Derecho e imagen en Hispanoamérica colonial | D. Rípodas Ardanaz

Daisy Rípodas Ardanaz es Doctora en Historia por la Universidad Nacional de Córdoba y Profesora de Historia por la Universidad de Buenos Aires. Ha desempeñado diversos y prestigiosos cargos en academias e institutos nacionales e internacionales de Historia, de todas ellas se destaca su pertenencia a la Academia Nacional de la Historia como miembro de número y al Instituto Internacional de Historia del Derecho Indiano. También ha sido múltiples veces premiada y reconocida por célebres instituciones dentro y fuera del país. Se destaca por investigar y escribir sobre las sociedades coloniales hispanoamericanas, priorizando el campo de la historia jurídica colonial. En su laureada trayectoria, forjó un notable prestigio tanto en el ámbito nacional como internacional en materia del derecho indiano. Junto a su esposo, José María Mariluz Urquijo, reconocido investigador sobre temas de historia jurídica, forman parte de los autores clásicos y de obligada lectura en lo que respecta a la historia del derecho indiano. Fueron, además, los pioneros en el estudio de sermones coloniales en el país, aportando valiosos análisis e investigaciones en el campo de la oratoria sagrada, que ha tomado relevancia en tiempos recientes. Leia Mais

Texto/ imagem e retórica visual na arte funerária egípcia | Ronaldo Guilherme Gurgel Pereira

Ronaldo Guilherme Gurgel Pereira Imagem Cafe Historia
Ronaldo Guilherme Gurgel Pereira | Imagem: Café História

Ronaldo Guilherme Gurgel Pereira é um egiptólogo brasileiro radicado em Portugal. Atua na graduação e pós-graduação em História da Universidade Nova de Lisboa e é o autor da primeira gramática de egípcio médio oficialmente publicada em língua portuguesa (PEREIRA, 2016).1 Com a publicação de sua gramática e, agora, do livro ora resenhado, Pereira vem contribuindo largamente para o desenvolvimento dos estudos sobre o Egito antigo no Brasil.

A obra Texto, imagem e retórica visual na arte funerária egípcia consiste em um erudito manual introdutório ao estudo da arte egípcia. O livro foi concebido de forma que possa ser utilizado em cursos de graduação e pós-graduação e, sobretudo, suprir a lacuna causada pela raridade de cursos de língua egípcia no Brasil hoje em dia. Porém, não se trata de um manual em um manual de língua egípcia propriamente dito; o estudo da língua é somente introduzido em relação àquele das representações artísticas – de suas convenções e elementos ocultos que podem ser lidos como textos, na medida em que os hieróglifos são essencialmente representações visuais que constituem as formas de construção e comunicação do simbolismo da arte egípcia. Portanto, tal como apresentado na introdução, o conhecimento da língua é considerado crucial para que se possa decodificar a arte como fonte de informações sobre a sociedade e a cultura egípcias. Leia Mais

Modernidade em preto e branco: arte e imagem/raça e identidade no Brasil | Rafael Cardoso

De vez em quando, aparece um livro que desloca o debate em torno de um determinado assunto de tal forma que se torna impossível, ou, no mínimo, desaconselhável, entrar na discussão sem lidar com ele. Estes livros raramente apresentam argumentos inteiramente novos, mas conseguem captar e sintetizar de modo instigador uma crítica que circula há algum tempo. Como trechos de pavimentação sobre caminhos de terra, eles se estendem e solidificam trilhas previamente batidas. É o caso do novo estudo de Rafael Cardoso, Modernidade em preto e branco, que defende uma compreensão temporalmente expansiva do modernismo brasileiro que desafia o “mito de 1922” associado à Semana de Arte Moderna em São Paulo, descrita como uma cidade “ainda provinciana apesar de sua grande prosperidade” (p. 18). As inovações estéticas da geração anterior foram ofuscadas por este mito propagado por intelectuais paulistas durante a segunda metade do século XX. O centenário da Semana de 1922 ocasionou uma infinidade de eventos e publicações, em grande parte comemorativas, tornando a Modernidade em preto e branco uma intervenção bem-vinda. Bem escrito e enriquecido com uma impressionante coleção de ilustrações coloridas, está destinado a se tornar um clássico da historiografia da modernidade cultural brasileira. Leia Mais

The Political Portrait: Leadership/Image and Power | Luciano Cheles e Alessandro Giacone

Luciano Cheles e Alessandro Giacone
Luciano Cheles e Alessandro Giacone, 2018 | Foto: L’Italie en direct 

Il ritratto, esordiscono i curatori, ha sempre giocato un ruolo importante nella comunicazione politica, conferendo al leader una sorta di ubiquità. In questo senso, è certamente sorprendente che i contributi storiografici su questa sorta di immagini siano piuttosto limitati e, spesso, inseriti nel contesto più ampio della propaganda visuale, o come ausilio alla propaganda tout-court. Se è vero, infatti, che molti ritratti di leader sono ben impressi nelle nostre coscienze collettive, e in certi casi addirittura divenuti delle icone pop (tra gli esempi più recenti, i poster di Obama realizzati da Shepard Fairey), le loro analisi in prospettiva storica sono, tuttora, limitate1.

The political portraitIl volume, curato da Luciano Cheles, già professore di italianistica all’Università di Poitiers, e Alessandro Giacone, professore associato di Scienze Politiche all’Università di Bologna, vuole contribuire a colmare questa lacuna, raccogliendo un numero, consistente, di contributi focalizzati su questa specifica forma di propaganda visuale. Contributi che, pur con un certo sbilanciamento verso alcuni contesti, forniscono un’ampia panoramica, sia dal punto di vista della distribuzione cronologica e geografica, sia dell’interdisciplinarietà degli approcci. Uno dei punti di maggiore interesse del volume è la netta prevalenza di casi di studio riguardanti democrazie, soprattutto nelle loro fasi di transizione e trasformazione. Il ritratto del leader, questa una delle idee che sembra accompagnare l’intero volume, riflette non solo l’immagine del politico, ma anche il contesto del paese in oggetto. Leia Mais

Modernity in Black and White, art and image, race and identity in Brazil, 1890–1945 | Rafael Cardoso

Pensar modernidade nos grandes centros urbanos nas primeiras décadas do século XX é, principalmente quando se leva em consideração a perspectiva dos trabalhadores nacionais de origem afrodescendente, acompanhar o processo de reorganização do espaço urbano de forma a reproduzir os padrões europeus em detrimentos de influências culturais negras. As principais cidades do Brasil foram buscar inspiração, principalmente, nas referências francesas e mobilizaram os recursos possíveis para controlar as manifestações de origem africanas ou indígenas. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, em nome da modernidade, as populações empobrecidas foram empurradas para os locais mais distantes e sem estruturas, iniciando um processo histórico de marginalização nos principais centros urbanos.
Os pesquisadores do campo da História Social, a partir de diferentes olhares e fontes, observaram o entusiasmo de estadistas com a construção de grandes avenidas, o empenho de sanitaristas com o combate às epidemias que assolavam a população, além de práticas do cotidiano que possibilitaram a contenção de indivíduos não brancos em espaços que representariam o progresso da nação brasileira1. Entre os temas debatidos também destacaram o impacto dos imigrantes europeus nas dinâmicas sociais daquele período, que convergiam para a construção de um Brasil moderno embranquecido. A partir de ideias concebidas no pensamento raciológico europeu, parte da classe política e da intelectualidade brasileira passou a condicionar o lugar do país na modernidade à constituição de uma nação branca nos trópicos em um período de longo prazo. Leia Mais

Ascensão e queda do paraíso tropical | História – Questões e Debates | 2021

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Montagem sobre o cartaz de “Ascensão & queda do paraíso tropical“.

A imagem do Brasil como “paraíso tropical” tem uma longa história, como mostram os conhecidos estudos dos prestigiados intelectuais Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda e, posteriormente, os trabalhos de Ronaldo Vainfas, de Ronald Raminelli e de Richard Parker, entre outros.[1] Desde os inícios da colonização, apontam esses autores, os europeus perceberam os povos nativos como indolentes e preguiçosos, desrespeitando suas tradições e negando violentamente seus modos de existência. Não foi muito diferente a imagem que construíram dos negros e das negras africanos, aqui trazidos pelo tráfico negreiro para substituir o trabalho indígena, segundo a triste e nefasta imaginação cristã dos colonizadores europeus. Leia Mais

Urdimbre de la imagen. Aportes para la enseñanza de la historia | Carlos A. Flórez López

«Los símbolos trascienden en el tiempo y, al ser transmitidos de manera intergeneracional, persisten y subsisten en las relaciones sociales y prácticas culturales de una sociedad, lo cual permite que se puedan apreciar, percibir y comprender»1. Leia Mais

Capitali senza re nella Monarchia spagnola. Identità, relazioni/ immagini (secc. XVI-XVIII) / Rossella Cancila

En el contexto de los estudios sobre la monarquía hispánica en la primera Edad Moderna y sobre su naturaleza policéntrica, en los últimos años se ha prestado especial atención a la cuestión del papel de las ciudades como elementos neurálgicos de un sistema de poderes complejo y articulado en constante relación con la corte de Madrid, y sobre las dinámicas de representación simbólica de la figura del rey, sobre todo en los territorios no europeos. El libro Capitali senza re nella Monarchia spagnola es parte de este floreciente debate historiográfico desarrollado a partir de las ciudades, brindando importantes avances sobre algunas realidades urbanas de particular interés tanto por sus características intrínsecas como por el papel desempeñado fuera del reino e internacionalmente. Tal y como explica en la introducción Rossella Cancila —profesora titular de Historia Moderna en la Universidad de Palermo y editora del libro—, el conjunto de trabajos se propone indagar aspectos vinculados a la conformación, en ausencia del rey, de las ciudades como capitales de los distintos virreinatos, a la dialéctica entre centros y periferias y al despliegue de formas y representaciones del poder en el espacio público, con particular atención a los momentos festivos.

Capitali senza re nella Monarchia spagnola. Identità/ relazioni/ immagini (secc. XVI-XVIII) (T)

La obra presenta los resultados de la decimocuarta reunión anual de la Red Columnaria (XIV Jornadas de Historia de las Monarquías Ibéricas), encuentro que tuvo lugar del 27 al 29 de septiembre de 2018 en la Universidad de Palermo, y que formaba parte además de las iniciativas de celebración de la ciudad siciliana como Capital italiana de la Cultura durante ese año. Nacida en 2005, Columnaria es una de las más destacadas y prolíficas redes de investigación de la Edad Moderna, que reúne investigadores europeos y americanos con diferentes enfoques disciplinarios en torno a los espacios policéntricos de las monarquías, basadas en la presencia e interrelación de soberanías múltiples, cada una de ella expresión de los distintos poderes locales en relación con el central. Su estructura se articula a partir de 19 macroáreas de investigación, entre ellas el Nodo Italia Sur, que incluye algunos de los historiadores involucrados en las jornadas palermitanas y en el producto editorial que aquí se presenta.

Se trata de un total de veintitrés trabajos, divididos en dos volúmenes que corresponden a dos grandes vertientes temáticas, siendo la primera la identidad política y social de las ciudades, mientras la segunda corresponde a las estrategias de representación del poder (y poderes) que toman forma en los campos culturales (literario, ceremonial y arquitectónico). Aunque el italiano es el principal idioma adoptado, debido tal vez al origen de dos tercios de los autores y a la propia sede del encuentro, no faltan contribuciones en español, portugués e inglés. Las ciudades de interés pertenecen a diferentes contextos territoriales, y no se refieren solo a los dominios españoles: Palermo, Messina, Nápoles, Cagliari, Milán, Granada, Zaragoza y los otros centros del Reino de Aragón, sino también Lisboa, Goa, Lima, Santiago de Guatemala y Palma. En efecto, no se hace referencia solo a las ciudades con función de capital en aquellos territorios que conformaban los virreinatos, tal y como parece evocar el título, sino también incluye urbes que, pese a no ser capitales, tuvieron un papel destacado en relación con otras poblaciones de un mismo territorio y con centros de poder externos. Por otro lado, llama la atención la escasez de casos específicos del contexto colonial hispanoamericano, a pesar de que fueron contemplados en algunas ponencias presentadas en las jornadas, y a las cuales deseamos que encuentren su pronta publicación. En cualquier caso, está claro que el propósito del libro ha sido, más que pretender abordar la totalidad de las ciudades capitales, enseñar los resultados de las investigaciones sobre algunas de ellas.

El primer bloque comienza con un trabajo de Juan Francisco Pardo Molero sobre los principales centros de la Corona de Aragón, donde pone a Zaragoza en relación con Barcelona, Valencia, Cagliari y Mallorca y analiza el uso y función de los edificios designados como sede de gobierno virreinal. La ciudad de Granada y el papel del linaje de los Mendoza en el control de la Capitanía General es el tema del texto firmado por Antonio Jiménez Estrella, centrado en la fase posterior a la batalla de Alpujarras y en un momento de inflexión de la ciudad granadina frente al desarrollo de otros centros como Málaga. Elisa Novi, Giulio Sodano y Giuseppe Mrozek dedican su atención al Reino de Nápoles, respectivamente al proceso de edificación de los Quartieri spagnoli, al papel de las autoridades locales (Eletti della città y Seggi) en el gobierno del virreino, y a la actividad del Parlamento hasta 1642. Durante el reinado de Felipe IV, Palermo y Messina se enfrentaron en distintas ocasiones para ejercer su control sobre la isla siciliana, tal y como detalla Rossella Cancila en su contribución, asunto que se relaciona con el siguiente tema de Stefano Piazza sobre la conformación urbana de la ciudad de Palermo.

A continuación, tres trabajos se dedican a poner el acento en las peculiaridades económico-financieras de dos ciudades estrictamente relacionadas con la monarquía.

Matteo Di Tullio, Davide Maffi y Mario Rizzo presentan un pormenorizado análisis de la fiscalidad de Milán en relación con otros centros del ducado. Como demuestra Giovanna Tonelli, Milán era una destacada capital del comercio local e internacional; sin embargo, por su favorable posición geográfica, fue sin duda la ciudad lisboeta el principal puesto de comunicación hacia el Atlántico y en el Mediterráneo, así como explica Benedetta Crivelli. Las últimas dos contribuciones del primer volumen presentan dos significativos casos de declive y ascenso de dos capitales fuera del contexto europeo, Goa y Santiago de Guatemala. Ángela Barreto y Kevin Carreira se ocupan de la primera, aportando una nueva lectura del proceso de cesación de su rol como ciudad global, pero sin perder al menos su importancia regional. Por el contrario, la capital guatemalteca se convirtió durante el siglo xvi en sede de la Audiencia y de la Caja de Hacienda Real, según muestra Martha Atzin.

Las mismas ciudades examinadas en la primera parte de la obra, retornan como objeto de reflexión en el segundo bloque, pero ahora desde la perspectiva de la Historia Cultural y de las estrategias simbólicas vinculadas a las esferas del poder.

Manfredi Merluzzi pone en contexto la Historia de la fundación de Lima del jesuita Barnabé Cobo, obra publicada en 1639, y tan central en la configuración de la ciudad como capital del virreinato de Perú. La presencia/ausencia del rey en Lisboa durante las últimas décadas del siglo xvi y hasta la revuelta, es el tema elegido por Ana Paula Megiani mientras realiza una sugerente lectura de la vista de la ciudad fechada 1613 que se conserva en el castillo alemán de Weilburg. Al despliegue simbólico de la ciudad de Granada, sede del Panteón de los Reyes Católicos y de la Real Cancillería, se dedica el siguiente trabajo de Francisco Sánchez-Montes González, mientras que Maurizio Vesco propone una análoga lectura para los edificios públicos de Palermo y Mesina. La ciudad de Cagliari, pese a no ser considerada en la primera parte, recobra aquí la atención que merece, con cuatro ensayos elaborados respectivamente por Nicoletta Bazzano, Carlos Mora Casado, Fabrizio Tola y Alessandra Pasolini, en los que analizan diferentes fuentes literarias, artísticas y ceremoniales relativas a la historia de la capital de Cerdeña a lo largo del siglo xvii.

En cuanto a Nápoles, el trabajo de Valeria Cocozza se centra en el papel del Cappellano Maggiore, figura hasta ahora poco estudiada, y sin embargo fundamental en las dinámicas políticas de la corte virreinal. El tema de las redes diplomáticas entre las ciudades de la monarquía constituye el eje trabajado por Ida Mauro, quien aborda la cuestión a partir de varios episodios que relacionan ciudades italianas y españolas. Finalmente, Eduardo Pascual Ramos analiza el papel del Ayuntamiento de Palma en las Cortes durante la etapa borbónica.

Por lo que respecta a la edición, la obra constituye la trigésimo sexta contribución de la colección Quaderni de la Associazione no profit “Mediterránea”, realidad editorial palermitana que desde su fundación en 2004 está haciendo una encomiable labor en la publicación (impresa y en formato electrónico Open Access) de investigaciones sobre el contexto histórico del área mediterránea desde la Edad Media hasta la actualidad. Instituida por un grupo de académicos de la Universidad de Palermo y con sede en el Dipartimento Culture e Società, se ocupa también de la edición de una revista trimestral llamada Mediterranea – Ricerche Storiche, que en los últimos años se ha convertido en una publicación puntera a nivel italiano e internacional.

Milena Viceconte – Università degli Studi di Napoli “Federico II”. [email protected].


CANCILA, Rossella (a cura di). Capitali senza re nella Monarchia spagnola. Identità, relazioni, immagini (secc. XVI-XVIII). Palermo, Associazione no profit “Mediterranea”. 2020, 2 vols., 542 págs. (Colección Quaderni, 36). Resenha de: VICECONTE, Milena. Memorias – Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe. Barranquilla, n.43, p.171-174, ene./abr., 2021. Acessar publicação original [IF].

Cultura, politecnia e imagem – ALBUQUERQUE et al (TES)

ALBURQUERQUE, Gregorio G. de; VELASQUES, Muza C. C; BATISTELLA, Renata Reis C. Cultura, politecnia e imagem. Rio de Janeiro: EPSJV, 2017. 318 pp. Resenha de: GOMES, Luiz Augusto de Oliveira. A materialidade da cultura: uma nova forma de ler o mundo. Revista Trabalho, Educação e Saúde, v.17, n.2, Rio de Janeiro,  2019.

O livro Cultura, politecnia e imagem,organizado por Gregorio Galvão de Albuquerque, Muza Clara Chaves Velasques e Renata Reis C. Batistella, publicado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fundação Oswaldo Cruz, apresenta um panorama ampliado do conceito de cultura a partir de três eixos de análise que se complementam: (1) Cultura, educação, trabalho e saúde; (2) Cultura, educação e imagem; e, (3) Cultura e cinema. Os 20 autores que assinam os 15 artigos do livro apresentam importantes contribuições para compreender a materialidade da cultura nos tempos atuais.

No eixo “Cultura, educação, trabalho e saúde”, ao debater cultura, os autores se fundamentam especialmente no materialismo histórico dialético para refletir sobre o conceito ampliado do termo. É interessante observar a defesa de uma concepção de cultura imbricada dialeticamente com todas as instâncias dos processos de produção da vida social, refutando a tradição idealista que busca na cultura algo puro e apartado do “reino dos conflitos e contradições” (p. 25). Além da crítica ao idealismo, é crucial destacar as reflexões acerca das obras de Eduard Palmer Thompson e Raymond Willians, pensadores da chamada nova esquerda britânica, para desconstruir a leitura de um marxismo dogmático e fundado no reducionismo econômico, que hierarquiza base/superestrutura e plasma a cultura no plano da ‘superestrutura’, desvinculada das relações sociais de produção (infraestrutura). Quanto às relações dialéticas entre estrutura e superestrutura, assim como Thompson (1979, p. 315) podemos dizer que “o que há são duas coisas que constituem as duas faces de uma mesma moeda”. Ao ter em conta os nexos entre economia e cultura, podemos perceber que a “dimensão cultural das sociedades são espaços dinâmicos permeados por conflitos de interesses” (p. 88), espaços onde estão presentes tanto o consenso quanto disputas por uma nova hegemonia. Essa constatação vai ao encontro das palavras de Thompson (1981, p. 190) de que “toda luta de classes é ao mesmo tempo uma luta acerca de valores”, valores esses que constituem a cultura, cuja base material deve ser investigada e considerada na análise do movimento do real.

É um desafio compreender o conceito de cultura não apenas como campo de consenso. Como nos informa o eixo “Cultura, educação, trabalho e saúde”, a cultura pode ser entendida como resultado das ações dos homens e mulheres sobre o mundo. Em última instância, “ela se torna o próprio ambiente do ser humano no qual ele é formado, apropriando-se de valores, crenças, objetos, conhecimentos” (p. 99).

A obra de Clifford Geertz, trabalhada em um dos artigos do livro, também contribui para o debate sobre cultura, principalmente por abordar os modos de vida e discursos dos grupos vulneráveis ou excluídos. A noção de comportamento humano de Geertz é uma ótima ponte para aproximar a antropologia da discussão a respeito da compreensão do processo saúde-doença. A autora do artigo afirma que a contribuição de Geertz e a sua antropologia “é muito favorável para a inclusão do ponto de vista dos pacientes e usuários dos serviços na análise das questões de saúde, principalmente no atual contexto, no qual o discurso médico é dominante” (p. 114).

No segundo eixo, intitulado “Cultura, educação e imagem”, os autores tratam da construção de conhecimento por meio das imagens. Esse eixo, em especial, nos favorece a compreensão das imagens como mediação em espaços formativos, sejam eles institucional (como a escola) ou qualquer outro espaço de educação dos sujeitos coletivos. Para isso, os autores buscam principalmente nas experiências em sala de aula mostrar como, por intermédio da cultura (em especial, da imagem), é possível outra leitura do mundo.

Com isso, concordamos com Kosik (1976) quando entende que compreender a vida para além da sociedade fetichizada − que toma a coisas no seu isolamento, adota a essência pelo fenômeno, a mediação pelo imediatismo−, é um exercício de apreensão da totalidade do cotidiano. Por isso, tendo em conta a pseudoconcreticidade com que o mundo se apresenta, os autores indicam que na sociedade capitalista, onde “o urbano passa a ser uma sucessão de imagens e sensações produzidas e reproduzidas pelos indivíduos que criam uma condição fragmentada da vida moderna” (p. 88), crianças, jovens e adultos buscam nas imagens divulgadas nas mídias (televisão e redes sociais) a construção de si mesmos e do mundo.

Na lógica do capital, a imagem exerce um papel importante na manutenção da hegemonia, impondo valores e transferindo os desejos da burguesia para a classe trabalhadora. Como constata um dos artigos, a “dissolução da forma burguesa mantém-se no contínuo da passividade dos sujeitos sociais, arraigando assim uma violência subjetiva terrorista, como reconhecer e alterar este mundo […] a colonização estética dos sentidos é perversa” (p. 160).

Sabemos que a educação é apropriada pelo capitalismo como formadora de consenso: “forma-mercadoria e forma estatal como princípio de organização da vida social, impregnando a subjetividade humana de práticas autorrepressivas no que diz respeito aos seus impulsos de felicidade e liberdade” (p. 170). A leitura do eixo “Cultura, educação e imagem” reforça que o “viés questionador, transformador e revolucionário da reflexão e da produção cultural podem possibilitar uma nova forma de ler do mundo” (p. 143). Os artigos nos ajudam a compreender que a imagem é uma potente ferramenta, constituindo-se como mediação tanto revolucionária quanto para manter o status quoda classe econômica e culturalmente dominante.

Por fim, no último eixo, “Cultura e cinema”, os autores nos convidam a conhecer a discussão acerca da cultura e da imagem com base em consistentes formulações teóricas que envolvem a produção do cinema e os seus nexos com as práticas escolares. Neste eixo, podemos destacar que é de grande importância a crítica direcionada às produções acadêmicas que corroboram para que a “análise de filmes seja percebida ainda como uma forma acessória de se atingir uma compreensão sobre a realidade social” (p. 231), ou seja, esse tipo de análise trata a produção do cinema como uma mera fonte de registro e que para compor uma análise da sociedade necessitam de outros tipos de fontes.

Em seus quatro artigos, o eixo “Cultura e cinema” procura demonstrar como a produção fílmica é uma fonte histórica de grande relevância para analisar a sociedade a partir de uma “concepção estético-política” (p. 232). Busca na interpretação do filme “Terra em Transe”, do diretor Glauber Rocha, elementos importantes para a leitura dos acontecimentos do golpe empresarial-militar de 1964 e as variadas interpretações do seu sentido nos dias atuais. O filme é “uma síntese devastadora do processo de luta de classes no Brasil e na América Latina dos anos 1960 como núcleo duro permeando todas as relações sociais reais, demole todos os discursos de legitimação dos projetos colonizadores” (p. 254). A produção em questão nos ajuda a compreender a potência do cinema na captação do real e de como a organização formal e estética em imagem e som nos auxilia na percepção das disputas de classe ocorridas no período.

A concepção de romper com um olhar naturalizado sobre a sociedade de classes é um dos intuitos das produções fílmicas alternativas, em especial na conturbada América Latina do século XX. Assim, o Nuevo Cine Latinoamericanomarcou o cinema latino-americano, buscando em produções militantes, conscientizar trabalhadores e trabalhadoras a sair das suas ‘zonas de conforto’. Essa concepção de cinema buscou possibilitar, como nos indica um dos artigos, “uma nova leitura do mundo, e uma nova forma de pensar a nossa realidade, características fundamentais para a transformação social” (p. 287).

Assim como os longas-metragens, os documentários também contribuem para narrar os conflitos de classe. Como sinaliza uma das autoras, o documentário tem o poder de relacionar a antropologia, a arte visual e a produção cinematográfica para contar uma história. Com isso, os documentários sustentam o “mito de origem de falarem a verdade” (p. 258). Todavia, o eixo nos leva a refletir: Qual verdade? Verdade para quem? O livro nos convida a encarar o documentário como um gênero de grande importância para a pesquisa social.

O rico debate teórico com base na materialidade da cultura alicerçada nas pesquisas dos autores, seja em sala de aula ou na análise de imagens e filmes, ajuda-nos a entender a profundidade do conceito de cultura e a sua potência como agente da transformação social. O livro nos elucida quanto à necessidade de que a classe trabalhadora se aproprie e interprete sua própria cultura, descolonizando-se da hegemonia cultural da burguesia, para assim buscar a sua emancipação plena.

O livro Cultura, politecnia e imagemé um prato cheio para quem busca superar a concepção idealista de cultura, compreendendo-a na sua totalidade, em diversos espaços-tempos históricos, tendo em conta as relações dialéticas entre economia, cultura e outras determinações sociais, e em especial as experiências coletivas da classe trabalhadora. Nos três eixos temáticos, o conjunto de autores desenvolve formulações teóricas com evidências empíricas de que a cultura e os processos educativos que a elegem como objeto de estudo e de compreensão da realidade podem fermentar os germes de projetos de transformação social.

Referências

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. [ Links ]

THOMPSON, Edward P. Tradición, revuelta y cons- ciência de classe. Barcelona: Crítica, 1979. [ Links ]

THOMPSON, Edward P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. [ Links ]

Luiz Augusto de Oliveira Gomes – Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]

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Holocaust und Vernichtungskrieg. Die Darstellung der deutschen Gesellschaft und Wehrmacht in Geschichtsschulbüchern für die Sekundarstufe I und II – SCHINKEL (ZG)

SCHINKEL, Etienne. Holocaust und Vernichtungskrieg. Die Darstellung der deutschen Gesellschaft und Wehrmacht in Geschichtsschulbüchern für die Sekundarstufe I und II. Göttingen : V&R unipress , 2018. Resenha de: MITTNIK, Philipp. Zeitschrift für Geschichtsdidaktik, v.18, p. 221-222, 2019.

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Arte, Imagem, Política: Curadoria, Circuitos e Instituições | MODOS. Revista de História da Arte | 2018

As relações entre os termos Arte e Política são complexas e por vezes, paradoxais. Durante o longo processo histórico de constituição do campo artístico em sua forma moderna, posições divergentes têm defendido tanto a total autonomia entre arte e política, quanto a indissociabilidade de suas conexões. Entre um extremo e outro, seguimos com Jacques Rancière, quando argumenta que “arte e política tem a ver uma com a outra como formas de dissenso, operações de reconfiguração da experiência comum do sensível” (2012: 63). Nestes termos, entendemos que as relações entre arte e política passam pelos temas abordados pelos artistas em suas obras, assim como por suas opções formais, estéticas, por seus processos de trabalho e de exibição. Os projetos de curadoria e de exposição, por sua vez, podem ser considerados como tomadas de posições políticas, tanto em relação às questões específicas do mundo da arte, quanto aos limites sobre o que é aceito socialmente como arte em um momento dado ou às transgressões das fronteiras da moral ou do “bom-gosto”. A atuação de historiadores e críticos de arte também pode ser pensada nestes termos, se consideramos suas narrativas como construções de poder simbólico. Por fim, as relações de poder entre os agentes, as instituições – museus, academia – e a lógica contemporânea de funcionamento do mercado produzem e conectam diferentes circuitos, gerando impactos diversos nos papeis e no lugar ocupado pela arte na sociedade contemporânea. Leia Mais

História, Imagem, Ciência & Cultura | ArtCultura | 2016

O minidossiê História, Imagem, Ciência & Cultura tem como objetivo trazer a público uma análise do papel cultural da ciência no mundo ocidental, enfatizando suas formas de divulgação e de difusão. Tal empreitada faz coro ao movimento mais recente da historiografia de não considerar o desenvolvimento das ciências tão somente com base na demarcação entre ciência e não ciência, ou, segundo Thomas Gieryn, entre o “analítico (teorizações) e o prático”1 , mas de buscar uma apreensão a partir das práticas e dos jogos de acomodação/negociação que propiciam sua circulação.

Com uma proposta integradora, centrada na temática de cultura visual da ciência construída no tempo histórico, o minidossiê reúne trabalhos que discutem a utilização de imagens e os diferentes contextos de visibilidade, suas práticas representacionais e objetivação do conhecimento, procurando reconhecer, valorizar e (re)significar as relações constituintes entre imagem e produção do conhecimento. Leia Mais

Las mujeres de X’oyep – DEL CASTILLO TRONCOSO – (HO)

DEL CASTILLO TRONCOSO, Alberto. Las mujeres de X’oyep. México: Conaculta; Cenart; Centro de la Imagen, 2013. (Colección Ensayos sobre Fotografía). 116 p. Resenha de: PORFIRIO, Pablo F. de A. História, imagem e memória: a trajetória de uma fotografia
(México, anos 1990), História Oral, v. 18, n. 1, p. 241-246, jan./jun. 2015.

Alberto del Castillo Troncoso é um historiador mexicano – vinculado ao Instituto Mora – que há alguns anos desenvolve pesquisas que tomam a fotografia como principal fonte documental. Ele investigou as representações fotográficas de crianças no período do governo de Porfírio Diaz; estudou a trajetória do fotógrafo Rodrigo Moya com base nas análises da sua produção nas décadas de 1950 e 1960, na cobertura fotojornalística de guerrilhas e golpes militares em países da América Latina como República Dominicana, Guatemala e Venezuela. Mais recentemente, Alberto del Castillo lançou um livro resultante de anos de estudos sobre as fotografias do movimento estudantil de 1968 no México, marcado pelo Massacre de Tlatelolco, em 2 de outubro daquele ano. No seu último livro, objeto desta resenha, o historiador analisa a fotografia de Pedro Valtierra Las mujeres de X’oyep, que dá nome à publicação.

Essa imagem retrata as mulheres tzotziles da comunidade de X’oyep, localizada no município de Chenalhó, no estado de Chiapas, sul do México.

Registra o momento em que essas mulheres avançam sobre os soldados do exército mexicano que chegavam para ocupar parte do seu território, no dia 3 de janeiro de 1998. Segundo Deborah Dorotinsky (2013), Alberto del Castillo produz uma biografia dessa fotografia. Ou seja, identifica seu surgimento e cartografa sua trajetória do quarto escuro à publicação no jornal mexicano La Jornada. O historiador esmiúça como a imagem ganhou um formato editorial, como foi selecionada para estampar a primeira página do periódico e se tornar um ícone, isto é, uma fotografia emblemática, que forma parte da cultura visual de uma geração (Del Castillo Troncoso, 2013, p. 25).

O trabalho realizado por Alberto del Castillo mapeou as posições sociais e políticas ocupadas pela imagem para assim entender os significados a ela atribuídos, seja na relação construída entre a fotografia e os textos da imprensa, seja no vínculo entre imagem e memória. Desse modo, o autor assevera: as imagens em si não dizem nada. Podemos nos inspirar nas considerações de Pierre Bourdieu, em seu clássico texto sobre a “ilusão biográfica”, no qual afirma que os acontecimentos biográficos se definem como colocações e deslocamentos no espaço social, e não como uma série única de acontecimentos sucessivos (2000, p. 189-190). Claro que aqui não estamos falando da trajetória de um indivíduo, mas da fotografia produzida por um indivíduo. O historiador mexicano analisa de modo instigante as colocações políticas da imagem e seus deslocamentos de sentido, quebrando a “ilusão biográfica” de que a fotografia teria um único significado definido desde o momento do registro. A indicação de Deborah Dorotinsky na apresentação do livro, de que Alberto del Castillo seria um biógrafo de imagens, se confirma no decorrer do texto.

Para tal análise, o historiador mexicano estuda o cenário social e político em que a fotografia foi elaborada. Leva o leitor à parte sul do México, estado de Chiapas, que em janeiro de 1994 viu irromper um destacado movimento social, definido pelo escritor Carlos Fuentes como “a primeira guerrilha do período pós-moderno”. O zapatismo era um movimento que contava com um exército de trabalhadores pobres e que tinha a internet como uma das suas principais armas. Valendo-se ainda de um líder midiático, o Subcomandante Marcos, o zapatismo conseguiu, entre 1994 e 1995, recolocar o debate sobre as comunidades indígenas do México na agenda política nacional e internacional, rompendo as fronteiras do estereótipo turístico-folclórico do exótico.

O município chiapaneco de Chenalhó foi palco, em dezembro de 1997, da atuação de um grupo de paramilitares ligado ao Partido Revolucionario Institucional (PRI) que assassinou 45 indígenas simpatizantes do Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN), que rezavam em uma pequena igreja na localidade de Acteal.

O episódio ganhou repercussão internacional. Equipes da imprensa televisiva e escrita se dirigiram para a região. Uma ampla cobertura fotográfica também foi produzida. O massacre em Acteal provocou, nos últimos dias de dezembro de 1997, uma presença ainda maior das forças do exército mexicano na localidade. Dirigiu-se também à região, em 1º de janeiro de 1998, o fotógrafo Pedro Valtierra, que passou a coordenar a cobertura dos acontecimentos para o jornal La Jornada.

Alberto del Castillo investigou e apresenta ao leitor a narrativa visual produzida pelo jornal entre o final de dezembro de 1997 e o início do mês seguinte. Analisa as primeiras fotos de Pedro Valtierra na região, feitas em janeiro de 1998, que registravam a tensão existente e os movimentos do exército mexicano e dos nativos. O autor ressalta o protagonismo das mulheres nesse momento, que resistiram à presença militarizada do Estado e, sabiamente, utilizaram a imprensa para fortalecer suas ações.

Em 3 de janeiro de 1998, o fotógrafo Pedro Valtierra e o jornalista Juan Balboa saíram da cidade de San Cristóbal de las Casas e se dirigiram à região de X’oyep. Na localidade de difícil acesso, alcançada por uma caminhada de horas pela montanha, existiam algumas poucas casas pobres e, desde os assassinatos em Acteal, centenas de pessoas em busca de refúgio.

A entrada de Valtierra e Balboa nessa história marca o agenciamento de uma nova fonte por parte do historiador: o relato de memória. Ele entrevistou o fotógrafo e o jornalista buscando informações sobre como foi a chegada deles a X’oyep, o que encontraram no local, como ocorreu a produção das imagens. Mais ainda, interessam a Del Castillo os relatos sobre o período posterior, isto é, quando Pedro Valtierra regressou de X’oyep a San Cristóbal de las Casas, iniciando o processo de revelação das imagens, o envio para os editores do La Jornada, a escolha da fotografia a ser publicada, a mudança no seu enquadramento do horizontal para o vertical e a decisão de publicá-la na primeira página.

O livro tem por objetivo investigar como a fotografia de Pedro Valtierra, Las mujeres de X’oyep, tornou-se um ícone e formou a cultura visual de uma geração. Para isso, as informações obtidas por meio das entrevistas são fundamentais. Mas também interessa a Alberto del Castillo o uso da memória por parte dos seus entrevistados no momento presente, quando a fotografia de Valtierra já se tornou um ícone. Trata-se do que Gilles Deleuze, ao analisar a obra de Marcel Proust, chama de memória voluntária, aquela que vai de um presente atual a um presente que foi, isto é, que foi presente mas não é mais. Assim, pode-se dizer que a memória não se apodera diretamente do passado, mas o recompõe com os presentes (Deleuze, 2006, p. 54).

Alberto del Castillo mapeia parte da produção fotográfica de Pedro Valtierra, como a cobertura jornalística da guerrilha sandinista na Nicarágua e das forças guerrilheiras da Guatemala. Relaciona a fotografia das mulheres de X’oyep aos interesses estéticos e políticos já apresentados por Valtierra em outros trabalhos.

O seu relato de memória é analisado em diálogo com essas produções fotográficas e com os significados que a fotografia das mulheres de X’oyep adquiriu. É interessante notar que, no relato de memória de Valtierra, essa imagem é definida como um marco divisor na sua trajetória: E enviam por fax as primeiras páginas e vejo a foto grande, tal como está publicada, e senti logo, logo que a foto era já outra coisa… No dia seguinte David Brooks, o correspondente do La Jornada, me contou que a foto havia encabeçado uma marcha de apoio aos zapatistas em Nova York… Eu senti que nesse momento algo havia passado com minha vida… Porque devo dizer que não estava muito bem profissionalmente. Quer dizer, era chefe, um privilegiado, porém fotograficamente não me sentia bem… Isso – aqui entre nós – eu não estava dizendo, porém me sentia em crise… Já quando regressei ao México, foi impressionante. Fui a uma marcha e encontrei com Carlos Jurado, com muita gente, e não me deixavam trabalhar. […] E isso se passou por causa da foto de X’oyep. (Del Castillo Troncoso, 2013, p. 68; tradução livre).

Essa memória voluntária de Pedro Valtierra apropria-se do sucesso alcançado pela fotografia sobretudo por ela lhe ter valido o Premio Internacional de Periodismo Rey de España, um ano depois de sua produção, em janeiro de 1999. A distinção oferece um significado a priori para a imagem e, por conseguinte, para quem a produziu; cria uma importância política que dá a impressão de estar na essência da fotografia. Talvez Alberto del Castillo pudesse ter apresentado ao leitor mais trechos do relato de Valtierra. O extrato acima faz parecer que a memória do fotógrafo toma um dos significados políticos associados à fotografia e o institui como algo que estivesse dado desde o presente da sua produção, como uma essência. Cria assim uma trajetória única e teleológica para a imagem, como se ela já tivesse nascido para constituir-se em ícone de uma geração.

Mas o livro de Alberto del Castillo consegue, por meio de outros relatos de memória, pesquisa em jornais e outros documentos, reconstruir a teia de discursos e práticas que fizeram a fotografia das mulheres de X’oyep emergir como um ícone na luta dos povos indígenas na América Latina. Mostra- -nos como a crescente visibilidade conquistada pelo movimento zapatista na década de 1990, com seus destacados apoiadores, como José Saramago, contribuiu para popularizar a imagem e fazê-la ser apropriada por diversos grupos sociais e operacionalizada em suas manifestações políticas.

Por fim, o historiador mexicano nos brinda com uma linda história. No último capítulo do livro, em um relato quase antropológico, conta sobre a viagem que fez anos depois do conflito ao local onde Pedro Valtierra produziu a imagem. Encontrou uma pobre casa, feita de tábuas, em que se identificava numa parede externa uma pintura com traços infantis que reproduzia a fotografia do enfrentamento das mulheres de X’oyep com os militares do exército mexicano. Nessa representação, imagem e memória se confundiam.

A reprodução da fotografia de Valtierra fazia permanecer latente uma memória do conflito, ao mesmo tempo que reforçava o sentido icônico daquela imagem e realçava um sentimento de vitória, já que as mulheres conseguiram resistir e expulsar os militares.

Uma das perguntas que ficam para o leitor é: qual a memória que as mulheres de X’oyep e outros moradores do local construíram sobre o enfrentamento com o exército? Não foi possível encontrar esses relatos, mas sim uma representação imagética deles. A pintura mostra como a fotografia de Valtierra foi apropriada pelos moradores daquela região, ultrapassando o suporte do papel fotográfico, do jornal ou da memória do seu produtor. A imagem tornou-se ícone também por estar na memória do grupo social de quem a protagonizou, alimentando sentimentos de luta e vitória.

O livro Las mujeres de X’oyep apresenta uma metodologia de trabalho inovadora e desafiadora ao relacionar imagem e memória – individual e coletiva – na escrita da história. Recupera os fios que teceram o sentido da fotografia, transformando-a em um ícone político. Poderíamos pensar que Alberto del Castillo Troncoso busca o “normal excepcional”, para retomar um conceito caro à micro-história de Carlo Ginzburg: o documento “normal excepcional”, neste caso a fotografia de Pedro Valtierra, não se presta às generalizações da história serial, mas permite, por outro lado, a compreensão de aspectos particulares, não generalizáveis, da realidade social. O historiador mexicano conta-nos ainda, por meio dessa imagem, sobre a luta cotidiana de mulheres pobres e invisibilizadas pelo direito à terra e à vida, enredando-a na história do México contemporâneo e da América Latina.

Referências BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína (Org.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. p. 183- 191.

DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

DOROTINSKY, Deborah. Biografía de una imagen fotográfica: las mujeres de X’oyep.

In: DEL CASTILLO TRONCOSO, Alberto. Las mujeres de X’oyep. México: Conaculta; Cenart; Centro de la Imagen, 2013. (Colección Ensayos sobre Fotografía). p. 13-20.

Pablo F. de A. Porfirio – Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: pablo [email protected].

L’histoire, pour quoi faire? – GRUZINSKI (DH)

GRUZINSKI, Serge. L’histoire, pour quoi faire? Paris: Fayard, 2015, 300p. Resenha de: NICOD, Michel. Didactica Historica – Revue Suisse pour l’Enseignement de l’Histoire, Neuchâtel, v.1, p.203-204, 2015.

Comment et avec quelles précautions enseigner l’histoire de la première mondialisation du xvie siècle? Cet ouvrage montre que, parmi les modes de représentation du passé, le recours à l’histoire est particulièrement adéquat pour élaborer une démarche critique, surtout lorsqu’il s’accompagne de l’utilisation de supports iconiques, tels le cinéma ou le jeu vidéo. Ces supports, en effet, facilitent en classe le travail de distanciation face aux conceptions spontanées.1 L’histoire, pour quoi faire? est l’aboutissement de vingt années de recherches menées par l’historien français Serge Gruzinski. Celui-ci y reprend ses thèmes favoris: la conquête de l’Amérique du Sud et du Mexique par les Portugais et les Espagnols au xvie siècle, le métissage et la rencontre des cultures qui s’ensuit, le rôle et la place de l’image en histoire.

L’auteur plaide pour une étude des regards que colonisateurs et colonisés se sont mutuellement jetés. Il nous entraîne à scruter de l’extérieur notre propre histoire, pour voir comment l’Europe s’est emparée du monde, non seulement avec les armes mais aussi avec ses représentations, ses cartes, sa géographie.

Dans les premiers chapitres, le livre nous invite à une analyse fine des modes de représentation du passé, des cérémonies d’ouverture des Jeux olympiques aux jeux vidéo, des feuilletons télévisuels aux superproductions des cinémas chinois ou américains, qui ont tous bien davantage d’audience que les historiens. L’auteur s’interroge sur le message véhiculé par ces superproductions qui mettent en scène des époques et des lieux différents. Or leurs reconstitutions stéréotypées n’apportent que rarement une réflexion critique. Il en est de même des jeux vidéo qui n’ont rien d’innocent.

Ils mettent trop souvent en scène des idéologies conservatrices exaltant le goût du pouvoir, l’opposition des barbares aux civilisés. Loin d’être des supports de cours idéaux, ils se prêtent néanmoins à une analyse critique.

Ainsi, l’ouvrage met en lumière les nombreux supports qui existent parallèlement aux récits des historiens. En le parcourant, le lecteur prend conscience du décentrement nécessaire à l’étude des sociétés, de l’importance de décloisonner, puis de reconnecter les différents domaines historiques.

L’auteur montre que c’est à partir du local, en l’occurrence de l’étude de l’Amazonie, que pourra s’étudier la globalisation. Cette dernière est au coeur du livre, où le présent se fait l’écho du passé: aujourd’hui au Brésil, par exemple, le trafic de DVD piratés a remplacé le trafic de produits tropicaux du xvie siècle.

En résumé, Serge Gruzinski met en relief la nécessité de poser d’autres questions, de chausser d’autres lunettes pour envisager le passé comme le futur. Selon lui, notre vision du monde est décalée par rapport aux questions actuelles, car les sociétés se mélangent: l’ailleurs est venu en Europe, tandis que celle-ci s’est étendue au monde. Ainsi, une culture de l’entre-deux, mélangée, fragile mais nécessaire, est apparue, celle des métis, passeurs de culture. Le livre en fait l’éloge tout en montrant sa fragilité.

Serge Gruzinski nous interpelle et nous bouscule par les rapprochements qu’il opère entre le xvie siècle et l’époque inquiète que nous vivons.

Son livre est une bonne introduction à ses recherches antérieures et à l’histoire des mentalités.

Il offre une réflexion enrichissante sur notre temps.

Son questionnement nourrit les réflexions de ses lecteurs en les invitant à se demander si nous ne construisons pas des passés afin de construire du sens, des repères pour affronter les « incertitudes du présent ».

Né en 1949, l’historien français Serge Gruzinski, directeur d’études à l’EHESS de Paris, enseigne l’histoire en France, aux États-Unis et au Brésil.

Il a notamment publié La pensee metisse, Paris: Fayard, 1999 ; Les quatre parties du monde. Histoire d’une mondialisation, Paris: La Martinière, 2004 ; L’aigle et le dragon, Paris: Fayard, 2012.

Michel Nicod

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Regards sur le monde. Apprendre avec et par l’image a l’ecole – DURISCH GAUTHIER et al (DH)

DURISCH GAUTHIER, Nicole; HERTIG, Philippe; MARCHAND, Reymond Sophie (éds.). Regards sur le monde. Apprendre avec et par l’image a l’ecole. Neuchâtel: Alphil-Presses universitaires suisses, 2015, 359p. Resenha de: FINK, Nadine. Didactica Historica – Revue Suisse pour l’Enseignement de l’Histoire, Neuchâtel, v.1, p.205-206, 2015.

Nous vivons dans un monde d’images, fixes et mobiles, que ce soit dans notre vie quotidienne ou dans la salle de classe. Nous sommes non seulement constamment exposés aux images, mais nous en sommes également devenus de fervents produc teurs et diffuseurs. Nous savons que chacune d’entre elles n’est qu’une représentation qui construit un point de vue et qui délivre un discours, un certain regard sur le monde. Pourtant, les images ont le plus souvent été – et sont encore majoritairement – utilisées de manière illustrative en guise d’accompagnement de textes et de discours. Une telle approche tend à prendre le visible pour le réel, le réel pour le vrai. Déconstruisant ce rapport illustratif, Regards sur le monde place l’image et son usage au coeur des apprentissages. Celle-ci devient alors bien plus qu’une simple illustration: elle est un support de connaissance que l’on peut utiliser au même titre qu’un texte, en apprenant à en identifier la nature et le statut, à en analyser le contexte de production et le contenu, à en décoder le message et les représentations véhiculées. L’objectif de ce bel ouvrage collectif – très richement illustré – est précisément d’offrir aux enseignants des exemples concrets d’utilisation de l’image à l’école, de manière à ce qu’ils puissent s’en inspirer pour leurs propres séquences d’enseignement.

Dans le domaine des sciences humaines et sociales, chaque discipline porte un regard sur l’image qui lui est propre, l’analysant selon des questionnements qui relèvent de son champ scientifique. Certaines problématiques d’apprentissage relèvent toutefois d’une « grammaire commune », de caractéristiques génériques qui transcendent les disciplines spécifiques.

Elles font l’objet des quatre chapitres de la première partie de l’ouvrage, qui permettent de saisir les principaux enjeux et méthodes de l’usage et de l’analyse de l’image dans les sciences humaines et sociales: apprendre à décoder et à analyser les images (processus de dénotation/connotation), à les classer et à les catégoriser, à les exploiter em classe, à prendre conscience de l’imaginaire collectif construit par les images. La seconde partie de l’ouvrage donne successivement la voix au statut spécifique de l’image en géographie, en histoire, en éthique et culture religieuses. Tous ces chapitres se fondent sur des expériences réalisées en classe ou dans le cadre de la formation d’enseignants. Quatre d’entre eux sont consacrés à l’enseignement de l’histoire.

Ils mettent en évidence l’importance du rôle de l’image dans la construction du discours historique et décrivent des démarches originales et inspirantes pour travailler en classe à partir d’images fixes et mobiles, qu’il s’agisse d’affiches de propagande politiques et publicitaires, de caricatures et de dessins de presse, de films documentaires et de fiction, ou même de clips musicaux et de séries à succès. Il ressort ici – comme dans tout l’ouvrage d’ailleurs – que le travail d’analyse des images n’est pas une fin en soi, mais qu’il participe à la construction d’un savoir propre à chaque discipline scolaire. La troi sième partie propose trois regards extérieurs à l’école pour explorer les domaines de la photographie, du cinéma et de la bande dessinée. Une quatrième et dernière partie met en perspective l’ensemble des chapitres pour plaider en faveur d’un enseignement qui apprenne non seulement aux élèves à décoder les images et à affiner leurs regards d’observateurs, mais qui développe également leurs compétences et leurs savoirs dans l’utilisation des nouvelles technologies.

Cet ouvrage permettra aux disciplines des sciences humaines et sociales – particulièrement grandes consommatrices d’images – de prendre en charge une forme d’éducation au regard. Un tel enseignement constitue un enjeu majeur en termes d’apprentissage pour donner des clés de lecture aux élèves: il s’agit de les outiller pour qu’ils puissent faire face aux nombreuses manipulations et représentations réductrices auxquelles les exposent les images.

Nadine Fink – Haute École pédagogique, Lausanne.

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Estudos Feministas e de Gênero / Cristina Stevens, Susane R. Oliveira e Valeska Zanello

Entre os dias 28 e 30 de maio de 2014 foi realizado na Universidade de Brasília (UnB) o II Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas. O evento, de caráter interdisciplinar, recebeu pesquisadoras/es de diversos lugares do país e contou com a apresentação de inúmeros trabalhos que tem como foco as mulheres, os feminismos, a sexualidade, as identidades e relações de gênero. Os trabalhos apresentados por professoras/es e pesquisadoras/es doutoras/es nas sessões de conferência e mesas redondas foram selecionados, avaliados e reunidos em um livro digital, organizado pelas professoras Cristina Stevens, Susane Rodrigues de Oliveira e Valeska Zanello. Este livro, intitulado Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas, lançado em 2014 pela Editora Mulheres de Santa Catarina, contou também com o apoio da CAPES, da Universidade Livre Feminista e do CFEMEA. A obra está disponível gratuitamente para download, em formato PDF, no site do CFEMEA e do Colóquio (www.coloquiofeminista2014.com).

A realização desse Colóquio e, consequentemente, a publicação dessa obra, evidenciam que os questionamentos feitos pelos movimentos sociais continuam em vigor. Ao conquistar espaço no universo acadêmico, as reivindicações feitas por ativistas e simpatizantes encontram a oportunidade de não apenas contestar o que ocorre nas ruas e na vida cotidiana, mas também o que ocorre dentro das Universidades. Dessa forma, são apresentados novos pontos de vista e novos saberes que certamente contribuirão para a renovação das ciências. Os textos reunidos nessa coletânea seguem a tendência da intersecionalidade ao trabalhar, também, com questões raciais e de classe, tão discutidas atualmente pelos feminismos. Segundo as próprias organizadoras,

A surpreendente conclusão que podemos tirar a partir da leitura desses textos multifacetados é a de que as perspectivas feministas e de gênero nas produções acadêmico-culturais são bastante diversas em suas articulações com questões de raça, etnia, geração, sexualidade, religião, classe, dentre outras. Os textos que integram este livro incorporam novos idiomas críticos, visões políticas e ferramentas teórico-metodológicas na abordagem do binômio Feminismos-Gênero em áreas diversas como Antropologia, Artes, Cinema, Direito, Educação, Filosofia, Física, História, Literatura, Psicologia, Publicidade e Sociologia. Sem dúvida, os trabalhos são testemunhos positivos do dinamismo promissor desta relativamente recente área de estudos, experiências e práticas acadêmico-culturais [1].

O livro apresenta quarenta e sete capítulos e está dividido em sete partes, sendo elas: 1) Perspectivas feministas na pesquisa acadêmica; 2) Corpo, violência e saúde mental; 3) Mulheres e literatura: do medievo à contemporaneidade; 4) Educação, ciência e diferenças de gênero; 5) Imagens, cinema, mídia e publicidade; 6) Ações, direitos e políticas; 7) Identidades, experiências e narrativas.

A primeira parte da obra apresenta os textos de cinco conferencistas brasileiras que possuem larga experiência de pesquisa e produção intelectual feminista, são elas Débora Diniz, Susana Funck, Tania Swain, Sônia Felipe e Sandra Azerêdo. Débora Diniz apresenta as “Perspectivas e articulações de uma pesquisa feminista”. A autora defende que o gênero é um regime político que encontra na família sua instituição reprodutora e cuidadora. Diniz também recupera o conceito de patriarcado tratando-o como uma tecnologia moral. Segundo ela, é possível retomar esse conceito e ser sensível “às expressões locais de sua governança pelo presente histórico” [2]. Com isso, a autora propõe que toda pesquisa sobre gênero será feminista, uma vez que tal empreendimento é capaz de desafiar o regime político de sexagem dos corpos.

Susana Funck fala dos desafios atuais dos feminismos, com ênfase nos estudos literários e culturais e suas influências em outros campos do saber. Desse modo, a autora ressalta que, embora, muitas das agendas feministas já estejam incluídas nos estudos acadêmicos e nos movimentos sociais de grande parte das nações contemporâneas, suas metas de igualdade e diversidade ainda estão longe de serem alcançadas. Nesse sentido, observa que um dos maiores desafios talvez seja o de desmistificar a prática feminista como uma unanimidade monolítica e fazer valer as várias facetas da categoria gênero, perpassadas como são por vetores de raça, classe, nacionalidade, sexualidade, faixa etária e tantas outras diferenças.

A historiadora Tania NavarroSwain, em seu texto “Por falar em liberdade…”, analisa os dispositivos que se colocam em ação para sustentar a diferença sexual, os chamados subsistemas constitutivos do patriarcado. Segundo a autora, a diferença sexual, que é implantada no imaginário ena materialidade de corpos sexuados, constitui motor de ação patriarcal e exercício de poder. Assim, destaca que o patriarcado se impõe pela violência, pela persuasão/amor e por uma sexualidade que se impõe como centro identitário e de significação do ser.

A filósofa Sônia Felipe apresenta uma importante reflexão sobre o feminismo antiespecista. Nesse caso, o termo “especismo” pode ser compreendido como similar ao “machismo” e ao “racismo”. O termo foi elaborado pelo cientista e filósofo inglês Sir RichardRyder ainda o século XX para descrever a discriminação e exploração perpetradas pelos seres humanos contra outros animais sencientes. Para Ryder, usar, “abusar, explorar e matar animais para consumo e divertimento humano é uma forma de posicionar os seres humanos acima de todos os animais e de alimentar o padrão machista e racista que rege as relações de poder entre os humanos”. Por fim, Sônia Felipe propõe como opção ética uma perspectiva ecoanimalista do feminismo, afinal “Os machistas tratam as mulheres de forma especista: como animais. E as mulheres, incorporando e emulando o mesmo especismo, tratam os animais como matéria destituída de espírito, portanto, inferiores” [3].

Já a psicóloga Sandra Azeredo, no texto “O que é mesmo uma perspectiva feminista de gênero?”, destaca que o gênero, como uma categoria central na teorização feminista que problematiza as noções de sexo e sexualidade, tem necessariamente que incluir outras categorias, especialmente a categoria raça, em suas teorizações, de modo a contribuir para práticas de emancipação. No encerramento do texto a autora ressalta que

(…) uma perspectiva feminista de gênero significa partir da igualdade, nos abrindo para o encontro com as outras pessoas (inclusive os animais não humanos), com respeito, nos rendendo, mútua e voluntariamente, aos ditames da intersubjetividade [4].

A segunda parte do livro reúne os textos de Érica Silva, Gislene Silva, Valeska Zanello, Ionara Rabelo, Marcela Amaral, Ana Paula de Andrade, Gláucia Diniz e Cláudia Alves. Trata-se de estudos desenvolvidos no campo da psicologia e da literatura, sobre a saúde mental feminina. No texto “Gênero e loucura: o caso das mulheres que cumprem medida de segurança no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios”, Érica Silva analisa os casos de dezesseis mulheres que cumprem medida de segurança no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. A autora destaca a prevalência de mulheres pobres, de baixa escolaridade, negras e pardas que estão sob a tutela do Estado. Por terem algum transtorno mental –geralmente em decorrência do uso de álcool e/ou drogas –, elas são consideradas inimputáveis ou semi-inimputáveis pela Justiça e destinadas à Ala de Tratamento Psiquiátrico localizada na Penitenciária Feminina do Gama, ou ao tratamento ambulatorial na rede pública e privada de saúde. Silva faz importantes questionamentos sobre o tratamento dado a essas mulheres que se encontram em um contexto de marginalidade e invisibilidade na sociedade brasileira. Por sua vez, o texto de Ana Paula de Andrade tem o objetivo de problematizar os atravessamentos das questões de gênero na política pública de saúde mental em seus diferentes níveis. Já o texto “Saúde mental, mulheres e conjugalidade”, de Valeska Zanello, ao tratar do caso clínico de uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, cujo sintoma que se destacou foi “choro imotivado”, busca apontar o que a chancela do diagnóstico psiquiátrico “depressão” escondia.

A terceira parte, “Mulheres e literatura: do medievo à contemporaneidade”, reúne textos de Cíntia Schwantes, Cristina Stevens, Janaina Gomes Fontes, Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne, Virgínia Maria Vasconcelos Leal, Wiliam Alves Biserra e Nadilza Martins de Barros Moreira. O texto de Cristina Stevens avança, especialmente, no debate e reflexão sobre as representações literárias da violência contra as mulheres; focalizando a mudança radical de tratamento desta temática na contemporaneidade, quando as mulheres assumem a posição de sujeito dessas construções ficcionais e abordam o tema da violência como consequência da injusta dominação masculina na produção do conhecimento. Sobre as mulheres na literatura, Nadilza Moreira tece um esboço comparativo entre as obras de Nísia Floresta e Júlia Lopes de Almeida, ambas reconhecidas pelo pioneirismo na luta feminista ainda no século XIX. Em seu trabalho, Moreira vai elucidar que diversas mulheres do Brasil oitocentista se dedicavam à atividade intelectual e à escrita, inclusive resistindo às campanhas contrárias dos homens escritores que temiam a concorrência. Ao concluir, Moreira faz uma provocação: que mulheres como Nísia Floresta e Júlia Lopes de Almeida continuem sendo redescobertas pela Academia, pois elas “aguardam por mentes laboriosas, por pesquisadores desafiadores que queiram lhes dar a devida relevância, para colocá-las visíveis nas prateleiras da contemporaneidade” [5].

A participação feminina na educação e as questões de gênero nas ciências, especialmente nas disciplinas de física e história, são exploradas na quarta parte do livro. Diva Muniz, no texto “Memórias de uma menina bem comportada: sobre a experiência da alfabetização e a modelagem das diferenças”, apresenta uma análise de suas próprias experiências vividas na infância, nos anos cinquenta, no processo de alfabetização. Muniz revoluciona a narrativa historiográfica ao se colocar como sujeito da própria história, utilizando a própria memória para fazer considerações sobre todas as “tecnologias de gênero” que estiveram presentes em sua vida, bem como as formas de subversão e resistência à própria realidade. Assim escreve a autora,

Submetida a esse processo de disciplinarização escolar, fui sendo “fabricada” como menina educada e aluna aplicada aos estudos. Apesar e por conta desse processo, também me produzi como pessoa crítica, questionadora e independente e até mesmo impertinente. Afinal, somos assujeitadas às prescrições sociais e escolares, mas nunca de modo pleno: resistimos, negociamos, agenciamos outros termos, condições, posições e alianças; fazemos escolhas e recusas na constituição de nossas histórias e na configuração de nossas subjetividades [6].

Valéria Silva, com base nas teorias feministas, analisa as representações das mulheres nos livros didáticos escolares. Por sua vez, Susane Oliveira trata de questões relacionadas à inclusão da história das mulheres nos currículos escolares, atentando para as demandas dos movimentos feministas e delineando algumas propostas para a efetivação dessa inclusão, tendo em vista o potencial educativo da história das mulheres na promoção da cidadania e igualdade de gênero. A autora aponta que, para os avanços existentes ocorrerem, como no caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), foi necessária a mobilização dos movimentos sociais no processo. No caso do ensino da história,

Tais mudanças, somadas às inovações que ocorreram na historiografia e nas tendências pedagógicas na segunda metade do século XX, impuseram à história, enquanto disciplina escolar, um papel fundamental no reconhecimento e valorização das identidades e memórias de diferentes grupos sociais, especialmente daqueles que haviam sido marginalizados e/ou silenciados nos discursos históricos tradicionais, como as mulheres, os jovens, os trabalhadores, as crianças, os idosos, as etnias e minorias culturais [7].

Patrícia Lessa analisa os escritos da educadora Maria Lacerda de Moura, produzidos na primeira metade do século XX, cujas ideias sobre a libertação das mulheres e dos animais não humanos é bastante atual. O texto de Ademir Santana analisa a participação masculina no movimento feminista a partir de experiências na Física. Já Adriana Ibaldo versa sobre a desigualdade de gênero nas ciências exatas e a dificuldade que as mulheres precisam enfrentar para permanecerem na área. A autora apresenta dados sobre a produtividade feminina na física, que ainda é tímida –entre 6% e 25% –e relembra as situações cotidianas que podem levá-las à interrupção da carreira nos mais diversos níveis, como o machismo arraigado em ambientes majoritariamente masculinos e o estereótipo de que mulheres são inaptas às ciências exatas. Para a transformação desse cenário, a autora propõe medidas que incentivem o ingresso de jovens alunas aos cursos de física, como o projeto Atraindo meninas e jovens mulheres do Distrito Federal para a carreira em física, financiado pelo CNPq com foco em estudantes do Ensino Médio da rede escolar.

A quinta parte do livro, “Imagens, cinema, mídia e publicidade”, reúne oitos textos. O primeiro, de Maria Pereira analisa imagens de mulheres artistas no ocidente medieval. O texto de Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro dedica-se às representações imagéticas de mulheres negras no Brasil oitocentista em “Corpos negros no/do feminino em três movimentos: um exercício de (des) construção” analisando três imagens da época: duas fotografias e um quadro. Em seu trabalho, Carneiro tece importantes considerações sobre a intersecionalidade entre gênero e raça e como os corpos das mulheres negras eram representados no século XIX. Suas palavras elucidam que no interior dessa maquinaria “política ocidental corpos negros e cativos exibem marcas de sexo-gênero e de raça, extraídas e significadas como diferenças construídas na arquitetura da dominação do patriarcado escravocrata” [8]. Os textos de Liliane Machado, Mônica Azeredo e Sulivan Barros analisam as perspectivas de gênero nas produções audiovisuais (filmes e documentários). Os textos de Sandra Machado, Ana Veloso e Cynthia debatem os processos sociais engendrados pela publicidade e propaganda que tornam as mulheres imagens-espetáculo, fetiches e objetos de consumo, impondo padrões de comportamento e preconceitos socioculturais que esvaziam o sentido político das contestações dos grupos feministas.

A sexta parte do livro apresenta seis textos que versam sobre direitos e políticas públicas para as mulheres, desenvolvidos pelas/os autoras/es Ela Wiecko, Soraia da Rosa Mendes, Wanda Miranda Silva, Camila de Souza Costa e Silva, Lourdes Maria Bandeira, Tânia Mara Almeida, Carmen Hein de Campos, Ana Liési Thurler, Sônia Marise Salles Carvalho, Nelson Inocêncio, Umberto Euzébio e José Zuchiwschi. Os textos, das oito primeiras autoras, abordam, teórica e empiricamente, estratégias atuais de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra as mulheres brasileiras, a partir de um campo interdisciplinar de conhecimentos científicos, redes interinstitucionais e movimentos sociais. São discutidas abrangências e limitações na aplicação da Lei Maria da Penha frente a paradigmas, valores e práticas fundadas em representações sexistas, bem como em identidades essencializadas e referenciadas pela articulação de múltiplas desigualdades (grupos de mulheres indígenas, pobres, negras, dentre outros). Já o texto de autoria dos quatro últimos autores/as, mencionados acima, trata da proposta da Universidade de Brasília na criação da Diretoria da Diversidade no Decanato de Assuntos Comunitários, que propõe reforçar o direito à diferença e o respeito à diversidade na comunidade acadêmica.

Já a sétima e última parte da obra, intitulada “Identidade, experiências e narrativas”, reúne os textos de Águeda Aparecida da Cruz Borges, Juliana Eugênia Caixeta, Lia Scholze, Maria do Amparo de Sousa, Lia Scholze, Cláudia Costa Brochado, Gilberto Luiz Lima Barral e Tania Swain. O texto de encerramento, “Histórias feministas, história do possível”, de Tania Navarro Swain expõe uma crítica às narrativas historiográficas que muitas vezes silenciam e excluem a participação feminina na história. Sua proposta se baseia em resgatar as histórias que, apesar de possuírem vestígios materiais e simbólicos, foram negligenciadas pelos historiadores. Segundo ela, esses profissionais “enclausurados em um imaginário androcêntrico, não conseguem pensar e nem ver aquilo que se abre à pesquisa, um mundo onde o feminino atuava como sujeito político e de ação” [9].

Enfim, a obra Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas reúne uma amostra bastante significativa da produção intelectual feminista que vem se desenvolvendo nas universidades brasileiras, nas mais diversas áreas de conhecimento. Trata-se de uma produção reveladora da dimensão política dos estudos feministas e de gênero, que contribui não só na denúncia e crítica às desigualdades de gênero presente nos mais diversos espaços sociais, mas também na renovação dos saberes, oferecendo novos horizontes de expectativas à produção científica.

Notas

  1. STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Estudos Feministas e de Gênero: Articulaçõese Perspectivas. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2014, p. 9.
  2. DINIZ, Débora. Perspectivas e articulações de uma pesquisa feminista. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 12.
  3. FELIPE, Sônia. A perspectiva ecoanimalista feminista antiespecista. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 59.
  4. AZEREDO, Sandra. O que é mesmo uma perspectiva feminista de gênero? In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 84.
  5. MOREIRA, Nadilza Martins de Barros. Os manuais femininos/feministas de Júlia Lopes de Almeida dialogam com “(…) uma alma brasileira” de Nísia Floresta: esboço comparativo. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 249.
  6. MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. Memórias de uma menina bem comportada: sobre a experiência da alfabetização e a modelagem das diferenças. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 260.
  7. OLIVEIRA, Susane Rodrigues de. Ensino de história das mulheres: reivindicações, currículos e potencialidades pedagógicas. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 260.
  8. CARNEIRO, Maria Elizabeth Ribeiro. Corpos negros no/do feminino em três movimentos: um exercício de (des)construção. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 356.
  9. SWAIN, Tânia Navarro. Histórias feministas, história do possível. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Op. Cit., p. 613.

Ana Vitória Sampaio Castanheira Rocha – Doutoranda em História na Universidade de Brasília.


STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska (org.). Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2014. 620p. Resenha de: História histórias. Brasília, v.2, n.4, p.200-206, 2014. Acessar publicação original. [IF]

A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual | Graça Ramos

A literatura infantil vive seu auge no mercado editorial. A produção de livros de leitura no Brasil que, no início do século XX, priorizava a composição e a elaboração mais aprimorada da linguagem escrita, passa a ter como destaque, na atualidade, a articulação da linguagem visual. Na obra A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual, de Graça Ramos, publicada pela Editora Autêntica em 2011, a autora explora a temática da linguagem visual como um recurso de valor igualitário e, muitas vezes, imprescindível na produção de livros infantis.

Trata-se de uma obra pertencente à série Conversas com o professor – uma coleção organizada por Sônia Junqueira, com o intuito de facilitar ao professor o acesso ao conhecimento acadêmico. Nesse trabalho, Graça Ramos traz algumas questões sobre a literatura infantil, como o percurso histórico da arte da ilustração disposta nos livros infantis, explicita as denominações ou classificações mais indicadas para os livros infantis, além de apontar como a imagem foi ocupando lugar de centralidade na produção editorial. A obra apresenta uma linguagem poupada do uso acentuado de expressões puramente acadêmicas e apresenta-se acompanhada de ilustrações de diferentes livros de literatura infantil, expostas em constante diálogo com a produção escrita. Leia Mais

O Café de Portinari na Exposição do Mundo Português: modernidade e tradição na imagem do Estado Novo brasileiro – LEHMKUHL (RBH)

LEHMKUHL, Luciene. O Café de Portinari na Exposição do Mundo Português: modernidade e tradição na imagem do Estado Novo brasileiro. Uberlândia: Edufu, 2011. 268p. il. Resenha de: PIAZZA, Maria de Fátima Fontes. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.31, n.61, 2011.

O livro O Café de Portinari na Exposição do Mundo Português: modernidade e tradição na imagem do Estado Novo brasileiro, da historiadora Luciene Lehmkuhl, docente na Universidade Federal de Uberlândia, foi originalmente tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina e está inserido metodologicamente nas fileiras da História Cultural, que com rara sensibilidade adentra na chamada ‘virada pictórica’ (pictural turn).

Café (1935),1 óleo sobre tela do pintor de Brodósqui, é visto como um ícone da história cultural brasileira. Pertence ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, e com esse quadro Portinari ganhou a segunda menção honrosa do Carnegie Institute, em Pittsburgh, no ano de 1935, distinção obtida por Salvador Dalí e Kokoschka. Da tela despontam trabalhadores braçais negros colhendo café e carregando sacos do produto, na época o principal item de exportação do Brasil e símbolo da pujança nacional.

Essa tela é simbólica das contradições inerentes à sociedade brasileira egressa de séculos de escravidão, mas dela também emergem representações que irão povoar a obra portinariana com suas colonas, com seus lavradores, com seus negros e mestiços, com suas culturas agrícolas – como a cafeicultura – que integram o universo da sua produção pictórica.

Café foi a “nota dissonante à harmonia estética” – na feliz expressão da prefaciadora da obra, professora Maria Bernardete Ramos Flores – no conjunto de obras brasileiras que integraram o “Stand de Arte” do Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português, que se realizou em Lisboa, em 1940, comemorativa aos centenários portugueses. As obras expostas são egressas do Museu Nacional de Belas Artes e estão em consonância com a hierarquia de gêneros, como a pintura de história, a pintura de retrato, a pintura de gênero, a pintura de paisagem e a pintura de natureza-morta. Essas obras transitam entre o realismo, o impressionismo, o simbolismo e o naturalismo.

Nesse conjunto pictórico de 24 óleos, Café não está em consonância com o conjunto apresentado de características ‘acadêmicas’ ou da arte tradicional. Além disso, o “Stand de Arte” não é representativo da produção artística brasileira da década de 1930, pois ignora Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Cícero Dias e Vicente do Rego Monteiro, entre outros. O que mostra que a estética modernista em ebulição no Brasil não era unanimidade no campo cultural e nas hostes estado-novistas.

Com base nesses dados a autora propõe várias questões, entre as quais: por que Café integrou essa exposição do Estado Novo português, uma pintura modernista num lugar dedicado à tradição? Por que a comissão organizadora do “Stand de Arte” do Brasil selecionou Café entre tantas obras representativas da estética modernista? Por que Café mereceu tanta visibilidade naquela exposição? Que imagem o Brasil estado-novista levou para as comemorações nacionalistas da sua ex-metrópole?

Para respondê-las, a autora com argúcia se debruçou sobre arquivos e bibliotecas do Brasil e de Portugal e perquiriu cuidadosamente o acervo dessas instituições, sem descuidar do cotejo entre as obras do Museu Nacional de Belas Artes que atravessaram o Atlântico e foram expostas no Pavilhão do Brasil. O que denota o trabalho criterioso de Luciene Lehmkuhl, quanto ao métier do historiador.

A escolha de Café para integrar o “Stand de Arte” do Pavilhão do Brasil deve-se, entre outros motivos, ao capital simbólico da obra que tinha sido premiada pela prestigiada instituição estadunidense e ao fato de ser considerada um símbolo da arte moderna brasileira pela crítica nacional e internacional. Também, Portinari integrava uma importante rede de sociabilidade intelectual que abrangia até mesmo a burocracia estatal, o que permitiu encomendas oficiais (as obras para o Ministério da Educação e Saúde Pública) e a realização da Exposição Portinari no Museu Nacional de Belas Artes, em 1939.

A autora chama atenção para a magnitude do Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português às margens do Tejo, o qual é emblemático da “coroação da campanha da formação da intimidade luso-brasileira”. No bojo da política nacionalista, o Estado Novo português queria mostrar ao mundo o Brasil com uma “imagem forte”, ao passo que Portugal potencializava sua imagem virtual de “berço de descobridores e de criadores de nações”.

Se o conjunto pictórico apresentado pretendia mostrar a autoimagem do Brasil à ex-metrópole ibérica, o que sobressaiu são paisagens bucólicas, naturezas-mortas, nus femininos e Lindoia (uma índia, bem ao gosto oitocentista). O que corrobora a visão de que o “Stand de Arte” estava imerso na tradição acadêmica da arte brasileira, compatível com a orientação das instituições oficiais, como o Museu Nacional de Belas Artes, sob a direção de Oswaldo Teixeira, e o Salão Anual.

O impacto visual causado por Café entre pinturas identificadas como acadêmicas propiciou que Portinari e sua obra ficassem conhecidos em Portugal e se tornassem assunto da imprensa portuguesa. A repercussão envolveu o campo cultural daquele país nas discussões sobre questões centrais e prementes em torno da arte moderna no Brasil e em Portugal, como nacional/internacional e arte pura/arte social, além das aproximações arte/vida e arte/política.

A recepção de Café, em 1940, marcou indelevelmente os caminhos a serem trilhados pelos artistas e pela crítica de arte em Portugal. A historiografia da arte em Portugal menciona Café como um ponto de inflexão na história do modernismo português; para alguns, teve importante papel no estabelecimento do neorrealismo naquele país. A autora adverte que Portinari só foi recuperado pelos neorrealistas portugueses em 1946, quando concedeu entrevista ao poeta, ensaísta e pintor Mário Dionísio, após a exposição na Galerie Charpentier, em Paris.

Café é visto como o melhor exemplo da estética modernista brasileira, embora na Exposição do Mundo Português tenha sido exposto em meio à preponderância da imagem da tradição do Estado Novo brasileiro.

O livro de Luciene Lehmkuhl é de suma importância para a história da arte brasileira, merece ser lido não só pelos acadêmicos que se debruçam sobre história e arte, imagens, práticas historiográficas, acervos documentais e visuais. Deve-se proceder à leitura como a “uma operação de caça” – no sentido proposto por Michel de Certeau – na qual se descobrem muitas sutilezas metodológicas.

Notas

1 Café (1935), pintura a óleo sobre tela, 130 x 195 cm. Assinada e datada no canto inferior esquerdo, “Portinari Brasil 935”. Coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Maria de Fátima Fontes Piazza – Doutora pelo PPGH/UFSC. Departamento de História, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC. Campus Universitário. 88040-900 Florianópolis – SC – Brasil. E-mail: [email protected]

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Cinematógrafo: um olhar sobre a história | Jorge Nóvoa e Soleni Biscouto Fressato

O cinema é a arte da luz, da imagem e do movimento, é a arte da expressão audiovisual. Geertz nos ensina que é difícil falar de arte, pois, “a arte parece existir em um mundo próprio, que o discurso não pode alcançar” [1] e este preceito é válido para o cinema, conhecido como a sétima arte. Analisar uma arte que envolve imagem e movimento é uma tarefa complexa, pois “aquilo que vimos, ou que imaginamos ter visto, parece ser tão maior e tão mais importante que o que logramos expressar com nossa balbucia, que nossas palavras soam vazias, cheias de ar, até falsas.” [2] A imagem é captada e projetada por meio de um processo mecânico, através do olhar e do veículo condutor da câmera. A mensagem audiovisual é composta dentro de determinados parâmetros e preceitos da construção cinematográfica, na maioria das vezes de forma narrativa. Como observa Bertoni e Montagnoli:

Elementos que trabalham com a expressividade da câmera, com os detalhes, com as mudanças de planos, os enquadramentos, o som, a possibilidade de sugestão daquilo que está dentro e fora do quadro; mas também com o corte que direciona a visão do espectador, com a articulação da montagem, a característica minimal do cinema, com a irrealidade construída. Enfim, todo esse conjunto de elementos e de procedimentos, traça a característica de construção fundamental da linguagem e da estética do cinema.[3] Leia Mais

Cinematógrafo: um olhar sobre a história | Jorge Nóvoa, Soleni Biscouto Fressato e Kristian Feigelson

O cinema é a arte da luz, da imagem e do movimento, é a arte da expressão audiovisual. Geertz nos ensina que é difícil falar de arte, pois, “a arte parece existir em um mundo próprio, que o discurso não pode alcançar” [1] e este preceito é válido para o cinema, conhecido como a sétima arte. Analisar uma arte que envolve imagem e movimento é uma tarefa complexa, pois “aquilo que vimos, ou que imaginamos ter visto, parece ser tão maior e tão mais importante que o que logramos expressar com nossa balbucia, que nossas palavras soam vazias, cheias de ar, até falsas.” [2] A imagem é captada e projetada por meio de um processo mecânico, através do olhar e do veículo condutor da câmera. A mensagem audiovisual é composta dentro de determinados parâmetros e preceitos da construção cinematográfica, na maioria das vezes de forma narrativa. Como observa Bertoni e Montagnoli:

Elementos que trabalham com a expressividade da câmera, com os detalhes, com as mudanças de planos, os enquadramentos, o som, a possibilidade de sugestão daquilo que está dentro e fora do quadro; mas também com o corte que direciona a visão do espectador, com a articulação da montagem, a característica minimal do cinema, com a irrealidade construída. Enfim, todo esse conjunto de elementos e de procedimentos, traça a característica de construção fundamental da linguagem e da estética do cinema.[3] Leia Mais

Imagem e conhecimento – FABRIS; KERN (HP)

FABRIS, Annateresa; KERN, Maria Lúcia Bastos (orgs). Imagem e conhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.366p. Resenha de: MOLINA, Ana Heloisa.  As interlocuções nada prosaicas entre imagem e conhecimento. Histórias & Perspectivas, Uberlândia, v.1, N.40 – jan./jun. 2009.

Tornou-se lugar comum afirmar que vivemos em um mundo mergulhado em imagens. Aparentemente prosaico lidar com a pluralidade de imagens que nos são dadas a ver por e em diferentes meios e suportes, a produção imagética toma uma complexidade que reúne elementos cada vez mais significativos.

No trajeto das chamadas “imagens pictográficas” considerando as artes tradicionais, a fotografia e o cinema, às imagens imateriais, procedentes em sua maioria da lógica computacional, emergiu um panorama visual marcado pela complexidade narrativa, por uma estética centrada nos procedimentos e mesmo pelo excesso de uso e exposição. É a imagem-velocidade, guiada pela diretriz computacional, que marca hoje, consideravelmente, o atual panorama imagético.

Modificou-se também a propriedade das imagens: elas já não são o exclusivo de um grupo produtor, mas, desempenham funções sociais. A imagem expandiu, e, nesse processo, adquiriu, em grande medida, o status de virtualidade.

Os estudos sobre imagem agregam muitas áreas do conhecimento e há muito vem ganhando corpo, especialmente pela Sociologia, Antropologia Visual, Semiótica e História da Arte, e em muitas dessas, em franco processo, ocorre o refazer suas perguntas ao seu objeto de estudo.

Poderíamos iniciar algumas reflexões a partir do mecanismo de criação e reprodução da imagem e o progresso paralelo do conhecimento dos processos analíticos que permitem decompor a imagem. Na perspectiva do figurativo ao virtual, o simultâneo e a manipulação da matriz imagética proporcionam novas fronteiras de análise e recombinações.

É nesse ponto que Annateresa Fabris e Maria Lúcia Bastos Kern organizam esse livro avançando para a seguinte proposição: “quais as relações (possíveis) entre imagem e conhecimento?” (p. 11).

Pesquisadoras destacadas no estudo da imagem, da História da Arte, da fotografia e da pintura, as organizadoras reúnem ensaios já publicados (sobretudo no estrangeiro) e textos de pesquisadores brasileiros.

Dividido em duas partes, responde a um objetivo metodológico “[…] compreender as diversas modalidades de conhecimento proporcionadas pela imagem manual e pela imagem técnica com base em dispositivos próprios e irredutíveis a qualquer outra possibilidade” (p.11).

Uma das qualidades do livro é a preocupação em iniciar cada bloco com um ensaio introdutório “[…] que pretende situar o leitor no âmbito de uma discussão mais ampla” (p.12), fornecendo ferramentas metodológicas capazes de problematizar reflexões particulares no interior dos diversos ensaios.

Abordar a problemática da imagem numa perspectiva histórica é a proposta da primeira parte.Dentro de um espectro temporal longo, toma imagens que percorrem o cristianismo, o século XVIII, abordando desde olhar e composição à relação arte e religião ou ainda arte e ciência.

Assim, abre a primeira parte o texto inédito de Kern sobre “Imagem manual: pintura e conhecimento” percorrendo as concepções de imagem, representação, pintura e conhecimento apresentando, em um amplo painel, as discussões filosóficas que nortearam as práticas e as modernas teorias pictóricas, desde a Antiguidade até o pós Renascimento. Encerra com uma questão que parte da premissa de Bachelard segundo a qual “todo o conhecimento é uma resposta a uma questão, pode-se verificar pela trajetória da pintura que esta se consolidou como categoria artística autônoma e que definiu as suas próprias normativas tendo por base a busca constante de respostas para os problemas vividos pelos artistas nas suas práticas e no mundo que os circunda.” (p.29).

Composto por cinco ensaios inicia esse bloco o texto de Alain Besançon, professor universitário em Paris, com “A Arte e o cristianismo” recolocando a questão da fé, da moral, da iconofilia e da iconoclastia em um outro prisma: onde encontrar a arte cristã? Em que essa arte é cristã? O autor percorre um longo trajeto e indica “Não é preciso, portanto, preocupar-se com a arte cristã, mas sim com a arte. Em nome do princípio da unidade da arte, se este for reencontrado, a arte cristã será dada por acréscimo.” (p. 52).

Na seqüência temos “Arte e ciência: funções do desenho em Leonardo da Vinci”, de Daniel Arasse, autor de, entre outros, La guilhotine et l’ imaginaire de la terreur (1987), apresentando as distinções, a aparente contradição entre a prática “científica” do desenho e sua prática “artística”, apontando a importância de da Vinci na técnica do desenho preparatório e sua influência na pintura onde “[…] para Leonardo, “saber, é saber ver”, é preciso acrescentar que, para ele, fazer saber é saber fazer ver. […]” (p.

61).

Georges Didi-Huberman, professor universitário em Paris, no texto “Pensamento por imagem, pensamento dialético, pensamento alterante: a infância da arte segundo Georges Bataille” apresenta a importância desse artista no domínio estético, suas desmontagens teóricas e suas intervenções em montagens figurativas, propondo um olhar à infância da arte enquanto dialética, considerando elementos da arte primitiva e a produzida por crianças em várias partes do mundo. “[…] não se contentar com a oposição canônica entre “a arte clássica dos civilizados adultos”, como diz ele, e “a arte primitiva” dos selvagens ou das crianças […]”. (p. 95). Por outro lado, nos diz e provoca nossas percepções quanto às formas apresentadas em telas: “[…] a alteração das forma, o processo do informe, não estão nem alhures, nem antes das formas: eles estão na sua própria ponta, ali onde seu contato é o mais decisivo, o mais doloroso, o mais deslocador” (p.112).

“A arte de exorbitar o olhar sobre A Parábola dos Cegos de Bruegel” escrito por Jean Lancri, pintor e professor na Universidade de Paris I, analisa a organização de um olhar para aquele quadro e sua composição que estaria às voltas com a questão de sua origem. “E é isso que a obra espera: um curtocircuito.

O estabelecimento de uma relação entre o ponto para o qual ela tende com o ponto de onde ela provém.”(p.134).

Fechando esse primeiro bloco, temos “Conhecer, dominar, pintar numa obra americana do século XVIII”, de Gabriela Siracusano e Marta Penhos, professoras universitárias na Argentina, que põem a descoberto o cruzamento de olhares de conquistadores, cartógrafos e artistas, entre registros icônicos e textuais, sobre a paisagem americana em uma pintura do século XVIII. Tal paisagem apreendida em “Textos e imagens concordam em mostrar esse aspecto sedutor de uma natureza que devia ser explorada para seu melhor conhecimento e controle, com vistas a um futuro proveito”. (p.148) e apontam a questão da obra imagética considerada como ferramenta de conhecimento, ou várias leituras possíveis sobre essa mesma obra.

A segunda parte dedica-se a discutir a imagem técnica desde a fotografia até o universo atual das tecnologias eletrônicas, abarcando a fotografia e suas redefinições, a construção da memória até imagens sintéticas, a holografia e o estudo de um projeto artístico.

A introdução a essa segunda parte de discussões é feita em “Imagem técnica: do fotográfico ao virtual”, de autoria de Annateresa Fabris, que analisa as possibilidades da fotografia, a influência da técnica da gravura no início de sua fatura e a dimensão avassaladora da tecnologia e sua ação no imaginário a partir de vários pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. “As respostas são variadas porque são várias as hipóteses levantadas por este momento cultural em que as novas tecnologias fazem reaflorar aquele unicum, que a reprodutibilidade fotográfica parecia ter relegado à esfera da manualidade […]”. (p.178) Abre o segundo bloco, o texto “A superfície fotográfica” de Mario Costa, pesquisador italiano dedicado aos estudos relativos à mídia, estética e tecnologia aplicada à produção artística que reflete as relações entre referente, sujeito e a dimensão da própria fotografia, propondo um outro olhar a essa captura de imagens.

“A fotografia inaugura a longa série das epifanias tecnológicas: com ela, a asseidade da imagem se revela e, ao mesmo tempo, se oculta, como jamais voltará a fazer”.(p.191) (grifos do autor).

Segue-se “Quando a fotografia (já) fazia os antropólogos sonharem: o jornal La Lumière (1851-1860)” de Étienne Samain, nome conhecido nos meios universitários por suas pesquisas sobre a fotografia. Primeira publicação francesa dedicada à fotografia, esse jornal será a fonte do autor para percorrer as mudanças e os debates sobre as técnicas fotográficas no final do século XIX e seu registro enquanto formador de um olhar antropológico, onde “[…] A revolução fotográfica instaurava uma nova ordem de visão e uma nova filosofia do olhar. Ela delineava novos campos de observação humana e, sobretudo, fazia nascer um novo tipo de observador” (p.211), indicando a presença desse suporte, em meados do século XIX, em toda parte, nas ciências naturais, humanas ou exatas, o que para Samain permanece pouco estudada.

Na seqüência, “Quadros de História Pátria: fotografia e cultura histórica oitocentista” de Maria Inez Turazzi, pesquisadora do IPHAN, toma como fonte para seu texto, uma coletânea de imagens produzidas após a proclamação da República e encontrada na biblioteca de Benjamin Constant. Não há menção ao autor do texto que acompanha e explica as imagens, (21 estampas que reproduziam 20 gravuras e pinturas de vários artistas e uma imagem fotográfica) trazendo apenas a referência a Marc Ferrez como responsável pelas fototipias. Analisando este material a autora apresenta as relações entre memória e esquecimento, via imagens, em um novo regime que se instaura e se esforça para esmaecer personagens ligados ao regime monárquico. Alia, ainda, reflexões sobre as relações entre fotografia e cultura histórica.

Em “Realismo: duas visões confluentes” a quatro mãos com Annateresa Fabris e Maria Rosaria Fabris, a primeira com pesquisas em poéticas artísticas e a segunda investigadora do neo-realismo, ambas professoras da USP, exploram o projeto Un Paese do cineasta Cesare Zavattini e o fotógrafo Paul Strand ao capturarem a poesia, ideologia e arquitetura do movimento neo-realismo no cinema italiano a partir das imagens de Luzzara, uma pequena vila na região do Pó. Os personagens e seu cotidiano serão vistos como um microcosmo de um universo maior “[…] Paul Strand não retrata seus habitantes como representantes de categorias sociológicas. Rechaçado o tipo, o fotógrafo preocupase em captar fisionomias individuais, que não remetam a nada para além delas […]”. (p.263) “A imagem da imagem e sua diferença” com Paolo Bertetto, professor de cinema na Universidade La Sapienza de Roma, considera a imagem na metrópole, os meios de comunicação de massa e as modificações na produção das formas simbólicas, em particular, das formas artísticas. “A imagem da imagem não é mais o signo metropolitano da modernidade, da simultaneidade e da multiplicidade dos estímulos, mas representa sua superação”.

(p.274) Stéphane Huchet, autor de vários ensaios sobre teoria da arte, analisa em “A nova Górgona ou o céu do processo”, que o atual fetichismo das imagens visuais envolve ainda muito do artístico sem reciprocidade. “Pergunta-se: o que é, portanto, da tarefa da estética filosófica, tão medrosa diante das imagens vindas das novas – já menos novas – tecnologias?” (p.297).Tal como o monstro mítico que congela seus espectadores ao serem fitados por seus frios olhos, a tecnologia, a máquina, o computador, tornam-se organizadores de um outro processo de criação visual.

“Idiotice e esplendor da arte atual” de Mario Perniola, professor da Universidade de Roma, abre o texto com uma instigante frase: “Na aventura artística do Ocidente, podem ser encontradas duas tendências opostas: uma, voltada para a celebração da aparência; outra, orientada para a experiência da realidade” ( p. 303). Funda seu ensaio nas relações entre o real e “a efetuabilidade máxima e a abstração máxima”, premissas do realismo atual o que promoveria o desgaste de todas as coordenadas teóricas e críticas conhecidas, provocando angústia e trauma, esplendor e arte.

O provocador texto de Vilém Flusser intitulado “Sintetizar imagens” aponta paralelos e mesmo como elementos sinônimos o programarmos modelos de computador e compormos uma obra. “Os modelos sintéticos não significam o que significava a “arte”. Significam a “vontade” do programador para dar significado à vida. Os modelos sintéticos já não são significados, mas significantes” ( p.324).

“A questão da representação na holografia” com Eduardo Kac, artista multimídia e professor do Instituto de Arte de Chicago, envereda suas reflexões em um suporte pouco estudado: a holografia. Aponta para a perspectiva dos hologramas “[…] serem uma maneira de registrar, armazenar e resgatar informações e poderem exibir uma imagem ou substituir certos objetos em sua função sem exibir nenhuma imagem, eles suscitam uma questão complexa em relação à maneira como representam (ou não)”.

(p.335) Encerra o bloco, o texto “Projeto OPUS: uma aproximação à intercriação de imagens digitais”, com o artista multimídia e fotógrafo Carlos Fadon Vicente que apresenta uma pesquisa conceitual e estética sobre arte eletrônica, examinando em particular a geração de imagens digitais sob a polaridade certezaincerteza.

“[…] A tônica de OPUS situa-se em sua estrutura dialógica, como uma co-incidência ser humano e computador, e na ausência de apelo a um brilho tecnológico, desvelando ainda uma ligação com a imaginação ativa”. (p.366) A polissemia da mensagem visual envolve ramificações de associações, uma multiplicidade de símbolos e interpretações e possui como variável de codificação, um repertório cultural construído em meio às relações sociais e históricas, implicando também pela ótica do leitor, a seleção de significados, escolhendo alguns, excluindo outros.

Uma imagem é carregada de significado, mesmo que não se saiba formulá-la adequadamente em termos discursivos ou conceituais, o que amplia suas possibilidades e vórtice de orientações a partir das novas recombinações das imagens tecnológicas.

Em um momento de reavaliações das imagens, suas produções e interfaces, suas relações com homens e máquinas cada vez mais refinadas e equipadas, essa coletânea de ensaios a partir de pressupostos, indagações e buscas da arte, da estética, da filosofia, da fotografia e da história, propõe reflexões primordiais não somente no tocante à multiplicidade e diversidade da imagem e seus suportes, mas, quanto a reorganização do conceito cultura, como também, da própria conformação de um olhar e das possibilidades de construção do conhecimento.

Para historiadores e professores interessados em entender essas transformações são necessárias duas atitudes: retirar do lugar comum o “mundo povoado por imagens” e adentrar em um território povoado por outras concepções, ferramentas metodológicas e olhares não tão prosaicos, nem tampouco inocentes.

Ana Heloisa Molina – Doutora em História (UFPR). Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação História Social. Universidade Estadual de Londrina.

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Images malgré tout / Georges Didi-Huberman

Meise Lucas – Universidade Federal do Ceará.


DIDI-HUBERMAN, Georges. Images malgré tout. Paris: Les Éditions de Minuit, 2003. Resenha de: LUCAS, Meise. Revista Trajetos, Fortaleza, v.3, n.6, p.239-242, 2005. Acesso somente pelo link original. [IF].

Arqueología de la Educación. Textos, indicios, monumentos. La imagen de los indios en el mundo escolar – PODGORNY (IA)

PODGORNY, Irina. Arqueología de la Educación. Textos, indicios, monumentos. La imagen de los indios en el mundo escolar. Buenos Aires: Sociedad Argentina de Antropología. Buenos Aires, 1999. 222p. Resenha de: ENDERE, María Luz. Intersecciones en Antropología, Olavarría, n.1, ene./dic., 2000.

La Dra. Irina Podgorny cuenta con una sólida formación en arqueología y antropología y ha publicado numerosos trabajos en temas relacionados con historia de la ciencia en Argentina, en especial de la arqueología y la antropología en el período de institucionalización de las mismas y de la creación de los grandes museos nacionales hasta la primera mitad del siglo XX.

En este trabajo se reproduce en parte su tesis doctoral “Arqueología y Educación: la inclusión de la arqueología pampeana en la educación argentina”, presentada en 1993. Lo que ha sido excluido de la versión original es la segunda parte en la cual se analizaban los trabajos científicos en base a los cuales se organizó el estudio del pasado indígena entre 1880 y 1940, por haber sido objeto de publicaciones anteriores de la misma autora y que no son ajenos al lector familiarizado con la producción de Podgorny en los últimos años (en especial Podgorny 1999).

Esta publicación, aunque tardía, no es menos oportuna ya que aborda una cuestión poco explorada en Argentina, cual es la presentación de la arqueología y del pasado indígena en la enseñanza primaria (actual EGB) en la provincia de Buenos Aires. Pese a que la relación entre arqueología y educación es una cuestión que ha sido objeto de reflexión por parte de autores extranjeros (en particular MacKensie y Stone 1990), en el marco de la denominada arqueología postprocesual (Hodder 1986), la producción de trabajos que se ocupen específicamente de cómo se enseña la arqueología y el pasado indígena en la escuela en Argentina es muy escasa. Si bien se reconoce en los ámbitos científicos que el pasado prehistórico está virtualmente excluido en la educación formal argentina, no hay suficientes trabajos de investigación que contrasten esta afirmación con la realidad cotidiana que se vive en las aulas.

Desde la arqueología postprocesual se ha enfatizado la subjetividad de la interpretación del pasado y su manipulación desde el presente, manipulación de la que no ha sido ajena la arqueología (ver Kohl y Fawcett 1995; Díaz-Andrew y Champion 1996). En esta línea interpretativa, recobra especial interés la indagación de cómo el pasado o determinadas versiones del pasado han servido de fundamento a políticas hegemónicas, así como a la consolidación de una identidad nacional única -y al mismo tiempo negadora de toda posible diversidad étnica o cultural-, sobretodo en las nuevas naciones surgidas a partir de procesos de descolonización.

En este sentido, la educación formal constituye un instrumento idóneo para difundir la idea de nacionalidad cuya fuerza homogeneizante requiere necesariamente la negación y exclusión de todo pasado que pueda proveer de algún resquicio para una versión que difiera de la historia oficial, así como la exaltación de aquello que pueda servir de base a las “nuevas” tradiciones nacionales (en el sentido de Hobsbawm y Ranger 1983).

En ese marco la indagación sobre la presentación del pasado indígena y la inserción de la arqueología en la currícula escolar -tanto en la formación de docentes como de alumnos-, así como en los libros de textos permite comprobar qué lugar ocupaban en la “versión oficial” del pasado y comprobar cómo el mismo se fue modificando a través del tiempo.

Este trabajo abarca el período 1880-1990 en los cuales -destaca Podgorny- se ponen de manifiesto dos diferentes modelos culturales de nación: el de la homogeneidad cultural y el crisol de razas, correspondiente a la etapa de la consolidación institucional del país (1880-1940) y el de nación pluricultural evidenciado en las políticas culturales instrumentadas desde la restauración democrática de 1983.

La propuesta de Podgorny consiste en analizar las representaciones acerca de los indígenas en la educación formal en la provincia de Buenos Aires con el fin de “comprender los usos de tales imágenes en la consolidación del sentimiento de pertenencia a la nación”.

Reconociendo su basamento metodológico en la “arqueología del saber” de Foucault (1969) en el cual “los discursos y saberes son definidos como ´monumentos ´ y analizados en su materialidad”, Podgorny señala que “los discursos que se originan y se usan en la vida cotidiana en la escuela pueden ser definidos como monumentos de una cultura contemporánea que contiene en sí elementos procedentes de las mentalidades y culturas del pasado, más allá de la voluntad de los participantes actuales de ese discurso, (…) tales restos pueden ser hallados también en el discurso de los científicos y, desde ese punto de vista, ambos tipos de discursos pueden ser equiparados” (pág. 4).

Esta “arqueología de la educación” argentina es reconstruida mediante análisis de contenido de documentos, entrevistas, observación participante, etnográfica y encuestas y se basa en tres tipos de evidencias: los contenidos curriculares, la realidad en el aula -a través del caso de estudio- y el análisis de los textos escolares, que permiten evaluar no sólo los contenidos sino también la articulación entre arqueología y educación a través del tiempo.

La obra se estructura en dos partes. En el capítulo primero de la primera parte, aborda la situación escolar contemporánea a través del análisis de las imágenes, los presupuestos y las categorías utilizadas en la presentación de los pueblos aborígenes de los programas de educación primaria y demás documentación oficial en la provincia de Buenos Aires entre 1975-86, período durante el cual se produce el paso de un modelo hacia el otro. En el capítulo segundo, se contrasta la reforma curricular impuesta desde el Estado con la realidad en el aula, tomando como caso de estudio escuelas de la zona sur del Gran Buenos Aires, en las cuales se efectuó el trabajo de campo entre 1987-1989. En el tercero, aborda los conceptos de historia y ciencias sociales que manejan los docentes entrevistados durante el trabajo de campo y en el cuarto, las representaciones de los pueblos indígenas y las ideas acerca de los indios que expresan los alumnos.

Al final de la primera parte, la autora marca las contradicciones existentes en el mundo escolar: “mientras que en los documentos y manuales se define a la argentina como un país pluricultural y plurilingüe, los contenidos y la lógica de la organización de los contenidos tienden a una presentación que entraña la exclusión de los pueblos indígenas” (pág. 100). Al tiempo que señala que las categorías que efectivamente se usan en la escuela primaria, presentan a los pueblos indígenas como entidades naturales desconectados tanto de su propia historia como de la historia nacional.

En la segunda parte del libro, Podgorny analiza la presentación de las sociedades indígenas en los textos utilizados en las escuelas bonaerenses entre 1880 a 1989, reconstruyendo la relación entre arqueología, discursos acerca de la nacionalidad y contenidos educativos a través del tiempo. Es allí donde se pone de manifiesto la segunda contradicción, ya que mientras el modelo de crisol de razas continuó vigente en gran parte del siglo XX, la fluida relación entre investigación arqueológica y educación que existía hasta 1925, comenzó a eclipsarse desde entonces hasta su total desconexión.

Las razones de esta crisis Podgorny las busca más allá del ámbito estrictamente educativo y se remite a la disputa entre arqueología e historia en ocupar un lugar de privilegio en el discurso intelectual -y político sobre los orígenes de la nacionalidad argentina. Por otro lado, esa desconexión fue agravada por “la relativa autonomía de las editoriales con respecto a la información que hacen circular” y a la reiteración año tras año de la misma información a través de un proceso que la autora califica de “autoplagio” de los manuales escolares (pág. 171). Finalmente, la realidad educativa aportó un elemento adicional: pese a la existencia en el mercado de manuales que responden al cambio de modelo curricular desde 1980, los viejos manuales seguían siendo usados en el aula para fines de esa década. Y lo que es aún peor se puede estimar que están todavía hoy en uso, tomando en consideración la conclusión a la que arriba la propia autora luego de relevar los textos escolares usados en las escuelas investigadas: “el desfasaje entre la fecha de publicación del libro y las del uso por un niño, oscila entre los tres y los treinta años” (pág. 163).

En conclusión, este trabajo tuvo en el momento de su producción y sigue teniendo aún una gran cuota de originalidad pues ilustra con datos de la realidad la distancia que media entre la información arqueológica que se maneja en los ámbitos universitarios y académicos y la contenida en los manuales de instrucción básica y, lo que es peor aún, las categorías que manejan docentes y alumnos sobre la arqueología y sobre los pueblos indígenas y su pasado. La lectura de las respuestas de los entrevistados es a la vez divertida y trágica, cuando se comprueba que los equívocos de los niños escasamente puedan ser aclarados por los docentes. Podgorny enfatiza que este trabajo “es una evidencia arqueológica de la situación de la enseñanza de la historia hacia fines de la década de 1980” y que no pretende que sea visto como el presupuesto de una realidad inmutable. Sin embargo, por más optimistas que seamos con los beneficios que hayan traído dieciséis años de democracia, el tiempo que requieren los cambios en educación permite suponer que no se esté demasiado lejos de la realidad actual en muchas aulas del país.

Reflexionar sobre esta cuestión, es también el punto de partida para un nuevo desafío para los arqueólogos en Argentina, cual es cómo presentar la arqueología al público de una manera más democrática y pluralista (ver Jameson 1997; también Stone y Molyneaux 1994; McManus 1996).

En este sentido, la elección de este trabajo para su publicación en la colección Tesis doctorales de la Sociedad Argentina de Antropología ha permitido la difusión de una investigación que no merecía permanecer inédita y que sin duda será de gran utilidad, no sólo para la reflexión de los propios arqueólogos, sino de todos aquellos que estén de algún modo involucrados con la presentación del pasado a través de la educación formal y no formal.

Referências

Díaz-Andreu, M. y T. Champion (eds.). 1996 Nationalism and Archaeology in Europe. UCL Press, Londres.    [ Links ]

Foucault, M. 1969 La arqueología del saber. Siglo XXI, México.   [ Links ]

Hobsbawm, E y T. Ranger (eds.). 1983. The Invention of Tradition. Cambridge University Press, Cambridge.    [ Links ]

Hodder, I. 1986 Reading the past; current approaches to interpretation in archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.    [ Links ]

Jameson, J. (ed.). 1997 Presenting Archaeology to the Public. Diging for Truth. Altamira Press, Londres.   [ Links ]

Kohl, P y C. Fawcett (eds.). 1995 Nationalism, Politics and the Practice of Archaeology. Cambridge University Press. Cambridge.    [ Links ]

MacKensie, R. y S. Stone (eds.). 1990 The Excluded Past. Archaeology in Education. Routledge, Londres.    [ Links ]

McManus, P. (ed.) 1996 Archaeological Display and The Public. Museology and Interpretation. Institute of Archaeology, UCL, Londres.    [ Links ]

Podgorny, I. 1999 El argentino despertar de las faunas y de las gentes prehistóricas. Coleccionistas, Museos y estudiosos en la Argentina entre 1880 y 1910. EUDEBA, Buenos Aires.   [ Links ]

Stone, P. y B. Molyneaux (eds.). 1994 The Presented Past. Heritage, Museums and Education. Routledge, Londres.   [ Links ]

María Luz Endere – INCUAPA – Departamento de Arqueología. Facultad de Ciencias Sociales. UNCPBA. Avenida Del Valle Nº 5737. B740JWI Olavarría. Buenos Aires. Correo electrónico: [email protected]

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Image and Logic | Peter Galison

De acordo com o mais recente livro de Peter Galison, Image and logic, imagem e lógica são as palavras-chave para se entender a recente e importante história da microfísica. Pois, como ele ali descreve e analisa detalhadamente, estas idéias caracterizam as duas principais correntes que, desde o início do nosso século, disputam e se alternam na liderança das pesquisas da física atômica e de partículas, até a década de 1970, quando então começam a se fundir. O livro trata dessa fusão e de sua origem, mas de uma perspectiva peculiar, expressa no subtítulo, a cultura material do laboratório, ou seja, das técnicas, instrumentos e arranjos institucionais que se entrelaçam no desenvolvimento dos dois modelos de pesquisa concorrentes.

Mas não se trata apenas de outro bom livro de história da física. O trabalho de Galison se filia à boa linhagem de uma historiografia repleta de reflexões metodológicas, de insights sociológicos e implicações filosóficas. Seu livro inaugural, How the experiments end, publicado em 1988, valeu-lhe um lugar de destaque em Harvard e na arena norte-americana da história das ciências. Se as narrativas históricas das ciências são costumeiramente tecidas a partir dos resultados encontrados, a originalidade da história reconstruída por Galison está na tentativa de entender seus processos de constituição, os rearranjos que antecedem às conclusões teóricas. Como numa história de vida (ciência) privada, suas peças documentais, neste livro de 1988, são muitas vezes bilhetes e anotações trocados pelas equipes que se revezam nos grandes laboratórios, evidenciando impasses e negociações anteriores à sua publicidade. Em 1996, Galison editara com David Stump um debate sobre a unidade, contextos e limites da ciência, The disunity of science, reunindo boa parte da nata anglo-saxã dos historiadores e filósofos da ciência: Schaffer, Lenoir, Davidson, Hacking, Fine. Leia Mais

Maria, mujer mediterránea – GÓMEZ-ACEBO et al (PR)

GÓMEZ-ACEBO, Eva M.I.; BATISTA, E.; NAVARRO, N.; TEJERA, M. Del Pino; LÓPEZ, D. Ruiz. Maria, mujer mediterránea, Bilbao: Desclée De Brouwer, colec. En clave de mujer…,1999. 317p. Resenha de: DIOS, Eva M. de. Panta Rei – Revista de Ciencia Y Didáctica de la Historia, Murcia, n.4, p. 1998.

María es uno de los referentes dentro de la teología, este libro nos muestra la cara oculta de um personaje bíblico que todavía tiene mucho que decir, sólo hay que pararse a descubrirlo; cada puntode vista es un acercamiento, un paso más hacia el conocimiento de una mujer que supo ser unapersona de su espacio y de su tiempo.

Un grupo de teólogas se ha encargado de distintos aspectos de la persona de María para analizarla desde otra perspectiva; todas ellas pertenecen al ATE (Asociación de Teólogas Españolas).

Isabel Gómez-Acebo es también licenciada en Ciencias Políticas, dirige y participa en estacolección. Ella hace la introducción, las conclusiones las comparte con Mercedes Navarro y seencarga de desarrollar el punto referente a “María y la cultura mediterránea”; en él se presenta a lamujer mediterránea con unos rasgos culturales propios como hija, madre y esposa. El ambientecultural mediterráneo es la clave que influye en los primeros pensadores cristianos para ir creandoal tipo de mujer encarnado en la figura de María.

Esperanza Bautista, Licenciada en Derecho, desarrolla el apartado de: “El culto de María en laliturgia de la Iglesia y en la religiosidad popular”. Empieza con los orígenes del mito y susreferencias a las divinidades mediterráneas mostrando también las diferencias; continúa con elpersonaje de María en su contexto social, como se ha ido modificando su figura con el paso deltiempo hasta nuestros días en el culto mariano impulsado por Pablo VI y concluye con la necesidadde una revisión de María.

En el tercer capítulo, Mercedes Navarro Puerto, doctora en Psicología, nos introduce en lapsicología de la religión analizando la función de las imágenes simbólicas de María, que nodebemos perder, pero que son necesarias transformar a la luz de las fuentes bíblicas y los dogmasmarianos.

El cuarto apartado está dedicado a “María en la espiritualidad y en el culto”. Realizado por Maríadel Pino Tejera, teóloga, como sus compañeras, y diplomada en Profesorado de EGB. En su estudionos presenta, como ella misma dice, una mirada rápida a la historia de la Iglesia en lo que respectaal papel de María en la espiritualidad y el culto; además se fija en la sobriedad con que aparece en laliturgia de la Iglesia; sobre todo posterior al Vaticano II.

Demetria Ruiz López, maestra de lengua francesa y española, se encarga del estudio bíblico de lapersona de María (“María a la luz de la Biblia”); el recorrido por cada los evangelistas nos muestralo que María representa para cada uno de ellos: para Mateo, la compañera de José; en Lucas, lamujer liberada; en Marcos, pariente de Jesús que conquista su pertenencia a la familia de Cristo; yen Juan es el símbolo de Israel a camino entre el desierto y la Tierra Prometida.

Se termina el libro con un apartado de conclusiones que nos ofrecen aportaciones al desarrollo delpensamiento mariológico.

El libro aporta una nueva perspectiva a la figura de María; también, a la de nosotros mismos comopersonas inmersas culturalmente en el ámbito del Mediterráneo. Tengo que decir, muy a mi pesar,que en el apartado de bibliografía faltan citas bibliográficas que aparecen en las notas a pie depágina y uniformidad en las citas que ayudaría a sanar la curiosidad del lector que quiera adentrarseen alguno de tantos temas interesantes que podemos encontrar en dicho libro.

Eva M. de Dios

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or los diferentes protagonistas de este espacio de manera diacrónica, encallando el autor en preguntas y reflexiones, en cierta manera retóricas, esenciales a la explicación y constantemente bandeado por los vientos difusionistas. No se trata de un manual, porque se limita a hechos y Cuestiones puntuales, claves, porque no sólo tiene fin didáctico, sino que trasciende estos objetivos dibujandopara nosotros el marco en el que se dan cita el investigador y los actores del drama.

El libro es provocativo, en él, a los impresionantes conocimientos del autor se une su espíritu crítico, para estímulo intelectual del lector, quien al tiempo puede evaluar las aportaciones de la historiografía al estado de la cuestión. Completada con un atlas cartográfico y un índice de términos históricos y geográficos (muy escasas son las ilustraciones a mi pesar), la obra del profesor Braudel, especialista, no debemos olvidarlo porque se advierte en su concepción de la Antigüedad, en el sigloXVI, es capaz de inspirar y “avivar el seso dormido” del lector preocupado por su propio debate interno en el estudio de la Historia.

Ana M. Núñez

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Work and struggle. The painter as witness – LUCIE-SMITH; DARS (RBH)

LUCIE-SMITH, Edward; DARS, Celestine. Work and struggle. The painter as witness. Sdt: Paddington Press, 1977. Resenha de: COLI, Jorge. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.5, n.7, n.15, p.189-210, set.1986/fev.1987.

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