vozes suportes dessa memória.

Na interpretação de Cabral, Otelo ocupa o lugar central da narrativa pela seletividade de seu passado oferecido a ler em um movimento de heroicização. Assim sendo, a sua narrativa é construída com o propósito de que os acontecimentos sobre Otelo tenham o caráter de grandeza, transformando-o em herói do cinema e do teatro enfatizando a sua notoriedade, o seu brilhantismo e a sua genialidade. Essa constitui a espinha dorsal da escrita do autor, pelo manuseio do passado na construção de uma memória sobre Grande Otelo, isto é, como escritor/jornalista, é a partir de 2006 que ele interpreta a trajetória de vida do artista desde seu nascimento à morte, tomando a infância do mesmo como ponto de partida de sua interpretação. Destaca as suas experiências na cidade de Uberlândia, na Estação Mogiana, nas ruas e em um Circo Mambembe em trânsito pelo Triângulo Mineiro e Alto- Paranaiba.

Ao tratar do seu deslocamento para São Paulo, credita a essa experiência, tutelada por Abigail Parecis, o suporte de sua formação artística e sua inserção nas Companhias Negras de Teatro de Revistas. Cabral narra relações de Bastiãozinho com figuras públicas do campo artístico, referenciais marcantes na sua afirmação como Grande Otelo. O autor destaca amplamente jornais dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia onde Otelo figurava como atração dos espetáculos.

Além disso, narra suas experiências em São Paulo, explicitando a sua passagem pelo Patronato de Menores e sua posterior adoção pela família Queiroz que oportunizou seus estudos no Liceu Coração de Jesus, no qual se destacava nas apresentações cênicas, convencendo seus pais adotivos de que o potencial artístico fluía em seu ser. Cabral descreve ainda o seu retorno às atividades artísticas com Zaíra Calvacante e posterior engajamento com Jardel Jardecolis, que o leva ao exterior. Após seu retorno, estabelece- se na cidade do Rio de Janeiro.

Cabe ressaltar, que a infância é interpretada por Cabral como uma vivência marcada por aventura, sofrimento, mas, sobretudo, como reveladora da “predestinação” de Otelo ao mundo das artes, pois desde criança já se constituía em sucesso por onde passava e ocupava lugar de destaque na imprensa nacional.

Posteriormente à interpretação das experiências de Otelo em Minas e São Paulo, Cabral direciona-a para o Rio de Janeiro, descrevendo os acontecimentos reveladores da transformação de Sebastião Prata em seu personagem Grande Otelo, destacando Jardel Jardecolis como definidor de seu nome artístico Grande Otelo e dos múltiplos significados por ele assumidos na sua vida, a exemplo de sua iniciação no cinema, local de encontro com Mesquitinha, um dos seus mestres na vida.

A narrativa do período de 1935 a 1940 delineia o processo em que Otelo vai assimilando o Rio de Janeiro e se afirmando com as participações em peças teatrais e filmes da Cinelândia, espaços em que conheceu Noel Rosa, Mário Lago, Mesquitinha. Ao trabalhar com Ari Barroso em “Batuque”, fez parceria com Déo Maria ao interpretar e cantar a música “No tabuleiro da Baiana”. Destaca o autor que, em 1940, Sebastião Prata já era Grande Otelo e assumia lugar na escrita jornalista, como cartaz de peças de teatro e como alvo dos críticos da época.

O Cassino da Urca é dado a ler por Cabral como central na vida artística de Otelo por lá ter conhecido, na década de 1940, grandes destaques como Orson Welles, Carmem Miranda, Wilson Batista, Ataulfo Alves e Herivelto Martins, seu grande amigo. Contudo, leva o leitor a outros universos freqüentados por Otelo em seus trabalhos em rádio, cinema e música. Sobretudo, explicita os filmes dos quais participou, as dificuldades enfrentadas enquanto desempregado, sua participação na imprensa e suas relações familiares antes de integrar-se à Atlântida.

Tendo como suporte da sua escrita a imprensa da época, Cabral revela ao leitor uma fase definitiva na transformação de Sebastião em seu personagem Grande Otelo, em um processo em que faz do mesmo o suporte definidor do imaginário dos significados a ele atribuídos. Consoante aos propósitos de sua interpretação, intercala as suas glórias e frustrações, com destaque aos filmes O Moleque Tião e a Dupla do Barulho, ao seu exercício jornalístico na Revista Fiu-Fiu e à tragédia de 1949, quando da morte de Chuvisco, seu enteado, e suicídio da sua esposa. Como biógrafo transforma episódios pessoais do artista em grandes acontecimentos, ressaltando as suas glórias, os seus feitos, em um procedimento que lhe confere natureza de grande herói do cinema e do teatro: No primeiro semestre de 1943, os jornais andaram publicando também notas sobre as atividades futuras de Otelo no cinema. Ademar Gonzaga, o grande comandante da Cinédia, anunciou a realização do filme Alma do Morro, tendo o ator como protagonista. Pouco depois, a revista Cena Muda informou que a Atlântida faria vários filmes de curta-metragem e que o primeiro deles focalizaria Grande Otelo. Certo mesmo que, em 1943, ele seria definitivamente consagrado como um Grande astro do cinema brasileiro.2 O enredo de Cabral cristaliza uma dada versão sobre Otelo, a que está no imaginário de diferentes gerações, manifesta nas lembranças sobre ele. Esta versão corrobora as avaliações de seus trabalhos pelos meios de comunicação, reveladores da sua versatilidade, ponto importante na configuração da sua memória.

Cabral direciona a sua narrativa para explicitar a participação de Otelo no cinema brasileiro, em um percurso que vai da Atlântida ao Cinema Novo, entrecruzando suas atividades em rádio, televisão e teatro, em formato de um catálogo localizador do tempo e do espaço onde estava Otelo. No período entre a segunda metade da década de 1950 e a década de 1980 mapeia os passos de Otelo, agregando suas experiências nos diferentes canais de TV da época, tais como as TVs Excelsior, Tupi e o início da sua participação na Rede Globo, em que trabalhou até à década de 1990.

Além do catálogo das atividades de trabalho, Cabral também faz um mapeamento de figuras públicas dos campos artístico e político com as quais Otelo conviveu ao longo da sua trajetória de vida, evidenciando-as em cada fase.

A catalogação efetuada por Cabral revela os grandes feitos de Otelo, em um processo constitutivo da sua imagem como homem que viveu para o mundo das artes, doando sua vida para o cinema e o teatro do país, sacrificando sua família, justificando suas escolhas na sua condição de herói, por estar presente nos grandes momentos da atividade cultural no país. Cabral referencia o filme Macunaíma (1969), apresentado ao leitor como o trabalho de maior repercussão do artista pelas homenagens no país e exterior, o que lhe deu visibilidade nos diferentes meios de comunicação.

Dessa forma, leva o leitor às experiências de Otelo na década de 1970, destacando a sua participação em novelas e programas da TV Globo, com referências às suas participações no teatro e no cinema.

Em relação à década de 1980, Cabral constrói a sua narrativa de maneira a apontar Otelo já direcionando o enredo para sua morte. Isto é, ao elaborar uma relação, das homenagens a ele prestadas no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais, destaca a comemoração dos seus setenta anos, em 1985, a sua passagem por Uberlândia e, sobretudo, explicita sua participação no movimento pela Separação do Triângulo Mineiro e Alto-Paranaiba em que o artista fora garoto propaganda do Estado, contrariando seus conterrâneos uberlandenses. Nesse universo, entremeado por atividades de trabalho, Otelo é apresentado como um sujeito que indaga como fora e era tratado, revelando as suas angústias e, ao mesmo tempo, os seus problemas de saúde. Cabral o mostra como um sujeito que lutava pela vida e que permaneceu ativo até o seu último instante; isto é, um sonhador e lutador mesmo com saúde precária, decorrente da sua vida boêmia e idade.

Por exercer estreita relação com as atividades do cinema e do teatro, Otelo sempre recomeçava a sua vida, desta vez com o filho Pratinha, por meio da produtora Go-Up Produções Artísticas, agregando-se a isso o seu trabalho na Escolinha do Professor Raimundo da TV Globo, homenagens, amores e os sonhos de escrever livros e produzir filmes. Essas eram experiências de Otelo na década de 1990, relatadas por Cabral quando definitivamente ausentava-se do cinema e do teatro em razão da sua morte em 1993, por não resistir ao último infarto sofrido em plena Paris, onde receberia sua última homenagem. Desde o final da década de 1970, seu agravado estado de saúde o obrigara a hospitalizar-se em sua terra natal (Uberlândia) e em seguida por diversas vezes no Rio de Janeiro.

No enredo construído por Cabral, Otelo é o centro da narrativa, na medida em que a sua história, o entrecruzamento entre seus trabalhos, principalmente no cinema, são peculiares aos propósitos do autor em fazer de Otelo um herói na sua trama. Por isso, os personagens a ele vinculados são apresentados na medida em que possibilitam afigurar-lhe grandioso, um homem que se fez do porte dos demais, grande entre as grandes figuras públicas do país. Ao destacar a publicação do livro Bom Dia, Manhã, de autoria de Grande Otelo, Cabral seleciona do prefácio um parágrafo que destaca a importância do ator na vida nacional: Não sei de brasileiro vivo mais importante no cenário da vida nacional – seja ele político, esportista, artista, escritor – do que Sebastião Prata, pouco conhecido pelo nome inscrito no registro civil. Mas quem não conhece Grande Otelo? Os brasileiros mais célebres e amados – o poeta Drumond, o arquiteto Niemeyer, a atriz Fernanda Montenegro, o atleta Pelé, para citar apenas quatro expoentes – serão tão grandes, mas não serão maiores do que este pequeno homem de carapinha grisalha, nascido na pobreza do povo brasileiro, de imenso talento, de irremediável vocação para a arte, criador sem igual, a força e a graça. Nosso povão não possui quem seja tão sua imagem, que o simbolize com tamanha verdade.3 Decorrente desse movimento de escrita, observamos as poucas referências a familiares, talvez pela opção de quem sacrificou a família em função do cinema e do teatro. No cotidiano do artista, vida conflituosa com as mulheres, a boemia, os atrasos aos compromissos, a lida trabalhista (fugas) e as relações de convivência com alguns diretores, nos indicam as tensões vividas.

A biografia assume relevância para estudiosos ou simpatizantes da temática na medida em que lhes possibilita perceber uma interpretação sobre Otelo vinculada ao cinema, em um movimento transformador de Sebastião Prata em Grande Otelo, construída com suporte na grande imprensa brasileira. Aos historiadores, possibilita problematizar os procedimentos adotados pelo biográfico como recurso peculiar à escrita da história, analisando o propósito do autor e a materialidade da narrativa. Nesse movimento, são percebidos os recursos utilizados para a construção de uma versão sobre o sujeito por aquele que se propõe a “contar” sua vida.

As minúcias narradas constituem a estrutura do enredo em que texto e iconografia produzem sentidos configuradores de verdade.

A narrativa é construída de modo a criar uma falsa impressão no leitor de que os acontecimentos contados, e a maneira como o são, encerram a experiência do biografado, quando, ao contrário, o que se apresenta é apenas uma interpretação condicionada ao uso de documentos e às questões propostas pelo autor.

Nesse movimento, a escrita também revela concepções de história que se explicitam na maneira de narrar. Como se trata de uma história para fazer do biografado um herói, coloca-se em evidência os seus grandes feitos: sua participação pelos diferentes meios cinematográficos (Chanchadas, Cinema Novo, Cinema Marginal); sua inserção pelo jornalismo; seu mergulho no mundo musical por meio da composição de samba; sua trajetória no rádio, no teatro e na televisão, nos quais o aspecto factual assume relevância na narrativa, ao transformar experiências do artista em grandes manchetes, o que possibilita engrandecê-lo e heroicizá-lo.

Devemos ainda considerar que essa forma de reconstruir o passado a partir do presente ocupa lugar singular no mercado editorial.

Ou seja, essas narrativas transformadas em mercadorias têm nele espaço cativo e são dadas a ler como História.

Desse modo, muitas biografias evidenciam uma concepção de História centrada nos “grandes” homens e acontecimentos, valorizando a ideia do detalhe travestido em data, personificação, ao subjugar a história à trajetória de apenas alguns, o que leva a um movimento cristalizador de uma dada forma de interpretar, reveladora de uma concepção restritiva onde alguns sujeitos são considerados agentes históricos dignos de terem suas vidas biografadas.

Aqui, o sujeito Sebastião Prata dá lugar ao artista Grande Otelo. Suas agruras do cotidiano, seus anseios, enfim, sua experiência no meio social cede espaço, na ótica do biógrafo, aos festejos e dotes artísticos apresentados por Otelo. Cabral não enxerga no artista o homem e, despeja sua análise no caráter singular do artista, deixando de lado as ações do sujeito. Nos flashes literários promovidos por Cabral, nas fotos, no palco da história, o sujeito é Grande Otelo quem surge, Sebastião Prata é apenas coadjuvante nas lentes do biógrafo.

1 Sérgio Cabral é jornalista, músico, compositor e escritor. Escreveu as seguintes obras: Pixinguinha: vida e obra (1977), com a qual venceu o concurso de monografias da Funarte sobre MPB; No tempo de Almirante (1991); No tempo de Ari Barroso (1993); As Escolas de Samba do Rio de Janeiro (1996); Antonio Carlos Jobim: uma biografia (1997); Mangueira: nação verde e rosa (1998) e Nara Leão: uma biografia (2001), entre outras. Cabral é presença constante em programas de diferentes canais da televisão brasileira e participante ativo de festivais de música como jurado.

Notas

2 CABRAL, Sérgio. Grande Otelo uma biografia. São Paulo. Editora 34, 2007. p104.

3 AMADO, Jorge & OLINTO, Antônio. Prefácio do livro Bom dia, manhã de autoria de Grande Otelo. In. CABRAL, Sérgio. Grande Otelo: uma biografia. São Paulo: Editora 34, 2007. p. 290.

Tadeu Pereira dos SantosMestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia, pesquisador da vida e obra de Sebastião Prata/Grande Otelo e bolsita Capes sob orientação da Professora Drª Heloisa Helena Pacheco Cardoso.

Consultar a publicação original

Territórios deprimidos: desafios para as políticas de desenvolvimento rural – ORTEGA (HP)

ORTEGA, Antônio César. Territórios deprimidos: desafios para as políticas de desenvolvimento rural. Campinas-SP: Ed. Alínea; Uberlândia-MG: Edufu, 2008. Resenha de: OLIVEIRA, Régis Borges de. Desenvolvimento Rural: enfoque territorial. História & Perspectivas, Uberlândia, v. 22, n.41 – Jul./Dez. 2009.

A temática do desenvolvimento territorial, nos anos recentes, constituiu-se importante e vasta área de debate no meio acadêmico, com importantes transbordamentos para a prática de gestão de políticas públicas. De caráter multidisciplinar, este campo vem chamando a atenção de economistas, sociólogos, geógrafos e pesquisadores de áreas afins, possibilitando uma visão mais dinâmica das possibilidades e potencialidades do desenvolvimento econômico-social. O enfoque territorial se destaca por sua forma de percepção da realidade através do re-ordenamento espacial do território, sendo este entendido não só estritamente do ponto de vista geográfico, mas agregando características econômicosociais que conferem a algumas regiões características singulares.

A partir dessas singularidades são analisadas as formas de intervenção Estatal (modelo top-down) e o processo de gestão participativa, com demandas locais, coadunando as proposições top-down com as do tipo button-up. Não se trata, portanto, de uma defesa ao localismo. O mote do livro, nesse espectro, é mostrar a importância do capital-social enquanto detonador do processo de gestão participativa, porém, devidamente alicerçado pelo aparato Estatal, concatenando os interesses subnacionais com os de âmbito nacional.

Neste sentido, o autor trabalha esses conceitos aplicando-os à diversa e complexa realidade rural do Brasil, identificando as fragilidades, os retrocessos e os avanços no que diz respeito à trajetória de desenvolvimento rural brasileiro. É de suma importância a ressalva feita pelo autor, que trata o meio rural não apenas como lócus da produção agropecuária. Conforme apontado por Veiga (2002), também são considerados rurais aqueles municípios de baixa densidade demográfica, pequena população e predominância de atividades ligadas a agropecuária.

O livro, referência obrigatória para pesquisadores da área e gestores das políticas públicas, se divide em dez capítulos, abarcando desde discussões preliminares acerca do conceito de desenvolvimento até estudos de caso como mostram os capítulos finais 9 e 10, apresentando as experiências mexicana e chilena, respectivamente, no que tange à descentralização e estratégias de desenvolvimento. Segundo o próprio autor, trata-se de uma obra motivada fundamentalmente pela experiência das aulas nos cursos de graduação e pós-graduação em Economia, sendo portanto, num primeiro momento, de intuito didático. No entanto, o livro vai além das salas de aula, trabalhando de forma precisa a temática proposta, sendo referência para estudos e planejamento de políticas públicas.

No primeiro capítulo, como substrato da discussão geral do livro, Ortega faz uma síntese da evolução conceitual da ideia de desenvolvimento, resgatando desde as escolas positivistas até Keynes e seus sucessores, estabelecendo uma relação entre a ideia de desenvolvimento e seus respectivos períodos históricos.

O capítulo lança luz sobre o esvaziamento do planejamento centralizado e a emergência do planejamento descentralizado, apontando as raízes históricas dessa reversão. É interessante notar como já mencionado, as duas estratégias de planejamento com vistas à adoção de políticas públicas de desenvolvimento territorial, quais sejam: i) uma orientada de cima para baixo (top down), em que o desenvolvimento local é planejado fundamentalmente pela esfera federal; e ii) outra onde a dinâmica é de baixo para cima (button-up) e os planos de desenvolvimento local são elaborados de forma descentralizada, com participação das esferas públicas e privadas locais. Segundo o autor, a segunda estratégia possui maior potencial de desenvolvimento social, caracterizando-se por uma gestão participativa, entre governo e sociedade local. A grande questão é que esta estratégia requer um grau elevado de organização da sociedade-local, interagindo e apresentando propostas/ demandas ao governo central. De extrema lucidez teórica, o livro aponta ainda para as dificuldades em se combinar as duas formas de desenvolvimento local. O ideal seria uma forma de governança mista, com participação local, mas que não se reduza ao localismo ingênuo.

O capítulo segundo está centrado na discussão entre descentralização e capacidade de promoção do desenvolvimento endogenamente. Analisando a América Latina, são considerados os exemplos práticos das estratégias desde baixo (button-up) e desde cima (top-down). O autor questiona a capacidade dos territórios deprimidos em promoverem um processo de desenvolvimento endogenamente, dadas as assimetrias na correlação de poder e interesses. Essa questão se liga umbilicalmente à ideia de embededdness (enraizamento) das relações sociais no território, visto que a racionalidade dos indivíduos não é ilimitada, mas sim restringida pelo contexto social. Ainda assim, existem diferenciações no que diz respeito à habilidade social, chave para cooperação dos atores.

No terceiro capítulo são abordadas questões referentes à concepção de território e territorialidade, mostrando como o enfoque territorial se tornou importante ponto de partida para análises dos fenômenos econômicos. Com a globalização, a ideia era de que o mundo estaria sofrendo um processo de desterritorialização, com rompimento das fronteiras de acumulação do capital. É factual que o processo de acumulação capitalista rompe com as limitações geográficas, porém, justamente apropriando-se das diferenciações regionais, territoriais e espaciais. Alicerçado em diversas visões/autores e confrontando as contribuições seminais sobre a questão dos territórios, Ortega finaliza o capítulo mostrando que o território deve ser concebido a partir de uma perspectiva integradora, articulada em múltiplas escalas, levando em conta as hierarquias, o poder, as classes sociais, elementos macroeconômicos, etc.

A quarta parte se dedica à análise do meio rural brasileiro, apontando suas transformações recentes. É de grande importância reter que o rural deixa de ser sinônimo de produção agrícola, ou melhor, deixa de ser entendido enquanto mero lócus de produção agropecuária. O intuito deste capítulo é mostrar como essas alterações sofridas no meio rural brasileiro devem condicionar a forma de pensar políticas públicas para o campo. O autor aponta para a superação da dicotomia rural-urbano, pois existem municípios cuja dinâmica é fundamentalmente comandada por atividades agropecuárias e, portanto, não faz sentido classificá-los como urbanos. O rural dever ser compreendido enquanto espaço, lócus de conflitos e não como setor da atividade econômica. Por fim, o autor mostra como a agricultura familiar pode contribuir com a construção de pactos territoriais rurais, mostrando a importância dessa agricultura no total da produção agropecuária brasileira e sua inserção competitiva no mercado, comparando a experiência brasileira com a estratégia de desenvolvimento rural europeia, analisando o programa Leader. Com base na experiência europeia, lança os caminhos e desafios do enfoque do desenvolvimento territorial rural (DTR) para a América Latina e o Caribe.

A questão da representação de interesses rurais é tratada no capítulo quinto. Grosso modo, com o processo de modernização da agricultura (adoção dos pacotes tecnológicos da Revolução Verde), principalmente a partir das décadas de 60 e 70, há a fusão do capital industrial com o capital agrícola, conformando uma agricultura cada vez mais integrada com a indústria. Dessa união capitalista emergem os complexos agroindustriais, ou seja, cada produto gera em torno de si uma cadeia produtiva, demandando políticas específicas e insumos cada vez mais voltados para suas especificidades. Tem-se então o complexo agroindustrial da soja, do café, da cana-de-açúcar, da pecuária de corte, da pecuária leiteira, e assim por diante. Neste contexto a relações de poder e interesses se complexificam, pois, cada complexo agroindustrial defende políticas e incentivos ad hoc.

No sexto capítulo, o autor apresenta a experiência dos conselhos municipais de desenvolvimento rural sustentável (CMDRS).

O processo de modernização da agricultura brasileira foi fortemente concentrado, tanto regionalmente como em alguns tipos específicos de culturas. A grande maioria do crédito subsidiado, destinado à modernização da agricultura, foi canalizada para região centro-sul do Brasil, e para grandes produtores, principalmente de produtos exportáveis, ou seja, grãos e pecuária. Neste sentido, cabe observar que os pequenos e médios produtores ficaram à margem desse processo. Muitos sucumbiram diante da onda modernizante e outros sobreviveram enquanto pequenos produtores.

Pela sua representatividade, tanto em termos de pessoas ocupadas quanto no que diz respeito à produção de insumos e alimentos, a agricultura familiar necessita de políticas públicas que garantam a reprodução e a estabilidade dessas famílias nesse importante segmento da agricultura brasileira. Partindo desse ponto, em 1995 o Governo Federal lança o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), estabelecendo três linhas principais de financiamento: Capacitação; Infra-estrutura e Serviços e Crédito. O autor analisa especificamente cada uma das três linhas, com ênfase nas duas últimas (Infra-estrutura e Serviços e Créditos) por entender que estas têm uma maior relação com políticas de desenvolvimento territorial. Através do estudo de alguns casos, Ortega explicita a importância do PRONAF como instrumento de desenvolvimento rural, cumprindo um papel de mitigação da pobreza nas regiões mais deprimidas do país.

Ainda assim, o autor deixa claro que seria providencial uma maior interação das políticas públicas, coadunando fatores econômicos e sociais, como por exemplo, saúde e educação.

O sétimo capítulo se dedica a apresentação e avaliação das políticas de desenvolvimento territorial em execução no país. A inserção das estratégias de desenvolvimento local na prática de políticas públicas brasileiras teve início nos anos 90, por meio da criação dos Territórios Rurais da Secretaria de Desenvolvimento Territorial ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. São investigadas as principais ações do governo Fernando Henrique Cardoso e as políticas mais recentes arquitetadas no governo Lula.

O texto apresenta com clareza as diretrizes e os objetivos do Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (PNDRS), arvorado na criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, em 1999. Além disso, apresenta as experiências no âmbito do desenvolvimento local do governo FHC, como: i) o Programa Comunidade Solidária, cujo mote era ocupar um espaço intermediário entre o governo e as organizações da sociedade civil, tornando-se um espaço de debates entre os governos e a sociedade, tendo em vista a convergência de projetos a serem implementados mediante a formação de parcerias; ii) o Programa Comunidade Ativa, conclamando a sociedade civil através de fóruns locais de concertação visando o combate a pobreza e a promoção do desenvolvimento. No governo Lula é analisada a política territorial rural, consubstanciada nos Territórios Rurais e no programa Territórios da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. Por fim, o autor tece considerações sobre as rupturas e continuidades do desenvolvimento territorial rural brasileiro, pontuando que parcela expressiva dos territórios ainda se depara com sérios problemas na condução de processos “autônomos” de desenvolvimento, o que exige maior atenção das políticas públicas, fortalecendo e mobilizando as sociedades locais.

O desenvolvimento territorial rural está, obviamente, ligado à questão da segurança alimentar. Políticas de desenvolvimento territorial devem atentar para a questão da insegurança alimentar e pensar estratégias para mitigação da fome e da pobreza. Nesta perspectiva, o capítulo oitavo se encarrega de estudar os Consórcios Intermunicipais de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSADs), cujo objetivo principal é contribuir com o enfrentamento da pobreza e das desigualdades sociais, visto que a questão da insegurança alimentar é, sobretudo, uma questão de (falta de) acesso, ou seja, de insuficiência de renda. Foi concebido por meio dos CONSADs, no Governo Lula, o Programa Fome Zero, buscando desenvolvimento local e segurança alimentar. O autor apresenta toda a arquitetura dos CONSADs e do PFZ, com o devido mapeamento da população sujeita a insegurança alimentar, bem como aponta os avanços e deficiências desses programas.

No nono e décimo capítulos são abordadas as experiências de descentralização e desenvolvimento rural do México e Chile, respectivamente. No México, destaca o caso do Programa PROGRESA– OPORTUNIDADES como estratégia de desenvolvimento rural. Em linhas gerais, inicialmente o Programa Educação, Saúde e Alimentação (PROGRESA) foi um programa de transferência de renda, lançado em 1999 pelo governo mexicano com o objetivo de garantir que famílias carentes tivessem acesso a níveis suficientes de nutrição e saúde. Passando por modificações, o PROGRESA, que era dirigido estritamente para áreas rurais, se estende para conglomerados urbanos mudando seu nome para oportunidades.

No caso do Chile, cuja experiência no âmbito da descentralização é mais antiga, porém impulsionada nos anos recentes, não há intermediação dos governos municipais com o governo federal na gestão dos programas de desenvolvimento territorial rural. O autor destaca que o processo de descentralização chileno foi peculiar, conformando uma divisão político-administrativa diferente, por exemplo, do caso brasileiro. O processo de consolidação da descentralização chileno vem fortalecendo a criação de representações da sociedade civil, que passaram a atuar mais intensamente com poderes políticos constituídos em nível subnacional.

Aliado ao programa de formação de territórios e desenvolvimento rural, o Chile, assim como o Brasil e o México, possui atuação também no âmbito social através do Programa Chile Solidário.

Criado em 2002, o programa tem como objetivo o combate a pobreza por meio de três etapas envolvendo as famílias beneficiadas.

Na primeira fase, chamado de Programa Ponte (apoio psicossocial) e Aporte Solidário há um processo de acompanhamento da família com o objetivo de construir um “espírito” de superação na unidade familiar. Paralelamente a esse programa, as famílias selecionadas recebem subsídios monetários, e por meio do acesso preferente aos programas sociais; estas têm acesso preferencial aos programas sociais, públicos e privados. Por fim, é feito um balanço comparativo das diversas experiências, analisando os diferenciais e aspectos positivos a serem considerados na formulação de programas sociais.

A quantidade de informações e o núcleo teórico utilizados em “Territórios Deprimidos: desafios para as políticas de desenvolvimento rural” fazem dessa obra importante marco na forma de pensar políticas públicas de caráter estruturalistas de combate efetivo às, historicamente marcantes, desigualdades sociais do Brasil em específico e da América Latina em geral. Em um contexto de esvaziamento da atuação do Estado e de foco conjunturalista das políticas públicas, o livro lança luz sobre questões fundamentais, chamando a atenção para a mobilização da sociedade civil e para a indispensável e providencial atuação do Estado, sobretudo, naqueles territórios onde o grau de organização social é incipiente.

Régis Borges de Oliveira – Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia, atualmente é aluno do programa de Mestrado em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Campinas, bolsista do CNPq.

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Jacob Burckhardt´s social & political thought – SIGURDSON (HP)

SIGURDSON, Richard. Jacob Burckhardt´s social & political thought. Toronto: University of Toronto Press, 2004. Resenha de: CALDAS, Pedro Spinola Pereira. A crítica conservadora de Jacob Burkcardt: uma leitura política da História da cultura. Histórias & Perspectivas, Uberlândia, v.1 n.40 – jan./jun. 2009.    

É bem sabido que o percurso da história da historiografia é diferente das ciências exatas, porquanto não se deixa medir pela eficiência de seus resultados. Por outro lado, há uma marca deixada pelo tempo em cada página clássica da tradição historiográfica. Podemos considerar que o lugar da grande obra de história se situa entre as novas descobertas e a manutenção de questões ainda não esgotadas. É como disse certa vez um grande escritor italiano: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.2 Ao enfatizar a dimensão política e as concepções sociais inerentes à história cultural em seu momento de fundação, o notável estudo de Richard Sigurdson, Jacob Burckhardt´s social & political thought [“O pensamento social e político de Jacob Burckhardt”], interpreta a obra do grande historiador suíço a partir deste lugar ambíguo, entre seu tempo e para além dele, determinado e premido por questões de sua época (que em parte são as nossas questões) e ainda bastante provocador. O retrato que sai da obra é de um Burckhardt polêmico, arguto e atual, em que o fundador da hoje quase hegemônica história da cultura se funde com a do anti-semita. O livro de Sigurdson, portanto, contribui bastante para a história da historiografia, e pode ser aproveitado não somente pelos interessados na obra do grande historiador suíço e nas origens da história da cultura, mas, também, por todos que, porventura, tenham vontade de conhecer um pouco melhor as críticas da modernidade feitas no século XIX por autores de filiação conservadora – caso de Burckhardt – que, assim, pode ser visto como um sucessor de Edmund Burke e um perfeito contemporâneo de Dostoievski. Trata-se, pois, de um belo volume de história da historiografia, história intelectual e história política. Como diz seu autor, os temas clássicos de Burckhardt permanecem bastante atuais: “(…) a relação entre o indivíduo e as massas; a tensão entre os ideais de igualdade e de excelência humana; a qualidade e a natureza da cultura na sua era massificada; e o papel do intelectual no Estado moderno – tais temas têm sido calorosamente debatidos pelos teóricos da política”. (SIGURDSON, 2004, p.7) Professor na Universidade de Manitoba (Canadá), Richard Sigurdson dividiu seu livro em duas grandes partes, cada qual com três capítulos. Na primeira parte, “Burckhardt e o nascimento da história cultural”, Sigurdson demonstra que a prevalência dada por Burckhardt à cultura, em detrimento do Estado e da Religião (conforme ele deixaria claro em suas preleções de 1868 sobre o estudo da história), não significa que seus comentários políticos sejam frívolos ou irrelevantes. Reconstruindo a trajetória formativa de Burckhardt, Sigurdson demonstra que a busca pela cultura como objeto privilegiado da história explica-se por uma dupla renúncia, a saber: a desistência em obter uma formação teológica (iniciada entre 1837 e 1839 na Universidade da Basiléia) trocada pelos estudos de História em Berlim, onde aprendeu com o já eminente Leopold von Ranke o rigor do método. Mas as aulas de Ranke o levaram à segunda recusa: o estudo da história política, preterida em relação ao seu projeto de vida, a saber, dar os primeiros passos para construção da história cultural. A opção de Burckhardt é percebida com muita argúcia por Sigurdson: tratase mais do que fundar mais uma área de estudos, mas, sobretudo, de ver qual a função da história cultural. Para ele, ao contrário da tendência providencialista dos argumentos de Ranke, nos quais o Estado aparece como amálgama de ordem providencialmente estruturada, para Burckhardt a cultura, o Estado e a religião eram essencialmente heterogêneos e conflituosos (cf. SIGURDSON, p.77).

O grande mérito do estudo de Sigurdson reside, portanto, em mostrar que a motivação de um historiador do porte de Burckhardt ultrapassa a do mero especialista laboriosamente interessado em fazer pequenos avanços em um campo seguro e bem estabelecido. Na segunda parte (homônima ao título do livro), torna-se mais clara a intenção de Sigurdson, qual seja, a de demonstrar que a obra de Burckhardt é uma crítica cultural politicamente conservadora O argumento do autor se baseia no ceticismo de Burckhardt em relação à natureza humana, para ele essencialmente imperfeita no que diz respeito às ações e à capacidade de conhecimento. Sem tal ceticismo, não se compreendem as críticas à democracia igualitária, aos movimentos revolucionários da Europa e à massificação da cultura que, lamentava-se Burckhardt, destruiriam toda a tradição cultural sedimentada desde a Grécia antiga. A concepção de continuidade histórica é fundamental para o autor da Cultura do Renascimento na Itália: afinal, se é a continuidade que pauta a escrita da história, também ela há de ser norma política e social.

O desenho geral do livro de Sigurdson, porém, não deve esconder outros motivos que motivam o leitor a abri-lo. Identifico pelo menos três razões que justifiquem a dedicação proveitosa do tempo do estudioso interessado nos temas abordados na obra.

Uma primeira discussão de peso decorre justamente do conservadorismo de Burckhardt, aqui entendido como uma posição do historiador perante o fluxo do tempo, isto é, de sua situação hermenêutica. Assim como Friedrich Nietzsche, o historiador suíço pode ser considerado “extemporâneo”, ou seja, um autor fora do compasso de seu tempo. Não devemos confundir tal posição com a pretensão de isenção e neutralidade.

Burckhardt, por mais que tenha se decidido por uma vida pacata na sua Basiléia natal e se recusado a participar da azáfama de Berlim, em momento algum se encastelou em uma torre de marfim. Sua obra, desde “A Era de Constantino Magno” (1852), é uma incansável reflexão sobre as crises históricas. Como vivesse no meio de uma Europa conturbada, Burckhardt lamentava a massificação da cultura, a politização da vida por meio de grandes unificações nacionais (Alemanha e Itália, por exemplo), e procurava se situar no meio das turbulências e da crise de orientação instaurada.

Um dos grandes problemas de sua época convulsionada era justamente o excesso de “egoísmo”, termo bastante utilizado em suas Reflexões sobre a história universal (datadas inicialmente de 1868, porém publicadas postumamente em 1905). O egoísmo do homem moderno, para Burckhardt, se expressa tanto no excesso de paixão política, que tenta amoldar o mundo de acordo com seus dogmas revolucionários, bem como no excesso de utilitarismo, que tenta se servir do mundo de acordo com necessidades fugazes e cambiantes. A relação do historiador do mundo não há de ser utilitária nem dogmática, mas antes contemplativa. Entenda-se contemplação aqui como a visão desinteressada e estética que, por sê-la, é capaz de perceber as formas em sua mutação histórica. É um problema hermenêutico: ao interpretar o passado, devo assumir os pressupostos de meu presente, ou devo calçar os sapatos alheios e buscar a empatia com uma outra época? É interessantíssima a abordagem de Sigurdson, mais ampla que a de Thomas Albert Howard, por exemplo, que, em seu livro Religion and the rise of historicism (Religião e o advento do historicismo) entende o fascínio de Burckhardt como fruto do reflexo de crises pessoais e exclusivamente pela secularização do mundo contemporâneo.

O estudo de Sigurdson contribui, portanto, para as discussões hermenêuticas, sobretudo, quando lembramos que Hans-Georg Gadamer, em 1960, haverá de colocar a tradição como eixo de sua filosofia hermenêutica em “Verdade e Método”, sem, todavia, sequer citar Burckhardt entre outros historiadores por ele abordados, como Ranke e Johann Gustav Droysen. Mais ainda: ao destacar a postura contemplativa de Burckhardt, o historiador ganha a chance de compreender uma forma de interpretação histórica de cunho estético sem cair nas conseqüências apressadas e hipersubjetivas do pós-modernismo de nossos dias. Nas mãos de Sigurdson, a aparentemente mofada e anacrônica contemplação burckhardtiana torna-se, portanto, tema atual de discussão.

E o autor tem razão ao considerar Burckhardt um historiador “extemporâneo”, porquanto praticamente irredutível às classificações habituais. É já conhecido o debate sobre a procedência em rotular Burckhardt como “historicista”, e o fato de trazê-lo a tona constitui uma segunda boa razão para ler a obra de Sigurdson, que faz um belo exercício ao tomar como parâmetro a definição de historicismo proposta por Pietro Rossi, segundo a qual o historicismo significa (a) a ênfase na individualidade das épocas históricas; (b) o caráter dinâmico da verdade, ao invés de estático e metafísico, e (c) a crítica a valores absolutos. Com tais parâmetros em tela, inserir Burckhardt no âmbito historicista é uma interpretação problemática, porquanto, de fato, ele destaca as individualidades, mas em momento algum (a) perde de vista a importância da continuidade histórica, (b) analisa as crises, mas elabora uma interessante teoria de relações estruturais entre Cultura, Estado e Religião, na qual estabelece constantes antropológicas, e (c) se de fato ele desconfiava das visões por vezes anti-históricas do iluminismo, Burckhardt preferia apresentar sua crítica de maneira cética, e jamais afirmativa.

Tal exame proposto por Sigurdson tem dois méritos. O primeiro deles consiste em ver aspectos historicistas na obra de Burckhardt, sem, todavia, deixar de ignorar as incongruências da obra do historiador suíço com tais parâmetros, e, assim, a posição ponderada de Sigurdson se destaca no debate em torno ao assunto. Não vemos nele a tentativa algo forçada de Jörn Rüsen3 em inserir Burckhardt, mesmo que marginalmente, na tradição historicista, uma vez que, diz Rüsen, a sensibilidade de Burckhardt pelas crises expressaria um sintoma clássico do historicismo. Mas também Sigurdson não pende para o outro lado, formado por autores como Alfred von Martin e Edgar Salins, para quem o apreço de Burckhardt pela cultura clássica4 e seu esforço em elaborar constantes antropológicas retirariam do cerne de seu pensamento a tendência historicista em equivaler as épocas e enfatizar as mudanças.

Neste sentido, o exame de Richard Sigurdson serve para solidificar uma hipótese que considero forte: o conceito de historicismo não explica a elaboração da consciência histórica no século XIX, sendo a idéia de Bildung (formação) bem mais eficaz. É digno da maior admiração o destaque dado por Sigurdson à idéia de formação, ou seja, de proporção e equilíbrio na construção da personalidade individual e nos contornos de uma cultura, virtudes ameaçadas em uma época de especialização crescente do trabalho industrial e intelectual. O mais notável é que tal idéia de Bildung não fica como valor abstrato e esfumaçado. Ela se fez presente no conceito de “estilo de época”, ou seja, nos traços uniformes identificáveis em realizações culturais de um determinado período, algo que Heinrich Wöllflin, discípulo de Burckhardt, realizou muito bem em obras como Conceitos fundamentais da história da arte5, na qual identificou os traços do Barroco e do Renascimento. Ao refletir através do conceito de Bildung sobre as possibilidades formativas da historiografia, toda a obra de Burckhardt mantém-se ainda interessante e digna de estudo. Mas tal faceta só se revela porque Sigurdson filia Burckhardt ao humanismo clássico alemão, dando aos estudos ao estudo da história da historiografia uma base mais ampla, que permite a interseção com outras áreas do conhecimento, sobretudo, a filosofia e a literatura.

Uma terceira razão para estudar atentamente a obra de Sigurdson provém justamente da anterior: uma análise da história da historiografia deverá ser feita em um campo interdisciplinar.

Desde finais do XVIII, o embate entre o saber empírico dos historiadores e o saber especulativo dos filósofos se trava com sutilezas e matizes. Se Kant criticara Herder por ser perder no mundo das aparências, e se Droysen tentava fundar filosoficamente a historiografia sem cair nas malhas da filosofia da história de Hegel, agora a situação se altera: Nietzsche era um grande admirador de Burckhardt, e este correspondia com reticências ao interesse demonstrado pelo autor de Zaratustra.

Mas a comparação entre estes dois grandes intelectuais do século XIX nos permite ir mais além. Ambos eram críticos da modernidade, conforme diz Sigurdson, o que indica algo bastante saudável em tempos “pós-modernos”: criticar a modernidade não implica abandoná-la ou enfrentá-la. Na base do confronto entre Burckhardt e Nietzsche encontra-se algo de mais substancial, a saber, os rumos da história da cultura, que oscila entre a necessidade de estabelecimento de sentido pela memória, de um lado, e pela crítica feroz aos rumos da cultura moderna, do outro. Portanto, até onde deve ir a reflexão do historiador sobre seu ofício e sua época? Ao tentar justificar sua tarefa, ele não se perderia na teia da epistemologia, da metafísica e da filosofia da história? O que pode somente ser explicado historicamente, e, mais ainda, o que adquire sentido somente a partir do texto historiográfico? O embate é antigo – pois vem desde Herder e Kant, tendo passado por Droysen, Marx e Hegel – e ainda precisa ser enfrentado. A questão é: no caso de Burckhardt, as reflexões são sempre sustentadas de um ponto de vista conservador, que procura, por um viés pessimista, estabelecer a continuidade na história.

A obra de Sigurdson, portanto, ao contribuir para o debate sobre a hermenêutica (o historiador como intérprete), sobre os limites do historicismo, e sobre a relação da teoria da história com a filosofia, torna-se uma referência importantíssima para os interessados em discussões de alto nível para os assuntos em tela.

Notas

2 CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.11.

3 Cf. RÜSEN, Jörn. Der ästhetische Glanz der historischen Erinnerung – Jacob Burckhardt. In: ______. Konfigurationen des Historismus: Studien zur deutschen Wissenschaftskultur. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1993, p.282.

4 Cf. MARTIN, Alfred Von. Nietzsche und Burckhardt: Zwei Geistige Welten im Dialog. Basel: Ernst Reinhardt Verlag, 1945, 3a.ed., p.43; SALIN, Edgar. Vom deutschen Verhängnis: Gespräch an der Zeitwende: Burckhardt – Nietzsche. Hamburg: Rowohlt, 1959, p.50.

5 V. WÖLFFLIN, Heinrich. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Pedro Spinola Pereira Caldas – Professor Adjunto do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia. Doutor em História Social da Cultura pela PUC-Rio.

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Imagem e conhecimento – FABRIS; KERN (HP)

FABRIS, Annateresa; KERN, Maria Lúcia Bastos (orgs). Imagem e conhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.366p. Resenha de: MOLINA, Ana Heloisa.  As interlocuções nada prosaicas entre imagem e conhecimento. Histórias & Perspectivas, Uberlândia, v.1, N.40 – jan./jun. 2009.

Tornou-se lugar comum afirmar que vivemos em um mundo mergulhado em imagens. Aparentemente prosaico lidar com a pluralidade de imagens que nos são dadas a ver por e em diferentes meios e suportes, a produção imagética toma uma complexidade que reúne elementos cada vez mais significativos.

No trajeto das chamadas “imagens pictográficas” considerando as artes tradicionais, a fotografia e o cinema, às imagens imateriais, procedentes em sua maioria da lógica computacional, emergiu um panorama visual marcado pela complexidade narrativa, por uma estética centrada nos procedimentos e mesmo pelo excesso de uso e exposição. É a imagem-velocidade, guiada pela diretriz computacional, que marca hoje, consideravelmente, o atual panorama imagético.

Modificou-se também a propriedade das imagens: elas já não são o exclusivo de um grupo produtor, mas, desempenham funções sociais. A imagem expandiu, e, nesse processo, adquiriu, em grande medida, o status de virtualidade.

Os estudos sobre imagem agregam muitas áreas do conhecimento e há muito vem ganhando corpo, especialmente pela Sociologia, Antropologia Visual, Semiótica e História da Arte, e em muitas dessas, em franco processo, ocorre o refazer suas perguntas ao seu objeto de estudo.

Poderíamos iniciar algumas reflexões a partir do mecanismo de criação e reprodução da imagem e o progresso paralelo do conhecimento dos processos analíticos que permitem decompor a imagem. Na perspectiva do figurativo ao virtual, o simultâneo e a manipulação da matriz imagética proporcionam novas fronteiras de análise e recombinações.

É nesse ponto que Annateresa Fabris e Maria Lúcia Bastos Kern organizam esse livro avançando para a seguinte proposição: “quais as relações (possíveis) entre imagem e conhecimento?” (p. 11).

Pesquisadoras destacadas no estudo da imagem, da História da Arte, da fotografia e da pintura, as organizadoras reúnem ensaios já publicados (sobretudo no estrangeiro) e textos de pesquisadores brasileiros.

Dividido em duas partes, responde a um objetivo metodológico “[…] compreender as diversas modalidades de conhecimento proporcionadas pela imagem manual e pela imagem técnica com base em dispositivos próprios e irredutíveis a qualquer outra possibilidade” (p.11).

Uma das qualidades do livro é a preocupação em iniciar cada bloco com um ensaio introdutório “[…] que pretende situar o leitor no âmbito de uma discussão mais ampla” (p.12), fornecendo ferramentas metodológicas capazes de problematizar reflexões particulares no interior dos diversos ensaios.

Abordar a problemática da imagem numa perspectiva histórica é a proposta da primeira parte.Dentro de um espectro temporal longo, toma imagens que percorrem o cristianismo, o século XVIII, abordando desde olhar e composição à relação arte e religião ou ainda arte e ciência.

Assim, abre a primeira parte o texto inédito de Kern sobre “Imagem manual: pintura e conhecimento” percorrendo as concepções de imagem, representação, pintura e conhecimento apresentando, em um amplo painel, as discussões filosóficas que nortearam as práticas e as modernas teorias pictóricas, desde a Antiguidade até o pós Renascimento. Encerra com uma questão que parte da premissa de Bachelard segundo a qual “todo o conhecimento é uma resposta a uma questão, pode-se verificar pela trajetória da pintura que esta se consolidou como categoria artística autônoma e que definiu as suas próprias normativas tendo por base a busca constante de respostas para os problemas vividos pelos artistas nas suas práticas e no mundo que os circunda.” (p.29).

Composto por cinco ensaios inicia esse bloco o texto de Alain Besançon, professor universitário em Paris, com “A Arte e o cristianismo” recolocando a questão da fé, da moral, da iconofilia e da iconoclastia em um outro prisma: onde encontrar a arte cristã? Em que essa arte é cristã? O autor percorre um longo trajeto e indica “Não é preciso, portanto, preocupar-se com a arte cristã, mas sim com a arte. Em nome do princípio da unidade da arte, se este for reencontrado, a arte cristã será dada por acréscimo.” (p. 52).

Na seqüência temos “Arte e ciência: funções do desenho em Leonardo da Vinci”, de Daniel Arasse, autor de, entre outros, La guilhotine et l’ imaginaire de la terreur (1987), apresentando as distinções, a aparente contradição entre a prática “científica” do desenho e sua prática “artística”, apontando a importância de da Vinci na técnica do desenho preparatório e sua influência na pintura onde “[…] para Leonardo, “saber, é saber ver”, é preciso acrescentar que, para ele, fazer saber é saber fazer ver. […]” (p.

61).

Georges Didi-Huberman, professor universitário em Paris, no texto “Pensamento por imagem, pensamento dialético, pensamento alterante: a infância da arte segundo Georges Bataille” apresenta a importância desse artista no domínio estético, suas desmontagens teóricas e suas intervenções em montagens figurativas, propondo um olhar à infância da arte enquanto dialética, considerando elementos da arte primitiva e a produzida por crianças em várias partes do mundo. “[…] não se contentar com a oposição canônica entre “a arte clássica dos civilizados adultos”, como diz ele, e “a arte primitiva” dos selvagens ou das crianças […]”. (p. 95). Por outro lado, nos diz e provoca nossas percepções quanto às formas apresentadas em telas: “[…] a alteração das forma, o processo do informe, não estão nem alhures, nem antes das formas: eles estão na sua própria ponta, ali onde seu contato é o mais decisivo, o mais doloroso, o mais deslocador” (p.112).

“A arte de exorbitar o olhar sobre A Parábola dos Cegos de Bruegel” escrito por Jean Lancri, pintor e professor na Universidade de Paris I, analisa a organização de um olhar para aquele quadro e sua composição que estaria às voltas com a questão de sua origem. “E é isso que a obra espera: um curtocircuito.

O estabelecimento de uma relação entre o ponto para o qual ela tende com o ponto de onde ela provém.”(p.134).

Fechando esse primeiro bloco, temos “Conhecer, dominar, pintar numa obra americana do século XVIII”, de Gabriela Siracusano e Marta Penhos, professoras universitárias na Argentina, que põem a descoberto o cruzamento de olhares de conquistadores, cartógrafos e artistas, entre registros icônicos e textuais, sobre a paisagem americana em uma pintura do século XVIII. Tal paisagem apreendida em “Textos e imagens concordam em mostrar esse aspecto sedutor de uma natureza que devia ser explorada para seu melhor conhecimento e controle, com vistas a um futuro proveito”. (p.148) e apontam a questão da obra imagética considerada como ferramenta de conhecimento, ou várias leituras possíveis sobre essa mesma obra.

A segunda parte dedica-se a discutir a imagem técnica desde a fotografia até o universo atual das tecnologias eletrônicas, abarcando a fotografia e suas redefinições, a construção da memória até imagens sintéticas, a holografia e o estudo de um projeto artístico.

A introdução a essa segunda parte de discussões é feita em “Imagem técnica: do fotográfico ao virtual”, de autoria de Annateresa Fabris, que analisa as possibilidades da fotografia, a influência da técnica da gravura no início de sua fatura e a dimensão avassaladora da tecnologia e sua ação no imaginário a partir de vários pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. “As respostas são variadas porque são várias as hipóteses levantadas por este momento cultural em que as novas tecnologias fazem reaflorar aquele unicum, que a reprodutibilidade fotográfica parecia ter relegado à esfera da manualidade […]”. (p.178) Abre o segundo bloco, o texto “A superfície fotográfica” de Mario Costa, pesquisador italiano dedicado aos estudos relativos à mídia, estética e tecnologia aplicada à produção artística que reflete as relações entre referente, sujeito e a dimensão da própria fotografia, propondo um outro olhar a essa captura de imagens.

“A fotografia inaugura a longa série das epifanias tecnológicas: com ela, a asseidade da imagem se revela e, ao mesmo tempo, se oculta, como jamais voltará a fazer”.(p.191) (grifos do autor).

Segue-se “Quando a fotografia (já) fazia os antropólogos sonharem: o jornal La Lumière (1851-1860)” de Étienne Samain, nome conhecido nos meios universitários por suas pesquisas sobre a fotografia. Primeira publicação francesa dedicada à fotografia, esse jornal será a fonte do autor para percorrer as mudanças e os debates sobre as técnicas fotográficas no final do século XIX e seu registro enquanto formador de um olhar antropológico, onde “[…] A revolução fotográfica instaurava uma nova ordem de visão e uma nova filosofia do olhar. Ela delineava novos campos de observação humana e, sobretudo, fazia nascer um novo tipo de observador” (p.211), indicando a presença desse suporte, em meados do século XIX, em toda parte, nas ciências naturais, humanas ou exatas, o que para Samain permanece pouco estudada.

Na seqüência, “Quadros de História Pátria: fotografia e cultura histórica oitocentista” de Maria Inez Turazzi, pesquisadora do IPHAN, toma como fonte para seu texto, uma coletânea de imagens produzidas após a proclamação da República e encontrada na biblioteca de Benjamin Constant. Não há menção ao autor do texto que acompanha e explica as imagens, (21 estampas que reproduziam 20 gravuras e pinturas de vários artistas e uma imagem fotográfica) trazendo apenas a referência a Marc Ferrez como responsável pelas fototipias. Analisando este material a autora apresenta as relações entre memória e esquecimento, via imagens, em um novo regime que se instaura e se esforça para esmaecer personagens ligados ao regime monárquico. Alia, ainda, reflexões sobre as relações entre fotografia e cultura histórica.

Em “Realismo: duas visões confluentes” a quatro mãos com Annateresa Fabris e Maria Rosaria Fabris, a primeira com pesquisas em poéticas artísticas e a segunda investigadora do neo-realismo, ambas professoras da USP, exploram o projeto Un Paese do cineasta Cesare Zavattini e o fotógrafo Paul Strand ao capturarem a poesia, ideologia e arquitetura do movimento neo-realismo no cinema italiano a partir das imagens de Luzzara, uma pequena vila na região do Pó. Os personagens e seu cotidiano serão vistos como um microcosmo de um universo maior “[…] Paul Strand não retrata seus habitantes como representantes de categorias sociológicas. Rechaçado o tipo, o fotógrafo preocupase em captar fisionomias individuais, que não remetam a nada para além delas […]”. (p.263) “A imagem da imagem e sua diferença” com Paolo Bertetto, professor de cinema na Universidade La Sapienza de Roma, considera a imagem na metrópole, os meios de comunicação de massa e as modificações na produção das formas simbólicas, em particular, das formas artísticas. “A imagem da imagem não é mais o signo metropolitano da modernidade, da simultaneidade e da multiplicidade dos estímulos, mas representa sua superação”.

(p.274) Stéphane Huchet, autor de vários ensaios sobre teoria da arte, analisa em “A nova Górgona ou o céu do processo”, que o atual fetichismo das imagens visuais envolve ainda muito do artístico sem reciprocidade. “Pergunta-se: o que é, portanto, da tarefa da estética filosófica, tão medrosa diante das imagens vindas das novas – já menos novas – tecnologias?” (p.297).Tal como o monstro mítico que congela seus espectadores ao serem fitados por seus frios olhos, a tecnologia, a máquina, o computador, tornam-se organizadores de um outro processo de criação visual.

“Idiotice e esplendor da arte atual” de Mario Perniola, professor da Universidade de Roma, abre o texto com uma instigante frase: “Na aventura artística do Ocidente, podem ser encontradas duas tendências opostas: uma, voltada para a celebração da aparência; outra, orientada para a experiência da realidade” ( p. 303). Funda seu ensaio nas relações entre o real e “a efetuabilidade máxima e a abstração máxima”, premissas do realismo atual o que promoveria o desgaste de todas as coordenadas teóricas e críticas conhecidas, provocando angústia e trauma, esplendor e arte.

O provocador texto de Vilém Flusser intitulado “Sintetizar imagens” aponta paralelos e mesmo como elementos sinônimos o programarmos modelos de computador e compormos uma obra. “Os modelos sintéticos não significam o que significava a “arte”. Significam a “vontade” do programador para dar significado à vida. Os modelos sintéticos já não são significados, mas significantes” ( p.324).

“A questão da representação na holografia” com Eduardo Kac, artista multimídia e professor do Instituto de Arte de Chicago, envereda suas reflexões em um suporte pouco estudado: a holografia. Aponta para a perspectiva dos hologramas “[…] serem uma maneira de registrar, armazenar e resgatar informações e poderem exibir uma imagem ou substituir certos objetos em sua função sem exibir nenhuma imagem, eles suscitam uma questão complexa em relação à maneira como representam (ou não)”.

(p.335) Encerra o bloco, o texto “Projeto OPUS: uma aproximação à intercriação de imagens digitais”, com o artista multimídia e fotógrafo Carlos Fadon Vicente que apresenta uma pesquisa conceitual e estética sobre arte eletrônica, examinando em particular a geração de imagens digitais sob a polaridade certezaincerteza.

“[…] A tônica de OPUS situa-se em sua estrutura dialógica, como uma co-incidência ser humano e computador, e na ausência de apelo a um brilho tecnológico, desvelando ainda uma ligação com a imaginação ativa”. (p.366) A polissemia da mensagem visual envolve ramificações de associações, uma multiplicidade de símbolos e interpretações e possui como variável de codificação, um repertório cultural construído em meio às relações sociais e históricas, implicando também pela ótica do leitor, a seleção de significados, escolhendo alguns, excluindo outros.

Uma imagem é carregada de significado, mesmo que não se saiba formulá-la adequadamente em termos discursivos ou conceituais, o que amplia suas possibilidades e vórtice de orientações a partir das novas recombinações das imagens tecnológicas.

Em um momento de reavaliações das imagens, suas produções e interfaces, suas relações com homens e máquinas cada vez mais refinadas e equipadas, essa coletânea de ensaios a partir de pressupostos, indagações e buscas da arte, da estética, da filosofia, da fotografia e da história, propõe reflexões primordiais não somente no tocante à multiplicidade e diversidade da imagem e seus suportes, mas, quanto a reorganização do conceito cultura, como também, da própria conformação de um olhar e das possibilidades de construção do conhecimento.

Para historiadores e professores interessados em entender essas transformações são necessárias duas atitudes: retirar do lugar comum o “mundo povoado por imagens” e adentrar em um território povoado por outras concepções, ferramentas metodológicas e olhares não tão prosaicos, nem tampouco inocentes.

Ana Heloisa Molina – Doutora em História (UFPR). Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação História Social. Universidade Estadual de Londrina.

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História & Perspectivas | UFU | 1988-2018

HISTORIA PERSPECTIVAS UFU História

A Revista História & Perspectivas (Uberlândia, 1988-2018) publica artigos acadêmicos inéditos, resultados de trabalhos de pesquisa histórica em diferentes temporalidades articulados às ciências humanas. Também está aberta a receber contribuições vinculadas `às propostas de trabalho em diferentes instituições e movimentos sociais, tais como entrevistas, documentos históricos, traduções e resenhas na área de História e afins; por meio dessas ações busca-se fomentar o diálogo entre diferentes instituições nacionais e estrangeiras e difundir experiências de produção de conhecimentos, firmando os princípios do debate plural e interdisciplinar. […]

A revista História & Perspectivas foi criada no ano de 1988, ligada aos cursos de História da Universidade Federal de Uberlândia. Deste ano para cá, a revista passou por várias administrações, com Conselhos editoriais diferenciados, que garantiram a publicação de seus exemplares dentro daquilo que foi definido como seus objetivos, ou seja, os de se tornar “ambiente que comporte enfoques teóricos múltiplos, criatividade e questionamentos que ensejem o crescimento intelectual…” (Ano 1, nº1).

Atualmente, a revista está sob a administração do Núcleo de Pesquisa e Estudos em História, Cidade e Trabalho, NUPEHCIT. Em 2012 a Revista teve significativo reconhecimento pelos avaliadores do Qualis/Capes: passando do conceito B1 para A2. Além disso conquistou avaliações positivas em outras áreas do conhecimento, demonstrando sua força de expansão entre pesquisadores no Brasil e fora do Brasil. A revista vem mantendo a periodicidade semestral, com chamadas nos sites do NUPHECIT, INHIS,UFU e, também, pela pagina eletrônica da ANPUH Nacional. A revista está indexada http://www.latindex.unam.mx

Periodicidade semestral.

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